Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Literatura - Contos e Crônicas terça, 17 de setembro de 2024

NÃO GOSTA DE LER?: CRÔNICA DE DAISY GOUVEIA (POSTAGEM DA LEITORA RENATA REBESCO)

Não gosta de ler?

Por Daisy Gouveia

O título do artigo pode surpreender você de duas maneiras, ou você se identificou ou se indignou.

Estava numa sala de espera para um podcast, arrumando meu material, me preparando e com minha ecobag cheia de livros, que é como ando sempre. Entre um café e outro, que é outra compulsão minha, entrou alguém bem conhecido de muitos e me perguntou, do que você vai falar mesmo?

Do que você vai falar no seu podcast? Qual é o assunto do seu instagram?

Respondi toda animada, me achando, na certeza que ganharia mais um novo seguidor. Falei durante pelo menos uns dois minutos, explicando o propósito do meu perfil nas redes sociais.

“Estou no Instagram, como minha rede social mais importante incentivando a leitura, ajudando meus seguidores à adquirir ou manter o hábito de leitura, dando dicas de livros e também de filmes e séries adaptadas de livros, falo também dos benefícios que a leitura traz ...”, enfim , gastei meu discurso militante à favor do ler.

Para meu espanto obtive uma resposta simples e seca -  Ah....então não vou seguir você nunca, NÃO GOSTO DE LER.

À princípio achei que fosse brincadeira, rimos, mas na despedida- nos encontramos por aí, mas não no seu Instagram, nunca gostei de ler e não é agora que vou começar.

Quis argumentar, disse que devia me seguir para mudar sua opinião, tinha certeza que podia persuadi-la, disse que achava que ela não sabia se gostava de ler, que não tinha encontrado ainda a leitura certa para ela, um livro que a pegasse de jeito, mas nos encontramos mais.

Se você chegou até aqui lendo esse artigo, por afinidade com o título, ou seja, é convicto de não gostar de ler, dê uma chance para me encontrar todos os dias e me deixe convencer você do contrário. Entre no insta @daisygouveiaoficial, mas, se você não é de rede social, visite uma livraria e se dê a oportunidade de encontrar um assunto que lhe interesse e abra seu caminho para leitura.

Sempre é tempo de começar a ler.

Agora, se você chegou até o final desse conteúdo perturbado, indignado com o título, venha se juntar aos meus seguidores para ter dicas de leitura, para indicar as suas também, dar palpites nas resenhas e nas opiniões.

Junte-se a nós para desfrutar o prazer que só a leitura pode nos proporcionar!

 

SOBRE DAISY GOUVEIA

Daisy Gouveia é escritora, influenciadora digital, host do 'Podcast da Daisy' e criadora do Clube de Leitura da Daisy. Com 66 anos, usa as redes sociais para incentivar as pessoas, principalmente as mulheres, a adotarem o hábito da leitura.

Com 35 anos de experiência na área da moda, escreveu o livro 'Costurando Minha História' - que leva também o nome do programa semanal de rádio - onde conta sua trajetória e fala sobre sua reinvenção profissional, estimulando as pessoas que também querem mudar.

Instagram: @daisygouveiaoficial

Youtube: @daisygouveia

Blog: historiaselorotas.com.br


Literatura - Contos e Crônicas domingo, 15 de setembro de 2024

LIVRO MAGNETISMO: LEITURA COLETIVA (POSTAGEM DA COLUNISTA MALU DA SILVA)

Um OVNI acaba de aterrissar! Quais serão as consequências?

18 contos sobre amor, mistérios da vida e o sobrenatural te aguardam na Leitura Coletiva do livro "Magnetismo"

 

E se um OVNI caísse no coração da sua cidade e alterasse para sempre a vida de quem mora no lugar? Em Vila do Oeste, sul da Califórnia, foi isso que aconteceu: o fato deu origem a uma série de fenômenos inexplicáveis – capazes de intrigar até mesmo o mais cético dos moradores. Então prepare-se para encontrar um rastro de mistério nesta Leitura Coletiva: Magnetismo narra episódios que aconteceram depois do objeto ser retirado e dar origem a uma Fonte de Água Viva. 

Por meio de 18 contos envolventes, Nanci Otoni conta as histórias dos residentes da cidade, conectadas por um forte sentimento de amor, oriundo da fonte miraculosa de águas puras e cristalinas. A presença do artefato mágico vai curar os doentes do lugar, dar vida a personagens de livros infantis e visões extraordinárias a algumas pessoas. Mas também será capaz de aflorar sentimentos de afeição, transcendência e até vingança. 

Ao desafiar a lógica, a autora te convida a refletir sobre o impacto daquilo que vai além da razão, e faz pensar sobre as complexidades da natureza humana e em como a magia pode estar nas situações cotidianas, transformando o comum em algo extraordinário. 

Nesta Leitura Coletiva, 20 perfis literários do Instagram ou TikTok serão selecionados para receber o livro em casa, fazer a leitura e resenhar. Também teremos dois encontros virtuais para debater sobre o enredo, um deles com a presença da autora. ❤  

Inscreva-se até o dia 24 de setembro, pelo link: https://forms.gle/eRD9i1w9QJj3WcXB6  

Sobre a autora: Natural de Nova Lima, Minas Gerais, Nanci Otoni é graduada em Letras e Pedagogia, especialista em Educação e professora de português aposentada. Além de professora, foi orientadora educacional em escolas públicas por 30 anos e hoje atua como hipnoterapeuta, com formação em Life Coaching, Terapia Financeira, PNL e Hipnose Clínica. 

Inspirada pela vida e pelas histórias contadas pela mãe, Nanci escreve em verso e prosa. Como escritora, ocupa a 8ª cadeira da Academia Nova-limense de Letras e já publicou as obras Os fios da vidaVozes da Literatura Cantada, pela editora Albatroz e Magnetismo. Além disso, possui poemas, contos e crônicas publicados em mais de trinta antologias.

 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 13 de setembro de 2024

PROJETO *MACABÉA - NASCIDA DO CHIFRE DO BOI* - SAMAMBAIA - DF (POSTAGEM DA LEITORA BRASILIENSE BÁRBARA ALENCAR)

Olá, Raimundo, bom dia!

O espetáculo "Quem. Uma Macabéa sem fim" inicia a turnê por escolas públicas de Samambaia, a partir de terça-feira (17/09). No IFB, nos dias 20 e 23/09, as apresentações serão abertas ao público. A entrada é franca, mediante retirada de ingresso.

A iniciativa, idealizada pela atriz e palhaça Elisa Carneiro, integra o projeto "Macabéa - Nascida do chifre do boi", que também vai abordar temas como vulnerabilidade e coragem, especialmente junto ao público adolescente, em duas oficinas: Palhaçaria - o humor como ferramenta de sobrevivência e Mitologia Pessoal.

É possível uma pauta?

Fotos e release
https://drive.google.com/drive/folders/1LbmfnfnOzURSaZnzDNIRAOJI9k27Djmw?usp=drive_link

Atenciosamente,
Bárbara de Alencar
(61) 98343-7369

Projeto "Macabéa - Nascida do chifre do boi" leva reflexão sobre vulnerabilidade e coragem para estudantes de escolas públicas

Iniciativa oferece oficinas e apresentações teatrais no CED 619 e no IFB, em Samambaia

 

 

 

Primeiro solo da atriz e palhaça brasiliense Elisa Carneiro, o espetáculo “Quem. Uma Macabéa sem fim” inicia a turnê por escolas públicas de Samambaia, a partir de terça-feira (17/09). A iniciativa integra o projeto “Macabéa - Nascida do chifre do boi” e tem como inspiração poética a personagem principal do clássico da literatura brasileira A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Além da peça, os estudantes também poderão participar de duas oficinas: Palhaçaria - o humor como ferramenta de sobrevivência e Mitologia Pessoal.

O objetivo, de acordo com a idealizadora do projeto, Elisa Carneiro, é abordar temas como vulnerabilidade e coragem, especialmente junto ao público adolescente neste primeiro momento. E, claro, tudo regado com muito humor. “O medo de ser quem se é muitas vezes é o grande gerador de ansiedade entre as pessoas, principalmente entre os jovens. Existe sempre um padrão a ser seguido. O medo de ser ridicularizado e o medo de falhar são uns dos principais responsáveis por criar essa cultura predatória, colocando-os em contextos de isolamento. Para fazer um contraponto a essa realidade, o projeto “Macabéa - Nascida do chifre do boi” vai trabalhar a experiência da incerteza, do risco e da exposição, que podem se transformar em disparadores de emoções como a ansiedade e o medo”, segundo a atriz.  

A iniciativa vai passar pelo Centro Educacional 619 e pelo Instituto Federal de Brasília, atendendo os jovens estudantes, e público em geral. “A partir da perspectiva do Clown, a ‘Oficina de Palhaçaria - o humor como ferramenta de sobrevivência’ propõe uma visão de mundo por uma lógica invertida, na qual as fragilidades se tornam potencialidades e ferramentas para ampliar as possibilidades de expressão”, explica a atriz. Já a "Oficina de Mitologia Pessoal" pretende construir canais de diálogo com os estudantes para estimular a descoberta de suas próprias jornadas pessoais, usando a mitologia como ferramenta de compreensão e inspiração.

Inclusão e igualdade - O projeto conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e reúne uma equipe formada predominantemente por mulheres, fortalecendo o papel e a importância feminina no cenário cultural. Com mais de 30 anos de carreira, a atriz, palhaça e dramaturga Ana Flávia Garcia assina a dramaturgia de “Macabéa - Nascida do chifre do boi”. A direção fica a cargo da dramaturga e musicista de relevância no cenário cultural da capital Fernanda Jacob.

As oficinas também serão direcionadas a jovens neurodiversos trabalhando o que são consideradas vulnerabilidades nos seus contextos sociais e no ambiente escolar e estimulando as potencialidades dos estudantes.

Espetáculo - Fechando a tríade proposta no projeto - Teatro Físico, Palhaçaria, Literatura - a peça “Quem. Uma Macabéa sem fim” coloca em prática a reflexão levantada nas oficinas e terá sessões abertas ao público em geral. A base do processo criativo é a personagem central da obra A Hora da Estrela, escrita por Clarice Lispector, que contrasta com o mito autoral criado por Elisa Carneiro “Nascida do Chifre do boi”. “O texto traz um diálogo intenso com as poéticas contemporâneas, a rotina, as banalidades do dia a dia, o ordinário, e a realidade tão nua e crua inspirada por Macabéa. Esse espetáculo ressalta justamente esses dois mundos, a beleza que existe no cotidiano banal da maioria dos brasileiros e o universo místico que cada um possui dentro de si”, destaca Elisa Carneiro.

SERVIÇO
Espetáculo “Quem. Uma Macabéa sem fim” -  projeto Macabéa - Nascida do chifre do boi
Quando: CED 619 -  17 e 19/09. Terça e quinta-feira, às 10h30 e 16h (sessões exclusivas para alunos | IFB - 20 e 23/09. Sexta e segunda-feira, às 09h e 15h (sessões abertas ao público)

Quanto: entrada franca mediante retirada de ingresso no Sympla. (Retire o seu ingresso)
Classificação indicativa: livre

SINOPSE: Aqui temos uma breve história dentre as centenas vividas em diversos tempos por Quem, a nascida do chifre do boi. Quem é um ser mítico sobrenatural que vive há tantos anos nessa terra que já perdeu as contas. Quem é uma estrangeira do tempo. Em “Quem. Uma Macabea sem fim”, testemunhamos as complexas e duras realidades que um ser mítico imortal é obrigado a passar, degringolando lado a lado com a existência humana por toda a eternidade. Quem está em alerta pois há uma espécie de monstro à solta…

FICHA TÉCNICA:
Coordenação Geral: Elisa Carneiro

Dramaturgia: Ana Flávia Garcia
Direção Artística e Musical: Fernanda Jacob
Atriz: Elisa Carneiro
Coordenação Administrativa: Tatiana Carvalhedo (Carvalhedo Produções)
Produção Executiva: Marina Olivier
Assistente de Produção: Fernando Franq
Figurinista: Luazi Luango
Cenógrafa: Nine Ribeiro
Assessoria de imprensa: Mariana Guedes
Registro Audiovisual: Joy Ballard
Fotografia: Diego Bresani e Thaís Mallon
Designer Pleno:  Vanessa Santos
Músicos: Larissa Umaytá e Ramiro Galas
Consultor em Acessibilidade e Tradutor de Libras: Virgílio Soares
Oficineiras: Elisa Carneiro e Ana Flávia de Mesquita Garcia 
Arte Educadora: Raiane Castro

 

 


Literatura - Contos e Crônicas quarta, 11 de setembro de 2024

BIENAL DO LIVRO: CAFÉ COM DEUS PAI KIDS E CAFÉ COM DEUS PSI TEENS (POSTAGEM DA LEITORA CAROLINE SOARES)

Oieeeee, Raimundo, tudo bem com vocêss??

Tenho uma novidade para te contar que terá na Bienal.

A Arena Infância da Bienal Internacional do Livro de São Paulo é um dos espaços mais aguardados do evento, projetado especialmente para estimular o público jovem com atividades literárias envolventes e educativas. Este ano, a Arena será palco de uma programação rica, que inclui contação de histórias, oficinas temáticas e interações dinâmicas com autores e suas obras.


A Bienal trará uma experiência imersiva para o público infanto-juvenil com as novas edições de "Café com Deus Pai".
No dia 10 de setembro, as versões Kids e Teens de "Café com Deus Pai" terão destaque com duas sessões especiais, proporcionando aos jovens leitores uma experiência imersiva e interativa.

Essas iniciativas fortalecem o papel da literatura infanto-juvenil no desenvolvimento das novas gerações, tornando a Bienal um ponto de encontro para famílias que desejam incentivar seus filhos a explorar o mundo dos livros de maneira divertida e educativa.

Acha que conseguimos uma nota ??

Pelo zelo e carinho com as nossas pautas somente nos resta dizer: Obrigada, Obrigada e Muito Obrigada!

Carol - midia@clacri.com - (11) 91171-4004

Café com Deus Pai - Junior Rostirola

'Café com Deus Pai Kids' e 'Café com Deus Pai Teens' ganha espaço exclusivo na Arena Infância da Bienal de SP

O Espaço Infâncias da Bienal Internacional do Livro de São Paulo será o cenário de dois eventos especiais dedicados aos livros "Café com Deus Pai Teens" e "Café com Deus Pai Kids" de Junior Rostirola. Ambos os eventos estão programados para o dia 10 de setembro, destacando o compromisso do autor com a educação e o entretenimento dos jovens leitores.

Brasil, setembro de 2024: Com o lançamento da editora Vélos, a edição 2025 de “Café com Deus Pai” ganhou versões para crianças e adolescentes, superando as expectativas do mercado. O livro, que figura na lista dos mais vendidos das plataformas de vendas, é um sucesso contínuo entre os leitores infanto-juvenis.

Com isso, no dia 10 de setembro, a Arena Infância contará com duas sessões especiais dedicadas às versões infanto-juvenis de "Café com Deus Pai". A primeira sessão, das 11h às 11h30, e a segunda, às 16h, trarão atividades interativas e envolventes que prometem proporcionar uma experiência imersiva para os jovens leitores. Com contação de histórias e atividades lúdicas inspiradas no livro, as sessões serão momentos de aprendizado e diversão, especialmente projetados para o público infantil e juvenil.

O Espaço Infâncias, estará aberto durante toda a Bienal, do dia 06 ao dia 15 de setembro, oferecendo uma programação repleta de atividades educativas, incluindo narração de histórias, oficinas temáticas e diversas atividades educativas.

Essas iniciativas visam proporcionar uma experiência enriquecedora para os jovens visitantes da Bienal, estimulando a leitura e o aprendizado de maneira dinâmica e interativa.


Literatura - Contos e Crônicas terça, 10 de setembro de 2024

BIANDA JULIANO PARTICIPA DE SESSÃO DE AUTÓGRAFOS NA BIENAL DO LIVRO (POSTAGEM DE BASE COMUNICA)

 

Bianca Juliano, autora best-seller de "O Mínimo Esforço", participa de sessão de autógrafos na Bienal do Livro

 

No último domingo, 8 de setembro, Bianca Juliano, autora do livro "O Mínimo Esforço", participou da Bienal do Livro 2024, no Distrito Anhembi, em São Paulo. O evento reuniu milhares de pessoas interessadas na literatura, e Bianca esteve no estande da Maquinária, editora responsável por sua obra, para uma sessão de autógrafos.

Bianca Juliano, ex-sócia da XP Investimentos e fundadora da empresa Mínimo Esforço Educação, compartilhou sua trajetória no setor financeiro. Durante sua passagem pela XP, Bianca desenvolveu estratégias que ajudaram os assessores de investimento a captar recursos e gerenciar suas carteiras de forma mais eficiente. Essa experiência foi a base para criar o método descrito no livro, que ajuda profissionais de múltiplos mercados a otimizar suas rotinas e alcançar melhores resultados.

Durante o evento, Bianca falou sobre seu processo criativo e como sua carreira influenciou o desenvolvimento do método "O Mínimo Esforço". O livro já é um sucesso de vendas e tem ajudado diversos profissionais. Atualmente, além de comandar a empresa Mínimo Esforço Educação, Bianca atua também como mentora e palestrante.

Sobre Bianca Juliano 
Bianca Juliano é autora do livro “O Mínimo Esforço: o método de vendas que me levou à posição de sócia da XP Investimentos”, com prefácio de Guilherme Benchimol e endosso de Bernardinho. Atua como mentora, palestrante e divulga o método que a ajudou a conquistar e vencer seus desafios. Formada em Administração de empresas e pós-graduada em Neurociências, é especialista em vendas, assessoria de investimentos, gestão e lideranças. Com 17 anos na XP, passou de assessora à sócia mais longeva da empresa por conta de seus resultados, sua postura e sua visão prática. Desenvolveu mais de 12 frentes de negócios, como XP Asset, Canal B2C e B2B de Assessoria de Investimentos, áreas que inovaram e revolucionaram. Liderou programas de formação e performance na XP Advisory Academy e XPE Educação.  

Sobre a Mínimo Esforço Educação  
A Mínimo Esforço Educação (OME) foi criada por Bianca Juliano, com Marcia Moretti como CEO e Daniela Audino como CMO. A OME oferece mentorias, workshops e palestras baseadas no método que ajudou a transformar a XP. Com o objetivo de elevar o desenvolvimento profissional de assessores de investimentos e empresas, a companhia já tem programas de mentoria em funcionamento e planeja parcerias com grandes instituições financeiras. Saiba mais: https://ominimoesforco.com.br/ 

Contatos para imprensa:

Letícia Rodrigues - leticia@basecomunica.com 
Jader Fernandes - jader.fernandes@basecomunica.com 


Literatura - Contos e Crônicas domingo, 08 de setembro de 2024

*DEPOIS DAS CINCO*: UM ROMANCE REPRESENTATIVO PARA FÃS DE FANTASIA E MISTÉRIO (POSTAGEM DA INTERNAUTA LUÍSA SANTINI)

"Depois das cinco": um romance com representatividade para fãs de fantasia e mistério

Lançamento young adult da Buzz Editora, escrito por Bruno Haulfermet, narra a jornada de um casal improvável que desafia o destino para ficar junto

 

Ivana leva uma vida aparentemente normal na pacata Província de Rosedário, um lugar famoso pelas raras rosas de caule rosado. Mas ela está longe de ser uma adolescente comum. Todas as tardes, quando o relógio marca seis horas em ponto, a protagonista de Depois das cinco deixa de existir e ressurge somente depois das cinco da manhã do dia seguinte. Publicado pela Buzz Editora e escrito por Bruno Haulfermet, o sucesso do Wattpad narra a trajetória da garota para esconder esse segredo a sete chaves, até que ela conhece Dario. O rapaz compartilha da mesma condição corporal, só que de forma oposta: sempre que ela surge, ele desaparece.  

Além da própria mãe, os únicos que conhecem a peculiaridade de Ivana são os amigos de infância Una e Ivo. O trio ajuda a jovem artista a seguir uma rotina reclusa e metódica para despistar olhares: aos 16 anos, ela passa a maior parte dos dias na escola ou no ateliê, pintando telas coloridas. Certa tarde, Ivana decide passear no lago da província, mas perde a noção do tempo e realiza o processo de dissipação corporal a céu aberto. Pouco antes de sumir, nota a presença de Dario, um menino semitransparente e de sardas brilhantes, que se destacam ainda mais em sua pele negra. A conexão entre os dois é imediata e eles se apaixonam.   

O problema é que o casal logo percebe se tratar de uma relação inviável, já que não conseguem sequer tocar um no outro. Nesta dinâmica, tudo o que têm são breves minutos, duas vezes por dia, no exato momento em que seus corpos estão translúcidos. Angustiados e determinados a viver essa paixão a qualquer custo, iniciam uma busca para entender como driblar as forças do destino e ficarem finalmente juntos. Mas nessa busca por respostas, descobrem também que os moradores da província escondem mentiras inimagináveis. A cidade é como uma rosa: tão bela quanto espinhosa. 

Segundas-feiras eram sempre muito cheias no ateliê, o que dava uma ótima vantagem para Ivana. Ela apenas precisava tomar cuidado com as janelas. O ateliê não era pequeno e, mesmo estando no segundo andar, toda cautela era pouca com janelas, os criadouros de gente fofoqueira. Ainda mais em Província de Rosedário.
(Depois das cinco, p. 39)  

Entre mistérios, romance e uma boa dose de fantasia, Bruno Haulfermet, homem gay, constrói um enredo young adult marcado pela diversidade e representatividade, por meio de protagonistas que rompem estereótipos e vão ressoar com o público jovem, como o casal birracial e personagens LGBTQIAP+. Inspirado por quadrinhos e livros de terror, o autor explora a profundidade das emoções humanas, o lado sombrio de cada um e o poder imbatível do amor – mesmo quando ele parece impossível. 

Fica técnica 
Título: Depois das cinco 
Editora: Buzz 
Autor: Bruno Haulfermet 
Gênero: Romance, Fantasia 
ISBN (livro físico):  978-65-5393-359-0   
ISBN (e-book): 6553933596 
Número de páginas: 336 
Preço: R$ 69,90 
Onde encontrarAmazon | E-commerce Buzz Editora | Principais Livrarias do Brasil  

Sobre o autor: Bruno Haulfermet sempre foi ligado à arte. Seu amor precoce pela leitura se deu graças aos quadrinhos da Turma da Mônica e, com o passar dos anos, foi se estendendo aos livros. Ainda na adolescência, começou a escrever contos de terror e fantasia baseados nos volumes de Goosebumps. Entusiasta da cultura pop, sobretudo a dos anos 1990, Bruno é designer por formação, já foi colunista do blog Plugcitários e embaixador do Wattpad, onde se tornou líder de curadoria de conteúdo. É fã de animes e filmes hollywoodianos, adora frappuccinos e generosas fatias de bolo caseiro. Depois das cinco é o romance de estreia do autor. 

Redes sociais do autor: 
TikTok: @brunohaulfermet  
Instagram: @brunohaulfermet  
Twitter: @brunohaulfermet  
Skoob: Bruno Haulfermet  


Literatura - Contos e Crônicas sábado, 07 de setembro de 2024

ENCONTRO DE LEITURAS RECEBE A ESCRITORA LÍDIA JORGE (PSTAGEM DO INTERNAUTA ANDRE FRBER CIRRI)

Encontro de Leituras de setembro recebe a escritora Lídia Jorge e discute seu premiado livro "Misericórdia"

A obra da escritora portuguesa é tema do encontro deste mês que ocorre no dia 10 de setembro, resultado da parceria entre revista Quatro Cinco Um e o jornal PÚBLICO

 

A transcrição das memórias do último ano de vida de sua mãe foi o desafio escolhido por Lídia Jorge para o livro Misericórdia. Com mais de 40 horas de áudio em um pequeno gravador de voz, esse romance conta a história de dona Alberti, que passou o final de sua vida em um lar para idosos. A filha da personagem principal e autora é a convidada especial do Encontro de Leituras de agosto, que moderado pela jornalista Isabel Coutinho e pelo escritor e jornalista Sérgio Rodrigues. A premiada obra foi publicada no Brasil pela editora Autêntica Contemporânea e em Portugal pela Dom Quixote.

O encontro será realizado de forma virtual, pela plataforma Zoom, no dia 10 de setembro, às 18h, e é aberto ao público. Lídia Jorge e os moderadores vão discutir a obra que ganhou o Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2022, além de muitos outros.

A história de passa no Hotel Paraíso, o lar para idosos onde Maria Alberta morava. Os relatos da mãe juntos do poder literário trazido por sua filha nos levam a uma imersão completa em um universo comummente estereotipado. São abordados os principais acontecimentos do local: quem chega, quem parte, quem tenta fugir, a convivência com moradores e cuidadores, tudo pela ótica de uma senhora com uma curiosidade única.

 

Sobre o Encontro de Leituras

O Encontro reúne leitores de língua portuguesa e discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. Os encontros são gratuitos e acontecem sempre nas segundas terças-feiras de cada mês, às 18h do Brasil e 22h de Portugal. O evento não é transmitido nas redes sociais, nem disponibilizado depois. É uma experiência para ser vivida por aqueles que se juntam à sessão. Os melhores momentos são depois publicados no podcast Encontro de Leituras, disponível no Spotify, Apple Podcasts, SoundCloud ou outros aplicativos habituais. 

A parceria entre a Quatro Cinco Um e o PÚBLICO conta com um espaço editorial fixo nos dois veículos e uma newsletter mensal sobre o trânsito literário e editorial entre os países de língua portuguesa. A editoria especial publica materiais jornalísticos sobre autores do Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau e Timor que tenham sido lançados dos dois lados do oceano. A newsletter mensal traz notas, curiosidades, imagens e informações sobre as novidades das livrarias e os eventos literários em Lisboa, São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades onde se fala português. De vez em quando, na programação de festivais e em outras ocasiões, eventos presenciais serão realizados.

 

Sobre a Revista Quatro Cinco Um

Publicada em edição impressa, site, newsletters, podcasts e clubes de leitura, a revista dos livros seleciona e divulga mensalmente cerca de duzentos lançamentos em mais de vinte áreas da produção editorial brasileira. 

Em linguagem clara, sem jargões nem hermetismo, os textos são assinados por nomes de destaque da crítica e da cultura. Tendo o pluralismo e a bibliodiversidade como nortes editoriais, a Quatro Cinco Um busca misturar em sua pauta diferentes gerações, sensibilidades e pontos de vista. Projetos editoriais especiais focalizam temas relevantes, tais como cidades, democracia e justiça, literatura infantojuvenil, literatura japonesa, literatura francesa, literatura israelense e livros LGBTQIA+. 

Desde 2019, a revista publica duas vezes por mês o 451 MHz, primeiro podcast da imprensa profissional dedicado exclusivamente a livros. Acreditamos no livro como objeto de transformação individual e coletiva, com base no princípio de que não há sociedade democrática sem ampla circulação de livros. 

A revista foi lançada em maio de 2017, tendo como editores Fernanda Diamant e Paulo Werneck. Desde 2019, a Associação Quatro Cinco Um tem como diretores os jornalistas Paulo Werneck e Humberto Werneck.

 

Serviço

Encontro de Leituras | Quatro Cinco Um + Público
“Misericórdia”, de Lídia Jorge

Quando: terça-feira, 10/09
Horário: 18h (Brasil), 22h (Lisboa, Portugal)

Mediação: Sérgio Rodrigues e Isabel Coutinho

Convidado: Lídia Jorge

O evento não é transmitido nas redes e nem disponibilizado depois

Aberto ao público

Transformação em vídeo e podcast

Acesso à sala virtual do zoom: https://us06web.zoom.us/j/82156058496?pwd=XVajCpNXeHl8x1QmXY9aL32G2yfHoB.1#success

ID: 821 5605 8496

Senha de acesso: 719623

 

Atendimento à imprensa:

a4&holofote comunicação | +55 11 3897 4122

Andre Cirri | andrecirri@a4eholofote.com.br| +55 11 99940-8200

Marianna Rosalles mariannarosalles@a4eholofote.com.br | +55 11 98652-6930
Neila Carvalho | neilacarvalho@a4eholofote.com.br| +55 11 99916-5094


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 06 de setembro de 2024

GALINHA PINTADINHA: PRESENÇA CONFIRMADA NA BIENAL DO LIVRO 2024 ()POSTAGEM DA INTERNAUTA VITÓRIA MOREIRA)

Galinha Pintadinha é presença confirmada na Bienal do Livro 2024

A personagem mais amada das crianças marcará presença na Bienal do Livro, que acontece de 6 a 15 de setembro, em São Paulo

 

 

A Galinha Pintadinha, ícone do entretenimento infantil, está de volta à Bienal do Livro em São Paulo, que acontece entre os dias 06 e 15 de setembro de 2024, no Distrito Anhembi. Dentro do espaço da Ciranda Cultural, a marca promete encantar as crianças e suas famílias com diversas atividades. 

Entre as atrações, destacam-se as ativações interativas, um Meet & Greet exclusivo com a Galinha Pintadinha, vitrine personalizada que vai chamar a atenção dos visitantes, e a distribuição de brindes temáticos que vão conquistar os pequenos.

A presença da Galinha Pintadinha na Bienal reforça o compromisso contínuo da marca com o estímulo à leitura e à cultura, reafirmando o sucesso duradouro da personagem que continua a cativar novas gerações, sempre trazendo novidades para o mercado.

Com uma linha completa de produtos, a personagem se consolida mais uma vez como um dos destaques do evento, que é um dos maiores e mais importantes do setor literário no Brasil. 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 06 de setembro de 2024

MARIANA IANELLI LANÇA SEU PRIMEIRO LIVRO (POSTAGEM DA INTERNAUTA IARA FILARDI)

Mariana Ianelli lança seu primeiro livro de ficção pela Maralto Edições

A infância de Joana conversa com os segredos de infância do leitor

 

A poeta, cronista e crítica literária brasileira Mariana Ianelli lança pela Maralto Edições seu primeiro livro de ficção: A infância de Joana. Autora de 16 livros de poemas e dos infantis Bichos da noite (2018), Dia no ateliê (2019) e A menina e as estrelas (2022), a vencedora do Prêmio Minuano de Literatura 2021, na categoria de Crônica, entrega agora uma obra que conversa com os segredos de infância de cada leitor.

A infância de Joana aposta numa narrativa em fragmentos, recortes de cenas e rastros de acontecimentos. O tempo de infância da protagonista está ambientado nos anos de 1980 e início de 1990, com algumas referências próprias da autora. As idades dessa infância se misturam: o início coincide com a primeira infância, e o fim está atado ao começo da adolescência, que entra no livro como um anexo (com o título “Gralhas no céu da tarde”). Toda essa composição foi se fazendo aos poucos, fragmento por fragmento, selecionados de um conjunto maior que a autora foi polindo.

