Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 30 de abril de 2023
TRABALHAMOS PARA MELHORAR O RESULTADO? TRABALHAMOS PARA MELHORARMOS O RESULTADO?
Ambas estão corretas. Trata-se do infinitivo flexionado. Nessa forma verbal, só se exige a flexão se o sujeito da segunda oração for diferente da primeira: Maria chegou cedo / para os filhos irem ao teatro. O Congresso mudou a lei / para os médicos serem beneficiados.
No seu exemplo, Eduardo, trata-se do mesmo sujeito (nós). A flexão é facultativa. Prefiro o singular porque deixa a frase mais leve. O desnecessário sobra: Estamos trabalhando para melhorar os resultados. Saímos mais cedo para comemorar o aniversário da Maria. Correram para pegar o ônibus.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 29 de abril de 2023
ÍDOLO, MONSTRO & CIA.: MASCULINO OU FEMININO?
Vítima joga no time de criança, pessoa, criatura, indivíduo, ídolo, gênio, anjo, testemunha, cônjuge, defunto & cia. Todos têm o mesmo gênero para o masculino e feminino. A pessoa, a criança, o defunto podem se referir a homem e a mulher. Como sair da enrascada?
Impõe-se distinguir o gênero. É fácil. Basta fornecer indicações que esclareçam o ouvinte ou o leitor: A criança que sofreu o acidente é uma menina de 3 anos. A criança que ganhou a partida é um menino de 8 anos.
Mais: A testemunha João da Silva estava atenta. A testemunha Maria Souza chegou com atraso. Fernanda Montenegro é ídolo dos amantes do teatro. Pelé é ídolo dos esportistas. Meu neto é um anjo. Minha neta é um anjo. Bibi Ferreira foi monstro dos palcos. Paulo Autran foi outro monstro.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 28 de abril de 2023
MICHAEL JORDAN: TALENTO E EQUIPE
“O talento vence jogos. Mas só o trabalho em equipe ganha campeonatos.”
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 27 de abril de 2023
HÍFEN: A IRA DE DEUS
A Terra tinha uma só língua e um só modo de falar. Ninguém precisava estudar inglês, francês, alemão ou árabe. Todos se entendiam. A harmonia reinava. “Que monotonia”, bocejaram os homens. “Vamos agitar?” Pensa daqui, palpita dali, eureca! Decidiram construir uma torre que os levasse ao céu — a Torre de Babel. Nas alturas, as coisas seriam mais animadas.
A obra subiu célere. Deus, ao ver a ousadia, irou-se. O castigo veio sem demora – a criação de 6.800 línguas. Os pedreiros não entenderam mais o mestre de obras, que não entendeu mais o engenheiro, que não entendeu mais o arquiteto, que não entendeu mais os fornecedores. O esqueleto ficou ali, inacabado. Babel virou substantivo comum. Significado: confusão de línguas.
Caos divino
Sem comunicação, as criaturas se dispersaram. Pior: cada língua recebeu punição à parte. O chinês ficou com os milhares de ideogramas. O inglês, com a escrita diferente da pronúncia. O francês, com a praga dos acentos. O alemão, com as palavras coladas, tão compridas quanto a cobra que tentou Eva no paraíso.
E o português? Ganhou o hífen. Deus pegou um montão de hifens na mão direita, um montão de palavras na esquerda e jogou tudo pro alto. O resultado? A confusão que todos conhecem. Algumas palavras se ligaram com hífen. Outras se colaram como unha e carne. Houve também as que dobraram letras.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 26 de abril de 2023
O PODER 360 GRAUS TROPEÇOU NO PORQUÊ
“Uma tarefa urgente: entender porque os trumpismos são fortes”, escreveu o Poder 360 Graus. Viu? Tropeçou no porquê.
O porquê ora aparece junto. Ora separado. Ora com acento. Ora sem o chapeuzinho. Não há quem não hesite na hora de escrever uma forma ou outra. Muitos chutam. Mas, como a língua não é loteria, o que pode dar errado dá. Melhor aprender as manhas da caprichosa criatura. Use:
Por que
- nas perguntas diretas: Por que os trumpismos são fortes?
- nos enunciados em que é substituível por “a razão pela qual”: Uma tarefa urgente: entender por que (a razão pela qual) os trumpismos são fortes.
Por quê
A dupla com chapéu só tem vez quando o quezinho for a última — a última mesmo — palavra da frase. Por quê? Ele é átono. No fim do enunciado, torna-se tônico. O acento lhe dá a força: Os trumpismos são fortes por quê? Os trumpismos são fortes, mas poucos sabem por quê.
Porque
Com essa cara, juntinho, sem lenço nem documento, porque é conjunção causal ou explicativa: Os trumpismos são fortes porque têm apoio de poderosos.
Porquê
Assim, coladinho e com chapéu, o porquê se torna substantivo. E, como substantivo, tem plural. Para mudar de classe, precisa da companhia do artigo ou de pronome: Explicou o porquê da força dos trumpismos. Certos porquês quebram a cabeça da gente. Esse porquê se inspira em outro porquê.
Resumo da ópera
Não há por que temer os porquês. Quem entendeu a lição sabe por quê.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 25 de abril de 2023
JORGE AMADO: VIVER E CONVIVER
“Se viver não é fácil, conviver é desafio permanente.”
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 24 de abril de 2023
ESTUPRO: PRONÚNCIA, ETIMOLOGIA E CURIOSIDADE
O estupro de Mariana Ferrer virou manchete. Frequentou os noticiários de Europa, França e Bahia. Mas aqui ganhou ingrediente adicional. Trata-se da pronúncia. Muitos trocam letras de lugar. Dizem “estrupo”. O r, contrariado, bate pé e exige o lugar que o dicionário lhe dá — a última sílaba. “Os últimos serão os primeiros”, afirma convicto o estupro.
Origem
Estupro deriva do latim stuprum. Ao longo da vida, a palavra ganhou dois sentidos. O primeiro: mancha, desonra, vergonha. O segundo: violência, atentado ao pudor — crime que consiste em constranger alguém a manter relações sexuais por meio da força.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 23 de abril de 2023
ESTUPRO OU ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR?
Até 2009, a vítima de estupro era só mulher. Nesse ano, a Lei 12.015 promoveu alterações no Código Penal. Revogou o crime de atentado ao pudor e o fundiu ao de estupro. Em português claro: o crime contra a dignidade sexual desconhece gênero.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 22 de abril de 2023
ESTUPRO CULPOSO? CONTA OUTRA!
Mário Quintana disse que a mentira é a verdade que se esqueceu de acontecer. Pensando nisso, o juiz Rudson Marcos, ao julgar o empresário André de Camargo Aranha, que estuprou Mariana Ferrer, criou a tal história do “estupro culposo”.
Baseou-se na classificação de crime. O culposo ocorre quando não há a intenção de matar. Uma criança, brincando na sacada do 3º andar, deixa o vaso de flores cair. O objeto atinge a cabeça de um jovem, que perde a vida. Vamos combinar: nem a mais fértil das fantasias poderia supor que a criaturinha quis matar o passante.
O crime doloso muda de enredo. Ou a maldade é planejada tim-tim por tim-tim, ou o bandido tem a consciência do risco que corre. Ao estuprar a moça, o ilustre senhor sabia que estava praticando ato ilegal. Foi em frente. O advogado, vulgo Gastãozinho, defendeu a tese esdrúxula. O homem não teve a intenção de estuprar? Conta outra.
Sobre o caso
“Falar em estupro culposo é machismo doloso.” (Novartis)
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“Chegou um boleto culposo aqui em casa. É quando você compra sem intenção de pagar.” (anônimo)
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“O sistema de Justiça deve ser instrumento de acolhimento, jamais de tortura e humilhação.” (Gilmar Mendes)
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“Pelos meus clientes, vou até o inferno, mas não entro nele.” (Gastãozinho, advogado do estuprador)
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 21 de abril de 2023
VICTOR HUGO: A PALAVRA
“A palavra, como se sabe, é um ser vivo.”
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 20 de abril de 2023
ADERIR: CONJUGAÇÃO
Outubro se foi. Com ele, o rosa se despiu de prédios e monumentos. A cor símbolo do feminino cedeu o trono ao azul, marca do masculino. A mudança tem explicação. Mulheres e homens precisam conjugar o verbo prevenir em vez de remediar. Detectar o câncer de mama ou de próstata com antecipação é receita certa de cura. Se deixar o mal avançar, a história muda de enredo. Olho vivo!
Que tal dizer sim à campanha? O primeiro passo é conjugar o verbo aderir. Ele joga no time de prevenir. Um e outro se conjugam do mesmo jeitinho: prefiro (adiro), prefere (adere), preferimos (aderimos), preferem (aderem); preferi (aderi), preferiu (aderiu), preferimos (aderimos), preferiram (aderiram). E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 19 de abril de 2023
DEZ MIL VACINAS. DOIS MILHÕES DE VACINAS: POR QUE FEMININO E MASCULINO?
Mil é numeral. A concordância se faz com o substantivo que o acompanha: Duas mil vacinas. Dois mil registros. Cento e duas mil mortes. Cento e dois mil registros. Espera-se a presença de duas mil crianças. Espera-se a presença de dois mil garotos.
Milhão é substantivo masculino (o milhão, um milhão). A concordância se faz com ele: um milhão de vacinas, dois milhões de vacinas, dois milhões de homens, dois milhões de mulheres, dois milhões de doses de vacina, os dois milhões de doses de vacina.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 18 de abril de 2023
PREFEITÁVEL OU PREFEITURÁVEL?
Covas, Marta Rocha & cia. são prefeitáveis ou prefeituráveis? Eles são prefeitáveis — candidatos a prefeito. Prefeituráveis são as pessoas aptas a trabalhar numa prefeitura, incluído o prefeito.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 17 de abril de 2023
FAVAS CONTADAS: ELEIÇÃO E HISTÓRIA CURIOSA
Sabia? A expressão favas contadas tem tudo a ver com eleições. Foi há muuuuuuuito tempo. No Império, o voto eram favas. As brancas dizim sim. As pretas, não. Na apuração, separavam-se as cores. Venciam as que tinham o maior número. Sem choro nem vela.
Com o tempo, a duplinha abandonou as urnas, bateu asas e voou. Ganhou a boca do povo e novos empregos. Mas manteve fidelidade ao significado original. Favas contadas é fato consumado: A eleição de Biden são favas contadas. Trump dizia que sua reeleição eram favas contadas. Enganou-se.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 16 de abril de 2023
HENRY THOREAU: PODER DA LEITURA
“Muitos homens iniciaram nova era na vida a partir da leitura de um livro.”
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 15 de abril de 2023
HINO DA BANDEIRA TIM-TIM POR TIM-TIM
Viva! Hoje é Dia da Bandeira. O pendão da esperança tremula no ar. O símbolo nacional nasceu em 1889, pouco depois da Proclamação da República. A obra não se deve a um só homem. Vários brasileiros ajudaram na tarefa. Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos se encarregaram do projeto. Décio Valadares, da arte. Desenhou o retângulo verde, o losango amarelo, o círculo azul e a faixa branca.
O hino veio mais tarde. O prefeito do Rio de Janeiro Francisco Pereira Passos teve a ideia. Convidou o poeta Olavo Bilac para compor a letra. E Francisco Braga, professor da Escola Nacional de Música, para bolar a música. Em 1906, a prefeitura adotou a canção. A meninada nas escolas a interpretava. Todos aplaudiam. Aos poucos, a moda pegou. Os militares aderiram. Os estados também.
Desafios
Hoje o hino enfrenta dois problemas. Um deles: poucos o cantam. O outro: poucos o entendem. É natural. Ele completou 114 anos. Em um século, a língua muda. Palavras se aposentam. Gostos se alteram. A ordem inversa, antes o chique do chique, perdeu prestígio. Cedeu lugar à ordem direta.
E daí? Nada de reclamações estéreis. O jeito é dar um jeito: ganhar intimidade com estrofes & cia. Em homenagem ao pendão verde-amarelo, a coluna dá uma ajudinha a alunos, professores e curiosos. Põe os versos em ordem direta. E, de quebra, troca os vocábulos metidos a besta por outros mais simples. Resultado: o leão é mando como o leão lá de casa.
Hino da Bandeira
Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da pátria nos traz.
(Salve, linda bandeira da esperança, salve, símbolo majestoso da paz, tua nobre presença nos traz à lembrança a grandeza da pátria.)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil.
(Recebe o carinho guardado em nosso peito jovem, querido símbolo da terra, da amada terra do Brasil.)
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
(Tu retratas este céu de azul puríssimo, o verdor ímpar destas matas e o esplendor do Cruzeiro do Sul em teu interior formoso.)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil.
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.
(Compreendemos o nosso dever ao olhar o teu vulto sagrado. E o Brasil, amado pelos filhos, poderoso e feliz há de ser.)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil.
Sobre a imensa nação brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre, sagrada bandeira,
Pavilhão da justiça e do amor.
(Sagrada bandeira, bandeira da justiça e do amor, esteja sempre sobre a enorme nação brasileira nos momentos de festa ou de dor.)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 14 de abril de 2023
POR QUE, POR QUÊ, PORQUE E PORQUÊ? DEPENDE.
Lucas Matos é leitor atento do jornal. Presta atenção às notícias e à forma como são contadas. Outro dia, escreveu um desabafo: “O blogue falou mais de uma vez sobre o emprego dos porquês. Mas repórteres nem sempre leem as lições. Até o chargista se descuida”. Que tal um repeteco?” Leitor manda, não pede. Lá vai.
4 caras
Por que? Por quê? Porque? Porquê? É um deus nos acuda. Ora a dupla vem coladinha. Ora, separada. Às vezes com acento. Outras, sem lenço nem documento. Quem entende? É um nó nos miolos. Há dois empregos pra lá de conhecidos.
Gente de casa, quase todo mundo os domina. Na época em que a escola ensinava e o aluno aprendia, a meninada decorava: na pergunta, o parzinho é separado. Se o quê estiver no fim da frase, no fim mesmo, encostado no ponto, leva circunflexo. Caso contrário, vem soltinho da silva:
Por que e por quê
Paulo, por que você chegou atrasado?
Paulo, você chegou atrasado por quê?
Maria, você é sempre tão atenta, mas anda distraída. Por que será?
Maria, você sempre tão atenta, mas anda distraída. Por quê?
Porque
A resposta à questão é fácil como tirar pirulito de bebê. O parzinho vem colado. É a conjunção causal:
Paulo chegou atrasado porque acordou tarde.
Maria anda distraída porque está apaixonada.
Porquê
O porquê, assim – juntinho e enchapelado –, joga no time dos substantivos. É sinônimo de causa, razão, motivo. Ele apresenta duas marcas. Uma: tem plural. A outra: vem acompanhado de artigo, numeral ou pronome. Quer ver?
Agora entendo o porquê dos porquês.
Eis o porquê da distração de Maria.
Esse porquê poucos entendem.
O primeiro porquê é mais fácil que o segundo.
Por que e por quê (de novo)
Esse porquê parece repeteco do primeiro. Parece, mas não é. Ele ganhou destaque porque representa um senhor perigo. Gente muito boa tropeça nele e cai como patinho ingênuo que nada no lago. O que fazer? Dar um jeito. Entender-lhe as manhas. Desvendado o mistério, a verdade é uma só – o diabo não é tão feio quanto o pintam. É malandro. Contra ele, malandragem e meia.
