São manhas da escola antiga. No ditado, os professores pronunciavam dois aa para os alunos se darem conta da crase. Era um truque. Virou vício. Corra dele.
Letra maiúscula: acentua-se?
Em português, as maiúsculas não gozam de privilégios. Têm o mesmo tratamento das minúsculas. Devem ser acentuadas quando necessário (Ásia, Índia). Pressupõe-se que os cartórios saibam disso. Mas, se na certidão não aparecer o acento, respeite o registro. É lei.
Ele sobressai ou se sobressai?
Extorquir alguém? Nãoooooooooo!
Metade das laranjas apodreceu? Apodreceram?
• A maioria das faltas não existiu (o verbo concorda com maioria).
• A maioria das faltas não existiram (concorda com faltas).
. Metade das laranjas apodreceu (concorda com metade).
. Metade das laranjas apodreceram (concorda com laranjas).
. A maior parte da população reagiu bem. (Parte é singular. População é singular. Só o singular tem vez.)
Pode-se citar exemplos? Podem-se citar exemplos?
Nas orações em que aparece o pronome apassivador se, facilmente se cometem erros. Para não entrar em fria, há um macete: construa a frase com o verbo ser. Se ele for para o plural, o verbo da frase com se também irá. Caso contrário, nada feito. A regra vale para as locuções verbais. No caso, o auxiliar é que se flexiona ou não:
Não se combatem verdades com inverdades. (Verdades não são combatidas com inverdades.)
Procuram-se datilógrafos. (Datilógrafos são procurados.)
Vende-se esta casa. (Esta casa é vendida.)
Podem-se citar exemplos. (Exemplos podem ser citados.)
Pode-se citar um caso. (Um caso pode ser citado.)
Devem-se mencionar três episódios. (Três episódios devem ser mencionados.)
Deve-se mencionar o episódio principal. (O episódio principal deve ser mencionado.)
Rir: conjugação
Maluf reouve a liberdade? Reaviu a liberdade?
Reaver é filhote de haver. Significa haver de novo, recobrar, recuperar: Maluf foi preso. Passados alguns meses, reouve a liberdade. A casa de Gilberto foi assaltada. Os ladrões levaram joias e dinheiro. A polícia os prendeu. Mas não conseguiu reaver os bens.
O verbo, de origem tão nobre, padece de grave enfermidade. É preguiçoso pra chuchu. Não se conjuga em todos os tempos e modos. Só dá as caras nas formas em que aparece o v de haver. No presente do indicativo, por exemplo, apenas o nós e o vós têm vez: reavemos, reaveis.
O indolente não tem presente do subjuntivo. Em compensação, exibe todas as formas do passado e futuro: reouve, reouvemos, reouveram; reavia, reavias, reavíamos; reaverei, reaverás; reaveria, reaveriam; reouver, reouveres, reouvermos; reouvesse, reouvéssemos. E por aí vai.
Não caia na tentação. Reavê, reaviu, reaveja não existem (seriam derivados de ver). Nem fazem falta. Recuperar ou recobrar estão aí pra quebrar o galho. Lembre-se: o inferno está pululando de insubstituíveis.