“Esse é meu primeiro livro de ficção, também a primeira vez que experimento o humor. Já visitei a infância em outros textos, sob outras perspectivas, de mãe, cronista, poeta. Essa experiência de linguagem, na ficção, encarnando uma criança em seus primeiros assombros, é nova para mim. Sei que há várias personagens de nome Joana na nossa prosa brasileira, mas isso não foi exatamente intencional”, explica Mariana Ianelli.

Joana é uma personagem composta de várias meninas, uma experiência de linguagem para Ianelli, que busca sentir o que uma criança sente, ver pelo olhos dela e participar de seu mundo interior, aparentemente incomunicável. Elementos e sentimentos reais da infância da autora se misturam a outras histórias e se transformam em uma nova narrativa.

“Essa Joana vai se desenhando sob diferentes ângulos a depender de como responde ao que se lhe apresenta ou lhe acontece”, explica a autora. Cada fragmento do livro traz um momento ou uma idade dessa infância em que o rosto mais secreto dessa menina aflora. A personagem vai se moldando das reações ou aclimatações a cada situação em que está enredada.

 

“Joana dava corda ao carrossel, de olho nas bonequinhas que giravam ao som mais triste que alguma vez ela já ouviu.

Para quem visse de fora, era uma menina apegada a uma caixinha de música. Para Joana, era uma necessidade secreta

que crescia, até o dia em que ela rebentou a caixa acrílica por cima e arrancou as bonequinhas dali uma a uma, numa

operação de salvamento. Joana as libertava daquela música triste. Não sabia, nunca soube, enquanto durou sua

infância, que o que ela ouvia era O lago dos cisnes.”

 

Com ilustração da experiente fotógrafa Juliana Monteiro, as imagens selecionadas para a obra transmitem o incomunicável do interior da criança. “As imagens, que foram criadas a partir de transferências de fotografias e de carimbos de objetos, apresentam diversas Joanas”, explica Juliana. “Trabalhei com fotografias de diferentes crianças para sublinhar visualmente as transformações pelas quais essa personagem passa durante seu percurso de descobertas e para evocar o caráter universal da experiência narrada.”

A infância de Joana é uma obra provocativa que convida o leitor a percorrer os caminhos por ora leves e por ora assombrosos da infância. O livro chega às livrarias e às plataformas digitais de vendas no mês de agosto e fará parte do Programa de Formação Leitora Maralto, uma iniciativa direcionada a escolas de todo o país.

 

Sobre escritora: Mariana Ianelli nasceu em 1979, em São Paulo, onde vive. É autora de dezesseis livros de poemas, como Trajetória de antes (1999), Duas chagas (2001), Passagens (2003), Fazer silêncio (2005), Almádena (2007), Treva alvorada (2010), O amor e depois (2012) e Tempo de voltar (2016) – reunidos na antologia Manuscrito do fogo (2019), que marca vinte anos de poesia –, além de Terra natal (2021), Moradas (2021), Vida dupla (2022), Dança no alto da chama (2023) e América: um poema de amor (2021), semifinalista do Prêmio Oceanos de 2022. Tem cinco livros de crônicas: Breves anotações sobre um tigre (2013), Entre imagens para guardar (2017), Dia de amar a casa (2020) – Prêmio Minuano de Literatura 2021, categoria Crônica –, Prazer de miragem (2022) e Turno de madrugada: antologia (2023). Também é autora de três infantis: Bichos da noite (2018), Dia no ateliê (2019) e A menina e as estrelas (2022).

 

Sobre a ilustradora: Juliana Monteiro nasceu em 1981, no Rio de Janeiro, e vive em São Paulo, onde cursou Linguística e, desde então, tece relações entre diferentes linguagens. O caráter universal do que é íntimo, a impermanência e a dinâmica entre palavra e imagem são eixos presentes em sua observação artística, que se vale da fotografia como principal instrumento do dizer. Participou de exposições coletivas em galerias e museus, além de residências artísticas nacionais e internacionais. É coautora, juntamente com o escritor João Anzanello Carrascoza, do Catálogo de perdas (2017), obra finalista do Prêmio Jabuti e vencedora do FNLIJ, e de Fronteiras visíveis (2023).

A infância de Joana
Autora: Mariana Ianelli
Editora: Maralto Edições
Pág: 80
Vendas: Amazon
Preço: 59,90

Lançamento:
14/09/2024, sábado, a partir das 15h
Onde: Livraria Martins Fontes
Av: Paulista, 509 - São Paulo, SP


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 06 de setembro de 2024

DIA DO SEXO: 6 DE SETEMBRO (POSTAGEM DA INTERNAUTA CAROLINE ARNOLD)

 

Dia do Sexo (06/09): 6 livros eróticos para apimentar a imaginação

 

O Dia do Sexo foi escolhido no dia 6/9, por uma alusão um pouco óbvia, que indica uma posição realizada na “hora H”. Entretanto, o importante nesta data é entender que falar sobre a sexualidade aproxima as pessoas e pode gerar bem-estar em uma relação.

Para comemorar, casais, solteiros e aqueles que estão ainda na fase da identificação do relacionamento podem aproveitar a literatura como inspiração e conexão por meio de histórias quentes.

Então, aproveite este dia para escolher sua próxima leitura entre essas seis obras hot, além de discutir as passagens dessas narrativas em um lugar mais apropriado, se é que entende...

Confira as dicas:

Cheiro de suor e vinho

Com muitos toques de sensualidade e cenas picantes, o autor Miguel Vaz narra a história de Elisa Rizzo, uma jovem recatada, e de Lorenzo, um rockstar recém-lançado à fama. Além de fugir de um ex-mafioso alucinado, a protagonista terá seus dias mais quentes ao lado do astro. Agora, resta saber se Elisa suportará a pressão dos holofotes.

(Autor: Miguel Vaz | Editora: Lucens Editorial | Onde encontrar: Amazon)

  

Herdeiro do império

Neste romance proibido, escrito pela autora best-seller da Amazon Jussara Leal, as leitoras vão conhecer Bruno Negrão e Maia Galina: herdeiros de famílias rivais da máfia dos jogos de apostas ilegais. Com intensidade comparável à de Romeu e Julieta, a obra apresenta cenas sensuais de tirar o folego. Além de uma paixão avassaladora, a trama revela segredos e traições.

(Autora: Jussara Leal | Editora: Qualis | Onde encontrar: Amazon)

 

Doce como você

Quando Shay é deixada pelo noivo no dia do casamento, enxerga no testamento da avó uma forma de recomeçar. No entanto, para herdar a fazenda da matriarca, ela precisa se casar no período de um ano. Surge então um acordo com Noah, um antigo colega da época de escola, que pode se transformar em amor verdadeiro. Com momentos quentes e debates sensíveis, Kate Canterbary oferece uma imersão nas complexidades do romance.
(Autora: Kate Canterbary | Editora: VR | Onde encontrarAmazon

 

1878 – A história de Clarice

Clarice é uma jovem burguesa obrigada a firmar um casamento por conveniência. O escolhido é o libertino Nuno, homem nobre, mas falido, que é convencido a aceitá-la como esposa em troca de um dote para pagar as dívidas do próprio pai. Os dois não poderiam imaginar que se apaixonariam de verdade, entre encontros e desencontros repletos de uma atração arrebatadora.

(Autora: Mila Mello | Onde encontrarAmazon)

 

Acordo entre melhores amigos (Rancho Collins – Livro 1)
O bilionário Jackson Collins, governador do Texas, vê a carreira ameaçada após um escândalo sexual. Para recuperar sua imagem, ele propõe um casamento falso com Tatiana Wiliams, amiga de infância que cresceu no rancho da família. Em meio a esse jogo de aparências, eles se deparam com uma gravidez inesperada e precisam decidir se tudo não passa de estratégia ou algo mais verdadeiro.

(Autora: Jéssica Macedo | Editora: Grupo Editorial Portal | Onde encontrarAmazon)

  

A irresistível face da mentira

Quando quatro das mais renomadas autoras brasileiras de ficção hot se unem para criar um livro, a história só pode ser envolvente e surpreendente. Tatiana Amaral, Juliana Dantas, Evy Maciel e Nana Simons entregam um enredo que combina suspense, mistério, relacionamentos conturbados, ambição e muita sensualidade. A narrativa gira em torno do sumiço de um ambicioso e sedutor empresário, que desaparece sem deixar rastros.
(Autora: Tatiana Amaral | Editora: DVS Editora | Onde encontrar: Amazon)

 


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 05 de setembro de 2024

LIFETIME: PROGRAMAÇÃO ESPECIAL LEVA AO AR PRODUÇÕES ADAPTADAS DE LIVROS (POSTAGEM DO INTERNAUTA MARCO DABUS)

Lifetime

Programação especial do Lifetime leva ao ar produções adaptadas de livros

Sagas das escritoras V.C. Andrews, Robin Wasserman e Ann Rule compõem a semana especial Dos Livros às Telas

 


Minissérie O Jardim dos Esquecidos: A Origem, destaque de domingo

 

ESPECIAL: Dos Livros às Telas -  10 a 15/9, terça a domingo, a partir das 18h

Nesta semana, o Lifetime exibe a programação especial Dos Livros às Telas de 10 a 15/9, com as melhores sagas adaptadas de livros de escritoras renomadas para as telas do canal: as coleções Pecados Capitais de Robin Wasserman e Ann Rule's Crime Files de Ann Rule.  De V.C. Andrews serão exibidas Saga Casteel eSaga Landry, além da minissérie Dollanganger: A Origem e a Saga Dollangangercomposta por quatro longas.

Durante a semana o Lifetime Movies exibe uma saga por dia, a partir da 18h, confira:

10/9, terça-feira Pecados Capitais (Robin Wasserman)

Nesta terça, vão ao ar os quatro filmes da coleção Pecados Capitais, de Robin Wasserman, autora best-seller de mais de dez romances. Cada um deles conta uma história diferente, relacionada a um dos pecados capitais.

18h - Pecados Capitais: Inveja
Gabrielle (Rose Rollins, Pixels) vive a vida que sempre sonhou: um marido dedicado, uma linda filha e uma carreira de sucesso em relações-públicas. No entanto, ela descobre a existência de Keisha (Serayah, Empire: Fama e Poder), sua meia-irmã por parte de pai. A alegria da descoberta logo se transforma em terror, quando ela percebe que a sua nova irmã está disposta a fazer qualquer coisa para acabar com sua vida.

Pecados Capitais: Inveja (Envy: A Seven Deadly Sins Story, 2021, EUA)
Gênero: drama
Direção: Damon Lee
Elenco: Rose Rollins, Serayah, Kandi Burruss

19h40 - Pecados Capitais: Ganância
A trama acompanha a vida de Zuri Maxwell (Monique Coleman, High School Musical), uma mulher que parece ter a vida perfeita, mas sua ganância ameaça destruir tudo quando ela conhece o benfeitor e empresário Godfrey Anderson (Eric Benét¸ Entre Tapas e Beijos) e sua tia rica, Miss Viv (LisaRaye McCoy, Elas e Eu). Eles têm tudo o que Zuri deseja. O que pode dar errado?

Pecados Capitais: Ganância (Greed: A Seven Deadly Sins Story, 2022, EUA)
Gênero: drama
Direção: Troy Scott
Elenco: Monique Coleman, Eric Benét, LisaRaye McCoy

21h15 - Pecados Capitais: Luxúria
Tiffanie (Keri Hilson, Riddick 3) está prestes a se casar com sua alma gêmea, Damon (Tobias Truvillion, Hitch, Conselheiro Amoroso), e sente que está vivendo um verdadeiro conto de fadas. Mas, quando Trey (Durrell ‘Tank’ Babbs, Velozes e Furiosos), amigo e padrinho de Damon, e que acabou de sair da prisão, aparece, seu sonho se transforma em um pesadelo. Será que ela poderá recuperar a vida que tanto sonhou?

Pecados Capitais: Luxúria (Lust: A Seven Deadly Sins Story, 2021, EUA)
Gênero: drama
Direção: Star Victoria
Elenco: Keri Hilson, Tobias Truvillion, Durrell ‘Tank’ Babbs

22h50 - Pecados Capitais: Ira
Na trama, Melanie (Donna Benedicto, Supergirl) é uma advogada solteira até que conhece Xavier (Antonio Cupo, American Mary), um homem que parece ser tudo o que ela procura. Mas quando o ciúme e a raiva de Xavier o levam a ações suspeitas e ameaças perigosas, Melanie terá que lutar para se salvar.

Pecados Capitais: Ira (Wrath: A Seven Deadly Sins Story, 2022, EUA)
Gênero: drama
Direção: Troy Scott
Elenco: Donna Benedicto, Antonio Cupo, Romeo Miller

Classificação Indicativa:14 anos

11/9, quarta-feira Ann Rule's Crime Files (Ann Rule)

Com 33 títulos publicados e mais de mil reportagens, Ann Rule foi uma escritora estadunidense que ficou conhecida por obras inspiradas em crimes reais, como o bestseller The Stranger Beside Me, que conta a história do famoso serial killer Ted Bundy — conhecido por assassinar várias jovens na década de 1970.

18h - Um Assassinato para Recordar

A trama remonta ao misterioso caso de Javier e Robin Rivera, no longa interpretados por Kevin Rodriguez (Swipe Right) e Madie Nichols (The Outsider). O casal decide realizar uma viagem para acampar, em comemoração do primeiro ano de casados. Misteriosamente, Robin encontra seu marido morto e se vê sem esperanças em meio a uma densa floresta. Sua única saída foi aceitar a ajuda de Sam (TC Matherne, Godzilla II Rei dos Monstros), um enigmático campista que se dispõe a salvá-la.

Um Assassinato para Recordar (Ann Rule's A Murder to Remember, 2020, EUA)
Gênero: drama, thriller
Direção: Robin Givens
Elenco: Maddie Nichols,   T.C. Matherne, Kevin Rodriguez

19h40 - O Círculo da Traição

Na trama, um assassinato, logo após o Natal, abala uma pequena comunidade. Agora, a polícia, os amigos e os vizinhos querem descobrir o assassino, deixando a cidade em polvorosa ao mesmo tempo em que são revelados segredos do falecido.

O Círculo da Traição (Ann Rule’s Circle of Deception, 2021, EUA)
Gênero: drama, crime
Direção: Ashley Williams
Elenco: Diane Neal, Tahmoh Penikett, Tamara Tunie

21h15 – Debora Green: A Mulher Que Queimou os Filhos

Esta impactante história relata os acontecimentos da vida de Débora Green (Stephanie March, Lei e Orderm: SVU), uma mulher que foi sentenciada a duas condenações simultâneas de 40 anos de prisão pelo incêndio que queimou sua casa e acabou com as vidas de seus filhos em 1995. Ela é de fato uma assassina sem coração?

Debora Green: A Mulher Que Queimou os Filhos (Ann Rule's A House On Fire, 2021, CAN)
Gênero: drama
Direção: Shamim Sarif
Elenco: Stephanie March, Shaun Benson, Connor Peterson

22h50 – Dormindo Com o Perigo

Na trama, a comissária de bordo Grace Tanner (Elisabeth Röhm, O Escândalo) conhece Paul Carter (Antonio Cupo, UnREAL) e o considera um “príncipe”. Não demorou para se envolver em um apaixonado caso de amor. Mas, o homem dos seus sonhos rapidamente se tornou um pesadelo quando sua raiva ciumenta o levou a um ataque brutal. Incrivelmente, Grace conseguiu escapar e agora tem de se livrar de Paul.

Dormindo Com o Perigo (Sleeping With Danger, 2020, CAN)
Gênero: thriller
Direção: David Weaver
Elenco: Elisabeth Röhm, Antonio Cupo, Adam Beauchesne

CI:14 

12/9, quinta-feira Saga Casteel (V.C. Andrews)

A faixa Lifetime Movies homenageia a escritora norte-americana Virginia Cleo Andrews (1923-1986) com a exibição de seus longas mais populares. Os romances de Andrews combinam horror gótico e saga familiar, girando em torno de segredos de família e amor proibido.

18h – Os Sonhos de Heaven
Na trama de Os Sonhos de Heaven, primeiro filme da saga dos Casteel, a jovem Heaven Leigh Casteel (Annalise Basso, Capitão Fantástico) é a mais velha de cinco irmãos que vivem em extrema pobreza, em West Virginia (EUA). Após o abandono de sua madrasta, seu pai Luke (Chris William Martin, The Vampire Diaries) vende Heaven e seus quatro irmãos para famílias diferentes. Agora, a garota terá de enfrentar a vida, da sua maneira, em um mundo cruel e desconhecido.

Os Sonhos de Heaven (V.C. Andrew’s Heaven, 2019, CAN)
Gênero: drama, thriller
Direção: 
Paul Shapiro
Elenco: 
Annalise Basso, Chris McNally, Julie Benz

19h40 – Anjo Negro
Em Anjo Negro, aos 17 anos, Heaven (Annalise Basso) começa uma vida nova na luxuosa mansão de seus avós Jillian (Kelly Rutherford, Dinastia) e Tony (Jason Priestley, Barrados no Baile), na cidade de Boston. Mas premonições estranhas e segredos perturbam a jovem. Enquanto procura por amor, Heaven se verá envolvida em uma cruel rede de enganos.

Anjo Negro (V.C. Andrew’s Dark Angel, 2019, EUA)
Gênero: drama
Direção: 
Paul Shapiro
Elenco: 
Annalise Basso, Jason Priestley, Kelly Rutherford

21h15 – Corações Destroçados
Baseado no terceiro livro da série da Saga dos Casteel, Corações Destroçados foi dirigido por Jason Priestley, que também interpreta o avô de Heaven, Tony. Heaven (Annalise Basso), agora casada e feliz, retorna à sua cidade natal. Mas durante uma visita, seu avô Tony a convence a viver com ele em sua mansão. Tudo parece perfeito até que os fantasmas do passado voltam para ameaçar a sua nova vida.

Corações Destroçados (V.C. Andrew’s Fallen Hearts, 2019, EUA)
Gênero: drama
Direção: 
Jason Priestley
Elenco: 
Annalise Basso, Jason Priestley, Kelly Rutherford

22h50 – Portões do Paraíso
Em Portões do Paraíso, Annie (Lizzie Boys, Quando Chama o Coração: A Série), a filha de Heaven, fica órfã. A jovem é obrigada por seu bisavô Tony (Jason Priestley) a viver em sua mansão. Mas, longe do amor de seu primo e meio-irmão Luke (Keenan Tracey, Os 100), fica desamparada e à mercê do sinistro feitiço dos Casteel. O que Annie descobrirá sobre o passado no chalé escondido nos bosques de Farthinggale?

Portões do Paraíso (V.C. Andrew’s Gates of Paradise, 2019, EUA)
Gênero: drama
Direção: 
Gail Harvey
Elenco: 
Jason Priestley, Lizzie Boys, Johannah Newmarch, Keenan Tracey

0h30 – Teia dos Sonhos
O drama revela todos os mistérios da família Casteel. A mãe de Heaven, Leigh (Jennifer Laporte, iZombie), se viu obrigada a fugir da Mansão Farthinggale e de seus segredos. Luke Casteel Sr. (Tim Donadt, Escola de Magia) a encontra na estação de trem e a acolhe. Ela relata o que aconteceu em sua vida, mas a paixão por Leigh é mais forte e ele a pede em casamento. Em sua nova casa, Leigh enfrenta as suspeitas de todos da vila, mas nada a deteria em sua busca pela felicidade.

Teia dos Sonhos (V.C. Andrew’s Web of Dreams, 2019, EUA)
Gênero: drama
Direção: 
Mike Rohl
Elenco: 
Jennifer Laporte, Max Lloyd-Jones, Cindy Busby

CI: 14  

13/9, sexta-feira Saga Landry (V.C. Andrews)

Saga Landry, de V. C. Andrews, conta a história de Ruby Landry enquanto ela explora as profundezas de sua curiosa árvore genealógica, incluindo seu rico e misterioso pai distante.

18h – Ruby

Ruby Landry (Raechelle Banno, 100% Wolf: Legend of the Moonstone) está cheia de esperança enquanto o amor floresce com seu namorado do colégio, Paul Tate (Sam Duke, Mentes Paralelas). Mas, pensamentos persistentes sobre seu misterioso pai e a morte de sua mãe muitas vezes se insinuam na mente de Ruby.

Ruby (Ruby, 2021, EUA)
Gênero: drama
Direção: Gail Harvey
Elenco: Gil Bellows, Mason Temple, Raechelle Banno

19h40 – Pérola na Névoa
Ruby (Raechelle Banno) busca encontrar a felicidade. Quando é enviada a um internato exclusivo para meninas junto à sua irmã gêmea Giselle (Karina Banno, Reckoning: Ajuste de Contas), deverá suportar a crueldade da diretora e as humilhações de sua irmã e de sua madrasta. Ela poderá continuar sonhando com um futuro melhor quando a tragédia a deixar só?

Pérola na Névoa (Pearl in the Mist, 2021, EUA)
Gênero:
 drama

Direção: David Bercovici-Artieda
Elenco: Gil Bellows, Marilu Henner, Richard Harmon

21h15 – Brilho Oculto

Ruby (Raechelle Banno) deixa a mansão de Dumas e retorna para sua amada casa de infância, onde pretende criar uma nova vida para sua filha, Pearl (Mila Jones, The Good Doctor). Paul (Sam Duke, Fargo), seu amor de toda a vida, prometeu ajudar e estar sempre ao seu lado. No entanto, Ruby não pode escapar dos olhos julgadores da mãe de Paul, Gladys (Kristian Alfonso, Days Of Our Lives), que conhece o segredo obscuro do casal; e Giselle (Karina Banno, Reckoning: Ajustes de Contas) continua a assombrá-la com a história de Beau (Ty Wood, O Regresso), o verdadeiro pai de Pearl e seu verdadeiro amor. Ruby anseia por começar uma nova vida, e a teia de enganos continua quando Giselle entra em coma, e ela aproveita a oportunidade para traçar um plano para ficar com Beau.

Brilho Oculto (All That Glitters, 2021, EUA)
Gênero: romance, thriller
Direção: Michael Robison
Elenco: Kristian Alfonso, Raechelle Banno, Crystal Fox

22h50 – A Joia Secreta
Ruby (Raechelle Banno) busca uma nova vida para seus filhos, tentando protegê-los dos obscuros segredos familiares. Mas, quando um deles sofre um acidente e o outro fica doente, Ruby decide voltar ao pântano para mergulhar nos mistérios de sua família e tentar salvá-los.

A Joia Secreta (Hidden Jewel, 2021, EUA)
Gênero: drama
Direção: Michael Robison
Elenco: Kristian Alfonso, Evan Roderick, Raechelle Banno

CI: 14

16/9, sábado – Minissérie: O Jardim dos Esquecidos (V.C. Andrews)

Neste sábado, o Lifetime exibe uma maratona especial com os quatro episódios da minissérie O Jardim Dos Esquecidos: A Origem (Flowers in the Attic The Origin). Criada pela escritora V. C. Andrews em uma sequência de romances de grande sucesso, a saga da família Dollanganger inspirou outras quatro produções cinematográficas, que serão exibidas neste domingo, também em maratona especial.

A minissérie original Lifetime explica a origem do drama que começou com Olivia e Malcolm Foxworth e os segredos obscuros que moldaram a família.

17h20 - O Jardim dos Esquecidos: O Casamento
Olivia Winfield (Jemima Roope, Dália Negra), uma mulher inteligente e avançada para seu tempo, abandona sua carreira profissional e seu lar para casar-se com Malcolm Foxworth (Max Irons, A Garota da Capa Vermelha), o homem mais rico do país. Mas ao chegar em sua nova casa, ela percebe que tudo está longe de ser o conto de fadas que imaginou. Poderá voltar atrás?

19h - O Jardim dos Esquecidos: A Mãe
À medida que a família de Olivia cresce, ela se empenha em proporcionar aos filhos uma infância cheia de alegria e segurança. Mas seus esforços podem não bastar por causa dos problemas de Foxworth Hall e da obsessão de seu marido com um segredo de família que coloca seu relacionamento em risco.

20h35 - O Jardim dos Esquecidos: O Assassino
Após uma perda devastadora, Olivia (Jemima Roope, Dália Negra), descobre que seus filhos estão mantendo um relacionamento proibido. Ela se opõe fortemente à união deles, mas à medida que se empenha em separá-los, mais perto chega de seu limite. Além do mais, o destino de um velho inimigo é revelado. Ela estaria envolvida?

22h10
O Jardim dos Esquecidos: O Mártir
Logo após perder todos os seus filhos, seja por tragédia ou estresse, a nova crença religiosa de Olivia e o desejo de vingança a transformam na versão mais aterrorizante de si mesma: uma mulher desumana, capaz de trancar os netos no sótão quando sua filha retorna após outra grande tragédia familiar.

 CI: 14

17/9, domingo – Saga Dollanganger, O Jardim dos Esquecidos (V. C. Andrews)

A faixa Lifetime Movies exibe neste domingo uma maratona especial com a os quatro longas-metragens baseados nos livros best-sellers da escritora V.C. Andrews. A série de romances conta a saga dos irmãos Dollanganger – composta por quatro títulos.

18h - O Jardim dos Esquecidos
Esta produção original retrata a história dos quatro irmãos Dollanganger. Após a morte inesperada do pai, Chris (Mason Dye), Cathy (Kiernan Shipka) e os pequenos gêmeos Carrie (Ava Telek) e Cory (Maxwell Kovach) são levados pela mãe Corrine (Heather Graham, de Austin PowersSe Beber Não Case e Boogie Nights) para morar na casa dos avós, que são muito ricos. As crianças são surpreendidas pela notícia de que terão de viver trancados no sótão da casa, porque os avós acreditam que eles são filhos do demônio, uma vez que os pais eram parentes de sangue e jamais poderiam terem se casado e tido filhos.

Com o tempo, as visitas de Corrine tornam-se cada vez mais esporádicas, pois agora ela tem um novo marido, Bart Winslow (Dylan Bruce, Orphan Black). Os meninos terão de enfrentar não somente a reclusão como a falta de amor da mãe e os maus-tratos constantes da implacável avó Olívia Foxworth (Ellen Burstyn, vencedora do Oscar por Alice Não Mora Mais Aqui). Assim, os irmãos se afastam cada vez mais de uma infância perfeita. À medida que os anos passam, os mais velhos chegam à idade em que se desenvolvem emocional e fisicamente, e encontram-se presos no passado sórdido da família, buscando consolo e refúgio um no outro.

O Jardim dos Esquecidos (Flowers in the Attic, EUA, 2014)
Gênero: Suspense
Direção: Deborah Chow
Elenco: Heather Graham, Ellen Burstyn, Kiernan Shipka

19h35 – Pétalas ao Vento
A trama começa dez anos após os irmãos Dollanganger, agora jovens adultos, terem sido presos no sótão pela avó, Olivia Foxworth (Ellen Burstyn), depois que a mãe, Corrine Winslow (Heather Graham), os deixou na casa dela.

Os irmãos querem deixar o passado sórdido para trás, mas logo descobrem segredos que não podem ser ignorados. Assim que Cathy (Rose McIver) percebe que está em um relacionamento abusivo com Julian (Tom Kemp), ela e o irmão Christopher (Wyatt Nash) são forçados a enfrentar os sentimentos proibidos, desenvolvidos durante o período de reclusão.

Com os terrores do passado e a tragédia ameaçando os irmãos novamente, Cathy decide enfrentar a avó e vingar-se da mãe para, finalmente, poder começar a viver.

Pétalas ao Vento (Petals in the Wind, 2014, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Karen Moncrieff
Elenco: Heather Graham, Ellen Burstyn, Dylan Bruce, Rose McIver, Wyatt Nash, Bailey Buntain

21h10 – Os Espinhos do Mal
O casal composto pelo cirurgião Christopher (Jason Lewis) e pela professora de balé Cathy (Rachael Carpani) vivem felizes com seus dois filhos, que não têm a menor ideia da verdade sobre seus pais.

Mas quando a mãe do casal, Corrine (Heather Graham), se muda para a casa ao lado, um dos filhos começa a mudar seu comportamento. Os obscuros segredos da família são revelados e o passado volta a assombrar Cathy e Christopher.

Os Espinhos do Mal (If There Be Thorns, 2015, EUA)
Gênero: drama
Direção: Nancy Savoca.
Elenco: Heather Graham, Rachael Carpani, Jason Lewis

23h – Filhos do Passado 
No último filme da programação especial, a trágica história dos Dollanganger chega ao fim. Depois de realizar tratamento psiquiátrico em sua adolescência, como resultado de seu encontro com a avó Corrine, Bart Sheffield (James Maslow) torna-se o herdeiro da propriedade da família.

O longa ainda explora o relacionamento complicado entre os irmãos Bart e Jory (Anthony Konechny), os obscuros segredos e uma maldição que parece perseguir a família eternamente.

Filhos do Passado (Seeds of Yesterday, 2015, EUA)
Gênero: drama
Direção: Shawn Ku
Elenco: Rachael Carpani, James Maslow, Jason Lewis

CI: 14

Sobre Lifetime

Lifetime é a marca de entretenimento para a mulher. As histórias contadas são escritas, produzidas e protagonizadas por mulheres. Aqui a mulher é quem ela quiser e se distrai com séries e filmes que se conectam com suas emoções. Os Lifetime Movies contam histórias em que a mulher é representada, com o simples objetivo de divertir e distrair, com tramas repletas de dramas, mistério, histórias reais e muito suspense.

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Literatura - Contos e Crônicas quinta, 05 de setembro de 2024

FERNANDA NIA: NOVA ROMANTASIA RETRATA UM MUNDO FANTÁSTICO SOB AS LUZES DO RIO DE JANEIRO (POSTAGEM DA INTERNAUTA GABRIELA CUERBA)

Nova romantasia retrata um mundo fantástico sob as luzes do Rio de Janeiro

 

Ao mesclar romance com fantasia, a autora carioca Fernanda Nia narra uma perseguição a um algoritmo vivo em "A magia que nos pertence", lançamento young adult da Plataforma21.

Em um Rio de Janeiro onde a magia faz parte do cotidiano, e histórias estranhas são apenas normais, o quarteto de amigos Amanda, Madu, Diego e Alícia se une para localizar um valioso algoritmo de redes sociais que ganhou vida e está à solta. Entre festas animadas, criaturas esquisitas e passados obscuros, os jovens descobrirão, ao longo desta jornada em busca do tecbicho, que não há mágica melhor do que poder contar um com o outro. É assim que inicia a nova “romantasia” young adult A magia que nos pertence, escrita pela autora e ilustradora carioca Fernanda Nia e publicada pela Plataforma21

Encontrar um feitiço para chamar de seu é pura sorte ou talento: nem todo mundo tem a habilidade da magia. Amanda nunca foi muito boa com feitiçaria, mas desenrola tudo com jogo de cintura, argumentos afiados e seu famoso “jeitinho brasileiro”. Ela atua no Geniapp, aplicativo que oferece serviços para ajudar clientes desesperados a solucionarem percalços mágicos. Quando descobre que Diego, seu antigo parceiro de trabalho no Geniapp, está atrás do algoritmo fugitivo, não perde a oportunidade de se juntar à perseguição – mesmo que isso signifique lidar com sentimentos antigos e mal resolvidos entre os dois. 

