Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 24 de março de 2022
FURACÃO: ETIMOLOGIA
Furacões fazem estragos. Este ano é a vez do Dorian. Ele destruiu casas, derrubou árvores, inutilizou carros. Ao ver o noticiário, pinta a curiosidade: qual a origem do vocábulo furacão? A palavra veio do espanhol huracan. A língua de Cervantes se inspirou em Huracan, deus da mitologia maia. A divindade dos ventos, das tempestades e do fogo tratava da construção e da destruição na natureza. Tinha o nome associado às tormentas e às tempestades. Daí o fato de muitos descobridores designarem grandes tempestades de furacões.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 23 de março de 2022
ANDAR E NADAR FAZ BEM? FAZEM BEM?
O período tem dois sujeitos — andar e nadar. Eles são formados por verbos no infinitivo. O verbo fica no singular:
Andar e nadar faz bem à saúde.
Ler e escrever é suficiente para o trabalho.
Nascer e viver seria difícil naquela região.
Quão difícil seria nascer e viver naquela região.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 22 de março de 2022
PRIMEIRO DIA DO MÊS
Agosto se foi. Deu a vez a setembro. O mês começou neste domingo. Abra os olhos e apure os ouvidos. Na gramática como na vida, nem todos são iguais perante a lei. Há os mais iguais. É o caso do primeiro dia do mês. Ele goza de privilégio. Escreve-se sempre em numeral ordinal: Hoje é primeiro de setembro. Em primeiro de janeiro, inicia-se 2020. Primeiro de abril é Dia da Mentira. Brincalhões pegam o bobo na casca do ovo.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 21 de março de 2022
TROPEÇO NA PRONÚNCIA: GRATUITA
Ops! O sarampo matou uma pessoa em São Paulo. É o primeiro caso em 22 anos. O fato, claro, foi manchete. O jornal Hoje deu a notícia. Chamou a atenção para a importância da vacina. “É gratuíta”, disse a repórter. O acento no i doeu. Gra-tui-ta joga no time de for-tui-ta. O ditongo ui pronuncia-se numa só emissão de voz.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 20 de março de 2022
CHEGAR: REGÊNCIA
“Estou chegando no gabinete do ministro Sérgio Moro”, disse a repórter. No caminho, tropeçou na língua. Bateu sem piedade na regência do verbo. A gente chega a algum lugar: O navio chegou a Santos. O presidente chegou a Brasília. A repórter chega ao gabinete do ministro.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 19 de março de 2022
CALOTE: ETIMOLOGIA
A Argentina vai às urnas daqui a dois meses. Novo presidente será eleito. Mauricio Macri, candidato à reeleição, aparece atrás do opositor nas pesquisas eleitorais. Inflação, dólar nas alturas, salários menores que o mês contribuem para a queda da popularidade de Sua Excelência. O que fazer? Para dar alívio ao mercado, o hóspede da Casa Rosada pediu tempo ao FMI e aos credores. Quer prazo maior para pagar a dívida de 57 milhões de dólares.
“É calote”, disseram os opositores. “Não é”, jurou a equipe econômica. E daí? Enquanto batem boca, vale a dica. Não é só a iniciativa que divide opiniões. A origem da palavra calote também causa polêmica. Alguns afirmam que o vocábulo nasceu do francês culotte — nome dado às pedras que, no jogo de dominó, os parceiros não podem pôr em jogo. Outros dão nacionalidade brasileira ao trissílabo. Ele teria vindo de calo, fatia de queijo ou de melão que o vendedor oferecia ao cliente como degustação. Se o espertalhão provava e não comprava, dava calote.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 18 de março de 2022
AGRADECEU-LHE? AGRADECEU-O?
“Bolsonaro chamou Moro de patrimônio Nacional, citou o nome dele cinco vezes e o agradeceu por ter aceitado fazer parte da gestão”, escreveu o site da Folha. O gradeceu? Nãooooo! O verbo pede objeto direto de coisa e indireto de pessoa. Assim: Agradeceu o presente. Agradeceu ao ministro. Agradeceu o presente ao ministro.
Na substituição do alguém pelo pronome, é a vez do lhe: Agradeço-lhe pela colaboração. Agradeço-lhe a atenção. Agradeci-lhe por ter aceitado fazer parte da gestão.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 17 de março de 2022
BLUSA EM SEDA? DE SEDA?
“Blusa em seda”, “calça em veludo”, “chale em tricô”, informam elegantes especialistas no assunto. Nada feito. Eles trocaram a preposição. A blusa (é feita) de seda. A calça, de veludo. O chale, de tricô.
Mesmo time
Não só o tecido exige a preposição de. Construções semelhantes jogam na mesma equipe: Cadeira de couro, aliança de prata, mesa de madeira, escultura de cerâmica, boneca de louça, brinquedo de plástico, panela de alumínio, soldadinho de ferro, sapato de couro, pasta de plástico.
E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 16 de março de 2022
ANOS SESSENTA OU ANOS SESSENTAS?
Tendências vão e vêm. Roupas, cores, acessórios revivem anos idos e vividos. Ao falar nelas, impõe-se abrir os olhos e aguçar os ouvidos. Diga anos sessenta, anos oitenta, anos noventa e por aí vai. O singular do numeral se explica. Escondidinha, está a expressão “da década de”: anos (da década de) sessenta, anos (da década de) cinquenta, anos (da década de) vinte.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 15 de março de 2022
ABSTER: CONJUGAÇÃO
Se eu me abster? Se eu me abstiver? Na língua, a família está acima de tudo. Abster-sesabe disso. O danadinho é derivado de ter. Um e outro se conjugam do mesmo jeitinho, observadas as regras de acentuação: eu tenho (me abstenho), ele tem (se abstém), nós temos (nos abstemos), eles têm (se abstêm); eu tive (me abstive), ele teve (se absteve), nós tivemos (nos abstivemos), eles tiveram (se abstiveram); se eu tiver (me abstiver), ele tiver (se abstiver), nós tivermos (nos abstivermos), eles tiverem (se abstiverem); eu tenho tido (me tenho abstido); ele está tendo (se abstendo). E por aí vai – sem tirar nem pôr.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 14 de março de 2022
PLURAL: LETRAS
Que turma, hein? As 26 letras do abecedário são pra lá de solidárias. Elas se combinam e formam nossas mensagens. Vale, pois, tratá-las com galhardia. O á é a primeirona. Escreve-se assim — com acento. O plural tem duas formas: ás e aa. As companheiras também usufruem da dose dupla: bês, bb; cê, cc; dês, dd; ês, ee; is, ii. E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 13 de março de 2022
ELAS COÇARAM O NARIZ? COÇARAM OS NARIZES?
As crianças coçaram os narizes? Nossos corações vibravam de felicidade? A universidade divulgou os nomes dos aprovados? O mestre de cerimônia agradeceu as presenças de todos? Nãooooooooooo! Olho vivo! No caso, o singular é distributivo. Vale pra todos. Ninguém tem mais de um nariz, mais de um coração, mais de um nome, mais de uma presença: As crianças coçaram o nariz. Nosso coração vibrava de alegria. A universidade divulgou o nome dos aprovados. O mestre de cerimônia agradeceu a presença de todos. A tragédia marcou a vida de várias gerações.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 12 de março de 2022
SOTEROPOLITANO: ETIMOLOGIA
Oba! Os olhos do mundo estão postos na capital baiana. É que Salvador sedia a Semana do Clima Latino-Americana e Caribenha. Organizado pela ONU, o evento começou na segunda e termina na sexta. Três mil turistas transformaram a cidade numa babel. Escutam-se línguas familiares e outras nem tanto. Sotaques brasileiros ecoam em ladeiras, praias, hotéis, bares e restaurantes. Os sinos das 365 igrejas badalam para dar boas-vindas aos visitantes.
Na balbúrdia sem fim, uma questão pintou aqui, ali e acolá. Por que se chama soteropolitano quem veio ao mundo na cidade abençoada pela Baía de Todos os Santos? A resposta é simples. Baiano não nasce. Estreia. O show começa com o gentílico. Quem abre os olhos na capital de Bethania, Caetano, Gil & cia. talentosa não deixa por menos. É soteropolitano. Em grego, soter significa Salvador. Polis, cidade.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 11 de março de 2022
BAHIA COM H: POR QUÊ?
Por que Bahia se escreve com h bem no meio? A história vem de longe. Em tempos idos e vividos, o h indicava o hiato. Grafava-se bahia, sahida, pirahy. Sem o h, a leitura seria báia, sáida, pirái. Depois, o acento tomou o lugar do h. Mas o estado manteve a letra com a qual tinha sido batizado. Os donos do pedaço diziam que Bahia sem h não é Bahia. É acidente geográfico.
Disse o poeta Denis Brean
Dá licença, dá licença, meu senhor
Dá licença, dá licença, pra yôyô
Eu sou amante da gostosa Bahia, porém
Pra saber seu segredo
Serei baiano também
Dá licença, de gostar um pouquinho só
A Bahia eu não vou roubar, tem dó!
Ah! Já disse um poeta
Que terra mais linda não há
Isso é velho e do tempo que a gente escrevia Bahia com h!
Olho vivo
Bahia se escreve com h. Mas os derivados perderam o privilégio. Sob protestos, aderiram à simplificação. Assim: baiano, baianidade, baianês, coco-da-baía.
Sabia?
Piauí se escrevia Piauhy pela mesma razão que Bahia se escrevia Bahia. Humilde, abdicou do h. Mas conservou uma marca. É uma das duas palavras que têm o maior número de vogais seguidas em sequência da língua portuguesa. A outra é tuiuiú.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 10 de março de 2022
POTIGUAR, CAPIXABA, CARIOCA, CATARINENSE: ETIMOLOGIA
Potiguar? Em tupi quer dizer quem come camarão. O litoral do Rio Grande do Norte tem o crustáceo pra dar, vender e emprestar. Daí o gentílico.
Quem nasce no Espírito Santo é capixaba. Trata-se de herança dos índios. No tupi, kapixaba quer dizer terra de plantação. Por quê? A região produzia alimentos que abasteciam as tribos indígenas locais.
Carioca vem de duas palavras tupis. Uma: kara’iwa, que quer dizer homem branco. A outra: oka, que significa casa. Os índios passaram a usar “casa do homem branco” para se referir à cidade do Rio de Janeiro. O adjetivo se tornou gentílico mais tarde, lá pelo século 18.
A palavra existe também na língua espanhola. Dizem que nasceu na região platina, entre o Uruguai e a Argentina pra designar criaturas especiais — os moradores das zonas rurais que se dedicavam à criação de gado nos pampas. Os rio-grandenses, segundo as más línguas, se apoderaram do termo e o nacionalizaram verde-amarelo.
O nome vem do colete verde usado pelos soldados de um batalhão de fuzileiros do estado, criado pelo brigadeiro Silva Pais no século 19.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 09 de março de 2022
NOME ESTRANGEIRO: GRAFIA
As partículas de, von, di, va, da e outras que aparecem em nomes estrangeiros escrevem-se com a inicial minúscula quando estiverem no meio do nome e com maiúscula quando iniciarem o nome: Charles de Gaulle, mas o presidente De Gaulle; Leonardo da Vinci, mas o pintor Da Vinci; Werner von Braun, mas o cientista Von Braun.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 08 de março de 2022
EUA DÃO AVAL? EUA DÁ AVAL?
