Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 07 de outubro de 2022
HÍFEN: SEM-LIKE
Hífen: sem-like
O sem virou histeria. O agricultor que não tem onde plantar é sem-terra. O desabrigado é sem-teto; o desamparado, sem-justiça; o político vira-casaca, sem-partido. Xuxa fala nos sem-brinquedo. Millôr se refere aos sem-vergonha. Elio Gaspari, aos sem-limite. Edir Macedo, aos sem-religião. O papa, aos sem-Deus. A liberação das tarifas bancárias deu origem aos sem-banco. A crise financeira logrou unanimidade – os sem-dinheiro.
O sem deu filhotes. O mais recente é o sem-like. A pessoa posta uma foto ou um texto no Instagram. Espera exibir o aplauso aos seguidores. Mas… cadê? Eles não podem ver as manifestações de agrado. Nasceu, então, o sem-like.
Viu? Quando formam substantivos ou adjetivos, as três letrinhas gozam da inseparável companhia do hífen: Os sem-terra andam fora do noticiário. Famílias de sem-teto receberam abrigos nos órgãos públicos. As pessoas sem-like pensam fotografar e postar os likes.
Invariável
Sem é sem-flexão. Sem masculino, sem feminino e sem plural, é tudo igual.
Olho vivo
Quando não formam substantivos nem adjetivos, os trios grafam-se como as demais preposições do universo de Camões, Pessoa ou Machado: Saiu sem pedir licença. Sem dinheiro, nada de compras. O crime se classifica em culposo ou doloso. O doloso é o cometido sem intenção de matar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 06 de outubro de 2022
TRAVESSÃO: EMPREGO
O sinal do travessão equivale a dois hifens (—). Use-o:
1.Na introdução de diálogos em geral:
Andorinha lá fora está dizendo:
— Passei o dia à toa, à toa.
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa.
(Manuel Bandeira)
2. Na separação das datas de nascimento e morte de uma pessoa: Recife, 1908 — Brasília, 1962.
3. No destaque de palavra ou expressão no interior de uma frase (no caso, é usado duplamente): O candidato conseguiu – até – o aplauso dos adversários.
4. No lugar dos dois pontos ao introduzir uma explicação. Compare:
Na feira, comprou as frutas habituais: banana, maçã, laranja, pera e melancia.
Na feira, comprou as frutas habituais — banana, maçã, laranja, pera e melancia.
5. Na substituição da vírgula nos apostos. Compare:
Brasília, a capital do Brasil, fica no Planalto Central.
Brasília — a capital do Brasil — fica no Planalto Central.
Moderação
Não abuse do travessão . Um por parágrafo é pra lá de suficiente.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 05 de outubro de 2022
TRATA-SE DE EXECUÇÕES? TRATAM-SE DE EXECUÇÕES?
“Tratam-se de execuções perpetradas por esquadrões da morte que invadem residências e, sem mandado, matam, estupram, prendem, torturam”, escreveu o jornal. Viu? Baita tropeço na concordância. Tratar-se de exige o verbo no singular: Trata-se de problemas antigos. Tratou-se das aspirações populares. Trata-se de execuções perpetradas por esquadrões da morte…
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 04 de outubro de 2022
ELES SÃO TODO-PODEROSOS? TODOS-PODEROSOS?
O todo, no caso, funciona como advérbio (= totalmente). Mantém-se invariável (o todo-poderoso, os todo-poderosos, a todo-poderosa, as todo-poderosas): Pai e filhos se sentem os todo-poderosos do Brasil. Em setembro, Raquel Dodge deixará de ser a todo-poderosa procuradora-geral da República? Trump se incomodou com as todo-poderosas deputadas democratas.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 03 de outubro de 2022
NEPOTISMO: ETIMOLOGIA
Jair Bolsonaro disse que vai indicar o filho embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Ops! “É nepotismo”, disseram uns. “Não é”, responderam outros. E daí? Enquanto juristas palpitam, vale a questão. Qual a origem do polissílabo?
Nepotismo nasceu do latim nepos, nepotis. Quer dizer sobrinho. Na Roma dos Césares, os sobrinhos dos papas gozavam de privilégios. Um deles: preferência nas nomeações para cargos importantes, com salários nas alturas. Resultado: nepotismo virou palavrão. Tornou-se sinônimo de políticos nomearem parentes para postos cobiçados. Xô!
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 02 de outubro de 2022
HAMBÚRGUER: ETIMOLOGIA
Eduardo Bolsonaro disse que fritou muitos hambúrgueres nos Estados Unidos. Por isso pode ser embaixador do Brasil nos States. Será? Muitos duvidam. Enquanto discutem, que tal saber a origem da delícia adorada pelos americanos? Ela é alemã. Marinheiros de Hamburgo aproveitaram velha receita de povos nômades da Ásia e Europa oriental que comiam carne crua cortada bemmmmmmmmm fininha. Os hamburgueses avançaram um passo — cozinharam a iguaria. Imigrantes que partiam do porto de Hamburgo levaram a delícia para a terra do Tio Sam. Os americanos gostaram da novidade. Mas, ao ver o bolinho desamparado no prato, deram outro passo. Casaram-no com o pão. Viva!
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 01 de outubro de 2022
EMBAIXADORA OU EMBAIXATRIZ? DEPENDE.
Eduardo Bolsonaro será embaixador do Brasil nos Estados Unidos? Talvez. Caso chegue lá, a mulher dele será embaixatriz ou embaixadora? As duas palavras existem, mas têm acepções diferentes:
Embaixadora é o feminino de embaixador, mulher que exerce a função de embaixador.
Embaixatriz é a mulher do embaixador. É o que será Heloísa Wolf Bolsonaro caso o maridão vire embaixador.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 30 de setembro de 2022
CADA UM DE NÓS SAIRÁ? SAIREMOS?
O verbo vai para a 3ª pessoa do singular: Cada um deles tomou um rumo. Cada uma das camisas custou acima de R$ 50. Cada um de nós sairá em horários diferentes.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 29 de setembro de 2022
JÁ: QUANDO USAR
Já indica mudança de estado – o que era e deixou de ser: A reforma da Previdência já não parece impossível. (a reforma pareceu impossível, deixou de parecer). O pai já não acredita na inocência da filha (ele acreditava, mas deixou de fazê-lo). Bolsonaro já fala em reeleição (ele não falava, passou a fazê-lo).
Curiosidade
Já significa agora. Na linguagem popular, já-já é agora mesmo. Já-zim, agorinha”. No Piauí e em boa parte do Nordeste, nestante (neste instante) é sinônimo de já-zim. Deu pra entender? Se não deu, aguarde um cadim (como dizem os mineiros) que já-zim a gente volta pra explicar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 28 de setembro de 2022
CRASE: À CAPITÃO
Para as Forças Armadas, capitão é um substantivo comum de dois gêneros (apesar de haver
o feminino capitã). Nos quartéis, ele é o capitão; ela, a capitão. Trata-se
da cultura da instituição. Mas ela dá nó nos miolos nos miolos. Qual a
construção correta?
a. Entrega de medalha à capitão-de-corveta Maria da Silva.
b. Entrega de medalha a capitão-de-corveta Maria da Silva.
Crase é como aliança no anular esquerdo. Indica o casamento de dois aa. Um
deles é a preposição. O outro, em geral, o artigo definido. Quando os dois
se encontram, não dá outra. É enlace na certa: Jurou fidelidade à pátria.
Dirigiu-se à poltrona indicada. Foi à livraria Cultura pegar os livros.
Pintou a dúvida? Substitua a palavra feminina por uma masculina (não
precisa ser sinônima, mas tem de ser do mesmo número — singular ou plural).
Se no troca-troca der ao, sinal de crase. Caso contrário, nada feito:
Jurou fidelidade à pátria. Jurou fidelidade ao país.
Dirigiu-se à poltrona indicada. Dirigiu-se ao país indicado.
Foi à livraria Cultura pegar os livros. Foi ao restaurante pegar os
livros.
Visitou a amiga no fim de semana. Visitou o amigo no fim de semana.
Agora, faça a sua aposta: a capitão ou à capitão? Antes de arriscar,
recorra ao tira-teima:
Entrega de medalha à capitão-de-corveta Maria da Silva.
Entrega de medalha ao capitão-de-corveta João da Silva.
É isso. Com o truque, a alternativa é acertar ou acertar. Viva!
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 27 de setembro de 2022
À CUSTA DO PAI? ÀS CUSTAS DO PAI?
À custa de = com sacrifício, dano ou prejuízo de alguém ou algo: Formou-se à custa de muito esforço. Desenvolvimento à custa do meio ambiente. Vive à custa dos pais. Burro empacado não anda nem à custa de pancadas.
Custas = despesa feita em processo judicial: Cabe a ele pagar as custas do processo.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 26 de setembro de 2022
PROLIFERAR OU PROLIFERAR-SE?
“Escolas que restringem celular se proliferam nos Estados Unidos”, anunciou o jornal. Nada feito. Proliferar é intransitivo: Escolas que restringem celular proliferam nos Estados Unidos. Os ratos proliferam nos terrenos baldios.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 25 de setembro de 2022
TILINTAR E TIRINTAR: DIFERENÇA
Tilintar é soar. Tirintar é tremer: A campainha tilintou várias vezes. Os gaúchos tirintam de frio quando sopra o Minuano.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 24 de setembro de 2022
ABREVIATURA: ABECEDÁRIO
Como abreviar o abecedário? É á-bê-cê ou abecê. Plural: á-bê-cês e abecês: Ele ainda estuda o á-bê-cê (abecê).
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 23 de setembro de 2022
ELEITO OU ELEGIDO: QUANDO USAR
Eleito ou elegido? Depende. Com os auxiliares ter e haver, elegido pede
passagem. Com ser e estar, eleito: O deputado foi eleito duas vezes. Ele
está eleito. O povo havia elegido o governador no 1º turno. O brasileiro
tem elegido bons políticos?
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 22 de setembro de 2022
ESTILO ENXUTO: XÔ, ARTIGO INDEFINIDO
Um texto limpo não cai do céu. Nem salta do inferno. Nasce de trabalho, humildade, desapego. E muita faxina. Como diz o outro, 10% de inspiração e 90% de transpiração.