Madu é o completo oposto da prima Amanda: ela nunca contou a ninguém que pode espiar os segredos das pessoas com quem divide uma refeição. Dessa vez, porém, a personagem não consegue decifrar os pensamentos de Alícia, irmã de Diego, embora saiba que ela está escondendo algo sobre uma tarefa que pediu a Amanda: ficar de olho no irmão durante a caçada dele pelo algoritmo. Determinada a proteger a prima, Madu embarca na missão de desmascarar as verdadeiras intenções de Alícia – ela só não esperava se afeiçoar tanto assim pela garota misteriosa. 

No fundo, uma pessoa habilidosa com magia é aquela que sabe explorar bem a sua conexão com o mundo, consigo mesma e com as outras pessoas em volta.  
(A magia que nos pertence, p. 63) 

Neste universo fantástico e hiperconectado, com os cartões postais do Rio de Janeiro servindo de cenário, Fernanda Nia mistura ameaças tecnológicas a dilemas da juventude, como amizade, família, traumas psicológicos, luto e a complexidade das relações humanas. A escritora também conversa com o público jovem ao narrar os medos, anseios e descobertas dos quatro adolescentes, a partir de uma narrativa divertida, diálogos bem-humorados e protagonistas LGBTQIAPN+. Ela mostra, principalmente, que a magia mais poderosa é aquela criada onde menos se espera: dentro de cada um. 

Ficha técnica 
Título: A magia que nos pertence 
Editora: Plataforma21 
Autora: Fernanda Nia 
Gênero: Fantasia urbana 
Idade recomendada: +12 anos 
ISBN (livro físico): 978-65-88343-86-9  
ISBN (e-book): 978-65-88343-91-3  
Número de páginas: 424 
Preço: R$69,90 
Onde encontrarE-commerce VR Editora 

Sobre a autora: Fernanda Nia admira a arte da comédia e usa humor como estilo de vida. A autora e ilustradora carioca é graduada em Comunicação Social e Direito, mas sempre foi aficionada por livros e quadrinhos, e sua maior paixão é contar histórias. Escreve principalmente para o público jovem, sendo autora de livros como Mensageira da sorte e Nosso lugar entre cometas, lançados também pela Plataforma21. Além disso, desde 2011 produz quadrinhos e pequenos textos no site Como eu realmente…, que se popularizou pela internet e ganhou uma série de livros com o mesmo nome. A magia que nos pertence é seu terceiro romance publicado. 

Redes sociais da autora: 

Site: fernandania.com 
Instagram: @fernandania 

Sobre a editora: A Plataforma21 é o resultado do carinho da VR Editora pelos jovens leitores. E tudo começou com a publicação do best-seller Maze Runner. São 7 anos oferecendo o que há de melhor em aventura, romance, fantasia e cultura pop na literatura de entretenimento. 

Conheça as redes sociais da editora@plataforma21_ | @vreditorabr 


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 05 de setembro de 2024

WESLEY MERCÊS, O CRIADOR POR TRÁS DE SUCESSOS NA INTERNET (POSTAGEM DO INTERNAUTA FELIPE ALMEIDA)

O criador por trás de sucessos na internet

 

Wesley Mercês é o artista que assina duas páginas de webcomics consideradas verdadeiros fenômenos da internet: "As Crônicas de Wesley" e "Sandubinha do Bem". O ilustrador já conta com 5 livros lançados e, recentemente, bateu recordes de venda com seu novo livro, faturando mais de 500 mil reais.

 

 

São Paulo, setembro de 2024 - Em 2013, um jovem de 16 anos que adorava desenhar e escrever decidiu unir as duas paixões e criar um perfil no Instagram. Wesley Mercês iniciava ali o As Crônicas de Wesley, com tirinhas de webcomics postadas periodicamente que, em menos de um ano, colecionavam um milhão de seguidores. O que havia de mais especial? O jovem baiano, que ainda pensava em qual curso prestar no vestibular, usava um senso de humor cotidiano para falar de situações comuns a muitos de nós. 

Em uma determinada tirinha, um casal de namorados comenta sobre o quanto a pizza fica mais saborosa na manhã seguinte ao dia em que pediram. A dupla decide, então, fazer um teste e esperar uma semana para ver se fica ainda melhor. Eles descobrem que “tem até champignon” depois desse período. Claro que a experiência não dá certo e eles não passam nada bem. Em outra, Wesley homenageia o saudoso Ziraldo, inspiração para muitos brasileiros, que nos deixou em abril de 2024. 

Crônicas e Sandubinha

Foi com esse perfil descontraído que o ilustrador chegou aonde está, com cinco livros publicados e um sexto a caminho, cujo título não poderia ser mais divertido: “O apocalipse das capivaras”. Para quem encontrou certa familiaridade nas traços das Crônicas, não é coincidência: Mercês é o ilustrador à frente do perfil Sandubinha do Bem, que desde 2022  engaja os mais variados perfis de usuários do Instagram com um senso de humor ingênuo e, ao mesmo tempo, divertido.. 

A “Sandubolândia”, como ele próprio define, é uma das suas frentes de trabalho e tem rendido projetos de Branded Content com diversas marcas, como Sony Pictures, Americanas, Ticket, Dr. Peanut e Heinz.. Mas a essência, assegura o artista, se mantém a mesma: entretenimento. "O motivo é diversão pura e simples. O propósito é sempre causar uma risada em quem lê. Em alguns casos, trazemos informação também de tabela. Mas o espaço nasceu para entreter o público", destaca o criador. 

Criador e empreendedor 

Atualmente, Wesley é um dos sócios do Sandubinha, o qual gerencia em paralelo com as Crônicas. Desde muito jovem, ele sempre se aventurou em duas frentes: a criatividade com empreendedorismo. “Os projetos foram acontecendo com naturalidade e tive a sorte de encontrar bons parceiros de trabalho em minha jornada”, afirma. 

Logo após ingressar em Design Gráfico pela UFBA, em Salvador (BA), ele passou a se dedicar ao trabalho como ilustrador e designer gráfico. “Pouco tempo depois de iniciar as Crônicas de Wesley, fui convidado pela HBO Max (hoje, apenas Max) para desenvolver algumas tirinhas e, logo depois, tive a oportunidade de trabalhar com a Warner e com a TNT Sports, criando tirinhas para os dias de jogos da Liga dos Campeões, relembra, pontuando ainda que fez ilustrações inspiradas na Liga da Justiça e na saga Harry Potter com essas marcas que o contrataram para outros trabalhos.. 

Sobre o Sandubinha do Bem:
A página do Instagram foi criada em 2022 e orquestrada pelo artista visual Wesley Mercês. A bio do perfil dá o tom do bom humor que o público encontra: “ao entrar na Sandubolândia, dificilmente você conseguirá sair”. Atualmente com 195 mil seguidores. 

Atualmente, a “Sandubolândia” - universo criado por um time, no mínimo, com muita imaginação - tem uma audiência equilibrada: 55% são homens e 45% são mulheres. A faixa etária oscila entre 18 e 44 anos, com a maioria no intervalo entre 25 e 34 anos. Ou seja, é um público adulto que consome diversão nas horas vagas. No entanto, as tirinhas foram além do Instagram e já ganharam até as salas de aulas dos Ensinos Fundamental e Médio, justo por um viés neutro e democrático do conteúdo proposto. 

Informações para a imprensa:
RPMA Comunicação - Sebastião Rinaldi

sebastiao.rinaldi@rpmacomunicacao.com.br
(11) 98984-5775

 


Literatura - Contos e Crônicas quarta, 04 de setembro de 2024

*QUERO LER E NÃO SEI POR ONDE COMEÇAR* (POSTAGEM DA INTERNAUTA RENATA REBESC)

"Quero ler e não sei por onde começar"

Por Daisy Gouveia

 

Daisy Gouveia

 

Recebo essa mensagem com frequência nas minhas redes. E posso ser sincera? Adoro receber essas mensagens, pedido ajuda, querendo adquirir o hábito de leitura.

Como começar? LENDO!

Se você quer jogar tênis, jogue, se quiser aprender a cozinhar, cozinhe, se quer escrever, escreva e se quer ler, leia.

Como?

Descubra seus interesses, assuntos que mais atraem você. É muito importante esse auto conhecimento.

Relembre suas leituras, mesmo que sejam na escolaridade, algum livro que marcou você de alguma forma positiva. Reler um texto que já trouxe prazer em algum momento sempre reativa o desejo pela atividade.

Pense por que parou de ler, pois em algum momento, mesmo que tenha sido por obrigação, leituras aconteceram na sua vida.

Parou apenas por falta de tempo, um período onde o trabalho era tão intenso que afastou você dos livros? Perdeu o interesse?

Enfim, tendo refletido sobre sua caminhada literária, mãos à obra, vamos nos preparar para ler todos os dias e receber todos os benefícios que a leitura nos traz.

Escolha um livro com o assunto de seu interesse, mas que seja breve, livro de contos e crônicas são sempre bem vindos nesse começo. Fábulas ou livros curtos também contribuem para o sucesso de uma leitura finalizada. Não queremos nenhuma leitura abandonada nesse momento.

Arranje um lugar confortável, iluminado e silencioso. Descarte qualquer estímulo que tire sua atenção do livro.

Se quiser um bom incentivo, procure um clube de leitura e você terá um livro por mês lido. Leituras compartilhadas exigem empenho e fortalecem o compromisso com a leitura.

 

Deixo aqui algumas indicações de livros breves para sua iniciação:

 

- A mercadoria mais preciosa/ Jean-Claude Grumberg

- Simples Paixão/ Annie Ernaux

- O silêncio da chuva/ Luiz Alfredo Garcia- Roza

 

Mais indicações e dicas, me siga @daisygouveiaoficial

 

SOBRE DAISY GOUVEIA

Daisy Gouveia é apresentadora, escritora, influenciadora digital e criadora do Clube de Leitura da Daisy. Com 66 anos, usa as redes sociais para incentivar as pessoas, principalmente as mulheres, a adotarem o hábito da leitura.

Com 35 anos de experiência na área da moda, escreveu o livro 'Costurando Minha História' onde conta sua trajetória e fala sobre sua reinvenção profissional, estimulando as pessoas que também querem mudar.

 

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Literatura - Contos e Crônicas quarta, 04 de setembro de 2024

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA: EM SETEMBRO, VÍDEO PROJETADO NA TORRE DO RELÓGIO E GRATUIDADE NOS FINS DE SEMANA (POSTAGEM D9O INTRERNAUTA ALAN DE FARIA)

Em setembro, Museu da Língua Portuguesa tem vídeo projetado na torre do relógio e gratuidade aos fins de semana

Instituição ainda realiza visitas temáticas inclusivas, sarau, feira de troca de livro e apresentações artísticas e brincadeiras para toda a família

 

Vídeo projetado na torre do relógio da Estação da Luz, visitas temáticas inclusivas, sarau, feira de troca de livro e apresentações artísticas e brincadeiras para toda a família. Essas são as principais atrações da programação de setembro do Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.  

Outra novidade a partir deste mês é a extensão da gratuidade aos fins de semana até o fim do ano. Com isso, o público poderá visitar o Museu sem pagar nada em dois dias da semana: aos sábados, como ocorre desde sua reabertura em 2021, e aos domingos – neste dia, inclusive, as famílias também têm acesso a uma série de brincadeiras promovidas pelo coletivo Aqui que a gente brinca!.  

No feriado de 7 de Setembro, sábado, a visitação ao Museu vai até as 18h, mas no Pátio B a programação gratuita se estende até as 20h30 com atividades especiais. 

Às 16h, no Pátio B, a cantora Aryani Marciano, acompanhada de uma banda, apresenta o show Risco_. Nesta performance, que integra a programação do projeto Plataforma Conexões, ela interpretará músicas de rap, samba, jongo e jazz e vai declamar poesias e cantos tradicionais de Moçambique e Malawi.  

Em seguida, a partir das 18h, o Pagode na Lata toca sucessos do samba, também no Pátio B, preparando para a atividade especial que vem logo a seguir: das 19h30 às 20h30, o público poderá assistir a uma projeção mapeada na torre do relógio da Estação da Luz. O vídeo O Museu é o Fluxo é o resultado de uma série de encontros promovidos pelo projeto Encontro Dissidentes: o museu e a rua como laboratório artístico da palavra, que selecionou 12 jovens de 16 a 25 anos para participar de um programa de formação em arte digital, com foco na criação de trabalhos em projeção mapeada. Para mais informações, clique aqui

Feira de Troca de Livros e o Papo Literário: narrativas negras em língua portuguesa, o clube de leitura do Museu, acontecem no dia 14 de setembro (sábado).  

Feira de Troca de Livros do Museu ocupa o Pátio B, das 14h às 17h. A cada edição desta atividade, as pessoas são estimuladas a trocar com o Museu até oito livros em bom estado: sendo quatro livros por outros quatro livros da instituição e quatro livros por quatro ingressos (válidos até 29 de dezembro de 2024). Também podem trocar livros entre si. A atividade ainda promove mediação de leitura com o Núcleo Educativo, oficina de marca-páginas e conta com um espaço infantil.  

Papo Literário vai debater o livro Marinheira no Mundo, de Ruth Guimarães. Com mediação da escritora Cidinha da Silva, o encontro, das 14h30 às 16h30, abordará de que forma as crônicas de Ruth Guimarães conseguem fazer uma observação atenta por meio do olhar de mulheres negras, pobres, professoras e caipiras. Em todos os encontros há tradução em Libras e sorteio de livros. 

O Núcleo Educativo promove duas edições do É Hora de História, projeto de contação de histórias e performances artísticas para as crianças. No dia 17 (terça-feira), às 10h, no Saguão B, a brincante Vivian Catenacci apresenta a montagem Indo eu! Histórias e brincadeiras com palavras caminhantes, na qual narra contos tradicionais entremeados por brincadeiras populares e música. Já no dia 24 (terça), a partir das 14h, também no Saguão B, a atriz Kelly Orasi realiza a contação Macunaíma e Outros Contos do Povo Brasileiro, tendo como base a história popularizada por Mário de Andrade e utilizando instrumentos musicais como mbiras e kalimbas. 

No dia 21 (sábado), das 12h às 14h, é a vez do Sarau Africanizar no Museu ocupar o Saguão Central da Estação da Luz. Os convidados do evento serão Thalita Gouveia, que cantará músicas de pop e soul, e Murilo do Passinho, que ensinará alguns passos de dança. Tudo isso sob comando do Samba D’Ketu, que assina a curadoria do sarau do Museu em 2024. 

Por fim, no dia 29 (domingo), a Trupe Trapaceiros apresenta o teatro de bonecos Binidito e seus Fantoches, às 11h, no Saguão B. A atração integra a programação do projeto Domingo no Museu que também promove, gratuitamente, brincadeiras para o público infantil das 12h às 15h com o coletivo Aqui que a gente brinca!

Visitas temáticas 
Ao longo de setembro, o Núcleo Educativo do Museu manterá as visitas temáticas que realiza, aos fins de semana, pela exposição principal (às 10h e às 13h) e o prédio da Estação da Luz (às 11h e às 15h). Algumas, porém, ganharão um caráter especial. 

É o caso, por exemplo, da visita temática inclusiva, que vai acontecer nos dias 28 (sábado) e domingo (29), às 10h. Trata-se de um passeio voltado para pessoas neurodivergentes, com a utilização de recursos e materiais próprios. No dia 28, às 15h, acontece uma visita ao prédio em Libras (Língua Brasileira de Sinais), dedicada à comunidade surda.  

Para todas as visitas temáticas, os grupos são formados 15 minutos antes do início do passeio, perto da bilheteria do Pátio A.  

Exposições  
Quem vier ao Museu ainda tem acesso à sua exposição principal e à mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil.  

A exposição principal aborda a diversidade da língua portuguesa falada no território brasileiro por meio de experiências audiovisuais, imersivas e interativas. Um dos destaques é a Línguas do Mundo, por meio da qual o público tem a oportunidade de ouvir 23 idiomas diferentes em uma espécie de floresta das línguas. Entre eles, o inglês, o quéchua, o coreano, o alemão, o russo e, é claro, o português. 

Já a mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil enaltece a presença do iorubá, fon, quicongo e outras línguas de África presentes no português falado no Brasil. Em duas paredes do espaço expositivo, o visitante pode avistar dezenas de adinkras, que são símbolos utilizados como sistema de escrita pelo povo Ashanti, que habita países como Costa do Marfim, Gana e Togo, na África. Evidenciando a presença desse povo como parte da diáspora africana, é possível encontrar, em diversas regiões do Brasil, gradis de residências e outras construções arquitetônicas adornados com alguns dos mais de 80 símbolos dos adinkras.  

A exposição conta com patrocínio máster da Petrobras, patrocínio da CCR, do Instituto Cultural Vale, e da John Deere Brasil; e apoio do Itaú Unibanco, do Grupo Ultra e da CAIXA.  

SERVIÇO  
Encontros Dissidentes - Projeção mapeada e música no território da Luz  
Dia 7 de setembro (sábado), das 19h30 às 20h30  
Na torre do relógio da Estação da Luz  
Grátis  

Plataforma Conexões – Show Risco_, com Aryani Marciano  
Dia 7 de setembro (sábado), às 16h  
Pátio B  
Grátis  

Pagode na Lata  
Dia 7 de setembro (sábado), às 18h  
Pátio B  
Grátis  

Feira de Troca de Livros do Museu  
Dia 14 de setembro (sábado), das 14h às 17h  
No Saguão B e Pátio B  
Grátis  

Papo Literário: narrativas negras em língua portuguesa  
Escritora Cidinha da Silva debate o livro Marinheira no Mundo (Ruth Guimarães)  
Dia 14 de setembro (sábado), das 14h30 às 16h30  
No Saguão B do Museu da Língua Portuguesa  
Grátis  

É Hora de História – Indo eu! Histórias e brincadeiras com palavras caminhantes 
Dia 17 de setembro (terça-feira), às 10h  
No Saguão B  
Grátis  

Sarau Africanizar no Museu  
Dia 21 de setembro (sábado), das 12h às 14h  
No Saguão Central da Estação da Luz  
Grátis  

É Hora de História – Macunaíma e Outros Contos do Povo Brasileiro  
Dia 24 de setembro (terça-feira), às 14h  
No Saguão B  
Grátis  

Visita temática inclusiva – para pessoas neurodivergentes 
Dias 28 e 29 de setembro (sábado e domingo), às 10h 
Grupos são formados no Pátio A, perto da bilheteria, 15 minutos antes  
Grátis 

Visita temática em Libras – para comunidade surda 
Dia 28 de setembro (sábado), às 15h 
Grupos são formados no Pátio A, perto da bilheteria, 15 minutos antes  
Grátis 

Domingo no Museu  
Todos os domingos, das 12h às 15h (brincadeiras com o coletivo Aqui que a gente brinca!) 
Apresentação do espetáculo Binidito e seus Fantoches, dia 29, às 11h  
No Saguão B, Pátio B e Calçada  
Grátis  

Exposição principal e mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil  
De terça a domingo, das 9h às 16h30 (com permanência até as 18h)  
R$ 24 (inteira); R$ 12 (meia)  
Grátis para crianças até 7 anos  
Grátis aos sábados e domingos 
Acesso pelo Portão A  
Venda de ingressos na bilheteria e pela internet:  
https://bileto.sympla.com.br/event/90834/  

Museu da Língua Portuguesa  
Praça da Língua, s/nº - Luz – São Paulo  

SOBRE O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA  
Localizado na Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa tem como tema o patrimônio imaterial que é a língua portuguesa e faz uso da tecnologia e de suportes interativos para construir e apresentar seu acervo. O público é convidado para uma viagem sensorial e subjetiva, apresentando a língua como uma manifestação cultural viva, rica, diversa e em constante construção.  

O Museu da Língua Portuguesa é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, concebido e implantado em parceria com a Fundação Roberto Marinho. O IDBrasil Cultura, Esporte e Educação é a Organização Social de Cultura responsável pela sua gestão.  

PATROCÍNIOS E PARCERIAS  
A temporada 2024 conta com o patrocínio máster da Petrobras, patrocínio do Grupo CCR, por meio do Instituto CCR, e do Instituto Cultural Vale; com apoio do Itaú Unibanco, do Grupo Ultra, da CAIXA, e do UBS BB Investment Bank. Conta ainda com as empresas parceiras Instituto Votorantim, Epson, Machado Meyer, Verde Asset Management. Revista Piauí, Guia da Semana, Dinamize e JCDecaux são parceiros de mídia. A temporada 2024 é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.   

Museu da Língua Portuguesa – Comunicação  
Alan de Faria | alan.faria@idbr.org.br – 11 99894 0702  
Renata Beltrão | renata.beltrao@idbr.org.br - 11 99267 5447  

Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo - Assessoria de Imprensa  
(11) 3339-8062 / (11) 3339-8585  
imprensaculturasp@sp.gov.br  
Acompanhe a Cultura: Site | Facebook | Instagram | Twitter | LinkedIn | YouTube  

 



Visita mediada pelo Núcleo Educativo do Museu da Língua Portuguesa
 Espetáculo
 Espetáculo
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Literatura - Contos e Crônicas terça, 03 de setembro de 2024

CORDEL E REPENTE (POSTAGEM DO LEITOR FUBÂNICO BOAVENTURA BONFIM)

 

 

 

O Espaço “CORDEL E REPENTE” é referência regional na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Consagrou-se como o segundo espaço mais visitado e animado nas 24ª, 25ª e 26ª edições da Bienal por apresentar ao público a rica diversidade literária e cultural genuína do Nordeste, consolidando-se, assim, como o ponto focal da literatura e cultura nordestina na Bienal de São Paulo.

A 27ª Bienal de São Paulo acontecerá do dia 6 ao 15/9/2024, das 10h às 22h, no Pavilhão de Exposição do Distrito Anhembi, situado à Rua Olavo Fontoura, 1209, bairro Santana, São Paulo-SP. Trata-se do maior evento cultural da América Latina e o terceiro maior do segmento no ranking mundial, palco literário e cultural do Brasil – um ponto de encontro dos principais editores, livreiros, artistas e autores brasileiros e estrangeiros. Nesta edição, o país homenageado é a Colômbia.

 


Literatura - Contos e Crônicas sábado, 31 de agosto de 2024

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA: GRATUIDADE ATÉ 31 DE DEZEMRO (POSTRAGEM D INTERNAUTA ALAN DE FARIA)

Museu da Língua Portuguesa será gratuito aos fins de semana até 31 de dezembro

Gratuidade aos domingos, que começou a vigorar em junho, será estendida até o fim do ano. Aos sábados a entrada já era grátis

 

Museu da Língua Portuguesa terá os finais de semana gratuitos até 31 de dezembro de 2024. A entrada já era gratuita aos sábados e, desde junho deste ano, começou a vigorar também aos domingos, o que vem ajudando a movimentar a região no dia em que o comércio no Bom Retiro e na Santa Ifigênia fica fechado. Localizado na Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo. 

Nos outros dias da semana, o ingresso custa R$ 24 (inteira) e R$ 12 (meia-entrada). Crianças até 7 anos entram de graça todos os dias, assim como professores e funcionários de redes públicas de ensino, de qualquer nível. Para verificar outras gratuidades, basta acessar este link. O Museu fecha apenas às segundas-feiras para manutenção. 

Quem visita o Museu tem acesso à exposição principal e à mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil - com curadoria de Tiganá Santana, esta ficará em cartaz até 31 de janeiro. 

Com experiências audiovisuais, lúdicas e interativas, a exposição principal apresenta a diversidade da língua portuguesa falada no território brasileiro e em outras partes do mundo. Na instalação Nós da Língua, por exemplo, o visitante descobre as características sociais, políticas e culturais de outros países e territórios que falam português, como Angola, Moçambique e Timor Leste. 

Já a experiência Palavras Cruzadas mostra a origem de diversas palavras que compõem o nosso vocabulário. Entre elas, jururu, que tem origem na língua tupinambá, banguela, que vem da língua africana quicongo, e omelete, oriunda da língua francesa. 

A mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil destaca a presença de línguas de África, como iorubá, efe-fon e as do grupo bantu, no português falado no Brasil. Para isso, o curador do projeto, o músico e filósofo Tiganá Santana, se vale de obras de artistas contemporâneos, como Aline Motta e Rebeca Carapiá. Ele ainda selecionou vídeos onde são exibidas várias manifestações afro-brasileiras nas áreas da música e da fotografia. 

A exposição conta com patrocínio máster da Petrobras, patrocínio da CCR, do Instituto Cultural Vale, e da John Deere Brasil; e apoio do Itaú Unibanco, do Grupo Ultra e da CAIXA.  

Para além das exposições 
Aos sábados, o Museu ainda promove, uma vez por mês, outras atividades. Entre elas, a Feira de Troca de Livros, o Papo Literário, o Sarau Africanizar no Museu e a Plataforma Conexões. Todas elas são gratuitas. 

Aos domingos, a atividade paralela às exposições é o projeto Domingo no Museu, que conta com uma apresentação artística e jogos e brincadeiras, estes comandados pelo coletivo Aqui que a gente brinca!. Para participar, não precisa se inscrever e nem retirar ingresso antecipadamente. 

Por fim, aos sábados e domingos, ocorrem visitas temáticas pela exposição principal e pelo prédio histórico da Estação da Luz. Também gratuitas, elas são organizadas pelo Núcleo Educativo. 

Como chegar 
A maneira mais fácil de chegar ao Museu é de transporte público, pelo Metrô ou pela CPTM, visto que ele está localizado exatamente no prédio da Estação da Luz, no centro histórico da capital paulista. Quem desembarca na Luz não precisa nem sair da Estação para entrar no Museu - há um acesso direto à bilheteria pela gare, a passarela no térreo que fica acima da linha do trem.    

SERVIÇO 
Exposição principal e mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil  
De terça a domingo, das 9h às 16h30 (com permanência até as 18h) 
R$ 24 (inteira); R$ 12 (meia)  
Grátis para crianças até 7 anos  
Grátis aos sábados  
Grátis aos domingos (até 31 de dezembro) 
Acesso pelo Portão A  
Venda de ingressos na bilheteria e pela internet:  
https://bileto.sympla.com.br/event/90834/  

Museu da Língua Portuguesa  
Praça da Língua, s/nº - Luz – São Paulo  

SOBRE O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA  
Localizado na Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa tem como tema o patrimônio imaterial que é a língua portuguesa e faz uso da tecnologia e de suportes interativos para construir e apresentar seu acervo. O público é convidado para uma viagem sensorial e subjetiva, apresentando a língua como uma manifestação cultural viva, rica, diversa e em constante construção.  

O Museu da Língua Portuguesa é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, concebido e implantado em parceria com a Fundação Roberto Marinho. O IDBrasil Cultura, Esporte e Educação é a Organização Social de Cultura responsável pela sua gestão.  

PATROCÍNIOS E PARCERIAS  
A temporada 2024 conta com o patrocínio máster da Petrobras, patrocínio da CCR, e do Instituto Cultural Vale; com apoio do Itaú Unibanco, do Grupo Ultra, e da CAIXA. Conta ainda com as empresas parceiras Instituto Votorantim, Epson, Machado Meyer, Verde Asset Management. Revista Piauí, Guia da Semana, Dinamize e JCDecaux são parceiros de mídia. A EDP é patrocinadora máster da reconstrução do Museu. A reconstrução e a temporada 2024 são uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.  

Museu da Língua Portuguesa – Comunicação  
Alan de Faria | alan.faria@idbr.org.br – 11 99894 0702  
Renata Beltrão | renata.beltrao@idbr.org.br - 11 99267 5447  

Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo - Assessoria de Imprensa  
(11) 3339-8062 / (11) 3339-8585  
imprensaculturasp@sp.gov.br  

 

 

Museu da Língua Portuguesa

Literatura - Contos e Crônicas quarta, 28 de agosto de 2024

MUSEU DEA LÍNGUA PORTUGUESA: PROGRAMAÇÃO MUSICAL PARA O FERIADO DE 7 DE SETEBRO (POSTAGEM DO LEITOR DE ALAN DE FARIA)

 

Museu da Língua Portuguesa projeta vídeo em sua fachada e promove apresentações musicais no feriado de 7 de Setembro

Alan de Faria

 

Com entrada gratuita, programação especial se estenderá para além do horário normal do Museu, terminando às 20h30

 

Uma programação gratuita que se estende até a noite: assim será o dia 7 de setembro, sábado, no Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo. Nesta data de feriado nacional, as atividades vão se prolongar até as 20h30, incluindo shows da cantora Aryani Marciano e do Pagode na Lata e projeções audiovisuais na torre da Estação da Luz.  

O principal destaque da programação é a projeção que vai rolar das 19h30 às 20h30. Será o encontro da arquitetura do centenário edifício com a projeção mapeada (ou videomapping), técnica audiovisual que consiste na exibição de imagens em superfícies tridimensionais. Intitulado O Museu é o Fluxo, o vídeo artístico poderá ser visto pelo público diretamente da calçada da Estação da Luz, a via localizada em frente ao Museu – o trabalho será exibido de forma ininterrupta ao longo de uma hora.  

A projeção é resultado do projeto Encontros dissidentes: o museu e a rua como laboratório artístico da palavra, que selecionou 12 jovens de 16 a 25 anos para participar de um programa de formação em arte digital, com foco na criação de trabalhos em projeção mapeada. 

De maio a agosto, os jovens participaram de quatro módulos que abordaram temas como as relações entre o Museu da Língua Portuguesa e o seu entorno, a palavra da rua e a experiência audiovisual. As aulas foram coordenadas pelo Coletivo Coletores, que se destaca pelos trabalhos com projeção mapeada dentro do contexto das periferias globais.  

Em 2023, o coletivo, criado pelos artistas e pesquisadores Toni Baptiste e Flávio Camargo, ganhou o prêmio Artistas de Impacto promovido pela ONU, representando São Paulo na categoria artes visuais. 

“Para o evento de encerramento, o público poderá se conectar com a produção colaborativa dos participantes do projeto, que fará da arquitetura do Museu suporte para uma obra que representará a valorização da coletividade, da memória e da força dos fluxos que ocupam a territorialidade do bairro da Luz”, afirma o Coletivo Coletores. 