Os repórteres estavam em polvorosa. De um lado, ficava o time singular. De outro, o plural. A questão: a concordância. EUA dão sinal verde para Eduardo Bolsonaro ser embaixador? Ou dá sinal verde? Ops! Nomes próprios no plural constituem verdadeira armadilha. Mas têm regras claras:
- Acompanhados de artigo, concordam com ele. Sem o pequenino, ficam no singular: Os Estados Unidos dão sinal verde para Eduardo. O Palmeiras vencerá o campeonato? Minas Gerais fica na Região Sudeste.
2. As siglas vão atrás. Às vezes, o artigo brinca de esconde-esconde. Não aparece. Mas conta como se estivesse escrito com todas as letras: (Os) EUA dão sinal verde para Eduardo Bolsonaro. MG fica no Sudeste.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 07 de março de 2022
CLEPTOMANIA: ORIGEM
Pobre é ladrão. Rico é cleptomaníaco. A palavra chique vem do grego clepsidra — nome dos antigos relógios de água ou areia. Tem duas partes. Uma: klepto. Significa roubar. A outra: hydor. Quer dizer água. Clepsidra lembra aos humanos que o tempo é roubado de ricos e pobres a cada grão de areia ou pingo d´água que escorre do relógio. Daí nasceu cleptomania, hábito de roubar sem necessidade.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 06 de março de 2022
SOLTEIRO: ORIGEM
Hoje é Dia do Solteiro. Daí a curiosidade: de onde vem a palavra que dá nome à efeméride? Ela vem do latim solitarius. Na língua dos Césares, a polissílaba significava que vive só, separado, carente de convivência. Em Pindorama, passou a designar estado civil — pessoa que não é casada. Hoje pouca gente liga pra aliança no anular esquerdo. Mas, antigamente, a história tinha outro enredo. Quem não encontrava ou demorava a encontrar parceiro era visto com desconfiança e tratado com desdém. Solteirão e solteirona vieram ao mundo por essa razão. Como não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe, a fila andou. As acepções também.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 05 de março de 2022
A, O, LHE: EMPREGO
Lhe tem duas funções:
1. objeto indireto — complementa verbo transitivo indireto. É o caso de oferecer, agradecer, obedecer: Ofereci-lhe um cafezinho (a gente oferece alguma coisa a alguém). Agradeço-lhe o favor (a gente agradece alguma coisa a alguém). Obedecemos-lhe sem discussão (a gente obedece a alguém).
2. adjunto adnominal. Substitui o possessivo seu, sua, dele, dela: Acariciou-lhe os cabelos(acariciou seus cabelos). Invejou-lhe o vestido (invejou vestido dela). Encheu-lhe os bolsos de balas (encheu seus bolsos de balas).
A e o funcionam como objeto direto: João ama Maria. (João a ama). O diretor cumprimentou os funcionários (o diretor os cumprimentou). Comprei o material exigido pela escola (comprei-o). Vi a professora entrando no shopping (vi-a entrando no shopping).
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 04 de março de 2022
CRASE: SUPERDICA
O acento grave não deixa dúvidas. Trata-se da crase. A danada ocorre se dois aa se encontrarem. O casório se dá quando a preposição a encontra o artigo definido a, ou o demonstrativo a, ou o a inicial dos pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo: O êxito é obstáculo à liberdade. Entreguei o relatório àquele homem.
Excluindo-se o caso dos pronomes demonstrativos, só haverá crase antes de palavra feminina, clara ou subentendida: Obedecemos à lei. Fui à Editora Nacional e à (editora) José Olympio. Canta à (moda de, maneira de) Roberto Carlos
Superdica
Forma fácil de descobrir se ocorre crase é substituir a palavra feminina por uma masculina (não precisa ser sinônima, mas precisa ser do mesmo número — singular ou plural). Apareceu ao? Sinal de acento grave. Apareceu o ou a? Nada feito. Xô, grampinho!
Fui a cidade.
Com crase ou sem crase? Trocando-se cidade por teatro, temos:
Fui ao teatro. Logo, fui à cidade.
Outros exemplos: Obedecemos à lei (ao regulamento). Dirigiu-se à cidade (ao parque). Comprou as obras (os livros). Prêmio natural às ambições espirituais (aos trabalhos). Fez referência à tradução (ao texto) à qual (texto ao qual) nos temos dedicado.
Recebeu a amiga.
Com crase ou sem crase? Trocando-se amiga por amigo, temos:
Recebeu o amigo. Logo, recebeu a amiga.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 03 de março de 2022
MESMO: EMPREGO
João Maria Madeira Basto escreveu: “Li no jornal de domingo: `A avó valorizava o trabalho e o resultado do mesmo´. O emprego do pronome mesmo me incomodou. Os olhos reclamaram. Pode dizer qual o problema dele?”
É proibido usar o dissílabo no lugar de substantivo ou pronome. Veja três exemplos de maus empregos:
1. Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra neste andar.
Valha-nos, Deus! É a receita do cruz-credo. Mesmo está no lugar de elevador. Nada feito. Melhor corrigir:
Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar.
2. Fui ao médico. O mesmo me receitou antibiótico.
Xô!
Fui ao médico. Ele me receitou antibiótico.
3. A avó valorizava o trabalho e o resultado do mesmo.
Mau. Melhor:
A avó valorizava o trabalho e o resultado obtido.
Use o pronome mesmo:
- Quando ele reforça nome ou pronome. Aí, concorda com o termo a que se refere: Ele mesmo leu o discurso. Ela mesma leu o discurso. Nós mesmos (mesmas) lemos o discurso. Eles mesmos leram o discurso. Elas mesmas leram o discurso.
- Com o significado de realmente. No caso, mantém-se invariável: Ele disse mesmo a verdade. Eles saíram mesmo às 18h. Trabalha mesmo de domingo a domingo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 02 de março de 2022
CRASE: COMPRAR À PRESTAÇÃO
É um pega pra capar. De um lado, países europeus. Eles dizem que o Brasil desmata a floresta amazônica sem compaixão. De outro, o governo brasileiro, que nega a acusação. Afirma que ninguém preserva tanto o meio ambiente quanto o Brasil. No bate-boca, a Alemanha decidiu cortar ajuda que faz para preservar aquele paraíso verde. Bolsonaro esnobou: “A Alemanha vai parar de comprar a Amazônia à prestação”. Repórteres correram atrás da frase. Na hora de escrever, pintou a dúvida. Com crase ou sem crase? Sem certeza, uns puseram o acento. Outros, não. E daí?
Trata-se da falsa crase. Por questão de clareza, usa-se à mesmo sem a contração de dois aa. A ambiguidade ocorre nas locuções que exprimem meio ou instrumento. Eis exemplos: Vender à vista. Feriram-se à faca. Está à venda. Escrever à tinta. Feito à mão. Enxotar à pedrada. Fechar à chave. Matar o inimigo à fome. Entrar à força. Andar à toa na vida. Comprar à prestação.
O acento é obrigatório? Ou só se deve recorrer a ele em caso de ambiguidade? Sem risco de duas interpretações, fica a gosto do freguês. Mas há forte preferência pela falsa crase. Use-a. Você acertará sempre.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 01 de março de 2022
S E Z: PAIZINHO E PAISINHO
O diminutivo de pai? Olho vivo, filho apressado. Ele se forma com a ajuda do sufixo –inho. Para chegar a paizinho, pede a ajuda do z. A lanterninha do alfabeto funciona como ponte. Recebe, por isso, o nome de consoante de ligação. O aumentativo segue o mesmo caminho. Cola-se ao sufixo –ão graças ao socorro do z — paizão.
Sem balbúrdia
Muitos confundem paizinho com paisinho. E paizão com paisão. Nada feito. Eles se parecem, mas não se conhecem nem de elevador. Paizinho e paizão precisaram do socorro da consoante de ligação (z). País joga em outro time. Com s no radical, dispensa a ponte. O sufixo se cola a ele diretamente.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 28 de fevereiro de 2022
GANHAR, PERDER E EMPATAR: REGÊNCIA
A Seleção brasileira foi a Los Angeles para enfrentar o Peru. Perdeu. O técnico culpou o gramado. Jogadores lamentaram a derrota. Comentaristas disseram que o importante é competir. Talvez tenham razão. Na prática esportiva, há três resultados possíveis. Um: ganhar. Outro: empatar. O indesejado: perder. Ganhe, perca ou empate, impõe-se ser elegante. A ordem: usar a preposição correta.
O time ganha de outro por ou de: O Peru ganhou do Brasil por 1 a 0 (ou de 3 a 0).
O time perde para outro por ou de: O Brasil perdeu para o Peru por 1 a 0 (ou de 1 a 0).
O time empata com outro por ou de: O Brasil empatou com o Peru por 1 a 1 (ou de 1 a 1).
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 27 de fevereiro de 2022
ACONTECER: EMPREGO
As palavras têm manias. Combinam. Brigam. Fazem exigências. Armam ciladas. Um verbo cheio de caprichos é o acontecer. Elitista, ele tem poucos empregos. E quase nenhum amigo. Mas, por arte do destino, os colunistas sociais o adotaram. A moda se espalhou como notícia ruim. O pobre virou praga. Tudo acontece. Até pessoas: Anita está acontecendo no universo musical. O casamento acontece na catedral. O show acontece às 22h. E por aí vai. Violentado, o verbo vira a cara. Esperneia. E se vinga. Deixa mal quem abusa dele. Diz que o atrevido sofre de pobreza de vocabulário. Para não cair na boca do povo, só há uma saída: empregá-lo na acepção de suceder de repente.
1. Acontecer tem a acepção de ocorrer de repente: Caso acontecesse o ataque, haveria muitos mortos.
2. O verbo é bem-vindo na companhia dos pronomes indefinidos (tudo, nada, todos), demonstrativos (este, isto, aquilo) e o interrogativo (que): Tudo pode acontecer durante o conflito. Aquilo não aconteceu de uma hora para outra. O que aconteceu?
Atenção
Não use acontecer no sentido de ser, haver, realizar-se, ocorrer, suceder, existir, verificar-se, dar-se, estar marcado para: O show acontece (está marcado para) às 22h. O festival aconteceu (ocorreu) no ano passado. Acontecem (ocorrem) injustiças no concurso. As provas estão previstas para acontecer em setembro (previstas para setembro).
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 26 de fevereiro de 2022
ADERIR: CONJUGAÇÃO E REGÊNCIA
Aderir é um dos verbos mais usados em dias de negociação de reformas que mexem com a vida das pessoas. Sobram, por isso, tropeços na conjugação e na regência. Pra evitar balbúrdia na comunicação, manda o bom senso aprender as manhas do verbo:
Regência
Pede a preposição a: O partido aderiu ao programa proposto pelo líder. Não se pode aderir a todos os modismos.