A escrita agradável tem muitos segredos. Um deles: fugir do artigo indefinido. Um, uma, uns, umas fazem estragos. Tornam o substantivo impreciso e molengão. Mais ou menos como Sansão sem cabelo. Quer ver?
Fugitivos africanos morreram em (um) acidente no Mediterrâneo.
Deus é (um) poder supremo.
(Um) outro bate-boca ocorreu ontem entre o marido e a mulher.
Falava com (um) tal cuidado que parecia medir as sílabas.
Ele revelava (uma) certa satisfação.
Para que os artigos? Só pra estragar a frase. Eles detonam o esforço de planejamento e redação. Fora!
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 21 de setembro de 2022
QUÊ: QUANDO ACENTUAR
O quezinho aparece enchapelado em duas situações:
- Quando for substantivo. Aí, tem plural: O noivo tem um quê provinciano. Não sei os quês dos porquês. A letra quê tem charme. A modelo tem um quê sedutor. Nenhum dos quês recebeu a resposta adequada.
- Quando está no fim (no fim mesmo) da frase: Você saiu por quê? Os americanos estão irritados com quê? Quê! Você por aqui? O quê? Repita, por favor. Ela estava triste, mas não disse por quê. Trabalho muito, mas não sei por quê.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 20 de setembro de 2022
PLURAL: OLHOS CASTANHO-ESCUROS OU CASTANHOS-ESCUROS?
Como lidar com o adjetivo composto? Ele tem manhas. Pra não cair na cilada, preste atenção à classe gramatical das palavras que o compõe. São dois casos:
- Adjetivo + adjetivo ou palavra invariável + adjetivo: só o segundo se flexiona (olho castanho-escuro, olhos castanho-escuros, símbolo verde-amarelo, símbolos verde-amarelos, camiseta verde-amarela, camisetas verde-amarelas).
Exceção: azul-marinho e azul-celeste, que são invariáveis – sapato azul-marinho, sapatos azul-marinho; blusa azul-celeste, blusas azul-celeste.
- Adjetivo + substantivo ou substantivo + adjetivo: ambos permanecem invariáveis (saia azul-turquesa, saias azul-turquesa, papel verde-mar, papéis verde-mar, uniforme verde-oliva, uniformes verde-oliva, bandeira amarelo-canário, bandeiras amarelo-canário, vestido rosa-claro, vestidos rosa-claro, bolsa castor-escuro, bolsas castor-escuro).
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 19 de setembro de 2022
COSTA E COSTAS: DIFERENÇA
Qual a diferença entre costa e costas? Costa é litoral (costa brasileira, costa africana). Costas, parte posterior do corpo: dor nas costas.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 18 de setembro de 2022
INTERNET: MAIÚSCULA OU MINÚSCULA?
Na origem, internet era nome próprio. Escrevia-se com a inicial maiúscula. Agora, dá nome a uma mídia, como rádio, jornal, televisão. Tornou-se substantivo comum. Sem pedigree, é senhora vira-lata. Grafa-se com letras pequeninas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 17 de setembro de 2022
BENEFICÊNCIA? BENEFICIÊNCIA?
Não exagere, por favor. Beneficência tem dois is. Não a sobrecarregue com mais um. Ao escrever, lembre-se que, para a bondosa, um é pouco, dois é bom, três é demais: Beneficência Portuguesa, campanha beneficente.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 16 de setembro de 2022
GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ ESCREVEU
“A inspiração não avisa.”
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 15 de setembro de 2022
VERDE-AMARELO: GRAFIAS
Verde-amarelo: grafias
Na festa da bola, as cores entram em cartaz. Deixam de ser apenas cores. Tornam-se símbolos. Verde e amarelo é Brasil. Vermelho e verde, Portugal. Azul e amarelo, Colômbia. Azul, Uruguai.
Dizem as más línguas que o Brasil tem mania de grandeza. Será? Pelo sim, pelo não, vale lembrar a grafia das cores que o representam. Há dois jeitinhos de escrevê-las. Um: verde-amarelo. O outro: verde e amarelo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 14 de setembro de 2022
VOLTAR ATRÁS: PLEONASMO?
A grita foi geral. Resultado: fica o dito pelo não dito. A Agência Nacional de Saúde Suplementar voltou atrás. Revogou a norma que avançava no bolso dos segurados — previa a cobrança de até 40% de coparticipação dos procedimentos dos clientes de planos de saúde e definia regras para a aplicação de franquia em convênios médicos. Ops! Pintou a dúvida. Voltar atrás é pleonasmo? Não. Para ter o sentido de retroceder, o verbo voltar necessita do atrás.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 13 de setembro de 2022
MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: PROJETO DE LEI
“O Congresso Nacional aprovou a legislação via Projeto de Lei”, escrevemos na pág. 7. Projeto de lei & cia são substantivos comuns. Escrevem-se com inicial minúscula. Só ganham pedigree quando têm número ou nome (Projeto de Lei 44.510, Lei das Licitações). Melhor: O Congresso Nacional aprovou a legislação via projeto de lei.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 12 de setembro de 2022
HEXA: HÍFEN
“À medida que vai convencendo o país de que tem qualidade técnica para disputar o título de hexa campeão do mundo, a Seleção Brasileira nos une na vitória”, escrevemos na pág. 2. Ops! Bobeamos na grafia de hexacampeão. Hexa pede o tracinho quando seguido de h ou a.No mais, é tudo colado: hexa-homenagem, hexa-advertência, hexacampeão, hexadecimal, hexarreator, hexassubstituto.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 11 de setembro de 2022
ESTADOS UNIDOS: CONCORDÂNCIA
O vice-presidente dos Estados Unidos fez as malas e veio dar uma voltinha neste país tropical. Pintou, então, uma questão. Em frases em que a potência do norte figura como sujeito, o verbo vai para o singular ou plural? Os Estados Unidos perseguem os imigrantes? Persegue os imigrantes?
Nomes próprios no plural constituem verdadeira armadilha. Acompanhados de artigo, concordam com o artigo. Sem o pequenino, ficam no singular: Os Estados Unidos perseguem os imigrantes. O Palmeiras vencerá o campeonato? Minas Gerais fica na Região Sudeste.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 10 de setembro de 2022
PARECE, MAS NÃO É
Maria é cuidadosa leitora de jornais. Presta atenção às notícias. Mas não se descuida da língua. Grafia, concordância, regência, nada escapa da moça pra lá de exigente. Outro dia, ela leu esta frase: “Deputado reavê velho estilo”. Arrepiou-se. Mais um descuidado tropeça no reaver. É que o verbo arma baita cilada. Nela, tropeçam as melhores famílias. Jornalistas também.
Você consegue identificar a falha que enfureceu Maria?
a. Ao escrever “reavê”, o repórter desconheceu a origem do verbo. Pensou que reaver fosse derivado de ver (eu vejo, ele vê). b. O significado de reaver não é adequado à frase. Recuperar cai melhor.
E daí?
Escolheu a letra a? Acertou. Reaver parece derivado de ver. Mas não é. O pai dele é haver. O danadinho significa haver de novo. Em outras palavras, recobrar, recuperar. Por isso se fala em reaver o tempo perdido, reaver os bens, reaver a amizade.
Conjugação
Filho de peixe sabe nadar. Reaver só se conjuga nas formas em que o v, de haver, aparece. Nas demais, ele não tem vez. O presente do indicativo tem duas pessoas. Uma: reavemos. A outra: reaveis.
Sem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo, o presente do subjuntivo inexiste. Não caia na esparrela do “reaveja”. “Reaveja” não existe. Em vez desse horror, diga recupere, recobre.
Olho vivo
O perigo mora no pretérito perfeito. Os distraídos o flexionam como se o pobrezinho descendesse de ver. Não falta quem escreva “reaviu”. Cruz-credo! O pretérito perfeito de haver é houve. De reaver, é reouve, reouveste, reouve, reouvemos, reouvestes, reouveram.
Moleza
Os demais tempos e modos são moleza: reavia, reavíamos, reaviam; reouvera, reouveras, reouveram; reaverei, reaverás, reaverá; reaveria, reaveríamos, reaveriam. E por aí vai. Teste
Está pra lá de certa a frase: a. Talvez ele tenha reavisto as jóias roubadas. b. Talvez ele tenha reavido as jóias perdidas. Acertou?
Moleza, não? O particípio de haver é havido. De reaver, reavido.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 09 de setembro de 2022
REPETIR DE NOVO: REDUNDÂNCIA
Depende. Repetir é dizer outra vez. Você repetiu só uma vez? Não use de novo. Mais de uma vez? Ufa! É de novo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 08 de setembro de 2022
ANOS SESSENTA
Domingo chegou ao fim. A turma do chopinho estava pronta pra pagar a conta e preparar-se para o batente da segunda. Pintou, então, a questão. Anos sessenta? Anos sessentas? O grupo se dividiu. De um lado, o time do s. De outro, do não-s. O vencedor pouparia o rico dinheirinho. E daí?
Ganhou a turma do não. É que as aparências enganam. Há três palavras escondidas prontas pra enganar os distraídos. Daí o singular: anos (da década de) sessenta, anos (da década de) setenta, anos (da década de) noventa.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 07 de setembro de 2022
O PODER DA VÍRGULA
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) completou 100 anos em 2009. Na ocasião, publicou texto em que demonstra o poder do dono da palavra. Não precisou de muito esforço. Um simples deslocar de vírgulas deu o recado. Quer ver?
A vírgula
A vírgula pode ser uma pausa. Ou não:
Não, espere.
Não espere.
A vírgula pode criar heróis:
Isso só, ele resolve.
Isso, só ele resolve.
Ela pode reforçar o que você não quer:
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
Pode acusar a pessoa errada:
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.
A vírgula pode mudar uma opinião:
Não quero ler.
Não, quero ler.
Uma vírgula muda tudo.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 06 de setembro de 2022
O BEBÊ? A BEBÊ?
