Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 26 de janeiro de 2020
DUAS MILHÕES DE VAGAS? NÃOOOOOOOOOOO!
O comentarista da GloboNews acaba de falar em “duas milhões de vagas.” Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Doeu. Milhão é substantivo masculino. O numeral, o artigo, o adjetivo e o pronome que o acompanham devem concordar com ele: os milhões de pessoas, dois milhões de crianças, duzentos milhões de estrelas, o milhão de dólares, dois milhões de vagas.
Com milhar, outro substantivo masculino, a regra é idêntica: Dois milhares de laranjas foram desperdiçados (ou desperdiçadas) no transporte.
Mil
Olho no mil. Ele não é substantivo. É numeral. Por isso, recebe tratamento diferente. Concorda com o substantivo a que se refere: duzentas mil pessoas, duzentos mil homens, duas mil crianças, quatrocentas mil mulheres, dois mil alunos.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 25 de janeiro de 2020
VAIVÉM OU VAI E VEM?
Idas e vindas são marca de Jair Bolsonaro. O presidente diz algo e volta atrás. O último recuo foi o divórcio do Ministério da Segurança Pública. O casamento com o Ministério da Justiça teria chegado ao fim. Choveram reações. Havia o risco de o ministro Moro esvaziar as gavetas e dar adeus. Resultado: ficou o dito pelo não dito. Outra vez voltou às manchetes a palavra vaivém. Como grafá-la? Os dicionários abonam duas grafias: vaivém e vai e vem. Basta escolher.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 24 de janeiro de 2020
BRECHÓ: ETIMOLOGIA
A palavra brechó tem a ver com o príncipe Belchior, que foi visitar Maria e Jesus? Consta que ele era vendedor. Indiretamente sim. O primeiro comerciante brasileiro de objetos velhos e usados chamava-se Belchior. Ele abriu a loja no Rio de Janeiro no final do século 19. Com o tempo, entrou em vigor a lei do menor esforço. Belchior virou brechó.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 23 de janeiro de 2020
GLOBO NEWS TROPEÇA NA CRASE
“Regina Duarte vai à Brasília conhecer a Secretaria da Cultura”, escreveu na telinha a GloboNews na Edição das 10. Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Tropeçou na crase. Brasília não aceita artigo. Por isso não ocorre o casamento de dois aa.
Como saber se cidades, estados e países aceitam artigo? Nos tempos em que a escola ensinava e o aluno aprendia, os professores citavam um versinho que mostrava o caminho das pedras :
Se, ao voltar volta da, crase no a.
Se, ao voltar, volto de, crase pra quê?
Apelando para o verbo voltar, temos:
Regina Duarte volta de Brasília.
Volta de? Crase pra quê? Melhor:
Regina Duarte vai a Brasília.
Outros exemplos
Regina vai à Bahia. (Regina volta da Bahia.)
Jair vai à Índia. (Jair volta da Índia).
Brasileiros vão a Portugal. (Brasileiros voltam de Portugal.)
Eu vou à França e a Cuba. (Eu volto da França e de Cuba.)
Vamos a São Paulo e à Paraíba. (Voltamos de São Paulo e da Paraíba.)
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 22 de janeiro de 2020
JAIR E REGINA: VOCABULÁRIO AMOROSO
Jair está de olho em Regina. Regina está de olho em Jair. Ele a convida pra assumir a Secretaria de Cultura. Ela sorri charmosa. E responde com um verbo do vocabulário amoroso: “Estou namorando o cargo”. Viva! Vênus, Cupido, Oxum e os demais deuses que entendem as feitiçarias do coração aprovaram. A namoradinha do Brasil conhece as manhas da ação que originou o apelido carinhoso.
Namorar é livre como o vento. A gente namora alguém ou alguma coisa: Maria namora João. João namora Maria. Ela o namora. Ele a namora. Regina namora o cargo. Jair a namora para compor a equipe.
Namorar com? Nãooooooooooo! Intermediário já era. Vela é coisa do passado. Agora é tudo direto. Xô, preposição com!
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 21 de janeiro de 2020
TROMBADA NA LÍNGUA: POSTO QUE
O susto foi tão grande que ninguém reparou na trombada linguística de Roberto Alvim. O então secretário da Cultura, na quase cópia da frase do nazista Joseph Goebbels, disse: “A arte será igualmente imperativa posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo. Ou então não será nada”.
As gramáticas classificam o posto que como locução conjuntiva concessiva. A duplinha joga no time de embora, mesmo que, apesar de. Mas a ideia da frase é causal: “A arte será igualmente imperativa porque profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo. Ou então não será nada”.
Vinicius
Alvim deve ter-se lembrado do verso de Vinicius de Moraes que aparece no “Soneto da fidelidade”:
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius quis dizer “que não seja imortal porque é chama”, mas usou uma conjunção concessiva (posto que = embora, mesmo que). O poetinha errou? Não. Artista tem licença poética. Pode pisar a língua sem susto. Ele empregou o posto que como popularmente se emprega, mas não como manda a norma culta.
O secretário da Cultura tem licença poética? Não. Roberto Alvim pisou a língua. Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 20 de janeiro de 2020
NAZI E NÁZI: EMPREGO
Nazi é elemento que forma palavras: nazifascismo, nazifasciscita.
Názi pode ser substantivo ou adjetivo, tem plural e acento (paroxítona terminada em i como táxi): polícia názi, pronunciamentos názis, os názis.
Curiosidade
No começo, era Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães). Mas a lei do menor esforço entrou em campo. A agremiação virou National Sozialist. Mais um pouco e não deu outra. Tornou-se simplesmente názi, que deu filhotes. Um deles: nazismo.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 19 de janeiro de 2020
NOTA FÚNEBRE: FUTURO DO SUBJUNTIVO
Luís de Camões, Machado de Assis, Eça de Queirós, Clarice Lispector, José Saramago, Jorge Amado (in memoriam), Lígia Fagundes Teles, Rosângela Rocha, Elio Gaspari e os cultores da boa linguagem cumprem o doloroso dever de comunicar a morte do futuro do subjuntivo.
Vítima de abandono e maus-tratos, ele deixa a família verbal enlutada. Os amigos se unem nesse ato de piedade cultural e protestam contra tão prematura e insubstituível partida. Não há escapatória. Sem piedade, jornais, tevês, comentaristas, personagens de novelas confundem a forma nota 10 com o infinitivo.
Até tu, ministro?
O tiro de misericórdia partiu do ministro da Educação. “Entre na internet e veja como foi o último concurso público da Abin. Se você ver, é um concurso que [não] tem praticamente nada de matemática e está lá falando governo estado-unidense. Então você já seleciona pessoas com viés de esquerda nos concursos”, disse Weintraub.
Sua Excelência bobeou. Atirou na Abin e acertou no verbo ver. Ele esqueceu (ou nunca aprendeu) que os tempos verbais têm pai e mãe. O futuro do subjuntivo nasce da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo sem o –am final. Assim:
Pretérito perfeito: eu vi, se tu viste, ele viu, nós vimos, vós vistes, eles vir(am)
Ops! Parece mágica. Com o truque, nasce a 1ª pessoa do singular do futuro do subjuntivo. Depois, é só seguir a conjugação: se eu vir, se tu vires, se ele vir, se nós virmos, se eles virem.
Moral da opereta
O ministro matava aula. Se tivesse assistido às explicações do professor, teria dito: Se você vir, é um concurso que não tem praticamente nada de matemática.
Nós dizemos: Se eu vir Maria, darei o recado. Quando ele vir o filme, escreverá o comentário. Assim que eu vir o diretor, vou apresentar as reivindicações da turma.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 18 de janeiro de 2020
EM CIMA, OU ENCIMA? DEPENDE.
Em cima de = sobre: O livro está em cima da mesa. Pôs os óculos em cima da televisão. O que há em cima da caixa?
Encima = forma do verbo encimar (colocar em cima de, elevar, alçar) — eu encimo, ele encima, nós encimamos, eles encimam: Procurou uma citação adequada para encimar o capítulo do livro. Dirigiu-se à prateleira que encima a lareira.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 17 de janeiro de 2020
EMBAIXO E EMBAIXADINHA: CURIOSIDADE
Embaixo de = posição inferior, sob: Os sapatos estão embaixo da cama.
Curiosidade
No futebol, há jogadores pra lá de hábeis. São capazes de dar sucessivos toques na bola – com os pés, as coxas, os ombros ou a cabeça – sem que ela tenha contato com o chão. O espetáculo se chama embaixada ou embaixadinha. Mas o nome não tem nada a ver com representação diplomática, Itamaraty & cia. Tem a ver com a forma como se toca na pelota – por baixo. Malandro, o pé começa a manobra embaixo da redonda.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 16 de janeiro de 2020
SE EU PÔR, SE EU PUSER? SE EU VIR, SE EU VIER? SE EU CABER, SE EU COUBER?...
Dúvidas. Dúvidas. Dúvidas. Qual a saída? Só há uma. Lembrar-se de que os tempos verbais têm pai e mãe. O futuro do subjuntivo nasce da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo sem o –am final. Assim:
Pôr
Pretérito perfeito: eu pus, ele pôs, nós pusemos, eles puser(am)
Futuro do subjuntivo: se eu puser, ele puser, nós pusermos, eles puserem
Se eu puser os livros na estante, será fácil encontrá-los.
Vir
Pretérito perfeito: eu vim, ele veio, nós viemos, eles vier(am)
Futuro do subjuntivo: se eu vier, ele vier, nós viermos, eles vier(em)
Se ele vier a tempo, pegará o voo das 10h.
Reter
Pretérito perfeito: eu retive, ele reteve, nós retivemos, eles retiver(am)
Futuro do subjuntivo: se eu retiver, ele retiver, nós retivermos, eles retiverem
Se eles retiverem o troco, terão problemas.
Caber
Pretérito perfeito: eu coube, ele coube, nós coubemos, eles coubera(am)
Futuro do subjuntivo: se eu couber, ele couber, nós coubermos, eles couberem
Se o celular couber na bolsa, não levarei a sacola.
Trazer
Pretérito perfeito: eu trouxe, ele trouxe, nós trouxemos, eles trouxer(am)
Futuro do subjuntivo: se eu trouxer, ele trouxer, nós trouxermos, eles trouxerem
Traga o que trouxer, ninguém lhe dará atenção.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 15 de janeiro de 2020
ANTÁRTICA: ETIMOLOGIA E CURIOSIDADE
Antártica veio do latim antarticu, que vem do grego antarktikós. A greguinha é o contrário de anktikós (ártico), que significa ursa. O Polo Sul recebeu esse nome porque dali não se avista a constelação Ursa Maior.
Curiosidade
Na mitologia grega, Ártemis é irmã de Apolo. Ela é lunar; ele, solar. A deusa era acompanha por um séquito de ninfas. Uma delas, Calisto, devia permanecer virgem. Mas foi vista por Zeus, o deus dos deuses. Não deu outra. O senhor do Olimpo apaixonou-se pela moça. Pra seduzi-la, assumiu a forma de Ártemis. Mais tarde, quando as beldades foram banhar-se, Calisto se despiu. Ops! Ártemis viu que ela estava grávida. Furiosa, a transformou numa ursa e a matou com uma flechada. Zeus quis premiá-la. Ela virou a constelação da Ursa Maior. O filho foi atrás. Tornou-se a constelação da Ursa Menor.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 14 de janeiro de 2020
AMERICANO OU ESTADO-UNIDENSE?
