Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 11 de novembro de 2019

PRONOME DE TRATAMENTO: PARA QUÊ? XÔ!

 

Pronomes de tratamento: para quê? Xô!

Publicado em português

A sessão corria solta no Supremo Tribunal Federal. Discursos recheados de juridiquês falavam da licença-maternidade. De repente, não mais que de repente, o advogado Renato Nunes disse que “o pedido de justiça que estou fazendo aqui para vocês, excelências, nunca foi tão eloquente”. Marco Aurélio Mello empinou-se. “Para vocês?”, perguntou. O advogado ficou confuso. O ministro explicou que se referia à forma de tratamento.

Do baú real

Dizem que tudo começou no século 12. Exatamente em 1143, quando Portugal se tornou reino independente. Afonso Henriques, o primeiro rei, deu início à história. Sentia-se tão poderoso que dizia “Deus sou eu”. Era proibido dirigir-se a ele. Quem ousasse perdia a cabeça. Daí, bem antes da guilhotina, surgiu o verbo decapitar, que significa cortar a cabeça. Que medão!

Enrascada

Como fazer? Se, no auge da paixão, a amada dissesse ao monarca “te amo”, a cabeça dela rolava. Se o médico perguntasse ao soberano o que estava sentindo, não recebia resposta. A degola vinha antes. O que fazer? O Conselho de Sábios se reuniu. Nasceu aí o jeitinho brasileiro. A mágica era esta: ninguém falaria ao rei, mas à majestade do rei. Chamá-lo-iam de Vossa Majestade. As pessoas se dirigiam ao rei sem se dirigir a ele.

O coroado ficou feliz. Os bajuladores, que existiam desde então, começaram a inventar pronomes. Dirigiam-se à excelência do rei, à magnificência do rei, à senhoria do rei. E por aí vai. Os nobres, invejosos, reivindicaram privilégios semelhantes. O clero também. Generoso, o rei se satisfez com a majestade. Os outros que se entendessem com a partilha dos demais.

Partilha

Oba! Príncipes ficaram com alteza. Reitores, com magnificência. Cardeais, com eminência. Sacerdotes em geral, com reverendíssima. Altas autoridades do Estado, com excelência. Funcionários públicos, com senhoria. E o papa? O pontífice contentou-se com santidade.

Concordância

“Vossa Majestade é divino. Sou sua devota”, dizia a futura rainha. Reparou? A namorada sabida fazia a concordância como manda a gramática. Ela se dirigia à majestade do amado. Por isso o verbo (é) e o pronome (sua) estão na 3ª pessoa. Vossa Excelência, Vossa Senhoria & cia. exibida jogam no mesmo time.

Pessoa

Vossa Excelência ou Sua excelência? Depende. Vossa Excelência é o ser com quem se fala. Sua Excelência, de quem se fala: Cumprimento Vossa Excelência pelo belo gesto. O advogado dirigiu-se à Sua Excelência com o respeito habitual.

Jeitinho

E o adjetivo? Não deveria concordar com majestade,  substantivo feminino? Sim. Mas quem ousaria chamar o rei, tão machão, de divina? Deu-se outro jeito. Criou-se a silepse, figura que permite seja feita a concordância com a ideia, não com a palavra. O adjetivo concorda com o sexo da pessoa, não com o substantivo: Sua Majestade, a rainha Elizabeth, é amada pelo povo. Sua Majestade, o rei Gustavo, também é amado.

Bolsonaro

É excelência pra cá. Magnificência pra lá. Eminência pracolá. Eta coisa velha! O mofo centenário incomodou o presidente. Sua Excelência usou a caneta Bic e pôs fim aos salamaleques. Acabou com o tratamento cerimonioso a autoridades. Excelências & cias. entram na vala comum. Viram senhor e senhora. Como diz a Constituição, todos são iguais perante a lei. Mas a iniciativa só vale para o Executivo. Legislativo e Judiciário não estão nem aí. O tempo passou na janela, só Carolina não viu.


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