A menininha nada de braçadas. Ela é o bebê. É, também, a bebê. Elas são os bebês. Ou as bebês.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 05 de setembro de 2022
EXTORQUIR: REGÊNCIA
Extorquir não é lá coisa boa. Significa obter por violência, ameaças ou ardis. O verbo tem uma manha. Seu objeto direito tem de ser coisa. Nunca pessoa. Extorque-se alguma coisa. Não alguém: Fiscais extorquiram dinheiro de comerciante. A polícia tentou extorquir o segredo. Extorquiram a fórmula ao cientista.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 04 de setembro de 2022
TAMBÉM: EMPREGO
“Vistoria feita pelo Ministério Público Federal e mais duas entidades em 28 comunidades terapêuticas constata também privação de liberdade e trabalhos forçados dos pacientes”, escrevemos na pág. 4. Viu? O também sobra. A razão: ele indica adição. Como não vem nenhuma informação antes, não há o que adicionar.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 03 de setembro de 2022
ÚLTIMA VOLTA DOS PONTEIROS
Leitor comenta: “Nesta Copa, os locutores mantêm os relógios com ponteiros, para que possam dizer: `Vamos para a última volta dos ponteiros do relógio. Uma volta desnecessária ao passado e um erro: só um dos ponteiros dá a última volta: o dos minutos´”.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 02 de setembro de 2022
SEQUER: EMPREGO
“Não ficou sequer uma hora na reunião”, escrevemos na pág. 3. Nota 10. Sequer deve sempre ser acompanhado de negação: Não sabe sequer onde deixou os óculos. Não acertou, sequer, a questão que envolvia as quatro operações. Não consegue, sequer, identificar a rua onde mora.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 01 de setembro de 2022
A, O OU LHE?
Ops! Os três são pronomes pessoais do caso oblíquo. Quando empregar um e outro?
Lhe tem duas funções. Uma: objeto indireto — complementa verbo transitivo indireto. É o caso de oferecer, agradecer, obedecer: Ofereci-lhe um cafezinho (quem oferece oferece alguma coisa a alguém). Agradeço-lhe o favor (quem agradece agradece alguma coisa a alguém). Obedecemos-lhe sem discussão (quem obedece obedece a alguém).
A outra: funciona como adjunto adnominal. Substitui o possessivo seu, sua, dele, dela: Acariciou-lhe os cabelos (acariciou seus cabelos). Invejou-lhe o vestido (invejou vestido dela). Encheu-lhe os bolsos de balas (encheu seus bolsos de balas).
O a e o o funcionam como objeto direto: João ama Maria. (João a ama). O diretor cumprimentou os funcionários (o diretor os cumprimentou). Comprei o material exigido pela escola (comprei-o). Vi a professora entrando no shopping (vi-a entrando no shopping).
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 31 de agosto de 2022
AGRADECER: REGÊNCIA
Agradeço-o? Nãooooo! Agradeça com elegância. O verbo pede objeto direto de coisa e indireto de pessoa. Assim: Agradeceu o presente. Agradeceu ao pai. Agradeceu o presente ao pai.
Na substituição do alguém pelo pronome, é a vez do lhe: Agradeço-lhe pela colaboração. Agradeço-lhe a atenção. Agradeci-lhe os cuidados com as crianças.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 30 de agosto de 2022
PREFIXO ANTI
“Manifestantes anti-aborto diante da Catedral de Buenos Aires”, escrevemos na pág. 13. Bobeamos. O prefixo anti- pede hífen quando seguido de h ou de i. No mais, é tudo colado: anti-histórico, anti-higiênico, anti-imperialismo, anti-idade, antiaborto, anticonceptivo, antiestado.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 29 de agosto de 2022
ESTE NA INDICAÇÃO DE TEMPO
Acertamos: este na indicação de tempo
“A floração, típica desta época do ano, também é propícia para a produção de mel”, escrevemos na pág. 21. Viu? Nota 10 para o emprego do demonstrativo. Ao indicar tempo presente, o este pede passagem: esta semana (semana em curso), este mês (junho), este ano (2018).
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 28 de agosto de 2022
CONCORDÂNCIA VERBAL
“São tempos de transição, que nos impõe cautela redobrada”, escrevemos na pág. 4. Viu? Tropeçamos na concordância. O sujeito de impor é o pronome relativo que. O antecedente a que se refere é tempos de transição. Que tal fazer as pazes com o plural? Assim: São tempos de transição, que nos impõem cautela redobrada.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 27 de agosto de 2022
PRESENTEAR & CIA: CONJUGAÇÃO
Vem aí o Dia dos Namorados. Um verbo entra em cartaz. É presentear. Conjugá-lo como manda a gramática pega bem como dar bom-dia no elevador, usar cinto de segurança, pedir licença e dizer obrigado. Como frear e cear, presentear perde o i no nós e vós dos dois presentes — do indicativo e do subjuntivo.
Veja: eu presenteio (freio,ceio), ele presenteia (freia, ceia), nós presenteamos (freamos, ceamos), vós presenteais (freais, ceais), eles presenteiam (freiam, ceiam); que eu presenteie (freie, ceie), ele presenteie (freie, ceie), nós presenteemos (freemos, ceemos), vós presenteeis (freeis, ceeis), eles presenteiem (freiem, ceiem).
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 26 de agosto de 2022
QUEM PODE ESCREVER NA INTERNET?
Não sei por que reclamam que brasileiro não lê, não escreve. As pessoas se esbaldaram de ler e escrever. Afinal, as redes sociais encontraram clientes ideais no Brasil. E elas aceitam tudo. Não há quem não consiga juntar os primos e tios em um grupo para o WhatsApp, ou agregar ex-colegas para formar um conjunto de amigos no Facebook. Quem não consegue está virtualmente morto. Virtualmente, fique claro. Afinal, como já se disse, hoje não se escreve para deixar um legado, para partilhar descobertas, inventos ou simples achados, mas para participar da rede. A unidade básica da sociedade não é mais o indivíduo, mas o grupo, a comunidade virtual, a rede.
O importante não é mais ter ideias, o significativo não é ter vivências, mas compartilhar o que quer que seja: uma paisagem, o namorado novo, a blusinha que se experimentou na loja do shopping, o som incrementado do show em que se conseguiu entrar, viagens para Disney (e suas filas quilométricas de brasileiros dispostos a curtir qualquer atração e dizer que estão no Primeiro Mundo) ou Mendoza (e seus vinhos pesados, para tomar com churrasco quase cru). O importante não é viver, é postar. Outro dia, na Sala São Paulo, duas senhoras embebidas em perfume doce moviam-se, inquietas, enquanto a orquestra atacava, com competência, um concerto de Bach. Enquanto o público aplaudia Alsop e Baldini pelo desempenho feliz, as doces senhoras fotografaram a orquestra, enviaram as fotos pelo celular, felizes por colaborar com a rede, mesmo que em sua ansiedade não tenham apreciado devidamente a música do gênio de Leipzig.
Até pouco tempo atrás, ouvir música era uma vivência, uma experiência na área da sensibilidade que enriquecia, de uma forma ou de outra, a personalidade. Hoje ninguém pensa nisso, mas em fotografar os artistas, gravar seu som e enviá-lo aos membros da rede. Eu mesmo vivi uma experiência desse tipo em uma cidade do interior em que fiz uma palestra: os jovens chegavam com livros de minha autoria e não se preocupavam com autógrafo, queriam mesmo era um selfie que, imediatamente, postavam “provando” terem assistido à palestra. O importante não era viver uma experiência intelectual, mas fazer com que os amigos soubessem que ele tinha ouvido aquela palestra, e a foto existia para documentar o ocorrido.
Enquanto o conhecimento supostamente adquirido em uma palestra poderia passar a fazer parte do patrimônio cultural do estudante, o post que ele colocou não é destinado a durar. Não só ele é entrevisto rapidamente, como logo será superado por outros posts de outros participantes do grupo que falarão sobre algo que experimentaram — uma música, um namorado novo, uma paisagem, uma comida e, em raríssimos casos, um livro.
Assim a rede se transforma em unidade da qual os indivíduos fazem parte. Na verdade o indivíduo passa a ser a rede, pois ela não é um conjunto de unidades, mas a própria unidade. Aquela rede, aquele grupo são indivisíveis, são os próprios indivíduos e eles não passam de componentes da nova unidade. É por isso que as pessoas ficam ansiosas para enviar tudo para a sua rede, pois é fundamental não deixar o indivíduo morrer de inanição.
A facilidade de postar fotos e textos, frases e conceitos, faz que as pessoas cometam, com frequência, um equívoco importante. Sim, todas as pessoas têm o direito de expressar suas ideias. Mas não, não temos a obrigação de respeitar ideias idiotas, mal fundamentadas, raciocínios equivocados ou, simplesmente, notícias falsas. Não se deve confundir o direito democrático de todos se expressarem do jeito que quiserem com o respeito que as pessoas precisam ter com relação à competência e à legitimidade da manifestação expressa.
Sim, você pode dizer o que quiser, redes sociais aceitam tudo, você está no seu direito, mas se você afirma as coisas sem refletir, reproduz notícias falsas, tenta legitimar reflexões imbecis atribuindo-as a nomes famosos, é raso e xucro quando emite as próprias opiniões…não temos nenhuma obrigação de levá-lo a sério. Na verdade, você deveria tomar mais cuidado ao postar suas coisas. No final das contas, embora você se perceba como parte de uma rede fechada e protegida, isso não existe na internet. Sua imbecilidade não ficará mais restrita a âmbito limitado, mas alcançará o mundo. Para o bem e para o mal. Então se poupe. E, principalmente, nos poupe.
JAIME PINSKY
Historiador, professor titular da Unicamp e diretor da Editora Contexto
jaimepinsky@gmail.com
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 25 de agosto de 2022
BUQUÊ DE... PAR DE...: SINGULAR OU PLURAL?
Você gosta de colecionar coisas? Alguns colecionam figurinhas. Outros, selos. Há os que colecionam carrinhos, tampinhas, latas de cerveja ou miniaturas de avião. Vale tudo. Vale, também, chamar a atenção para o português. Coleção de… singular ou plural? O nome do objeto vai para o plural:coleção de selos (não de selo), coleção livros, coleção de cartões postais, coleção de fotografias, coleção de copos. Lógico, não? Ninguém coleciona um objeto. Coleção é sempre plural.