Vamos aos fatos:
O porquê separado sem estar em pergunta é construção preguiçosa. Aparece pela metade. Sem muita disposição para o batente, deixa subentendidos os substantivos a razão, a causa, o motivo:
Gostaria de saber (a razão) por que Paulo chegou atrasado.
É possível me dizer (o motivo) por que Júlia odeia Bia?
Ainda não sabemos (as causas) por que o Brasil invadiu o Paraguai.
Viu? Antes do porquê está escondidinho um substantivo. Ele não aparece. Mas conta. É que a língua, engenhosa, o omite. Os distraídos caem na armadilha. Os sabidos têm um macete. Sempre que o porquê for substituível por a razão pela qual, não duvidam. É um lá e outro cá. Se estiver no fim da linha, colado no ponto, ganha chapéu:
Não entendi por que (a razão pela qual) Paulo chegou atrasado.
Paulo tentou, mas não conseguiu explicar por que (a razão pela qual) chegou atrasado.
Este é o melhor filme do ano. Vá ao cinema e descubra por quê (a razão pela qual).
No livro Intermitências da morte, de José Saramago, as pessoas deixaram de morrer. Foi difícil saber por quê (a razão pela qual elas deixaram de morrer).
Resumo da ópera
Descobrir o porquê dos porquês não é nenhum bicho de sete cabeças. Basta aprender por que uns se escrevem juntinhos; outros, separados. E abrir os olhos para as manhas dos acentos. Os chapeuzinhos têm seu porquê.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 13 de abril de 2023
PRONÚNCIA, BELEZAS E MESAS: GRATUITO & CIA.
Carla é linda. Loura, olhos azuis, peso de manequim, pernas longas, andar ondulado como as ondas do mar. Ela tem um sonho. Quer fazer televisão. Qualidades não lhe faltam. Submeteu-se a teste na CNN. Fotogênica, ultrapassou o primeiro obstáculo. Depois, veio a prova de locução. O texto era simples, mas cheio de ciladas. Numa, ela caiu como sereia:
— A entrada é gratuita.
A bela pôs um baita acento no i. Bobeou. Esqueceu-se de lição pra lá de repetida. Gratuito joga no time de circuito e fortuito. O ui forma ditongo. As duas letrinhas se pronunciam numa só emissão de voz. Ficam na mesma sílaba.
É isso. Beleza nem sempre põe mesa.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 12 de abril de 2023
QUE OU QUÊ? TESTE
Acento e pronúncia formam par inseparável. Agudo e circunflexo só caem sobre a sílaba tônica. Em dissílabos, trissílabos e polissílabos, descobrir a fortona é fácil como passar criança pra trás na fila. Com os monossílabos, porém, a história muda de enredo. Os pequeninos obedecem às mesmas regras das oxítonas. Acentuam-se os terminados em a, e e o seguidos ou não de s: está (dá), estás (dás), pajé (dê), pajés (dês), vovó (dó), vovós (dós).
A cilada
Nada de especial. Por que, então, o quê dá nó nos miolos? Porque o danado muda de time a torto e a direito. Ora é conjunção. Ora pronome. Ora substantivo. A primeira equipe não dá problemas. Apresenta-se sempre com a mesma cara. As duas outras dão enxaqueca. Às vezes pedem chapéu. Outras vezes dispensam o acessório. Você sabe lidar com as estripulias delas? Antes de responder, faça o teste. Ponha o acento onde ele couber:
Teste
Leio e escrevo sem dificuldade. Mas um que sempre me deu nó nos miolos. Trata-se da grafia do que. Com acento? Sem acento? Insegura, chuto. Acerto? Qual o que! A Lei de Murphy fala alto. O que pode dar errado dá. Fazer o que? A resposta é uma só. Estudar o que dos ques. Desvendados os mistérios do monossílabo, fica uma certeza. O que não é tão feio quanto parece. Veja por que.
Passo a passo
Você merece nota 10 se conseguiu distinguir as equipes:
1º time
A equipe da conjunção se apresenta com a mesma cara – sem acento: Disse que acabará o estágio em dezembro. Saia mais cedo, que o metrô não circula hoje.
2º time
As outras provocam dor de cabeça. Por duas razões. De um lado, a criatura tem o poder da mobilidade. Salta daqui para ali como macaco salta de galho. De outro, varia de classe gramatical. Passa de pronome a substantivo com a facilidade com que trocamos de camiseta. Nós pagamos o pato da estripulia. O preço é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:
- Quando o quê for substantivo. Aí será antecedido de pronome, artigo ou numeral. Como todo nome, tem plural:
Modelos na passarela têm um quê de sedutor. Qual o mistério dos quês? Este quê não me confunde mais. Corte os quês da redação. Belo quê você introduziu no discurso. Quem mandou?
- Quando o quê for a última palavra da frase – a última mesmo, coladinha no ponto: Trabalhar pra quê? Riu, mas não disse por quê. Você se atrasou por quê? Ele se ofendeu com quê? Quero saber a razão do emprego desse quê.
Xô, mistério
É isso. Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à própria insignificância. Redatores que arrancam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: não há por que temer o quê. Ele é mais manso que o gatinho lá de casa.
Resultado do teste
Transito bem pela língua portuguesa. Leio e escrevo sem dificuldade. Mas um quê sempre me deu nó nos miolos. Trata-se da grafia do quê. Com acento? Sem acento? Insegura, chuto. Acerto? Qual o quê! A Lei de Murphy fala alto. O que pode dar errado dá. Fazer o quê? A resposta é uma só. Estudar o quê dos quês. Desvendados os mistérios do monossílabo, fica uma certeza. O quê, como o cão chupando manga, não é tão feio quanto parece. Veja por quê.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 11 de abril de 2023
MICHAEL JORDAN: A PERFEIÇÃO
“Se você for contratado para varrer a rua, faça-o como Shakespeare escreveu, como Bethoven compôs e como Michelangelo esculpiu.”
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 10 de abril de 2023
A TURMA DO PEGA BEM: CINCO DIQUINHAS ÚTEIS
Que tal entrar na turma do pega bem? Pega bem dar bom-dia ao entrar no elevador. Pega bem pedir desculpas ao perturbar alguém. Pega bem usar o cinto de segurança. Pega bem respeitar a faixa de pedestres. Pega bem, sobretudo, reverenciar a língua.
Dois mandamentos
A internet revolucionou a leitura e a escrita. É tal a avalanche de informação que ser lido tornou-se o luxo do luxo. Olho vivo! Mensagens que enchem a tela dão preguiça. São deletadas. Os esbanjadores verbais têm de se conter e abrir passagem para mensagens econômicas. Elas obedecem a dois mandamentos. Um: menor é melhor. O outro: menos é mais.
Acaricie os ouvidos
Quem fala quer ser ouvido, entendido e apreciado. Tem, por isso, de pronunciar as palavras como manda o dicionário. Dizer récord? Nem pensar. Recorde rima com concorde. Referir-se ao Prêmio Nóbel? Valha-nos, Deus. Nobel soa como anel, painel e papel. E ruim? Ruim joga no time de Serafim e Joaquim. A sílaba tônica é im (ru-ím). Rubrica é paroxítona como fabrica, lubrifica e sacrifica. Subsídio pertence à equipe de subsolo. Com a duplinha, o z não tem vez. Xô!
Ops!
Você é aficionado por mídias sociais? Se a resposta for positiva ou negativa, guarde isto: aficionado tem só um c.
Economize o artigo
Não bobeie. Expressões construídas com pronome possessivo se usam sem artigo: a meu ver, a meu lado, a seu pedido, a nosso bel-prazer (não: ao meu ver, ao meu lado, ao meu pedido).
Olho vivíssimo, moçada. A ponto de, no sentido de prestes a, segue o mesmo princípio: Esteve a ponto de disputar a eleição. Chegou a ponto de morrer. Mas escapou.
Bom apetite
Não se precipite. Você quer aquela carninha medianamente assada, que dá água na boca? Peça sem medo de errar um bife… ao ponto.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 09 de abril de 2023
EMPATIA É ISTO
Empatia
A comunicação pode romper ou fortalecer vínculos. O cooperativismo joga no segundo time. Por isso, nas entrelinhas, é preciso estar explícito o valor das relações. Ponha-se no lugar do outro sem julgamentos.
A escuta respeitosa tem requisitos: abertura e vontade real de compreender o que é indispensável para todos conviverem, produzirem e inovarem juntos no cotidiano e nos processos estabelecidos de trabalho. Trata-se de escolha. As palavras são flexíveis como arbustos. Prestam-se para o bem e para o mal.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 08 de abril de 2023
ABREVIATURA DE QUILO É...
A abreviatura de quilograma kg. É sem-sem-sem —escreve-se sem espaço, sem ponto e sem plural: 200kg.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 07 de abril de 2023
APAGÃO E BLECAUTE: ETIMOLOGIA
O Amapá sofreu apagão ou blecaute? São duas nacionalidades. Apagão é espanhola. Blecaute, inglesa. Ambas dizem a mesma coisa e fazem os mesmos estragos. Apagam a luz, descongelam o freezer, deixam os noveleiros a ver navios. Valha-nos, Deus!
Mega
O apagão foi tão sério que a imprensa o chama de mega-apagão. Assim, com tracinho. Mega obedece à regra dos prefixos. Pede o hífen em duas ocasiões:
- Quando seguido de h: mega-história, mega-homenagem, mega-higiene.
- Quando duas letras iguais se encontram. No caso, mega termina com a. Caso se encontre com outro a, ocorre curto-circuito. O hífen evita a tragédia: mega-abraço, mega-apagão, mega-acontecimento.
No mais, é tudo colado: megaoperação, megaespetáculo, megassistema, megarretrato, megablecaute.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 06 de abril de 2023
PONTO E VÍRGULA: QUANDO USAR (2)
Montaigne, há 400 anos, ensinou que o estilo tem três virtudes – clareza, clareza e clareza. A razão é simples. Mário Quintana a expôs num texto divertido. Disse ele: “O autor pensa uma coisa, escreve outra, o leitor entende outra, e a coisa propriamente dita desconfia que não foi dita”.
O ponto e vírgula é fã da clareza. Daí a importância de saber empregá-lo e, com isso, facilitar a vida do leitor que se deixará conquistar pelo enunciado fácil e sem ambiguidade. Quer ver? Examine esta frase:
João trabalha no Senado, Pedro trabalha na Câmara, Carlos trabalha no banco, Beatriz trabalha na universidade, Alberto trabalha no shopping.
O período está correto e compreensível. As vírgulas separam as orações coordenadas. Mas há um senão. A repetição do verbo torna-o cansativo e denuncia o autor preguiçoso.
O que fazer? Há uma saída. Pôr em prática uma das regras de ouro do estilo – variar para agradar. A gente mantém o verbo na primeira oração. E mete a faca nos demais. No lugar deles, põe a vírgula:
João trabalha no Senado, Pedro, na Câmara, Carlos, no banco, Beatriz, na universidade, Alberto no shopping.
Ops! Na primeira leitura, o enunciado parece o samba do texto doido. Quem bate o olho no período não entende nada. O jeito é recorrer ao ponto e vírgula. Ele tem lugar – separa as orações coordenadas:
João trabalha no Senado; Pedro, na Câmara; Carlos, no banco; Beatriz, na universidade; Alberto no shopping.
Chique, não? Veja mais dois exemplos:
Eu estudo na USP; Maria, na UnB.
Alencar escreveu romances; Drummond, poesias.
Carlos e Paulo são jornalistas. Este trabalha no Correio; aquele, no Estado de Minas.
Moral da história: Se o casalzinho ponto e vírgula existe, tem razão para estar no mundo e no texto sofisticado. Ele desempenha dois papéis na frase melhor que vírgula, ponto e travessão. Um deles, estende tapete vermelho e recebe a clareza com banda de música e salva de palmas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 05 de abril de 2023
PONTO E VÍRGULA: QUANDO USAR (1)
A vírgula é uma parada pequena. O ponto, uma pausa prolongada. As reticências são sonhos, suspiros apaixonados. A exclamação e a interrogação traduzem dúvida ou encantamento. E o ponto e vírgula? É o sinal mais sofisticado da língua. Pode-se viver sem ele, mas, com ele, vive-se com mais requinte.
Passeie os olhos por jornais e revistas. Raramente você verá o casalzinho. Por quê? Poucos sabem empregá-lo. “Nunca o usei e nunca me fez falta”, escreveu Luis Fernando Verissimo.“ “A Maria Eugênia é uma moça muito inteligente. Ela sabe usar ponto e vírgula”, concluiu Mário Quintana.
A duplinha, o sinal mais charmoso da língua, tem dois empregos – separar termos de uma enumeração e dar banho da clareza ao enunciado. Vamos ao primeiro deles, o mais burocrático.
Separar termos de uma enumeração é arroz de festa de leis, decretos, portarias, medidas provisórias. Até Deus o usou.
São mandamentos do Senhor:
- Amar a Deus sobre todas as coisas;
- Não tomar Seu santo nome em vão;
- Guardar os dias santos;
- Honrar pai e mãe;
- Não matar;
- Não pecar contra a castidade;
- Não furtar;
- Não levantar falso testemunho;
- Não desejar a mulher do próximo; e
- Não cobiçar as coisas alheias.
Superdica 1
Olho vivo. Observe o e no 9º mandamento. Ele vem depois do ponto e vírgula. A concluir a enumeração, o ponto pede passagem. Abram-lhe alas.
Superdica 2
O casadinho fica no meio do caminho. No lugar dele poderia estar a vírgula. Ou o ponto. Por isso, muitos nem se preocupam em lhe dar oportunidade. No aperto, partem pro velho conhecido. E se dão bem como o Verissimo e tantos outros.
Mas, se derem um passo pra frente, se darão muito melhor. Entrarão no time da Maria Eugênia. Que tal? A escolha é sua. Lembre-se antes de bater o martelo: a zona de conforto é boa, mas imobiliza. E água parada, você sabe, cheira mal.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 04 de abril de 2023
DANIEL PIZA: O PAPEL DO LEITOR
“Escritores fazem bem ou fazem mal. Depende de quem os leia.”
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 03 de abril de 2023
ELE É ÍDOLO. E ELA? ELE É M0NSTRO. E ELA?
Com a camiseta da seleção argentina, Maradona chega ao céu. Fernando Vanucci lhe abre a porta. Diego entende logo. O jornalista esportivo foi na frente pra obter um furo. Faria a primeira entrevista do craque. A palavra que surgiu foi ídolo. Deus, que estava na plateia, teve uma dúvida. Disse baixinho a Nelson Rodrigues, sentado ao lado: “Estudei português há muito tempo, lá pelo século 12. Ando meio esquecido. Tenho escutado ídola. É esquisito, não?
Mesmo time
Nelson deu uma gargalhada gostosa e explicou: “Ídolo joga no time de vítima, criança, pessoa, criatura, indivíduo, gênio, anjo, testemunha, defunto & cia. Todos têm o mesmo gênero para o masculino e feminino. A pessoa, a criança, o defunto podem se referir a homem e a mulher. Como contornar a enrascada?