O ministro da Educação diz que usar “estado-unidense” identifica os esquerdistas. Verdade? Os dicionários dizem que não. O Houaiss e o Aurélio informam: estado-unidense (ou estadunidense) é sinônimo de norte-americano ou americano: O presidente americano chama-se Donald Trump. O presidente norte-americano chama-se Donald Trump. O presidente estado-unidense (ou estadunidense) chama-se Donald Trump.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 13 de janeiro de 2020
O IRÁ É PAÍS ÁRABE? NÃOOOOOOOO!
Em 1934, a Pérsia mudou de nome. Virou Irã, que significa terra dos arianos.
Clube linguístico
Muitos pensam que o Irã é país árabe. Não é. Só é árabe o país que fala árabe. O Irã fala persa.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 12 de janeiro de 2020
INGLÊS, PORTUGUÊS & CIA. SE GRAFAM COM S. POR QUÊ?
A família tem tudo a ver. Adjetivos derivados de substantivo se escrevem com s tanto no feminino quanto no masculino: França (francês, francesa), Escócia (escocês, escocesa), Inglaterra (inglês, inglesa), Portugal (português, portuguesa), freguesia (freguês, freguesia).
Etc. e tal.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 11 de janeiro de 2020
POR QUE MUDEZ E SURDEZ SE GRAFAM COM Z?
Porque são substantivos abstratos derivados de adjetivos: mudo (mudez), surdo (surdez), altivo (altivez), sensato (sensatez), honrado (honradez), lúcido (lucidez), macio (maciez).
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 10 de janeiro de 2020
CHEQUE E XEQUE: DIFERENÇA E CURIOSIDADES
Cheque é de banco. Pode ter fundos ou não. Daí cheque com fundos, cheque sem fundos (não fundo).
Xeque é a jogada de xadrez (xeque-mate) ou o título de poderosos árabes (xeque saudita).
Antes dos aiatolás
Xeque vem do persa xãh. Significa rei. No idioma do Irã, deu xá – título que se dava ao mandachuva do país antes da revolução dos aiatolás. Daquelas bandas veio o jogo de xadrez. Daí a expressão xeque-mate (o rei está morto).
Asas pra voar
Do Irã, Sua Majestade deu uma voltinha pelo árabe. Virou xeque ou sheik. Na língua do Corão, quer dizer chefe, ancião, soberano. Em Pindorama, a palavra ganhou fama com a novela O sheik de Agadir. Faz muito tempo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 09 de janeiro de 2020
MANHAS DA CRASE: DE... A, DA... À
Dois pares formam 20-20. São duas dezenas no começo e duas no fim. A língua também tem seus casaizinhos. Fiéis, eles acreditam que, uma vez unidos, sempre unidos. Dois deles são pra lá de conhecidos. Trata-se das duplinhas de…a e da…à. Um a tem crase. O outro vem soltinho e feliz como pinto no lixo. Por quê?
A razão é uma só: mania de imitação. A língua copia a vida. Lá e cá existem os casais. O que acontece com um acontece com o outro. Desrespeitar o paralelismo é traição. Uma vez cometida, não dá outra. Entra em cena o verbo perder. Lá se vão amores, prestígio, promoções. Valha-nos, Deus!
O primeiro
De segunda a sexta.
De é preposição pura. A só pode ser preposição pura. Em ambas o artigo não tem vez: Trabalho de quarta a sexta. A farmácia faz entregas de segunda a sábado. Vejo tevê de domingo a domingo.
O segundo
Andei da rodoviária à quadra comercial.
Da é combinação da preposição de com o artigo a. O à vai atrás. O acento funciona como aliança no anular esquerdo. Indica o casamento da preposição a com o artigo a.
Veja exemplos: Trabalho da manhã à noite. Li da página 8 à página 12. O expediente é de segunda a sexta das 8h às 18h30. Estudamos das 14h às 18h.
Sexo
Atenção, gente fina. Às vezes, a preposição de vem casadinha com o artigo o. O sexo não muda a regra. O segundo par mantém a fidelidade: Viajei do Paraguai à França. Fui de carro do Rio à Paraíba. Corri do aeroporto à rodoviária.
Olho vivo
Há ocasiões em que um dos nomes dispensa o artigo. Aí, não dá outra. O casamento fica comprometido: Viajei da França a Portugal. Fui de Cuba à Alemanha.
Superdica
Como saber se o nome pede ou esnoba o artigo? Basta iniciar uma frase com ele. Veja:
Cuba é uma ilha da América Central. (Não: a Cuba)
Portugal vive período de grande prosperidade. (Não: o Portugal)
A Alemanha vai retirar as tropas do Iraque.
A França enfrenta manifestações dos coletes amarelos.
Traição
Misturar o par de um com o de outro gera deformações. São os cruzamentos. É como casar girafa com elefante. Já imaginou o pobre do filhote? Veja um exemplo do monstrinho:
Horário do expediente: de segunda a sábado, de 7h30 às 20h.
Reparou? O primeiro casalzinho (de…a) merece nota mil. O segundo cometeu traição. Juntou o parceiro de um par com o parceiro de outro. Xô! A forma bem-amada pela língua é esta:
Horário do expediente: de segunda a sábado, das 7h30 às 20h.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 08 de janeiro de 2020
QUEM NASCE NOS PAÍSES BAIXOS É...
Ao se falar em Países Baixos, fala-se na Holanda, cujo nome completo é Reino dos Países Baixos. Quem nasce lá é holandês.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 07 de janeiro de 2020
ANIVERSÁRIO: ETIMOLOGIA
Aniversário vem de ano. Precisa-se de 365 dias pra completar o primeiro, o dobro pra chegar ao segundo, o triplo pra atingir o terceiro. Assim, não está com nada comemorar aniversário de um mês, seis meses, 10 meses.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 06 de janeiro de 2020
PONTO: NUMERAIS
Ops! Ao escrever os números, usamos ponto a cada três algarismos – 1.426, 12.122, 3.342.600. Mas, ao indicar o ano, a história muda de enredo. Vem tudo coladinho. Assim: Ele nasceu em 1946. Trabalha em São Paulo desde 2000. Em 2014, o Brasil foi sede da Copa do Mundo. O ano de 2020 promete boas notícias.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 05 de janeiro de 2020
MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: MESES
Olho vivo, marinheiro de poucas viagens. Eles são 12. Repetem-se ano após ano. Uns têm 30 dias. Outros, 31. Só um se conforma com 28. De quatro em quatro anos, ganha um de presente. Fica com 29. Apesar das diferenças de tamanho, os meses têm um denominador comum. Escrevem-se com a letra inicial mixuruuuuuuuuuuuuuca: janeiro, fevereiro, março, abril, maio.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 04 de janeiro de 2020
NAS E MAIS: DICA INFALÍVEL
Mais tem quatro letras. Mas tem três. Pois a grandona é o contrário de menos. Na dúvida, substitua a palavra por menos. Se a declaração ganhar sentido contrário, não tenha dúvida. Dê passagem ao mais: Comi mais (menos) do que Maria. Paulo é mais (menos) educado que Luís. Acordei mais (menos) disposto.
Mas introduz ideia contrária. É conjunção adversativa. Joga no time de porém, todavia, contudo, entretanto: Estudei muito, mas não passei. (Substituí-la por mais? O contrário não cabe. Fica sem sentido. Xô!)
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 03 de janeiro de 2020
DE ENCONTRO E AO ENCONTRO: EMPREGO
Nádia Dalariva, de BH, escreve: “Sempre ouvimos muitas confusões gramaticais que acabam quase virando regra. Com isso, pomos em risco a qualidade da mensagem, seja ela escrita seja oral. Agora, por exemplo, fiquei na dúvida sobre o emprego das expressões de encontro e ao encontro”. Ops! Uma expressão é o contrário da outra. Trocar as bolas é o passaporte para confusões, adiamento de promoção, perda de amores. Valha-nos, Jesus, José e Maria.
Ao encontro de = em favor de ou na direção de: O projeto veio ao encontro de seus interesses. Caminhou ao encontro do filho. Vou ao encontro dos meus sonhos.
De encontro a = contra, em sentido contrário a, em oposição: O carro foi de encontro à árvore. O projeto vai de encontro às pretensões do governador.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 02 de janeiro de 2020
POR QUE JANEIRO SE CHAMA JANEIRO?
Janeiro se chama janeiro porque homenageia um deus pra lá de poderoso. É Jano. Ele tem duas caras. Uma olha pra trás. Vê o passado. A outra olha pra frente. Enxerga o futuro.
Quando termina o ano, com uma cara, o senhor do calendário mira dezembro. Despede-se. E fecha a porta do ano velho. Com a outra, observa o ano que chega. Abre a porta e deixa-o entrar. Viva! Que traga sorte.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 01 de janeiro de 2020
PROSECCO OU CHAMPANHE?
Toda unanimidade é burra? Nelson Rodrigues jurava que sim. Os fatos lhe dão razão. Os vinhos servem de exemplo. Muitos gostam de champanhe. Mas há quem prefira o espumante italiano. Ele mantém a grafia original. É prosecco.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 31 de dezembro de 2019
CHAMPANHE FRANCÊS? NÃOOOOOOOOOOO!
Tim-tim, tim-tim, tim-tim. O borbulhante preferido por 10 entre 10 brasileiros recebe o nome da região onde é produzido. Sofisticada, a bebida gosta de tratamento VIP. Uma das bajulações que mais aprecia é o tratamento masculino. Sabe por quê? Ela é vinho sim, senhores — o (vinho) champanhe: Vamos tomar um champanhe geladinho?
Exclusivo
Sabia? Só existe champanhe francês. Por isso, dizer “champanhe francês” é pleonasmo. Joga no time do subir pra cima, descer pra baixo, elo de ligação, habitat natural e países do mundo. Só se sobe pra cima, só se desce pra baixo, todo elo é de ligação, todo habitat é natural, todos os países são do mundo. E, claro, todo champanhe é francês. Basta subir e descer. Elo, habitat e países, sozinhos, dão o recado. Champanhe é champanhe. Dispensa a indicação de nacionalidade. Xô!
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 30 de dezembro de 2019
CHIQUE É... GENEROSO (1)
Há quem diga que elegância tem a ver com o vestir. Deve ter. Há quem diga que tem a ver com o comportar-se à mesa. Deve ter. Há quem diga que tem a ver com o sentar, andar, dirigir-se aos outros. Deve ter. Há quem diga que tem a ver com a empatia. Deve ter. Há quem diga que tem a ver com tudo isso. Mas não só. Há itens que sobressaem porque se relacionam com a língua. Somados aos citados, tornam a pessoa chique como pérola negra. São 10. Quais são?