“Foi com a frase de João do Rio ‘A rua é transformadora das línguas’ que iniciamos o Encontros Dissidentes. Com esse projeto, descobrimos (ou reafirmamos) como a rua, o território, a arte, a palavra e a construção coletiva são transformadores de um Museu. Neste evento, celebramos a experiência formativa de jovens, talentosos e inspiradores, e todos aqueles que fizeram o projeto acontecer e colocaram em movimento tecnologias e conhecimentos de forma disruptiva e generosa”, diz Camila Aderaldo, coordenadora do Centro de Referência do Museu. 

Esquenta 
Antes do início da exibição das projeções, o Museu da Língua Portuguesa apresentará o show musical Risco_, da cantora Aryani Marciano. A atração integra a programação da Plataforma Conexões, que selecionou, em 2024, trabalhos de novos artistas com o tema Línguas Africanas no Brasil, em diálogo com a atual mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil. Nesta performance, que acontecerá a partir das 16h, no Pátio B do Museu, Aryani inclui no repertório canções de diversos ritmos, como rap, samba, jongo e jazz. Ela ainda vai declamar poesias e cantos tradicionais de Moçambique e Malawi.  

O Pagode na Lata, tradicional grupo de samba da região da Luz, também é um dos convidados da programação especial do Museu no feriado do Dia da Independência do Brasil. A banda, cujas rodas de samba agitam o território, vai tocar a partir das 18h, também no Pátio B. 

Das 16h às 20h30, o público poderá também comprar comidas e bebidas em barracas espalhadas pelo Pátio B. Os comerciantes, entre eles os da Ocupação 9 de Julho, são parceiros do território e da região central da capital paulista. 

Até as 18h, a exposição principal e a mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil estarão abertas para visitação. Enquanto a exposição principal explora a diversidade da língua portuguesa por meio de experiências lúdicas, interativas e audiovisuais, a mostra temporária, com curadoria de Tiganá Santana, enaltece a presença de línguas africanas, como as do grupo bantu, no português falado no território brasileiro.  

A exposição Línguas africanas que fazem o Brasil conta com patrocínio máster da Petrobras, patrocínio da CCR, do Instituto Cultural Vale, e da John Deere Brasil; e apoio do Itaú Unibanco, do Grupo Ultra e da CAIXA.   

SERVIÇO  
Encontros Dissidentes - Projeção mapeada e música no território da Luz  
Dia 7 de setembro (sábado), das 19h30 às 20h30 
Na torre do relógio da Estação da Luz 
Grátis  

7º Plataforma Conexões – Show Risco_, com Aryani Marciano 
Dia 7 de setembro (sábado), às 16h 
Pátio B 
Grátis  

Pagode na Lata 
Dia 7 de setembro (sábado), às 18h 
Pátio B 
Grátis  

Exposição principal e mostra temporária Línguas africanas que fazem o Brasil  
De terça a domingo, das 9h às 16h30 (com permanência até as 18h)  
R$ 24 (inteira); R$ 12 (meia)  
Grátis para crianças até 7 anos  
Grátis aos sábados  
Acesso pelo Portão A  
Venda de ingressos na bilheteria e pela internet:  
https://bileto.sympla.com.br/event/90834/  

Museu da Língua Portuguesa  
Praça da Língua, s/nº - Luz – São Paulo  

SOBRE O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA  
Localizado na Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa tem como tema o patrimônio imaterial que é a língua portuguesa e faz uso da tecnologia e de suportes interativos para construir e apresentar seu acervo. O público é convidado para uma viagem sensorial e subjetiva, apresentando a língua como uma manifestação cultural viva, rica, diversa e em constante construção.  

O Museu da Língua Portuguesa é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, concebido e implantado em parceria com a Fundação Roberto Marinho. O IDBrasil Cultura, Esporte e Educação é a Organização Social de Cultura responsável pela sua gestão.  

PATROCÍNIOS E PARCERIAS  
A temporada 2024 conta com o patrocínio máster da Petrobras, patrocínio da CCR, e do Instituto Cultural Vale; com apoio do Itaú Unibanco, do Grupo Ultra, e da CAIXA. Conta ainda com as empresas parceiras Instituto Votorantim, Epson, Machado Meyer, Verde Asset Management. Revista Piauí, Guia da Semana, Dinamize e JCDecaux são parceiros de mídia. A EDP é patrocinadora máster da reconstrução do Museu. A reconstrução e a temporada 2024 são uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.  

Museu da Língua Portuguesa – Comunicação  
Alan de Faria | alan.faria@idbr.org.br – 11 99894 0702  
Renata Beltrão | renata.beltrao@idbr.org.br - 11 99267 5447  

Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo - Assessoria de Imprensa  
(11) 3339-8062 / (11) 3339-8585  
imprensaculturasp@sp.gov.br  
Acompanhe a Cultura: Site | Facebook | Instagram | Twitter | LinkedIn | YouTube  

 

 

Torre do relógio da Estação da Luz
 Aryani Marciano e banda no show
Participantes do Encontros dissidentes: o museu e a rua como laboratório artístico da palavra

Literatura - Contos e Crônicas segunda, 26 de agosto de 2024

NORONHA2B WIP LAB DIVULGA PROJETOS PREMIADOS (POSTAGEM DO LEITOR ISIDORO GUGGIANA)

NORONHA2B WIP LAB DIVULGA PROJETOS PREMIADOS

Isidoro B. Guggiana

 

 

Evento reuniu profissionais da indústria audiovisual em Fernando de Noronha (PE) para discutir temas ligados ao audiovisual e turismo

 

 

Noronha2B - Film Commission Forum apresentou cinema ao ar livre - crédito: Isidoro B. Guggiana

 

De 19 a 23 de agosto de 2024, o arquipélago pernambucano sediou o Noronha2B - Film Commission Forum (N2B). Para o público geral, o evento ofereceu atividades como a projeção de filmes na Praça São Miguel, shows, mesas e oficinas. Para os profissionais do audiovisual, o N2B trouxe um mercado audiovisual e laboratório de projetos, além de apresentar a região como opção de locação. Ao longo de cinco dias, o Noronha2B reuniu mais de 150 pessoas, entre cineastas, técnicos e equipe.

 

Uma das novidades do N2B foi o lançamento da Rede Nacional de Film Commissions, que reúne diversas instituições de todo o país, entre elas Belo Horizonte-MG, João Pessoa-PB, Pampa-RS, Salvador-BA, Santa Cruz do Sul-RS e São Paulo-SP. O evento teve participação de autoridades como Marcelo Freixo, presidente da Embratur, Márcio Tavares, secretário-executivo do Ministério da Cultura e Jandira Feghali, deputada federal do RJ e outros.

 

A primeira edição do N2B entregou homenagens à compositora e cantora Lia de Itamaracá e à jornalista e diretora Simone Zuccolotto. Lia também apresentou o show de abertura, enquanto o encerramento ficou a cargo do grupo Maracatu Nação Noronha. Além de tutorias com renomados profissionais do audiovisual nacional e internacional, as rodadas de negócios garantiram dezenas de encontros entre realizadores e players de mercado. Também foram realizados painéis de qualificação para os cineastas, como a mesa de debate "A imagem do Brasil: o que vemos e o que pretendemos revelar", com Suely Weller (Globoplay) e André Saddy (Canal Brasil).

 

Para seu laboratório de projetos, o N2B selecionou 12 longas em finalização e 14 projetos em fase de roteirização do Brasil, Argentina e Portugal, escolhidos entre mais de 140 trabalhos inscritos. O N2B WIP LAB foi dividido em três categorias, WIP Festivais (filmes em etapa de finalização para festivais), WIP Primeiro Corte (produções work in progress em sua versão inicial) e LAB Desenvolvimento, em fase de roteirização.

 

Entre os projetos premiados estão El Turbio" (Argentina), de Alejandro Encinas, que recebeu os Prêmios Destaque WIP Festivais: Gávea Filmes e seleção XVI Festival Internacional de Cinema da Fronteira; "Por Tu Bien" (Argentina), de Axel Monsú, que levou o Prêmio WIP Festivais - Punctum Sales, e "O Sino" (BA), de Isaac Donato, ganhou o Prêmio Destaque WIP Primeiro Corte: Esmeralda Produções.

 

O Prêmio Destaque Desenvolvimento Esmeralda Produções foi para "De Volta ao Começo" (PE), com direção e roteiro de Ander Beça; O Prêmio Destaque Desenvolvimento Maria Angela de Jesus foi entregue à "Marejada" (RJ), roteiro de José Bial; enquanto o Prêmio Destaque OCBPM (Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial) foi para "Choródromo" (RJ), de Helena de Castro e "Diabos de Fernando" (PE), direção e roteiro de Caio Dornelas.

 

O Destaque das consultoras de roteiro Camila Agustini e Mariana Tesch foi para "Lia desde Menina" (PE), direção de Lia Letícia; o Prêmio Destaque Sur Frontera WIP LAB foi para "Um Sumário Antes que Desapareça" (RS), direção de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes; Prêmio Destaque Turismo e Sustentabilidade, concedido pelas Film Commissions Brasileiras presentes foi para "React - Ondas de Transformação" (SP e Portugal), direção de Renato do Val e Yugo Romanelli.

 

O Noronha2B - Film Commission Forum (N2B) tem patrocínio do Banco do Nordeste, através da Lei de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet, Ministério da Cultura, Governo Federal. O evento conta com patrocínio da CAIXA, EcoNoronha, Porto Alegre Film Commission, Embratur - Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo e Ancine - Agência Nacional do Cinema.

 

O evento tem apoio da Administração de Fernando de Noronha, Secretaria de Meio Ambiente, Empetur - Empresa de Turismo de Pernambuco, Fundarpe - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, Secretaria de Cultura, Secretaria de Turismo e Lazer, TV Pernambuco e Governo de Pernambuco. O N2B conta com a parceria do Forte Nossa Senhora dos Remédios, Projeto Tamar e Ministério do Meio Ambiente, através do ICMBio.

 

A primeira edição tem curadoria de Alessandro Engroff, Carla Esmeralda, Paulo Senise e Zeca Brito. A produção fica a cargo da Anti Filmes.

 

Projetos premiados

Prêmio Destaque WIP Festivais - Gávea Filmes (consultoria de distribuição): "El Turbio" (Argentina), de Alejandro Encinas;

 

Prêmio WIP Festivais - O prêmio Punctum Sales consistirá em uma Consultoria de Estratégia de Festivais e Vendas Internacionais: "Por Tu Bien" (Argentina), de Axel Monsú;

 

Prêmio Destaque WIP Primeiro Corte: Esmeralda Produções (assistir o segundo corte): "O Sino" (BA), de Isaac Donato;

 

Prêmio Destaque Desenvolvimento: Esmeralda Produções - consultoria de roteiro de dois tratamentos: "De Volta ao Começo" (PE), direção e roteiro de Ander Beça, produção de Tarsila Tavares;

 

Prêmio Destaque Desenvolvimento Maria Angela de Jesus: consultoria de roteiro de dois tratamentos: "Marejada" (RJ), roteiro de José Bial;

 

Prêmio Destaque OCBPM organização das cidades brasileiras patrimônio mundial - WIP Primeiro Corte e Desenvolvimento (prêmio de apoio de divulgação): "Choródromo" (RJ), de Helena de Castro e "Diabos de Fernando" (PE), direção e roteiro de Caio Dornelas, produção de Carla Francine;

 

Prêmio Destaque WIP Festivais - seleção XVI Festival Internacional de Cinema da Fronteira: "El Turbio" (Argentina), de Alejandro Encinas;

 

Prêmio Destaque Camila Agustini e Mariana Tesch - consultoria de roteiro de dois tratamentos: "Lia desde Menina" (PE), direção de Lia Letícia, roteiro de Lia Letícia e Dilner Gomes, produção de Camila Valença;

 

Prêmio Destaque Sur Frontera WIP LAB (vaga como projeto convidado na próxima edição): "Um Sumário Antes que Desapareça" (RS), direção, roteiro e produção de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes;

 

Prêmio Destaque Turismo e Sustentabilidade, prêmio das Film Commissions Brasileiras presentes: "React - Ondas de Transformação" (SP e Portugal), direção de Renato do Val e Yugo Romanelli, roteiro de João Kopke e Dário Costa, produção de Alexandre Antunes, Rui Lino e Victor Lemos.

 

Noronha2B - Film Commission Forum

Site: noronha2b.com

Instagram: @noronha2b

Facebook: /noronha2b


Literatura - Contos e Crônicas sábado, 24 de agosto de 2024

5ª EDIÇÃO DO FESTIVAL CINEMA NEGRO EM AÇÃO (POSTAGEM DO INTERNAUTA ISIDORO B. GUGGIANA)

 

5ª edição do Festival Cinema Negro em Ação prorroga as inscrições

Isidoro B. Guggiana


O evento, que ocorre entre os dias 17 e 20 de outubro em Porto Alegre, recebe inscrições até 29 de agosto

 

Troféu do Festival Cinema Negro em Ação - crédito: Feijão (Studio Feijão & Lentilha)


Foram prorrogadas as inscrições para o V Festival Cinema Negro em Ação, realizado pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por meio do Instituto Estadual de Cinema (Iecine) e da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ). A mostra competitiva é dividida em quatro categorias, videoclipes, videoarte, curtas-metragens e longas-metragens. Serão aceitas produções em formato digital, de temática livre, realizadas por pessoas negras ou com protagonismo negro nos processos de criação ou autoria do projeto. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 29 de agosto, no formulário online disponível no link.


O evento, que acontece entre os dias 17 e 20 de outubro em Porto Alegre, terá formato híbrido, com exibição dos filmes selecionados na programação da TVE-RS, TV Brasil, Prime Box Brazil, plataforma Todes Play e nas salas da Cinemateca Paulo Amorim – localizada na Casa de Cultura Mario Quintana. As obras participantes serão divulgadas no dia 16 de setembro nas redes sociais da competição (@cinemanegroemacao) e do Instituto Estadual de Cinema (@ieciners). A cerimônia de premiação está prevista para o último dia de programação presencial, 20 de outubro, na CCMQ.


Além do reconhecimento aos melhores nos quatro gêneros de produção, serão concedidos os Prêmios Destaque RS em oito categorias: Direção, Roteiro, Intérprete, Montagem, Trilha Sonora, Desenho de Som, Direção de Arte e Direção de Fotografia. Na competição de longas-metragens, pela primeira vez na história do Festival, será implementada a categoria de Júri Popular para a disputa do prêmio.


Para abrir a Mostra Especial deste ano, a curadoria aposta em um resgate histórico de grande peso para o Rio Grande do Sul e para o Brasil como um todo: o filme "Um é pouco, dois é bom", do diretor Odilon Lopez. A escolha é uma homenagem póstuma ao cineasta e jornalista que, na década de 1970, fez um dos primeiros longas-metragens dirigidos por um homem negro no Brasil.


A mostra inclui filmes como "Porto dos Mortos", de Davi Pinheiro, e "O Tempo", de Ellen Rocha. Além do primeiro episódio das séries "Filhos da Liberdade", de Mariani Ferreira e Fabrício Cantanhede, e "Centro Liberdade", de Cleverton Borges, Bruno Carvalho e Lívia Ruas.


De acordo com a diretora do Iecine, Sofia Ferreira, "a possibilidade de vislumbrar um futuro inspirador através do cinema, nesse ano tão desafiador para o Rio Grande do Sul, é o que nos motiva para compor esta edição". A dirigente comemora a realização desta que é a quinta edição do Cinema Negro em Ação e reforça que o objetivo simbólico é "celebrar nossas trajetórias e nossos talentos, frutos de resistência e alta capacidade de reinvenção".


O festival também promove o encontro Mercado & Conteúdos, em que estão previstas ações formativas voltadas para cineastas e entusiastas, abordando temas como desenvolvimento e estudo de caso de roteiro. Com foco em projetos de longas-metragens e séries, o encontro oportuniza trocas com nomes relevantes do cenário nacional, como o renomado roteirista Marton Olympio, para mentoria dos projetos selecionados desta edição. 

Esse eixo ainda inova neste ano através de uma parceiria com a APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro), somando forças ao festival e oferecendo um seminário sobre distribuição nacional.

A abertura do festival, no dia 17 de outubro, na Travessa dos Cataventos da Casa de Cultura Mario Quintana, inclui apresentação do Rapper Zudizilla, artista gaúcho que ganhou o Brasil com o álbum De César à Cristo, que reflete as estruturas sociais do país. Com dois álbuns lançados, Zudizilla é um dos mais importantes nomes da cena contemporânea do Sul. Suas rimas versam sobre o racismo presente no Estado, e apontam para um futuro de superação de obstáculos. Além de ser um destaque no RAP nacional, em 2021, o artista lançou seu primeiro trabalho como roteirista em um curta-metragem baseado nas pesquisas da teórica negra pelotense Winnie Bueno, intitulado Vozes do Silêncio. O rapper ainda destaca-se como uma referência para jovens negros.


Curadora-geral Kaya Rodrigues, homenageada de 2023, Maria Ângela de Jesus, e Sofia Ferreira, diretora do IECINE - crédito: Feijão (Studio Feijão & Lentilha)

 

CRONOGRAMA

Inscrições: até dia 29 de agosto de outubro de 2024
Divulgação dos projetos selecionados: até dia 16 de setembro de 2024
Data do Festival Cinema Negro em Ação: 17 e 20 de outubro de 2024
Local do evento: Casa de Cultura Mário Quintana (Rua dos Andradas, 736 - Centro Histórico, Porto Alegre)
Cerimônia de premiação: dia 20 de outubro, no Teatro Bruno Kiefer, na Casa de Cultura Mario Quintana.

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Literatura - Contos e Crônicas domingo, 18 de agosto de 2024

OS SANTOS ESTÃO DE FÉRIAS, MAQS PLANAJAM, PLANEJAM... (CRÔNICA DO COLUNISTA ORLANDO SILVEIRA)
Orlando Silveira
 
 
OS SANTOS ESTÃO DE FÉRIAS, MAS PLANEJAM, PLANEJAM...
Orlando Silveira
(Publicada a 16.02.2017)
 

 

Os Santos são previsíveis. Todo ano é a mesma história. Passadas as festas de final de ano, lá vão eles, de guarda-roupa renovado – invariavelmente, as roupas do verão passado já não lhes servem mais -, rumo à praia, onde permanecem por, pelo menos, quinze dias. Tempo de esbórnia familiar: muito sorvete, caipirinha, cerveja, espetinho de camarão, porção disso e daquilo, pastel de praia etc. Verdade seja dita: os Santos, rebentos inclusos, têm estômagos privilegiados. Comem e bebem de tudo, reclamam de nada. Às vezes, muito raramente, um ou outro é vítima de diarreia passageira, nada que soro caseiro e água de coco não possam consertar em 24 horas.

Durante o merecido ócio remunerado, os Santos se divertem a valer – e fazem planos, claro. O mais recorrente deles é tratar da saúde, fazer dieta saudável e duradoura, até que os muitos quilos extras, o colesterol e o diabetes os abandonem. “De vez”, no dizer sempre incisivo da mãe do casal de gorduchos. Mais cauteloso, avesso a promessas vãs, o pai se limita a dizer: “Vamos ver, vamos ver. Não é hora de pensar nisso. Até porque ninguém vai começar coisa alguma antes do Carnaval”. Mas a Quaresma promete, de acordo com a senhora Santos:

– Querido, não tenho coragem de fazer a bariátrica. Sei que você também não. Mas, estamos gordos demais, assim não dá para continuar. Amanhã, a gente tem um troço e deixa tudo aí. Além disso, também quero usar umas roupinhas mais transadas, sensuais, entende? Na José Paulino, não tem nada que me sirva. As malditas coreanas não têm bunda e acham que todo mundo deve ser igual a elas.

– Roupinha sensual para quê? Que história é essa?

– Para você, bobalhão. Meu gato angorá.

– E o que nós vamos fazer?

– A dieta da Quaresma. Uma amiga me ensinou, tenho tudo anotado no computador. Tiro e queda.

– Sei, não. Quarenta dias de água e mato?

– Vale a pena o sacrifício. Quando a gente estiver bem magrinho, vamos comemorar a Páscoa com estilo: bacalhau, vinho, chocolate, colomba. Tem mais: outra amiga já me passou umas receitas de doces caseiros irresistíveis: canjiquinha com amendoim, doce de abóbora com coco…

– Agora, senti firmeza.


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 15 de agosto de 2024

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB: TITO MADI (CRÔNICA DO COLUNISTA BRUNO NEGROMONTE - IN MEMORIAM)
Bruno Negromonte
 
 
HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB: TITO MADI
 

a recorrente em nossa coluna, Tito volta protagonizando mais histórias e estórias do nosso cancioneiro

 

Figurinha carimbada aqui neste espaço Tito Madi tem, no meio musical, ardorosos fãs como é o caso do cantor e compositor Roberto Carlos, que dentre tantos projetos anunciados e nunca executados, tem a ideia de fazer um disco só com canções do cantor e compositor paulista. Falar de Tito é desdobrar-se na história de nossa música popular brasileira sem receio de escrever laudas e laudas de momentos marcantes em nosso cancioneiro. Prova disto é que já é a terceira oportunidade que tenho de escrever sobre o cantor e compositor e ainda permaneço na primeira década de uma carreira que vem somando seis décadas.

Da última vez que trouxe seu nome aqui no espaço me restringir ao início de sua carreira como cantor assim como também como compositor. No entanto esqueci de relembrar a sua passagem por algumas das principais casas noturnas existentes na então capital federal. Ainda na década de 1950, o artista apresentava-se em casas noturnas como Jirau, Cangaceiro, Little Club e Texas, acompanhado pelo piano de Ribamar. Para quem não conhece ou lembra do Ribamar, ele é autor (em parceria com a saudosa Dolores Duran) de canções como “Pela Rua“, “Ideias Erradas” e “Ternura antiga“, sendo esta última um grande sucesso e regravada por grandes nomes da MPB.

Pra não chover no molhado e ter que acabar me estendendo por mais uma pauta, hoje serei um pouco mais sucinto ao falar deste ícone de nosso cancioneiro que infelizmente foi enterrado vivo pelos grandes meios de comunicação, contexto este que acaba impossibilitando que novas gerações tenham a oportunidade de conhecer a sutileza, qualidade e bom gosto inerentes as composições e interpretações de Tito ao longo de todos estes anos dedicados à música.

Dentre os fatos curiosos ao longo de todos estes anos de carreira pode-se destacar um com o grupo vocal norte-americano The Platters, que chegou a gravar “Chove Lá Fora” (também registrada em disco por Freddy Cole, irmão de Nat King Cole). O próprio Tito costuma contar que o empresário dos Platters o adorava e que quando eles vieram ao Brasil nos anos de 1960, recomendaram o Tom Jobim para ele, e ele respondeu: ‘No, no, prefiro Tito Madi’”.

Outra estória que merece registro foi a briga ocorrida entre Tito e João Gilberto em 1961, quando o cantor e compositor paulista levou de João um golpe com um violão na cabeça após uma discussão que acabou por resultar dez pontos e um afastamento que só viria superado cinco décadas depois. “Tenho uma cicatriz na cabeça por causa disso”, conta ainda hoje Tito a quem questiona sobre o assunto.

Um último fato que acho que também vale um registro é acerca da relação de Tito com o cantor e compositor Milton Nascimento. Quando Milton foi ao Rio pela primeira vez, nos anos de 1960, Tito chegou a pedir a ele músicas para gravar, músicas estas que acabaram não chegando e impossibilitando de Milton ser lançado como compositor por Tito.

Hoje, vítima de um acidente vascular cerebral, o autor da clássica “Balanço zona sul” vive no Humaitá, no Rio de Janeiro e vem aos poucos recuperando-se deste problema de saúde que fez com que perdesse os movimentos do lado esquerdo do corpo, além de parte da memória. Tal condição o impossibilita de locomover-se sem o auxílio de uma cadeira de rodas.

Recentemente, Tito lançou um CD, gravado um ano antes do AVC, mas que não chegou a ser comercializado à época por falta de interesse das gravadora e que acabou saindo pela gravadora Fina flor. Trata-se de um belíssimo trabalho em parceria com o músico Gilson Peranzzetta e que traz em seu bojo 14 canções para matar a saudade de ardorosos fãs que desde 2001, com o lançamento do álbum “Ilhas cristais”, não o ouvia em disco.

Para os amigos leitores deixo um clássico da música popular brasileira composto por Dolores Duran e Ribamar. Aqui, “Ternura antiga” ganha interpretação de Tito em registro feito no ano de 1960:

 

 

 


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 12 de agosto de 2024

O ESCORPIÃO, A TARTARUGA E A ELEIÇÃO (CRÔNICA DO COLUNISTA MARCELO ALCOFORADO)
 
O ESCORPIÃO, A TARTARUGA E A ELEIÇÃO
Marcelo Alcoforado
Publicada em 15.02.2017

 

Conta uma fábula que em uma tarde chuvosa um escorpião estava apreensivo na margem de um rio prestes a transbordar, quando passou por ele uma tartaruga, indiferente à torrencialidade da água. Era ela a salvação! Pediu-lhe, então, que o levasse à outra margem, já que necessitava chegar a casa, mas se tentasse atravessar sozinho morreria afogado.

Eu gostaria de ajudar, escorpião, mas tenho medo que você me pique e eu morra, ponderou a tartaruga.

A resposta do escorpião foi imediata: Por que eu faria isso? Eu morreria também!

Para encurtar a história, o escorpião convenceu a tartaruga a lhe dar uma carona, e assim foi feito. O escorpião subiu no casco da tartaruga e teve início a travessia. Tudo estava indo muito bem, mas a certa altura a tartaruga sentiu uma picada.

Escorpião, por que você me picou? Agora nós dois vamos morrer.

Quase se afogando, retrucou o escorpião:

Desculpe, tartaruga, você foi solidária comigo, mas eu não pude evitar. É da minha natureza.

Semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, depondo como testemunha de defesa em processo em que o senhor Luiz Inácio da Silva é réu, afirmou que nenhum presidente tem como saber de tudo que acontece na administração pública. Na referida ação, o senhor Luiz Inácio é acusado de corrupção passiva por supostamente ter recebido de uma empreiteira propina no valor de R$ 3,8 milhões.

Tal valor teria sido pago em forma de benesses, como, por exemplo, a reforma e ampliação do tríplex do Edifício Solaris, no Guarujá, e outra parte no custeio do armazenamento do acervo daquele ex-presidente, segundo o Ministério Público Federal. A outra parte do valor? Ora, teria sido ocultada.

Fernando Henrique Cardoso afirmou ainda que também buscou recursos privados para manutenção de seu acervo, e que os recursos, pequenos, se destinaram a fazer frente a diversas despesas, porque o presidente da República sai de lá, se for correto, sem dinheiro.

Ninguém foi mais fustigado por Luiz Inácio da Silva do que Fernando Henrique Cardoso. Foram 13 anos de uma censura implacável, de acrimônia e de incansáveis tentativas de desconstrução da imagem do sociólogo.

Agora, neste momento em que Luiz Inácio da Silva se vê na margem de um caudaloso Rubicão a ser atravessado, quiseram as artimanhas do destino que as palavras de Fernando Henrique Cardoso possam ajudar Luiz Inácio da Silva a atingir a outra margem. Ou no meio do caminho a tartaruga será picada?


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 08 de agosto de 2024

MARACATUS, A PRESENÇA DA ÁFRICA NO CARNAVAL DO RECIFE (CRÔNICA DO COLUNISTA LEONARDO DANTAS)
 
MARACATUS, A PRESENÇA DA ÁFRICA NO CARNAVAL DO RECIFE
Leonardo Dantas
 

 

Maracatu Elefante – Dona Santa

 

O maracatu, da forma hoje conhecida, tem suas origens na instituição dos Reis Negros, já conhecida na França e em Espanha, no século XV, e em Portugal, no século XVI, passando para Pernambuco onde encontramos narrativas e documentos sobre tais coroações de soberanos do Congo e de Angola a partir de 10 de setembro de 1666, segundo testemunho de Souchou de Rennefort, in Histoire des Indes Orientales, publicado em Paris 1688.

As coroações de reis e rainhas de Angola na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Santo Antônio do Recife são documentadas a partir de 1674, segundo documentação reunida in Alguns documentos para a história da escravidão. Recife: Editora Massangana, 1988.

O folguedo do maracatu, semelhante aos bailes e batuques organizados pelos pretos de Angola ao tempo do governador José César de Menezes (1774-78), objeto de denúncia à Inquisição de Lisboa por parte dos frades capuchinhos da Penha (ANTT – Cartório da Inquisição nº4740), foi sempre alvo de censuras por parte das classes dominantes e de perseguição policial; segundo denúncia do mesmo jornal em sua edição de 11 de novembro de 1856 ao tratar do maracatu da praça da Boa Vista.

Cortejos de reis negros

Os cortejos dos reis negros, geralmente anotados pela imprensa, quando das festas de Nossa Senhora dos Prazeres e nas do Rosário de Santo Antônio, não eram conhecidos por maracatus, como se depreende do noticiário do Diario de Pernambuco de 20 de outubro de 1851:

… percorrendo à tarde algumas ruas da cidade, divididos em nações, cada uma das quais tinha à frente o seu rei acobertado por uma grande umbela ou chapéu-de-sol de variadas cores. Tudo desta vez se passou na boa paz e sossego, porquanto a polícia, além de ter responsabilizado, segundo nos consta, o soberano universal de todas as nações africanas aqui existentes, por qualquer distúrbio que aparecesse em seus ajuntamentos, não deixou por isso de vigiá-los cuidadosamente.

Os reis negros, em especial o Rei do Congo, possuidor de uma hierarquia própria sobre os membros das demais nações africanas aqui residentes, compareciam às festas religiosas protegidos pela umbela. Um grande pálio redondo, ladeado por dignitários de suas respectivas cortes, sendo o cortejo aberto pela bandeira da nação, juntamente com outras bandeiras arvoradas, e acompanhados por instrumentos de percussão, nem sempre ao gosto da população branca, como se depreende na observação do Padre Carapuceiro: “Alguns desses chapelórios ainda há poucos anos apareciam nos batuques dos pretos em dias de Nossa Senhora do Rosário, cobrindo o figurão chamado de rei dos congos” (Diario de Pernambuco, 15.3.1843).

O grande guarda-sol colorido sob o qual vinha amparado o rei de cada nação, como fora observado pelo Padre Carapuceiro, era denominado cumbi pelos africanos que, ainda em nossos dias, assim trazem protegidos os seus sobas. Inicialmente pensou-se que esta grande umbela havia sido transplantada do cerimonial da igreja católica, onde é utilizada como proteção ao santo viático, quando de sua saída às ruas, conforme bem retratou Emil Bauch em uma de suas cromolitografias tomadas da calçada da igreja matriz da Boa Vista, no Recife (c 1852).