Saída
Impõe-se distinguir o gênero. É fácil. Basta fornecer indicações que esclareçam o ouvinte ou o leitor: A criança que sofreu o acidente é uma menina de 3 anos. A criança que ganhou a partida é um menino de 8 anos. A apresentadora Xuxa foi ídolo da meninada. Mais: A testemunha João da Silva estava atenta. A testemunha Maria Souza chegou com atraso. Fernanda Montenegro é ídolo dos amantes do teatro. Pelé é ídolo dos esportistas. Meu neto é um anjo. Minha neta é um anjo. Bibi Ferreira foi monstro dos palcos. Paulo Autran foi outro monstro.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 02 de abril de 2023
MESMO: MONSTRO ATERRADOR
Vamos rir? Leia a interpretação que Paulo José Cunha deu ao mesmo do elevador. Ele o tratou como nome próprio:
Morro de medo do Mesmo. Tenho certeza de que Mesmo é uma dessas assombrações que aparecem nas estradas desertas, noite alta, Lua cheia. Ou então Mesmo é um desses monstros que frequentam diariamente as páginas policiais, um serial killer, um Jack, o estripador (ou estuprador). Tipo: “Mesmo ataca outra vez em Copacabana. Polícia usa até helicóptero pra encontrar o monstro”. Porque, vamos convir: para todo elevador ter um aviso para que a gente verifique se o mesmo está lá dentro, é porque o mesmo não é flor que se cheire.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 01 de abril de 2023
MESMO: EMPREGO
O pronome mesmo exerce vários papéis. E o faz com dignidade e espírito de colaboração. Ele ajuda o autor a reforçar a declaração ou a dar mais precisão a termos que precisam de destaque. Com funções tão importantes, é natural que tenha exigências. Não são muitas, mas convém conhecê-las para tirar as vantagens que o dissílabo oferece.
1.Às vezes, o pronome aparece antes do substantivo. No caso, tem o sentido de “igual”, sem tirar nem pôr. Concorda, então, com o substantivo a que se refere: A mesma campanha teve resultado diferente. As mesmas campanhas tiveram resultados diferentes.
2.Outras vezes, o danadinho vem depois do nome ou do pronome para reforçá-los. Aí concorda com o termo a que se refere. Compare:
Eu vendi a casa. Eu mesma vendi a casa. Eu mesmo vendi a casa. Ele mesmo vendeu a casa. Ela mesma vendeu a casa. Nós mesmos vendemos a casa. Nós mesmas vendemos a casa. Eles mesmos venderam a casa. Elas mesmas venderam a casa.
3.Eta pronome polivalente! Ele também pode significar “realmente”. Aí, mantém-se invariável – sem feminino e sem plural: O depoente disse mesmo a verdade. Eles saíram mesmo às 18h. Foi bobeira mesmo do Luís.
Viu? O pronome dá destaque e reforço. Mas não ocupa o lugar do substantivo ou do pronome. É proibido usá-lo em frases como estas: Falei com o médico. O mesmo disse que estava de férias. Xô, coisa feia! Vem, belezura: Falei com o médico. Ele disse que estava de férias.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 31 de março de 2023
A PLACA DO ELEVADOR: 5 ERROS
Sabia? Os olhos funcionam como câmeras. Fotografam tudo que veem. Nem as palavras escapam. Os ouvidos têm outros interesses. Só querem saber de sons. Como esponjas, absorvem o que ouvem.
Resultado: a gente vê ou ouve mensagens de certas placas, certos avisos, certas propagandas pela primeira vez. Acha-as esquisitas. Mas depois, tantas vezes repetidos, os textos parecem naturais. Mas não são. É o caso da placa que vem afixada ao lado dos elevadores.
Aviso aos passageiros
Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.
Valha-nos, Deus, Maria e Divino Espírito Santo! O texto é a receita do cruz-credo. Sem cerimônia, exibe cinco erros – propriedade vocabular, colocação do pronome átono, pontuação, emprego do demonstrativo mesmo e estrutura da frase. Ufa!
Palavra adequada
Vamos combinar? Ônibus, avião, trem, bonde, navio, táxi & cia. transportam passageiros. O elevador sobe e desce com usuários.
Fortões e fracotes
O pronome átono se chama átono porque é fraquiiiiiiinho. Há palavras fortonas que o atraem e o obrigam a ficar antes do verbo. Uma delas é a conjunção subordinativa (que, se, porque). No aviso, aparece “verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.
Viu? A conjunção se (verifique se) lá está. Chama o fracote. Ele tem de obedecer: … verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.
Pra lá e pra cá
As orações adverbiais são passeadeiras. Não param quietas. Parece que têm asas nos pés. Ora aparecem no começo do período, ora no meio, ora no final. Mas elas têm lugar fixo. É no fim. Quando se deslocam, a vírgula denuncia a escapadinha.
Compare:
Não dirija se beber.
Se beber, não dirija.
O texto exibido de norte a sul do país tem uma oração deslocada. Cadê a vírgula? O gato comeu. Que tal devolvê-la? Assim: Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.
Etiqueta pega bem
O pronome mesmo exerce vários papéis. E o faz com dignidade e espírito de colaboração. Ele ajuda o autor a reforçar a declaração ou a dar mais precisão a termos que precisam de destaque. Com funções tão importantes, é natural que tenha exigências. Não são muitas, mas convém conhecê-las para tirar as vantagens que o dissílabo oferece.
1.Às vezes, o pronome aparece antes do substantivo. No caso, tem o sentido de “igual”, sem tirar nem pôr. Concorda, então, com o substantivo a que se refere: A mesma campanha teve resultado diferente. As mesmas campanhas tiveram resultados diferentes.
2.Outras vezes, o danadinho vem depois do nome ou do pronome para reforçá-los. Aí concorda com o termo a que se refere. Compare:
Eu vendi a casa. Eu mesma vendi a casa. Eu mesmo vendi a casa. Ele mesmo vendeu a casa. Ela mesma vendeu a casa. Nós mesmos vendemos a casa. Nós mesmas vendemos a casa. Eles mesmos venderam a casa. Elas mesmas venderam a casa.
3.Eta pronome polivalente! Ele também pode significar “realmente”. Aí, mantém-se invariável – sem feminino e sem plural: O depoente disse mesmo a verdade. Eles saíram mesmo às 18h. Foi bobeira mesmo do Luís.
Nada mais
Viu? O pronome dá destaque e reforço. Mas não ocupa o lugar do substantivo ou do pronome. É proibido usá-lo em frases como estas: Falei com o médico. O mesmo disse que estava de férias. Xô, coisa feia! Vem, belezura: Falei com o médico. Ele disse que estava de férias.
Eureca
Agora está moleza encontrar o erro no aviso do elevador. O dissílabo está usurpando o lugar do pronome ele: Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar.
Retoque
Que tal dar uns retoques? A forma nota 10 pode ser esta:
Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar.
Melhor ainda:
Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 30 de março de 2023
MUITO POUCOS CANDIDATOS? MUITOS POUCOS CANDIDATOS?
Na locução muito poucos o muito morre de preguiça. Não quer saber de feminino ou de plural: Havia muito poucos candidatos. Eram muito poucas as chances de êxito.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 29 de março de 2023
CAFÉ ESPRESSO? CAFÉ EXPRESSO?
Atenção, moçada. O pretinho gostoso não tem nada a ver com a rapidez do expresso. Ele tem a ver com exclusividade. Um café espresso — assim, com s — quer dizer feito na hora exclusivamente pra você. Vamos combinar? É um luxo só.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 28 de março de 2023
O CAIXA OU A CAIXA?
A palavra joga em dois times. É feminina na acepção de recipiente onde se guarda algo e de seção de banco, loja ou repartição pública onde se pagam contas ou se recebe dinheiro (a caixa de joias, a caixa do banco, a caixa do supermercado). A pessoa que trabalha como caixa? Se for mulher, será a caixa. Se homem, o caixa.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 27 de março de 2023
PONTUAÇÃO: CAIXA POSTAL
O número não é antecedido de vírgula. Quando acompanhado de número, letra maiúscula: Não encontrei a caixa postal. Caixa Postal 45.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 26 de março de 2023
LÍNGUA: CARTÃO DE VISITAS
A língua é nosso cartão de visitas. Ela nos apresenta. Diz se temos ou não familiaridade com a leitura e a escrita. Um texto vacinado contra distrações e bobeiras pega bem como pedir favor, pedir licença e pedir desculpas. Tropeços de grafia, concordância, regência e colocação podem ser evitados com a facilidade de quem anda pra frente. Cuidado e atenção ajudam.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 25 de março de 2023
R$ 2 CADA? NÃOOOOOOOO!
Sabia? O pronome cada não suporta a solidão. Deve estar sempre acompanhado de substantivo, de numeral ou do pronome qual. Dizer “Os picolés custam R$ 2 cada” é desamparar o pobre dissílabo. Ele sofre. Em resposta, rouba pontos e prestígio. Melhor dar-lhe a companheira que o consola: Os picolés custam R$ 2 cada um. Os livros valem R$ 50 cada um. Cada qual fez o trabalho a seu modo. Cada servidor colaborou com R$ 20. Distribuímos 30 quilos de alimentos para cada família.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 24 de março de 2023
CADA VESTIDO? TODO VESTIDO? DEPENDE.
Quem diria! Usados a torto e a direito como sinônimos, os dois pronomes dão recados diferentes. Cada indica diversidade de ação, particulariza: Usa cada dia um vestido (não repete o traje). Cada filho tem um comportamento. Cada macaco no seu galho. Dava brinquedos a cada criança. Todo generaliza. Significa qualquer: Todo dia é dia. Dava brinquedos a toda criança.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 23 de março de 2023
CADA + CADA: SINGULAR OU PLURAL?
A concordância prega cada peça… Uma delas trata da concordância. O verbo fica no singular se os núcleos do sujeito composto forem precedidos de cada. Assim: Na estante, cada livro, cada dicionário, cada enfeite deve ficar no lugar certo. Cada gesto, cada movimento, cada palavra implica alegria e saudade.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 22 de março de 2023
DADA UM DEPUTADO? NÃOOOOOOO!
Antes de substantivo singular, o um não tem vez. Por quê? Cada encerra ideia de unidade: Falou com cada deputado (não: cada um deputado). Deu uma bala a cada criança. Distribuiu comida a cada família. O programa ia ao ar a cada hora. A cada real gasto, pedia prestação de contas.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 21 de março de 2023
CADA UM DE NÓS SAIRÁ? SAIREMOS?
O verbo vai para a 3ª pessoa do singular: Cada um deles tomou um rumo. Cada uma das camisas custou acima de R$ 50. Cada um de nós sairá em horários diferentes.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 20 de março de 2023
EU CABO? EU CAIBO?
Caber é cheio de irregularidades. Respeitar as manhas de tão instável criatura exige atenção plena. A mais importante é o cuidado com a conjugação. Guarde as formas: caibo, cabe, cabemos, cabem; coube, coube, coubemos, couberam; cabia, cabia, cabíamos, cabiam; coubesse, coubesse, coubéssemos, coubessem; couber, couber, coubermos, couberem; cabendo; cabido.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 19 de março de 2023
AMBOS OS FILHOS: AMBOS FILHOS?
Dupla ou trio? Com o numeral, dois é pouco, três é bom. Depois de ambos, o substantivo deve ser antecedido de artigo: ambos os alunos, ambos os países, ambas as provas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 18 de março de 2023
ALTO E BOM SOM? EM ALTO E BOM SOM?
A expressão agradece, mas dispensa a preposição em. Xô! Assim: O Copom anunciou a manutenção dos juros alto e bom som. Proclamou os vencedores alto e bom som. O delegado disse alto e bom som o que pensava do episódio.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 17 de março de 2023
AGREDECÊ-LO? NÃOOOOOOOOOO!
Não seja ingrato. Agradeça. Mas agradeça com classe. Agradecer pede objeto direto de coisa e indireto de pessoa: Agradeceu o presente. Agradeceu ao pai. Agradeceu o presente ao pai. Agradeço ao diretor pela promoção.
Na substituição do alguém pelo pronome, é a vez do lhe: Agradeço-lhe pela colaboração. Agradeço-lhe a atenção. Agradeci-lhe os cuidados com as crianças.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 16 de março de 2023
POSSIBILIDADE DD LÍNGUA: TROCAR 6 POR MEIA DÚZIA
É dezembro. A meninada faz provas pra passar de ano. As empresas preparam relatórios. Candidatos a uma vaga na universidade se esforçam pra chegar lá. Eles têm um denominador comum. Precisam mostrar domínio da língua. Como?
“A gramática é um sistema de armadilhas cuidadosamente preparado”, escreveu Ambrose Bierce no início do século 20. Verdade? Talvez. Mas um fato ninguém discute: as regras estão ao alcance de todos. Ao conhecê-las, desarmamos as ciladas uma a uma. E, em vez de nos derrubar, as normas ampliam o espaço de liberdade. Na dúvida, podemos trocar seis por meia dúzia.
Mas, para fazê-lo, precisamos, antes, questionar e, depois, escolher. A propósito, vale lembrar história pra lá de conhecida. O presidente pediu à secretária que marcasse reunião para sexta-feira. Ela interrompeu a anotação e perguntou ao chefe:
— Sexta com x ou com s?
Ele se esquivou:
— Marque para sábado.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 15 de março de 2023
ACERCA DE? HÁ CERCA DE? A CERCA DE?
Ops! Pronúncias iguais, mas grafias e significados pra lá de diferentes. Safar-se incólume de tão delicadas questões exige intimidade com a língua — conhecer classes de palavras e empregos. Quer ver?
Acerca de é locução prepositiva. Locução porque tem mais de uma palavra. Prepositiva porque funciona como preposição. O trio significa sobre, a respeito de: Pronunciou-se acerca da oscilação do dólar. No discurso, o presidente falou acerca do Plano de Vacinação.
Cerca de quer dizer aproximadamente: Recebeu cerca de R$ 500. Na manifestação havia cerca de mil pessoas. Vou esperar cerca de três meses para entrar com pedido de aposentadoria.
*
Há cerca de indica contagem de tempo passado (faz aproximadamente): Viajou há cerca de dois meses. A decisão do Senado ocorreu há menos de uma semana. Moro aqui há cerca de 10 anos.
*
A cerca de exprime tempo futuro: Viajará daqui a cerca de seis meses. A cerca de dois anos das eleições, candidatos estão em plena campanha.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 14 de março de 2023
ACIDENTE OU INCIDENTE?
Acidente é fato imprevisto, em geral desastroso: acidente de trânsito, acidente aéreo, acidente que matou 10 pessoas.
Incidente é episódio, atrito, fato de importância menor: incidente diplomático, incidente entre os irmãos, incidente desnecessário.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 13 de março de 2023
AFORA E A FORA: EMPREGO
Afora quer dizer à exceção de, além de, ao longo de: Afora o pai, veio toda a família. Exerceu alguns cargos, afora o de presidente da República. Viajou Brasil afora.
A fora se opõe a de dentro: De dentro a fora. (É substituível por para fora.)
