“Para ter lábios atraentes, diga palavras doces.”
Audrey Hepburn
Era uma vez um comerciante do mercado público de Porto Alegre. Ele vendia sardinhas, dourados, tambaquis, pirarucus e surubins. O negócio prosperava a olhos vistos.
Certo dia, cheio de entusiasmo, o gaúcho resolveu inovar. Mandou afixar um enorme cartaz com os dizeres “Hoje vendemos peixe fresco”. Olhou de longe. Gostou do resultado. Orgulhoso, perguntou ao cliente:
— O que você acha da novidade?
— É, está boa. Mas me diga uma coisa: você vende peixe velho? Não? Então para que o “fresco”?
Apagou o adjetivo. Ficou “Hoje vendemos peixe”.
— E agora?, indagou interessado.
— Para que o “hoje”? Hoje é hoje.
Restou “Vendemos peixe”.
— Por acaso você dá peixe? Não? O vendemos sobra.
No final, o vendedor tirou o cartaz. Quem chega vê o peixe. Não precisa de anúncio.
O peixe e nós
O que a história do peixeiro tem a ver conosco? Ela ensina uma lição. Quem escreve tem que ser sovina. Economizar palavras poupa tempo, espaço e… a paciência do leitor. Por isso, livre-se dos excessos. Como?
1. Elimine palavras ou expressões desnecessárias: em vez de “neste momento nós acreditamos”, diga “acreditamos”. Em lugar de “travar uma discussão”, escreva “discutir”; “fazer uma viagem”, “viajar”; “pôr moedas em circulação”, “emitir moedas”.
2. Corte, nas datas, os substantivos dia, mês e ano: em 10 de agosto (não: no dia 10 de agosto); em março (não: no mês de março); em 2018 (não: no ano de 2018).
3. Elimine palavras ou expressões desnecessárias: processo de adaptação (adaptação); decisão tomada no âmbito da diretoria (decisão da diretoria); trabalho de natureza temporária (trabalho temporário); problema de ordem sexual (problema sexual); curso em nível de pós-graduação (curso de pós-graduação); lei de alcance federal (lei federal); doença de característica dermatológica (doença dermatológica).
4. Troque a locução adjetiva por adjetivo: objetos para crianças (objetos infantis); pessoa sem emprego (pessoa desempregada), discurso sem novidade (discurso repetitivo).
5. Substitua a oração adjetiva por adjetivo: animal que se alimenta de carne (animal carnívoro); empresário que planta café (cafeicultor); profissional que não presta atenção (profissional desatento).
6. Use aposto em vez de oração apositiva: Brasília, que é a capital do Brasil, oferece serviços públicos de boa qualidade. (Brasília, capital do Brasil, oferece serviços públicos de boa qualidade).
7. Troque a oração pelo termo nominal correspondente. O diretor exige que o relatório seja apresentado. (O diretor exige a apresentação do relatório).
8. Corte artigos indefinidos. Em 99% das frases, eles são dispensáveis: Houve (um) troca-troca de profissionais jamais visto. O diretor quer traçar (uma) nova política de recursos humanos. Os funcionários pediram (um) aumento de salário.
9. Casse possessivos. O “seu” constitui uma das piores pragas do texto. Além de sobrecarregar a frase, com frequência torna o enunciado ambíguo: A campanha foi equilibrada até o (seu) final. Para manter o (seu) ritmo de crescimento, o agronegócio precisa de excelentes estradas. O empresário endurece as (suas) críticas ao governo.
Ufa!
Leitor pergunta
Viger ou vigir? Nunca sei.
Claudio Santos, Viamão
Vigir não existe. A forma é viger. O dissílabo tem um defeitão. É intolerante. Detesta o “a” e o “o”. Só se conjuga nas formas em que essas vogais não aprecem depois do “g”. A 1ª pessoa do singular do presente do indicativo não tem vez. Nem o presente do subjuntivo. Nas demais, o amigo só de alguns é regular. Conjuga-se como viver: vives (viges), vive (vige), vivemos (vigemos), vivem (vigem); vivi (vigi), viveu (vigeu), vivemos (vigemos), viveram (vigeram); vivia (vigia); viveriam (vigeriam). E por aí vai. Complicado? A língua oferece mil outras possibilidades. Deixe o viger pra lá. Que tal vigorar? Ou entrar em vigor?