Buquê de flores
Par de sapato ou par de sapatos? Grupo de criança ou grupo de crianças? Buquê de rosa ou buquê de rosas? Antes de responder, pare e pense. O par, seja do que for, tem mais de um, o grupo tem mais de um, o buquê tem mais de um. Logo, o complemento é sempre plural: par de sapatos, grupo de crianças, buquê de rosas. É isso. Você tem um dinheirinho sobrando? Compre um par de sapatos pra você, balas prum grupo de crianças, e um buquê de belas flores pra pessoa amada. Faça a festa.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 24 de agosto de 2022
VERBO CHEGAR: REGÊNCIA
“…ele confessa que muitos caminhoneiros podem não chegar ao Distrito Federal”, escrevemos na pág. 2. Viva! Acertamos a regência do verbo chegar. A gente chega a algum lugar: Chegamos a Brasília. Chegamos a São Paulo. Chegamos ao trabalho. E, claro, os caminhoneiros chegam ao Distrito Federal.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 23 de agosto de 2022
SANTO: PROVÉRBIO
“Santo de casa não faz milagre”, diz o povo sabido. Por quê? Quem vive perto de nós é ceguinho. Ignora nossas qualidades. Mas não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe. Outros descobrem nosso mérito. Viva!
Há provérbios semelhantes em outras línguas. O francês diz “ninguém é grande homem para seu criado”. O inglês prefere “familiaridade gera desprezo”.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 22 de agosto de 2022
SÃO, SANTO, SANTA: ABREVIATURA
A abreviatura de santo, santa e são facilita a vida dos mortais. Escreve-se do mesmo jeitinho — S. Terezinha, S. Carlos, S. André, S. Jorge, S. Maria. S. Agostinho.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 21 de agosto de 2022
SE + INFINITIVO
“Em tempos de batidas policiais nas residências, há de se arranjar um meio de entendimento”, escrevemos na pág. 12. Viu? Tropeçamos no pronome átono se. Ele só acompanha o infinitivo nos verbos pronominais (aposentar-se, formar-se). No mais, não tem vez. Melhor mandá-lo plantar batata no asfalto: Em tempos de batidas policiais nas residências, há de arranjar um meio de entendimento.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 20 de agosto de 2022
MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: PROJETO DE LEI
Erramos: maiúsculas e minúsculas
“O Congresso Nacional aprovou a legislação via Projeto de Lei”, escrevemos na pág. 7. Projeto de lei & cia são substantivos comuns. Escrevem-se com inicial minúscula. Só ganham pedigree quando têm número ou nome (Projeto de Lei 44.510, Lei das Licitações). Melhor: O Congresso Nacional aprovou a legislação via projeto de lei.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 19 de agosto de 2022
CASTANHA-DO-PARÁ, BANHO-MARIA & CIA
Os nomes próprios se escrevem com inicial grandona. É o caso de João, Maria, Pará, Colônia, Brasil. Às vezes, porém, eles entram na composição de substantivos comuns. O resultado é um só. Tornam-se vira-latas: joão-de-barro, castanha-do-pará, água-de-colônia, pau-brasil, banho-maria, maria vai com as outras.
Nome de disciplinas tem pedigree. Português, Inglês, Francês, Espanhol, quando matéria estudada na escola, ganham inicial grandona. As mesmas palavras, ao dar nome a idioma, perdem a majestade. Escrevem-se com a inicial pequenina: No Brasil, fala-se português. O português, o francês, o espanhol são línguas latinas.
Norte, Sul, Leste, Oeste, quando pontos cardeais, são nomes próprios. Mas, se definem direção ou limite geográfico, cessa tudo que a musa antiga canta. As moçoilas põem o rabinho entre as pernas e entram na vala comum: O leste dos Estados Unidos tem grande influência latina. O carro avançava na direção sul. Cruzou o país de norte a sul, de leste a oeste.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 18 de agosto de 2022
SERVIR NO EXÉRCITO
“Eu sempre quis servir o Exército”, escrevemos na pág. 4 de Diversão&Arte. Bobeamos. No sentido de prestar serviço militar, o verbo servir exige a preposição em (servir no Exército, servir na Marinha, servir na Aeronáutica). Melhor: Eu sempre quis servir no Exército.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 17 de agosto de 2022
ESTADOS UNIDOS: CONCORDÂNCIA
O vice-presidente dos Estados Unidos fez as malas e veio dar uma voltinha neste país tropical. Pintou, então, uma questão. Em frases em que a potência do norte figura como sujeito, o verbo vai para o singular ou plural? Os Estados Unidos perseguem os imigrantes? Persegue os imigrantes?
Nomes próprios no plural constituem verdadeira armadilha. Acompanhados de artigo, concordam com o artigo. Sem o pequenino, ficam no singular: Os Estados Unidos perseguem os imigrantes. O Palmeiras vencerá o campeonato? Minas Gerais fica na Região Sudeste.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 16 de agosto de 2022
PARECE, MAS NÃO É
Maria é cuidadosa leitora de jornais. Presta atenção às notícias. Mas não se descuida da língua. Grafia, concordância, regência, nada escapa da moça pra lá de exigente. Outro dia, ela leu esta frase: “Deputado reavê velho estilo”. Arrepiou-se. Mais um descuidado tropeça no reaver. É que o verbo arma baita cilada. Nela, tropeçam as melhores famílias. Jornalistas também.
Você consegue identificar a falha que enfureceu Maria?
a. Ao escrever “reavê”, o repórter desconheceu a origem do verbo. Pensou que reaver fosse derivado de ver (eu vejo, ele vê). b. O significado de reaver não é adequado à frase. Recuperar cai melhor.
E daí?
Escolheu a letra a? Acertou. Reaver parece derivado de ver. Mas não é. O pai dele é haver. O danadinho significa haver de novo. Em outras palavras, recobrar, recuperar. Por isso se fala em reaver o tempo perdido, reaver os bens, reaver a amizade.
Conjugação
Filho de peixe sabe nadar. Reaver só se conjuga nas formas em que o v, de haver, aparece. Nas demais, ele não tem vez. O presente do indicativo tem duas pessoas. Uma: reavemos. A outra: reaveis.
Sem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo, o presente do subjuntivo inexiste. Não caia na esparrela do “reaveja”. “Reaveja” não existe. Em vez desse horror, diga recupere, recobre.
Olho vivo
O perigo mora no pretérito perfeito. Os distraídos o flexionam como se o pobrezinho descendesse de ver. Não falta quem escreva “reaviu”. Cruz-credo! O pretérito perfeito de haver é houve. De reaver, é reouve, reouveste, reouve, reouvemos, reouvestes, reouveram.
Moleza
Os demais tempos e modos são moleza: reavia, reavíamos, reaviam; reouvera, reouveras, reouveram; reaverei, reaverás, reaverá; reaveria, reaveríamos, reaveriam. E por aí vai. Teste
Está pra lá de certa a frase: a. Talvez ele tenha reavisto as jóias roubadas. b. Talvez ele tenha reavido as jóias perdidas. Acertou?
Moleza, não? O particípio de haver é havido. De reaver, reavido.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 15 de agosto de 2022
REPETIR DE NOVO: REDUNDÂNCIA
Depende. Repetir é dizer outra vez. Você repetiu só uma vez? Não use de novo. Mais de uma vez? Ufa! É de novo.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 15 de agosto de 2022
SOLTEIRO: ORIGEM - HOJE É DIA DO SOLTEIRO - 15 DE AGOSTO
Hoje é Dia do Solteiro. Daí a curiosidade: de onde vem a palavra que dá nome à efeméride? Ela vem do latim solitarius. Na língua dos Césares, a polissílaba significava que vive só, separado, carente de convivência. Em Pindorama, passou a designar estado civil — pessoa que não é casada. Hoje pouca gente liga pra aliança no anular esquerdo. Mas, antigamente, a história tinha outro enredo. Quem não encontrava ou demorava a encontrar parceiro era visto com desconfiança e tratado com desdém. Solteirão e solteirona vieram ao mundo por essa razão. Como não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe, a fila andou. As acepções também.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 14 de agosto de 2022
FALAR NÃO É DIZER
Olho vivo! Ao fala ou escrever, lembre-se: falar não equivale a dizer, afirmar, declarar. Significa dizer palavras, expressar-se por meio de palavras: Paulo fala várias línguas. Falou com o governador. Não falará sobre o assunto. O apelo da criança fala ao coração.
Na dúvida, substitua o falar pelo dizer. Se der certo, o falar está no lugar errado. Dê vez ao dizer: O ministro falou (disse) que o Exército vai ficar no Morro da Providência. Quem falou (disse) isso? Viva! Falou e disse.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 14 de agosto de 2022
DIA DOS PAIS: HISTÓRIA
Viva! Hoje, 11 de agosto, é o Dia dos Pais. Todos os dias deveriam ser dedicados a ele. Talvez sejam. Mas o calendário escolheu o segundo domingo de agosto. Por quê? A história vem de longe. Dizem que a homenagem nasceu na Babilônia. Mas, modernamente, veio à luz nos Estados Unidos em 1909.
Sonora Louise Dodd criou a data para provar que se orgulhava do pai. John Bruce Dodd perdeu a mulher em 1898. Cuidou, sozinho, dos seis filhos. A menina escolheu o dia do aniversário dele, 19 de junho, para a comemoração. A iniciativa ganhou apoio. Em 1966, o então presidente Lyndon Johnson bateu o martelo. Oficializou o terceiro domingo de junho como Dia dos Pais nos States.
No Brasil
Aqui, paizinhos e paizões ganharam seu dia em 1953. A primeira festa foi em 14 de agosto. A escolha não se deve ao acaso. Coincide com o aniversário de São Joaquim, pai de Maria e avô de Jesus. Depois a data foi transferida para o segundo domingo de agosto. Por quê? Por três razões. Uma: fica mais fácil de lembrar. Outra: a maioria das pessoas não trabalha. A última: o comércio, claro, fatura mais.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 13 de agosto de 2022
O PODER DA VÍRGULA
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) completou 100 anos em 2009. Na ocasião, publicou texto em que demonstra o poder do dono da palavra. Não precisou de muito esforço. Um simples deslocar de vírgulas deu o recado. Quer ver?