Ser generoso. Leia muitas histórias para as crianças. Dê emoção à voz. Deixe-as tocar as ilustrações. Dê-lhes tempo para sonhar, viver outras vidas, soltar a imaginação. Assim nasce um leitor.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 29 de dezembro de 2019
VERBOS NATALINOS CEAR, PRESENTEAR, PASSEAR: CONJUGAÇÃO
Presentear e cear pertencem ao vocabulário natalino. Ambos jogam no mesmo time. Cuidado com eles! Como passear, armam ciladas no presente do indicativo e do subjuntivo. O nós e o vós, orgulhosamente, esnobam o i. As outras pessoas carregam a vogalzinha com a resignação cristã: eu passeio (presenteio, ceio), ele passeia (presenteia, ceia), nós passeamos (presenteamos, ceamos), vós passeais (presenteais, ceais), eles passeiam (presenteiam, ceiam); que eu passeie (presenteie, ceie), ele passeie (presenteie, ceie), nós passeemos (presenteemos, ceemos), vós passeeis (presenteeis, ceeis), eles passeiem (presenteiem, ceiem).
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 28 de dezembro de 2019
ANTES DE CRISTO E DEPOIS DE CRISTO: COMO GRAFAR A ABREVIATURA
Cristo não foi pouca coisa. O nascimento do garotinho mudou a referência do tempo. Os acontecimentos anteriores à vinda dele receberam a marca antes de Cristo. Depois dele, depois de Cristo. A abreviatura é assim: a.C. e d.C. Desse jeitinho — o a e o d minúsculos. O C, majestoso, maiúsculo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 27 de dezembro de 2019
PRESENTE REAL: MIRRA
Os reis magos souberam do nascimento de Cristo. Presentearam-no com ouro, incenso e mirra. Os dois primeiros são velhos conhecidos. O último nem tanto. Vale a curiosidade. Mirra, planta medicinal, encontra-se aqui e ali sem dificuldade. Era usada para embalsamar cadáveres. Daí, por extensão, ganhou o significado de secar, ressequir, diminuir, reduzir-se, minguar-se: O salário mirra, o mês cresce.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 26 de dezembro de 2019
PAPAI NOEL E PAPAI-NOEL: DIFERENÇA
Papai Noel é o bom velhinho. O nome vem do francês Père Noël. Significa Pai Natal. Generoso, o gordinho de barbas brancas e roupas vermelhas distribui brinquedos pra garotada e presentes pra todos. Ele tem um filhote. É papai-noel. Assim, com hífen e letra minúscula. Quer dizer presente de Natal: O que você quer de papai-noel? Ainda não comprei seu papai-noel. Para completar minha lista, preciso de mais três papais-noéis.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 25 de dezembro de 2019
PEDIR: REGÊNCIA
O verbo pedir se constrói com objeto direto de coisa e indireto de pessoa: Maria pediu uma bicicleta (obj. direito) a Papai Noel (obj. indireto). A mãe pede ao filho (obj. indireto) que não abuse do bom velhinho (obj. direto).
Cuidado, pidão. Só use pedir para se estiver expressa ou subentendida a palavra licença: Pediu licença para sair. Pediu à mãe (licença) para escrever a Papai Noel.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 24 de dezembro de 2019
EU DOO? EU DÔO?
Na época do Natal, o coração fica molinho, molinho. Creches, asilos, instituições de caridade fazem a festa. Ao usá-lo, lembre-se da mudança. O hiato o/o exibia vistoso chapeuzinho. A reforma ortográfica o cassou. A duplinha ficou assim, sem lenço e sem documento: doo, voo, perdoo, abençoo, coroo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 20 de dezembro de 2019
ELE É CAVALEIRO. ELA É AMAZONA. POR QUÊ?
A língua homenageia guerreiras pra lá de feministas. Armadas de arco e flecha, elas enfrentavam os inimigos montadas em cavalos. Os outros povos as chamavam de amazonas. Sabe por quê? Em grego, mazos quer dizer seio. A significa não. Coladas, as duas partes dão o recado. Amazonas são mulheres sem um seio.
Elas arrancavam o peito direito pra segurar melhor o arco. No país delas, homens não tinham vez. Mas, uma vez por ano, eles podiam entrar na cidade. Aí, namoravam à beça. Nove meses mais tarde, nasciam bebês. As meninas ficavam com as mães. Os meninos tinham outro destino. Ou eram entregues ao pai. Ou eram assassinados.
Lá pelo século 16, Francisco Orellana descobriu o norte do Brasil. Quando chegou perto de um rio muiiiiiiiiiito grande, foi atacado por guerreiras montadas a cavalo. Lembrou-se, então, das amazonas gregas. É por isso que o Rio Amazonas se chama Amazonas. E mulher que monta em cavalo é amazona.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 19 de dezembro de 2019
CONCORDÂNCIA: SUJEITO POSPOSTO
Marcello Moreira escreve: “Estou em dúvida quanto à correção desta frase: `Ao mérito seja dada as honras´. Nota 10 ou nota 0?”
Esse é o caso mais comum de tropeço na concordância. A ordem inversa confunde. O autor se descuida do sujeito. Se pusermos a oração na ordem direta, o sujeito fica claro como a luz do sol:
As honras sejam dadas ao mérito.
Sujeito no plural (honras) exige o verbo no plural. Na ordem inversa também: Ao mérito sejam dadas as honras.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 18 de dezembro de 2019
QUEM NASCE NO CATAR É...
Quem nasce no Brasil é brasileiro. Quem nasce na França, francês. Quem nasce em Mônaco, monegasco. E quem nasce no Catar? O Catar tem mania de grandeza. Quem nasce naquele país do Oriente Médio tem dois adjetivos pátrios: catariano e catarense.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 17 de dezembro de 2019
XÓ, CACÓFATO: A BOCA DELA...
“A boca dela é esquisita”, comentou alguém a respeito de Greta Thunberg, a pirralha. Soou esquisito. A razão: formou-se baita cacófato. A última sílaba de boca se juntou à palavra seguinte — dela. Ouviu-se, então, cadela.
Por falar em cacófato…
Eis exemplos de penetras indesejados: Não me preocupei, já que tinha (jaquetinha) terminado o trabalho. Uma mão (mamão) estava na mesa; a outra, no bolso. Ela tinha (latinha) bons amigos. Paguei R$ 50 por cada (porcada) livro. Vou-me já (mijar). O fiscal confisca gado (cagado). Essa fada (safada) é conhecida das crianças.
Oposto
O cacófato soa mal. O contrário? É eufônico.
Abgar Renault escreveu
“Sou sensível a um cacófato ainda quando leio em silêncio: ouço-o com os olhos.”
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 16 de dezembro de 2019
DEMAIS OU DE MAIS?
O jornal publicou esta passagem: “O presidente Bolsonaro passou por um procedimento dermatológico. Foi realizada uma cauterização de sinais na região próxima à orelha. Os sinais estariam trazendo preocupação, mas, segundo avaliação médica, não seriam “nada demais”. Demais ou de mais?
Demais = muito, em excesso: Comi demais. Trabalhou demais antes de viajar.
De mais = a mais, opõe-se a “de menos”: Não seriam nada de mais (nada a mais). Os tribunais têm processos de mais e juízes de menos.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 15 de dezembro de 2019
VIGER: CONJUGAÇÃO
“A Lei Anticrime não está vigindo”, disse o repórter. Bobeou. Vigir não existe. A forma é viger. O dissílabo tem um defeitão. É intolerante. Detesta o a e o o. Só se conjuga nas formas em que essas vogais não aprecem depois do g. A 1ª pessoa do singular do presente do indicativo (eu vigo) não tem vez. Nem o presente do subjuntivo. Que eu viga? Uhhhh! Nas demais, o amigo só de alguns é regular. Conjuga-se como viver: vives (viges), vive (vige), vivemos (vigem), vivi (vigi), viveu (vigeu), vivemos (vigemos), viveram (vigeram); vivia (vigia); viveriam (vigeriam). A lei não está vigendo.
Complicado? A língua oferece mil outras possibilidades. Deixe o viger pra lá. Que tal vigorar? Ou entrar em vigor?
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 14 de dezembro de 2019
BANIR: VERBO DEFECTIVO - CONJUGAÇÃO
Que pena! Atletas russos caíram no teste antidoping. Condenação: quadro anos de banimento das grandes disputas internacionais como Copa do Mundo e Olimpíadas. A sentença trouxe ao cartaz o verbo banir. Olho vivíssimo, moçada.
Banir joga no time dos pra lá de preguiçosos. Defectivo, não tem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo (eu bano) nem o filhote dela, o presente do subjuntivo (que eu bana, tu banas, ele bana). O boa-vida só se conjuga nas formas em que o n é seguido de e ou i: bane, banes, banimos, banem, bani, baniu, banimos, baniram; bania, bania, baníamos, baniam; banirei, banirás, banirá, baniremos, banirão; banisse, banisse, baníssemos, banissem; banindo, banido. E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 13 de dezembro de 2019
COMPETIR: CONJUGAÇÃO
Competir joga no time de aderir: eu adiro (compito), ele adere (compete), nós aderimos (competimos), eles aderem (competem); eu aderi (competi), ele aderiu (competiu), nós aderimos (competimos), eles aderiram (competiram). E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 12 de dezembro de 2019
ANTIDOPING SE ESCREVE SEM HÍFEN. POR QUÊ?
Antidoping se escreve assim — tudo coladinho. Por quê? O prefixo anti- só pede hífen quando seguido de h ou i. No mais, nada de separação: anti-herói, anti-histórico, anti-inflamatório, antiestresse, antiargentino.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 11 de dezembro de 2019
MAIS BEM AVALIADO? MELHOR AVALIADO?
A notícia correu o Brasil de norte a sul, de leste a oeste. A manchete: “Reprovação à gestão Bolsonaro estanca”. Mas o que chamou a atenção foi outro assunto — a aprovação do ministro Sérgio Moro. Jornais, rádios e tevês se dividiram. Uns falavam em “mais bem avaliado”. Outros, em “melhor avaliado”. E daí?
Acredite. A confusão vem de longe. Professores, quando ensinam melhor e pior, dizem que as formas mais bem e mais mal não existem. É meia verdade. Mas os mestres se esquecem de falar na outra metade. Trata-se do particípio — os verbos terminados em -ado e –ido: amado, vendido, partido.
Antes dessa forma verbal, mais bem e mais mal pedem passagem: Na pesquisa, Sérgio Moro foi o ministro mais bem avaliado do governo Bolsonaro. As francesas são as mulheres mais bem vestidas da Europa. A redação mais bem escrita tira a nota máxima.
Ricardo Salles, do Meio Ambiente, foi o ministro mais mal avaliado do governo Bolsonaro. A redação mais mal redigida tira a nota mínima.
Melhor e pior
Não se trata de particípio? Relaxe. O melhor e o pior deitam e rolam sem concorrência: Paulo come melhor do que Maria. Saiu-se melhor na prova final do que nos testes parciais. Foi o pior aluno da turma, mas apresentou o melhor trabalho.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 10 de dezembro de 2019
JÁ: QUANDO USAR
Repare em títulos de jornais. Ou em discurso de político. Ou em gente que quer falar bonito. Eles têm um denominador comum. Abusam do já. As duas letrinhas têm emprego pra lá de restrito. Indicam mudança de estado — o que era e deixou de ser:
O pai já não acredita nas palavras da filha. (Ele acreditava, mas deixou de fazê-lo.)
Não é o caso de:
O presidente dos Estados Unidos (já) ameaça sobretaxar os produtos importados da China.
Viu? O monossílabo sobra. Xô!