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 12 de março de 2023
PAPAI NOEL E PAPAI-NOEL: DIFERENÇA
Veja só. Papai Noel é o bom velhinho que dá presentes pra meninada. Ele é tão importante no imaginário infantil que deu filhote. É papai-noel. Com hífen e letras minúsculas, quer dizer lembrancinhas de Natal: Ainda não comprei seu papai-noel. É que quero escolher um pra lá de legal. Você merece.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 11 de março de 2023
CONJUGAÇÃO: PRESENTEAR, CEAR & CIA. PRAZEROSA
Dois verbos soam como carícias. Um é presentear. O outro, cear. Ambos jogam no time de passear (outra delícia). Eles têm um denominador comum. Armam cilada na conjugação. No presente, o nós e o vós dispensam o i que aparece nas demais pessoas. Compare: passeio, ceio, presenteio; passeias, ceias, presenteias; passeia, ceia, presenteia; passeamos, ceamos, presenteamos; passeais, ceais, presenteais; passeiam, ceiam, presenteiam.
O presente do subjuntivo segue a rota do indicativo. Veja: que eu passeie, ceie, presenteie; que tu passeies, ceies, presenteies; que ele passeie, ceie, presenteie; que nós passeemos, ceemos, presenteemos; que vós passeeis, ceeis, presenteeis; que eles passeiem, ceiem, presenteiem.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 10 de março de 2023
ZERO ANO? NÃO EXISTE!
O bebê precisa viver 12 meses pra chegar ao primeiro aniversário. Comerciantes e órgãos públicos se esquecem do calendário. Num dia e noutro também, leem-se frases como estas: Roupas para crianças de 0 a 2 anos. Crianças de 0 a 6 anos devem ser vacinadas. Vivi com eles do 0 aos 12 anos.
Valha-nos, Deus! Querem obrigar a meninada a correr na frente do tempo. Não dá. Melhor respeitar a ordem: Roupas para crianças de até 2 anos. Crianças de até 6 anos devem ser vacinadas. Vivi com eles do nascimento até completar 12 anos.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 09 de março de 2023
NÚMERO: COM E SEM PONTO
Como escrever 2021 – com ponto ou sem ponto? Ao escrever os números, usamos ponto a cada três algarismos – 1.426, 12.122, 3.342.600. Mas, ao indicar o ano, a história muda de enredo. Vem tudo coladinho. Assim: Ele nasceu em 1946. Trabalha em São Paulo desde 2000. Em 2014, o Brasil foi sede da Copa do Mundo. Em 2021, teremos vacina contra o coronavírus.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 08 de março de 2023
NÚMEROS: ADEUS, DÚVIDA
Ano-novo significa algo mais que outro dia no calendário. Trata-se de um rito de passagem. Deixa-se para trás não só o velho, mas o estagnado, que não dá a vez ao novo. Todos os povos o comemoram. Os chineses, em fevereiro, Os judeus, em setembro ou outubro. Os muçulmanos, em julho. Os cristãos, em 1º de janeiro. Entre eles, há um denominador comum. Consideram a data o momento de dar as costas ao passado e olhar para o futuro. Em bom português: enterrar os cadáveres.
números
- Grafe por extenso os números de um a nove. A partir do 10, extenso só para milhão, bilhão, trilhão e por aí vai: dois alunos, 100 pessoas, terceiro encontro, 13ª exposição.
Exceções: 1. data, dia, hora, década, século; 2. idade; 3. dinheiro; 4. endereço; 5. percentagens; 6. pesos, medidas, grandezas, proporções, temperatura; 7. resultados esportivos ou de votação; 8. títulos, subtítulos, legendas e chamadas de primeira página (quando houver necessidade de economizar espaço).
- Separe por ponto as classes (exceto em datas): 4.316, 1.324.728, mas 1994.
- Só faça aproximação com números redondos: cerca de 300 pessoas, nunca cerca de 92 pessoas.
- Use algarismos e palavras para números redondos: 40 mil, 24 milhões, 7 bilhões (Só recorra à forma reduzida em títulos ou tabelas: mi, bi ou tri para milhão, bilhão ou trilhão ).
- Para escrever os números quebrados até centenas de milhar, só os algarismos têm vez: 436, 24.312, 345.126. A fração se emprega partir de um milhão: 42,6 milhões, 1,4 bilhão.
- Na impossibilidade de arredondar, use só algarismos: 386.178.
- No início do período, dê passagem ao numeral por extenso: Vinte e cinco textos foram produzidos nas últimas horas. (Sempre que possível, dê novo torneio à frase para não iniciar o período com o numeral: Nas últimas horas, foram produzidos 25 textos.)
- Endereços e telefones devem ser escritos sem barra (309/310). A razão: o sistema lê o número como fração. Melhor recorrer a outro meio: 309 – 310, 222-2324 e 333-3231, 222-2222, 333-3333 e 4444-4444.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 07 de março de 2023
TEXTOS LEGAIS: NUMERAL CARDINAL E ORDINAL
Na numeração de artigos de leis, decretos, medidas provisórias & gangue, use o ordinal até nove. De 10 em diante, o cardinal: artigo 1º, artigo 9º, artigo 10, artigo 17. O primeiro dia do mês é 1º, não um.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 06 de março de 2023
NÚMEROS ROMANOS: EMPREGO
Os números romanos oferecem mais dificuldade de leitura que os arábicos. São uma pedra no caminho. Dê-lhes vez só em texto de lei e no nome de papas, reis e nobres: Bento XVI, D. João VI, Dom Pedro II, Parágrafo 1º…V. No mais, abra alas para os algarismos arábicos: século 20, capítulo 3º, Anexo 1, 1ª Guerra Mundial, 4º Congresso de Educação a Distância, 3ª República.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 05 de março de 2023
PLURAL: MESES E DIAS DA SEMANA
O plural dos meses e dos dias da semana? É fácil como andar pra frente ou tirar chupeta de bebê. Basta acrescentar um s: janeiros, fevereiros, marços, abris; segundas-feiras, quintas-feiras, sábados, domingos.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 04 de março de 2023
ANO-NOVO
A cada 12 meses, a história se repete. Um ano acaba e começa outro. Nós não deixamos por menos. Mandamos cartões, e-mails ou torpedos. Alguns preferem votos coletivos. Recorrem ao Twitter ou ao Facebook. Uns e outros têm um denominador comum. Precisam escrever ano-novo assim – com hífen e letras minúsculas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 03 de março de 2023
GRAFIA: RÉVEILLON
A virada do calendário merece mais que ceia, champanhe e roupa nova. Faz jus à grafia nota 10. A francesinha réveillon mantém a forma original. Escreve-se com acento, dois ll e… letra inicial pequenina. Por quê? Apesar da pompa, é substantivo comum.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 02 de março de 2023
GRAFIA: PROSECCO
Toda unanimidade é burra? Nelson Rodrigues jurava que sim. Os fatos lhe dão razão. Os vinhos servem de exemplo. Muitos gostam de champanhe. Mas há quem prefira o espumante italiano. Ele mantém a grafia original. É prosecco.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 01 de março de 2023
CHAMPANHE: CURIOSIDADE
Brindemos, senhores. Tim-tim, tim-tim, tim-tim. O borbulhante preferido por 10 entre 10 brasileiros recebe o nome da região onde é produzido. Sofisticada, a bebida gosta de tratamento VIP. Uma das bajulações que mais aprecia é o tratamento masculino. Sabe por quê? Ela é vinho sim, senhores — o (vinho) champanhe: Vamos tomar um champanhe geladinho?
Exclusivo
Sabia? Só existe champanhe francês. Por isso, dizer “champanhe francês” é pleonasmo. Joga no time do subir pra cima, descer pra baixo, elo de ligação, habitat natural e países do mundo. Só se sobe pra cima, só se desce pra baixo, todo elo é de ligação, todo habitat é natural, todos os países são do mundo. E, claro, todo champanhe é francês. Basta subir e descer. Elo, habitat e países, sozinhos, dão o recado. Champanhe é champanhe. Dispensa a indicação de nacionalidade. Xô!
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 28 de fevereiro de 2023
BEM-VINDO OU BEM VINDO?
Bem-vindo se escreve assim mesmo – com hífen.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 27 de fevereiro de 2023
FELIZES FÉRIAS OU FELIZ FÉRIAS?
Verão combina com sol. Sol pede sombra, água fresca e óculos escuros. Com eles enfrentamos a claridade da praia e da serra, destino de quem tira folga da cidade pra gozar merecidas férias.
Ao falar no assunto, lembre-se. Férias e óculos jogam no time que tem mania de grandeza. As duas palavras só se usam no plural. Não há meio-termo. É plural ou plural: Nas férias, uso óculos escuros. Onde estão meus óculos? Esqueci os óculos na gaveta. Felizes férias!
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 26 de fevereiro de 2023
MESES: ORIGEM DOS NOMES
Segundo a lenda, Rômulo, o primeiro rei de Roma, criou o primeiro calendário – com 10 meses. Começava em março e terminava em dezembro. Pompílio, o sucessor, acrescentou janeiro e fevereiro. Mas os pôs no fim da lista. Mais tarde, os caçulinhas mudaram de lugar. Viraram primeiros.
Os meses têm pai e mãe
Por que janeiro se chama janeiro? Pela mesma razão que fevereiro se chama fevereiro, março se chama março e os demais meses se chamam como se chamam. É que eles não são filhos de chocadeira. Têm origem conhecida e o nome registrado em cartório.
Janeiro
O primeiro mês do ano homenageia Jano. O deus romano tem duas caras. Uma olha pra frente. A outra, pra trás. A primeira abre as portas dos 365 dias que se iniciam. A segunda as fecha para o ano que se despede. Janela, que também abre e fecha, pertence à família do entra e sai.
Fevereiro
O segundinho, que tem menos dias que os irmãos, se inspira em Februa, deus da purificação dos mortos.
Março
Epa! Marte, o deus da guerra, originou vários nomes na nossa língua de todos os dias. Um deles é março. Outros, Márcio e Márcia. Marciano também. E marcial? Idem.
Abril
Todos a amam e todos a querem. Trata-se de Vênus, a deusa do amor e da entrega. Em homenagem a ela, criou-se aprilis. Trata-se da comemoração sagrada dedicada à musa olímpica. Daí nasceu abril.
Maio
A primavera no Hemisfério Norte corresponde ao nosso outono. Com inverno rigoroso, os campos se cobrem de neve, e a agricultura sofre. As comemorações que se faziam depois do frio reverenciavam Maia e Flora – deusas do crescimento de plantas e flores.
Junho
Hera em grego. Juno em latim. Ela era a primeira-dama do Olimpo. Defensora incondicional do casamento, ao descobrir as traições do marido, Zeus, não punha em risco o próprio lar. Punia a outra. Passou a ser considerada a protetora da maternidade. Para render-lhe loas, junho se chama junho.
Julho
Julho era o quinto mês do ano antes de janeiro e fevereiro mudarem de lugar. Chamava-se quintilis. Mas, em 44 a.C., mudou de nome por causa de Júlio César. O grande líder romano foi assassinado por gente de casa, Brutus, o próprio filho. Mas não caiu no esquecimento. Ganhou lugar cativo na história e no calendário.
Agosto
Agosto, que rima com desgosto, serve de prova da ciumeira. Por ser o sexto mês do ano, chamava-se sextilis. Mas, como julho balançou o calendário, o primeiro imperador de Roma, sucessor de Júlio César, não ficou atrás. “Eu também quero”, disse ele. Levou. Agosto se chama agosto em homenagem a Augustus.
Setembro, outubro, novembro e dezembro
O quarteto não estava nem aí para a mudança de janeiro e fevereiro. Eles mantiveram o nome. Setembro, do latim septe, era o sétimo mês do ano. Outubro, de octo, o oitavo. Novembro, de nove, o nono. Dezembro, de decem, o décimo.
Gregoriano
Ufa! Até chegar à forma de hoje, o contar dos meses sofreu muitas alterações. Com elas, falhas foram corrigidas. A última mexida, do papa Gregório XIII, ocorreu em 1582. Por isso nosso calendário se chama gregoriano.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 25 de fevereiro de 2023
MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: MESES, DIAS DA SEMANA, DATAS COMEMORATIVAS
O nome dos meses se escreve com inicial minúscula. O dos dias da semana também: janeiro, fevereiro, março, abril, maio; segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, sábado e domingo.
Com pedigree
Quando se refere a data comemorativa, o mês entra em outra equipe. Torna-se substantivo próprio: 1º de Maio, 7 de Setembro.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 24 de fevereiro de 2023
PREPOSIÇÃO E HERMES: O ELO
Hermes nasceu sabido. No primeiro dia de vida, pregou uma peça no irmão Apolo. O pequeno ficou atento. Quando o outro se distraiu, ele roubou o rebanho que Apolo guardava. Ao descobrir o ladrãozinho, o deus da beleza levou um baita susto.
Foi lá. O recém-nascido lhe estendeu uma lira que tinha acabado de fabricar com casco de tartaruga e tripas de boi. Ele inventou muitas outras coisas: o alfabeto, a música, a astronomia.
Zeus, ao ver o talento do garoto, convidou-o para ser seu mensageiro. Com asas nos pés e na cabeça, ele virou elo. Levava os recados divinos para os homens e os dos homens para Zeus.
Com isso, conheceu muitos segredos. Guardava-os tão bem que ninguém os descobria. Por isso se diz que alguma coisa está hermeticamente fechada.
A preposição também serve de elo. Liga um termo a outro, ambos aparentemente independentes que foram um terceiro significado. O primeiro se chama antecedente. O segundo, consequente.
É o caso de anel e ouro. Um não tem nada a ver com o outro. Mas, com a preposição, se conectam dando novo sentido à duplinha antes livre e solta – anel de outro.
Mais exemplos? Pois não:
ANTECEDENTE PREPOSIÇÃO CONSEQUENTE
Vou a Brasília.
Chegamos a tempo.
Saíram para o recreio.
Esteve com Maria.
Em bom português: preposição é a liga entre dois termos como Hermes é a liga entre deuses e homens.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 23 de fevereiro de 2023
CONCISÃO: TODOS OS
Deus às vezes erra na medida. Dá muito pra uns, pouco pra outros. Mas, generoso, não deixa os filhotes na mão. Oferece soluções. Uma delas são os Pitanguys da vida. Eles fazem milagres. Passam ferro nas rugas. Tiram barriga. Aumentam seios. Incrementam bumbuns.
O furor é a lipoaspiração. O motorzinho aspira os excessos de Deus e da mesa. Pneuzinho nas costas? Estômago exibido? Coxas atrevidas? Nada de lamentações. Lipo neles. Quem não se enfeita, diz o outro, por si se enjeita.
A língua também tem vaidades. Adora ser enxutinha e ter tudo no lugar. Gosdurinhas aqui e ali? Nem pensar. Bisturi nelas. Vale visita ao cirurgião plástico. Ele manda as adiposidades bater em retirada. São muitas. Fiquemos com uma – o todos os e o feminino todas as.
Ser claro é obrigação de quem escreve. O artigo definido se presta a confusão de significados. Dobre a atenção ao usá-lo. Quando dizemos “os candidatos fazem campanha”, englobamos todos os candidatos. Se não são todos, o pequenino perde o chão: “candidatos fazem campanha”.
Para quem sabe ler, pingo é letra. Se o artigo engloba, o pronome sobra. Corte-o sem pena:
Vou ao teatro todas as terças-feiras.
Vou ao teatro às terças-feiras.
Todas as mulheres que disputaram as eleições mereceram o voto do eleitor.
As mulheres que disputaram as eleições mereceram o voto do eleitor.
Todos os alunos que saíram perderam a explicação.
Os alunos que saíram perderam a explicação.