A vírgula
A vírgula pode ser uma pausa. Ou não:
Não, espere.
Não espere.
A vírgula pode criar heróis:
Isso só, ele resolve.
Isso, só ele resolve.
Ela pode reforçar o que você não quer:
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
Pode acusar a pessoa errada:
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.
A vírgula pode mudar uma opinião:
Não quero ler.
Não, quero ler.
Uma vírgula muda tudo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 12 de agosto de 2022
PLURAL INADEQUADO
“As mulheres merecem os nossos respeitos”, escrevemos na pág. 8. Respeitos? O plural sobra. Xô! Melhor: As mulheres merecem o nosso respeito.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 11 de agosto de 2022
TRAVESSÃO E VÍRGULA
“A guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo — China e Estados Unidos — deve piorar o crescimento econômico global e afetar a recuperação lenta do Brasil”, escrevemos na pág. 5. Viva! O travessão, quando isola aposto, agradece, mas não aceita vírgula depois do segundo sinal. Exemplo: Brasília — a capital do Brasil — localiza-se no Planalto Central.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 10 de agosto de 2022
INDEPENDENTE E INDEPENDENTEMENTE: EMPREGO
“O advogado João Paulo Boaventura não acredita em prisão imediata independentemente do resultado”, escrevemos na pág. 2. Nota 10. Costumamos confundir independente (livre) com independentemente (sem levar em conta): O Brasil ficou independente de Portugal em 1822. Fará a viagem independentemente do valor do dólar.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 09 de agosto de 2022
ÚLTIMA VOLTA DOS PONTEIROS
Leitor comenta: “Nesta Copa, os locutores mantêm os relógios com ponteiros, para que possam dizer: `Vamos para a última volta dos ponteiros do relógio. Uma volta desnecessária ao passado e um erro: só um dos ponteiros dá a última volta: o dos minutos´”.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 08 de agosto de 2022
PRESENTEAR & CIA: CONJUGAÇÃO
Vem aí o Dia dos Namorados. Um verbo entra em cartaz. É presentear. Conjugá-lo como manda a gramática pega bem como dar bom-dia no elevador, usar cinto de segurança, pedir licença e dizer obrigado. Como frear e cear, presentear perde o i no nós e vós dos dois presentes — do indicativo e do subjuntivo.
Veja: eu presenteio (freio,ceio), ele presenteia (freia, ceia), nós presenteamos (freamos, ceamos), vós presenteais (freais, ceais), eles presenteiam (freiam, ceiam); que eu presenteie (freie, ceie), ele presenteie (freie, ceie), nós presenteemos (freemos, ceemos), vós presenteeis (freeis, ceeis), eles presenteiem (freiem, ceiem).
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 07 de agosto de 2022
DESCRIMINAR E DISCRIMINAR: DIFERENÇA
Descriminar pertence à família de crime. Significa inocentar, absolver de crime. O prefixo des– dá ideia de negação. Assim como desobedecer quer dizer não obedecer.
Discriminar quer dizer tratar de forma diferente: A sociedade brasileira discrimina o pobre; a americana, o negro.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 06 de agosto de 2022
GANHAR, PERDER, EMPATAR: REGÊNCIA
Importante não é ganhar. É competir. Será? Talvez seja isso mesmo. Mas é bom saber lidar com os três resultados possíveis na prática esportiva. Um é ganhar. Outro, empatar. O indesejado: perder. Ganhe, empate ou perca, seja elegante. Use a preposição correta:
1. O time ganha de outro por ou de: O Brasil ganhará da Suíça por 3 a 0 (ou de 3 a 0).
2. O time perde para outro por ou de: A Suíça perderá para o Brasil por 3 a 0 (ou de 3 a 0).
3. O time empata com outro por ou de: A Suíça empatará com o Brasil por 3 a 3 (ou de 3 1 3).
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 05 de agosto de 2022
DESPERDÍCIO DE VÍRGULAS
“É um nome da dramaturgia, que veio, para ficar”, escrevemos na capa de Diversão&Arte. Reparou no desperdício? Gastamos vírgulas sem necessidade. Melhor poupá-las: É um nome da dramaturgia que veio para ficar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 04 de agosto de 2022
ESTE NA INDICAÇÃO DE TEMPO
Acertamos: este na indicação de tempo
“A floração, típica desta época do ano, também é propícia para a produção de mel”, escrevemos na pág. 21. Viu? Nota 10 para o emprego do demonstrativo. Ao indicar tempo presente, o este pede passagem: esta semana (semana em curso), este mês (junho), este ano (2018).
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 03 de agosto de 2022
CONCORDÂNCIA VERBAL
“São tempos de transição, que nos impõe cautela redobrada”, escrevemos na pág. 4. Viu? Tropeçamos na concordância. O sujeito de impor é o pronome relativo que. O antecedente a que se refere é tempos de transição. Que tal fazer as pazes com o plural? Assim: São tempos de transição, que nos impõem cautela redobrada.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 02 de agosto de 2022
PRESENTEAR & CIA: CONJUGAÇÃO
Vem aí o Dia dos Namorados. Um verbo entra em cartaz. É presentear. Conjugá-lo como manda a gramática pega bem como dar bom-dia no elevador, usar cinto de segurança, pedir licença e dizer obrigado. Como frear e cear, presentear perde o i no nós e vós dos dois presentes — do indicativo e do subjuntivo.
Veja: eu presenteio (freio,ceio), ele presenteia (freia, ceia), nós presenteamos (freamos, ceamos), vós presenteais (freais, ceais), eles presenteiam (freiam, ceiam); que eu presenteie (freie, ceie), ele presenteie (freie, ceie), nós presenteemos (freemos, ceemos), vós presenteeis (freeis, ceeis), eles presenteiem (freiem, ceiem).
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 01 de agosto de 2022
QUEM PODE ESCREVER NA INTERNET?
Não sei por que reclamam que brasileiro não lê, não escreve. As pessoas se esbaldaram de ler e escrever. Afinal, as redes sociais encontraram clientes ideais no Brasil. E elas aceitam tudo. Não há quem não consiga juntar os primos e tios em um grupo para o WhatsApp, ou agregar ex-colegas para formar um conjunto de amigos no Facebook. Quem não consegue está virtualmente morto. Virtualmente, fique claro. Afinal, como já se disse, hoje não se escreve para deixar um legado, para partilhar descobertas, inventos ou simples achados, mas para participar da rede. A unidade básica da sociedade não é mais o indivíduo, mas o grupo, a comunidade virtual, a rede.
O importante não é mais ter ideias, o significativo não é ter vivências, mas compartilhar o que quer que seja: uma paisagem, o namorado novo, a blusinha que se experimentou na loja do shopping, o som incrementado do show em que se conseguiu entrar, viagens para Disney (e suas filas quilométricas de brasileiros dispostos a curtir qualquer atração e dizer que estão no Primeiro Mundo) ou Mendoza (e seus vinhos pesados, para tomar com churrasco quase cru). O importante não é viver, é postar. Outro dia, na Sala São Paulo, duas senhoras embebidas em perfume doce moviam-se, inquietas, enquanto a orquestra atacava, com competência, um concerto de Bach. Enquanto o público aplaudia Alsop e Baldini pelo desempenho feliz, as doces senhoras fotografaram a orquestra, enviaram as fotos pelo celular, felizes por colaborar com a rede, mesmo que em sua ansiedade não tenham apreciado devidamente a música do gênio de Leipzig.
Até pouco tempo atrás, ouvir música era uma vivência, uma experiência na área da sensibilidade que enriquecia, de uma forma ou de outra, a personalidade. Hoje ninguém pensa nisso, mas em fotografar os artistas, gravar seu som e enviá-lo aos membros da rede. Eu mesmo vivi uma experiência desse tipo em uma cidade do interior em que fiz uma palestra: os jovens chegavam com livros de minha autoria e não se preocupavam com autógrafo, queriam mesmo era um selfie que, imediatamente, postavam “provando” terem assistido à palestra. O importante não era viver uma experiência intelectual, mas fazer com que os amigos soubessem que ele tinha ouvido aquela palestra, e a foto existia para documentar o ocorrido.
Enquanto o conhecimento supostamente adquirido em uma palestra poderia passar a fazer parte do patrimônio cultural do estudante, o post que ele colocou não é destinado a durar. Não só ele é entrevisto rapidamente, como logo será superado por outros posts de outros participantes do grupo que falarão sobre algo que experimentaram — uma música, um namorado novo, uma paisagem, uma comida e, em raríssimos casos, um livro.
Assim a rede se transforma em unidade da qual os indivíduos fazem parte. Na verdade o indivíduo passa a ser a rede, pois ela não é um conjunto de unidades, mas a própria unidade. Aquela rede, aquele grupo são indivisíveis, são os próprios indivíduos e eles não passam de componentes da nova unidade. É por isso que as pessoas ficam ansiosas para enviar tudo para a sua rede, pois é fundamental não deixar o indivíduo morrer de inanição.
A facilidade de postar fotos e textos, frases e conceitos, faz que as pessoas cometam, com frequência, um equívoco importante. Sim, todas as pessoas têm o direito de expressar suas ideias. Mas não, não temos a obrigação de respeitar ideias idiotas, mal fundamentadas, raciocínios equivocados ou, simplesmente, notícias falsas. Não se deve confundir o direito democrático de todos se expressarem do jeito que quiserem com o respeito que as pessoas precisam ter com relação à competência e à legitimidade da manifestação expressa.
Sim, você pode dizer o que quiser, redes sociais aceitam tudo, você está no seu direito, mas se você afirma as coisas sem refletir, reproduz notícias falsas, tenta legitimar reflexões imbecis atribuindo-as a nomes famosos, é raso e xucro quando emite as próprias opiniões…não temos nenhuma obrigação de levá-lo a sério. Na verdade, você deveria tomar mais cuidado ao postar suas coisas. No final das contas, embora você se perceba como parte de uma rede fechada e protegida, isso não existe na internet. Sua imbecilidade não ficará mais restrita a âmbito limitado, mas alcançará o mundo. Para o bem e para o mal. Então se poupe. E, principalmente, nos poupe.