Curiosidade
Já significa agora. Na linguagem popular, já-já é agora mesmo. Já-zim, agorinha. Em estados do Nordeste, nestante (neste instante) é sinônimo de já-zim. Deu pra entender? Se não deu, aguarde um cadim (como dizem os mineiros) que já-zim a gente volta a explicar.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 09 de dezembro de 2019
SEU E SUA: É PROIBIDO USAR
Os possessivos seu e sua são aparentemente inofensivos. Mas causam
senhores estragos à frase. Sabe por quê? Às vezes, dão duplo sentido à
declaração. Você diz uma coisa. A pessoa entende outra. Ou fica confusa. É
o caso do diretor que tinha o secretário que os chefes pedem a Deus.
Ele chegava antes da hora. Saía depois. Almoçava ali mesmo, ao lado do
computador. De repente, não mais que de repente, mudou o comportamento.
Passou a fazer o que todos fazem: obedecer ao horário.
Intrigado, o diretor contratou um detetive para decifrar o mistério. Dois
dias depois, o espião trouxe a resposta:
— Seu servidor sai ao meio-dia, pega o seu carro, vai até sua casa, namora
sua mulher, come a sua comida, bebe o seu vinho, fuma seus charutos cubanos
e volta ao trabalho.
O diretor, satisfeito, achou tudo normal. O investigador pediu licença para
mudar o pronome. Eis o que deu:
— Seu servidor sai ao meio-dia, pega o teu carro, vai até tua casa, namora
tua mulher, come a tua comida, bebe o teu vinho, fuma teus charutos cubanos
e volta ao trabalho.
Outro exemplo
O presidente garantiu aos parlamentares que o seu esforço levaria à
aprovação das reformas.
Esforço de quem? Dos parlamentares? Do presidente? A frase é ambígua.
Permite dupla leitura. O que fazer? Partir para o troca-troca. Substituir
seu pelo pronome dele:
O presidente garantiu aos parlamentares que o esforço dele (ou
deles) levaria à aprovação das reformas.
Xô! Xô! Xô!
Certas palavras rejeitam o possessivo. Aproximá-los é briga certa. Evite
confusões. Não o use com:
1. as partes do corpo: Na batida, quebrou a perna (nunca sua
perna). Arranhou o rosto. Fraturou os dedos.
2. os objetos de uso pessoal: Calçou os sapatos (não seus sapatos). Pôs
os óculos. Vestiu a saia.
3. as qualidades do espírito: Perdeu a consciência (não sua
consciência). Mudou a mentalidade.Alterou o comportamento.
Dica: em 90% dos casos, o possessivo é desnecessário. Se é
desnecessário, sobra: Paulo fez a (sua) redação. Pegou o (seu) jornal.
Perdeu as (suas) chaves.
É isso. Escrever é cortar. Ou trocar.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 08 de dezembro de 2019
PLEONASMO: TODOS FORAM UNÂNIMES
Há pleonasmos pra lá de conhecidos. É o caso de subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, sair pra fora, elo de ligação, habitat natural, panorama geral. Só se sobe pra cima, só se desce pra baixo, só se entra pra dentro, só se sai pra fora, todo elo é de ligação, todo habitat é natural, todo panorama é geral. Melhor mandar a gordura passear na terra do cruz-credo. Basta dizer subir, descer, entrar, sair, elo, habitat, panorama.
Mas há redundâncias espertas. Enganam o bobo na casca do ovo. Vale o exemplo de “todos foram unânimes”. Unânime é relativo a todos. Use um ou outro. Diga: Os líderes foram unânimes. Todos concordaram.
Outro espertinho – “todos os dois”. Valha-nos, Deus. Usá-lo dá alergia. É espirro pra todos os lados. Diga os dois ou ambos.
Historinha
“O que é isso, Benedito”?, perguntou Gustavo Capanema (ministro da Educação de Getúlio Vargas) ao então governador de Minas, Benedito Valadares, que chegava ao Catete usando óculos escuros:
— Conjuntivite nos olhos, respondeu.
Despediram-se. Ao vê-lo, Getúlio lhe fez a mesma pergunta. E Valadares:
— Presidente, o médico lá em Minas disse que era conjuntivite nos olhos. Mas o Capanema, que quer ser mais sabido que os médicos, acaba de me dizer que é pleonasmo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 07 de dezembro de 2019
PARAISÓPOLIS: ETIMOLOGIA
A moçada programou um baile funk em Paraisópolis. Amigos convidaram amigos. Havia jovens de outros bairros. A festa corria solta. De repente, a polícia apareceu. E, com ela, pancadas, gás, perseguição. Muitos correram. Não sabiam que a rua era sem saída. Nove morreram pisoteados. E daí? Fica por isso mesmo? É o que todos perguntam. Com a palavra, o governador.
Paradoxo
O nome da cidade remete ao éden. Paraisópolis se forma de duas palavras. Ambas greguinhas da silva. Uma: paraíso. A polissílaba quer dizer lugar de delícias e prazeres. A outra: pólis, que significa cidade. É a mesma que aparece em Petrópolis (cidade de Pedro), Teresólopis (cidade de Teresa), Anápolis (cidade de Ana). E, claro, Paraisópolis, cidade do paraíso.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 06 de dezembro de 2019
ALFACE E MASCOTE: FEMININO OU MASCULINO?
Acredite. Alface e mascote são ilustres senhoras. Femininas, não abrem mão da saia, do batom e do salto alto nem a pedido dos deuses do Olimpo: Gosto muito da alface americana. Soube que a alface acalma. O tatu-bola foi a mascote da Copa do Mundo de 2014. Não deu sorte. Pela primeira vez, o Brasil amargou sete gols na rede. Cruz-credo! Valha-nos, Deus!
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 05 de dezembro de 2019
PARAÍSO TEM ACENTO NO I. PARAISÓPOLIS, NO O. POR QUÊ?
A razão é simples como andar pra frente. O acento é dedo-duro. Denuncia a sílaba tônica. Onde aparece, lá está a fortona. Daí por que costumamos brincar com três palavras escritas do mesmo jeitinho. Mas o acento (ou a falta de acento) lhes muda o significado — sabia, sábia, sabiá.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 04 de dezembro de 2019
PREFERIR: UIIIIIIIIIIII! CIRO GOMES TROPEÇA NA LÍNGUA!
“O Lula prefere o Bolsonaro do que eu”, disse Ciro Gomes em entrevista na GloboNews. O cearense não mede palavras. Fala sem pensar nas consequências. A língua colabora. Diz o que ele quer dizer. Mas ela não leva desaforo pra casa. E Ciro a agrediu.
Desrespeitou a regência do verbo preferir. A gente prefere uma coisa a outra, uma pessoa a outra. O homem que disputou a Presidência da República em 2018 mereceria banda de música e tapete vermelho se tivesse dito: O Lula prefere Bolsonaro a mim. Eu prefiro teatro a cinema. Os alunos preferem falar a escrever.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 03 de dezembro de 2019
MAIÚSCULA E MINÚSCULA: real e REAL
Quem fala demais dá bom-dia a cavalo. O ministro Paulo Guedes desconhece o dito do povo sabido. Ele estava em Washington. Lá, desandou a falar. Gostou tanto de ouvir a própria voz que a língua perdeu o freio. Não deu outra. Disse que não estava nem aí pro câmbio.
As consequências, como frisa o conselheiro Acácio, vêm depois. E vieram. A moeda norte-americana disparou. Bateu recordes. O Banco Central interveio. Fez dois leilões. Pouco adiantaram. O estrago estava feito. Fica a lição: moeda se escreve com inicial mixuruca: real, dólar, peso, libra, dinar.
Sem confusão
Real ora se escreve com inicial grandona. Ora com inicial pequenina. Como explicar a discriminação? É simples. A moeda é vira-lata. Substantivo comum, grafa-se com letra minúscula. O Plano Real tem pedigree. Nome próprio, ganha banda de música e tapete vermelho: O Real estabilizou a economia. Com o Plano Real, o Brasil ganhou nova moeda — o real.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 02 de dezembro de 2019
INTERVIR: CONJUGAÇÃO
Na subida do dólar, o Banco Central interveio. Com os cofres cheios de verdinhas, vendeu a moeda pra quem quis. Resultado: evitou que ela fugisse do controle. Com a medida, trouxe à cena o verbo intervir. E, com ele, a flexão que a moçada teima em complicar.
Intervir conjuga-se como vir: venho (intervenho), vem (intervém), vimos (intervimos), vêm (intervêm); vim (intervim), veio (interveio), viemos (interviemos), vieram (intervieram); vinha (intervinha); virei (intervirei); viria (interviria); vier (intervier), vier (intervier), viermos (interviermos), vierem (intervierem); viesse (interviesse). O gerúndio e o particípio têm a mesma forma – vindo (intervindo).
O porquê do nó nos miolos
Muitos confundem a paternidade de intervir. Pensam que ele é filho do verbo ver. Na bobeira, soltam o tal “interviu”. Não dá outra: perdem pontos, prestígio e promoções. Olho vivo, moçada. No caso, a cara de um é o focinho do outro. Pai: vir. Filhote: intervir. Assim mesmo — sem tirar nem pôr.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 01 de dezembro de 2019
FLAMENGO É BICAMPEÃO, BI-CAMPEÃO OU BI CAMPEÃO?
Viva! O Flamengo foi ao Peru e trouxe a taça. É bicampeão da América. Pra ele, aplausos da torcida rubro-negra e dos brasileiros. De quebra, uma diquinha de português. Os prefixos multiplicativos — bi, tri, tetra, penta, hexa — têm manhas. Uma delas se refere à grafia. Eles seguem as três regras de ouro do emprego do hífen.
Uma
O h, majestoso, não se liga a nada nem a ninguém. Com ele, nada de conversa. É um lá e outro cá: bi-humano, tri-histórico, deca-herói.
Duas
Os iguais se rejeitam. Quando duas letras gêmeas univitelinas se encontram, produzem curto-circuito. Separam-se, por isso, com hífen: bi-ilíaco, tetra-atleta, tri-invasivo.
Três
Os diferentes se atraem. Os olhares de letras distintas se encontram. Ops! É amor à primeira vista. Ficam juntinhas como Romeu e Julieta: bissexual, pentacampeão,
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 30 de novembro de 2019
JUIZ DÁ PARECER? NÃOOOOOOOOOOOO!
Os tribunais estão na moda. Juízes são mais conhecidos que os artistas globais. O que fazem e dizem repercute. De vez em quando, se ouve que o juiz tal ou qual deu parecer. É adequado? Não. Juízes e tribunais sentenciam, ordenam, mandam, determinam, condenam, absolvem. É errado dizer que o juiz ou o tribunal opinou ou deu parecer a favor ou contra alguém.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 29 de novembro de 2019
MEIO: QUANDO FLEXIONAR
Alguém disse que a gramática é um sistema de ciladas. As armadilhas ficam à espreita. Ao menor descuido, lá vamos nós. Caímos de quatro. A palavra meio é um dos perigos.
Meio = um tanto
A bichinha, cheia de meias horas, às vezes se mantém invariável. Não quer saber nem de feminino nem de plural. No caso, é advérbio. Significa um tanto:
Maria anda meio (um tanto) irritada.
Na prova, mostrou-se meio (um tanto) insegura em cálculo.
Elas saíram meio (um tanto) constrangidas; eles, meio (um tanto) decepcionados.
Deixe as janelas meio (um tanto) abertas.