Conjugação
Apresenta irregularidade na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e, por extensão, em todo o presente do subjuntivo. Presente do indicativo (eu adiro, tu aderes, ele adere, etc.), presente do subjuntivo (que eu adira, tu adiras, ele adira, etc.). No mais, segue o modelo de partir.
Historinha
Diana ganhou o cobiçado prêmio de jornalismo. Oba! Os colegas, felizes, organizaram feliz comitiva pra comemorar. Iriam a Maceió. Seria viagem de adesão. Cada um arcaria com a própria despesa. A felizarda vibrou com a novidade. Estava no carro. Ao lado, o namorado, de carona. Ela lhe falou da festança. Entusiasmado, ele disse alto e bom som: “Eu adero”. Diana freou. Mandou-o descer. Ele, perplexo, bateu asas e voou. Entendeu tarde que o amor é cego, mas não é surdo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 25 de fevereiro de 2022
HÍFEN: PÓS-
“As cintas modeladoras são muito usadas em pós cirúrgicos como lipoaspiração e plásticas”, escreveu o Correio. Cadê o hífen? O prefixo pós- não abre mão do tracinho nem a pedido dos orixás: pós-homérico, pós-moderno, pós-graduação, pós-cirúrgico.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 24 de fevereiro de 2022
ETIMOLOGIA: MARAJÁ, NHEM-NHEM-NHEM, TRÓ-LÓ-LÓ, TOSCO
Palavras viram moda sem querer. Ninguém as inventa. Elas estão quietinhas, guardadas no baú da língua. Aí, acontece. Alguém as tira de lá. Surpreende. As antes desconhecidas ganham notoriedade. Há exemplos pra dar, vender e emprestar. Quer ver?
Marajá
Fernando Collor descobriu marajá. Buscou-a na Índia. Lá, o vocábulo dava nome aos príncipes e endinheirados do país. Aqui, passou a designar o funcionário público que recebe altos salários. Mas o alagoano generalizou. Botou no mesmo saco os privilegiados e os barnabés. Virou piada.
Nhem-nhem-nhem
FHC lançou o nhem-nhem-nhem. Pescou-o no tupi. Na língua dos índios, o trio quer dizer falar, falar, falar. Na nossa, mais ou menos a mesma coisa. É resmungo, falação interminável.
Tró-ló-ló
O tucano José Serra ressuscitou tró-ló-ló. A danadinha tem origem onomatopaica. É como au-au, miau-miau, toque-toque. Imita vozes ou ruídos. Os três monossílabos significam música ligeira, fácil de entoar. Por extensão, conversa vazia, lero-lero.
Tosco
Bolsonaro não é o autor. Mas inspirou a palavra tosco. A dissílaba virou praga. É um tal de discurso tosco pra cá, debate tosco pra lá, trabalho tosco pracolá. A popularidade provocou corrida ao dicionário. De onde vem a ilustre criatura?
Nada bom
Os romanos desprezavam os moradores de Vicus Tuscus, bairro romano onde viviam os etruscos. Deram, por isso, acepção pejorativa a tuscus, que passou a significar devasso, vil, libertino. Com o tempo, perdeu-se esse sentido. Hoje, tosco quer dizer tal como veio da natureza, bronco, rude. Em bom português: sem refinamento.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 23 de fevereiro de 2022
ATÉ MEIA-NOITE? ATÉ A MEIA-NOITE?
“Votaremos texto do 2º turno da reforma da Previdência até meia-noite, diz Onyx”. Essa é a manchete do site do Estadão. Reparou? O jornal tropeçou na indicação de horas. A razão: faltou o artigo, presença obrigatória. Assim: Trabalha entre as 2h e as 10h. Está aqui desde as 14h. O avião partiu às 4h e chegou às 6h. Votaremos o texto da reforma da Previdência até a meia-noite.
Por falar em hora…
A abreviatura de hora é sem-sem-sem — sem espaço, sem ponto e sem plural: 14h, 14h30, 14h30min50.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 22 de fevereiro de 2022
HÍFEN: CO-
Muitos reclamam da reforma ortográfica. Mas ela deu ajudinhas a nós, falantes da língua portuguesa. Uma delas é simplificar o emprego do hífen. O prefixo co-, por exemplo, era baita confusão. Ora pedia o tracinho, ora dispensava-o. Com o acordo, a novela mudou o enredo. O pequenino nunca aceita hífen. Com ele é tudo colado: coautor, coerdeiro, corréu, correpresentante, comorador, coinquilino, correpresentante, coprodução, cossecante. Etc. Etc. Etc.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 21 de fevereiro de 2022
HERMAFRODITA: ETIMOLOGIA
Hermes vivia no Olimpo. Um dia, viu a mulher mais linda que havia pisado a morada dos deuses. Era Afrodite. Ele olhou pra ela. Ela olhou pra ele. Não deu outra. Apaixonaram-se. Casaram-se e tiveram um filho. Que nome lhe dar? Sugestão daqui, pesquisa dali, gostaram da mania brasileira. Chamaram-no Hermafrodito. Um pedacinho vem de Hermes. O outro, de Afrodite.
O garotão era belo como a mãe, mais conhecida por Vênus. (Ela mesma, a deusa do amor.) Ninguém resistia aos encantos do gatão. A ninfa Salmaris caiu de amores por ele. A paixão era tal que comoveu os deuses. Dona de mil truques, a mocinha conseguiu que eles fundissem os dois num só corpo. Daí nasceu a palavra andrógino — possuidor dos dois sexos ao mesmo tempo.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 20 de fevereiro de 2022
INDEPENDENTE E INDEPENDENTEMENTE: EMPREGO
Independente é adjetivo. Quer dizer livre: O Brasil ficou independente em 1822.
Independentemente é advérbio. Significa sem levar em conta: Ganha o mesmo salário independentemente do número de horas trabalhadas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 19 de fevereiro de 2022
PRIMEIRO DIA DO MÊS
Agosto se foi. Deu a vez a setembro. O mês começou neste domingo. Abra os olhos e apure os ouvidos. Na gramática como na vida, nem todos são iguais perante a lei. Há os mais iguais. É o caso do primeiro dia do mês. Ele goza de privilégio. Escreve-se sempre em numeral ordinal: Hoje é primeiro de setembro. Em primeiro de janeiro, inicia-se 2020. Primeiro de abril é Dia da Mentira. Brincalhões pegam o bobo na casca do ovo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 18 de fevereiro de 2022
TROPEÇO NA PRONÚNCIA: GRATUITA
Ops! O sarampo matou uma pessoa em São Paulo. É o primeiro caso em 22 anos. O fato, claro, foi manchete. O jornal Hoje deu a notícia. Chamou a atenção para a importância da vacina. “É gratuíta”, disse a repórter. O acento no i doeu. Gra-tui-ta joga no time de for-tui-ta. O ditongo ui pronuncia-se numa só emissão de voz.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 17 de fevereiro de 2022
CHEGAR: REGÊNCIA
“Estou chegando no gabinete do ministro Sérgio Moro”, disse a repórter. No caminho, tropeçou na língua. Bateu sem piedade na regência do verbo. A gente chega a algum lugar: O navio chegou a Santos. O presidente chegou a Brasília. A repórter chega ao gabinete do ministro.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 16 de fevereiro de 2022
CALOTE: ETIMOLOGIA
A Argentina vai às urnas daqui a dois meses. Novo presidente será eleito. Mauricio Macri, candidato à reeleição, aparece atrás do opositor nas pesquisas eleitorais. Inflação, dólar nas alturas, salários menores que o mês contribuem para a queda da popularidade de Sua Excelência. O que fazer? Para dar alívio ao mercado, o hóspede da Casa Rosada pediu tempo ao FMI e aos credores. Quer prazo maior para pagar a dívida de 57 milhões de dólares.
“É calote”, disseram os opositores. “Não é”, jurou a equipe econômica. E daí? Enquanto batem boca, vale a dica. Não é só a iniciativa que divide opiniões. A origem da palavra calote também causa polêmica. Alguns afirmam que o vocábulo nasceu do francês culotte — nome dado às pedras que, no jogo de dominó, os parceiros não podem pôr em jogo. Outros dão nacionalidade brasileira ao trissílabo. Ele teria vindo de calo, fatia de queijo ou de melão que o vendedor oferecia ao cliente como degustação. Se o espertalhão provava e não comprava, dava calote.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 15 de fevereiro de 2022
AGRADECEU-LHE? AGRADECEU-O?
“Bolsonaro chamou Moro de patrimônio Nacional, citou o nome dele cinco vezes e o agradeceu por ter aceitado fazer parte da gestão”, escreveu o site da Folha. O gradeceu? Nãooooo! O verbo pede objeto direto de coisa e indireto de pessoa. Assim: Agradeceu o presente. Agradeceu ao ministro. Agradeceu o presente ao ministro.
Na substituição do alguém pelo pronome, é a vez do lhe: Agradeço-lhe pela colaboração. Agradeço-lhe a atenção. Agradeci-lhe por ter aceitado fazer parte da gestão.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 14 de fevereiro de 2022
EUA DÃO AVAL? EUA DÁ AVAL?
Os repórteres estavam em polvorosa. De um lado, ficava o time singular. De outro, o plural. A questão: a concordância. EUA dão sinal verde para Eduardo Bolsonaro ser embaixador? Ou dá sinal verde? Ops! Nomes próprios no plural constituem verdadeira armadilha. Mas têm regras claras:
- Acompanhados de artigo, concordam com ele. Sem o pequenino, ficam no singular: Os Estados Unidos dão sinal verde para Eduardo. O Palmeiras vencerá o campeonato? Minas Gerais fica na Região Sudeste.
2. As siglas vão atrás. Às vezes, o artigo brinca de esconde-esconde. Não aparece. Mas conta como se estivesse escrito com todas as letras: (Os) EUA dão sinal verde para Eduardo Bolsonaro. MG fica no Sudeste.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 13 de fevereiro de 2022
ANOS SESSENTA OU ANOS SESSENTAS?
Tendências vão e vêm. Roupas, cores, acessórios revivem anos idos e vividos. Ao falar nelas, impõe-se abrir os olhos e aguçar os ouvidos. Diga anos sessenta, anos oitenta, anos noventa e por aí vai. O singular do numeral se explica. Escondidinha, está a expressão “da década de”: anos (da década de) sessenta, anos (da década de) cinquenta, anos (da década de) vinte.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 12 de fevereiro de 2022
ABSTER: CONJUGAÇÃO
Se eu me abster? Se eu me abstiver? Na língua, a família está acima de tudo. Abster-sesabe disso. O danadinho é derivado de ter. Um e outro se conjugam do mesmo jeitinho, observadas as regras de acentuação: eu tenho (me abstenho), ele tem (se abstém), nós temos (nos abstemos), eles têm (se abstêm); eu tive (me abstive), ele teve (se absteve), nós tivemos (nos abstivemos), eles tiveram (se abstiveram); se eu tiver (me abstiver), ele tiver (se abstiver), nós tivermos (nos abstivermos), eles tiverem (se abstiverem); eu tenho tido (me tenho abstido); ele está tendo (se abstendo). E por aí vai – sem tirar nem pôr.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 11 de fevereiro de 2022
PLURAL: LETRAS
Que turma, hein? As 26 letras do abecedário são pra lá de solidárias. Elas se combinam e formam nossas mensagens. Vale, pois, tratá-las com galhardia. O á é a primeirona. Escreve-se assim — com acento. O plural tem duas formas: ás e aa. As companheiras também usufruem da dose dupla: bês, bb; cê, cc; dês, dd; ês, ee; is, ii. E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 10 de fevereiro de 2022
ELAS COÇARAM O NARIZ? COÇARAM OS NARIZES?
