X: QUANDO USAR
Use x depois de ditongo (caixa, baixa, ameixa, baixela, faixa, frouxo, peixe, trouxa, rouxinol). Exceção? Só uma: caucho (árvore que dá certo tipo de látex do qual se produz borracha). Daí recauchutar e recauchutagem.
O xis é a letra com o maior número de pronúncias em português. Em certas palavras, pronuncia-se ch (enxoval). Em outras, z (exame). Em outras, ainda, s (excelência). Chega? Não. Há os casos em que a gloriosa soa ks (táxi). Ufa!
Em vez de? Ao invés de? Embora parecidas, elas são ilustres estranhas. A semelhança funciona como armadilha que pega os desavisados pelo pé. Pra não cair na cilada, guarde isto: Ao invés de significa ao contrário de. É contrário mesmo, oposição: Saiu ao invés de ficar em casa. Comeu ao invés de jejuar. Há religiões que pregam a morte ao invés de pregar a vida.
“Excelentíssimo Senhor Cristovam Buarque”, escrevemos na pág. 13. Bobeamos. O pronome de tratamento senhor não tem pedigree. Vira-lata, grafa-se com a inicial pequenina. Melhor: Excelentíssimo senhor Cristovam Buarque.
Casamento é bom? Muita gente gosta. Junta os trapinhos e compartilha alegrias, tristezas, sucessos, fracassos. Mas, como repetia Nelson Rodrigues, a unanimidade é burra. Há os que rejeitam a união desde sempre. E há os que se arrependem no caminho. O jeito? Um vai pra lá; o outro, pra cá. É o caso de prejuízo. A duplinha ui forma ditongo. Inseparáveis, as duas letras.
Por que georreferência se escreve com rr? A duplinha homenageia a pronúncia. Referência, ao se colar a geo- não pede hífen. Pra manter o som rr, só há uma saída — dobrar a letra. O mesmo ocorre com s. Pra que não soe z, a dose dupla entra em cartaz: minissaia, microssistema, antissemita.
A regência do verbo suceder dá nó nos miolos de falantes e escritores. Temer sucedeu Dilma? Sucedeu a Dilma? As duas formas aparecem a torto e a direito. Mas a norma culta tem preferência. Morre de amores pela preposição a. Na acepção de substituir, vir depois, o objeto indireto é pra lá de bem-vindo. Assim: Temer sucedeu a Dilma. A noite sucede ao dia.
Falta sangue nos hemocentros. Campanhas para incentivar a doação invadem as redes sociais. A moçada quer fazer o bem sem olhar a quem. Pra fazer bonito, deu uma espiadinha na conjugação do verbo doar. Descobriu que o dissílabo joga no time de voar, perdoar, abençoar & cia. No presente do indicativo, a equipe dá nó nos miolos. A razão: a reforma ortográfica cassou o acento
Numas férias arrumei um namorado em Vitória, o mais lindo e cobiçado da turma. Durante todo o ano foi uma troca de cartas esperadíssimas — e minha palavra tinha que ser suficientemente sedutora para fazer com que aquele garoto me esquecesse e suspirasse pela minha volta. Alguém quer melhor motivação para a escrita? No ano seguinte, outros gatos, em outros cenários, faziam parte do grêmio.
“A gramática, como os andaimes, tem grande utilidade enquanto se está construindo a casa ou adestrando o estilo. Depois, a sua grande serventia é a ausência."