Meio = metade
Outras vezes, meio quer dizer metade. Aí, sem moleza, flexiona-se como qualquer mortal: Os médicos dizem meias verdades. Meias verdades são meias mentiras. Eles são meios-irmãos. É meio-dia e meia (hora). Comprei duas meias-entradas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 28 de novembro de 2019
MAU E MAL: EIS A QUESTÃO
A dúvida é do Cacá. “Adoro a história do lobo mau, aquele que toma mingau. Mas, quando vou escrever mau, pinta a dúvida. É com um u com l? Nunca sei.
Mau
Há dois macetes. Um: mau rima com mingau. Um e outro se grafam com u. O outro: mau é o contrário de bom. Hesitou? Aplique o tira-teima. Substitua o adjetivo pelo contrário. Se der bom, o lobo torce o rabo. Deixa-o igualzinho ao u:
O lobo mau (bom) come criancinhas. Ele vive de mau (bom) humor porque tem mau (bom) caráter.
Mal
Mal às vezes é advérbio. Outras, substantivo. Um e outro opõem-se a bem. Na hora do vacilo, pare. Respire fundo e parta pro troca-troca:
O lobo era mal-humorado (bem-humorado) porque vivia de mal (de bem) com a vida. Na aventura com Chapeuzinho, saiu-se mal (bem). Depois, sentiu grande mal-estar (bem-estar).
É isso
Com mau e mal, só truque. Recorrer ao contrário dá sempre certo. Não deixa você em maus lençóis.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 27 de novembro de 2019
GRAFIA: PRA
Atenção, galera. Na fala descontraída, a preposição para fica preguiçosa que só. Dispensa uma letra. Vira pra. Torna-se leve como pluma no ar. Por isso, ela faz uma súplica. “Não me deem o peso de um acento. Livrar-se de um fardo e ganhar outro? Seria trocar seis por meia dúzia. Nada inteligente”: Pra frente, Brasil. Trabalho pra burro. Gasta dinheiro pra chuchu. Acende uma vela pra Deus e uma pro diabo.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 26 de novembro de 2019
A FIM, A FIM DE, AFIM: QUANDO USAR
João e Rafa falam ao telefone. Eis o diálogo:
João: — Vamos ao cinema?
Rafa: — Não estou …
A fim ou afim?
A fim de = para, com vontade de: A fim de ganhar peso, melhorou a dieta. Maria está a fim de viajar. Seus netos vão ao cinema? Não. Eles não estão a fim.
Afim = afinidade, parentesco: Disciplina afim, parentes afins, gostos afins.
É isso. Rafa não estava a fim (de ir ao cinema).
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 25 de novembro de 2019
CLASSIFICADOS POÉTICOS: A VÍRGULA FAZ POESIA
Marcelo Abreu viu o anúncio. Interessou-se. Atento como sempre, viu que se tratava de um poema de Bruno Félix. Mas tinha algo mais do que encantamento. Como quem não quer nada, o texto brinca com um sinal de pontuação. “Uma vírgula no lugar certo muda tudo”, comentou o leitor. Aprecie:
VENDO IMÓVEL
Em ótima localização
Te vi passando
Pela primeira vez
E à primeira vista
Fiquei assim, sem reação:
Vendo, imóvel.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 24 de novembro de 2019
CABELOS AFROS? CABELOS AFRO?
Afro joga em duas equipes. Numa, é nome. Substantivo ou adjetivo, não goza de privilégios. Flexiona-se em gênero e número como os irmãozinhos feio, bonito, pequeno: povo afro, povos afros, moda afra, modas afras.
Noutra, é prefixo. Pede hífen na formação de adjetivos pátrios. Nos demais compostos, dispensa o tracinho. É tudo junto, colado como unha e carne: afro-americano, afro-brasileiro, afro-latino, afrodescendente, afrolatria, afrogenia.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 23 de novembro de 2019
POLITICAMENTE CORRETO: NEGRO
Há palavras e palavras. Algumas informam. Outras emocionam. Há as que mobilizam para a ação. Todas têm hora e vez. Cuidado especial merecem as que ofendem ou reforçam preconceito. Elas ofendem e agridem. Xô! No mês da Consciência Negra, valem três lembretes.
Simmmmmmm
Negro é etnia. Nessa acepção, use-o sem pensar duas vezes. Pelé é negro. Não é escurinho, crioulo, negrinho, moreno, negrão ou de cor.
Nãooooooooooo
Evite o adjetivo em expressões de conotação negativa. Em vez de nuvens negras, prefira pretas ou escuras. Em lugar de lista negra, fique com lista de maus pagadores, de maus profissionais, de maus estudantes.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 22 de novembro de 2019
DENEGRIR E JUDIAR: XÔ!
Apague denegrir do seu dicionário. O verbo deriva de negro. Manchar, maltratar & cia. o substituem. Aproveite a carona pra livrar-se de judiar, filhote de judeu. Troque-o por maltratar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 21 de novembro de 2019
PERDOAI-NOS OU PERDOAIS-NOS?
“Perdoais-nos as nossas ofensas”, escreveu o articulista. Tropeçou no imperativo. O nome denuncia o caráter da forma verbal. Ela ordena, pede, suplica. Em português claro: manda e desmanda. Se manda, é imperativo afirmativo. Se desmanda, imperativo negativo.
Mandão
O imperativo afirmativo divide as pessoas do discurso em dois grupos. As segundas pessoas (tu e vós) ficam de um lado. As outras (ele, nós, eles), de outro. Nada de misturas.
Daí por que o afirmativo tem duas mães. O tu e o vós derivam do presente do indicativo. Mas esnobam o s final. As demais pessoas saem do presente do subjuntivo — sem tirar nem pôr.
Veja o verbo estudar:
Presente do indicativo: eu estudo, tu estudas, ele estuda, nós estudamos, vós estudais, eles estudam
Presente do subjuntivo: que eu estude, tu estudes, ele estude, nós estudemos, vós estudeis, eles estudem
Imperativo afirmativo: estuda tu, estude você, estudemos nós, estudai vós, estudem vocês
Desmandão
O imperativo negativo quer ser entendido. Por isso, foge da confusão. Forma-se todinho do presente do subjuntivo acompanhado do advérbio não: não estudes tu, não estude você, não estudemos nós, não estudeis vós, não estudem vocês.
Eureca
Ao escrever “Perdoais-nos as nossas ofensas”, o autor tropeçou na formação do imperativo afirmativo. Na 2ª pessoa do plural, o s não tem vez. Xô! Xô! Xô!
Assim
Presente do indicativo: eu perdoo, tu perdoas, ele perdoa, nós perdoamos, vós perdoais, eles perdoam
Presente do subjuntivo: que eu perdoe, tu perdoes, ele perdoe, nós perdoemos, vós perdoeis, eles perdoem
Imperativo afirmativo: perdoa tu, perdoe você, perdoemos nós, perdoai vós, perdoem vocês
Imperativo negativo: não perdoes tu, não perdoe ele, não perdoemos, não perdoais vós, não perdoem eles
Moral da opereta
A forma nota 10 é esta: Perdoai-nos as nossas ofensas.
Simples assim.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 20 de novembro de 2019
HÍFEN: NORTE E SUL
Quem nasce na África do Sul é sul-africano. Quem nasce na Coreia do Sul é sul-coreano. Quem nasce em Mato Grosso do Sul é sul-mato-grossense.
Norte joga no mesmo time. Pede hífen ao formar adjetivos compostos: norte-coreano, norte-americano.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 19 de novembro de 2019
TENTAR: O MAL-AMADO
Os psicólogos ensinam: “Quem quer ser afirmativo dispensa o verbo tentar”. Com ele a pessoas fica em cima do muro. Não assume compromisso. Compare a diferença: Vou tentar concluir o trabalho hoje. Vou concluir o trabalho hoje.
Percebeu? Na primeira frase, o falante vacila. Na segunda, mostra firmeza.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 18 de novembro de 2019
ANFITRIÃO: ETIMOLOGIA
No encontro do Brics, Bolsonaro recebeu quatro chefes de Estado — Rússia, Índia, China e África do Sul. Não se deve ao acaso, pois, o uso e abuso da palavra anfitrião. Com o protagonismo, pintou a curiosidade pela etimologia do vocábulo. A origem está na mitologia grega.
Anfitrião era marido de Alcmena. Ele foi lutar na guerra de Tebas. Oba! Zeus, o deus dos deuses, estava de olho na bela mulher. Como sempre faz, disfarçou-se para conquistar a jovem. A paixão foi mútua. Do amor de ambos, nasceu o semideus Hércules, o herói dos 12 trabalhos.
Ao voltar, o marido soube do ocorrido. Reação? Ficou lisonjeado por ser marido de uma escolhida por Zeus. A partir daí, anfitrião virou substantivo comum. Passou a ter o sentido de quem recebe em casa. Bolsonaro foi anfitrião dos mandachuvas do Brics.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 17 de novembro de 2019
HÍFEN AUTO-
Juan Gerardo Guaidó se autoproclamou presidente da Venezuela em março. Jeanice Áñez seguiu a receita. Autoproclamou-se presidente da Bolívia dias atrás. Se a moda pega… Enquanto a certeza não vem, vale uma dica. O prefixo auto– pede o tracinho quando seguido de h e o. No mais, é tudo colado como unha e carne: auto-hipnose, auto-organização, autoescola, autoproclamar, autorregulação, autossuficiente, autoexílio.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 16 de novembro de 2019
RUSSO E RUÇO: EMPREGO
Russo, o originário da Rússia, forma compostos. Olho na grafia! Os adjetivos pátrios pedem hífen (russo-americano, russo-brasileiro, russo-germânico). Os demais compostos mandam o tracinho pras cucuias: russofobia (pavor de russo), russófilo (amigão dos russos).
Tá ruço
Sem confusão, marinheiros de poucas viagens. Russo e ruço não se conhecem nem de elevador. Russo é o natural ou originário da Rússia. Ruço quer dizer pardacento, complicado: A coisa está ruça. O conflito ficou ruço. Os russos adoram vodca, mas ficam longe de situações ruças.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 15 de novembro de 2019
O BRICS? OS BRICS?
Brasília virou o centro do mundo. Os mandões de quatro países desembarcaram no Aeroporto Juscelino Kubitschek. Eles, com o nosso, abrigam 42% da população do planeta. O quinteto é tão importante que se tornou sigla — Brics. O nome se formou com as iniciais dos membros: B de Brasil, r de Rússia, i de Índia, c de China e s de África do Sul (em inglês, South Africa).
O grupo mereceu manchete em Europa, França e Bahia. Ocupou páginas de jornais e minutos na tevê. Sites e blogues acompanharam o vai e vem dos chefes de Estado. Mas uma vacilação marcou o noticiário. Singular ou plural? Alguns ficaram com o Brics. Outros, os Brics. E daí?
O pomo da discórdia foi o s de Brics. Ele não marca o plural. É o s inicial de South Africa. Conclusão: Brics joga no time de Mercosul. É singular: O Brics se reuniu em Brasília. Os representantes do Brics se cercaram de segurança na capital. O banco do Brics promete fazer investimentos nos países-membros.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 14 de novembro de 2019
HÍFEN: H
O hífen é castigo de Deus? É. Se alguém tinha dúvida, a reforma ortográfica se encarregou de acabar com ela. O texto do acordo é tão impreciso que deixou perguntas, perguntas e perguntas no ar. Onde encontrar respostas? No Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp). Mas ele estava desatualizado. Finalmente a Academia Brasileira de Letras divulgou a obra. Nota explicativa ajuda a tirar grilos da cabeça. Nela, explicitam-se os princípios que nortearam o Volp.