As crianças coçaram os narizes? Nossos corações vibravam de felicidade? A universidade divulgou os nomes dos aprovados? O mestre de cerimônia agradeceu as presenças de todos? Nãooooooooooo! Olho vivo! No caso, o singular é distributivo. Vale pra todos. Ninguém tem mais de um nariz, mais de um coração, mais de um nome, mais de uma presença: As crianças coçaram o nariz. Nosso coração vibrava de alegria. A universidade divulgou o nome dos aprovados. O mestre de cerimônia agradeceu a presença de todos. A tragédia marcou a vida de várias gerações.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 09 de fevereiro de 2022
SOTEROPOLITANO: ETIMOLOGIA
Oba! Os olhos do mundo estão postos na capital baiana. É que Salvador sedia a Semana do Clima Latino-Americana e Caribenha. Organizado pela ONU, o evento começou na segunda e termina na sexta. Três mil turistas transformaram a cidade numa babel. Escutam-se línguas familiares e outras nem tanto. Sotaques brasileiros ecoam em ladeiras, praias, hotéis, bares e restaurantes. Os sinos das 365 igrejas badalam para dar boas-vindas aos visitantes.
Na balbúrdia sem fim, uma questão pintou aqui, ali e acolá. Por que se chama soteropolitano quem veio ao mundo na cidade abençoada pela Baía de Todos os Santos? A resposta é simples. Baiano não nasce. Estreia. O show começa com o gentílico. Quem abre os olhos na capital de Bethania, Caetano, Gil & cia. talentosa não deixa por menos. É soteropolitano. Em grego, soter significa Salvador. Polis, cidade.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 08 de fevereiro de 2022
BAHIA COM H: POR QUÊ?
Por que Bahia se escreve com h bem no meio? A história vem de longe. Em tempos idos e vividos, o h indicava o hiato. Grafava-se bahia, sahida, pirahy. Sem o h, a leitura seria báia, sáida, pirái. Depois, o acento tomou o lugar do h. Mas o estado manteve a letra com a qual tinha sido batizado. Os donos do pedaço diziam que Bahia sem h não é Bahia. É acidente geográfico.
Disse o poeta Denis Brean
Dá licença, dá licença, meu senhor
Dá licença, dá licença, pra yôyô
Eu sou amante da gostosa Bahia, porém
Pra saber seu segredo
Serei baiano também
Dá licença, de gostar um pouquinho só
A Bahia eu não vou roubar, tem dó!
Ah! Já disse um poeta
Que terra mais linda não há
Isso é velho e do tempo que a gente escrevia Bahia com h!
Olho vivo
Bahia se escreve com h. Mas os derivados perderam o privilégio. Sob protestos, aderiram à simplificação. Assim: baiano, baianidade, baianês, coco-da-baía.
Sabia?
Piauí se escrevia Piauhy pela mesma razão que Bahia se escrevia Bahia. Humilde, abdicou do h. Mas conservou uma marca. É uma das duas palavras que têm o maior número de vogais seguidas em sequência da língua portuguesa. A outra é tuiuiú.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 07 de fevereiro de 2022
POTIGUAR, CAPIXABA, CARIOCA, CATARINENSE: ETIMOLOGIA
Potiguar? Em tupi quer dizer quem come camarão. O litoral do Rio Grande do Norte tem o crustáceo pra dar, vender e emprestar. Daí o gentílico.
Quem nasce no Espírito Santo é capixaba. Trata-se de herança dos índios. No tupi, kapixaba quer dizer terra de plantação. Por quê? A região produzia alimentos que abasteciam as tribos indígenas locais.
Carioca vem de duas palavras tupis. Uma: kara’iwa, que quer dizer homem branco. A outra: oka, que significa casa. Os índios passaram a usar “casa do homem branco” para se referir à cidade do Rio de Janeiro. O adjetivo se tornou gentílico mais tarde, lá pelo século 18.
A palavra existe também na língua espanhola. Dizem que nasceu na região platina, entre o Uruguai e a Argentina pra designar criaturas especiais — os moradores das zonas rurais que se dedicavam à criação de gado nos pampas. Os rio-grandenses, segundo as más línguas, se apoderaram do termo e o nacionalizaram verde-amarelo.
O nome vem do colete verde usado pelos soldados de um batalhão de fuzileiros do estado, criado pelo brigadeiro Silva Pais no século 19.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 06 de fevereiro de 2022
NOME ESTRANGEIRO: GRAFIA
As partículas de, von, di, va, da e outras que aparecem em nomes estrangeiros escrevem-se com a inicial minúscula quando estiverem no meio do nome e com maiúscula quando iniciarem o nome: Charles de Gaulle, mas o presidente De Gaulle; Leonardo da Vinci, mas o pintor Da Vinci; Werner von Braun, mas o cientista Von Braun.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 05 de fevereiro de 2022
EUA DÃO AVAL? EUA DÁ AVAL?
Os repórteres estavam em polvorosa. De um lado, ficava o time singular. De outro, o plural. A questão: a concordância. EUA dão sinal verde para Eduardo Bolsonaro ser embaixador? Ou dá sinal verde? Ops! Nomes próprios no plural constituem verdadeira armadilha. Mas têm regras claras:
- Acompanhados de artigo, concordam com ele. Sem o pequenino, ficam no singular: Os Estados Unidos dão sinal verde para Eduardo. O Palmeiras vencerá o campeonato? Minas Gerais fica na Região Sudeste.
2. As siglas vão atrás. Às vezes, o artigo brinca de esconde-esconde. Não aparece. Mas conta como se estivesse escrito com todas as letras: (Os) EUA dão sinal verde para Eduardo Bolsonaro. MG fica no Sudeste.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 04 de fevereiro de 2022
CLEPTOMANIA: ORIGEM
Pobre é ladrão. Rico é cleptomaníaco. A palavra chique vem do grego clepsidra — nome dos antigos relógios de água ou areia. Tem duas partes. Uma: klepto. Significa roubar. A outra: hydor. Quer dizer água. Clepsidra lembra aos humanos que o tempo é roubado de ricos e pobres a cada grão de areia ou pingo d´água que escorre do relógio. Daí nasceu cleptomania, hábito de roubar sem necessidade.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 03 de fevereiro de 2022
SOLTEIRO: ORIGEM
Hoje é Dia do Solteiro. Daí a curiosidade: de onde vem a palavra que dá nome à efeméride? Ela vem do latim solitarius. Na língua dos Césares, a polissílaba significava que vive só, separado, carente de convivência. Em Pindorama, passou a designar estado civil — pessoa que não é casada. Hoje pouca gente liga pra aliança no anular esquerdo. Mas, antigamente, a história tinha outro enredo. Quem não encontrava ou demorava a encontrar parceiro era visto com desconfiança e tratado com desdém. Solteirão e solteirona vieram ao mundo por essa razão. Como não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe, a fila andou. As acepções também.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 02 de fevereiro de 2022
A, O, LHE: EMPREGO
Lhe tem duas funções:
1. objeto indireto — complementa verbo transitivo indireto. É o caso de oferecer, agradecer, obedecer: Ofereci-lhe um cafezinho (a gente oferece alguma coisa a alguém). Agradeço-lhe o favor (a gente agradece alguma coisa a alguém). Obedecemos-lhe sem discussão (a gente obedece a alguém).
2. adjunto adnominal. Substitui o possessivo seu, sua, dele, dela: Acariciou-lhe os cabelos(acariciou seus cabelos). Invejou-lhe o vestido (invejou vestido dela). Encheu-lhe os bolsos de balas (encheu seus bolsos de balas).
A e o funcionam como objeto direto: João ama Maria. (João a ama). O diretor cumprimentou os funcionários (o diretor os cumprimentou). Comprei o material exigido pela escola (comprei-o). Vi a professora entrando no shopping (vi-a entrando no shopping).
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 01 de fevereiro de 2022
CRASE: SUPERDICA
O acento grave não deixa dúvidas. Trata-se da crase. A danada ocorre se dois aa se encontrarem. O casório se dá quando a preposição a encontra o artigo definido a, ou o demonstrativo a, ou o a inicial dos pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo: O êxito é obstáculo à liberdade. Entreguei o relatório àquele homem.
Excluindo-se o caso dos pronomes demonstrativos, só haverá crase antes de palavra feminina, clara ou subentendida: Obedecemos à lei. Fui à Editora Nacional e à (editora) José Olympio. Canta à (moda de, maneira de) Roberto Carlos
Superdica
Forma fácil de descobrir se ocorre crase é substituir a palavra feminina por uma masculina (não precisa ser sinônima, mas precisa ser do mesmo número — singular ou plural). Apareceu ao? Sinal de acento grave. Apareceu o ou a? Nada feito. Xô, grampinho!
Fui a cidade.
Com crase ou sem crase? Trocando-se cidade por teatro, temos:
Fui ao teatro. Logo, fui à cidade.
Outros exemplos: Obedecemos à lei (ao regulamento). Dirigiu-se à cidade (ao parque). Comprou as obras (os livros). Prêmio natural às ambições espirituais (aos trabalhos). Fez referência à tradução (ao texto) à qual (texto ao qual) nos temos dedicado.
Recebeu a amiga.
Com crase ou sem crase? Trocando-se amiga por amigo, temos:
Recebeu o amigo. Logo, recebeu a amiga.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 31 de janeiro de 2022
MESMO: EMPREGO
João Maria Madeira Basto escreveu: “Li no jornal de domingo: `A avó valorizava o trabalho e o resultado do mesmo´. O emprego do pronome mesmo me incomodou. Os olhos reclamaram. Pode dizer qual o problema dele?”
É proibido usar o dissílabo no lugar de substantivo ou pronome. Veja três exemplos de maus empregos:
1. Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra neste andar.
Valha-nos, Deus! É a receita do cruz-credo. Mesmo está no lugar de elevador. Nada feito. Melhor corrigir:
Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar.
2. Fui ao médico. O mesmo me receitou antibiótico.
Xô!
Fui ao médico. Ele me receitou antibiótico.
3. A avó valorizava o trabalho e o resultado do mesmo.
Mau. Melhor:
A avó valorizava o trabalho e o resultado obtido.
Use o pronome mesmo:
- Quando ele reforça nome ou pronome. Aí, concorda com o termo a que se refere: Ele mesmo leu o discurso. Ela mesma leu o discurso. Nós mesmos (mesmas) lemos o discurso. Eles mesmos leram o discurso. Elas mesmas leram o discurso.