JAIME PINSKY
Historiador, professor titular da Unicamp e diretor da Editora Contexto
jaimepinsky@gmail.com
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 31 de julho de 2022
FALSO PLURAL
“As esculturas de bronze têm 3m de altura e são obras de Alfredo Ceschiatti”, escrevemos na pág. 23. Viu? Embarcamos no falso plural. Deixa-se no singular o substantivo abstrato que, depois de verbo de ligação (ser, estar, virar, ficar) caracterize genericamente o sujeito plural: Ex-governadores são alvo da PF. Atletas brasileiros são destaque na Copa. As esculturas de bronze são obra de Alfredo Ceschiatti.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 30 de julho de 2022
SOPRAR OU ASSOPRAR AS VELAS?
Você gosta de festa de aniversário? Todo mundo adora. A gente encontra os amigos, come salgadinhos, bate papos interessantes, ouve boa música e, depois, canta o parabéns pra você. O aniversariante faz o que deve fazer. Apaga as velinhas. Aí, pinta a questão. Ele sopra ou assopra as velas? Tanto faz. As duas formas estão pra lá de certas. O felizardo pode soprar ou assoprar as velas. O resultado é um só. Um bolo pra lá de saboroso. Prepare-se.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 29 de julho de 2022
PARALELISMO
“EUA sobretaxam europeus, Canadá e México”, escrevemos na pág. 7. Viu? Tropeçamos no paralelismo. Misturamos adjetivo (europeus) com substantivos (Canadá e México) no complemento composto. Melhor respeitar o paralelismo: EUA sobretaxam Europa, Canadá e México. EUA sobretaxam europeus, canadenses e mexicanos.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 28 de julho de 2022
SANTOS JUNINOS & CIA: COMO ESCREVÊ-LOS
Três santos recebem homenagem em junho. Um deles é Santo Antônio. Outro, São João. O último, São Pedro. Os dois primeiros são os mais visados. Antônio, por ser casamenteiro. João, por proporcionar festas que alegram adultos e crianças. De tão populares, avançam no mês de julho. Daí serem festas juninas ou julinas.
Brincadeirinhas
Ora é santo, ora são. As duas palavrinhas têm o mesmo significado. Querem dizer indivíduo que foi canonizado. São é forma apocopada. Preguiçosa, deixou a última sílaba no caminho como frei (freire), bel (belo), mui (muito).
Grandonas
São Paulo, São Pedro, Santo Antônio & cia. têm pontos comuns. Um deles: são nomes próprios. Escrevem-se, por isso, com inicial maiúscula.
A vez de cada um
Quando dar a vez a são e a santo? Use santo quando seguido de nome iniciado por vogal ou h (Santo Antônio, Santo Agostinho, Santo Hilário). Dê passagem ao são nos demais casos (São Bento, São Carlos, São Caetano). Exceção? No duro, no duro, só uma. É Santo Tirso. Há dois indecisos: São Tomás ou Santo Tomás, São Borja ou Santo Borja.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 27 de julho de 2022
SE + INFINITIVO
“Em tempos de batidas policiais nas residências, há de se arranjar um meio de entendimento”, escrevemos na pág. 12. Viu? Tropeçamos no pronome átono se. Ele só acompanha o infinitivo nos verbos pronominais (aposentar-se, formar-se). No mais, não tem vez. Melhor mandá-lo plantar batata no asfalto: Em tempos de batidas policiais nas residências, há de arranjar um meio de entendimento.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 26 de julho de 2022
SÍNTESE
“As inscrições começam em 25 de junho, e os testes serão em 15, 16 e 23 de setembro”, escrevemos na primeira página. Viu? Reverenciamos a síntese. Ao indicar datas, dispensamos “no dia”. O texto agradece. O leitor também.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 25 de julho de 2022
PSICOLOGIA: ORIGEM DA PALAVRA
Cupido e Psiquê se casaram. Antes, combinaram que ela nunca veria o rosto do deus do amor. Uma noite, a mulher não resistiu. Enquanto ele dormia, ela acendeu uma vela. Ficou tão encantada com a linda figura que deixou cair cera quente no corpo do amado. Ele acordou. E se foi. Até hoje Psique chora. Sofre de tristeza, arrependimento e saudade. O jeito é procurar profissional que cura as dores da alma. É o psicólogo, cujo nome nasceu de Psique.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 24 de julho de 2022
ESTE, ESSE OU AQUELE?
Os pronomes este e esse dão nó na cabeça. Ariscos, não se deixam captar. Quando empregar um? Quando é a vez do outro? O pior é que o papel deles é bem definido. Eles são parecidos, mas não iguais. Versáteis, têm três empregos:
1 – indicam situação no espaço:
Para entender esse emprego, lembre-se das pessoas do discurso. Discurso, aí, significa conversa. As pessoas do discurso são as que tomam parte de uma conversa.
Para haver conversa, são necessárias três pessoas. Algumas interessantes, outras nem tanto. Quem são elas? Uma fala (1ª pessoa), uma escuta (2ª pessoa) e o assunto, que é a pessoa de que se fala (3ª).
Imagine que Rafael telefone para João e lhe pergunte se viu o filme Indiana Jones. No caso, Rafael fala. É a 1ª pessoa. João escuta. É a 2ª. Do que eles falam? Do filme. É a 3ª.
Este: diz que o objeto está perto da pessoa que fala (eu, nós): esta sala (a sala onde a pessoa que fala ou escreve está);
este livro (o livro que temos em mão), este blog (o blog no qual estou escrevendo).
Esse: diz que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (você, tu): essa sala (a sala onde está a pessoa com quem falamos ou a quem escrevemos), esse livro (o livro está perto da pessoa com quem falamos), essa instituição (a instituição em que o leitor está).
Aquele: diz que o objeto está longe da pessoa que fala e da pessoa com quem se fala: aquele quadro (o quadro está longe das duas pessoas), aquele cartaz, aquela torre.
2 – indicam situação no tempo:
Este: tempo presente: esta semana (a semana em curso), este mês (mês em curso), este ano (ano em curso)
Esse / aquele: tempo passado (esse: passado próximo; aquele: passado remoto): Estive em Granada em 1992. Nesse (naquele) ano, visitei toda a Andaluzia.
Eis um nó. Como saber se o passado é próximo ou remoto? Depende de cada um. O tempo é psicológico. Uma hora com dor de dente é uma eternidade. Se for à noite, nem se fala. São duas eternidades.
3 – indicam situação no texto (é o caso que oferece maior dificuldade):
Este: exprime referência posterior (anuncia-se o fato que será referido depois): Lula disse esta frase: “Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer”.
Reparou? A frase é anunciada: “disse esta frase”. Depois, expressa: “Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer”.
Veja outro exemplo: Clóvis Rossi fez esta pergunta: “Marina, mito ou blefe?” (a pergunta é anunciada: “fez esta pergunta”, depois, formulada).
Esse: referência posterior (o fato é referido antes; depois, retomado): “Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer.” Essa frase foi dita por Lula.
“Marina, mito ou blefe?” O artigo que responde a essa pergunta está transcrito na edição de hoje do Correio.
Dica
Ao indicar situação no texto, siga este conselho. Na dúvida, use esse. Você tem 90% de chance de acertar.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 23 de julho de 2022
BOICOTE: ORIGEM
Postos elevam o preço de combustíveis. O motorista, sem alternativa, paga. Mas põe a boca na rede. Denuncia quem abusa do direito de abusar. As consequências, como repete o conselheiro Acácio, vêm depois. Os clientes sumirão. Que doooooooooooor! Atingirão a parte mais sensível do comércio. Vale, pois, conhecer a origem da poderosa criatura.
Boicote vem do nome de Charles Cunningham Boycott. Ele administrava propriedades de Charles Parmell. Em 1890, o latifundiário irlandês decidiu meter a mão no bolso dos inquilinos. Elevou o aluguel às alturas e encarregou Boycott de executar a ordem.
As vítimas reagiram: a população deixou de falar com o pau-mandado, os comerciantes pararam de vender pra ele, os carteiros se negavam a lhe entregar a correspondência, o padre lhe barrou o acesso à igreja. Resultado: Boycott bateu asas e sumiu. A única notícia que se tem dele é a herança — a palavra boicote.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 22 de julho de 2022
POSSÍVEL E PROVÁVEL: DIFERENÇA
O noticiário da semana? Foi a greve dos caminhoneiros. À medida que a paralisação ganhava força, jornalistas procuravam explicações e novidades. Convocados, analistas faziam previsões. Ao responder à pergunta se era possível haver queda no preço dos combustíveis, um deles respondeu: “É possível, mas não provável”. Telespectadores ficaram confusos. Afinal, o preço vai cair ou não?
Jogar luz sobre a questão exige entender a diferença entre possível e provável. Possívelé o que pode ocorrer ou ser feito. Há possibilidade? Então é possível. Provável, o que deve ocorrer, que apresenta probabilidade de ocorrer: Sem estudar, é possível passar no vestibular de medicina, mas não provável. É possível, mas não provável, que eu ganhe a MegaSena. Se ele se nega a apostar, não é possível ganhar na loteria.
É isso. Parecido não é igual. Mas dá nó nos miolos.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 21 de julho de 2022
PLURAL SOFISTICADO: ESCRIVÃO
PLURAL SOFISTICADO: ESCRIVÃO
Viva! Fábio Pina conseguiu furar o bloqueio dos comentários. Ao ler a nota “Plural sofisticado”, levantou questão que lhe dá nó nos miolos há anos. Como saber o plural do diminutivo de escrivão se a gente nem sabe o plural correto?