É isso. O premiado com a lipo? É você, leitor.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 22 de fevereiro de 2023
XEROX: PRONÚNCIA
Xerox é palavra oxítona ou paroxítona? Em português, há um pacto entre as palavras. As terminadas em x são oxítonas. O acento tônico cai na última sílaba. É o caso de inox, pirex, xerox.
No reino das palavras como no dos homens, há os rebeldes. Alguns vocábulos desrespeitam o trato. Querem ser paroxítonos. Aí, precisam do acento. O sinalzinho gráfico avisa que eles mudaram de time: Félix, ônix, tórax, fênix.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 21 de fevereiro de 2023
FUTURO DO SUBJUNTIVO: COMO ACERTAR SEMPRE
Machado de Assis, Eça de Queirós, Graciliano Ramos e José Saramago (in memoriam), Marina Colassanti, Lígia Fagundes Telles, Milton Hatoun e todos os cultores da boa linguagem cumprem o doloroso dever de comunicar o falecimento do futuro do subjuntivo.
Vítima de abandono e maus-tratos, ele deixa a família verbal enlutada. Os jornais esnobam essa forma verbal. A TV provoca um arrepio depois do outro. Os charmosos apresentadores dizem com a maior sem-cerimônia “quando ele pôr, se ele ver, assim que ele reter”.
O futuro do subjuntivo está lá, confundido com o infinitivo. “Afinal, o que aconteceu?”, perguntam os amigos. “Uma grande confusão”, reconhecem. O futuro morreu da insidiosa moléstia chamada semelhança.
O azar desse tempo foi um só: ser parecido com o infinitivo (a forma que dá nome ao verbo: cantar, vender, partir). Os simplistas acham que ele é o filho do infinitivo (quando eu chegar, você chegar, nós chegarmos, eles chegarem).
Mas o pai dele é outro — o pretérito perfeito do indicativo. Mais precisamente: a 3a pessoa do plural. Sem o -am final.
Quando eu pôr ou puser? Se eu vir ou ver? Se eu vier ou vir? Assim que ele reter ou retiver? Dúvidas. Dúvidas. Dúvidas.
Qual a saída? Recorrer ao pai. Conjugar o verbo no pretérito perfeito, velho conhecido de todos. Depois, fixar-se só na 3a pessoa do plural. Sem o –am final, temos o filho legítimo.
Quando ele pôr ou puser? Pretérito perfeito: eu pus, ele pôs, nós pusemos, eles puser(am).
Futuro do subjuntivo: quando eu puser, você puser, nós pusermos, vocês puserem.
Se eu vir ou vier? O pai: eu vim, você veio, nós viemos, eles vier(am).
O filho: se eu vier, ele vier, nós viermos, eles vierem.
Assim que nós virmos ou vermos? O primitivo: eu vi, ele viu, nós vimos, eles vir(am).
O derivado: assim que eu vir, ele vir, nós virmos, eles virem.
Se eu reter ou retiver? Sem preguiça, conjuguemos o pretérito perfeito: eu retive, ele reteve, nós retivemos, eles retiver(am).
O futuro do subjuntivo: se eu retiver, ele retiver, nós retivermos, eles retiverem.
Simples assim, Sem exceção.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 20 de fevereiro de 2023
ENTRE OU DENTRE?
Quase sempre entre. Dentre tem uso muito limitado. Significa do meio de. É resultado do casamento da preposição de com a preposição entre. Para que ocorra o matrimônio, um verbo precisa pedir a preposição de. Como sair, saltar, ressurgir.
O macaco saiu dentre duas árvores.
Quem sai sai de algum lugar. De onde? De entre duas árvores (do meio de duas árvores).
O pássaro começava a saltar dentre o arvoredo (quem salta salta de algum lugar. De onde? De entre o arvoredo).
Dentre os candidatos eleitos, um sobressaiu (quem sobressai sobressai de algum lugar. De onde? De entre os eleitos).
Nos outros, a vez é do entre: Nada existe entre mim e ele. A distância entre Brasília e Goiânia é de 200km. A disputa entre os candidatos será acirrada.
É isso: use dentre só no caso do encontro de de + entre. No mais, estenda banda de música e tapete vermelho para o entre. Bobear é proibido.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 19 de fevereiro de 2023
HÍFEN E FLEXÃ: SEM-TERRA & CIA.
Volta e meia eles mudam de nome. Foram remediados. Viraram pobres. Passaram a miseráveis. Aí apareceram os carentes. Seguiram-se os despossuídos. Depois os descamisados.
Hoje os pobres estão em outra. É vez do sem. O desabrigado é sem-teto; o desamparado, sem-justiça; o agricultor que não tem onde plantar, sem-terra. Etc. e tal.
O sem deu filhotes. Ocorreu a manifestação dos sem-terrinha, sem-celular, sem-micro-ondas e sem-carro importado. Enfim, a criatividade anda solta. Mas há um limite.
Os sem – todos eles – são sem mesmo. Sem feminino, sem masculino e sem plural. Como não se confundir? Basta prestar atenção à companhia. O artigo, o adjetivo e o verbo não guardam segredo. Abrem o jogo:
Viviane Pasmanter viveu a sem-teto da novela Anjo de Mim (o a diz que nos estamos referindo a nome feminino singular).
Sem-justiça vão lutar contra a mineradora (o vão não deixa dúvida: o sujeito é plural).
Sem-teto busca resposta para o problema de moradia (o verbo informa que sem-teto é substantivo singular).
Moral da opereta: os sem são os sem-flexão. Nem masculino, nem feminino, nem plural. É tudo igual.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 18 de fevereiro de 2023
ENEM: DICAS DE PORTUGUÊS
Avós, pais, irmãos, filhos só têm um assunto – o vestibular e o Enem. A coluna entrou na roda. Semana passada, tratou da redação. Esta semana, de erros pra lá de comuns. Perder pontos por causa deles é bobeira. Vale lembrar que o desafio não é apenas sair-se bem. É sair-se melhor que os outros. Vamos lá? São seis diquinhas.
Onde e em que
O erro mais cometido pela meninada? É o emprego do onde. O dissílabo só tem vez na indicação de lugar físico: A cidade onde nasci fica no Rio. Na praia onde pesca, mora pouca gente. Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá.
Não é lugar físico? Dê passagem ao em que: Na discussão em que se destacou, havia muitos repórteres. Muitos desistiram do debate em que se falou da vacinação. No concurso em que Maria sobressaiu, a maioria dos inscritos eram homens.
Hora e ora
Olho vivo! Uma letra faz a diferença. Hora quer dizer 60 minutos. Ora significa agora, neste momento. Veja: Ganha R$ 10 por hora de trabalho. Por ora, estou desempregado.
Na dúvida, seja esperto. Troque seis por meia dúzia: Ganha R$ 10 por 60 minutos de trabalho. Por agora, estou desempregado.
Mas e mais
Mais tem quatro letras. Mas tem três. Pois a grandona é o contrário de de menos. Na dúvida, substitua a palavra por menos. Se a declaração ganhar sentido contrário, não tenha dúvida. Dê passagem ao mais: Comi mais (menos) do que Maria. Paulo é mais (menos) educado que Luís. Acordei mais (menos) disposto.
Mas introduz ideia contrária. É conjunção adversativa. Joga no time de porém, todavia, contudo, entretanto: Estudei muito, mas não passei. (Substituí-la por mais? O contrário não cabe. Fica sem sentido. Xô!)
Demais e de mais
Ambas têm uma semelhança. São formadas pelas mesmas palavras (de + mais). Mas exprimem ideias diferentes.
Demais significa demasiadamente: Comeu demais. Trabalha demais. Estava nervoso demais.
De mais, assim, separadinho, quer dizer a mais, o contrário de de menos: Na confusão, recebi troco de mais (de menos). No pacote, veio um livro de mais (de menos). Não vejo nada de mais (de menos) no comportamento dele.
Mau e mal
Com um ou com l? Depende. Mau é contrário de bom. Na dúvida, faça a substituição. Você acertará sempre: mau humor (bom humor), mau datilógrafo (bom datilógrafo), mau tempo (bom tempo), homem mau (homem bom).
Na dúvida, lembre-se da rima: “Eu sou o lobo mau (bom), lobo mau, lobo mau / Eu pego as criancinhas pra fazer mingau”. Uau! Mau e mingau jogam no mesmo time. Rimam.
Mal é o oposto de bem. Com ele também vale a regra do troca-troca: mal-humorado (bem-humorado), mal-estar (bem-estar), mal-agradecido (bem-agradecido). A tuberculose foi o mal (bem) do século passado. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe.
É isso. Com o macete, a alternativa é uma só – acertar ou acertar. Adeus, razões para estar de mal com a língua.
Entre e dentre
Entre ou dentre? Na dúvida, use entre. Em 99% dos casos você acerta.
Dentre só tem vez quando significa de entre. É substituível por no meio de:
Cristo ressurgiu dentre os mortos. (Cristo ressurgiu do meio dos mortos.)
Tirou uma dentre as cinco frutas. (Tirou uma do meio de cinco frutas.)
Maria sobressaiu dentre os 200 candidatos (ela sobressaiu do meio de 200 candidatos).
Olho vivo! Na tentação de usar dentre, pare, pense e faça o troca-troca. O resultado é um só. Dentre é raro como viúvo na praça.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 17 de fevereiro de 2023
CURIOSIDADE: PONTO NOS ii
Vamos pôr os pontos nos ii? A expressão não deixa dúvida. Refere-se ao esclarecimento rigoroso de determinada situação. Ela nasceu há muito tempo — na época em que só se escrevia à mão. Pra evitar que dois ii fossem confundidos com u, passou-se a acentuar o i. No século 16, pontos substituíram os grampinhos. Daí os pontos nos ii.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 16 de fevereiro de 2023
HAMBÚRGUER: CURIOSIDADE
De onde vem o nome do sanduíche adorado pelos americanos? Vem da Alemanha. Marinheiros de Hamburgo aproveitaram velha receita de povos nômades da Ásia e Europa oriental. Eles comiam carne crua cortada bemmmmmmmmm fininha. Os hamburgueses avançaram um passo — cozinharam a iguaria. Imigrantes que partiam do porto de Hamburgo levaram a delícia para a Terra do Tio Sam. Os americanos gostaram da novidade. Mas, ao ver o bolinho desamparado no prato, deram outro passo. Casaram-no com o pão. Viva!
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 15 de fevereiro de 2023
POLITICAMENTE CORRETO: CEGO
O radialista Airton Medeiros entrevistava ao vivo na Rádio Nacional a presidente de uma associação de cegos. Dizia que ela era cega. Lá pelo meio do programa, recebeu um papelzinho com a recomendação de que a tratasse como “deficiente visual”. Antes de obedecer à ordem, perguntou se devia tratá-la de cega ou deficiente visual. Ela aproximou as mãos do rosto dele até tocar os óculos. Então disse: “Deficiente visual é você, que usa óculos. Eu sou cega”.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 14 de fevereiro de 2023
FLEXÃO: FURA-FILA & CIA.
E os fura-filas, hem? Além de roubar o lugar de outros, desperdiçam vacinas. Sem receber a segunda dose, a primeira de pouco valerá. A esperteza não trouxe só problema legal. Trouxe problema linguístico. Trata-se do plural dos substantivos compostos. Confusos, leitores pediram ao blogue.
A língua é diversificada como os falantes. Pra satisfazer a gregos, troianos e baianos, criou formas de nomes compostos. O plural depende da formação de cada uma delas. Desvendado o mistério, adeus, dúvida. É o caso de fura-fila & cia.
Só o último elemento vai para o plural em três casos:
- se apenas o primeiro for invariável: fura-filas, arranha-céus, guarda-roupas, beija-flores, vice-governadores, sempre-vivas, vira-latas, abaixo-assinados, caça-níqueis, ave-marias, salve-rainhas, alto-falantes, mal-humorados, recém-nascidos;
- se o substantivo for formado por elementos onomatopaicos ou palavra repetida:bem-te-vis, tico-ticos, reco-recos, quero-queros, quebra-quebras, tique-taques;
- se primeiro elemento for redução de um adjetivo (bel, de belo, grã ou grão, de grande): bel-prazer (bel-prazeres), bel-jardinense (bel-jardinenses), grã-duquesa (grã-duquesas), grão-ducado (grão-ducados), grão-mestre (grão-mestres), grã-fino (grã-finos).
Os elitistas
Cuidados com os rebeldes. Os arco-íris, os bem-te-vis, os mapas-múndi não se enquadram em nenhuma regra.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 13 de fevereiro de 2023
FÁCIL DE FAZER? FÁCIL DE SE FAZER?
Com o infinitivo, o pronome se sobra. Xô! Assim: fácil de fazer, fácil de copiar, fácil de ligar, fácil de conquistar, fácil de dirigir, fácil de ler, fácil de memorizar.
A rejeição ao monossílabo não constitui exclusividade do adjetivo fácil. Veja: difícil de escrever, bom de morar, chato de acompanhar, feio de doer.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 12 de fevereiro de 2023
PLURAL DOS COMPOSTOS - 5 DICAS
A língua é diversificada como os falantes. Pra satisfazer a gregos, troianos e baianos, criou formas de nomes compostos. O plural depende da formação de cada uma delas. Desvendado o mistério, adeus, dúvida.
Um
Não varia o substantivo formado por palavras invariáveis ou o que tiver o último elemento já no plural: os leva e traz, os diz que diz, os faz de conta, os bota-fora, os topa-tudo, os ganha-perde, os pisa-mansinho, os saca-rolhas, os salva-vidas.
Dois
Só o primeiro elemento vai para o plural se preposição ligar as palavras: pés de moleque, pernas de pau, joões-de-barro, mulas sem cabeça, câmaras de ar, pães de ló, fogões a gás, estrelas-do-mar.
Quando o segundo elemento estiver no plural, mantém-se o plural dele e flexiona-se o primeiro se for flexionável: mestres de obras.
Três
Ambos os elementos vão para o plural se os dois forem variáveis: cirurgiões-dentistas, tenentes-coronéis, águas-fortes, barrigas-verdes, cartões-postais, altos-relevos, más-línguas, baixos-relevos, redatores-chefes, segundas-feiras, primeiros-ministros, pesos-penas, meios-termos, os surdos-mudos.
Quatro
Se, havendo dois substantivos, o segundo der ideia de finalidade, semelhança ou limitar o primeiro, impera a dose dupla – flexiona-se o primeiro ou os dois. É acertar ou acertar: vale-transporte (vales-transporte, vales-transportes), vale-refeição (vales-refeição, vales-refeições), pombos-correio (pombos-correio, pombos-correios), salário-família (salários-família, salários-famílias), caneta-tinteiro (canetas-tinteiro, canetas-tinteiros), café-concerto (cafés-concerto, cafés-concertos), papel-moeda (papéis-moeda, papéis-moedas), peixe-espada (peixes-espada, peixes-espadas), carro-bomba (carros-bomba, carros-bombas), postos-chave (postos-chave, postos-chaves), elemento-surpresa (elementos-surpresa, elementos-surpresas), país-símbolo (países-símbolo, países-símbolos), decreto-lei (decretos-lei, decretos-leis), homem-rã (homens-rã, homens-rãs.
Olho vivo
Na nossa linguinha de todos os dias, qualquer palavra pode virar substantivo. Vestir, por exemplo, é verbo (eu visto, ele veste). Mas, se antecedido de artigo, pronome ou numeral, vira substantivo (o vestir, aquele vestir, dois vestires).