- Com o significado de realmente. No caso, mantém-se invariável: Ele disse mesmo a verdade. Eles saíram mesmo às 18h. Trabalha mesmo de domingo a domingo.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 30 de janeiro de 2022
CRASE: COMPRAR À PRESTAÇÃO
É um pega pra capar. De um lado, países europeus. Eles dizem que o Brasil desmata a floresta amazônica sem compaixão. De outro, o governo brasileiro, que nega a acusação. Afirma que ninguém preserva tanto o meio ambiente quanto o Brasil. No bate-boca, a Alemanha decidiu cortar ajuda que faz para preservar aquele paraíso verde. Bolsonaro esnobou: “A Alemanha vai parar de comprar a Amazônia à prestação”. Repórteres correram atrás da frase. Na hora de escrever, pintou a dúvida. Com crase ou sem crase? Sem certeza, uns puseram o acento. Outros, não. E daí?
Trata-se da falsa crase. Por questão de clareza, usa-se à mesmo sem a contração de dois aa. A ambiguidade ocorre nas locuções que exprimem meio ou instrumento. Eis exemplos: Vender à vista. Feriram-se à faca. Está à venda. Escrever à tinta. Feito à mão. Enxotar à pedrada. Fechar à chave. Matar o inimigo à fome. Entrar à força. Andar à toa na vida. Comprar à prestação.
O acento é obrigatório? Ou só se deve recorrer a ele em caso de ambiguidade? Sem risco de duas interpretações, fica a gosto do freguês. Mas há forte preferência pela falsa crase. Use-a. Você acertará sempre.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 29 de janeiro de 2022
S E Z: PAIZINHO E PAISINHO
O diminutivo de pai? Olho vivo, filho apressado. Ele se forma com a ajuda do sufixo –inho. Para chegar a paizinho, pede a ajuda do z. A lanterninha do alfabeto funciona como ponte. Recebe, por isso, o nome de consoante de ligação. O aumentativo segue o mesmo caminho. Cola-se ao sufixo –ão graças ao socorro do z — paizão.
Sem balbúrdia
Muitos confundem paizinho com paisinho. E paizão com paisão. Nada feito. Eles se parecem, mas não se conhecem nem de elevador. Paizinho e paizão precisaram do socorro da consoante de ligação (z). País joga em outro time. Com s no radical, dispensa a ponte. O sufixo se cola a ele diretamente.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 28 de janeiro de 2022
DIA DOS PAIS: HISTÓRIA
Viva! Hoje, 11 de agosto, é o Dia dos Pais. Todos os dias deveriam ser dedicados a ele. Talvez sejam. Mas o calendário escolheu o segundo domingo de agosto. Por quê? A história vem de longe. Dizem que a homenagem nasceu na Babilônia. Mas, modernamente, veio à luz nos Estados Unidos em 1909.
Sonora Louise Dodd criou a data para provar que se orgulhava do pai. John Bruce Dodd perdeu a mulher em 1898. Cuidou, sozinho, dos seis filhos. A menina escolheu o dia do aniversário dele, 19 de junho, para a comemoração. A iniciativa ganhou apoio. Em 1966, o então presidente Lyndon Johnson bateu o martelo. Oficializou o terceiro domingo de junho como Dia dos Pais nos States.
No Brasil
Aqui, paizinhos e paizões ganharam seu dia em 1953. A primeira festa foi em 14 de agosto. A escolha não se deve ao acaso. Coincide com o aniversário de São Joaquim, pai de Maria e avô de Jesus. Depois a data foi transferida para o segundo domingo de agosto. Por quê? Por três razões. Uma: fica mais fácil de lembrar. Outra: a maioria das pessoas não trabalha. A última: o comércio, claro, fatura mais.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 27 de janeiro de 2022
ACONTECER: EMPREGO
As palavras têm manias. Combinam. Brigam. Fazem exigências. Armam ciladas. Um verbo cheio de caprichos é o acontecer. Elitista, ele tem poucos empregos. E quase nenhum amigo. Mas, por arte do destino, os colunistas sociais o adotaram. A moda se espalhou como notícia ruim. O pobre virou praga. Tudo acontece. Até pessoas: Anita está acontecendo no universo musical. O casamento acontece na catedral. O show acontece às 22h. E por aí vai. Violentado, o verbo vira a cara. Esperneia. E se vinga. Deixa mal quem abusa dele. Diz que o atrevido sofre de pobreza de vocabulário. Para não cair na boca do povo, só há uma saída: empregá-lo na acepção de suceder de repente.
1. Acontecer tem a acepção de ocorrer de repente: Caso acontecesse o ataque, haveria muitos mortos.
2. O verbo é bem-vindo na companhia dos pronomes indefinidos (tudo, nada, todos), demonstrativos (este, isto, aquilo) e o interrogativo (que): Tudo pode acontecer durante o conflito. Aquilo não aconteceu de uma hora para outra. O que aconteceu?
Atenção
Não use acontecer no sentido de ser, haver, realizar-se, ocorrer, suceder, existir, verificar-se, dar-se, estar marcado para: O show acontece (está marcado para) às 22h. O festival aconteceu (ocorreu) no ano passado. Acontecem (ocorrem) injustiças no concurso. As provas estão previstas para acontecer em setembro (previstas para setembro).
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 26 de janeiro de 2022
ADERIR: CONJUGAÇÃO E REGÊNCIA
Aderir é um dos verbos mais usados em dias de negociação de reformas que mexem com a vida das pessoas. Sobram, por isso, tropeços na conjugação e na regência. Pra evitar balbúrdia na comunicação, manda o bom senso aprender as manhas do verbo:
Regência
Pede a preposição a: O partido aderiu ao programa proposto pelo líder. Não se pode aderir a todos os modismos.
Conjugação
Apresenta irregularidade na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e, por extensão, em todo o presente do subjuntivo. Presente do indicativo (eu adiro, tu aderes, ele adere, etc.), presente do subjuntivo (que eu adira, tu adiras, ele adira, etc.). No mais, segue o modelo de partir.
Historinha
Diana ganhou o cobiçado prêmio de jornalismo. Oba! Os colegas, felizes, organizaram feliz comitiva pra comemorar. Iriam a Maceió. Seria viagem de adesão. Cada um arcaria com a própria despesa. A felizarda vibrou com a novidade. Estava no carro. Ao lado, o namorado, de carona. Ela lhe falou da festança. Entusiasmado, ele disse alto e bom som: “Eu adero”. Diana freou. Mandou-o descer. Ele, perplexo, bateu asas e voou. Entendeu tarde que o amor é cego, mas não é surdo.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 25 de janeiro de 2022
CHEGAR: REGÊNCIA
“Estou chegando no gabinete do ministro Sérgio Moro”, disse a repórter. No caminho, tropeçou na língua. Bateu sem piedade na regência do verbo. A gente chega a algum lugar: O navio chegou a Santos. O presidente chegou a Brasília. A repórter chega ao gabinete do ministro.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 24 de janeiro de 2022
ETIMOLOGIA: MARAJÁ, NHEM-NHEM-NHEM, TRÓ-LÓ-LÓ, TOSCO
Palavras viram moda sem querer. Ninguém as inventa. Elas estão quietinhas, guardadas no baú da língua. Aí, acontece. Alguém as tira de lá. Surpreende. As antes desconhecidas ganham notoriedade. Há exemplos pra dar, vender e emprestar. Quer ver?
Marajá
Fernando Collor descobriu marajá. Buscou-a na Índia. Lá, o vocábulo dava nome aos príncipes e endinheirados do país. Aqui, passou a designar o funcionário público que recebe altos salários. Mas o alagoano generalizou. Botou no mesmo saco os privilegiados e os barnabés. Virou piada.
Nhem-nhem-nhem
FHC lançou o nhem-nhem-nhem. Pescou-o no tupi. Na língua dos índios, o trio quer dizer falar, falar, falar. Na nossa, mais ou menos a mesma coisa. É resmungo, falação interminável.
Tró-ló-ló
O tucano José Serra ressuscitou tró-ló-ló. A danadinha tem origem onomatopaica. É como au-au, miau-miau, toque-toque. Imita vozes ou ruídos. Os três monossílabos significam música ligeira, fácil de entoar. Por extensão, conversa vazia, lero-lero.
Tosco
Bolsonaro não é o autor. Mas inspirou a palavra tosco. A dissílaba virou praga. É um tal de discurso tosco pra cá, debate tosco pra lá, trabalho tosco pracolá. A popularidade provocou corrida ao dicionário. De onde vem a ilustre criatura?
Nada bom
Os romanos desprezavam os moradores de Vicus Tuscus, bairro romano onde viviam os etruscos. Deram, por isso, acepção pejorativa a tuscus, que passou a significar devasso, vil, libertino. Com o tempo, perdeu-se esse sentido. Hoje, tosco quer dizer tal como veio da natureza, bronco, rude. Em bom português: sem refinamento.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 23 de janeiro de 2022
ATÉ MEIA-NOITE? ATÉ A MEIA-NOITE?
“Votaremos texto do 2º turno da reforma da Previdência até meia-noite, diz Onyx”. Essa é a manchete do site do Estadão. Reparou? O jornal tropeçou na indicação de horas. A razão: faltou o artigo, presença obrigatória. Assim: Trabalha entre as 2h e as 10h. Está aqui desde as 14h. O avião partiu às 4h e chegou às 6h. Votaremos o texto da reforma da Previdência até a meia-noite.
Por falar em hora…
A abreviatura de hora é sem-sem-sem — sem espaço, sem ponto e sem plural: 14h, 14h30, 14h30min50.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 22 de janeiro de 2022
HÍFEN: CO-
Muitos reclamam da reforma ortográfica. Mas ela deu ajudinhas a nós, falantes da língua portuguesa. Uma delas é simplificar o emprego do hífen. O prefixo co-, por exemplo, era baita confusão. Ora pedia o tracinho, ora dispensava-o. Com o acordo, a novela mudou o enredo. O pequenino nunca aceita hífen. Com ele é tudo colado: coautor, coerdeiro, corréu, correpresentante, comorador, coinquilino, correpresentante, coprodução, cossecante. Etc. Etc. Etc.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 21 de janeiro de 2022
HERMAFRODITA: ETIMOLOGIA
Hermes vivia no Olimpo. Um dia, viu a mulher mais linda que havia pisado a morada dos deuses. Era Afrodite. Ele olhou pra ela. Ela olhou pra ele. Não deu outra. Apaixonaram-se. Casaram-se e tiveram um filho. Que nome lhe dar? Sugestão daqui, pesquisa dali, gostaram da mania brasileira. Chamaram-no Hermafrodito. Um pedacinho vem de Hermes. O outro, de Afrodite.
O garotão era belo como a mãe, mais conhecida por Vênus. (Ela mesma, a deusa do amor.) Ninguém resistia aos encantos do gatão. A ninfa Salmaris caiu de amores por ele. A paixão era tal que comoveu os deuses. Dona de mil truques, a mocinha conseguiu que eles fundissem os dois num só corpo. Daí nasceu a palavra andrógino — possuidor dos dois sexos ao mesmo tempo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 20 de janeiro de 2022
ANDAR E NADAR FAZ BEM? FAZEM BEM?