O Dicionário Houaiss dá a resposta. O plural de escrivão é escrivães. O diminutivo singular, escrivãozinho. O diminutivo plural, escrivãezinhos. É isso, Fábio. Quem procura, acha.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 20 de julho de 2022
REDUÇÃO: O PORQUÊ DO Ç
“Os fatos levaram à redução do preço do diesel”, escreveu o jornal. Curioso, o leitor fixou o olhar no ç. Depois, perguntou por que a letrinha exótica estava lá. No lugar dela, podiam figurar os dois ss. A pronúncia se manteria.
É que o português não é filho de robô. E, porque não é filho de robô, tem pai e mãe. Tem regras. Os verbos terminados em -uzir formam substantivos grafados com ç. É o caso de reduzir (redução), produzir (produção), seduzir (sedução), conduzir (condução).
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 19 de julho de 2022
FALTA E FALTAS: FLEXÃO
O verbo da vez? É faltar. A paralisação dos caminhoneiros fez os brasileiros tremerem nas bases. Combustível podia sumir das bombas. Remédios desaparecerem das farmácias. Comida escassear nos supermercados. O noticiário espalhava terror. Não pelas informações, mas pelos maus-tratos na língua. Era um tal de “falta frutas”, “faltou medicamentos”, “faltou táxis”. Cruz-credo.
Olho vivo! O dissílabo tem o hábito pouco saudável de armar ciladas. Quando o sujeito vem depois do verbo, o danado dá a impressão de que se trata do objeto. Aí, não dá outra. Descuidados tropeçam na armadilha. Como escapar? Basta pôr o sujeito na frente do verbo: Frutas faltam. Faltam frutas. Medicamentos faltaram. Faltaram medicamentos. Táxis faltaram. Faltaram táxis.
Sem confusão
Germano não é gênero humano. Faltar é verbo. Falta, substantivo. Ao falar na falta de, nada de flexão: falta de combustível, falta de combustíveis, falta de recursos, falta de amigos, falta de boas notícias.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 18 de julho de 2022
AUTOSSUFICIENTE: O PORQUÊ DA GRAFIA
O Brasil é autossuficiente em petróleo? Auto-suficiente? Auto– pede hífen quando seguido de h e de o (duas letras iguais se rejeitam). No mais, é tudo colado. Para manter a pronúncia, dobram-se o r e o s quando forem seguidos de palavra iniciada por essas letrinhas: auto-higiene, auto-obrigação, autodidata, autossuficiente, autorrepressão.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 17 de julho de 2022
ORA E HORA: COMO NÃO CONFUNDIR
Hora ou ora? Olho vivo! Uma letra faz a diferença. Hora quer dizer 60 minutos. Ora significa agora, neste momento. Veja: Ganha R$ 10 por hora de trabalho. Por ora, estou desempregado.
Superdica
Na dúvida, seja esperto. Troque seis por meia dúzia: Ganha R$ 10 por 60 minutos de trabalho. Por agora, estou desempregado.
É isso. O h é letra muda. Não fala, mas ajuda. Ou atrapalha.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 16 de julho de 2022
CHAMAR A ATENÇÃO
“Salário, que pode chegar a R$ 15 mil no fim da carreira, foi um dos elementos que mais chamaram a atenção dos concurseiros”, escrevemos na pág. 7. Viva! A expressão chamar a atenção exige sempre o artigo. Dizer chamar atenção? Nãooooooooo! O trio fica desequilibrado.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 15 de julho de 2022
CARECER OU CARECER DE?
Olho nas afinidades! Carecer pertence à gangue de precisar e necessitar. Os três pedem a preposição de: O partido carece de líderes. O trabalhador precisa de oportunidades. Necessito de mais tempo para concluir a pesquisa.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 14 de julho de 2022
PLURAL SOFISTICADO
Junho nem chegou. Mas os balões começam a causar estragos. Grandes ou pequenos, as belezuras luminosas respondem, até agora, por 500 incêndios no Rio. Restringir-lhes a subida provoca esperneios. Adultos e crianças não concebem festas juninas sem colorir o céu.
A discussão trouxe à tona assunto pra lá de sofisticado. Trata-se do plural de balãozinho. É balãozinhos? Balõezinhos? Balõesinhos?
Ops! Alguns plurais de diminutivos exigem três etapas. Uma: o plural da palavra primitiva. Duas: o corte do s. A última: o acréscimo do s no diminutivo. Assim:
balão — balões — balõezinhos
botão — botões — botõezinhos
animal — animais — animaizinhos
papel — papéis — papeizinhos
mulher — mulheres — mulherezinhas
pão — pães — pãezinhos
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 13 de julho de 2022
DERIVADOS DE PALAVRAS ESTRANGEIRAS: COMO ESCREVER?
Filho de peixe peixinho é? É. A hereditariedade não pesa só nos reinos animal e vegetal. Pesa também no linguístico. Por isso as palavras derivadas seguem as primitivas. Sem vacilar, ficam no encalço de pai e mãe.
Se a primitiva se escreve com s, a derivada não hesita. Vai atrás. Se com z, x, ch ou qualquer outra letra, também. Pode ser adjetivo, verbo, substantivo. A regra vale pra todos. Exemplos pululam a torto e a direito.
Eis alguns: atrás, atraso, atrasar, atrasado; exame, examinar, examinador, examinado; fazer, fazedor, fiz, fez; cheio, encher, enchente; charco, encharcar, encharcado; paralisia, paralisar, paralisante, paralisação.
A origem é levada tão a sério que nem os nomes estrangeiros escapam. Mas lidar com eles exige algo mais que o respeito à família. Os importados ficam no meio do caminho. Eles têm um olho na nacionalidade. O outro, na língua portuguesa. Em outras palavras: respeitam a grafia original. Depois, acrescentam os sufixos ou prefixos como se a palavra fosse 100% nacional.
O resultado é híbrido – meio estrangeiro, meio português. Mas tem seu charme. Veja: Freud (freudiano), Marx (marxismo, marxista), Hollywood (hollywoodiano), Spielberg (sipelberguismo, spelberguiano), Kant (kantiano, pós-kantismo), Byron (byronismo, byroniano), Shakespeare (shakespeariano), Bach (bachianas), Hobbes (hobbesiano), Sarney (sarneysismo), Taylor (taylorismo), Thatcher (thatcherismo), Weber (weberniano, pré-werberiano), windsurf (windsurfista), kart (kartismo, kartódromo).
Percebeu? A estrutura original do vocábulo permanece. Ela transmite o significado da palavra. É como o sobrenome. Com ele se identifica a família.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 12 de julho de 2022
PROPRIEDADE VOCABULAR: OPÇÃO X ALTERNATIVA
Atenção, gente fina. Muitos caem no modismo. Usam opção e alternativa como sinônimos. Mas sinônimos não são. A precisão vocabular impõe a diferença. Veja:
Opção = saída, possibilidade, recurso: Antes de decidir, avaliou as opções que lhe ofereciam. Na prova com cinco possibilidades de respostas, duas opções eram muito parecidas. Fiquei em dúvida.
Alternativa = escolha entre duas opções. Por isso, fuja de outra alternativa ou única alternativa. Por quê? A alternativa é sempre outra. Se não há outra, só pode ser única: Perdi o voo. A alternativa foi esperar o próximo. Não havia alternativa para o problema. E agora? Qual a alternativa?
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 11 de julho de 2022
ACENTO DO DITONGO ABERTO EI
“O presidente da Assembléia Nacional Constituinte, deputado Ulisses Guimarães, denominou-a de `Constituição Coragem´”, escrevemos na pág. 13. Bobeamos. A reforma ortográfica cassou o acento do ditongo aberto ei. Agora, ideia, panaceia,assembleia & cia. se escrevem livres e soltos, sem grampinho.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 10 de julho de 2022
CONJUGAÇÃO DE INTERVIR
“Às 8h30, uma camareira ouviu gritos de socorro, mas ninguém interveio”, escrevemos na pág. 23. Viva! Nota 10 para a conjugação do verbo intervir. Derivado de vir, ele se flexiona do mesmo jeitinho do paizão: eu venho (intervenho), vem (intervém), vimos (intervimos), vêm (intervêm); vim (intervim), veio (interveio), viemos (interviemos), vieram (intervieram). E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 09 de julho de 2022
REFORMA ORTOGRÁFICA
Sérgio Pedro Schneider anda apreensivo. A razão: levou anos pra aprender as manhas dos porquês. Junto, separado, com acento, sem acento — são tantos os caprichos que não foi mole arranjar-lhes um lugar na cabeça. Agora, vem a reforma ortográfica.
Na semana passada, Portugal aderiu ao acordo. As mudanças, pelo andar da carruagem, devem entrar em vigor no ano que vem. Por isso, ele pergunta: com as novas regras, como ficarão os arteiros por que, por quê, porque e porquê?
Respire fundo, Sérgio. O acordo ortográfico não se meteu na vida das oxítonas. Só se preocupou com as paroxítonas. As alterações mandam plantar batata no asfalto:
a. os ditongos éi, ói: idéia e jóia se escreverão ideia, joia
Abra os olhos: só o grampinho das paroxítonas se vai. O das oxítonas e o dos monossílabos tônicos permancem firmes e fortes: papéis, herói, dói.
b. o chapéu do ditongo ôo: vôo, abençôo e perdôo viram vira voo, abençoo e perdoo.
c. o circunflexo do hiato ê.em que aparece na 3ª pessoa do plural dos verbos ler, ver, crer, dar e derivados: eles lêem, vêem, crêem, dêem, relêem & cia. se grafarão eles veem, creem, deem, releem.
d. Os acentos diferenciais usados em pêlo, pélo, pára, pólo, pêra. Eles ganharão forma mais leve — pelo, para, polo, pera.
Atenção, atenção! Mantém-se o chapéu de pôde e do verbo pôr (monossílabo).
e. o agudão do u tônico dos verbos apaziguar, averiguar, argüir S.A: apazigúe, averigúe, argúem se grafarão apazigue, averigue, arguem.
f. o i e u antecedidos de ditongo perdem o grampo. Feiúra vira feiura.
Resumo da opereta
Viu, Sérgio? Os porquês não foram atingidos. Os acentos dos manhosos que você tanto ama caem nas oxítonas (o porquê) e nos monossílabos. A reforma os ignorou. Só botou olho grande nas paroxítonas. Por isso, continue a esnobar:
E as meninas por que não vieram conosco ?