Maracatus, ajuntamentos de negros

No Recife a denominação maracatu servia, a partir da primeira metade do século XIX, para denominar um ajuntamento de negros, como por ocasião da fuga da escrava Catarina, anotada por José Antônio Gonsalves de Mello em consulta à edição do Diario de Pernambuco de 1º de julho de 1845:

Em o dia 2ª feira do Espírito Santo do ano próximo passado, fugiu a preta Catarina, de nação Angola, ladina, alta, bastante seca de corpo, seio pequeno, cor muito preta, bem feita de rosto, olhos grandes e vermelhos, com todos os dentes da frente, pés grandes metidos para dentro, muito conversadeira e risonha, de idade de 22 anos; tem sido encontrada na Estrada da Nova da Passagem da Madalena e no Aterro dos Afogados, vendendo verduras e aos domingos no maracatu dos coqueiros do dito Aterro, e há notícia de ser o seu coito certo a matriz da Várzea; cuja escrava pertence a Manoel Francisco da Silva, morador na Rua Estreita do Rosário, 10, 3º andar, ou em seu sítio em Santo Amaro, junto à igreja, o qual gratificará generosamente a quem lh’ a apresentar.

Outro exemplo aparece na ata da sessão extraordinária da Câmara Municipal do Recife de 28 de abril de 1851, quando foi endereçada ao desembargador Chefe de Polícia “uma petição do preto africano Antônio Oliveira, intitulado Rei do Congo, queixando-se de outro que, sem lhe prestar obediência, tem reunido os de sua nação para folguedos públicos, a fim de que o mesmo desembargador providenciasse em sentido de desaparecer semelhantes reuniões, chamadas vulgarmente de maracatus, pelas conseqüências desagradáveis que delas podem resultar” (Diario de Pernambuco, 27.5.1851).

No Recife, os cortejos dos soberanos negros, trazendo os seus reis e rainhas, não saíam no período do carnaval, mas tão somente por ocasião de suas festas religiosas ou em ocasiões outras como o embarque de africanos libertos de volta à mãe África. A presença de “batuque do Rei do Congo” no carnaval do Recife só vem a ser registrada a partir do final dos anos cinqüenta do século XIX.

 


Os reis no Carnaval

 


 

Maracatu Elefante – Rainhas e princesas

Somente nos anos setenta do século XIX é descrita a presença desses cortejos de reis negros durante o carnaval, segundo noticia o Diario de Pernambuco sem sua edição de 10 de fevereiro de 1872, ainda sem a denominação de maracatus:

No dia 11 do corrente sairá da Rua de Santa Rita Velha (bairro de São José) a nação velha de Cambinda, a qual vai em direitura à Rua das Calçadas buscar a sua rainha, e depois percorrerá diversas ruas, e às 3 horas se achará em frente à igreja do Rosário [de Santo Antônio] onde se soltarão algumas girândolas de fogo e uma salva de 21 tiro; dali seguirá para o Recife e na Rua do Bom Jesus voltará com a vice-rainha de sua nação.

maracatu era, até então, considerado a reunião de negros em determinado local. Um o batuque, na acepção de “dança africana ao estrépido de instrumentos de percussão” (Pereira da Costa), mas não o cortejo real que levava às ruas a corte dos reis negros, como faz ver o extenso editorial do mesmo jornal, publicado em 18 de maio de 1880:

…. Há tempos, que indicamos um maracatu que costuma reunir-se quase no extremo norte do Cais do Apolo, na freguesia de S. Pedro Gonçalves do Recife; hoje temos notícia exata de dois outros, dos quais os vizinhos têm as mais cruéis recordações. Juntam-se estes na freguesia da Boa Vista, um na Rua do Giriquiti, outro na Rua do Atalho. Neste último, anteontem, houve uma grande assuada e barulho, chegando a aparecer diversas facas de ponta. Felizmente, não se deram ferimentos, mas não esteve longe de assim acontecer. Urge, repetimos, providenciar em ordem a que cessem, desapareçam tão selvagens instrumentos, e o Sr. Dr. Chefe de Polícia, que volveu suas vistas contra as casas de tavolagem, deve também dirigir sua atenção para os maracatus.

maracatu, na verdade, era tão somente o batuque dos negros, com localização fixa em determinado bairro da cidade. O cortejo real, como no caso anteriormente citado da “nação velha de Cambinda”, não parece ser a mesma coisa. A conclusão é reforçada pelo depoimento do carnavalesco João Batista de Jesus, “Seu Veludinho” do maracatu Leão Coroado, que segundo a tradição faleceu com 110 anos, prestado à pesquisadora Katarina Real em janeiro de 1966, in O folclore no Carnaval do Recife. Recife: Editora Massangana, 1990. 2ªed. p. 184:

Maracatu nem tinha o nome de maracatu. O nome era nação. Uma “nação” mandava ofício para outro “estado”. Surgiu essa palavra pelos homens grandes, quando ouviram os baques dos bombos, chamaram “aquele maracatu!”

Cortejo é chamado de maracatu

Com a abolição da escravatura negra, em 1888, e a proclamação da República, em 1889, a figura do Rei do Congo – Muchino Riá Congo – perdeu a sua razão de ser. Os cortejos dos reis negros já presentes no carnaval, por sua vez, passaram a ter como chefe temporal e espiritual os babalorixás dos terreiros do culto nagô. Assim vieram para as ruas do Recife, não somente nos dias de festas religiosas em honra de Nossa Senhora do Rosário, mas também nas festas carnavalescas.

Após a abolição, porém, os antigos cortejos das nações africanas, que continuaram a se fazer presentes no carnaval do Recife então sob a chefia dos seus babalorixás, passaram a ser chamados de maracatus, particularmente quando a notícia tinha conotação policial, como a divulgada pelo Diario de Pernambuco, em sua edição de 26 de fevereiro de 1889:

Revista Diária. Maracatu Porto Rico – Na Praça Pedro I, da paróquia de São Frei Pedro Gonçalves do Recife, deu-se anteontem um conflito entre os sócios do Maracatu Porto Rico, quando este fazia um ensaio. Ao que parece o conflito foi motivado por uma praça do 14º Batalhão, pois que cerca de 60 homens, armados de facas e cacetes, rebelaram-se contra a dita praça, que ferida tratara de fugir, quando ali compareceu o subdelegado da paróquia. Esta autoridade conseguiu prender seis dos tais desordeiros, inclusive o ofensor da praça, que foi vistoriada pelo sr. dr. José Joaquim de Souza.

Ainda recentemente, ao que se depreende do depoimento do presidente da Nação do Leão Coroado, Luiz de França, falecido aos 95 anos, “para conversar pouco, só digo que o maracatu é da seita africana”. (Diario de Pernambuco, 14 de janeiro de 1996).

As seculares nações africanas

A mais tocante descrição de um maracatu carnavalesco do início do século vem de Francisco Augusto Pereira da Costa (1851-1923) que, em 1908, assim relata o cortejo no seu Folk-Lore Pernambucano:

Rompe o préstito um estandarte ladeado por arqueiros, seguindo-se em alas dois cordões de mulheres lindamente ataviadas, com os seus turbantes ornados de fitas de cores variegadas, espelhinhos e outros enfeites, figurando no meio desses cordões vários personagens, entre os quais os que conduzem os fetiches religiosos, – galo de madeira, um jacaré empalhado e uma boneca de vestes brancas com manto azul -; e logo após, formados em linha, figuram os dignitários da corte, fechando o préstito o rei e a rainha.

Estes dois personagens, ostentando as insígnias da realeza, como coroas, cetros e compridos mantos sustidos por caudatários, marcham sob uma grande umbela e guardados por arqueiros.

No coice vêm os instrumentos: tambores, buzinas e outros de feição africana, que acompanham os cantos de marcha e danças diversas com um estrépito horrível.

Aruenda qui tenda, tenda,
Aruenda qui tenda, tenda,
Aruenda de totororó.

O autor chama a atenção do leitor para o Maracatu Cabinda Velha que, “desfraldando um rico estandarte de veludo bordado a ouro, como eram igualmente a umbela e as vestes dos reis e dignitários da corte, e usando todos eles de luvas de pelica branca e finíssimos calçados. Os vestuários dos arqueiros, porta-estandarte e demais figuras, eram de finos tecidos e convenientemente arranjados, sobressaindo os das mulheres, trajando saias de seda ou veludo de cores diversas, com as suas camisas alvíssimas, de custosos talhos de labirinto, rendas ou bordados, vistosos e finíssimos; e pendentes do pescoço, em numerosas voltas, compridos fios de miçangas, que do mesmo modo ornam-lhes os pulsos. Toda comitiva marchava descalça, à exceção do rei, da rainha e dos dignitários da corte, que usavam de calçados finos e de fantasia, de acordo com os seus vestuários”.

E concluindo, afirma Pereira da Costa:

“Quando o préstito saía, à tarde, recebia as saudações de uma salva de bombas reais, seguida de grande foguetearia, saudações essas que eram de novo prestadas no ato do seu recolhimento, renovando-se e continuando as danças até o amanhecer; e assim, em ruidosas festas e no meio de todas as expansões de alegria, deslizavam-se os três dias do Carnaval”.

Preservando a denominação de nação, os préstitos dos maracatus de baque virado (que utilizam nas suas apresentações tão somente instrumentos de percussão de origem africana) continuam a desfilar pelas ruas do Recife nos dias do carnaval e nos meses que antecedem a grande festa. Denominando-se de Nação do Elefante (1800), Nação do Leão Coroado (1863), Nação da Estrela Brilhante (1910), Nação do Indiano (1949), Nação Porto Rico (1915), Nação Cambinda Estrela (1953), além de outros grupos que surgiram mais recentemente, mantendo a tradição africana dos seus antepassados.


Literatura - Contos e Crônicas domingo, 04 de agosto de 2024

ANTÔNIO MENESES, VIOLONCELISTA BRASILEIRO (POSTAGEM DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA TERESA CRISTINA)

Madre Superiora Teresa Cristina

 

ANTÔNIO MENESES, VIOLONCELISTA BRASILEIRO

 

O Trenzinho do Caipira • Villa-Lobos • Antonio Meneses

 

 

Nossa despedida e agradecimento ao grande violoncelista brasileiro , ANTÔNIO MENESES, que nos deixa hoje, 3 de agosto de 2024,com 66 anos de idade.
 
 
Ganhou o 1° lugar no Festival Tchaikovsky em Moscou , dentre inúmeros prêmios. Tem uma família de grandes músicos, inclusive seu pai, João Jerônimo Meneses, pernambucano, trompista.
 
Seus 3 irmãos integram o Quarteto Meneses (com uma pianista). (Gustavo Meneses – violino; Ricardo Meneses – viola; Eduardo Meneses – violoncelo) e a pianista Paula da Matta.
 
Levava nossas composições para o exterior e as fez conhecidas internacionalmente. Um repertório de músicas eruditas, em especial.
 
Uma pequena homenagem ao grande músico.

Literatura - Contos e Crônicas quinta, 25 de julho de 2024

SÉRIE DOSE DUPLA – CRÔNICAS, HUMOR, SÁTIRA E O JOCOSO NA MPB - NOEL ROSA (CRÔNICA DO MEGAPHONE DO QUINCAS, IN MEMORIAM)
SÉRIE DOSE DUPLA – CRÔNICAS, HUMOR, SÁTIRA E O JOCOSO NA MPB - NOEL ROSA
Megaphone do Quincas, in memoriam
 

 

Noel e suas deliciosas cronicas e letras jocosas

 

Ói eu aqui de novo, me deliciando com as obras de Noel Rosa, que tão bem se encaixam na temática desta última série que resolvemos compilar – “Dose Dupla, com Crônicas, Humor, Sátira e o Jocoso na MPB”.

A permanência em três colunas sucessivas trazendo Noel é mais que justificada. Posso afirmar que ainda vou ficar devendo muita coisa.

No caso de “Gago Apaixonado” tenho a canção e principalmente a sugestiva letra de memória desde que o MPB-4 a gravou em 1970, no disco “Deixa Estar”.

Foi desse jeito que aprendi, mas existe uma dezena de outras versões.

 

 

Curiosamente, pesquisando o assunto, deparei-me com trabalho de Aquiles, um dos membros fundadores do MPB-4, que estava envolvido em projeto sobre o “Gago”.

Produziu um áudio-livro-pôster reunindo três experiências em uma plataforma: é ao mesmo tempo um pôster da letra “Gago apaixonado”, que Aquiles aponta como samba genial e inventivo composto por Noel Rosa em 1930, cuja concepção poética, repleta de repetições próprias da gagueira, leva a efeitos sonoros e gráficos que anteciparam em décadas o experimentalismo na poesia brasileira.

Não à toa – continua Aquiles – o escritor Mário de Andrade (1893-1945) autor da contemporânea obra Macunaíma (1928), era fascinado por Noel.

Inclui também dois textos inéditos escritos por Aquiles Rique Reis, desde sua fundação, em 1964: um tem função de apresentação biográfica; o outro vai ao humor para recriar ficcionalmente a rixa entre Noel e o também cantor e compositor Wilson Batista (1913-1968).

A terceira experiência, propiciada por “Gago apaixonado”, é auditiva: por meio do recurso QR Code, disponível em smartphones, é possível ouvir a gravação original de Noel Rosa, de 1931.

O flerte com a tecnologia também pode, quem diria, nos transportar ao passado. A arte do poema “Gago apaixonado” ocupa uma área de 62 x 43 cm e foi pensada como um pôster para, desdobrado – e aí está uma função táctil, que antecede à visual -, poder ser emoldurado. Custa R$ 10,00 e está à disposição na Banca Tatuí, São Paulo, capital.

A outra interpretação que trago para hoje é do excelente e sempre sincopado João Bosco, de humor, ritmo e riqueza de canções também de enorme valor:

 

 

Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago

Tem tem pe-pena deste mo-moribundo
Que que já virou va-va-va-va-ga-gabundo
Só só só só por ter so-so-sofri-frido
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu tens um co-coração fi-fi-fingido

Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago

Teu teu co-coração me entregaste
De-de-pois-pois de mim tu to-toma-maste
Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu vais fi-fi-ficar corcunda!

Semana que vem, tem mais.

Feliz Ano Novo para todos os fubânicos, amigos e leitores…

 

 


Literatura - Contos e Crônicas terça, 23 de julho de 2024

INSEGURA SEGURANÇA (CRÔNICA DO COLUNISTA MARCELO ALCOFORADO)

 

INSEGURA SEGURANÇA
Marcelo Alcoforado
(Publicada e 13.07.2017)
 

 

Os jornais brasileiros deveriam ser rubros, já que das suas páginas, fieis espelhos de uma realidade terrível, jorra o sangue que faz da nossa segurança um mero verbete. De tão calamitosa, muitas vezes a verdade se torna mais risível do que trágica.

Há algumas semanas, por exemplo, quatro presidiários fugiram de uma prisão de segurança máxima em Pernambuco, inaugurada havia menos de um ano.

A fuga, por si, já é absurda, mas a maneira como ela aconteceu é absurdo maior.

Os fugitivos, pasme, fizeram um rombo na parede, valendo-se de uma estaca. Será a tal estaca portadora de tecnologia tão avançada que, como tal, não gera barulho? Como é possível que pessoas arrombem uma parede de um presídio de segurança máxima e ninguém veja nem ouça nada? Se é assim, o que dizer das outras?

Ora, se por aqui as prisões são tão vulneráveis, por que não fazer como a Indonésia, que está prestes a construir uma cadeia exemplar? Será situada em uma ilha artificial e os guardas serão absolutamente indiferentes ao diálogo e terminantemente incorruptíveis. Serão crocodilos, os mais ferozes existentes na face da Terra.

O Brasil, aliás, pode fazer melhor e nem precisa de crocodilos. Aqui temos já prontas algumas ilhas que bem poderiam ser utilizadas para tal. Poderia ser a Ilha da Trindade, com seus 2,5 km² de área emersa em meio ao Atlântico, que até água potável tem, e em abundância, brotando de diversas fontes. Somente a fonte principal possui vazão estimada de 230 mil litros por dia.

Tem mais: a ilha é o último vestígio do Brasil, perdida na vastidão do Atlântico, o nosso ponto mais distante do continente.

Bem, voltando ao assunto das fugas, já deu para notar que na Trindade os crocodilos seriam absolutamente dispensáveis. Primeiro, porque é grande a presença na área de tubarões e de um peixe chamado cangulo preto, dono de uma voracidade equivalente à da piranha.

Além do mais, o condenado tem que ser um inacreditável nadador, para enfrentar a distância até o continente. São mais de 2 mil quilômetros.

 


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 18 de julho de 2024

LRONARDO DA VINCI: 15 CURIOSIDADES QUE NÃO SABÍAMOS SOBRE ELE (POSTAGEM DA LEITORA BRASILIENSE MARIA INÊS NOGUEIRA)

Maria Inês Nogueira

 

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15 CURIOSIDADES QUE NÃO SABÍAMOS SOBRE LEONARDO DA VINCI.
 
1. Tinha o dom da escrita no espelho, uma forma de escrever em que todas as letras são invertidas para "esconder" a mensagem e que só se pode ler com um espelho.
 
2. Seu nome “Da Vinci” refere-se à cidade onde nasceu: Vinci, uma cidade italiana da província da Toscana.
 
3. Aprendeu a ler e escrever aos 5 anos, era um menino extremamente inteligente e teimoso.
 
4. Criou a técnica "Sfumato" (Sfumato em italiano), que consiste em criar sombras com traços muito cuidados e pequenos com o objetivo de dar profundidade. Suas sombras são tão finas que quase parecem fumo.
 
5. A maioria dos quadros dele estavam incompletas. Leonardo era um homem com muitos projetos e com várias ideias para desenvolver, quando se aborrecia de um quadro deixava-o meio feito. Muitas das suas obras foram rascunhos.
 
6. Quando ele era criança, tinha um humor muito macabro. Uma vez o pai castigou-o por fazer uma gárgula horrível com um tronco do seu jardim.
 
7. Estudou os corpos dos animais e inspirado por isso criou armas de guerra. Por exemplo: foi o primeiro a criar o desenho de um tanque de guerra e foi inspirado na carapaça de uma tartaruga.
 
8. Leonardo pintava pouco com modelos, mas quando o fazia contratava músicos para tocar enquanto pintava, para que os modelos relaxassem.
 
9. Ele era um grande amante dos animais (especificamente dos cavalos, achava-os fascinantes). Passou horas a dissecar cadáveres para estudar as suas estruturas ósseas e musculares.
 
10. Estudou com especial atenção as aves como as corujas, mamíferos como os morcegos. A partir deles, ele fez esboços de aviões, helicópteros e planadores.
 
11. Dedicou-se a analisar o movimento das águas dos rios, visando criar um meio de distribuir água por todas as cidades (canos).
 
12. Estava andando sozinho por floresta e montanhas analisando flores e árvores. Leonardo acreditava que antes toda a terra estava coberta de mar, porque nas montanhas inexplicavelmente encontrou conchas e caracóis marinhos.
 
13. Trabalhou na cozinha com seu amigo Sandro Botticelli. Ela gostava de experimentar receitas diferentes, além de cozinhar também criou o garfo.
 
14. Leonardo ensinou arte, mas seus discípulos foram escolhidos por ele. Eles sempre se destacaram por serem homens bonitos, o que encoraja rumores sobre sua possível homossexualidade.
 
15. Ele foi o primeiro a explicar porque o céu é azul. (Pela forma como os raios solares interagem com os gases atmosféricos.
 
Fonte : Clube de leitura
Cultura geral

 


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 18 de julho de 2024

JENIPAPO: HISTÓRIA DA FRUTA (POSTAGEM NO FACEBOOK DO LEITOR PEDRO TONETTA)

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História da fruta Jenipapo
 
É encontrada em toda a América tropical. No Brasil, encontramos pés de jenipapo nativos na Amazônia e na mata atlântica, principalmente em matas mais úmidas, ou próximo a rios — a planta inclusive aguenta encharcamento.
 
Em guarani, jenipapo significa "fruta que serve para pintar". Isso porque, do sumo do fruto verde, se extrai uma tinta com a qual se pode pintar a pele, paredes, cerâmica etc.
 
O jenipapo é usado por muitas etnias da América do Sul como pintura corporal e some depois de aproximadamente duas semanas. A bela coloração azul-escura formada deve-se ao contacto da genipina contida nos frutos verdes com as proteínas da pele, sob ação do oxigênio atmosférico.
 
O fruto é uma baga subglobosa geralmente de cor amarelo-pardacenta. Sua polpa tem cheiro forte e é comestível, mas é mais apreciada na forma de compotas, doces, xaropes, bebida refrigerante, bebida vinosa e licor.
 
O licor de jenipapo é uma bebida apreciada na Bahia, em Pernambuco e em cidades de Goiás, inclusive muito vendida em comércios de cidades turísticas como Caldas Novas e Jataí.
 
Nas festas juninas da Bahia, o licor de jenipapo é o mais apreciado e os mais famosos são produzidos no Recôncavo baiano, de forma artesanal, em toneis que ficam em infusão por um ano até serem envasados e consumidas no São João.
 
As cidades com maior tradição na fabricação deste tipo de bebida são Santo Antônio de Jesus, Maragojipe, Cachoeira, Cruz das Almas e Santo Amaro.
 
Algumas partes do jenipapeiro (como a raiz, as folhas e o fruto) têm diferentes propriedades medicinais. As cascas do caule e as cascas do fruto verde são usadas também para curtir couro, por serem ricas em tanino. O jenipapo usado em forma de garrafada serve para emagrecimento e junção em dietas para redução de colesterol ruim.

Literatura - Contos e Crônicas quarta, 17 de julho de 2024

RECORDAÇÕES DE NÉLIDA PIÑON (CRÔNICA DA LEITORA NITEROIENSE ESCRITORA DALMA NASCIMENTO)

Dalma Nascimento

 

 

 

 

Amigos e amigas, com muita alegria, anuncio a publicação de mais um livro meu, o quinto referente à análise da saudosa e grande escritora Nélida Piñon. Dessa vez, analiso a sua obra sob a luz dos estudos recentes da Fitoliteratura.
 
Minha publicação é também agradecimento pela dedicatória a mim dirigida por Nélida em seu livro póstumo "Os rostos que tenho".
 
"Onde você estiver... Recordações de Nélida Piñon", eu a dedico à Eliana Bueno Ribeiro, amiga há mais de 50 anos compartilhando as obras desta grande autora, sobre a qual ela escreveu sua dissertação de Mestrado.
 
O início desse livro aconteceu graças a uma postagem de outra amiga minha, Wylma Guimarães, a escritora-radialista, que postou em 11 de novembro de 2021 uma foto em que ela segurava uma flor com a seguinte legenda: "A árvore onde guardo minha alma". Esta cena de Wylma tocou-me profundamente e mantive com ela um diálogo sobre as plantas.
 
Ao decorrer do livro, além de analisar a produção de Nélida, aludo ao debate da 19ª FLIP, sobre os vegetais, com Evando Nascimento e Stefano Mancuso. Tal acontecimento ocorreu dias depois da postagem da Wylma.
 
Em um dos capítulos, analiso o livro "A casa da paixão", que dialoga diretamente com Fitoliteratura e Zooliteratura.
 
Quem quiser adquirir um exemplar, chame-me no inbox.

Literatura - Contos e Crônicas terça, 16 de julho de 2024

PEQUI, FRUTA NATIVA DO CERRADO BRASILEIRO (POSTAGEM NO FACEBOOK DO LEITOR PEDRO TONETTA)

 

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O PEQUI é uma fruta nativa do cerrado brasileiro, cujo nome científico é Caryoca brasiliense camb. É também conhecido como: piqui, pequiá, piquiá, piquiá-bravo, amêndoa-de-espinho, grão-de-cavalo, pequiá-pedra, pequerim e suari.
 
Seu significado na língua indígena é “casca espinhosa” é consumido por várias regiões do Brasil. O fruto maduro é de cor verde, e possui em seu interior um caroço revestido por uma polpa macia e amarelada – sendo a parte comestível da fruta.
 
Sua frutificação ocorre entre dezembro e fevereiro.
 
Sua polpa pode ser consumida pura, cozida ou misturada com arroz e outros alimentos. Seu gosto forte pode ser agradável ou desagradar aos consumidores. A castanha torrada do pequi também é comestível.
 
O sabor do pequi é bem peculiar: ele é aquele tipo de comida que ou você ama, ou você odeia, não existe meio termo.
 
O sabor pode ser descrito entre a manga e o cajá; porém, diferentemente dessas duas frutas, o pequi é apimentado. Por isso, ele dá um toque adocicado e picante aos pratos salgados.
 
Qual é o jeito certo de comer pequi?
 
É só roer a polpa ao redor do caroço, que é deliciosa. Assim, o consumo do pequi pode ser seguro e saboroso, sem surpresas indesejadas, devido aos pequenos espinhos próximos ao caroço. A polpa, pode ser usada em pratos salgados, como arroz e frango, e até mesmo em pratos doces, como sorvetes. Licores são também produzidos do pequi.
 
As sementes podem ser também consumidas, podendo ser ingeridas ao natural, cozidas em água salgada ou tostadas. Elas podem ser ainda usadas na preparação de condimentos e bolos. Das sementes, pode-se também extrair óleo.
 
A casca, formada pelo exocarpo e mesocarpo externo, pode ser utilizada na fabricação de farinha e também de sabão. Não podemos deixar de apontar também que o pequi é usado pela indústria de cosméticos e farmacêuticos.
 
O óleo extraído da polpa de pequi é utilizado contra gripes, resfriados e doenças broncopulmonares.
 
O fruto apresenta efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, antigenotóxicos, anticarcinogênicos, hepatoprotetores e cardioprotetores.
 
Devido à presença de ácidos graxos monoinsaturados e carotenoides, o pequi está associado com a prevenção de doenças como câncer, aterosclerose e problemas cardiovasculares.
 
Brasil Escola

Literatura - Contos e Crônicas sábado, 13 de julho de 2024

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB: GUILHERME DE BRITO (CRÔNICA DO COLUNISTA BRUNO NEGROMONTE - IN MEMORIAM)
HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB: GUILHERME DE BRITO
Bruno Negromonte - In Memoriam
 



 

Principal parceiro de Nelson Cavaquinho, Guilherme era avesso à vida desregrada do amigo

O ano de 2016 é marcado pela saudade pontada no tempo, pois completa-se uma década que o instrumentista, cantor e compositor Guilherme de Brito foi para o céu fazer companhia ao seu parceiro mais notório: Nelson Cavaquinho. Nascido no dia 3 de janeiro de 1922, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, Guilherme de Brito Bollhorst. Neto de alemão e filho e um funcionário da Central do Brasil e de Marieta de Brito Bollhorst, Guilherme teve iniciação musical em sua própria casa, pois desde muito cedo demostrava afinidade com a arte. Também não era para menos, pois a família era amante de música (Alfredo Nicolau Bollhorst, seu pai, tocava violão, enquanto sua mãe, tocava piano e sua irmã, como o pai, também tocava violão).

O próprio Guilherme quando questionado sobre o seu envolvimento certa vez disse: “Eu sempre me vi envolvido pela música. Meu pai tocava violão. Minha mãe tocava piano mas eu nunca vi a minha mãe tocar, sabia que ela tocava, mas não tinha piano lá em casa. Como meu pai tocava violão tinha reuniões lá em casa, iam compositores, o Synval Silva ia muito na minha casa. E a minha irmã começou a tocar violão também. Eu era muito pequeno naquele tempo e queria tocar também, então eles me deram um cavaquinho“.

Após ganhar este cavaquinho e apreender as primeiras lições dentro de casa junto aos seus, acabou indo tocar nas ruas do bairro. Neste período, ainda criança, recebe o seu primeiro “cachê” através do quitandeiro da vizinhança, que em troca de músicas dava-lhe frutas. Vagando pelo bairro acompanhado do seu cavaquinho, era comum ouvir o quitandeiro: “Menino, toca um negócio pra mim aqui.” E, após o término do número solicitado, dava ao pequeno Guilherme uma banana, uma laranja.

Ainda sobre esse período de plena liberdade nas ruas de Vila Isabel, o pequeno Guilherme costumava, às vezes, pegar carona no carro do Noel Rosa. Na verdade tratava-se de uma carona não consentida pelo poeta da Vila, pois o Guilherme costumava pegar carona escondido na traseira do carro. Galanteador que era, Noel vivia a paquerar as garotas quando saía motorizado pelas ruas do bairro, e para isso andava em uma velocidade super reduzida (o que acaba oportunizando Guilherme a pendurar-se para pegar caronas em seu carro). Quando o já notório compositor percebia o pequeno dependurado em seu veículo costumava aumentar a velocidade do carro e gritar: “Sai daí, menino!”.

Voltando ao seu primeiro instrumento, vale ressaltar que o seu envolvimento com o cavaquinho deu-se porque a sua envergadura não favorecia para o violão, isso talvez tenha influenciado para que o pequeno instrumento fosse substituído pelo violão pouco tempo depois. Ainda na infância, Guilherme começou a desenvolver outra habilidade que o acompanharia por toda a vida: a pintura. De calça curta, o pequeno Guilherme andava pelas ruas sempre com pedaços de carvão nos bolsos (além do cavaquinho, é claro!).

Guilherme costumava dizer que não sabia de onde vinha essa inclinação para a música, uma vez que na família a música era a única habilidade desenvolvida. Mesmo um exímio violonista e melodista, um pintor de técnicas refinadas costumava dizer que tudo o que havia feito na vida foi de ‘orelhada’, inclusive na escola, onde nem o primário terminou porque teve que começar a trabalhar pra ajudar a mãe quando perdeu o pai em 1936. Aos 12 anos, com um atestado de que sabia ler e escrever do Instituto Politécnico e uma autorização a trabalhar na Casa Edison.

Para deleite dos amigos leitores deixo aqui a canção “Dono das calçadas“, de autoria da imbatível dupla Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Aqui trata-se de um registro de Guilherme gravada em 2003 e acompanhada pelo Trio Madeira Brasil:

 

 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 05 de julho de 2024

O PAJEÚ DO REPENTE (CRÔNICA DA COLUNISTA VERÔNICA SOBRAL)
 
O PAJEÚ DO REPENTE...
Verônica Sobral
 

O Pajeú, basta chover, de repente se transforma… O rio de versos, repleto de rimas, métricas e poesia fina anuncia, através de uma canção romântica, cantada pelo som das grotas que água vem junto com palavras que a vontade de escrever, provocada pela inspiração, torna-se concreta!

Entre um garrancho e outro, uma folha, um galho, os versos fluem e se tornam orações na boca do poeta! Entre rabiscos e letras, surgem sonetos, martelos, surgem sentimentos e emoções metrificadas.