O período tem dois sujeitos — andar e nadar. Eles são formados por verbos no infinitivo. O verbo fica no singular:
Andar e nadar faz bem à saúde.
Ler e escrever é suficiente para o trabalho.
Nascer e viver seria difícil naquela região.
Quão difícil seria nascer e viver naquela região.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 19 de janeiro de 2022
ÓRGÃO E ÓRFÃO TÊM DOIS ACENTOS? NÃO!
Na nossa linguinha, as palavras com mais de uma sílaba têm acento tônico. É a sílaba que soa mais forte. Nas oxítonas, ele cai na última sílaba. É o caso de urubu, tupi, papel. Nas paroxítonas, na penúltima. Valem os exemplos de casa, potente, mulato. Nas proparoxítonas, na antepenúltima. Tâmara, líderes e fósforo servem de prova.
O acento tônico pode ter acento gráfico. (Entram então na jogada as regras que a gente aprende na escola.) Em português só há dois: o agudo (avó) ou o circunflexo (avô). Eles são altamente seletivos. Recaem na sílaba tônica. O agudo informa que o som é aberto. Manda escancarar a boca (sofá, café, fósforo). O circunflexo fecha o timbre (lâmpada, você, complô).
Além da duplinha poderosa, a língua recorre a outros sinais. Um deles é o til. Ele encuca a cabeça de muita gente. Que papel a cobrinha exibida exerce na palavra? É sinal de nasalidade. Diz que o nariz entra na jogada. Ao pronunciar a sílaba, por ele sai parte do ar (compare: Irma, irmã). Se a palavra não tiver acento (agudo ou circunflexo), o til faz a festa. Cai na sílaba tônica. É o caso de coração, cidadã, liquidação.
Com acento, cessa tudo que a musa antiga canta. O sinalzinho perde a majestade. O acento é que indica a sílaba tônica. Órgão e órfã são exemplos. A sílaba tônica é ór. O acento grave joga no mesmo time da cobrinha assanhada. Não tem nada com a sílaba tônica. O grave indica a fusão de dois aa (crase). Nada mais, nada menos: Dirigiu-se àquele que parecia mandar na empresa.
Moral da história: com os acentos, vale a regra: um é bom, dois é demais.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 18 de janeiro de 2022
TROPEÇO NA PRONÚNCIA: GRATUITA
Ops! O sarampo matou uma pessoa em São Paulo. É o primeiro caso em 22 anos. O fato, claro, foi manchete. O jornal Hoje deu a notícia. Chamou a atenção para a importância da vacina. “É gratuíta”, disse a repórter. O acento no i doeu. Gra-tui-ta joga no time de for-tui-ta. O ditongo ui pronuncia-se numa só emissão de voz.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 17 de janeiro de 2022
ORDEM DIRETA: POR QUÊ?
Na leitura rápida, a memória funciona a curto prazo. É como quando alguém diz a placa do carro ou o número do telefone. Para não esquecê-los, temos duas saídas — repeti-los muitas vezes, ou anotá-los. Mais: a cabeça retém melhor o que vem primeiro. Daí a importância da ordem direta. Na frente, o mais significativo. Atrás, o secundário. Sujeito + verbo + complemento é a fórmula:
Bolsonaro elogiou o filho na entrevista de ontem no Palácio do Planalto.
A ideia substantiva — Bolsonaro elogiou o filho — abre o enunciado. É ela que ficará retida na memória. O complemento tem importância secundária. Se algum pormenor se perder, não comprometerá o recado.
Compare:
Na entrevista de ontem no Palácio do Planalto, Bolsonaro elogiou o filho.
A informação mais importante perdeu-se na rabeira da frase. Azar do leitor.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 16 de janeiro de 2022
ELE CHAMA JOSÉ? ELE SE CHAMA JOSÉ? DEPENDE
Chamar é verbo pra lá de abrangente. Como coração de mãe, comporta muitos empregos. O Dicionário de verbos e regimes, de Francisco Fernandes, lhe dedica uma coluna. Entre tantas regências, uma responde à dúvida de João José Forni. Ele escreve: “Precisamos que você esclareça o certo quando jornalistas e outros se referem a algo ou a alguém assim:
O livro chama Brás Cubas.
O leitor chama José.
A cidade chama Brasília.
A mim dói no ouvido. Pior: o erro está se incorporando no vernáculo”.
Duas regências
Confundem-se, aí, duas regências:
1. Dizer o nome de alguém para que se aproxime (verbo transitivo direto): O professor chamou Pedro para dar a resposta. O pai chamou o filho para o abrigo. Chamei Maria em voz alta. Chamamos Pedro na saída da aula.
2. Ter nome, apelidar-se, denominar-se (aí o verbo é pronominal): Eu me chamo Maria. Ele se chama Pedro. Nós nos chamamos Maria e Pedro. O livro se chama Brás Cubas. O leitorse chama José. A cidade se chama Brasília. Como vocês se chamam? Gostaria de saber como vocês se chamam. Como se chamam os pais de Jesus? Eles se chamam Maria e José.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 15 de janeiro de 2022
CLAREZA: FILEIRINHA DE DÊS
Termos longos ligados por uma fileira de dês constituem pedra no caminho do leitor. De um lado, pecam pela abstração. De outro, pela dificuldade de serem entendidos. Vale tudo para descarrilhar o trenzinho. A melhor estratégia: transformar substantivos e adjetivos em verbos. Veja:
O progresso dos estudantes de instituições de ensino do governo é lento.
Ruim, não? O período, além da fileirinha de dês, parece manco. A razão: o sujeito tem 22 sílabas. O predicado, três. Vamos harmonizá-lo? Busquemos o verdadeiro sujeito e usemos verbo de ação: Os estudantes de escolas públicas progridem lentamente.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 14 de janeiro de 2022
AVE, MARIA: SIGNIFICADO
Católicos rezam a oração Ave, Maria com muita fé. Mas nem todos entendem o significado de ave nesse contexto religioso. Eis o mistério das três letrinhas. Ave quer dizer salve. A palavra não tem nada a ver com o cristianismo. Era forma de saudação na antiga Roma. Lembra-se do clássico Ave, Caesar?
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 13 de janeiro de 2022
POR QUE INVASÃO SE ESCREVE COM S?
A invasão da privacidade de inquilinos do andar de cima fez muita gente recorrer ao dicionário. A razão: descobrir o porquê de invasão se escrever com s. A resposta é fácil como tirar chupeta de bebê. Substantivos derivados de verbos terminados em –dir estendem tapete vermelho ao s. É o caso de dividir (divisão), decidir (decisão), explodir (explosão), iludir (ilusão), fundir (fusão), evadir (evasão), erodir (erosão), cindir (cisão), aludir (alusão).
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 12 de janeiro de 2022
RECIFE OU O RECIFE?
Chuvas alagaram ruas, afogaram casas, mataram pessoas. A capital pernambucana virou notícia. Trouxe de volta velha dúvida de brasileiros de norte a sul do país. Recife ou o Recife? A gramática abona ambas as formas. Mas, se você estiver na charmosa cidade de Manuel Bandeira, João Cabral, José Paulo Cavalcanti & cia. talentosa, diga o Recife. O artigo acaricia os ouvidos de adultos e crianças. Oba!
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 11 de janeiro de 2022
CELULARES SÃO ALVO DE HACKERS? ALVOS?
São alvo. Por que o singular? Deixa-se no singular o substantivo abstrato que, depois de verbo de ligação (ser, estar, tornar-se, virar, parecer) caracterize genericamente o sujeito plural: As autoridades são o alvo dos hackers. Filmes controversos são o destaque da maior festa do cinema. Os voluntários de Roraima tornaram-se exemplo de solidariedade. O sujeito e o predicado são parte da oração. Animais em extinção tornaram-se objeto de desejo de caçadores. Substantivos e verbos são o essencial na oração.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 10 de janeiro de 2022
DUZENTAS MILHÕES DE CONTAS? NÃOOOOOOOOO!
“São duzentas e onze milhões de contas do FGTS”, disse a GloboNews. Certo? Nãoooooooooooooo! Milhão é masculino e não abre. Melhor respeitá-lo. Assim: São duzentos e onze milhões de contas do FGTS.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 09 de janeiro de 2022
MAXI- MÁXI, MINI- E MÍNI: QUANDO USAR
O que essas duplinhas têm em comum? Dois pontos:
1. indicam tamanho
2. são atrevidos. Às vezes aparecem sozinhos. Funcionam como substantivos ou adjetivos. Aí, cuidado. Eles seguem as regras de acentuação da língua. Míni e máxi são paroxítonas terminadas em i. Levam acento. Iguaizinhos a táxi e júri: “Nem máxi nem míni”, disse Maria. “Prefiro a saia à altura do joelho”.
Hífen
Maxi- e mini- obedecem à regra dos prefixos — sem tirar nem pôr. Pedem hífen quando:
1. forem seguidos de h: mini-história, maxi-história.
2. duas letras iguais se encontram: mini–império, maxi–imaginação.
No mais, é tudo colado — como unha e carne: minianúncio, minissaia, minicurrículo, minirretrato, maxianúncio, maxi ssistema, maxirrevisão.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 08 de janeiro de 2022
TUPINIQUIM: ORIGEM E CURIOSIDADE
A palavra tupiniquim deriva da expressão tupin-i-ki, “tupi ao lado, vizinho”, ou “tribo colateral, o galho dos tupis”. Por metonímia, passou a ser usada como sinônimo (hoje pejorativo) de brasileiro. Originalmente, os tupiniquins são um grupo indígena pertencente à nação Tupi, cujo território atual é o município de Aracruz, no norte do Espírito Santo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 07 de janeiro de 2022
REFORMA ORTOGRÁFICA: DOO, VEEM & CIA.
O Future-se autoriza a doação de ex-alunos para as universidades. Nada mais
justo. Eles se formaram nas melhores instituições de ensino do país sem
desembolsar um centavo. A prática é comum nos Estados Unidos. Pegará aqui?
Talvez. Enquanto esperamos, vale lembrar a reforma ortográfica. A mudança
cassou o chapéu dos hiatos o/o e e/em.
Doo, do verbo doar, tinha acento. Deixou de ter. O mesmo ocorreu com perdoo,
abençoo, coroo, voo, voos.
A tesourada também atingiu a 3ª pessoa do plural de ver, ler, crer e
dar. Veem, leem, creem e deem ficaram livres e soltos, sem lenço e sem documento.
Oba!
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 06 de janeiro de 2022
HÍFEN: SEM-LIKE
Hífen: sem-like
O sem virou histeria. O agricultor que não tem onde plantar é sem-terra. O desabrigado é sem-teto; o desamparado, sem-justiça; o político vira-casaca, sem-partido. Xuxa fala nos sem-brinquedo. Millôr se refere aos sem-vergonha. Elio Gaspari, aos sem-limite. Edir Macedo, aos sem-religião. O papa, aos sem-Deus. A liberação das tarifas bancárias deu origem aos sem-banco. A crise financeira logrou unanimidade – os sem-dinheiro.