São quatro. Um: respeitar a lição do acordo. Dois: estabelecer uma linha de coerência do texto como um todo. Três: acompanhar o espírito simplificador do acordo. O quarto e mais importante: preservar a tradição ortográfica quando das omissões do texto. Em bom português: exceções só as explícitas. Como no jogo do bicho, vale o que está escrito.
Eis um exemplo. O acordo manda usar hífen quando o prefixo é seguido de h. É o caso de anti-humano, super-homem, a-histórico. Citou uma exceção – subumano, cujo uso está consagrado. Pintou a confusão. Voltaríamos a escrever in-hábil, des-habitado e re-haver? O quarto princípio diz que não. Eles continuam como dantes no quartel de Abrantes.
A famosa letra muda, que não fala, mas ajuda, tem poucos amigos. O acordo lhe respeitou a idiossincrasia ermitã. Estipulou que, com ela, é um pra lá e outro pra cá: anti-higiênico, extra-humano, pseudo-história, semi-hospitalar, super-homem, pós-homérico, extra-habitual.
Mas princípio é princípio. Grafias consagradas se mantêm. Por isso o h cai fora em subumano, coerdeiro, coabitação, reaver, anistórico, anepático, desumano, inumano, inábil. Os derivados trilham o caminho dos primitivos – desumanidade, inabilidoso, reouve. E por aí vai.
Moral da história: para o acordo ortográfico, antiguidade é posto. PT saudações.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 13 de novembro de 2019
18 HOMÓFONOS QUE CONFUNDEM
Estas palavras soam do mesmo jeitinho. Por isso são chamadas de homófonas. Mas a grafia e o sentido não se conhecem nem de elevador. Olho nelas:
senso (juízo) e censo (recenseamento)
cela (quartinho) e sela (arreio de cavalo)
acento (icto da voz) e assento (banco, cadeira, poltrona)
ascender (subir) e acender (atear fogo)
cerrar (fechar) e serrar (cortar com serra)
cheque (ordem de pagamento) e xeque (lance de xadrez)
conserto (remendo) e concerto (harmonia)
coser (costurar) e cozer (cozinhar)
acerto (ato de acertar) e asserto (afirmação)
caçar (perseguir) e cassar (privar de direitos)
cesta (caixa de vime ou plástico) e sexta (6ª)
concelho (reunião) e conselho (opinião)
incipiente (principiante) e insipiente (ignorante)
laço (laçada) e lasso (frouxo)
paço (palácio) e passo (ato de andar)
tenção (propósito) e tensão (expansão)
vês (verbo ver) e vez (ocasião)
seção (parte, divisão), sessão (tempo que dura uma reunião), cessão (ato de ceder)
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 12 de novembro de 2019
VERDE E AMARELO, VERDE-AMARELO OU VERDE AMARELO?
O governo anunciou medidas para estimular a criação de empregos com carteira assinada. Os grandes beneficiados são os jovens. Viva! Quase um quarto dos brasileiros nessa faixa etária joga no time nem-nem — nem trabalha, nem estuda.
Foi um auê. Jornais, rádios, tevês, sites anunciaram a inciativa. Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Tropeçaram no castigo de Deus. O responsável pelo tombo foi o nome da novidade. Apareceram três grafias. Uma: Programa Verde e Amarelo. Outra: Programa Verde-Amarelo. Mais uma: Programa Verde Amarelo.
E daí?
Há duas formas corretas:
1.Programa Verde e Amarelo — Assim mesmo, sem hífen. O trio joga no time de pé de moleque, mão de obra, testa de ferro, tomara que caia, dor de cotovelo, mula sem cabeça. Antes da reforma ortográfica, essas palavras se escreviam com tracinho. Mas, como não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe, o elo bateu asas e voou. Adeus!
2. Programa Verde-Amarelo — A duplinha pertence à gangue de arco-íris, beija-flor, guarda-roupa, porta-luvas, para-choque. Etc. e tal. A turminha se escrevia com hífen. A reforma ortográfica respeitou-a. Manteve o tracinho.
Exceção
Paraquedas se escrevia como as irmãs da mesma composição — para-choque, para-raios, para-lama, para-chuva, para-fogo, para-luz. Mas decidiu fazer gracinhas. Na hora da reforma, despencou do céu diante dos acadêmicos. Eles levaram tal susto que se esqueceram do hífen. É o castigo de Deus.
Salvação
Muitos escreveram Programa Verde Amarelo. Bobearam. Na pressa, nem se lembraram da bondade divina. O Senhor puniu, mas mostrou o caminho da salvação — a consulta ao dicionário. No pai de todos nós, está a grafia nota 10. É só abri-lo.
Flexão
Verde é adjetivo. Amarelo também. Adjetivos compostos de adjetivo + adjetivo obedecem cegamente a uma regra. Só o segundo varia: bandeira verde-amarela, bandeiras verde-amarelas, programa verde-amarelo, programas verde-amarelos.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 11 de novembro de 2019
PRONOME DE TRATAMENTO: PARA QUÊ? XÔ!
A sessão corria solta no Supremo Tribunal Federal. Discursos recheados de juridiquês falavam da licença-maternidade. De repente, não mais que de repente, o advogado Renato Nunes disse que “o pedido de justiça que estou fazendo aqui para vocês, excelências, nunca foi tão eloquente”. Marco Aurélio Mello empinou-se. “Para vocês?”, perguntou. O advogado ficou confuso. O ministro explicou que se referia à forma de tratamento.
Do baú real
Dizem que tudo começou no século 12. Exatamente em 1143, quando Portugal se tornou reino independente. Afonso Henriques, o primeiro rei, deu início à história. Sentia-se tão poderoso que dizia “Deus sou eu”. Era proibido dirigir-se a ele. Quem ousasse perdia a cabeça. Daí, bem antes da guilhotina, surgiu o verbo decapitar, que significa cortar a cabeça. Que medão!
Enrascada
Como fazer? Se, no auge da paixão, a amada dissesse ao monarca “te amo”, a cabeça dela rolava. Se o médico perguntasse ao soberano o que estava sentindo, não recebia resposta. A degola vinha antes. O que fazer? O Conselho de Sábios se reuniu. Nasceu aí o jeitinho brasileiro. A mágica era esta: ninguém falaria ao rei, mas à majestade do rei. Chamá-lo-iam de Vossa Majestade. As pessoas se dirigiam ao rei sem se dirigir a ele.
O coroado ficou feliz. Os bajuladores, que existiam desde então, começaram a inventar pronomes. Dirigiam-se à excelência do rei, à magnificência do rei, à senhoria do rei. E por aí vai. Os nobres, invejosos, reivindicaram privilégios semelhantes. O clero também. Generoso, o rei se satisfez com a majestade. Os outros que se entendessem com a partilha dos demais.
Partilha
Oba! Príncipes ficaram com alteza. Reitores, com magnificência. Cardeais, com eminência. Sacerdotes em geral, com reverendíssima. Altas autoridades do Estado, com excelência. Funcionários públicos, com senhoria. E o papa? O pontífice contentou-se com santidade.
Concordância
“Vossa Majestade é divino. Sou sua devota”, dizia a futura rainha. Reparou? A namorada sabida fazia a concordância como manda a gramática. Ela se dirigia à majestade do amado. Por isso o verbo (é) e o pronome (sua) estão na 3ª pessoa. Vossa Excelência, Vossa Senhoria & cia. exibida jogam no mesmo time.
Pessoa
Vossa Excelência ou Sua excelência? Depende. Vossa Excelência é o ser com quem se fala. Sua Excelência, de quem se fala: Cumprimento Vossa Excelência pelo belo gesto. O advogado dirigiu-se à Sua Excelência com o respeito habitual.
Jeitinho
E o adjetivo? Não deveria concordar com majestade, substantivo feminino? Sim. Mas quem ousaria chamar o rei, tão machão, de divina? Deu-se outro jeito. Criou-se a silepse, figura que permite seja feita a concordância com a ideia, não com a palavra. O adjetivo concorda com o sexo da pessoa, não com o substantivo: Sua Majestade, a rainha Elizabeth, é amada pelo povo. Sua Majestade, o rei Gustavo, também é amado.
Bolsonaro
É excelência pra cá. Magnificência pra lá. Eminência pracolá. Eta coisa velha! O mofo centenário incomodou o presidente. Sua Excelência usou a caneta Bic e pôs fim aos salamaleques. Acabou com o tratamento cerimonioso a autoridades. Excelências & cias. entram na vala comum. Viram senhor e senhora. Como diz a Constituição, todos são iguais perante a lei. Mas a iniciativa só vale para o Executivo. Legislativo e Judiciário não estão nem aí. O tempo passou na janela, só Carolina não viu.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 10 de novembro de 2019
ELE PROLIFERAM? ELES SE PROLIFERAM?
“Os laboratórios de inovação estão se proliferando pela cidade”, escreveu o jornal de hoje. Baita desperdício. O se sobra. Proliferar não é pronominal. Altivo, dispensa objeto. Reina sozinho, absoluto: Os laboratórios de inovação estão proliferando pela cidade. Ratos proliferam no lixo. Em época de incerteza, proliferam boatos, milagreiros e salvadores da pátria.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 09 de novembro de 2019
CESSÃO, SEÇÃO E SESSÃO
Esperava-se uma corrida do mundo para participar do megaleilão do pré-sal. As expectativas se frustraram. Por quê? Alguns dizem que as regras inibiram os investidores. Outros, que a língua foi a vilã. É que os interessados se atrapalharam com a palavra cessão. Confundiram-na com seção e sessão. O blogue vai dar uma ajudinha para os próximos leilões.
Cessão, sessão e sessão jogam no time dos homófonos. As palavras têm a mesma pronúncia, mas grafia e sentido diferentes:
Cessão é o substantivo derivado de ceder. Ambos, veja, começam pela mesma letra. O cartório registra a cessão dos bens. Conseguir a cessão de direitos é assunto complicado. O caso acabou na Justiça. Trata-se de cessão de propriedades encaminhada de forma pouco honesta.
Seção é a parte de um todo. Quer dizer divisão. No supermercado, há a seção de frutas, a seção de material de limpeza, a seção de laticínios, a seção de bebidas. Na farmácia, a seção de remédios e a seção de cosméticos. Na loja, a seção de roupas infantis, a seção de roupas femininas, a seção de roupas masculinas.
Sessão é o todo. Dá nome ao tempo que dura uma reunião, um espetáculo ou um trabalho: sessão de cinema, sessão do Congresso, sessão de terapia, sessão da tarde, sessão comédia, sessão de pancadas.
Superdica
O todo é maior que a parte. Por isso sessão tem seis letras. Seção, cinco.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 08 de novembro de 2019
DETRÁS OU ATRÁS?
Os dicionários tanto brasileiros quanto portugueses registram detrás e atrás sempre coladinhos: Tempos atrás, conheci imigrantes de diferentes nacionalidades. Correr atrás do prejuízo? Nãooooooooo. Melhor correr do prejuízo. Detrás de meu prédio, há um shopping center. Primeiro veio a rainha, e, detrás, o rei.