Na substantivação do adjetivo composto, observa-se a regra do adjetivo composto – só o segundo se flexiona: os ibero-americanos, os nipo-brasileiros, os social-democratas, os liberal-socialistas, os maníaco-depressivos.
Cinco
Só o último elemento vai para o plural em três casos:
- se apenas o primeiro for invariável:arranha-céus, guarda-roupas, beija-flores, vice-governadores, sempre-vivas, vira-latas, abaixo-assinados, caça-níqueis, ave-marias, salve-rainhas, alto-falantes, mal-humorados, recém-nascidos;
- se o substantivo for formado por elementos onomatopaicos ou palavra repetida:bem-te-vis, tico-ticos, reco-recos, quero-queros, quebra-quebras, tique-taques;
- se primeiro elemento for redução de um adjetivo (bel, de belo, grã ou grão, de grande): bel-prazer (bel-prazeres), bel-jardinense (bel-jardinenses), grã-duquesa (grã-duquesas), grão-ducado (grão-ducados), grão-mestre (grão-mestres), grã-fino (grã-finos).
Os elitistas
Cuidados com os rebeldes. Os arco-íris, os bem-te-vis, os mapas-múndi não se enquadram em nenhuma regra.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 11 de fevereiro de 2023
O DRAMA DO ESCRITOR
“O pensamento voa. As palavras vão a pé. Aí está o drama do escritor.”
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Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 10 de fevereiro de 2023
SÃO JOÃO OU SÃO-JOÃO?
Oba! Junho é mês de muitos santos. Santo Antônio, São João e São Pedro recebem homenagens e ganham festas. A mais legal é a de são-joão. Adultos e crianças se vestem de caipira e caem na farra: dançam a quadrilha, pulam a fogueira, participam do casamento na roça, pescam surpresas, comem delícias. Ali, a gula não é pecado.
Ninguém precisa resistir à tentação de canjicas, pipocas, churrasquinhos, paçocas, pamonhas, cachorros-quentes, pés de moleque & cia. prazerosa. Na faceirice geral, uma restrição se impõe. Trata-se de respeitar a grafia nota 10. O nome do santo é substantivo próprio. Escreve-se São João. O da festa é substantivo comum. Escreve-se são-joão.
Analogia
As festas juninas são tão boas que avançam no mês de julho. Aí ganham outro nome. São julinas.
Pé de moleque
O que é presença obrigatória na festa junina? Muitas coisas. A mais importante: pé de moleque. Olho vivo! A reforma ortográfica cassou o hífen do docinho gostoso. Ele nem ligou. Livre e solto, continua reinando Brasil afora.
Companhia
A reforma ortográfica eliminou o tracinho dos compostos em geral por três ou mais palavras que, soltas, nada têm a ver uma com as outras. Mas, juntas, formam outro vocábulo. É o caso de pé de moleque. Pé designa parte do corpo. Moleque, menino sapeca. A preposição de os junta. O trio dá nome ao doce que deixa pra lá o pecado da gula.
Exemplos não faltam. Eis alguns: mão de obra, dia a dia, dor de cotovelo, folha de flandres, testa de ferro, leão de chácara, faz de conta, quarto e sala, mula sem cabeça, tomara que caia.
Sem vacilos
A reforma não atingiu todas as palavras assim compostas. As que designam bicho ou planta conservam o tracinho. Mantêm-se como dantes no quartel de Abrantes: cana-de-açúcar, ipê-do-cerrado, pimenta-do-reino, castanha-do-pará, joão-de-barro, bem-te-vi, bem-me-quer, porco-da-índia, canário-da-terra. E por aí vai.
Plural
O plural de pé de moleque? É pés de moleque.
Arraial
Festas juninas são as comemorações mais animadas do Nordeste. Campina Grande, Caruaru e tantas outras cidades passam o ano inteiro organizando os festejos. No vaivém, uma palavra ganha destaque. É arraial. Você sabe de onde veio a criatura tão animada?
Se você adivinhar, ganha um saco de pipoca. Levará pra casa umas branquinhas saltitantes, quentinhas e cheirosas. Quer saborear a delícia? Então marque a resposta certa:
1. Arraial veio de rei.
2. Arraial veio de areia.
3. Arraial veio de arraia.
4. Arraial veio de raio.
E daí?
Marcou a letra a? Acertou. Arraial é meio camaleão. Às vezes quer dizer acampamento militar. Outras, lugar de festas populares. Outras, ainda, um pequenino lugar do interior, um lugarejo.
Antes de chegar à forma de agora, arraial teve outras caras. Uma delas é arreal. Ficou fácil, não? Tudo indica que arraial veio de real. Real vem de rei. No começo, arraial era o acampamento do rei. É, pois, coisa de Sua Majestade.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 09 de fevereiro de 2023
SUBSTANTIVOS QUE EXIGEM SEMPRE O PLURAL
Recado
“Os oradores procuram compensar a falta de profundidade aumentando o tamanho do discurso.”
Dito francês
Bem-vindas, férias
Oba! É vez de sombra e água fresca. Xô, escola! Xô, trabalho! Xô, seriedade! As férias pedem passagem. Com elas, uma exigência. A palavra tem uma mania. Só se usa no plural. Artigo, adjetivos, pronomes e verbos a ela relacionados vão atrás. Concordam com a boa-vida: Minhas férias escolares estão mais curtas a cada ano. Vão longe as férias que passei em Porto Alegre. Felizes férias, João.
Inveja
Outros invejaram a excentricidade do substantivo férias. Batem pé e exigem o plural. É o caso de anais, antolhos, arredores, cãs, condolências, exéquias, fezes, núpcias, óculos, olheiras, pêsames, víveres. Os naipes do baralho também foram picados pelo pecadinho. Só se usam com o s final: dama de copas, rei de espadas, dois de ouros, nove de paus.
Nada a ver
Muita gente pensa que o verbo enfezar tem a ver com fezes presas, a conhecida prisão de ventre. A razão: a pessoa que não consegue fazer cocô regularmente fica irritadiça, enjoada, chata, enfezada. Mas, entre os mitos da etimologia e a etimologia real, há senhora diferença. A palavra vem mesmo do latim infensare, que significa ser raivoso, ser hostil. Nada a ver com fezes.
Boa viagem
Férias convidam para pôr o pé na estrada. Viajar é bom, não? A gente compra a passagem, põe roupas na mala, dá tchau e pernas pra que te quero. Cai no mundo. Aí, não faltam novidades. Conhece gente nova, paisagens diferentes, línguas esquisitas. Tudo vale a pena. As férias são pra isso mesmo.
Terminada a folga, é hora de voltar e planejar a próxima viagem. Aí tudo pode mudar. O roteiro não precisa ser o mesmo. Nem as roupas. Nem a companhia. A única coisa que permanece do mesmo jeitinho é o verbo. Viajar se escreve sempre com j. Não importa o tempo e o modo.
Veja: eu viajo, você viaja, nós viajamos, eles viajam; eu viajei, ele viajou, nós viajamos, eles viajaram; talvez eu viaje, ele viaje, nós viajemos, eles viajem. E por aí vai.
Moral da história
Viajar é como cachorrinho. O cão é fiel ao dono. O verbo, à família.
Sem confusão
Viagem ou viajem? A pronúncia é a mesma, mas os significados não: viagem é substantivo. Tem plural: viagem ao Rio, agência de viagens, Boa viagem. Viajem é forma do verbo viajar: que eu viaje, ele viaje, nós viajemos, eles viajem.
Escola
Sabia? A palavra escola nasceu grega. Depois, atravessou fronteiras. Passou pro latim. Daí pra frente, ninguém mais segurou a mocinha. Ela figura em muitas línguas. O português é uma delas.
História
Todo mundo sabe o significado de escola. É o lugar onde a meninada estuda. Acredite. Na origem, escola queria dizer outra coisa. Significava descanso, pernas pro ar. Sabe por quê? Antigamente só estudava quem não era obrigado a trabalhar. Estudar, então, era o contrário de trabalhar. Onde se estudava? No lugar de descanso – a escola.
Leitor pergunta
Quando usar a princípio e em princípio? Estou confusa. Não entendo a diferença. Pode me ajudar?
Sílvio Souza, Floripa
A princípio = no começo, inicialmente: A princípio, o Brasil era o favorito das apostas. Depois da partida de estreia, deixou de sê-lo. Toda conquista é, a princípio, muito excitante.
Em princípio = teoricamente, em tese, de modo geral: Em princípio, toda mudança é benéfica. Estamos, em princípio, abertos às novidades tecnológicas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 08 de fevereiro de 2023
TUDO SOBRE CRASE (1)
“A crase não foi feita pra humilhar ninguém”, disse F. Gullar. Foi feita pra indicar a união de dois aa. O a pode ser artigo (a casa) ou a 1ª sílaba do pronome demonstrativo aquele, aquilo. Só substantivo feminino é antecedido do artigo a. Daí por que só ocorre crase antes de nome feminino.
Troca-troca
Com crase ou sem crase? Na dúvida, recorra ao troca-troca. Troque o nome feminino por masculino. Não precisa ser sinônimo. Mas do mesmo número (singular ou plural). Se no troca-troca der ao (aos), sinal de preposição + artigo. No feminino, à (às):
Vai à cidade. (Vai ao clube.) Viu? Ao chama à.
Em meio a lutas? Em meio à lutas? No troca-troca, olho no número (em meio a combates). Xô, acento grave.
Em meio às lutas? Em meio as lutas? Vamos à troca (em meio aos combates). Aos exige às: em meio às lutas.
O cão é fiel à dona? Fiel a dona? Com o troca-troca, fiel ao dono. O ao responde: O cão é fiel à dona.
Refiro-me à questão da prova? A questão da prova? No troca-troca: Refiro-me ao debate da prova. O ao impõe à questão.
Quanto à prova, nada posso informar? Quanto a prova? No troca-troca: Quanto ao tema, nada posso informar. Vem, crase!
Recebe à amiga? Recebe a amiga? No troca-troca: Recebe o amigo. Sem preposição, só o artigo tem a vez. Xô, crase!
Bebê a bordo? Bebê à bordo? Bordo é nome masculino. O artigo a não tem vez com ele. Sem a, nada de crase: Bebê a bordo.
Vale a pena? Vale à pena? Ops! Vamos ao troca-troca: Vale o trabalho. Viu? Falta preposição. Sem ela, adeus, grampinho.
Alerta 1 — Pronome de tratamento
Pronome de tratamento começado por Vossa tem alergia à crase:
Dirijo-me a Vossa Senhoria. Encaminho a Vossa Excelência…
Informo a V. Exa. que o documento se encontra anexo.
Digo a V. Sª que o livro está esgotado.
É isso. Com pronome de tratamento começados com vossa, xô, crase!
Alerta 2 — casa
Crase antes de casa? Depende do artigo. A casa onde moramos rejeita o pequenino. Logo, não admite o acento grave: Saí de casa.
Sem artigo, o a que antecede a casa onde moramos é preposição purinha. Não admite acento de crase: Dirigi-me a casa cedo.
A casa dos outros pede artigo — a casa da vovó, a casa de Lu, a casa dos pais: Foi à casa da avó. Vai à casa do João. Dirigiu-se à casa dos pais. Vai à casa de parentes distantes.
Viu? Antes da casa dos outros aparece artigo. A crase tem vez.
Alerta 3 — terra
Terra, em oposição a mar, não admite artigo. Por isso os marinheiros gritam “terra à vista”. Sem artigo, nada de crase.
Alerta 4 — Palavras repetidas
Palavras repetidas não suportam artigo. Sem ele, nada de acento: face a face, cara a cara, gota a gota, uma a uma, hora a hora, semana a semana — assim, o a levinho.
Alerta 5 — casaizinhos
A língua tem casaizinhos. Pra lá de fiéis, o que acontece com um acontece com o outro. Se um vem com preposição, o outro vai atrás.
Casalzinho de…a
De é preposição pura. A também. Nada de crase: Estudo de segunda a sexta. Trabalha de segunda a segunda.
Casalzinho da (do)…à
Da é preposição + artigo. À também: Trabalho das 2h às 4h. Fui da Rua da Praia à Rua dos Andradas.
Nota
Há mais, mas falta espaço. Continua na próxima coluna.
Leitor pergunta
Duas construções me dão enxaqueca. Ambas se referem ao artigo. Uma delas: Chamamos atenção ou chamamos a atenção? A outra: ambos alunos ou ambos os alunos?
Maria Antonieta, Uberaba
Ambas as construções, Maria, exigem o artigo. Chame a atenção. Convoque ambos os alunos.
Panorama geral é pleonasmo?
Tatiana Silva, Porto Alegre
Todo panorama é geral. O adjetivo sobra. Xô! Basta panorama.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 07 de fevereiro de 2023
ESTE, ESSE OU AQUELE?
Paulo, funcionário do Banco Central, quis mudar de ares. Foi requisitado para o Ministério da Economia. No ofício de encaminhamento, o BC frisava que “os ônus correrão por conta dessa instituição”. Chegou o fim do mês. Cadê salário?
O banco dizia que o ministério deveria pagar. O ministério dizia que era o banco. E daí? O xis da resposta estava no pronome ”dessa”. Impõe-se conhecer o emprego do este, esta, esse, essa, aquele, aquela.
Eles são dedos-duros. Indicam situação no espaço, no tempo e no texto. Desvendado o mistério, oba! A resposta brilha.
Discurso
Para entender o assunto, lembre-se das pessoas do discurso. Discurso, no caso, significa conversa. As pessoas do discurso são as que tomam parte em um bate-papo. São três. Uma fala (1ª pessoa). Outra escuta (2ª pessoa). A última é o assunto, sobre o que se fala (3ª pessoa).
Imagine que Rafael telefone para João e lhe pergunte se foi ao cinema. No caso, Rafael fala. É a 1ª pessoa. João escuta. É a 2ª. Do que eles falam? Da ida ao cinema. É a 3ª.
- Situação no espaço
Este indica que o objeto está perto da pessoa que fala (pode ser reforçado com o advérbio aqui): esta bolsa (aqui); este jornal (referindo-se ao jornal que está perto); esta sala (a sala onde a pessoa que fala ou escreve está).
Esse informa que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (pode ser reforçado com o advérbio aí): esse livro aí (o livro está perto da pessoa com quem se fala); essa sala (a sala onde a pessoa com quem se fala ou a quem se escreve está).
Aquele diz que o objeto está longe tanto da pessoa que fala quanto da pessoa com quem se fala (pode ser reforçado pelos advérbios lá ou ali): Aquele quadro lá; aquele livro ali.
A solução do drama do Paulo está nesse emprego. O essa se refere ao ser com quem se fala. No caso, o Ministério da Economia. Se fosse o Banco Central, o texto diria que os ônus correriam por conta “desta instituição”.
- Situação no tempo
Este indica tempo presente: este ano, este mês, esta semana (o ano, o mês e a semana em que estamos); este fim de semana (o fim de semana próximo, que o falante considera presente).
Esse ou aquele exprimem tempo passado (esse, passado próximo; aquele, distante): Visitei Santos pela primeira vez em 1970. Nesse (ou naquele) tempo, eu morava em Porto Alegre.
Eis um nó
Como saber se o passado é próximo ou remoto? Guarde isto: presente se escreve com t. Este e esta também. Passado se grafa com ss. Esse e essa idem.