O sem deu filhotes. O mais recente é o sem-like. A pessoa posta uma foto ou um texto no Instagram. Espera exibir o aplauso aos seguidores. Mas… cadê? Eles não podem ver as manifestações de agrado. Nasceu, então, o sem-like.
Viu? Quando formam substantivos ou adjetivos, as três letrinhas gozam da inseparável companhia do hífen: Os sem-terra andam fora do noticiário. Famílias de sem-teto receberam abrigos nos órgãos públicos. As pessoas sem-like pensam fotografar e postar os likes.
Invariável
Sem é sem-flexão. Sem masculino, sem feminino e sem plural, é tudo igual.
Olho vivo
Quando não formam substantivos nem adjetivos, os trios grafam-se como as demais preposições do universo de Camões, Pessoa ou Machado: Saiu sem pedir licença. Sem dinheiro, nada de compras. O crime se classifica em culposo ou doloso. O doloso é o cometido sem intenção de matar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 05 de janeiro de 2022
TRAVESSÃO: EMPREGO
O sinal do travessão equivale a dois hifens (—). Use-o:
1.Na introdução de diálogos em geral:
Andorinha lá fora está dizendo:
— Passei o dia à toa, à toa.
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa.
(Manuel Bandeira)
2. Na separação das datas de nascimento e morte de uma pessoa: Recife, 1908 — Brasília, 1962.
3. No destaque de palavra ou expressão no interior de uma frase (no caso, é usado duplamente): O candidato conseguiu – até – o aplauso dos adversários.
4. No lugar dos dois pontos ao introduzir uma explicação. Compare:
Na feira, comprou as frutas habituais: banana, maçã, laranja, pera e melancia.
Na feira, comprou as frutas habituais — banana, maçã, laranja, pera e melancia.
5. Na substituição da vírgula nos apostos. Compare:
Brasília, a capital do Brasil, fica no Planalto Central.
Brasília — a capital do Brasil — fica no Planalto Central.
Moderação
Não abuse do travessão . Um por parágrafo é pra lá de suficiente.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 04 de janeiro de 2022
TRATA-SE DE EXECUÇÕES? TRATAM-SE DE EXECUÇÕES?
“Tratam-se de execuções perpetradas por esquadrões da morte que invadem residências e, sem mandado, matam, estupram, prendem, torturam”, escreveu o jornal. Viu? Baita tropeço na concordância. Tratar-se de exige o verbo no singular: Trata-se de problemas antigos. Tratou-se das aspirações populares. Trata-se de execuções perpetradas por esquadrões da morte…
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 03 de janeiro de 2022
TERRIVELMENTE: ADVÉRBIOS TERMINADOS EM -MENTE
Terrivelmente evangélico: advérbios terminados em -mente
O presidente se encontrou com a comunidade evangélica. Entre os seus, sentia-se feliz, descontraído. Sorriu muito. Posou para selfies. Deu abraços e beijos. No discurso, disse que nomearia para o Supremo Tribunal Federal um ministro “terrivelmente evangélico”. Aplausos ecoaram. Vivas se ouviram nos quatro cantos do recinto. A imprensa divulgou a fala. Foi um auê.
Ops! Não foi o critério religioso para escolher o juiz da mais alta corte de Justiça do país que chamou a atenção. Bolsonaro havia revelado o fato uns dias antes. Nem a inoportunidade do anúncio. Faltam quase dois anos para a abertura da vaga. A vedete foi o advérbio. Terrivelmente evangélico — o que é isso, companheiro? É isto: muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito evangélico. Evangélico na cara, nos gestos, nas palavras, no modo de agir. O advérbio inusitado causou estranhamento. Valeu como frase de efeito. Caiu na boca do povo.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 02 de janeiro de 2022
ELES SÃO TODO-PODEROSOS? TODOS-PODEROSOS?
O todo, no caso, funciona como advérbio (= totalmente). Mantém-se invariável (o todo-poderoso, os todo-poderosos, a todo-poderosa, as todo-poderosas): Pai e filhos se sentem os todo-poderosos do Brasil. Em setembro, Raquel Dodge deixará de ser a todo-poderosa procuradora-geral da República? Trump se incomodou com as todo-poderosas deputadas democratas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 01 de janeiro de 2022
NEPOTISMO: ETIMOLOGIA
Jair Bolsonaro disse que vai indicar o filho embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Ops! “É nepotismo”, disseram uns. “Não é”, responderam outros. E daí? Enquanto juristas palpitam, vale a questão. Qual a origem do polissílabo?
Nepotismo nasceu do latim nepos, nepotis. Quer dizer sobrinho. Na Roma dos Césares, os sobrinhos dos papas gozavam de privilégios. Um deles: preferência nas nomeações para cargos importantes, com salários nas alturas. Resultado: nepotismo virou palavrão. Tornou-se sinônimo de políticos nomearem parentes para postos cobiçados. Xô!
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 31 de dezembro de 2021
HAMBÚRGUER: ETIMOLOGIA
Eduardo Bolsonaro disse que fritou muitos hambúrgueres nos Estados Unidos. Por isso pode ser embaixador do Brasil nos States. Será? Muitos duvidam. Enquanto discutem, que tal saber a origem da delícia adorada pelos americanos? Ela é alemã. Marinheiros de Hamburgo aproveitaram velha receita de povos nômades da Ásia e Europa oriental que comiam carne crua cortada bemmmmmmmmm fininha. Os hamburgueses avançaram um passo — cozinharam a iguaria. Imigrantes que partiam do porto de Hamburgo levaram a delícia para a terra do Tio Sam. Os americanos gostaram da novidade. Mas, ao ver o bolinho desamparado no prato, deram outro passo. Casaram-no com o pão. Viva!
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 30 de dezembro de 2021
EMBAIXADORA OU EMBAIXATRIZ? DEPENDE.
Eduardo Bolsonaro será embaixador do Brasil nos Estados Unidos? Talvez. Caso chegue lá, a mulher dele será embaixatriz ou embaixadora? As duas palavras existem, mas têm acepções diferentes:
Embaixadora é o feminino de embaixador, mulher que exerce a função de embaixador.
Embaixatriz é a mulher do embaixador. É o que será Heloísa Wolf Bolsonaro caso o maridão vire embaixador.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 29 de dezembro de 2021
CADA UM DE NÓS SAIRÁ? SAIREMOS?
O verbo vai para a 3ª pessoa do singular: Cada um deles tomou um rumo. Cada uma das camisas custou acima de R$ 50. Cada um de nós sairá em horários diferentes.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 28 de dezembro de 2021
JÁ: QUANDO USAR
Já indica mudança de estado – o que era e deixou de ser: A reforma da Previdência já não parece impossível. (a reforma pareceu impossível, deixou de parecer). O pai já não acredita na inocência da filha (ele acreditava, mas deixou de fazê-lo). Bolsonaro já fala em reeleição (ele não falava, passou a fazê-lo).
Curiosidade
Já significa agora. Na linguagem popular, já-já é agora mesmo. Já-zim, agorinha”. No Piauí e em boa parte do Nordeste, nestante (neste instante) é sinônimo de já-zim. Deu pra entender? Se não deu, aguarde um cadim (como dizem os mineiros) que já-zim a gente volta pra explicar.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 27 de dezembro de 2021
CRASE: À CAPITÃO
Para as Forças Armadas, capitão é um substantivo comum de dois gêneros (apesar de haver
o feminino capitã). Nos quartéis, ele é o capitão; ela, a capitão. Trata-se
da cultura da instituição. Mas ela dá nó nos miolos nos miolos. Qual a
construção correta?
a. Entrega de medalha à capitão-de-corveta Maria da Silva.
b. Entrega de medalha a capitão-de-corveta Maria da Silva.
Crase é como aliança no anular esquerdo. Indica o casamento de dois aa. Um
deles é a preposição. O outro, em geral, o artigo definido. Quando os dois
se encontram, não dá outra. É enlace na certa: Jurou fidelidade à pátria.
Dirigiu-se à poltrona indicada. Foi à livraria Cultura pegar os livros.
Pintou a dúvida? Substitua a palavra feminina por uma masculina (não
precisa ser sinônima, mas tem de ser do mesmo número — singular ou plural).
Se no troca-troca der ao, sinal de crase. Caso contrário, nada feito:
Jurou fidelidade à pátria. Jurou fidelidade ao país.
Dirigiu-se à poltrona indicada. Dirigiu-se ao país indicado.
Foi à livraria Cultura pegar os livros. Foi ao restaurante pegar os
livros.
Visitou a amiga no fim de semana. Visitou o amigo no fim de semana.
Agora, faça a sua aposta: a capitão ou à capitão? Antes de arriscar,
recorra ao tira-teima:
Entrega de medalha à capitão-de-corveta Maria da Silva.
Entrega de medalha ao capitão-de-corveta João da Silva.
É isso. Com o truque, a alternativa é acertar ou acertar. Viva!
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 26 de dezembro de 2021
À CUSTA DO PAI? ÀS CUSTAS DO PAI?
À custa de = com sacrifício, dano ou prejuízo de alguém ou algo: Formou-se à custa de muito esforço. Desenvolvimento à custa do meio ambiente. Vive à custa dos pais. Burro empacado não anda nem à custa de pancadas.
Custas = despesa feita em processo judicial: Cabe a ele pagar as custas do processo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 25 de dezembro de 2021
PROLIFERAR OU PROLIFERAR-SE?
“Escolas que restringem celular se proliferam nos Estados Unidos”, anunciou o jornal. Nada feito. Proliferar é intransitivo: Escolas que restringem celular proliferam nos Estados Unidos. Os ratos proliferam nos terrenos baldios.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 24 de dezembro de 2021
TILINTAR E TIRINTAR: DIFERENÇA
Tilintar é soar. Tirintar é tremer: A campainha tilintou várias vezes. Os gaúchos tirintam de frio quando sopra o Minuano.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 23 de dezembro de 2021
ABREVIATURA: ABECEDÁRIO
Como abreviar o abecedário? É á-bê-cê ou abecê. Plural: á-bê-cês e abecês: Ele ainda estuda o á-bê-cê (abecê).
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 22 de dezembro de 2021
PLURAL DA MODÉSTIA: QUANDO E COMO USAR
A Copa acabou. Mal a França levantou a taça, a campanha eleitoral entrou no
ar. Os candidatos querem fazer bonito. Contratam marqueteiros. Fantasiam-se
de bonzinhos, trabalhadores e competentes. Ensaiam o discurso. Esbanjam
próclises e mesóclises. Treinam formas rizotônicas e arrizotônicas.
Sobretudo evitam o eu.
O pronomezinho dá a impressão de arrogância. Saída? Os loucos pelo poder
recorrem a truques. O mais popular: o plural de modéstia. Em vez do eu,
usam nós. É mentirinha. O nós continua eu. Por isso, o emprego da
falsa modéstia impõe regras. O verbo vai para o plural. Mas adjetivos e
substantivos ficam no singular:
Ciro disse:
— Nós somos candidato preparado e experiente.