As demais preposições vêm separadas — uma lá e outra cá. Assim: Correu muito, mas ficou para trás. Saiu por trás do muro sem ser percebido.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 07 de novembro de 2019
REAVER: CONJUGAÇÃO
Receita apreendeu R$ 3,8 milhões de viajantes em 20019. Eles transportam boladas de dinheiro ou obras de arte sem declarar. Resultado: caem nas malhas da fiscalização. O assunto é notícia. “Muitos tentaram, mas poucos reaviram os bens”, disse o repórter. Bobeou.
Quem vê cara não vê formação. Reaver que o diga. À primeira vista, o verbinho tem pinta de derivado de ver. Mas é só à primeira vista. Os dois nunca se viram nem no elevador. Reaver é filhote de haver. Significa haver de novo, recobrar, recuperar: Ladrões assaltaram a casa de Gilda. Levaram joias e dinheiro. A polícia os prendeu, mas não conseguiu reaver os bens.
Tal pai, tal filho
Reaver se conjuga como haver, mas só nas formas em que o v do paizão se mantiver: reavemos, reavei;, reouve, reouveste, reouvemos, reouveram; reavia, reavias, reavíamos, reaviam; reaverei, reavereis, reaverá, reaveremos, reavereis, reaverão; reaveria, reaverias, reaveríamos, reaveriam; reouver, reouveres, reouver, reouvermos, reouverem; reouvesse, reouvéssemos, reouvessem; reavendo, reavido.
Xô!
Não caia na tentação. Reavê, reaviu, reaveja seriam derivados de ver. Não existem. Nem fazem falta. Recuperar ou recobrar estão aí pra quebrar o galho. Lembre-se: o inferno está cheinho de insubstituíveis.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 06 de novembro de 2019
CATETER: PRONÚNCIA
Bruno Covas foi ao médico tratar um problema de pele. Descobriu que tinha câncer no esôfago com metástase no fígado. “Vamos à luta”, disse ele. E se submeteu à quimioterapia. Correu tudo bem. Mas o cateter pregou uma peça. Formou um coágulo no coração.
O jeito é prolongar os dias no hospital. O prefeito de São Paulo encarou o contratempo numa boa. Melhor: pronunciou a palavra como manda a prosódia. Cateter é oxítona. A sílaba tônica fica no finzinho — ter. O plural, cateteres. Muitos dizem catéter. Trata-se de forma popular.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 05 de novembro de 2019
FACTOIDE, ASTEROIDE, DEBILOIDE: SIGNIFICADO DO -OIDE
Ufa! Temos emoções pra dar, vender e emprestar. A mais recente é a repercussão de reportagem do Jornal Nacional. Na terça, o JN noticiou o depoimento do porteiro do condomínio onde o presidente reside no Rio. Ele associou o nome do ilustre morador ao caso Marielle Franco. Bolsonaro, lá das Arábias, reagiu. Disse que a matéria faltava com a verdade.
Na briga de versões, o procurador-geral da República entrou no pega pra capar. Com uma palavra, desqualificou a notícia: “É factoide”, disse ele. O vocábulo rima com asteroide, debiloide, cretinoide. Elas têm um denominador comum. Terminam com oide.
As quatro letrinhas vêm do grego. Querem dizer forma, aparência, imagem. Asteroide é o que tem aparência de astro. Debiloide, de débil mental. Cretinoide, de cretino. Factoide joga no mesmo time. Tem aparência de fato. Mas fato não é.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 04 de novembro de 2019
MODISMOS: ADVÉRBIOS TERMINADOS EM -MENTE
Thiago Bezerra escreve: “Tudo que vira moda é aceito pelas pessoas até sem pensar. Mas existe moda brega, não é mesmo? Entrou em cartaz o advérbio “justamente”. Jornais, telejornais, políticos, jornalistas, advogados abusam da palavra. Ela sobra”. É verdade. A maior parte dos advérbios terminados em –mente só tem uma função — sobrecarregar a frase. Quer ver?
João deve sair (provavelmente) às 6h.
Cumpriu a ordem (exatamente) como o chefe determinou.
(Atualmente) todo mundo tem celular.
A reclamação era (completamente) inoportuna.
Disse (exatamente) isso, sem tirar nem pôr.
Os pacientes odeiam (principalmente) ter de esperar.
É (terminantemente) proibido ultrapassar o limite.
Nesse período, acho que a área social foi a que mais sofreu. Eu acabei de trocar o secretário (justamente) por isso.
Xô! Xô! Xô!
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 03 de novembro de 2019
TÂNATOS: O DEUS DA MORTE
Na mitologia grega, Tânatos tem uma família muito especial. É filho da Noite. E irmão gêmeo de Hipnos, o deus do sono. Tem asas enormes. Com elas, vai pra lá e vem pra cá rapidinho. Quando o tempo de vida de uma pessoa acaba, ele chega na hora. Ninguém escapa.
Um dia, Sísifo resolveu acabar com a morte. Todo mundo viveria para sempre. O que ele fez? Prendeu Tânatos. Durante muito tempo, ninguém mais morreu. As crianças ficavam adultas. Os adultos viravam velhos. E os velhos ficavam cada vez mais velhinhos.
A Terra se superpovoou. Havia gente demais. Começou a faltar casa, roupa e comida. O jeito foi soltar Tânatos. Livre, ele voltou a voar. E a levar quem devia ser levado. Por isso, até hoje, os médicos estudam tanatologia. É parte do curso que se ocupa da morte.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 02 de novembro de 2019
DICAS PARA DISTINGUIR NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO E DISSERTAÇÃO
No Enem, você vai escrever uma dissertação. Para ir direto ao ponto, é bom distinguir os tipos textuais. São três — narração, descrição e dissertação. Cada um deles tem um verbo e responde a uma pergunta:
Narração
Pergunta: o que houve?
Verbo: contar
Exemplo: narração de Eduardo Galeano
Certa manhã, ganhamos de presente um coelhinho das Índias. Chegou em casa numa gaiola. Ao meio-dia, abri a porta da gaiola. Voltei pra casa ao anoitecer e o encontrei tal qual o havia deixado: gaiola adentro, grudado nas barras, tremendo por causa do susto da liberdade.
O que aconteceu? Galeano conta a história do coelhinho que tinha medo da liberdade.
Usa verbos de ação: ganhar, chegar, abrir, voltar, encontrar, deixar, tremer.
Descrição
Pergunta: Como ele é? Como ela é?
Verbo: mostrar
Exemplo: descrição de Clarice Lispector
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer pessoa devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Como ela é? Clarice mostra a garota para nós — gorda, baixa, sardenta, peituda. Faz uma fotografia com palavras.
Dissertação
Pergunta: como convencer?
Verbo: provar, demonstrar. Provar o quê? Um ponto de vista.
Exemplo: editorial que apresenta argumentos para provar que temos de acabar com a cultura do desperdício.
Como acabar com a cultura do desperdício? Ela tem de ser desmontada por dentro. É preciso que os brasileiros não joguem fora restos de comida aproveitáveis nem deixem as lâmpadas acesas quando saem de um aposento. É preciso que os livros escolares sejam aproveitados pelos irmãos menores. É preciso não destruir os bens públicos. É preciso, enfim, martelar insistentemente na necessidade de poupar.
Como convencer o leitor da necessidade de acabar com a cultura do desperdício? O autor apresenta argumentos inspirados no dia a dia: restos de comida, lâmpadas acesas, livros escolares, bens públicos, poupança.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 01 de novembro de 2019
POR QUE BRUXA SE ESCREVE COM X?
Hoje é Dia das Bruxas. Os americanos o comemoram. Nós nem ligamos pras coitadas. Deixamo-las lá, montadas na vassourinha. Mas elas, generosas, ensinam uma lição. X ou ch? Depois de bru, não vacile. É a vez do x: bruxa, bruxaria, bruxulear, Bruxelas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 31 de outubro de 2019
PERDER: REGÊNCIA
Perder pede a preposição para: O Grêmio perdeu para o Flamengo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 30 de outubro de 2019
PALAVRAS QUE VÊM DO ÁRABE
Além do Corão, o árabe nos presenteou com montões de vocábulos. Muitos têm uma marca — começam com al. As duas letrinhas são o artigo da língua das Arábias. As senhoritas árabes frequentam nosso vocabulário com desenvoltura. Eis algumas: álcool, alface, alcachofra, alfafa, almeirão, almirante, almofada, alfaiate, alfinete, algarismo, álgebra, algazarra, almôndega, alfazema, alquimia, alcateia, alambique.
Ops! Não generalize. Nem todas as palavras árabes começam com al. Se assim fosse, seria muito chato, não? Muitas fogem à regra. É o caso arroz, azulejo, café, chafariz, salamaleque, mesquita, tâmara, zero. Oxalá também é herança do povo que ocupou a Península Ibérica durante 7 séculos. A trissílaba quer dizer tomara, Deus queira: Oxalá faça sol no fim de semana.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 29 de outubro de 2019
QUEM É ÁRABE? – OS 22 PAÍSES ÁRABES
O mundo árabe engloba 22 países. Parte está no Oriente Médio. Outra parte, na África. O que há de comum entre tão diferentes nações? Não é a etnia. Não é a religião. Não é a cultura. É a língua. Só é árabe o país que fala árabe. Para a Liga Árabe, “um árabe é uma pessoa cuja língua é o árabe, que vive em um país de língua árabe e que tem simpatia com as aspirações dos povos de língua árabe”.
Conhece o mundo árabe? É este: Arábia Saudita, Argélia, Barein, Catar, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Mauritânia, Marrocos, Omã, Palestina, Somália, Sudão, Síria e Tunísia. Nesses países, além do Islamismo, várias outras religiões são professadas.
Sem confusão
Muitos incluem o Irã no guarda-chuva árabe. Enganam-se. O que os induz ao erro? É a localização. O país fica no Oriente Médio. Mas… não fala árabe. A língua da antiga Pérsia é o persa.
Vale lembrar: só é árabe o país que fala árabe.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 28 de outubro de 2019
CORÃO OU ALCORÃO?
Tanto faz. O livro sagrado dos muçulmanos aceita as duas grafias. (O al é o artigo definido árabe. Corresponde aos nossos a, o, as, os.) Tal como a Bíblia, significa livro.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 27 de outubro de 2019
JAPÃO: O PROFESSOR E O IMPERADOR
Dizem que, no Japão, o único profissional que não precisa se curvar diante do imperador é o professor. A razão: numa terra onde não há professor, não pode haver imperador. Verdade.? Não Naquele país distante e cheio de rituais, todos se curvam diante do imperador. Mas o único diante do qual Sua Majestade faz leve reverência é o mestre.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 26 de outubro de 2019
JURO OU JUROS?
Com a inflação sob controle, a Selic deve fechar o ano abaixo de 4%. Oba! Há muito não se recebia notícia tão boa. Quando foi anunciada, pintou a questão: juro ou juros? Tanto faz. No singular ou plural, o significado se mantém. A concordância acompanha o número: O juro vai baixar mais. Os juros vão baixar mais.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 25 de outubro de 2019
DE BAIXO E DEBAIXO: EMPREGO
Debaixo significa sob: debaixo da mesa, debaixo do tapete, debaixo da cama.
