O hífen é castigo de Deus? É. Se alguém tinha dúvida, a reforma ortográfica se encarregou de acabar com ela. O texto do acordo é tão impreciso que deixou perguntas, perguntas e perguntas no ar. Onde encontrar respostas? No Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp). Mas ele estava desatualizado. Finalmente a Academia Brasileira de Letras divulgou a obra. Nota explicativa ajuda a tirar grilos da cabeça. Nela, explicitam-se os princípios que nortearam o Volp.
São quatro. Um: respeitar a lição do acordo. Dois: estabelecer uma linha de coerência do texto como um todo. Três: acompanhar o espírito simplificador do acordo. O quarto e mais importante: preservar a tradição ortográfica quando das omissões do texto. Em bom português: exceções só as explícitas. Como no jogo do bicho, vale o que está escrito.
Eis um exemplo. O acordo manda usar hífen quando o prefixo é seguido de h. É o caso de anti-humano, super-homem, a-histórico. Citou uma exceção – subumano, cujo uso está consagrado. Pintou a confusão. Voltaríamos a escrever in-hábil, des-habitado e re-haver? O quarto princípio diz que não. Eles continuam como dantes no quartel de Abrantes.
A famosa letra muda, que não fala, mas ajuda, tem poucos amigos. O acordo lhe respeitou a idiossincrasia ermitã. Estipulou que, com ela, é um pra lá e outro pra cá: anti-higiênico, extra-humano, pseudo-história, semi-hospitalar, super-homem, pós-homérico, extra-habitual.
Mas princípio é princípio. Grafias consagradas se mantêm. Por isso o h cai fora em subumano, coerdeiro, coabitação, reaver, anistórico, anepático, desumano, inumano, inábil. Os derivados trilham o caminho dos primitivos – desumanidade, inabilidoso, reouve. E por aí vai.
Moral da história: para o acordo ortográfico, antiguidade é posto. PT saudações.