“Certa vez, uma escritora realizando uma pesquisa por aqui, disse que o Sertão é tão poético que fala “cantando”, metrificando”, “procurando ritmo!”

Assim, é o Pajeú, seja rio ou região, repleto de versos metrificados até sem querer.

João Paraibano, um dos maiores poetas que canta a natureza, escreveu e descreveu o Pajeú neste soneto:

RIO PAJEÚ

Pajeú, teu cenário me encanta
Desde a voz do vaqueiro aboiador,
Ao Verão que desbota a cor da planta,
E a abelha que bebe o mel da flor.

O refúgio da caça que se espanta
No chiado dos pés do caçador,
A romântica canção que o rio canta
Na passagem de um ano chovedor.

Quando a chuva da nuvem inunda as grotas
O volume da água banha Brotas,
E onde a curva do rio faz um U…

Nasce um pé de esperança no teu povo;
Tudo indica que Cristo quando novo
Aprendeu a caminhar no Pajeú.

E, sentindo a felicidade do povo do Pajeú, em momentos de chuva, rabisquei:

Quando a chuva visita o nosso chão
E a água escorrega sobre a terra,
A boiada, feliz, chocalha e berra.
É riqueza que chega ao Sertão.
Nosso Rio Pajeú, em turbilhão,
Sai rasgando feliz a madrugada
E o barulho do sapo, da estrada,
É possível ouvir em sinfonia.
E o Sertão, com certeza, neste dia,
Comemora, em verso, a invernada!

As barreiras do rio desaparecem
E a água, numa forte correnteza,
Toma conta do cultivo da represa,
Num instante os torrões se umedecem.
Sertanejos, no entanto, não esquecem
Que sofreram com a seca no Sertão.
Fecham os olhos e fazem uma oração
Pra que a chuva não mude de lugar.
Seguem firme, pra roça, pra plantar
A semente de amor do coração!

E viva o Pajeú… o recanto da alma de cantadores, cantado por Rogaciano Leite e reafirmado por Dedé Monteiro:

Se eu morasse muito além,
Onde nada me faltasse,
Talvez que nem precisasse
Cantar pra me sentir bem.
Sofro, mas canto também
Pra tristeza se mandar.
Se ela insistir em ficar,
Eu canto a canção das dores…
Sou do Pajeú das flores,
Tenho razão de cantar!

Tive a sorte de nascer
Num chão que tanto me inspira,
Minha querida Tabira
Que me dá tanto prazer.
Se a seca me faz sofrer,
O verso me faz gozar,
Pois trago n’alma um pomar
Com frutos de mil sabores!
Sou do Pajeú das flores,
Tenho razão de cantar!

O Pajeú se faz de pedaços de um povo que canta, improvisa e, assim, torna-se concreto com versos da alma de seu povo!


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 01 de julho de 2024

JOGAR TÉNIS (POSTAGEM DA LEITORA BRASILIENSE NENA DE FARIA)

Nena De Faria

 

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Jogar tênis é muito simples, mas jogar tênis simples é a coisa mais difícil que há.
A frase é do Cruyff, adaptada ao tênis.
 
Antes de qualquer conversa ou debate, é preciso entender o que é jogar simples. Na minha visão, a bola de tênis se apresenta. Tênis não é jogar no buraco livre da quadra; é preciso seguir a jogada e a dinâmica do jogo.
 
10 em 10 jogadores sofrem de ansiedade e vontade de fazer o ponto incrível. Mas ele vale exatamente o mesmo que um ponto simples e seguro.
Quando digo que a bola se apresenta, ela mostra sua complexidade. Tento, em todas as clínicas, mostrar que, enquanto estamos bem posicionados e parados na quadra, podemos escolher. Quando estamos em movimento, é preciso jogar cruzado. Tênis é um jogo de erros. Ganha quem erra menos.
 
O respeito e a valorização de cada batida fazem com que o jogo fique mais simples. Jogar para não errar não quer dizer jogar prendendo o braço. Simplesmente, jogar para errar pouco.
 
Ao assistir um argentino ou um espanhol jogando, pensamos na sua garra e atitude. Sim, eles têm isso de sobra, mas o que deveríamos copiar é sua forma simples de jogar cruzado, mudar de direção quando estão bem posicionados, como começam o ponto “trazendo” o jogo para seu ponto forte. Já na devolução ou saque, eles fazem isso.
 
Mas, para isso, é preciso parar de dizer “boa”, “mexe as pernas”, “não erra” e se dedicar a mostrar onde e como fazer. Uma e outra vez.
 
Os vizinhos jogam todos os pontos. Fazem o tão batido 80/20. Sabem o que é?
 
80% no padrão. 20% na variação.
 
Simples?
 
Então por que você não faz?

 


Literatura - Contos e Crônicas sábado, 29 de junho de 2024

DOUTOR NORBERTO SERÓDIO BOEFHAT (POSTAGEM DA LEITORA NITEROIENSE DALMA NASCIMENTO)
 
DOUTOR NORBERTO SERÓDIO BOEFHAT 
Dalma Nascimento
 
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Vida e Morte, duas parceiras ao mesmo tempo em mim.
 
Enquanto Eliana Bueno-Ribeiro expunha, com a exuberância de Eros, na ABL uma interpretação tão singular e inovadora sobre a obra da grande Lygia Fagundes Telles, Tânatos se apossara de mim, ao receber a fatídica noticia da partida do grande amigo e humanitário médico, há décadas da família Dr. NORBERTO SERÓDIO BOECHAT.
 
Sensível e grande escritor com oito livros publicados e todos com autêntico valor, tanto que de sua obra fiz mais de dois prefácios, ele era membro do PEN Clube, fato que o deixara feliz, mas bem pouco frequentou para dar o máximo à sua clínica geriátrica.
 
A qualquer hora do dia ou da noite ele atendia a todos com especial carinho e conforme o caso , conhecedor que era do histórico de seu paciente, ele receitava pelo telefone. Comigo então, nem se fala. Quantas e quantas vezes tirei o sono. E ele paciente ouvia...
 
Vim a conhecê-lo ao tratar de meu marido, que tendo fraturado e operado o fêmur, complicações advieram peculiares à idade. Carecia de um geriatra. E o mais reconhecido na cidade e redondezas Dr Noberto Seródio Boechat foi o escolhido, um ás na clínica, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
 
Ele e Braz, ambos médicos, se deram muito bem, sobretudo pelo pensamentos filosóficos, as perscrutações metafísicas sobre a existência. Similares eram também as lembranças fazendeiras da v ida de cada um – Dr. Norberto de Pirapetinga de Bom Jesus e Braz na região de Dr. Matos em Campos dos Goitacazes. E como tinham experiências da“roça’’ para juntos eles contarem.
 
Lembravam-se dos folguedos da infância vividos na liberdade do campo. Da agradável convivência com os animais. Das águas puras dos regatos para o banho com os amiguinhos, filhos dos colonos. Da amorosa convivência com a terra. Da estuante visão do verde das florestas e do colorido das montanhas ao cair da tarde e como lhes era extasiante contemplar o estrelado céu em noite de lua cheia.
 
Ambos saíram das terras nativas, mas trouxeram-nas sempre presentes na memória. a ponto de Dr. Norberto ser enterrado em Pirapetinga, sua terra natal. Sua vida é para ser transformada em livro e era o que eu fizera antes de ele partir. Um domingo antes do infausto ele veio a nossa casa lanchar comigo.
 
Ele ainda andando com dificuldade,, ao restabelecer-se de uma perigosa operação de coluna, eu em ato solene, entreguei-lhe o roteiro e as páginas prontas do livro, por mim escrito intitulado NORBERTO BOECHAT, O Arconte de Pirapetinga.
 
Ele ficou felicíssimo. Foi um momento de despedida e o livro agora já está na gráfica.
 
• Por ser ele dono do dom de cultuar memórias, a ponto de ter criado um museu dos antigos pertences da antiga Pirapetinga Dr, Norberto lembrava-me um arconte. aquele dignitário da antiga Grécia, respeitado pela comunidade, preservador e intérprete dos documentos e das leis da polis. Como fora em Niterói o nosso amado Pimentel.
 
Arconte tem a mesma raiz de arqueologia, de arquivo, de arcano e de arqueiro. De fato, Norberto Boechat, o verdadeiro Arconte de Pirapetinga, é o arquivo vivo da cidade. Na efervescência das coisas, lá estava ele na arkhé, nos fundamentos dos fatos, para reconstruir os laços espatifados da memória coletiva. Submergia nos arcanos da tradição e de lá retorna iluminado.
 
E, com mestria de um arqueiro, o Arconte Boechat lançava o arco da aliança do passado cultural às gerações futuras. Seu ponto máximo foi, sem dúvida, o lançamento de sua obra Vertentes de Pirapetinga de Bom Jesus e outras histórias, verdadeiro ápice da memória do seu município.
Merecidamente, seu nome deverá figurar em uma grande rua ou avenida de sua terra natal. E por intermédio de meu livro, vocês conhecerão a figura exemplar do humanitário médico e grande escritor escondido da falácia da fama literária DR, NORBERTO SERÓDIO BOECHAT.
 
Nota: texto digitado por Cristiana Silva
 
 

Literatura - Contos e Crônicas sábado, 15 de junho de 2024

FÁTIMA DE CASTRO É BOSSA, É BLUES E O QUE MAIS VIER EM BOA MÚSICA (CRÔNICA DO COLUNISTA BRUNO NEGROMONTE - IN MEMORIAM)

 

FÁTIMA DE CASTRO É BOSSA, É BLUES E O QUE MAIS VIER EM BOA MÚSICA
Bruno Negromonte - In Memoriam
 
 

m “Bossas e Blues”, a cantora e compositora pernambucana reafirma-se como uma grande intérprete

a partir de canções que nos remete aos áureos tempos de nossa MPB

 

Diferente de outrora, a música popular brasileira definha a passos largos, à exceção de nomes pontuais e bastante conhecidos do grande público ou uma ou outra novidade que acaba por muitas vezes perdendo-se em meio a tanta mediocridade que nos é praticamente impostas através dos mais distintos canais de comunicação existente em nosso país. Um verdadeiro crime à arte feita com esmero, uma vez que trata-se de concessões públicas e que deveriam ter por finalidade maior a valorização da cultura nacional a partir do reconhecimento da qualidade da obra, e não por deixando-se levar em consideração aspectos econômicos como tem sido boa parte das diretrizes radiofônicas e televisivas vigentes. Trabalhos musicais que buscam atender aos mais refinados padrões melódicos e estéticos tem perdido a vez na concorrência desleal imposta a partir de outros deturpados parâmetros usados afim de aferir qualidade. É nesse desfavorável contexto, que a a cantora e compositora Fátima de Castro volta ao mercado fonográfico para nos atestar que nem tudo está perdido neste desgostoso aluvião sonoro. Compositora de mão cheia, a cantora e instrumentista volta aos discos depois de um hiato de duas décadas afastada da indústria do disco. Voltou para enfrentar o desfavorável contexto ao qual trabalhos como o seu tem que enfrentar paulatinamente. No entanto, mesmo ciente que remaria contra a maré, a artista não se deixou abalar nem rendeu-se aos ditames que regem o cenário musical e manteve-se firme em seu propósito de apresentar um trabalho agradavelmente destoante. Coragem para poucos que conseguem sobrepor-se a partir do talento, e com esse instrumento busca remar contra a desfavorável maré regente para a sorte daqueles que acreditam na redenção da música popular de qualidade que outrora predominava com folga os mais distintos espaços.

Instrumentista que teve como docente o exímio violonista Henrique Annes, para quem não conhece Fátima de Castro, ela traz em sua biografia artística décadas de história pautadas sempre em uma coerente trajetória. O caminho musical ao qual optou e vem trilhando teve início nos anos de 1960 a partir de esporádicas apresentações em shows universitários e programas de televisão que aos poucos, foi lhe propiciando uma maior visibilidade na cena musical pernambucana a partir dos mais diferentes contextos, tal qual a apresentação no Teatro do Parque ao lado do saudoso cantor Nelson Gonçalves pelo “Projeto Seis e Meia”. O acúmulo dessa experiência lhe deu a segurança precisa para, em 1994, incursionar pela primeira vez no mercado fonográfico ao lançar de modo independente o álbum “Fátima de Castro“, CD onde constam distintos ritmos musicais e a presenças de compositores diversos. Em 1995 a cantora, compositora e instrumentista volta novamente ao mercado do disco desta vez com um registro ao vivo e desde então havia dado uma pausa em sua discografia. Esposa do compositor Bráulio de Castro (que merece um capítulo à parte devido também a sua história dentro da música popular brasileira), agora volta interpretando quinze faixas que ora levam a sua assinatura como a bossa “Saudade” e a faixa “Samba do Kim”; em parceria com o marido vem “De repente”, “Minha presa”, “Palavras mal ditas”, “Deixa doer”, “Meu soluço”, “Antropofágica” e “Desacerto”. Da lavra de Fátima com outros compositores estão presentes as canções “Amigo da alegria” (parceria com Horton Coura), “Alguém possível” (com Paulo Elias) e “Recife Sol e cor” (com Carlos Pessoa de Melo). O disco ainda evidencia o seu lado intérprete ao trazer para o deleite dos admiradores da boa música canções como “Vinho da mesma safra” de autoria de Bráulio de Castro”, e as canções “Álbum de sonhos” e “Mais um louco” (do compositor em parceria com Paulo Elias).

Bossas e Blues” conta com a participação de nomes de peso da música instrumental pernambucana o que acaba por reiterar o compromisso que a artista selou com a proposta musical que abraçou desde o início e que evidencia-se nos diversos gêneros que a sua obra abrange desde que se propôs a fazer música. O CD traz consigo a chancela da qualidade, característica esta que, em momento algum, deixa de evidenciar-se no trabalho do início ao fim. Para respaldar esse precioso detalhe o disco conta com o requinte e o bom gosto de nomes como o do maestro Edson Rodrigues, com irrepreensíveis instrumentistas tais quais o guitarrista Luciano Magno, o pianista e tecladista Fábio Valois, o acordeonista Beto Hortis e Beto do Bandolim, que como o próprio nome artístico revela executa bandolim. Vale frisar que o disco conta ainda, em sua tessitura sonora, a chancela do irrevente e talentoso Maestro Forró e o endossamento do Maestro Spok, maior expoente da atualidade do gênero que melhor representa a música pernambucana: o frevo.

De antemão já deixo claro: apesar do título do álbum limitar-se a dois gêneros musicais, “Bossas e Blues” é um disco que abarca nuances diversos de uma parcela significativa da boa música. feita não apenas nem nosso país, mas de distintos gêneros existentes em todo o planeta. A prova maior desta afirmação é possível ter já na primeira faixa de “Bossas e Blues“, a partir de uma canção de nos remete sem escala aos anos dourados da música mundial a partir das saudosas big bands tão evidentes nas décadas da primeira metade do século XX. Um arranjo que nos remete a nomes como Duke Ellington, Glenn Miller e tantos outros. Daí em diante é uma efusão de uma rica sonoridade que só quem tem a oportunidade de conhecer o trabalho é capaz de perceber. Uma qualidade que faz com que o nome de Fátima de Castro reitere novamente o time da boa música pernambucana a partir de projetos fonográficos como este. Mesmo com uma carreira pontuada por significativos intervalos, Fátima mostra com talento e bom gosto o quanto faz falta para o cenário musical pernambucano sempre que buscou manter-se à margem dos holofotes. Em um cenário musical cada vez mais nefasto, trabalhos como “Bossas e Blues” reiteram a esperança naquilo que o fez o Brasil ser respeitado em todos os cantos do planeta ao se falar de arte. É um disco que facilmente pode servir de proa a favor dessa nau da boa música que insiste singrar esse mar de lama a qual a música popular brasileira anda mergulhada. Que nomes como o de Fátima de Castro estejam sempre a nos mostrar que nem tudo está perdido dentro da música popular brasileira a partir de trabalhos carregados de verdade e inquestionável qualidade. A música brasileira agradece e nós, pernambucanos acostumados ao título de megalomaníaco em tudo, ganhamos mais um motivo para manter a fama.

Deixo para deleite dos leitores de nossa coluna a canção “Minha presa“, como já dito, uma parceria sua com Bráulio de Castro:

 

 


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 10 de junho de 2024

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB: PERY RIBEIRO - 1 (CRÔNICA DO COLUNISTA BRUNO NEGROMONTE - IN MEMORIAM)

 

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB: PERY RIBEIRO - 1
 

Filho de dos grandes nomes da MPB, Pery procurou seguir a mesma trilha

 

Quando o artista tem muito a oferecer acaba nos dando margens para escrever laudas e laudas a seu respeito como é o caso do saudoso Pery Ribeiro, que já é protagonista pela terceira vez aqui desta coluna. Na primeira oportunidade trouxe um pouco de sua biografia antes de estrear como cantor e os seus primeiros passos na carreira; na segunda, tive a oportunidade de trazer alguns feitos em sua biografia, a exemplo, de sua incursão pelo cinema tanto no Brasil como também no Exterior. Hoje retomo as suas histórias para, de certo modo, prestar uma homenagem a este artista que buscou na música o amparo que precisava para superar as adversidades que lhe foram impostas ainda quando criança.

Escolas existentes na então Capital Federal não aceitavam sua matrícula nem a do irmão por serem filhos de artistas, houve dado momento de sua infância/adolescência que Pery e o irmão viram-se morando em regime de internato, foram vítimas constantes do assédio da imprensa após a separação dos pais e, eram obrigado, a ouvir ouvir da boca do próprio pais mais distintos impropérios em relação à mãe. Por falar neste difícil contexto, Pery sempre procurou manter-se imparcial em relação a esta separação (tanto que para nome artístico evitou utilizar o sobrenome de ambos), mas isso não impediu de ter que lhe dar com a difícil personalidade do pai a exemplo do dia em que chegou a participar do programa do polêmico apresentador Flávio Cavalcanti por volta de 1963.

O apresentador convidou Pery para receber um troféu em um dos seus programas diante de um grande júri. Neste júri estava presente Herivelto. Ao final do programa, chegou o momento da entrega do troféu, e para isso nada mais conveniente do que Flavio chamar ao palco o pai de Pery, Herivelto, para a entregar o prêmio e falar quem sabe algumas palavras de carinho para o seu jovem e promissor filho. Ao entregar o troféu, Cavalcanti questiona Herivelto para saber quais eram as palavras a dizer ao filho naquele momento. Ríspido, o famoso compositor responde: “Só espero que você nunca precise vender este troféu para poder comer no futuro“. Constrangimento total para todos presentes, e uma tristeza desoladora para Pery.

A relação de Pery com os pais tinha dois pesos, duas medidas e um amor inabalável. Para contrabalançar toda a rispidez, autoritarismo (e porque não grosseria) que muitas vezes evidenciava-se nas atitudes de Herivelto, havia o contraste da suavidade, da doçura e da dedicação aos filhos de Dalva. Dalva foi a maior incentivadora para que Pery seguisse a carreira de cantor (enquanto o pai nunca expressou nenhum tipo de estímulo). No meio dessa guerra de nervos, só mesmo o talento e o amor a música para superar tanta instabilidade emocional. Coisa que só foi sendo superada ao longo dos anos apresentando-se nos palcos ao redor do mundo tanto ao lado da mãe quanto ao lado do pai, após a morte de Dalva. Nascido no Rio de Janeiro no dia 27 de outubro de 1937, Perry Ribeiro veio a falecer aos 74 anos depois na mesma cidade em que nasceu, para ser mais preciso ele veio a óbito no dia 24 de fevereiro de 2012, vítima de um infarto após 30 dias de hospitalizado.

Seu último registro fonográfico foi o disco duplo Pery Ribeiro Dueto Com Amigos – Abraça Simonal, um tributo ao saudoso amigo Wilson Simonal falecido no ano de 2000. Este disco trata-se de uma verdadeira celebração que conta com nomes como Caetano Veloso, Raimundo Fagner, Tony Garrido, Simoninha, Angela Maria, Alcione, Elza Soares, Carlos Dafé, Chico César, Wanderléa, Luiz Américo , e muito mais gente de peso da MPB. Sua contribuição para a boa música popular brasileira rendeu 32 álbuns, sendo 12 discos dedicados à Bossa Nova. Sim! Quase esquecia… Pery gravou a primeira versão comercial da canção “Garota de Ipanema”, sucesso em todo o mundo, em 1961.

Deixo para deleite dos amigos a canção “Laura”, composição da Antonio Carlos e Jocafi:

 


Literatura - Contos e Crônicas terça, 04 de junho de 2024

OLINDA É TODA CARNAVAL (CRÔNICA DO COLUNISTA LEONARDO DANTAS)
 
OLINDA É TODA CARNAVAL
Leonardo Dantas

 

 

 

O Carnaval de Olinda tem o seu início oficial nos primeiros minutos do domingo quando, no Bonsucesso, o Homem da Meia Noite “bota a cabeça de fora / Aquece a folia / A rua toda estremece / No céu a lua aparece / Explode a alegria” ….

No rastro deste tradicional boneco surgem, como que saídos de um conto de fadas, a Mulher do Dia, o Menino da Tarde, o Tarado da Sé, o Capibão, dentre outras dezenas de bonecos gigantes que vão, pouco a pouco, tomando conta da paisagem.

Caboclinhos, maracatus-nação de baque virado, troças e clubes de frevo, maracatus rurais com seus caboclos de lança, blocos carnavalescos com suas orquestras de pau e cordas, tribos de índios, bois, reisados, a presença cigana nas La Ursas, turmas de palhaços colorido, multidões de alegres mascarados, estão a encher de cores ladeiras, becos, ruas e avenidas, nos dias dedicados ao Carnaval, transformando Olinda no Reino Azul da fantasia.

Batidas sincopadas de bombos dos maracatus-nação, estalidos das preacas dos caboclinhos, notas agudas e dissonantes das fanfarras de frevo, sons rurais de acordeões de La Ursas, batuques de escolas de samba, cômicas toadas de um Mateus do bumba-meu-boi, o lirismo do bloco Flor da Lira cantando, se juntam aos caboclos de lança do maracatu Piaba de Ouro de modo a se misturar com a onda de passistas seguidores dos cortejos da Pitombeiras, do Elefante, da Ceroula, do Vassourinhas, de Marim dos Caetés, ou mesmo do Eu acho é pouco, que mais parecem, na imagem de Alceu Valença, com uma enorme “cobra que desce a ladeira com gosto de gás”.

O carnaval de Olinda em nada se assemelha ao do resto do Brasil. Para o escritor Luís da Câmara Cascudo, “o carnaval dos grupos e dos ranchos, das escolas de samba do Rio de Janeiro” em nada se parece ao carnaval de Olinda, “o carnaval da participação coletiva na onda humana que se desloca, contorce e vibra na coreografia, a um tempo pessoal e geral do frevo, com a sugestão de suas marchas-frevos pernambucanas, insubstituíveis e únicas”.

Nesta paisagem carnavalesca, um ritmo é o grande responsável pela aglutinação das multidões que tomam conta das ruas, becos e avenidas da Cidade Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade durante o carnaval ou em seus momentos de alegria.

Surgido do repertório das bandas militares, o frevo pernambucano como música é o resultado da fusão da marcha, do tango brasileiro, do maxixe, da quadrilha, do galope e, mais particularmente da polca e do dobrado, que num mesmo cadinho deram origem a esta música singular de andamento alegro, ainda hoje em franca evolução rítmica e coreográfica. A partir dos anos trinta, do século passado, convencionou-se dividir o frevo em frevo-de-rua, frevo-canção e frevo-de-bloco.

Como no frevo de Severino Luiz Araújo e Nelson Luiz Gusmão, “… é lindo o carnaval de Olinda / E quem não viu ainda / Não sabe o que é paixão / A vida esquece a saudade / Tudo é felicidade / E amor no coração.”

• Do livro “O’ linda, o teu nome bem diz!”, 480 p. ilustrado, a espera de patrocínio para sua edição.

* * *

 

 

 


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 03 de junho de 2024

O GIGANTE DE MOÇAMBIQUE! (POSTAGEM DO LETOR BAIANO GUILHERME MACHADO HISTORIADOR)

Guilherme Machado Historiador

 
 
O GIGANTE DE MOÇAMBIQUE!
 
 
 
Gabriel Estevão Monjane, o gigante de Manjacaze, media 2,45 metros de altura e era considerado o homem mais alto do mundo, fazendo parte do Livro de Recordes do Guinness.
 
O gigante de Moçambique, como era conhecido, veio pela primeira vez a Portugal em 1969, causando grande alvoroço e curiosidade: em circos, feiras ou eventos privados, Gabriel era exibido pelo país como coisa rara e insólita, tendo viajado por todo o mundo.
 
Regressou a Moçambique após a independência. Por lá, as coisas não lhe correram de feição e rareavam os espetáculos. Casou-se e teve três filhos, vivendo do que lhe dava o restaurante que criara com o dinheiro (pouco) ganho com as exibições.
 
Voltou uma segunda vez a Portugal, em 1979, mas o infortúnio perseguia-o: no Coliseu de Lisboa deu uma queda ao tentar subir as escadas, o que lhe provocou danos graves numa perna e a necessidade de um implante que foi fazer na África do Sul.
 
Regressou pela última vez a Lisboa em Setembro de 1989, alvo da mesma curiosidade de sempre e vítima dos mesmos interesses que o faziam deslocar-se penosamente pelo mundo.
Uma nova queda, em Janeiro de 1990, no quintal da sua casa em Mandlakazi, a sua terra natal, foi-lhe fatal: fez um grave traumatismo craniano, do qual não recuperou, e morreu no Hospital de Maputo com apenas 45 anos."
 
 
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Literatura - Contos e Crônicas domingo, 02 de junho de 2024

PINGA, AGUARDENTE OU CACHAÇA: CURIOSIDADE (CRÔNICA CDA LEITORA BRASILIENSE MARIA INÊS NOGUEIRA)

Maria Inês Nogueira

 

 

CURIOSIDADE:
 
Você sabia? Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo.
 
Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse.
 
Porém, um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou.
 
O que fazer agora?
 
A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
 
No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado.
 
Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo.
Resultado: o 'azedo' do melado antigo era álcool que, aos poucos, foi evaporando e formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente.
 
Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome 'PINGA'.
 
Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de 'ÁGUA-ARDENTE'.
 
Caindo em seus rostos escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar.
 
E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.
 
(História contada no Museu em Minas).
 
Não basta beber, tem que conhecer!
Cachaceiro bem informado
é outro nível!

 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 31 de maio de 2024

A ORIGEM DO TERMO *CARALHO* (POSTAGEM DO LEITOR BRASILIENSE JOÃO MONTEIRO)
João Monteiro
 
 
 
Vivendo e aprendendo...
 
SABIAS QUE?!
 
A ORIGEM DO TERMO "CARALHO”
 
"Caralho" era uma palavra que os marinheiros portugueses usavam para denominar uma zona da pequena cesta "Gávea" que se encontrava no alto dos mastros dos navíos ou barcos a caravelas.
 
Esse local alto do barco chamado CARALHO, era onde os vigias subiam para ver o horizonte em busca de sinais de terra. Também era considerado um lugar de castigo para aqueles marinheiros que cometiam alguma infracção a bordo. Quando um marinheiro cometia uma infracção era enviado logo para o CARALHO.
 
Ele ficava em cima do CARALHO a cumprir horas ou dias inteiros com um sol ardente. Quando a pessoa descia, ficava tão enjoada que chegava até a ficar muito calmo ou tranquilo por vários dias. Isso, porque, no CARALHO, era o local onde se manifestava com maior intensidade o rolamento ou movimento lateral de uma caravela.
 
Foi assim então que surgiu a expressão "VAI PRÓ CARALHO!"
 
Isso, muita das vezes, você nunca irás aprender nas escolas.
 
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, mapa e texto que diz
 
 
 

Literatura - Contos e Crônicas quinta, 30 de maio de 2024

UM TEXTO DE LIA LUFT (POSTAGEM DA LEITORA E ESCRITORA NITEROIENSE DALMA NASCIMENTO)

Dalma Nascimento

 

 

  · 
Profundo , triste , mas Real.
 
Lya Luft escritora Brasileira postou nas redes sociais esse texto lindo, pra gente refletir.
 
“Estamos todos na fila...
 
A cada minuto alguém deixa esse mundo pra trás. Não sabemos quantas pessoas estão na nossa frente.
 
Não dá pra voltar pro “fim da fila”. Não dá pra sair da fila. Nem evitar essa fila.
 
Então, enquanto esperamos a nossa vez: Faça valer a pena cada momento vivido aqui na Terra. Tenha um propósito.
Motive pessoas !!
Elogie mais, critique menos.
Faça um “ninguém” se sentir um alguém do seu lado.
Faça alguém sorrir.
Faça a diferença.
Faça amor.
Faça as pazes.
Faça com que as pessoas se sintam amadas.
Tenha tempo pra você.
Faça pequenos momentos serem grandes.
Faça tudo que tiver que fazer e vá além.
Viva novas experiências.
Prove novos sabores.
 
Não tenha arrependimentos por ter tentado além do que devia, por ter valorizado alguém mais do que deveria, por ter feito mais ou menos do que podia.
 
Tudo está no lugar certo.
 
As coisas só acontecem quando tem quem acontecer. Releve. Não guarde mágoas.
 
Guarde apenas os aprendizados.
Liberte o rancor.
Transborde o amor.
Doe amor. Ame, mesmo quem não merece.
Ame, sem querer receber nada em troca.
Ame, pelo simples fato de você vibrar amor e ser amor.
 
Mas sempre, ame a si mesmo antes de qualquer coisa.” Esteja preparado para partir a qualquer momento. Você não sabe seu lugar na Fila, então se prepare pra deixar aqui apenas boas lembranças. Suas mãos vão embora vazias. Não dá pra levar malas, nem bens... Prepare-se DIARIAMENTE pra levar consigo, somente aquilo que tens guardado no coração.”
Lya Luft

Literatura - Contos e Crônicas quarta, 29 de maio de 2024

SOLIDARIEDADE (POSTAGEM DO LEITOR BRASIIENSE JOÃO MONTEIRO)

João Monteiro

 
 
Nas dificuldades com as enchentes no RS, o Clube Internacional terá de jogar pela Copa Sul-americana, na Arena Barueri.
 
Sabe quem vai bancar o jogo e o aluguel do estádio? A honrada Presidente do Palmeiras Leila Pereira, em solidariedade ao time gaúcho.
 