Só levantou agora por quê?
Não foi à aula porque estava com febre.
Não sei o porquê de atitude tão grosseira.
Por falar em reforma…
As outras mudanças? Ei-las:
1. O alfabeto engorda. Com a entrada do k, w e y, passa a ter 26 letras.
2. O trema some.
3. O hífen troca seis por meia dúzia. Mantém a confusão.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 08 de julho de 2022
NOME DE ESTADO – COM OU SEM ARTIGO?
A febre amarela matou nove pessoas. Elas moravam em Brasília, Minas, Mato Grosso. Exerciam profissões diferentes. Mantinham contas bancárias de peso e tamanho variados. Apesar da diversidade, todas praticaram um ato antes de perder a vida — passaram por Goiás. Ali, o mosquito Aedes aegypti as picou. Infectado, transmitiu a doença.
O noticiário trouxe o estado às manchetes. E suscitou dúvidas. Alguns dizem Goiás. Sou de Goiás. Morei em Goiás. Passei por Goiás. Outros, o Goiás. Sou do Goiás. Morei no Goiás. Passei pelo Goiás. Eta confusão! Afinal, o nome pede ou não pede o ozinho?
Acredite: Goiás tem alergia ao artigo. Diante dele, fica vermelho, inchado, cheio de erupções cutâneas. Por isso, pede piedade. Por que não atendê-lo? Livre-o do indesejado. Sem ele, o estado exibe todo o charme e lembra os ilustres da terra.
Conhece? Cora Coralina morou em Goiás. Carolina Ferraz nasceu em Goiás e se mudou para o Rio. Leonardo deixou Goiás para ganhar o Brasil.
Os goianos não lamentam a debandada das celebridades locais. Aplaudem-nas estejam onde estiverem. Eles sabem de pormenor pra lá de importante. Goiano que é goiano sai de Goiás, mas Goiás não sai dele.
Como saber?
O nome de outros estados também provoca confusão. É o caso de Mato Grasso, Mato Grosso do Sul, Tocantins. Eles pedem artigo? As dúvidas são muitas. As respostas, difíceis. Como safar-se? Há um caminho infalível pra chegar lá. Chama-se dicionário. A gente procura o verbete do gentílico. O paizão dirá “natural de, do, da”. Se aparecer de, o artigo não tem vez. Se do, da, o pequenino terá passagem franca. Veja:
Mato-grossense — o natural ou habitante de Mato Grosso
Mato-grossense-do-sul — o natural ou habitante de Mato Grosso do Sul
Tocantinense — o natural de Tocantins
Baiano — o natural da Bahia
Amazonense — o natural do Amazonas
Pernambucano — o natural de Pernambuco
E por aí vai.
Na prática
Quer exemplos? Ei-los:
Mato Grosso fica na Região Centro-Oeste. Visitei Mato Grosso.
Trabalho em Mato Grosso. Cheguei de Mato Grosso.
Mato Grosso do Sul já foi Mato Grosso. Estudei em Mato Grosso do Sul. Na viagem, você passou por Mato Grosso do Sul?
Quem vai passar o carnaval na Bahia? Você já foi à Bahia? Caetano nasceu na Bahia.
O Amazonas é o estado que melhor preserva a floresta. Vamos passar as férias no Amazonas?
Outra súplica
Sergipe está no mesmo barco de Goiás. O pobre estado, sem saber por que nem pra que, passou a ser chamado de “o Sergipe”. Inimigo incondicional do artigo, ele esperneia, arranca os cabelos, chora e grita. Em desespero, suplica aos falantes da língua portuguesa:
— Lembrem-se, por favor. Eu me chamo Sergipe. Tenho belas praias e recebo muito bem os turistas. Venham a Sergipe.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 07 de julho de 2022
VERBO, O SENHOR DA FALA
(Esta coluna circula no caderno Ga,barito do Correio Braziliense, às segundas-feiras.)
Eles disseram:
“Os mortos não se reconheceriam se pudessem ler seus necrológios.”
Carlos Drummond de Andrade
Verbo, o senhor da fala
54 — pôr, ver, reter
O maltratado
Não há escapatória. Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come. Os jornais esnobam o futuro do subjuntivo há algum tempo. A TV provoca um arrepio depois do outro. Os charmosos apresentadores dizem com a maior sem-cerimônia “quando ele pôr, se ele ver, assim que ele reter”.
Os produzidos personagens das novelas não ficam atrás. Erram todas. O futuro do subjuntivo está lá, confundido com o infinitivo. “Afinal, o que aconteceu?”, perguntam os amigos. “Uma grande confusão”, reconhecem. O futuro morreu da insidiosa moléstia chamada semelhança.
Em muitos verbos, ele se parece com o infinitivo (a forma que dá nome ao verbo: cantar, vender, partir). Os simplistas acham que ele é o filho do infinitivo (quando eu chegar, você chegar, nós chegarmos, eles chegarem). Mas o pai dele é outro. É o pretérito perfeito do indicativo. Mais precisamente a 3ª pessoa do plural. Sem o -am final.
Vem, paizão
Quando eu pôr ou puser? Se eu vir ou ver? Se eu vier ou vir? Assim que ele reter ou retiver? Dúvidas. Dúvidas. Dúvidas. Qual a saída? Só há uma. Recorrer ao pai. Conjugar o verbo no pretérito perfeito, velho conhecido de todos. Depois, fixar-se só na 3ª pessoa do plural. Sem o am final, temos o filho legítimo. Sem disfarces.
Quando ele pôr ou puser? Pretérito perfeito: eu pus, ele pôs, nós pusemos, eles puser(am).
Futuro do subjuntivo: quando eu puser, você puser, nós pusermos, vocês puserem.
Se eu vir ou vier? O pai: eu vim, você veio, nós viemos, eles vier(am).
O filho: se eu vier, ele vier, nós viermos, eles vierem.
Assim que nós virmos ou vermos? O primitivo: eu vi, ele viu, nós virmos, eles vir(am).
O derivado: assim que eu vir, ele vir, nós virmos, eles virem.
Se eu ter ou tiver? Sem preguiça, conjuguemos o pretérito perfeito: eu tive, ele teve, nós tivemos, eles tiver(am).
O futuro do subjuntivo: se eu tiver, ele tiver, nós tivermos, eles tiverem.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 06 de julho de 2022
MEDIAR & CIA
Mediar & cia.
Colômbia, Equador e Venezuela estão com as relações azedadas. A razão: a Interpol confirmou o já sabido. Quito e Caracas protegem os guerrilheiros das Farc. Pra evitar conflitos na América do Sul, a turma do deixa-disso busca um jeito de dar um jeito. Reunida em Lima, quer encontrar um mediador que saiba conjugar o verbo mediar. A tarefa não é fácil. Um a um, os candidatos tropeçaram na flexão. Talvez a tarefa caia no colo do Brasil.
Pra desemepnhar bem o honroso papel, o Itamaraty precisa conhecer a gangue do MARIO. Ela é composta de cinco verbos. A letra inicial de cada um forma o nome da galera: m de mediar, a de ansiar, r de remediar, i de incendiar e o de odiar.
O mais complicado é justamente mediar. Depois, remediar. A moçada é useira e vezeira em dizer “ele media, ele remedia”. Nada feito. Pra acertar sempre, vale a pena recorrer ao odiar. Ele é velho conhecido e todos terminam do mesmo jeitinho. Veja:
Presente do indicativo: odeio (anseio, medeio, remedeio, incendeio), odeia (anseia, medeia, remedeia, incendeia), odiamos (ansiamos, mediamos, remediamos, incendiamos), odeiam (anseiam, medeiam, remedeiam, incendeiam)
Pretérito perfeito: odiei (ansiei, mediei, remediei, incendiei), odiou (ansiou, mediou, remediou, incendiou), odiamos (ansiamos, mediamos, remediamos, incendiamos), odiou (ansiou, mediou, remediou, incendiou).
E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 05 de julho de 2022
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 04 de julho de 2022
SUICIDAR-SE – DÚVIDA DE LEITORA
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 03 de julho de 2022
ANEXO E EM ANEXO: EMPREGO
Em anexo é locução adverbial. Equivale a anexamente. Apresenta-se sempre com a mesma cara: Em anexo, encaminho os documentos. Em anexo, encaminho a correspondência.
Sempre com vírgula? Não. A vírgula depende da colocação do termo na frase. Em anexotem o lugar dele. É no fim da oração. Se estiver lá, nada de vírgula: Encaminho os documentos em anexo.
Mas, como criança arteira, vive mudando de lugar. Ora aparece no começo da oração, ora no meio. Deslocado, vírgula nele: Em anexo, encaminho os documentos solicitados. Encaminho, em anexo, os documentos solicitados.
Anexo pertence a outra gangue. Adjetivo, flexiona-se segundo o substantivo: Anexa, encaminho a carta. Anexas, encaminho as cartas. Anexo, encaminho o ofício. Anexos, encaminho os ofícios.
A pontuação? Se anexo vem antes do objeto, não duvide. É vez da vírgula: Anexa, encaminho a carta. Encaminho, anexa, a carta.
Na ordem direta, fica assim: Encaminho a carta anexa. Reparou? É ambígua. Parece que anexa é qualidade permanente da carta. Na verdade, o recado é este — encaminho a carta que está anexa. A carta não é anexa. Está anexa. A clareza é a maior qualidade do estilo. Anexa, na ordem direta, compromete-a. Dá duplo sentido à frase. Xô!
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 02 de julho de 2022
ADEUS, MARINA - MEIO AMBIENTE E ECO
Adeus, Marina - Meio ambiente e eco
Marina Silva não agUentou as pressões. Pediu a bolsa e caiu fora. Com a saída da ministra seringueira, o Brasil conjuga o verbo perder. A floresta perde a defensora. O país perde prestígio no exterior.
Pra nós ficam duas lições relacionadas à grafia. Uma: meio ambiente se escreve soltinho, sem hífen. A outra: o prefixo eco- vem sempre juntinho com a palavra que o segue. Ambos parecem unha e carne: ecologia, ecolouco, ecossistema.