De baixo se usa nos demais casos: Olhou-a de baixo para cima. Comprou roupa de baixo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 24 de outubro de 2019
PROSTITUTA É PROFESSORA?
O verbete está no dicionário. O Google o reproduz. Alguém consulta o significado da palavra professora. Ops! A tela mostra: “prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual”. Grupos se mobilizam no WhatsApp. Querem que o site da internet apague a acepção que ofende as mestras.
Internautas emitem opinião. A maior parte dos comentários fala em injustiça, machismo, desconsideração com a classe, contribuição para aumentar o sofrimento das maltratadas profissionais. Etc. e tal. Não faltou quem comparasse o feminino com o masculino. Aí, a revolta aumentou. Na definição de professor, não se encontra nenhuma acepção negativa.
Revolta semelhante ocorreu há 20 anos. Lúcia Carvalho, então presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, consultou o verbete mulher, no Aurélio. Encontrou 15 vocábulos sinônimos de meretriz. Entre eles, mulher-dama, mulher da rótula, mulher da rua, mulher da vida, mulher da zona, mulher de amor, mulher do mundo.
E homem? No pai de todos nós, injustamente chamado pai dos burros, só aparecem significados positivos. Ela comparou homem da rua com mulher da rua. Ele é homem do povo. Ela, meretriz. E homem do mundo e mulher do mundo? Ele é homem de sociedade; ela, prostituta. A indignação da deputada foi tal que os protestos chegaram aos ouvidos de Jô Soares. O Gordo a convidou para o Programa do Jô. Ela foi.
E daí? O Aurélio, o Houaiss & cia. lexical são machistas? Devem ser condenados por registrar professora como prostituta? Ou por tratar tão desigualmente mulher e homem? Não. O dicionário é inocente. Ele sofre de incurável falta de criatividade. Incapaz de inventar, só anota as acepções que frequentam a boca dos falantes. Machista, discriminatória, injusta etc. e tal é a sociedade. O paizão repete o que ouve. É papagaio encadernado.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 23 de outubro de 2019
DE ONDE VEM O NOME DOS CONTINENTES?
Bolsonaro está na Ásia. O maior e mais populoso continente ganha destaque no Brasil. E, claro, desperta curiosidades. Uma delas: de onde vem o nome daquele mundo distante? Vem da mitologia grega. Oceano, o deus dos rios, originou Oceama, que deu à luz a filha Ásia — mãe das fontes e rios. Em homenagem a tão importante entidade, a Ásia se chama Ásia.
Os outros
Três outros continentes também devem a denominação ao Olimpo. África é uma deusa com porte oriental. Ela tem uma marca: carrega um chifre numa mão e um escorpião na outra. Oceano inspirou Oceania.
Europa era uma ninfa pra lá de bela. Zeus, o grande sedutor, apaixonou-se tão logo a viu. Pra conquistá-la, transformou-se em touro branco enfeitado com um colar de flores. Assim disfarçado, raptou-a. Resultado: viveram um grande amor.
Bem longe
Distante dos deuses, América deve o nome ao navegador Américo Vespúcio. Antártida também fechou os olhos para a sedução olímpica. Inspirou-se no grego árktos, que significa ursa. O dissílabo denominava as constelações da Ursa, no hemisfério norte. Como o continente está no hemisfério sul, acrescentou-se o prefixo anti. Antártida é, então, o antiártico.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 22 de outubro de 2019
BOLSONARO POSOU PARA FOTOS? POUSOU?
Atenção à diferença:
O avião pousou no aeroporto japonês. Bolsonaro posou para fotos.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 21 de outubro de 2019
MODA: ETIMOLOGIA
Moda pra que te quero? Pra usar e deixar pra lá. A própria palavra diz isso. A danadinha significa uso passageiro. Vem do francês mode, que quer dizer hábito, uso efêmero. Pode se referir à forma de vestir, calçar, pentear ou enfeitar-se.
Numa estação, a moda é saia curta. Na outra, longa. Depois, nem curta nem longa. E as cores? Ora o vermelho ocupa todas as vitrines. Meses depois, dá vez ao amarelo. Em seguida, ao branco. Agora é o rosa. E o pretinho? É eterno. O cabelo não fica atrás. Muda de cor, de comprimento, de corte.
A moda vai além da roupa, do cabelo ou das cores. Sugere decoração. Mete a colher nos restaurantes. Dá palpite nos carros. Interfere nos relacionamentos. Dá virada na política. Ufa! Nem os brinquedos escapam.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 20 de outubro de 2019
HÍFEN: MÃO DE OBRA E COR-DE-ROSA
A reforma ortográfica cassou o hífen de palavras compostas de dois ou mais vocábulos ligados por preposição, conjunção, pronome. Pé de moleque, mão de obra, dor de cotovelo, maria vai com as outras, testa de ferro, tomara que caia se escreviam com o tracinho. Agora mandaram-no passear.
Exceções
água-de-colônia, arco-da-velha, pé-de-meia.
As cores entraram na faxina: cor de laranja, cor de carne, cor de vinho, cor de abóbora, cor de creme.
Exceção
cor-de-rosa
Mantiveram o hífen
Nome de bichos e plantas (todos, sem exceção): joão-de-barro, bicho-do-pé, cana-de-açúcar, pimenta-do-reino, castanha-do-pará.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 19 de outubro de 2019
HINDU OU INDIANO?
Hindu é o seguidor do hinduísmo; indiano, adjetivo relativo à Índia: Os indianos sobressaem em matemática. Nem todos os indianos são hindus. Entre eles, há católicos, muçulmanos, protestantes.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 18 de outubro de 2019
POR QUE, POR QUÊ, PORQUE E PORQUÊ: EMPREGO
Junto, separado, com acento, sem acento. Ufa! Como dominar criatura tão mutante? É fácil.
Por que, porque
1. Na pergunta, é separado. Na resposta, junto:
Por que você se atrasou?
Porque perdi o ônibus.
2. Mas há um separado que não tem a ver com a pergunta. É aquele que a gente pode substituir por “a razão pela qual”:
Não sei por que (a razão pela qual) ele se atrasou.
Gostaria de saber por que (a razão pela qual) ele se atrasou.
Ele explicou por que (a razão pela qual) se atrasou.
Por quê, porquê
1. A duplinha só ganha chapéu se estiver no fim da frase. No fim mesmo, encostada no ponto:
Você se atrasou por quê?
Chegou tarde. Não sei por quê (a razão pela qual chegou tarde).
2. O porquê é substantivo. Aparece antecedido por artigo, numeral ou pronome. E, como todo substantivo, tem plural:
Entendi o porquê dos porquês.
Este porquê é fácil.
Dois porquês me quebravam a cabeça. Não quebram mais.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 17 de outubro de 2019
A PLACA DO ELEVADOR: 5 ERROS
Sabia? Os olhos funcionam como câmeras. Fotografam tudo o que veem. Nada escapa. Nem as palavras. Os ouvidos têm outros interesses. Eles não estão nem aí pras imagens. Só querem saber de sons. Como esponjas, absorvem o que ouvem.
Resultado: a gente vê ou ouve mensagens de certas placas, certos avisos, certas propagandas pela primeira vez. Acha-as esquisitas. Mas depois, tantas vezes repetidos, os textos parecem naturais. Mas não são. É o caso da placa que vem afixada ao lado de todos os elevadores.
Aviso aos passageiros
Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.
O texto é a receita do cruz-credo. Sem cerimônia, exibe cinco erros – propriedade vocabular, colocação do pronome átono, pontuação, emprego do demonstrativo mesmo e estrutura da frase.
Palavra adequada
Vamos combinar? Ônibus, avião, trem, bonde, navio, táxi & cia. transportam passageiros. O elevador sobe e desce com usuários.
Fortões e fracotes
O pronome átono se chama átono porque é fraquiiiiiiinho. Há palavras fortonas que o atraem e o obrigam a ficar antes do verbo. Uma delas é a conjunção subordinativa (que, se, porque). No aviso, aparece “verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.
Viu? A conjunção se (verifique se) lá está. Chama o fracote. Ele tem de obedecer: … verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.
Pra lá e pra cá
As orações adverbiais são passeadeiras. Não param quietas. Ora aparecem no começo do período, ora no meio, ora no final. Mas elas têm lugar fixo. É no fim. Quando se deslocam, a vírgula denuncia a escapadinha. Compare:
Não dirija se beber.
Se beber, não dirija.
Voltemos ao aviso. O texto tem uma oração deslocada. Cadê a vírgula? O gato comeu. Que tal devolvê-la? Assim: Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.
Etiqueta pega bem
O pronome mesmo exerce vários papéis. Ele ajuda o autor a reforçar a declaração ou a dar mais precisão a termos que precisam de destaque. Com funções tão importantes, é natural que tenha exigências. Não são muitas, mas convém conhecê-las para tirar as vantagens que o dissílabo oferece.
1. Às vezes, o pronome aparece antes do substantivo. No caso, tem o sentido de “igual”. Concorda, então, com o substantivo a que se refere: O prefeito fez o mesmo discurso nas duas cidades. O prefeito fez os mesmos discursos nas duas cidades. A mesma campanha teve resultado diferente. As mesmas campanhas tiveram resultados diferentes.
2. Outras vezes, o danadinho vem depois do nome ou do pronome para reforçá-los. Aí concorda com o termo a que se refere. Compare:
Eu vendi a casa. Eu mesma vendi a casa. Eu mesmo vendi a casa. Ele vendeu a casa. Ele mesmo vendeu a casa.
Nós vendemos a casa. Nós mesmos vendemos a casa. Nós mesmas vendemos a casa.
Elas mesmas venderam a casa.
3. Eta pronome polivalente! Ele também pode significar “realmente”. Aí, mantém-se invariável – sem feminino e sem plural: O depoente disse mesmo a verdade. Eles saíram mesmo às 18h. Foi bobeira mesmo do deputado.
Nada mais
Viu? O pronome dá destaque e reforço. Mas não ocupa o lugar do substantivo ou do pronome. É proibido usá-lo em frases como estas: Falei com o médico. O mesmo disse que estava de férias. Xô, coisa feia! Vem, belezura: Falei com o médico. Ele disse que estava de férias.
Eureca
Agora está moleza encontrar o erro no aviso do elevador. O dissílabo está usurpando o lugar do pronome ele: Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar.
Retoque
Que tal dar uns retoques na frase? A forma nota 10 pode ser esta:
Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar.
Melhor ainda:
Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar.
O monstro aterrador
Vamos rir? Leia a interpretação que Paulo José Cunha deu ao mesmo do elevador. Ele o tratou como nome próprio:
Morro de medo do Mesmo. Tenho certeza de que Mesmo é uma dessas assombrações que aparecem nas estradas desertas, noite alta, Lua cheia. Ou então Mesmo é um desses monstros que frequentam diariamente as páginas policiais, um serial killer, um Jack, o estripador (ou estuprador). Tipo: “Mesmo ataca outra vez em Copacabana. Polícia usa até helicóptero pra encontrar o monstro”. Porque, vamos convir: para todo elevador ter um aviso para que a gente verifique se o mesmo está lá dentro, é porque o mesmo não é flor que se cheire.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 16 de outubro de 2019
MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: DIA DO PROFESSOR
Datas comemorativas são nomes próprios. Escrevem-se com inicial maiúscula: Dia do Professor, Dia da Criança, Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Avós.