Gratidão à Tia Leila 🌹❤️🌺🙏🏻🙌🏻🙏🏻
 
 
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "A BANCAR! ALÉM DE CUSTEAR o JOGO, LEILA PEREIRA NÃO VAI COBRAR ALUGUEL DO INTER NA ARENA BARUERI"
 
 
 
 
 

Literatura - Contos e Crônicas segunda, 27 de maio de 2024

94ª FEIRA DO LIVRO DE LISBOA (POSTAGEM DA NITEROIENSE DALMA NASCIMENTO)

 

 

 

Pode ser um doodle de ‎2 pessoas e ‎texto que diz "‎កងីវីិជី TOL Dalma Nascimento P Dalma Nascimento RETALHOS DO OMEU DIAADIA DIA Vaa Meue encontro com velho amigo Camões 94 FE/RAL/VRO FE/RA L/VRO O Correio LISBOA 2024 F ي Dalma Nascimento Dalma ascimento Dalma Nascimento Meus escritos em oCorreio RETALHOS RET/ ALHOS MEU DIAA DIA Pawl ο Correio Crominsoteranadks BoTeBaaTyиx иTa Dalma Nascimento Meus escritose mo Correio- V2 f @redesemfronteiras Rede Sem SemFronteiras Dalma Nascimento Autora Convidada Brasil PAVILHÃO H-40 Parque Eduardo VII- Lisboa APOIADOR DR1 OFICIAL‎"‎‎

 

Em 29 de maio de 2024, Lisboa estará em festa. Inicia-se a 94ª Feira do Livro, naquela histórica cidade portuguesa. E o nosso Brasil — em amistosa interação além-fronteiras — estará presente em um bem organizado estande.
 
Nele, novos escritores contemporâneos marcarão seu nome, quer de forma presencial, quer com seus livros expostos e comentados. E isto, graças ao dinamismo da presidente da Rede Sem Fronteiras, a Maga das Realizações, Dyandreia Portugal, a que promete e cumpre.
 
Auxiliada por eficiente equipe, ela elaborou variadíssimas atividades para todos os dias do evento. E, dentro das múltiplas ideias programadas, Dyandreia, com mágica varinha de realização, ampliará — conforme já o fizera nas feiras anteriores, facultando horizontes internacionais — escritores iniciantes e de vários estados do Brasil.
Essa amistosa interação com personalidades inscritas de norte a sul do nosso país, confirma o desempenho eficaz da dinâmica jornalista Dyandreia, ao entrelaçar diversificados fios da cultura brasileira com o mundo.
 
Assim, dos dias 29 de maio a 16 de junho, no Pavilhão H 4, a Rede Sem Fronteiras levará ao mundo um pedacinho da intelectualidade brasileira. Dentre os quais, destaca-se, inclusive de Niterói, a escritora Matilde Slaibi Conti, que será uma das autoras homenageadas de honra.
 
Daqui de Niterói, vibrarei em pensamento o sucesso do Brasil. Estarei muito bem retratada pela escritora Ana Maria Tourinho — vice-presidente de Núcleos Culturais da Rede Sem Fronteiras. Alguns de meus livros recém-lançados estarão expostos na feira.
 
PS.: Agradeço ao meu amigo escritor Pedro Caldas, que digitou o texto acima. Infelizmente, estou limitada a escrever muito.
 
 
 
 

Literatura - Contos e Crônicas quinta, 23 de maio de 2024

CABO BORÓ (CRÔNICA DO LEITOR BALSENSE CAPITÃO CARLOS PEREIRA COSTA FILHO)

 

CABO BORÓ

Carlos Pereira Costa Filho

 

 

O ano era 1987. Servia eu no 71º Batalhão de Infantaria Motorizado em Garanhuns-PE, sob o comando do famoso coronel Malta, homem bastante temido por todos os subordinados.
 
Coronel Malta assumiu o comando da Unidade naquele ano em substituição ao Coronel Areski. Na primeira formatura, o comandante falou à tropa, em alto e bom som, que ele não era do tipo de comandante que pintava meio-fio para general, pois naquela época já era costume dar um trato nas guias, melhorar a faxina, enfim, deixar a casa nas melhores condições para receber o nosso chefe imediato, o General Coutinho, comandante da 10ª Brigada de Infantaria Motorizada, unidade do Exército sediada em em Recife-PE.
 
A visita de inspeção geralmente acontecia após o término do período básico de formação dos recrutas. Quando foi anunciada a visita do general, o comandante do batalhão determinou que fosse feita a pintura completa da Unidade. Foi um corre-corre adoidado. Depois, entendemos o que o novo comandante quis dizer que não pintaria meio-fio. Realmente, ele não era de pintar só meio-fio. Pintou o batalhão inteiro.
 
Os militares que serviram no 71º BIMtz naquela época e no comando desse nobre coronel sabe muito bem do que estou a dizer. Os comandantes de Subunidade ficaram loucos. Receberam as ordens do comandante da Unidade e teriam que cumpri-las a qualquer custo e em espaço de tempo muito pequeno. A sargentada se desdobrava aos extremos.
 
Na Segunda Companhia de Infantaria, havia uma figura muito conhecida que em matéria de faxina na Subunidade ou nas Guardas não havia outro igual. Era o Cabo J. da Silva, vulgo “Jota Boró”. Cabo Boró auxiliava o encarregado de material da época, o então Sargento Honório.
 
Honório, para cumprir as tarefas de faxina, teria obrigatoriamente de contar com a preciosa ajuda do Cabo Jota Boró. Os encarregados de material das outras subunidades desejavam naquele momento ter um Jota Boró como seu auxiliar. Somente a 2ª Cia tinha esse privilégio.
 
Mas, como nada é perfeito, Jota Boró, descendente de índio pancararu, no auge dos seus vinte e poucos anos de carreira, bebia e fumava cachimbo. Não era muito dado a leitura. Muito provavelmente sabia apenas assinar o nome.
 
Era praxe naquela época a existência nas Unidades desses nobres remanescentes aculturados. Alguns deles até aprendiam alguma coisa nas Escolas Regimentais; outros não demonstravam a menor habilidade na caneta de tinta, mas o Cabo Jota Boró era muito bom na caneta que ele necessitava para a limpeza. Para quem não sabe, caneta de limpeza é o sinônimo castrense de vassoura.
 
Chegado o dia da visita, fomos todos, ou quase todos, para a formatura geral do Batalhão. O comando da Brigada de Infantaria do Recife aproveitou a inspeção do período básico para verificar não somente o aprendizado dos recrutas, mas a todos os integrantes do batalhão que deveriam portar um memento no bolso contendo todas as suas atribuições e o número do seu armamento.
 
O general recebeu o comando da tropa e logo em seguida deixou a tropa em forma para ser inspecionada por alguns militares do seu comando. O general reúne o coronel comandante do 71º BIMtz e outros oficiais do comando da brigada para verificação das instalações do Batalhão.
 
Iniciou a inspeção nas seções que ficam na praça do pavilhão de comando. Após a verificação das instalações do rancho chegaram ao pavilhão das Subunidades. Logo, chegaram na 2ª Companhia. Impecável como sempre. O general deu uma olhada de passagem e já alargava a passada rumo a 1ª Companhia quando alguém da sua equipe sentiu um forte cheiro. O Coronel do Estado-Maior da Brigada, aproximou-se do local de onde vinha o cheiro de fumaça. Encontrou um militar sentado, com as pernas cruzadas, em um tamborete, na porta de entrada dos banheiros dos Cabos e Soldados. Apenas de calção e tênis sem meia o Cabo Jota Boró tirava a maior baforada no seu cachimbo.
 
O Coronel lhe dirige a palavra em tom altivo e pergunta: - O que é que você está fazendo aí, militar? Jota Boró, desconhecendo totalmente aquela autoridade, responde na maior naturalidade possível:
 
– Mandaram eu me esconder aqui por causa do "diabo de um general".
 
Aos nobres militares que tiveram o privilégio de servir naquela época, um grande e fraternal abraço, especialmente ao Cabo J. da Silva, o nosso querido Jota Boró. 
 

 


Literatura - Contos e Crônicas quarta, 22 de maio de 2024

PIULINHA E O EXAME LABORATORIAL (CRÔNMICA DO LEITOR BALSENSE CARLOS PEREIRA COSTA FILHO)

PIULINHA E O EXAME LABORATORIAL

Carlos Pereira da Costa Filho

 

 

Acordei hoje mais balsense do que nunca. Logo cedo, recebi uma ligação do meu primo Amaro Cardoso, empresário em Balsas, e, durante a conversa, acabei recordando muitas coisas de Balsas.

Em seguida, saí de casa para realizar alguns exames em um laboratório na cidade de Osasco, situada na grande São Paulo. Lá, enquanto esperava ser atendido, talvez tocado pela ligação que recebi e observando melhor o atendimento dispensado às pessoas, lembrei-me de uma ocasião em que precisei ser atendido no Hospital São José na minha querida cidade de Balsas. Isso foi em 1976, ano em que passei por muitos problemas de saúde.

Era bem cedo da manhã. Balsas ainda dormia quando eu e minha mãe, Luzia Bucar, nos dirigimos ao Hospital São José. Chegando lá, ficamos esperando a oportunidade para ser atendido a fim de realizar a coleta de sangue para um exame. Enquanto esperávamos no salão, chega uma figura bastante conhecida na cidade, pelo menos naquela época: era Evandro, mais conhecido por Piulinha.

Jovem e descontraído, ele chega e já pergunta o motivo de estarmos ali. Minha mãe respondeu. Quase sem ânimo para nada, mesmo assim me lembro muito bem que o Piulinha trazia consigo, embaixo do braço esquerdo, uma garrafa de plástico, daquelas usadas por uma marca de álcool. A garrafa estava cheia até a tampa com um líquido amarelo escuro. Na mão direita, ele segurava uma lata de 400 gramas, já sem o rótulo. Sabia-se, no entanto, ser um vaisilhame de um certo leito em pó muito conhecido.

Piulinha ia de um lado a outro da sala de espera do hospital, e aquela atitude me incomodava. Lá pelas tantas, minha mãe resolveu perguntar a Piulinha o motivo de ele está ali. Ele logo despachou:

– Vim trazer o mijo da mãe pra fazer exame.

Eu, mesmo, quase sem poder falar, não aguentei de curiosidade e perguntei:

– E nessa lata tem o que?

Piulinha, na maior inocência, respondeu sem pestanejar:

– É a bosta de mãe. Tá cheia também. É pra fazer exame.

Pois é, voltando ao meus estado normal no salão de espera do laboratório em Osasco, me dei conta de que as coisas mudaram muito daquela época para cá quando se trata de exames!

Ainda bem!


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 29 de abril de 2024

CRACOLÂNDIA (CRÔNICA DO LEITOR BALSENSE CAPITÃO CARLOS PEREIRA COSTA FILHO)

 

 

Cracolandia! Você já ouviu falar nessa palavra, que em princípio pode até soar bem no ouvido de alguns que colocam o nome de seus filhos como Maurilândia, Orlândia? Já ouviu falar em algum nome assim? Eu ouvi. Afinal, sou nordestino!

   Pois é, esse maldito nome vem da junção de “crack” , que não é o caso do atleta acima do normal, não, é a droga mesmo, aquela produzida com a mistura da pior parte da cocaína com bicarbonato de sódio e do sufixo “landia”, que quer dizer cidade, portanto, o significado será “cidade do crack”. Tem coisa pior do que isso? Pois bem esse lugar existe e fica aqui no centro da bela cidade que encanta e desencanta a todos nós: SAMPA. Sabe onde fica Sampa? Caetano Veloso sabe! Pergunte a ele. No cruzamento da São João com a Ipiranga é só seguir o rumo que quiser que você verá a cena mais horripilante que se pode imaginar. Nem Virgílio levaria Dante a lugar de tamanho horror. Acredito que as drogas produzidas na Velha Bota de 1300 d. c. não produziriam tamanho estrago!  No majestoso prédio da estação Júlio Prestes, onde funciona a maior sala de espetáculo da América Latina: a Sala São Paulo. Belos concertos, bela música, bela gente! É isso aí mesmo, tudo lindo e maravilhoso. O cenário se completa quando nas suas calçadas vemos crianças jogadas por todos os cantos. Não é somente criança. Temos o público do lado-de-fora repleto de ex-homens, ex-mulheres, ex-aquilo e ex-aquilo outro. Todos vitimados pela doença mais consoladora dos sofrimentos daquela “gente”, se é que podemos chamar assim – o vício do crack!
 
   Tenho certeza que se Caetano tivesse visto essa cena dantesca, jamais a poesia Sampa teria saído daquela forma. Olhamos por todos os lados e o que vemos causa verdadeira ojeriza. Todos formando uma massa falida, imprestável, apodrecida, sem vida, sem coragem, sem nada.
   Causam prejuízos irreparáveis a si mesmos, ao patrimônio público, às pessoas, enfim. Já não possuem mais o caráter. Falta a cada um daquelas pessoas algo determinante na vida do ser humano, que é a vontade. Sem vontade, não se é. Sem ser somos ninguém. Se somos ninguém, não existimos. Se não existimos, ninguém se importa conosco. Vamos vegetando por aqui, ali, até que um belo dia aconteça o que para nós seria bem melhor: morrer para sermos recebidos no Inferno de Dante, pois tenho certeza que é bem melhor do que isso aqui. Diriam eles se pudessem pensar!
   Passamos nós todos os dias por aquele umbral. Nem sequer nos apercebemos mais da situação vexatória. Passamos por cima dos corpos estendidos, embriagados pelo torpor da inexistência. Quando muito, apenas nos confrontamos com nosso consciente que nos diz algo que logo passa, como nós passamos. Não fazemos mais nada. Natural. É muito natural! Ninguém faz nada! Por que eu haveria de fazer? Logo eu que não tenho condições alguma de aguentar sequer o fedor da urina e das fezes que temperam o ambiente? Ah, eu não tenho estômago para isso! O governo também não o tem. E quando digo governo é preciso lembrar que o governo tem três vertentes todas inertes na sua grandeza: legislativo, executivo e judiciário. Quando queremos culpar o governo só nos lembramos do pobre do poder executivo; lembramos dos prefeitos, governadores e presidente; esquecemos dos vereadores, deputados federais, estaduais, senadores e completando o circo os membros do mais alto poder do país, os intocáveis do judiciário.
   No Brasil os poderes só são harmônicos na Carta Magna! O legislativo seria o mais importante deles, se o país fosse decente. São eles que deveriam ser autores de leis que possibilitassem o executivo exercer de forma produtiva o seu mister. São eles que além de não produzirem a legislação mais adequada ao país, deixam que o executivo mercantilmente legisle em seu lugar! Aí eu pergunto: para que serve o poder legislativo, se esse poder delega a outro o direito de fazer o que ele deveria? E o tal poder judiciário? Até parece um poder que brotou no paraíso com o retorno de Dante pelos braços de sua amada Beatriz. São os ungidos do divino. Agem como se não fizessem parte da nossa pátria amada e idolatrada. É um poder atemporal.
   Estamos diante do caos! O poder executivo ainda por cima cria órgãos que dificultarão a sua atuação quando ele resolve atuar. Parece até que é de propósito. Lembremos do Ministério Público, este o mais ferrenho inimigo do governo. Nem sequer se lembram de que dele faz parte e parte do poder executivo. Nem precisa lembrar do Estatuto da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, para não ter que perder tempo em enumerações sem propósitos. O certo é que estamos diante do caos. E no meio disso, você cidadão que ainda não se deu conta de que também é vítima desse Estado viciado, não em crack, mas em inércia proposital.  Você é a vítima porque é apático, impotente, descompromissado, e conivente quando nem sequer sabe quem escolheu para votar na eleição passada. Talvez tenha vendido também sua consciência. Os políticos já pagaram o teu preço; resta agora ficar calado.
   Ninguém do governo tem interesse verdadeiro em resolver a situação dos viciados em crack no país. A cracolândia é apenas o espelho em maior proporção da situação em que se encontra o nosso Brasil. Aqui cabe um adendo: brasil mesmo! É brasa pra todo lado. Só se ver fogo acendendo as pedras do crack. Agora faz sentido o nome brasil? Estão forçando a que pensemos dessa forma.
   A crítica em si já não representa nada. A solução eu posso dizer. Sei que vai doer em alguns, porém é necessário falar. Afinal alguém tem que começar. Primeiro, os poderes do Estado, todos eles em verdadeira união e firme propósito de agir, propiciar medidas de curto, médio e longo prazo, a saber: como cada uma daquelas pessoas já não dispõem de suas razões, deve compulsoriamente ser retiradas daquele local infecto e colocadas em isolamento em fazendas do governo criadas exclusivamente para recuperar esses nossos irmãos, onde receberão tratamento médico aliado a tratamento psicológico, espiritual e trabalho organizado. Se quiserem discutir os pormenores teremos tempo para isso depois que tomarmos as primeiras atitudes. Muita gente vai criticar, eu sei. Apresentarão mil e uma formas alternativas. Todas elas já testadas e que se mostraram improdutivas, portanto, firmeza e atitude são necessárias. ONGs por perto? Deus nos livre! Você sabe o que é uma ONG no Brasil? De Olho Na Grana também é outro mal que deve ser extirpado. O Estado pode fazer sua parte e fazer muito bem. Basta que para isso sigamos o conselho de Capistrano de Abreu: que todo brasileiro estaria obrigado a ter vergonha na cara. Se cada um de nós tivesse mesmo vergonha na cara o Estado por sua vez também teria. Em segundo lugar, entraria em campo os religiosos de todos os matizes com seus processos desobsessivos, facilitando a recuperação dos dois planos. E em terceiro lugar, a sociedade produtiva que no retorno desses ex-viciados em crack possa agasalhar a cada um deles para transformar o desejo da recidiva em trabalho. 
   É preciso restabelecer fortemente a célula mater de toda sociedade que deseja ter em seu seio bons cidadãos e por sua vez um bom Estado: A FAMÍLIA. Esse ponto haverá controvérsias, porém, sem a família, instituição mais perfeita criada pelo homem, jamais teremos um Estado de paz, de harmonia.
   O traficante, além do lucro da venda de suas drogas, lucra também com o desespero de cada família que tem um ou mais membros no vício.
   Não  podemos mais esperar. É chegada a hora de agir. Façamos todos juntos e agora.

 


Literatura - Contos e Crônicas sábado, 27 de abril de 2024

O CARTEIRO E O DEFUNTO (CRÔNICA DO LEITOR BALSENSE CAPITÃO CARLOS PEREIRA COSTA FILHO)

O CARTEIR0 E O DEFUNTO

Carlos Pereira Costa Filho

 

 

Em 2 de novembro comemora-se o dia de finados.

Percebe-se claramente a contribuição dada pelos antigos cristãos para a formação de novas palavras em um determinado idioma. No nosso caso, o velho Português.

Neologismo lexicografado já é indício de que a palavra pode e deve ser utilizada. 

Fiz um arrodeio para dizer que a palavra finados vem de fim. 

Fim mesmo, visto que os cristãos acreditam em Deus até o momento da morte. Depois disso.....bom, o resto é dúvida. O mais provável, para a maioria dessas pessoas, é que seja realmente o fim.

Nos dias de finados lembro-me de Balsas. Nessas lembranças me vem à cabeça os mortos que deixei por lá, enterrados no Cemitério da avenida Catulo, conhecida antigamente pelo apelido de praça dos três “C”, visto concentrar naquela área, em convivência pacífica e ordeira, cabaré, cadeia e cemitério.

Diziam que o camarada aprontava no cabaré e logo seria preso pelo Soldado Ribamar Kikiki. Depois de morrer de fome na cadeia o corpo seria levado ao cemitério, lugar onde deveria encerrar a pena.

Mas, deixemos pra lá esse assunto violento e macabro, por enquanto.

Quero me referir agora a um certo fato do qual me lembrei ao refletir sobre o dia de finados: a morte de um cidadão da cidade de Alto Parnaíba que foi a Balsas para tratamento de saúde, mas faleceu no Hospital São José.

A esposa, sofrendo muito naquele momento, teria de levar o corpo do marido para ser sepultado em Alto Parnaíba. 

Para isso, fretou o jeep boiadeiro (jeep de quatro portas) do Luis Sandes. 

Como já era noite, Luis Sandes lembrou-se do velho carteiro que fazia a ligação dos Correios de Balsas a Alto Parnaíba, passando necessariamente por Brejo da Porta (hoje Tasso Fragoso), pois, com certeza, o carteiro balsense faria esse trajeto por aqueles dias e Luis Sandes poderia contar com a companhia do Paulo Bregaro balsense em missão tão piedosa. 

Já passava das oito da noite quando Luis Sandes se dirigiu à casa de Amazilo, o velho carteiro. 

Convite feito e logo aceito sem pestanejar. 

Para Amazilo seria melhor sair logo à noite de carro do que enfrentar a distancia de burro ou de uma possível carona. Melhor acompanhar o cortejo, pensou ele.

Um hábito muito presente no Amazilo era o de tomar uma proncha.  Isso mesmo, gostava de beber uma boa cachaça, misturada com uma vereda.  Sem ela como companheira, Amazilo não enfrentaria com tamanho sacrifício os desafios da viagem.

O carteiro apanhou a correspondência no prédio dos Correios e, logo após, rumaram para o Alto Parnaíba Luis Sandes, Amazilo, a viúva chorosa e o defunto.

A estrada vicinal era muito ruim. 

Viajando noite adentro, motor do jeep roncando, Amazilo bebendo e falando, viúva chorando e Luis Sandes dirigindo, ouvia tudo e, de vez em quando, também tomava uma. dose.

Lá pelas tantas, incomodados pelos murmúrios da viúva, Amazilo, sentado no banco ao lado do condutor, virou-se para trás e convenceu a pobre mulher a tomar um gole da “maranhense” a fim de se acalmar.

A viuvinha sentiu-se bem melhor com a sensação que a vereda lhe proporcionara. Até começou a interferir na conversa entre Luis Sandes e Amazilo.

Por volta das duas hora da manhã chegaram a Brejo da Porta, hoje Tasso Fragoso.

Encontraram a cidadezinha às escuras, como era de costume no velho Maranhão largado às traças, muito embora o seu povo seja apaixonado pelo Sarney. 

Pararam no posto de abastecimento e borracharia da cidade. O único, por sinal. 

Luis Sandes faria uma inspeção no veículo antes de continuar. 

Nessa hora chega o borracheiro e pergunta a Luis para onde estão indo. Luis logo responde que está indo até o Alto Parnaíba com a missão de levar um defunto.

O borracheiro, homem curioso, fez a volta no veículo para certificar-se da novidade. Ao reencontrar-se com Luis, pergunta:

- Cadê o defunto?

Luis Sandes respondeu:

- Tá aí na traseira do jeep.

O borracheiro continua:

- Aqui mesmo não. Já acendi a lanterna e foquei até debaixo do jeep e não vi defunto algum.

Foi um desespero só. 

Espantados com a ausência de tão ilustre passageiro, lembrou-se Luís Sandes da existência de uma ladeira muito íngreme antes de chegar a Brejo da Porta, provavel local onde poderia o defunto ser encontrado. 

Retornaram às pressas. 

A intuição de Luis Sandes estava correta, pois encontraram no topo da ladeira o caixão já aberto e sem o corpo do defundo. 

Deu um pouco de trabalho para encontrar o defunto, pois rolou ladeira abaixo após o caixão abrir-se. 

Talvez teria sido o último esforço do finado na esperança de escapar daquele vexame.

Recolocado o defunto no esquife, embarcaram-no novamente no veículo.

Desta vez, porém, seguindo orientação muito lúcida do velho carteiro Amazilo, obrigaram a viúva a seguir escanchada no caixão a fim de fazer o peso necessário para firmar a nobre mercadoria e não acontecer um novo imprevisto.

Ao chegarem a Alto Parnaíba, Amazilo, o bom carteiro, por muito ter se preocupado com a situação do defunto, esqueceu-se que a carga que levara para os Correios ficara para trás, provavelmente na ladeira do Brejo da Porta.

A historia é feita por homens, mulheres, cachaça e defuntos.

 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 26 de abril de 2024

SOLDADO RIBAMAR QUIQUIQUI (CRÔNICA DO LEITOR CAPITÃO CARLOS PEREIRA COSTA FILHO, BALSENSE)

 

 

Soldado Ribamar Quiquiqui

Carlos Pereira Costa Filho

dezembro 01, 2012

 

Fico observando as notícias sobre violência e cada vez mais me convenço de que lugar tranquilo mesmo era Balsas-MA, até o início dos anos 80.

Calma! Você também pode ter o seu lugar tranquilo. O meu era o balsinha de açúcar.

Quem viveu do início dos anos 80 às décadas mais remotas, há de concordar comigo sobre essa conclusão.

Naquela época, pelo menos a que me lembro, existia em Balsas uma pequena delegacia de polícia, cujo cargo de delegado era exercido por um sargento da gloriosa Polícia Militar do Estado do Maranhão. O Sargento João foi o primeiro de que me lembro e o segundo e muito mais atuante era o Sargento Soares.

Auxiliando o delegado nas tarefas, um pequeno efetivo de Soldados, dentre os quais se destacava o Soldado Ribamar, oriundo da antiga Guarda Municipal, bastante conhecido do povo balsense, principalmente pelo jeito peculiar de agir quando alguém era preso na Cadeia Pública. Era o Soldado "quiquiqui". Não estranhe. Soldado da gloriosa Polícia Militar do Maranhão, Ribamar era mais conhecido mesmo por um pequeno defeito que se tornava grande na hora em que ele falava. Era gago e sempre iniciava uma conversa com o bordão:

- Qui, qui, qui.....

Bom, o povo "du" Balsas não perdoa: mata. Mata de vergonha o camarada quando confere a ele um título por vezes constrangedor. O certo mesmo é que os balsenses conheciam o Soldado Ribamar Quiquiqui.

Quiquiqui era o elemento que cobria a retaguarda do pequeno efetivo da polícia militar quando conduzia alguém preso ao xadrez da cadeia conhecida por São Damião. Cobria a retaguarda afastando as crianças e os curiosos que, em procissão, acompanhavam o evento até chegar à delegacia.

Hoje, quando perco meu tempo ao assistir o Datena, com toda aquela enrolação possível ao narrar um fato interminável, me faz lembrar as vezes que acompanhei aquelas procissões formadas quando algum infrator era levado ao xadrez. Acompanhava com certa dificuldade, exatamente pelo trabalho eficiente do Soldado  Quiquiqui, que, andando de costas por todo o trajeto entre o fato e a cadeia, afastava a meninada, estendendo os braços, dizendo:

- "Me-menino, va-vai pra casa. I-i-isso não é coisa pra me-me-menino ver não. Sai, sai daqui".

Ribamar tinha razão! Na realidade, não era ele apenas um policial; era, por excelência, um educador. Desejava mais a tranquilidade do lar à violência das ruas.

Hoje, talvez se o Soldado Quiquiqui ainda estivesse na ativa, com certeza estaria batendo na porta de cada casa falando com seu modo peculiar de dizer:

- "Me-me-menino, desliga e-e-essa televisão aí. Vai.... pra rua brincar com os-os.... amigos, que-que... é bem melhor do que essa po-porcaria".

Neste humilde texto expresso publicamente o meu mais profundo respeito ao nosso Soldado Ribamar que fez da farda um jaleco de professor.

 


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 18 de abril de 2024

AMOR À VIDA (CRÔNICA REMETIDA PELO ESCRITOR TERESINENSE JANCLERQUES MARINHO)

 

AMOR À VIDA
Janclerques Marinho
 
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CHICOLÉ, de Floriano (grande craque e piolho de bola) era quem dizia pra gente - “Vocês sabem muito bem como fui criado, o meu pai foi muito rígido na criação dos filhos; lá em casa, tinha dia, que quando ele estava zangado, o único amigo que entrava lá e conseguia sair comigo pra jogar era Nego Chico Kangury (foto).
 
Mamãe gostava muito dele e o seu pai, seu Vicente Kangury era um dos amigos confidencial do meu pai, e o outro era o senhor Antonio Segundo, grande enfermeiro, que ajudava até a operar gente no Hospital. Pois bem, aconteceu de ter um jogo importante em Jerumenha.O papai em casa estava zangado, eu teria que ir escondido e voltar no mesmo dia.
 
O Deoclecinho possuía uma caminhoneta e sempre era o encarregado de ir buscar-me e deixar em Floriano, quando acontecia este impedimento. Distancia de Jerumenha para Floriano, 10 léguas e meia ( 67 km ). O Jogo naquela época começava às três e meia da tarde, porque era para terminar ainda com a claridade do dia.
 
A estrada era piçarrada e Deoclecinho gostava de pisar no acelerador, que se a gente olhasse pro lado via as arvores curvadas. Saímos de Floriano depois do almoço, só a mamãe sabia disso. Ao terminar o jogo, o Deoclecinho foi apanhar-me no campo e já chegou com o seu Zé Leonias de carona pra Floriano.
 
Ao sairmos de Jerumenha, uma senhora grávida, com dores de parto, pediu carona também, mas como a caminhoneta era de cabine simples, educadamente desci e dei o meu lugar para a senhora, mas o seu Zé Leonias disse, com toda a calma do mundo - “não, meu filho, não se preocupe, você está cansado, que eu vou na carroceria, pode deixar”. Eu ainda ponderei, mas ele não aceitou e subiu na carroceria da caminhoneta.
 
E o nosso amigo Deoclecinho saiu rasgando, só fiz o sinal da cruz e pronto. O que se ouvia era só o gemido da mulher e a preocupação do motorista para que ela não parisse na beira da estrada. Quando estávamos passando no Papa – Pombo, já próximo de Floriano, o seu Zé Leonias de repente bateu na cabine pedindo parada. 
 
Deoclecinho parou o veículo e perguntou o que foi, ele desceu e, calmamente, disse: "meu filho, o meu chapéu caiu lá atrás e eu vou voltar para procurar, pois é muito familiar, não se preocupe comigo, podem ir embora com a mulher, que chego em Floriano. Ai entramos num acordo, eu ficava com o seu Zé Leonias e Deoclecinho ia levar a mulher no hospital e voltava pra buscar a gente. Quando ele saiu na camioneta, o seu Leonias disse pra mim: "meu filho, eu tenho amor à minha vida, o chapéu não caiu, não, eu mesmo joguei fora para ele poder parar e eu descer; olhe, meu filho, Deus me livre de andar mais com um homem desses. Pegamos o chapéu e uma carona em um caminhão e, antes de chegarmos em Floriano, cruzamos com Deoclecinho, que já ia retornando para Jerumenha. O senhor José Leonias era muito tranquilo, gente boa, esposo da dona Joana, pai do Tadeu, Neno, Maria José, Budim, Daniel, Mario e muitos outros. Amigo do senhor Vicente Kangury, Antonio Sobrinho, Antonio Segundo, Chico Amorim e do meu pai Lourival Xavier.
 
Moral da resenha: cheguei em Floriano ainda com o tempo de justificar a demora. 
 