Alkmin não deixou por menos:
— Nós somos modesto e corajoso.
Se o sujeito fosse sincero, o nós se referiria a mais de uma pessoa. Aí,
as frases seriam: “Nós somos candidatos preparados e experientes. Nós somos
modestos e corajosos”.
É isso. Como diz o outro, as aparências enganam. A língua, generosa,
colabora. Olho vivo!
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 21 de dezembro de 2021
SEU, SUA: LIVRE-SE DA PRAGA
Os possessivos seu e sua são aparentemente inofensivos. Mas causam senhores estragos à frase. Sabe por quê? Às vezes, dão duplo sentido à declaração. Você diz uma coisa. A pessoa entende outra. Ou fica confusa. É o caso do diretor que tinha o secretário que os chefes pedem a Deus.
Ele chegava entes da hora. Saía depois. Almoçava ali mesmo, ao lado do computador. De repente, não mais que de repente, mudou o comportamento. Passou a fazer o que todos fazem: obedecer ao horário.
Intrigado, o diretor contratou um detetive para decifrar o mistério. Dois dias depois, o espião trouxe a resposta:
— Seu servidor sai ao meio-dia, pega o seu carro, vai até sua casa, namora sua mulher, come a sua comida, bebe o seu vinho, fuma seus charutos cubanos e volta ao trabalho.
O diretor, satisfeito, achou tudo normal. O investigador pediu licença para mudar o pronome. Eis o que deu:
— Seu servidor sai ao meio-dia, pega o teu carro, vai até tua casa, namora tua mulher, come a tua comida, bebe o teu vinho, fuma teus charutos cubanos e volta ao trabalho.
Outro exemplo
O presidente garantiu aos parlamentares que o seu esforço levaria à aprovação das reformas.
Esforço de quem? Dos parlamentares? Do presidente? A frase é ambígua. Permite dupla leitura. O que fazer? Partir para o troca-troca. Substituir seu pelo pronome dele:
O presidente garantiu aos parlamentares que o esforço dele (ou deles) levaria à aprovação das reformas.
Xô! Xô! Xô!
Certas palavras rejeitam o possessivo. Aproximá-los é briga certa. Evite confusões. Não o use com:
- as partes do corpo: Na batida, quebrou a perna (nunca sua perna). Arranhou o rosto. Fraturou os dedos.
- os objetos de uso pessoal: Calçou os sapatos (não seus sapatos). Pôs os óculos. Vestiu a saia.
- 3. as qualidades do espírito: Perdeu a consciência (não sua consciência). Mudou a mentalidade. Alterou o comportamento.
Dica: em 90% dos casos, o possessivo é desnecessário. Se é desnecessário, sobra: Paulo fez a (sua) redação. Pegou o (seu) jornal. Perdeu as (suas) chaves.
É isso. Escrever é cortar. Ou trocar.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 20 de dezembro de 2021
QUÊ: QUANDO ACENTUAR
O quezinho aparece enchapelado em duas situações:
- Quando for substantivo. Aí, tem plural: O noivo tem um quê provinciano. Não sei os quês dos porquês. A letra quê tem charme. A modelo tem um quê sedutor. Nenhum dos quês recebeu a resposta adequada.
- Quando está no fim (no fim mesmo) da frase: Você saiu por quê? Os americanos estão irritados com quê? Quê! Você por aqui? O quê? Repita, por favor. Ela estava triste, mas não disse por quê. Trabalho muito, mas não sei por quê.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 19 de dezembro de 2021
HÍFEN: COR-DE-LARANJA OU COR DE LARANJA?
A reforma ortográfica cassou o hífen de palavras compostas. Entre elas, as formadas de dois ou mais vocábulos ligados por preposição, conjunção, pronome. Pé de moleque, mão de obra, tomara que caia, mula sem cabeça, dor de cotovelo & cia. se escreviam com tracinho. Agora estão soltinhas da silva. (Nome de bichos e plantas mantêm o hífen – joão-de-barro, castanha-do-pará.)
As cores entraram na faxina. Antes, cor de laranja, cor de carne, cor de vinho, cor de abóbora e tantas outras se grafavam com o tracinho de ligação. Agora, mandaram-no plantar batata no asfalto. Mas cor-de-rosa manteve o hífen. É exceção que confirma a regra.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 18 de dezembro de 2021
INTERMEDIAR & CIA: CONJUGAÇÃO
Sai dia, entra dia, a história se repete. Desvendam-se esquemas montados para assaltar os cofres públicos. Eles têm um denominador comum — os intermediários. Podem ser doleiros, empresas, escritórios de advocacia. Todos conjugam o verbo intermediar. Ele, como os profissionais da corrupção, é cheio de manhas. Uma delas: a conjugação.
Intermediar pertence à gangue do MARIO. O nome da perigosa organização se formou com a letra inicial dos membros que a compõem: mediar, ansiar, remediar, intermediar e odiar. Todos obedecem ao chefe. Odiar manda. Os outros vão atrás.
Conjugam-se do mesmo jeitinho: odeio (medeio, anseio, remedeio, intermedeio), odeia (medeia, anseia, remedeia, intermedeia), odiamos (mediamos, ansiamos, remediamos, intermediamos), odeiam (medeiam, anseiam, remedeiam, intermedeiam). E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 17 de dezembro de 2021
A OU LHE?
Ops! Ambos são pronomes pessoais do caso oblíquo. Quando empregar um e outro?
Lhe tem duas funções. Uma: objeto indireto — complementa verbo transitivo indireto. É o caso de oferecer, agradecer, obedecer: Ofereci-lhe um cafezinho (a gente oferece alguma coisa a alguém). Agradeço-lhe o favor (a gente agradece alguma coisa a alguém). Obedecemos-lhe sem discussão (a gente obedece a alguém).
A outra: funciona como adjunto adnominal. Substitui o possessivo seu, sua, dele, dela: Acariciou-lhe os cabelos (acariciou seus cabelos). Invejou-lhe o vestido (invejou vestido dela). Encheu-lhe os bolsos de balas (encheu seus bolsos de balas).
*
O a e o o funcionam como objeto direto: João ama Maria. (João a ama). O diretor cumprimentou os funcionários (o diretor os cumprimentou). Comprei o material exigido pela escola (comprei-o). Vi a professora entrando no shopping (vi-a entrando no shopping).
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 16 de dezembro de 2021
BASTA DE BRIGAS? BASTAM DE BRIGAS?
Cuidado com a concordância quando o sujeito vem depois do verbo: Bastam algumas horas (algumas horas bastam), Bastam-me duas horas para concluir o trabalho (duas horas me bastam para concluir o trabalho).
Seguido da preposição de, bastar é impessoal. Mantém-se na 3ª pessoa do singular: Basta de brigas. Basta de lamúrias. Basta de promessas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 15 de dezembro de 2021
NOVE NOVIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA
A língua é das pessoas e para as pessoas. Como possuidor e destinatário são pra lá de interessantes, o mais fácil código de comunicação não poderia ser diferente. É cheio de curiosidades. Conta histórias, faz piadas, explica o inexplicável.Quer ver? Aprecie.
Psiquê e Cupido
Cupido e Psiquê se casaram. Antes, combinaram que ela nunca veria o rosto do deus do amor. Uma noite, a mulher não resistiu. Enquanto ele dormia, ela acendeu uma vela. Ficou tão encantada com a linda figura que deixou cair cera quente no corpo do amado. Ele acordou. E se foi. Até hoje Psiquê chora. Sofre de tristeza, arrependimento e saudade. O jeito é procurar profissional que cura as dores da alma. É o psicólogo, cujo nome nasceu de Psiquê.
Realeza
J, Q e K são três cartas do baralho com imagem. Elas têm iniciais em inglês: j (de jack, valete). Q (de queen, dama ou rainha) e K (de king, rei).
Pirata
Quem primeiro usou o termo pirata para descrever os que pilhavam navios e cidades costeiras foi Homero, na Odisseia. A pirataria marítima começou com os gregos que roubavam mercadorias dos fenícios e assírios. Isso em 753 a.C. Uma série de características marcou os ladrões dos mares: a bandeira com a caveira e dois ossos ou duas espadas cruzadas, o tapa-olho, o chapéu tricórnio, os ganchos nas mãos, as pernas de pau, os papagaios (que eles capturavam pra vender). A palavra continua viva até hoje: rádio pirata, navios piratas.
Exceções
Em português, pouquíssimas palavras terminam com n. Entre elas, hífen, éden, abdômen. Elas pregam senhora peça na acentuação gráfica. A regra diz que ganha grampo ou chapéu a paroxítona terminada com n. A que se finaliza com ns não tem nada com a história. Fica solta e livre, sem lenço nem documento: hifens, edens, abdomens.
100% nacional
A jabuticaba é considerada a fruta mais brasileira que existe. Raramente consegue ser cultivada em outros países. Uma curiosidade: ao que se saiba, é a única árvore no mundo que se aluga. Isso mesmo: em algumas cidades, como Sabará, em Minas Gerais, os proprietários cobram por hora. O inquilino paga e come a gostosura até quando aguentar. Especialistas de Europa, França e Bahia se renderam à pretinha. É o caso do chef Paul Bocuse: “A jabuticaba não é para o bico de todo mundo. Extraordinária! Em Reinações de Nartizinho, Monteiro Lobato dedica um capítulo inteiro à frutinha.
Origem
Ideias não surgem do nada, mas do acúmulo de informações. Segundo o neurocientista Henrique Del Nero, da USP, a criatividade é proporcional ao repertório. “A mente calcula qual a melhor jogada a partir da maior taxa de informações com a menor redundância”. Por isso, fique esperto. Enriqueça seu banco de dados com atividades que, além de despertar a imaginação e a fantasia, gerem novas imagens. É o caso de leituras, viagens e atividades artísticas.
Os pontinhos dos ii
Vamos pôr os pontos nos ii? A expressão não deixa dúvida. Refere-se ao esclarecimento rigoroso de determinada situação. Ela nasceu há muito tempo — na época em que só se escrevia à mão. Pra evitar que dois ii fossem confundidos com u, passou-se a acentuar o i. No século 16, pontos substituíram os grampinhos. Daí os pontos nos ii.
O &
O símbolo & tem nome. É e comercial. O criador: Marcus Tulius Tiro, encarregado de transcrever os discursos feitos no Senado de Roma. A criatura, que veio ao mundo 63 anos antes de Cristo, tinha uma função – tornar a escrita mais rápida. O & substituía o et (e em português). Com o tempo, o sinalzinho se especializou. Deixou os políticos pra lá e entrou, triunfal, no universo das empresas.
Caraoquê
A japonesinha karaokê ganhou forma portuguesa. É caraoquê. Uma e outra têm o mesmo sentido. Querem dizer espaço vazio. A razão? Trata-se de casa noturna em que os clientes podem cantar acompanhados de músicos ou gravações. A voz deles preenche o vazio do espaço.