- Situação no texto
Este indica referência anterior: Paul Valèry deu esta sugestão aos escritores: “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta” (a sugestão é anunciada antes e expressa depois).
Esse anuncia referência posterior: “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta.” Essa sugestão, escrita por Paul Valèry, é um dos mandamentos do texto contemporâneo.
Resumo da ópera
Situação no espeço: perto da pessoa que fala (esta, este, isto), perto da pessoa com quem se fala (essa, esse, isso), perto da pessoa de quem se fala (aquela, aquele, aquilo).
Situação no tempo: presente, passado e futuro próximos (esta, este), passado distante (aquela, aquele).
Situação no texto: referência anterior (esta, este), referência posterior (essa, esse).
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 06 de fevereiro de 2023
FÓRMULA PARA SE CHEGAR AO TEXTO DE FÁCIL ENTENDIMENTO
“Escrevo porque não tive saúde para estudar engenharia.”
Manuel Bandeira
Escrever é mandar recado. Ler é entender o recado. Do conceito, pinta o desafio. Como fazer o leitor entender o recado? São duas etapas. A primeira: ele tem de ler o texto. A segunda: tem de entendê-lo. Sem isso, o autor fracassa. Valha-nos, Deus!
Vamos combinar? Ninguém quer jogar o esforço na lata do lixo. O jeito é dar um jeito. Se o leitor é a vedete da comunicação, vamos conquistá-lo. Estudiosos do tema apresentam receitas. Elas têm um denominador comum. Chama-se sedução. Combinar ingredientes leva ao produto mágico. É o texto fácil.
Xô, texto difícil
Um texto claro, enxutinho e prazeroso não nasce em árvores. É fruto de trabalho — 99% de transpiração e 1% de inspiração. O objetivo é um só: facilitar a vida do leitor. Como? Com frases curtas, ordem direta, palavras simples, economia de adjetivos e advérbios.
Lido, relido, reescrito muitas vezes, eliminam-se repetições, enxotam-se redundâncias, chega-se à clareza. Terá ficado bom? Amigos podem palpitar. Ouça-os. Não só. Há um tira-teima que ajuda — e muito. Trata-se do teste de legibilidade. Aplicando-o, a gente tem ideia do grau de dificuldade da mensagem que mandamos.
O teste
Em que consiste o termômetro? Pegue um escrito seu. Pode ser uma carta, um artigo, uma redação. Depois, siga a receita. Com um cuidado: faça parágrafo por parágrafo.
Eis os passos:
1. Conte as palavras do parágrafo (a avaliação deve ser feita parágrafo por parágrafo)
2. Conte as frases (cada frase termina por ponto)
3. Divida o número de palavras pelo número de frases
4. Some o resultado do passo 3 com o número de polissílabos
5. Multiplique o resultado por 0,4
6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade
Possíveis resultados
1 a 7 = história em quadrinhos
8 a 10 = excepcional
11 a 15 = ótimo
16 a 19 = pequena dificuldade
20 a 30 = muito difícil
31 a 40 = linguagem técnica
acima de 41 = nebulosidade
Aplicação
Vamos ao tira-teima? Avalie a legibilidade do texto:
Até quando usaremos o carro como máquina de matar? Até quando beberemos “socialmente” e sairemos em pegas pelas ruas da cidade, tirando vidas inocentes? Até quando a impunidade dirigirá nossa consciência? Brasília, até há pouco tempo, era exemplo de paz no trânsito. Quando perdemos o humanismo, o respeito ao próximo? Porque, ao beber e dirigir, assumimos o risco de matar, de morrer. É hora de um basta! É hora de nos unirmos.
Resultado
1. Conte as palavras do parágrafo: 72
2. Conte as frases (cada frase termina por ponto): 8
3. Divida o número de palavras pelo número de frases: 9
4. Some o resultado do passo 3 com o número de polissílabos: 19
5. Multiplique o resultado por 0,4: 7,6
6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade: história em quadrinhos
Agora você
Que tal avaliar um texto seu? Escolha um parágrafo de carta, artigo ou redação escolar e aplique o teste. Se o resultado ficar acima de 15, abra o olho. Facilite a vida do leitor. Você tem dois caminhos. Um: diminua o tamanho das frases. Outro: mande algumas proparoxítonas dar uma voltinha. O melhor: abuse dos dois.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 05 de fevereiro de 2023
O DESNECESSÁRIO SOBRA. DICAS DE COMO ESCREVER MELHOR DIZENDO MENOS
“Para ter lábios atraentes, diga palavras doces.”
Audrey Hepburn
Era uma vez um comerciante do mercado público de Porto Alegre. Ele vendia sardinhas, dourados, tambaquis, pirarucus e surubins. O negócio prosperava a olhos vistos.
Certo dia, cheio de entusiasmo, o gaúcho resolveu inovar. Mandou afixar um enorme cartaz com os dizeres “Hoje vendemos peixe fresco”. Olhou de longe. Gostou do resultado. Orgulhoso, perguntou ao cliente:
— O que você acha da novidade?
— É, está boa. Mas me diga uma coisa: você vende peixe velho? Não? Então para que o “fresco”?
Apagou o adjetivo. Ficou “Hoje vendemos peixe”.
— E agora?, indagou interessado.
— Para que o “hoje”? Hoje é hoje.
Restou “Vendemos peixe”.
— Por acaso você dá peixe? Não? O vendemos sobra.
No final, o vendedor tirou o cartaz. Quem chega vê o peixe. Não precisa de anúncio.
O peixe e nós
O que a história do peixeiro tem a ver conosco? Ela ensina uma lição. Quem escreve tem que ser sovina. Economizar palavras poupa tempo, espaço e… a paciência do leitor. Por isso, livre-se dos excessos. Como?
1. Elimine palavras ou expressões desnecessárias: em vez de “neste momento nós acreditamos”, diga “acreditamos”. Em lugar de “travar uma discussão”, escreva “discutir”; “fazer uma viagem”, “viajar”; “pôr moedas em circulação”, “emitir moedas”.
2. Corte, nas datas, os substantivos dia, mês e ano: em 10 de agosto (não: no dia 10 de agosto); em março (não: no mês de março); em 2018 (não: no ano de 2018).
3. Elimine palavras ou expressões desnecessárias: processo de adaptação (adaptação); decisão tomada no âmbito da diretoria (decisão da diretoria); trabalho de natureza temporária (trabalho temporário); problema de ordem sexual (problema sexual); curso em nível de pós-graduação (curso de pós-graduação); lei de alcance federal (lei federal); doença de característica dermatológica (doença dermatológica).
4. Troque a locução adjetiva por adjetivo: objetos para crianças (objetos infantis); pessoa sem emprego (pessoa desempregada), discurso sem novidade (discurso repetitivo).
5. Substitua a oração adjetiva por adjetivo: animal que se alimenta de carne (animal carnívoro); empresário que planta café (cafeicultor); profissional que não presta atenção (profissional desatento).
6. Use aposto em vez de oração apositiva: Brasília, que é a capital do Brasil, oferece serviços públicos de boa qualidade. (Brasília, capital do Brasil, oferece serviços públicos de boa qualidade).
7. Troque a oração pelo termo nominal correspondente. O diretor exige que o relatório seja apresentado. (O diretor exige a apresentação do relatório).
8. Corte artigos indefinidos. Em 99% das frases, eles são dispensáveis: Houve (um) troca-troca de profissionais jamais visto. O diretor quer traçar (uma) nova política de recursos humanos. Os funcionários pediram (um) aumento de salário.
9. Casse possessivos. O “seu” constitui uma das piores pragas do texto. Além de sobrecarregar a frase, com frequência torna o enunciado ambíguo: A campanha foi equilibrada até o (seu) final. Para manter o (seu) ritmo de crescimento, o agronegócio precisa de excelentes estradas. O empresário endurece as (suas) críticas ao governo.
Ufa!
Leitor pergunta
Viger ou vigir? Nunca sei.
Claudio Santos, Viamão
Vigir não existe. A forma é viger. O dissílabo tem um defeitão. É intolerante. Detesta o “a” e o “o”. Só se conjuga nas formas em que essas vogais não aprecem depois do “g”. A 1ª pessoa do singular do presente do indicativo não tem vez. Nem o presente do subjuntivo. Nas demais, o amigo só de alguns é regular. Conjuga-se como viver: vives (viges), vive (vige), vivemos (vigemos), vivem (vigem); vivi (vigi), viveu (vigeu), vivemos (vigemos), viveram (vigeram); vivia (vigia); viveriam (vigeriam). E por aí vai. Complicado? A língua oferece mil outras possibilidades. Deixe o viger pra lá. Que tal vigorar? Ou entrar em vigor?
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 04 de fevereiro de 2023
O QUE FAZER PARA NÃO CAIR EM CILADA QUE ROUBAM PONTOS EM CONCURSOS PÚBLICOS
“A poesia preenche um vazio essencial.”
João Cabral de Melo Neto
Você vai fazer concurso? Redige ofícios, memorando, relatórios, exposição de motivos? Candidata-se a vaga na universidade? Está de olho em promoção no emprego? Escreve e-mails? Participa de redes sociais? Abra os olhos. Não caia nas ciladas que roubam pontos e prestígio. As armadilhas são muitas. A seguir, desmontamos algumas.
O hospital atende pacientes de “0” a 18 anos
Zero ano? Nem com mágica. Só depois de 365 dias, completam-se os 12 meses necessários pra chegar lá. Melhor dar tempo ao tempo: O hospital atende pacientes de até 18 anos.
“Duas” milhões de mulheres
Ops! Milhão é masculino e não abre. Numerais, artigos e pronomes têm de concordar com ele: dois milhões de mulheres, os milhões de crianças, muitos milhões de declarações.
O diretor manterá a “mesma” assessoria.
Ora, se vai manter, só pode ser a mesma. Se não for, o verbo é outro. Pode ser mudar. Ou alterar. Xô, pleonasmo: O diretor manterá a assessoria.
O acidente deixou cinco “vítimas fatais.”
Fatal quer dizer que mata. O acidente mata. É fatal. A vítima, coitada não matou. Morreu. Em bom português: O acidente deixou cinco mortos.
Quem aposentou-“se”?
Olho na gangue do qu. Que, quem, quando, quanto, qual, porque atraem os pronomes átonos: Quem se aposentou?
“Há” dois meses da Copa, muitas obras estão no papel.
Olha a confusão! O há indica tempo passado. O a, futuro. Não vale trocar as bolas: Chegou há pouco. Entrou na universidade há dois anos. Paulo chega daqui a pouco. A dois meses da Copa, muitas obras estão no papel.
“Face ao” exposto, pouco se pode fazer.
Atenção, marinheiro de poucas viagens. Face a não existe em português. A forma 100% nacional é em face de: Em face do exposto, pouco se pode fazer.
Educação deve ser prioridade “independente” do vencedor.
Epa! Independente é adjetivo. Quer dizer livre. Independentemente é advérbio. Significa sem levar em conta: O Brasil ficou independente de Portugal em 1822. Educação deve ser prioridade independentemente do vencedor.
Lia estava com a mãe quando o ladrão encostou a arma na “sua” cabeça.
Sua de quem? Pode ser da mãe ou da filha. O sua responde pela ambiguidade. Melhor livrar-se dele: …encostou a arma na cabeça da criança. Ou da mãe.
Expediente entre “12h e 14h”.
Na indicação de horas, o número vem sempre (sempre mesmo) acompanhado de artigo: Expediente entre as 12h e as 14h.
Ele “aposentou” aos 60 anos.
Olho no verbo pronominal. Aposentar quem? O INSS aposenta o trabalhador. Mas o trabalhador se aposenta. Eu me aposento, ele se aposenta, nós nos aposentamos, eles se aposentam.
Haverá eleições presidenciais “esse” ano.
Que ano? Se é o ano em curso, o este pede passagem. A regra vale para semana e mês: este ano (2022), este mês (agosto), esta semana (a semana em curso).
1,3 “milhões”
Nas frações, o substantivo concorda com o número inteiro: 1,35 milhão, 0,45 bilhão, 2,3 trilhões.
A lei está “vigindo.”
Vigir não existe. A forma é viger. Intolerante, o dissílabo detesta o a e o o. Por isso só se conjuga nas formas em que essas vogais não aprecem depois do g. A 1ª pessoa do singular do presente do indicativo (eu vigo) ou o presente do subjuntivo (que eu viga)? Uhhhh! Fora! Nas demais, viger é regular. Conjuga-se como viver: vives (viges), vive (vige), vivemos (vigemos), vivi (vigi), viveu (vigeu), vivemos (vigemos), viveram (vigeram); vivia (vigia); viveriam (vigeriam). E por aí vai. Na dúvida, deixe o viger pra lá. Que tal vigorar? Ou entrar em vigor?
O fiscal extorquiu o “comerciante”.
Que susto! Fiscal extorquir comerciante? É difícil. Extorquir não é lá coisa boa. Significa obter por violência, ameaças ou ardis. O verbo tem uma manha. Seu objeto direto tem de ser coisa. Nunca pessoa. Extorque-se alguma coisa. Não alguém: Fiscal extorquiu dinheiro de comerciante. A polícia tentou extorquir o segredo. Extorquiram a fórmula ao cientista.
Lula “se” sobressai nas pesquisas.
Sobressair não é pronominal. Altivo, ele dispensa objeto. Reina sozinho, absoluto: Lula sobressai nas pesquisas. Os baianos sobressaem na música. O CIEE sobressai nos estágios.
“Aluga-se” casas.
A passiva sintética (construída com o pronome se) é tropeço certo. Sobram placas com “vende-se frutas” ou “aluga-se casas”. Nada feito. Para não dar esbarrões na língua, lembre-se do macete: construa a frase com o verbo ser. Se o danadinho ficar no plural, o da passiva sintética vai atrás. Se no singular, idem: vendem-se frutas (frutas são vendidas), alugam-se casas (casas são alugadas), constrói-se muro de pedra (muro de pedra é construído).
João ou Rafa “serão” presidente do clube.
O ou joga em dois times. Ora inclui. Ora exclui. Olho vivo! Se mais de um sujeito pode praticar a ação, é a vez do plural: Um ou outro artista compareceram à festa (nada impede que mais de um artista apareça). O perigo mora na exclusão. Aí, só um pode reinar. O verbo tem de concordar com ele. É o caso de “João ou Rafa será presidente do clube”. Só há uma vaga? O singular pede passagem.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 01 de fevereiro de 2023
CONFIRA DICAS DE PORTUGUÊS SOBRE TERMOS REFERENTES À REALEZA
“Se uma pessoa não pensa, não sabe o que fala nem compreende o que lhe dizem. Discutir com ela é impossível.”
Festa no céu
A rainha chega ao céu. São Pedro se curva ao lhe abrir a porta. Deus dá um abraço carinhoso à amiga de infância. Elizabeth II, coroa na cabeça, circula com intimidade entre a realeza celeste.
Atento, o dono da casa a observa. Tem uma curiosidade. Leu, na telinha da GloboNews, que o corpo de Sua Majestade chega “a palácio”. “Por que não ‘ao palácio’”, pergunta o Senhor.
As duas formas existem, mas se empregam em contextos diferentes. Usa-se ao palácio se a pessoa visitou a casa do todo-poderoso. É o caso do turista. E a palácio se a pessoa foi lá a serviço. É o caso da rainha. Antes de descansar, cumpre protocolo rigoroso.
Por quê?
Realeza se escreve com z; inglesa, com s. Por quê? A resposta não está na pronúncia. Nos dois vocábulos, o som é o mesmo. A diferença tem tudo a ver com a formação das palavras. Desde os primeiros anos de escola, estudamos o assunto. Mas dúvidas persistem, sobretudo na cabeça de quem não tem o hábito da leitura.
Embora poucas, há regras que quebram um senhor galho na hora de desatar nós. Uma delas explica por que realeza se escreve com z. O sufixo -eza forma substantivos abstratos derivados de adjetivos: belo (beleza), certo (certeza), cru (crueza), grande (grandeza), mal (malvadeza), safado (safadeza), limpo (limpeza), sutil (sutileza).
A palavra inglesa joga em outro time. É adjetivo derivado de substantivo. No masculino, o s também aparece: burgo (burguês, burguesa), Escócia (escocês, escocesa), Portugal (português, portuguesa).
Superdica
Na dúvida, pare e pense. A palavra deriva de adjetivo ou de substantivo? Se derivar de substantivo, dê passagem ao s. Se de adjetivo, ao z. A origem é a chave do enigma.
Mesmo time
A norma vale para o sufixo -ez. Veja: altivo (altivez), honrado (honradez), lúcido (lucidez), macio (maciez), mudo (mudez) surdo (surdez), sensato (sensatez).
Melhor
O léxico português tem mais ou menos 500 mil palavras. Elas estão à disposição do falante, que escolhe uma ou outra de acordo com o contexto ou o domínio linguístico. As cerimônias decorrentes da morte da rainha servem de exemplo. Repórteres falavam em féretro. Deixaram caixão pra lá. Pena! Perderam a naturalidade.
Pêsames
A palavra pêsames pertence à família de pesar (causar dor, pena). É irmã de pesaroso. Nasceu da terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo pesar + o pronome átono me: pesa-me. Mais tarde, perdeu o hífen e ganhou o s. Hoje só se usa no plural como férias, núpcias, condolências, anais, óculos, olheiras.
Chegar
“Corpo da rainha chega na catedral”, disse o correspondente. No caminho, tropeçou na língua. Bateu sem piedade na regência do verbo. A gente chega a algum lugar: O navio chegou a Santos. O presidente chegou a Londres. O corpo da rainha chega à catedral.
Leitor pergunta
“Bolsonaro havia aceito o convite para ir ao funeral da rainha”, escreveu o jornal. O emprego do particípio “aceito” me deixou confuso. Está correto?
Jonas Souza, Floripa
Existem verbos que se apresentam em dose dupla. Abundantes, têm duas formas no particípio. Uma delas, a regular, é comum. Termina em -ado (matado) e -ido (extinguido). A outra, irregular, é menos vulgar. A danadinha é magra e reduzida (morto, extinto).
Na língua, há muitos verbos com duplo particípio. Eis alguns: aceitar (aceitado, aceito), entregar (entregado, entregue), expressar (expressado, expresso), expulsar (expulsado, expulso), matar (matado, morto), salvar (salvado, salvo), soltar (soltado, solto).
Quando usar um ou outro? Depende do auxiliar. O ter e haver formam os tempos compostos. Exigem o particípio regular (o terminado em -ado ou -ido). O ser e o estar são louquinhos pelo irregular. Sempre que ele aparece, eles ficam com ele: Bolsonaro havia aceitado o convite. O convite foi aceito.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 31 de janeiro de 2023
ALGUNS TROPEÇOS DA LÍNGUA EM TEMPOS DE ELEIÇÃO
Estamos a uma semana das eleições. Viu? Tempo futuro se indica assim mesmo – com a preposição a. Tempo passado joga em outro time. Escreve-se com h.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 30 de janeiro de 2023
PARECIDO NÃO É IGUAL
Pronúncias iguais, mas grafias e significados pra lá de diferentes. Safar-se incólume de tão delicadas questões exige intimidade com a língua.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 29 de janeiro de 2023
DICAS PARA NÃO ERRAR NA CONCORDÂNCIA DA PORCENTAGEM
“Nas palavras e nas modas, observe a mesma regra: sendo novas ou antigas demais, são igualmente grotescas.”
Pope
Reta final. Os brasileiros vão escolher o presidente da República. E, em alguns estados, os governadores. Candidatos e eleitores têm um comportamento comum. Ficam de olho nas pesquisas. A divulgação dos levantamentos alegra uns e entristece outros. Ao falar no assunto, ambos têm uma preocupação — a concordância. Como fica o verbo em construções como 75% da população, 1% dos votos, 20% das mulheres? Singular ou plural?
A concordância de percentagem joga no time dos partitivos. O verbo pode concordar com o número ou com o nome: 75% da população votaram (concorda com 75). 75% da população votou (concorda com população). 1% dos votos foi anulado (concorda com 1). 1% dos votos foram anulados (concorda com votos).
Limite 1
Lembre-se de pormenor pra lá de importante. A generalização é burra. O verbo tem de concordar com o núcleo do sujeito ou o complemento. Às vezes, ambos são do mesmo número. Aí, adeus, escolha. Veja: 1% da população permanece indecisa. (O número é 1, singular. O nome é população, singular). 20% das mulheres declararam a preferência. (O número é 20, plural. O complemento, mulheres, plural.)
Limite 2
Às vezes, o número deixa a solteirice pra lá. Convida o artigo ou o numeral para juntar os trapos. Acompanhado, ele fica forte como Zeus no Olimpo. A concordância se fará só com ele: Uns 15% da população continuam indecisos. Os 10% do corpo docente mais qualificado se aposentam este ano. Este 1% de insatisfeitos tumultuará o processo.
Moral da opereta
Ao lidar com percentagem, todo o cuidado é pouco. A concordância pode enganar como pesquisa eleitoral. Olho vivo!
Ou…ou
Lula ou Bolsonaro… ops! será ou serão presidente do Brasil pelos próximos quatro anos? Com os núcleos ligados pelas conjunções ou…ou, é necessário verificar a relação estabelecida:
1. Se indicar exclusão ou sinonímia, o verbo vai para o singular: Ou um ou outro será presidente do Brasil. (Lembre-se: só há uma vaga na cadeira do Palácio do Planalto.)
2. Se exprimir inclusão (= e), o verbo vai para o plural: Casamento ou divórcio são regulamentados por lei.
3. Se for retificação, o verbo concorda com o núcleo mais próximo: Os autores ou o autor da melhor reportagem receberá o prêmio. O autor ou os autores da melhor reportagem receberão o prêmio. Ele ou nós redigiremos o requerimento.
Mais do mesmo
“Por unanimidade, toda a diretoria do PDT decidiu apoiar Lula”, disse o repórter. Viu? Baita pleonasmo. Se o apoio foi por unanimidade, o toda sobra: Por unanimidade, a diretoria do PDT decidiu apoiar Lula.
Colaboração
André Gustavo é leitor voraz. Curioso, diversifica os temas aos quais dedica tempo e atenção. É dele esta mensagem compartilhada com a coluna: “Estou lendo um livro muito interessante, O chamado da tribo, do Vargas Llosa (Objetiva).
É uma coleção de biografias de autores que tiveram grande influência sobre ele. Mas me lembrei de falar com você sobre o livro
porque na biografia de Adam Smith ele utiliza a palavra irrito, com acento agudo no primeiro i. Fui ao dicionário e verifiquei que existe: significa nula, sem efeito. Conhecia?”
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 28 de janeiro de 2023
E AGORA, JOSÉ? SAIBA COMO USAR CORRETAMENTE O VOCATIVO
O vocativo é o marginal da oração. Não faz parte dos termos essenciais, integrantes ou acessórios. Por isso vem sempre separado por vírgula.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 27 de janeiro de 2023
ANDERSON TORRE: MINISTRO OU EX-MINISTRO?
Ao se referir a Torres, identificam-no como ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Nada feito. Ele é ex-ministro, mas ministro da Justiça de Bolsonaro.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 26 de janeiro de 2023
RAINHA NÃO TEM ACENTO. POR QUÊ?
Eta parto difícil. Cadê a indicação do procurador-geral da República? Bolsonaro faz mistério. Outro dia, disse “O procurador-geral da República terá o valor de uma rainha no tabuleiro de xadrez”. Repórteres, loucos por novidade, escreveram sem pensar “raínha”. Assim, com o baita acentão no i. Confundiram Germanos com gêneros humanos. O i ganha grampinho quando quebra ditongo. É o caso de saída e egoísta.
Para tanto, preenche quatro condições:
1. ser antecedido de vogal: sa-í-da, e-go-ís-ta
2. formar sílaba sozinho ou com s: sa-í-da, e-goís-ta.
3. ser a sílaba tônica: sa-í-da, e-go-ís-ta.
4. não ser seguido de nh.
Ops! O i de rainha é seguido de nh. Daí ficar livre e solto como bainha, campainha, ladainha.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 25 de janeiro de 2023
FURACÃO: ETIMOLOGIA
Furacões fazem estragos. Este ano é a vez do Dorian. Ele destruiu casas, derrubou árvores, inutilizou carros. Ao ver o noticiário, pinta a curiosidade: qual a origem do vocábulo furacão? A palavra veio do espanhol huracan. A língua de Cervantes se inspirou em Huracan, deus da mitologia maia. A divindade dos ventos, das tempestades e do fogo tratava da construção e da destruição na natureza. Tinha o nome associado às tormentas e às tempestades. Daí o fato de muitos descobridores designarem grandes tempestades de furacões.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 24 de janeiro de 2023
INDEPENDENTE E INDEPENDENTEMENTE: EMPREGO
Independente é adjetivo. Quer dizer livre: O Brasil ficou independente em 1822.
Independentemente é advérbio. Significa sem levar em conta: Ganha o mesmo salário independentemente do número de horas trabalhadas.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 23 de janeiro de 2023
CHARLES CHAPLIN ENSINOU
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplauso.”
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 22 de janeiro de 2023
RIMA NA PROSA! XÔ!
A língua encanta. Harmonias e ritmos seduzem ouvidos e arrebatam corações. Como chegar lá? Não há necessidade de mágicas. Basta usar os recursos do código — organizar as palavras de tal forma que a frase ganhe fluência e ritmo. A melhor pista: ler o texto em voz alta. O que escapa aos olhos grita aos ouvidos.
É o caso do eco. A rima é qualidade da poesia, mas defeito na prosa. A repetição de sons iguais ou semelhantes pede providências:
- Houve confusão na reunião da diretoria. Feito o estrago, não houve como impedir a divulgação do fato. Agora se teme que os sócios exijam a elucidação dos pormenores.
Tantos ãos retumbam como trovão. Mesmo em silêncio, saltam aos olhos e ecoam no ouvido interno. Melhor reduzir a presença da dupla barulhenta: Houve tumulto no encontro da diretoria. Feito o estrago, foi impossível evitar a divulgação do fato. Agora se teme que os sócios exijam que se elucidem os pormenores.
2. O Plano Real acabou com a inflação considerada mortal para o trabalhador.
Nada feito. O ouvido reclama. Vamos ao troca-troca: O Plano Real acabou com a inflação que mata a economia do trabalhador.
3. O rigor do calor causava mal-estar crescente até nos moradores de Salvador.
Sem eco: O forte calor causava mal-estar crescente até nos moradores da capital baiana.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 21 de janeiro de 2023
CONCORDÂNCIA: ASSIM COMO, BEM COMO
Com as expressões assim como e bem como, o verbo pode ir para o singular ou plural. Observe a vírgula:
Paulo, assim como Maria, estuda medicina.
Paulo assim como Maria estudam medicina.
Paulo, bem como Maria, estuda medicina.
Paulo bem como Maria estudam medicina.
Viu? Com vírgula, o termo vira adjunto adverbial. Sem a vírgula, compõe o sujeito. A oração passa a ter sujeito composto. Daí o plural.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 20 de janeiro de 2023
CACÓFATO: Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
A mocinha de família foi ao ensaio de uma escola de samba. Chegando lá, um folião suado, banguela, vestido com a camisa de time popular pediu pra dançar com ela. Pra não ser preconceituosa, a jovem aceitou. Mas o cara transpirava tanto que a coitada chegou ao limite. Afastou-se e disse:
— Você sua, hem?
Ele a puxou, lascou-lhe um beijo e respondeu:
— Beleza, gata…. excrusive vô sê seu tamém! É nóis!
É isso. De vez em quando, ocorrem encontros indesejados. Na língua também. O fim de uma palavra se junta com o começo de outra. Cria-se, então, uma penetra:
Pagou R$ 10 por cada peça.
Lá tinha muitos amigos.
Deu uma mãozinha à vizinha.
Maria diz que nunca ganha nada na loteria.
Os fatos calaram a boca dela.
Acredite. Os cacófatos, indelicados e espaçosos, não passam despercebidos. Como pô-los fora da frase? A leitura em voz alta os denuncia. As possibilidades da língua os expulsam:
Pagou R$ 10 por peça.
Tinha muitos amigos lá.
Deu ajuda à vizinha.
Maria diz que jamais ganha nada na loteria.
Os fatos lhe calaram a boca.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 19 de janeiro de 2023
OPORTUNIDADE DE O BRASIL MOSTRAR? DO BRASIL MOSTRAR?
Olhos se arregalaram. Ouvidos se afinaram. Bocas se calaram. Ninguém acreditava. Mas é fato. A prova está lá, nos anais da Assembleia Geral da ONU. A razão do espanto: construção pra lá de sofisticada exibida pelo presidente. “Esta é a oportunidade de o Brasil se apresentar ao mundo”, disse Bolsonaro diante do plenário lotado.
Por que de o Brasil?, perguntavam presentes e ausentes. Há explicação para a preposição ficar de um lado e o artigo de outro? Há. Na gramática, nem todos são iguais perante a lei. Alguns são mais iguais. É o caso do sujeito. Dono e senhor da oração, ele manda e desmanda. Com ele ninguém pode.
Sem intimidade
Um dos caprichos do mandachuva: nunca vir preposicionado. Por isso, nem em delírio junte o artigo ou o pronome que acompanha o todo-poderoso com a preposição. Dizer “É hora do show começar”? Valha-nos, Deus! Peça perdão de joelhos. E redima-se: É hora de o show começar.
Veja exemplos: Chegou o momento de a viagem (sujeito) começar. Sobre a possibilidade de o presidente Trump (sujeito) perder o mandato, muita água vai rolar. É tempo de os programas de tevê (sujeito) diminuírem a violência. Treme só de pensar na hipótese de a mulher (sujeito) pedir o divórcio.
Tratamento igual
A mesma distância aristocrática vale para o pronome. Diante do sujeito, não duvide. É um pra lá e outro pra cá: Chegou o momento de ela (sujeito) agir. Está na hora de eu (sujeito) entrar. O fato de este servidor (sujeito) chegar atrasado tem a ver com a greve do metrô.
Olho vivo
Não seja mais real que o rei. Só o sujeito rejeita a preposição. Os outros termos pertencem ao time dos iguais: É hora do descanso. Falamos sobre a possibilidade de reconciliação dos dois irmãos. Gosto dela.
Superdica
Pra entrar no time do mais igual, o sujeito vem seguido de verbo no infinitivo: Antes de o galo cantar, tu me negarás três vezes.
Dito e feito. Amém.