 

 


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 08 de abril de 2024

BECO DAS ALMAS (POSTAGEM DO ESCRITOR TERESINENSE JANCLERQUES MARINHO)

BECO DAS ALMAS

Janclerques Marinho 

 

Antigo Beco das Almas

 

 

Conto - Dácio Borges de Melo

 O certo é que Danúnzio, Divaldo e nego Cléber foram a uma tertúlia que sempre ocorria naqueles fins de semana. 

Terminado a festa, Divaldo e nego Cléber resolveram esticar a noite e Danúnzio tava escalado, por dona Lourdes, pra fazer a feira bem cedo, por isso rumou mais cedo pra casa. 

Alta noite, no caminho de casa, tinha que encurtar estrada passando pelo beco das almas. Caminho estreito, cercado de mato, escuro que nem breu. 

Antes de chegar no beco, bateu a mão no bolso e tirou o único cigarro que tinha, todo amassado, bateu outra vez a mão no as bolsos atrás de fósforo, em vão. 

Enfrentar o beco tenebroso sem um cigarro pra iludir o medo era fogo. Mas foi o jeito, entrou nas trevas das almas, com o cigarrinho na mão, no ponto de qualquer barulho sair correndo a mais de mil. 

O efeito da cachaça é que ainda lhe dava um rasgo de coragem. A passos rápidos, em meio a trevas totais, seguiu beco a dentro. 

Na outra entrada beco, avistou uma pequena brasa dançar no ar, o que fez todo seu cabelo levantar! Logo a seguir se acalmou quando ouviu alguém assoviar  uma música comum na época. 

Certamente pra espantar o medo do afamado beco. Sem ninguém enxergar ninguém, ao se aproximar um do outro, Danúnzio perguntou com a voz arrastada..."tem fogo aí, meu amigo". 

Danúnzio não viu, mas sentiu o cara jogar algumas coisas pra cima e com uma voz rouca gritar e disparar noite a dentro. 

De manhã cedo já no rumo da feira, Danúnzio resolveu passar pelo beco pra ver o que resultou da noite assombrosa. Encontrou um pau de travessa, um cofo com peixes e outros espalhados, vara de pescar e outras coisas mais. 

Filhos, netos e bisnetos, certamente ouviram muitas estórias de assombração.

 


Literatura - Contos e Crônicas quarta, 03 de abril de 2024

TEMPO DE PAPAGAIOS (CRÔNICA DO LEITOR TERESINENSE JANCLEQUES MARINHO)

TEMPO DE PAPAGAIOS 

Janclerques Marinho

 

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Eu nunca fui bom de papagaio. Quando os ventos gerais chegavam, todo mundo corria à procura dos artesãos, dos craques na feitura dos surus, lanciadores, curicas, surus de besouro nas mais variadas cores.

Me lembro bem do Tete e do Cebola. Embora não sendo bom na empina, sempre estava participando da brincadeira. Segurando o papagaio pra levantada de voo, passando o cerol na linha e depois me juntar a turma na expectativa da queda bonita de alguns surus cortados.

Na ânsia de comer linha, varávamos cercas de quintas e quintais sem respeitar nada. Lembro-me bem, ali nas imediações da galeria abaixo da rua do fogo, o suru tinha caído no quintal dum carroceiro muito brabo, nós pulamos a cerca afobados pra comer linha e o dono da casa correu pra ver que zoada era aquela no seu quintal. Foi olhar pra nós e gritar bem alto, com raiva, "me traz o facão aí, muié, ligeiro!".

Rapaz, nunca vi nêgo pular cerca de arame tão depressa como naquele dia! Nós correndo apavorados e o negão gritando da cerca, “espera aí seu bando de feladaputa, vou capar um por um!” Só fomos parar, quando sentamos na calçada de seu Benedito, na nossa rua (José Coriolano com João Chico), tamanho era o pavor! Quando recuperamos o fôlego, a risada foi geral. Passei um bom tempo sem passar na galeria.

Fonte: Dácio Melo (filho de Mestre Walter).

 


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 01 de abril de 2024

OLINDA, NO TEMPO DOS FLAMENGOS (CRÔNICA DO COLUNISTA LEONARDO DANTAS)

 

OLINDA, NO TEMPO DOS FLAMENGOS
Leonardo Dantas
 
 

A vida religiosa da capitania tinha como centro a matriz do Salvador do Mundo, sendo ela, em todo século XVI e início do século XVII, a segunda igreja em importância da América Portuguesa, depois da Sé da Bahia. O grande templo foi parcialmente concluído em 1540, apresentava-se com três naves, tendo na portada duas colunas geminadas. O padre Fernão Cardim assim o descreve em 1584: “uma formosa igreja matriz, de três naves, com muitas capelas ao redor, e que acabada ficaria uma boa obra”.

Preocupou-se o primeiro donatário não somente com a implantação da agroindústria açucareira, mas também com a educação da juventude e, muito particularmente, com a catequese dos indígenas, tendo para isso entregue aos padres da Companhia de Jesus, em 1551, a ermida de Nossa Senhora da Graça, por ele construída na mais alta elevação da vila. Coube aos padres Manoel da Nóbrega e Antônio Pires coordenarem o nivelamento do terreno e nele iniciar a construção, junto à primitiva igreja, do edifício do Colégio de Olinda. As obras se prolongaram por toda a segunda metade do século XVI, juntamente com a instalação de um Horto Botânico destinado à aclimatação das plantas exóticas, trazidas da Europa e do Oriente para Pernambuco.

Também as ordens religiosas procuraram estabelecer os seus conventos em terras da nova capitania. Inicialmente, como já vimos, foram os Jesuítas (1551), seguindo-se dos Franciscanos (1585), Carmelitas (1588) e Beneditinos (1592).

 

Ruínas da Sé em Olinda – Frans Post

Uma visão de Olinda, no início do século XVII, nos é dada por Ambrósio Fernandes Brandão, em Diálogos das grandezas do Brasil (16l8):

Dentro na Vila de Olinda habitam inumeráveis mercadores com suas lojas abertas, colmadas de mercadorias de muito preço, de toda a sorte em tanta quantidade que semelha uma Lisboa pequena. A barra do seu porto é excelentíssima, guardada de duas fortalezas bem providas de artilharia e soldados, que as defendem; os navios estão surtos da banda de dentro, seguríssimos de qualquer tempo que se levante, posto que muito furioso, porque têm para sua defensão grandíssimos arrecifes, a onde o mar quebra. Sempre se acham nele ancorados, em qualquer tempo do ano, mais de trinta navios, porque lança de si, em cada um ano, passante de 120 carregados de açúcares, pau-brasil e algodão. A vila é assaz grande, povoada de muitos e bons edifícios e famosos templos, porque nela há o dos Padres da Companhia de Jesus [1551], o dos Padres de São Francisco da Ordem Capucha de Santo Antônio [1585], o Mosteiro dos Carmelitas [1588], e o Mosteiro de São Bento [1592], com religiosos da mesma ordem.

A riqueza de Olinda, por sua vez, era sustentada pelas mercadorias exportadas através porto de Pernambuco, notadamente o açúcar. Sua importância nas relações comerciais com o norte da Europa, é ressaltada em grande parte dos documentos do século XVI e início do século XVII, graças à produção do açúcar, que passara de gênero de alto luxo a produto acessível às classes de menor poder aquisitivo. Tal riqueza veio despertar a cobiça dos piratas e corsários, tornando as caravelas (navios pequenos e mal-armados), em presas fáceis. Informa K. R. Andrews que, entre 1589 e 1591, Portugal perdeu para corsários ingleses nada menos que 34 navios, em sua maioria procedentes dos portos de Pernambuco e da Bahia.

Em 1589, segundo fonte jesuítica, num período de nove meses, foram apreendidos por ingleses e franceses 73 navios carregados.

Na primeira metade do século XVII a riqueza da capitania de Pernambuco, bem conhecida em todos os portos da Europa, veio despertar a cobiça dos Países Baixos. Em guerra com a Espanha, sob cuja coroa se encontrava Portugal e suas colônias, necessitava a Holanda e demais repúblicas de todo açúcar produzido no Brasil para suas refinarias (26 só em Amsterdã). Com o insucesso da invasão da Bahia (1624), onde permaneceram por um ano, mas com o valioso apoio de Isabel da Inglaterra e Henrique IV da França, rancorosos inimigos da Espanha, a Holanda, através da Companhia das Índias Ocidentais, formada pela fusão de pequenas associações, em 1621, cujo capital elevara-se, em pouco tempo, a 7 milhões de florins, voltou o seu interesse para Pernambuco.

A produção de 121 engenhos de açúcar, “correntes e moentes” no dizer de van der Dussen, (¹) viria a despertar a sede de riqueza dos diretores da Companhia, que armou uma formidável esquadra sob o comando do almirante Hendrick Corneliszoon Lonck. Uma grande armada, com 65 embarcações e 7.280 homens, apresentou-se nas costas de Pernambuco em 14 de fevereiro de 1630, iniciando assim a história do Brasil Holandês.

A Vila de Olinda, uma das mais abastadas da América Portuguesa, cujo fausto era comparado com Lisboa e Coimbra, não se perturbara com os boatos da chegada dês uma grande armada .

Nas ruas os seus habitantes, aproveitando as festas pelo nascimento do príncipe Baltasar, herdeiro do trono de Espanha, vestiam seda e damasco, montavam em garbosos cavalos ajaezados em prata, com o som de suas cascavéis a chamar a atenção de sua passagem.

Senhores da terra, os holandeses escolheram o Recife como sede dos seus domínios no Brasil, por ter nesta praça a segurança que não dispunham em Olinda, “por ser aberta por muitas partes e incapaz de defesa”, na observação de Diogo Lopes Santiago (História da Guerra de Pernambuco).

Na noite de 25 de novembro de 1631, resolveram os chefes holandeses pôr fogo na sede da capitania de Pernambuco, “a infeliz vila de Olinda tão afamada por suas riquezas e nobres edifícios, arderam seus templos tão famosos, e casas que custaram tantos mil cruzados em se fazerem” (Santiago).

O soldado da Companhia das Índias Ocidentais, Ambrósio Richshoffer, em anotações ao seu Diário, relata que a demolição dos edifícios de Olinda teve início no dia 17, “transportando-se mais tarde para o Recife todo o material aproveitável”.

A 24 nossa gente que ali se achava retirou-se para a aldeia Povo ou Recife, destruindo antes tudo o que foi possível e pondo fogo à cidade em diversos pontos. Esta resolução foi motivada pelo fato de ser a cidade toda montanhosa e desigualmente edificada, sendo difícil de fortificar e exigir uma forte guarnição, que podíamos empregar melhor aqui e em outros pontos. (²)

 

Olinda – Frans Post

 

Segundo depoimento de Duarte de Albuquerque Coelho, em Olinda “residiam 2.500 vizinhos, possuindo quatro conventos religiosos, sendo um de São Bento, outro dos recoletos de São Francisco, o terceiro do Carmo, e um colégio dos Jesuítas; havia mais duas paróquias, uma casa de Misericórdia e a da Conceição de recolhidas, além das Ermidas. O que não pode referir-se, sem grande e devido sentimento, é que também deixaram nas chamas todas estas igrejas e conventos, e as Santas Imagens”. (³)

Em Olinda a paisagem e costumes foram assim descritos pelo Frei Manuel Calado, “tudo eram delícias e não parecia esta terra senão um retrato do terreal paraíso” (O Valeroso Lucideno).

Mas a segurança para Waerdenburch e demais chefes holandeses falava mais alto, daí fixar-se no Recife e na ilha de Antônio Vaz que “são lugares próprios para, com oportunidade, fundar-se uma cidade” e “penso que ninguém que da Holanda vier para aqui quererá ir morar em Olinda” (Adolph van Els), sendo proibidas quaisquer construções no perímetro urbano da antiga capital.

Observa José Antônio Gonsalves de Mello que “uma população enorme, calculada em mais 7.000 pessoas, teve de se comprimir no Recife e em Antônio Vaz [área hoje ocupada pelos bairros do Recife e de Santo Antônio]. Aí as casas eram em número insuficiente e muitos dos armazéns tinham sido incendiados”.

Ao contrário do que muitos podem pensar, foi o açúcar, e não a esperança de descobrimento de minas, o motivo principal da invasão, conforme bem demonstrou José Antônio Gonsalves de Mello. (4)

– Açúcar, no dizer do padre Antônio Vieira, passou a ser sinônimo de Brasil.

______________

1) DUSSEN, Adriaen van der. Relatório sobre as capitanias conquistadas no Brasil pelos holandeses (1639): suas condições econômicas e sociais. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1947. 168 p. Tradução, introdução e notas de J. A. Gonsalves de Mello.

2) RICHSHOFFER, Ambrósio. Diário de um soldado da Companhia das Índias Ocidentais 1629-1632. Tradução de Alfredo de Carvalho. Apresentação de Leonardo Dantas Silva. Prefácio de Ricardo José Costa Pinto. Recife: SEC, Departamento de Cultura, 1981. 210 p. il. (Coleção pernambucana; 1ª fase, v. 11 a). Fac-símile da. ed. Recife: Typographia a vapor de Laemmert & Comp., 1897.

3) COELHO, Duarte de Albuquerque. Memórias diárias da guerra do Brasil 1630-1638. Apresentação de Leonardo Dantas Silva; Prefácio de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981. 398 p. il. (Coleção Recife; v. 12). Inclui mapas de Manoel Bandeira e índice onomástico.

4) MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos. 2.ed. p. 130.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 22 de março de 2024

CAMÕES, 500 ANOS (ARTIGO DO COLUNISTA IMORTAL E FUBÂNICO JOSÉ PAULO CAVALCANTI)

 

JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

 

CAMÕES, 500 ANOS

Luís Vaz de Camões veio da pequena nobreza – assim se dizia, na época, dos nobres sem casas nem títulos em Portugal. Desde jovem, passava dias e noites pelas ruas entre pedintes, arruaceiros, prostitutas, desvalidos. Ou nas tabernas. E escrevendo versos, quando possível, às vezes em troca de gorjeta. Ou comida.

Era conhecido, pelas incontáveis rixas em que se metia, como Trinca-Fortes. Em uma delas, na noite da procissão de Corpus-Christi, golpeou com espada o pescoço de Gonçalo Borges, cárrego (responsável) dos arreios do rei. Acabou preso no tronco. Libertado por Carta Régia de Perdão, em 7 de março de 1553, teve que pagar quatro mil réis para caridade e foi obrigado a ir servir na Índia. Seria mudança definitiva, em sua vida. Um destino jamais sonhado por seus pais – Simão Vaz de Camões, capitão de nau; e Ana de Sá, dos Macedo de Santarém, doméstica.

Em torno dele, quase tudo é incerto. Sabe-se, dos serviços que prestou na armada portuguesa, que nasceu em Lisboa – ou Coimbra, ou Santarém, ou Alenquer. Talvez em 1523 ou, mais provavelmente, em 1524 (havendo ainda que sugira começos de 1525). Tendo a lei portuguesa 1540, de 02/02/1924, definido que teria sido em 05.02.1524, agora completando essa data 500 anos. Estudou em Coimbra, entre 1542 e 1545, com o tio dom Bento de Camões, prior do Convento de Santa Cruz. Até que voltou para Lisboa. Mas a carreira das armas, logo percebeu, era mesmo das poucas opções que lhe restavam.

Para cumprir aquela sentença de perdão embarcou pouco dias depois, em 24 de março, na poderosa armada do capitão-mor Fernão Álvares Cabral. Para Goa (Índia). Ali, naquele mundo para ele novo, sofreu todas as agruras. Em expedição a Ceuta, perdeu o olho direito numa batalha. Em 1558, naufragou na foz do rio Mekong – costa do Sião (hoje, Tailândia). Salvou-se despido, como todos os demais sobreviventes, tendo em uma das mãos os primeiros versos de seu Os Lusíadas. Nesse episódio teria morrido uma chinesa, a quem Camões deu o nome poético de Dinamene, e para quem depois escreveria uma série de poemas, entre eles o famoso Soneto 48:

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subsiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Foi Provedor dos defuntos nas partes da China, desempenhando suas funções com não muita lisura, é de justiça reconhecer. E, vez por outra, frequentaria prisões. Por dívidas. Ou rixas. Como dizia o próprio Camões, “Erros meus, má fortuna, amor ardente/ Em minha perdição se conjuraram”. Mas, sobretudo, nunca parou de escrever.

Em 1570, afinal, estava novamente de volta a Lisboa. Com as carências financeiras de sempre. Segundo se conta, sobreviveu durante algum tempo graças ao fiel Jau, trazido das Molucas. Esse escravo esmolava, de noite, pedindo pão para seu mestre. Importante é que Os Lusíadas avançava. Sob o patrocínio de d. Manuel de Portugal, devotou-se então à sagração de seu país – naquela que é considerada, consensualmente, a mais bela epopéia do século XVI.

edição princeps – assim se diz das primeiras edições de um livro – foi impressa na tipografia de António Gonçalves, em Lisboa, no ano de 1572. Com privilégio real de impressão por 10 anos e publicada com um benévolo (e corajoso) parecer censório de frei Bartolomeu Ferreira, sem data. Terá tido também licença da Mesa Inquisitorial – que, todavia, não foi impressa. O aparato paratextual é simples, 8.816 versos e 1.102 estrofes divididas em 10 cantos. Utilizando a divisão da divina Comédia, de Dante – que assim tem, como cantos, seus 100 livros. Há, hoje, cerca de 25 exemplares ainda existentes, em bibliotecas ou nas mãos de colecionadores. Talvez menos que 10 completos.

Até fins do século XIX, se acreditava ter havido duas edições princeps. Um mito devido a Manuel Faria e Souza – que (em 1639), ao comentar Os Lusíadas, confrontou dois volumes daquele mesmo ano de 1572; e verificou haver, neles, pequenas diferenças. Depois se comprovando terem sido bem mais que duas. Restando hoje assente que assim ocorreu pelo desejo de Camões, ou seu editor, em corrigir pequenas incorreções das impressões anteriores. Dando-se que, em alguns casos, foram sendo aproveitados conjuntos de páginas já impressas, antes, e não utilizadas. Fazendo-se, as correções, nas novas páginas impressas. Uma explicação que só se pode compreender pelos rudimentares sistemas de impressão daquela época.

Apesar de numerosos indicativos dessa edição princeps na comparação com as demais, e curiosamente, o que a identifica é um pelicano, à primeira página, com o bico virado para a esquerda do leitor. Além do pelicano, também um detalhe no terceiro verso da primeira estrofe, que começa por “E entre”; enquanto, nas versões corrigidas, começa por “Entre”. Essas edições de 1572 tornaram-se conhecidas, por isso, como “Ee” e “E”.

Camões tinha com ele, ao morrer, aquela que acabou tida como a primeira edição autêntica, deixada ao frei Joseph Índio, que o acompanhava num hospital de Lisboa. Esse volume é conhecido como Holland House – por ter estado em casa do general Lord Holland, em Londres, a partir de 1812 e por mais de cem anos.

Outra edição famosa, em Portugal, é a segunda ‒ conhecida como dos piscos. Surgida em 1584, dois anos após o fim do prazo do alvará que protegia a primeira (de 1572). Impressa pela tipografia Manuel de Lira, em Lisboa, e com licença do mesmo frei Bartolomeu Ferreira – responsável pela autorização da edição princeps. O nome jocoso dado à edição vem de uma citação, nos Lusíadas (Canto III, 65), sobre a “piscosa Cizimbra”. Sezimbra é uma vila portuguesa no distrito de Setúbal. Abundante em peixes, bom lembrar. Trata-se da primeira edição comentada de Os Lusíadas. Explicando a citação, o comentador, como referência aos pássaros que ali se juntam em passagem para a África, provavelmente se referindo ao Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus Rubecula).

 

Camões segue a trilha de outras epopéias do passado. Sobretudo a Eneida, de Virgílio; o que se vê até na comparação dos versos iniciais dos poemas: Canto as armas e o varão, Virgílio; e As armas e os Barões assinalados, Camões. Também a Ilíada e a Odisseia, de Homero. Bem como a divina Comédia, de Dante. Além de numerosas epopéias surgidas em Portugal, no mesmo século XVI de Os Lusíadas, mas antes dele – como as de André de Resende, Manuel da Costa ou José de Anchieta; e manuscritos que circularam, antes de 1572, como os de António Ferreira e Jerónimo Corte-Real.

Nele temos o passado, com a exaltação das conquistas em que o povo português foi muito além do Mar Tenebroso. O presente, com o lamento pelo abandono das terras africanas por Portugal – de Safim a Azanos, de Azila a Alcácer Cequer; sem contar a ameaça turca, conjurada só na batalha naval de Lepanto, em 7 de outubro de 1571. Mas é sobretudo a antevisão de um futuro grandioso, na linha da Utopia do Quinto Império.

“Para servir-vos, braço às armas feito; Para cantar-vos, mente às Musas dada” (Os Lusíadas, Canto X, 155). Pouco antes, em Desenganos, escreveu “Nascemos para morrer/ Morremos para ter vida/ Em ti morrendo”. Assim foi. Luís Vaz de Camões morreria em 10 de junho de 1580, pouco depois do desastre de Alcácer Quibir – em que desapareceu d. Sebastião, o Desejado, e Portugal passou a ter um rei espanhol. Foi enterrado na igreja de Santa Ana e seus restos acabaram transferidos, em 1894, ao mosteiro dos Jerônimos, onde repousam num túmulo esculpido em mármore bem na entrada. Consta que disse, ao morrer, “Ao menos morro com a pátria”.


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 07 de março de 2024

INSUPERÁVEL ONIPOTÊNCIA (CRÔNICA DOI COLUNISTA ZELITO NUNES)

 

 
 
INSUPERÁVEL ONIPOTÊNCIA
 
Zelito Nunes
 

Há algum tempo atrás, quando o futebol era pouco divulgado no interior, num lugarzinho lá nos cafundós da Paraíba, já perto do Ceará, acho que foi em Monte Orebe, um sujeito chamado João de Luca convenceu dois cantadores a fazer uma cantoria na sua casa que ficava detrás do campo de futebol desse lugar, já quase no meio do mato.

Diante da promessa do dono da casa de que iria muita gente, um dos cantadores, que tinha um dinheirinho, começou a divulgar o evento numa difusora local .

Uma semana de anúncios e chegou o sábado dia da grande cantoria. Os dois cantadores chegaram na casa de João de Luca de tarde, logo cedo pra conferir o público presente. Não tinha ninguém a não ser o dono da casa , que era bem pequenininha.

Um deles entrou na sala e viu que só tinha um cancão preso numa gaiola. Olhou pro terreiro e tava lá um jumento amarrado num pé de pereiro e devidamente “armado”.

Pronto, o mote tava ali.

E o cantador que era dos bons glosou:

Eu tive uma idéia maluca
e divulguei até no rádio
de cantar detrás do estádio
na casa de João de Luca
um cancão numa arapuca
ele pegou pra nós três
e um jumento pedrês
subindo o pau e descendo
como quem fica dizendo:
“olha aqui pro cu de vocês!”


Literatura - Contos e Crônicas domingo, 18 de fevereiro de 2024

DEDÉ MONTEIRO: PATRIMÔNIO VIVO DE PERNAMBUCO (CRÔNICA DA COLUNISTA VERÔNICA SOBRAL)
 

Não é por acaso que Tabira ontem amanheceu com esperança. Céu nublado, clima ameno. Vontade de chover! Seria o dia que José Rufino da Costa Neto, Dedé Monteiro, receberia o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, pela FUNDARPE.

Isso mesmo! Dedé Monteiro, o poeta lá do Barro Branco I, Poeta tabirense, professor, nosso mestre é PATRIMÔNIO VIVO DE PERNAMBUCO.

Surpresa? Não! Dedé já era Patrimônio sem o título. A FUNDARPE hoje oficializa. Mas Dedé sempre foi o mestre dos mestres. Dedé nasceu poeta. E cresceu poesia! Dedé Monteiro é poesia viva. Dedé não faz somente poesia. Dedé é poesia!

E pensando assim, as poetisas Belinha e Andreia inscreveram Dedé no Concurso concorrendo a Patrimônio Vivo de Pernambuco lançado pela FUNDARPE. E como é isso? Os Patrimônios Vivos de Pernambuco são mestres da cultura popular pernambucana, de notório saber, reconhecidos como Patrimônio Imaterial do Estado, que recebem este título através de um concurso público apoiado na Lei de Patrimônio Vivo.

Todos os anos, três novos Patrimônios Vivos são nomeados pelo Governo do Estado de Pernambuco, e apoiados com o objetivo de preservar seus múltiplos saberes, fazeres, memórias e histórias. A lei, além de permitir a preservação e valorização das manifestações populares e tradicionais, garante as condições para que sejam repassadas às novas gerações de aprendizes.

Então, Dedé preencheu todos os requisitos e hoje nos orgulha muito. Orgulha a APPTA (Associação dos Poetas e Prosadores de Tabira)! Orgulha Tabira! Orgulha o Pajeú. Orgulha a poesia nordestina que se sente representada nesse registro.

Dedé é nosso! É do Povo. Dedé é Patrimônio da poesia e da cultura!

* * *

Dedé Monteiro declama “As Quatro Velas”, de sua autoria:

 

 


Literatura - Contos e Crônicas domingo, 18 de fevereiro de 2024

DEDÉ MONTEIRO (CRÔNICA DA COLUNISTA VERÔNICA SOBRAL)O

 

DEDÉ MONTEIRO: PATRIMÔNIO VIVO DE PERNAMBUCO

 

Não é por acaso que Tabira ontem amanheceu com esperança. Céu nublado, clima ameno. Vontade de chover! Seria o dia que José Rufino da Costa Neto, Dedé Monteiro, receberia o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, pela FUNDARPE.

Isso mesmo! Dedé Monteiro, o poeta lá do Barro Branco I, Poeta tabirense, professor, nosso mestre é PATRIMÔNIO VIVO DE PERNAMBUCO.

Surpresa? Não! Dedé já era Patrimônio sem o título. A FUNDARPE hoje oficializa. Mas Dedé sempre foi o mestre dos mestres. Dedé nasceu poeta. E cresceu poesia! Dedé Monteiro é poesia viva. Dedé não faz somente poesia. Dedé é poesia!

E pensando assim, as poetisas Belinha e Andreia inscreveram Dedé no Concurso concorrendo a Patrimônio Vivo de Pernambuco lançado pela FUNDARPE. E como é isso? Os Patrimônios Vivos de Pernambuco são mestres da cultura popular pernambucana, de notório saber, reconhecidos como Patrimônio Imaterial do Estado, que recebem este título através de um concurso público apoiado na Lei de Patrimônio Vivo.

Todos os anos, três novos Patrimônios Vivos são nomeados pelo Governo do Estado de Pernambuco, e apoiados com o objetivo de preservar seus múltiplos saberes, fazeres, memórias e histórias. A lei, além de permitir a preservação e valorização das manifestações populares e tradicionais, garante as condições para que sejam repassadas às novas gerações de aprendizes.

Então, Dedé preencheu todos os requisitos e hoje nos orgulha muito. Orgulha a APPTA (Associação dos Poetas e Prosadores de Tabira)! Orgulha Tabira! Orgulha o Pajeú. Orgulha a poesia nordestina que se sente representada nesse registro.

Dedé é nosso! É do Povo. Dedé é Patrimônio da poesia e da cultura!

* * *

Dedé Monteiro declama “As Quatro Velas”, de sua autoria:

 

 


Literatura - Contos e Crônicas domingo, 15 de janeiro de 2023

A ASSEMBLEIA DOS RATOS (FÁBULA DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

 

A ASSEMBLEIA DOS RATOS

Monteiro Lobato

 

 

 

Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casa velha que os sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome.


Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembleia para o estudo da questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos mios pelo telhado, fazendo sonetos à lua.


– Acho — disse um deles — que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia e pomo-nos ao fresco a tempo.


Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O projeto foi aprovado com delírio. Só votou contra, um rato casmurro, que pediu a palavra e disse:

 

— Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro-Fino?


Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação.


Moral da estória: falar é fácil; fazer é que são elas.

 


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 05 de janeiro de 2023

O TOURO E AS RÃS (FÁBULA DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

O TOURO E AS RÃS

Monteiro Lobato

 

 

 

Enquanto dois touros furiosamente lutavam pela posse exclusiva de certa campina, as rãs novas, à beira do brejo, divertiram-se com a cena. Uma rã velha, porém, suspirou.

— Não se riam, que o fim da disputa vai ser doloroso para nós.

— Que tolice! - exclamaram as rãzinhas. - Você está caducando, rã velha!

A rã velha explicou-se:

— Brigam os touros. Um deles há de vencer e expulsar da pastagem o vencido. Que acontece? O animalão surrado vem meter-se aqui em nosso brejo e ai de nós!

Assim foi. O touro mais forte, à força de marradas, encurralou no brejo o mais fraco, e as rãzinhas tiveram de dizer adeus ao sossego. Inquietas sempre, sempre atropeladas, raro era o dia em que não morria alguma sob os pés do touro.

(Monteiro Lobato)

Moral da história

É sempre assim: brigam os grandes, pagam os patos pequenos.

Ensinamentos: A fábula reflete sobre as consequências de nos preciptarmos em como agir durante uma situação que parece estar distante de nós. No início da história, as rãs riram da situação que acontecia entre os touros. No entanto, quem acabou "pagando o pato" ao final da disputa foram elas.

 


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 29 de dezembro de 2022

O JULGAMENTO DA OVELHA (FÁBULA DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

 

O JULGAMENTO DA OVELHA

Monteiro Lobato

 

 

 

Um cachorro de má índole acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver furtado um osso.

- Para que furtaria eu esse osso - alegou ela - se sou herbívora e um osso para mim vale tanto quanto um pedaço de pau?

- Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou já levá-la aos tribunais.

E assim fez. Queixou-se ao gavião-de-penacho e pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doce urubus de papo vazio.

Comparece a ovelha. Fala. Defende-se de forma cabal, com razões muito irãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.

Mas o júri, composto de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:

- Ou entrega o osso já, ou condenamos você à morte!

A ré tremeu: não havia escapatória! Osso não tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara.

Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a, espostejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes famintos, a título de custas...

Monteiro Lobato

Moral da história

Tenha em atenção às pessoas poderosas que estão na sua volta.

Ensinamentos: A fábula reflete sobre a injustiça sofrida por indivíduos inocentes e os perigos de nos aproximarmos de quem possui má índole.


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 22 de dezembro de 2022

O PASTOR E O LEÃO (FÁBULA INFANTIL DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

O PASTOR E O LEÃO

Monteiro Lobato

 

 

 

Um pastorzinho, notando certa manhã a falta de várias ovelhas, enfureceu-se, tomou da espingarda e saiu para a floresta.

- Raios me partam se eu não trouxer, vivo ou morto, o miserável ladrão das minhas ovelhas! Hei de campear dia e noite, hei de encontrá-lo, hei de arrancar-lhe o fígado...

E assim, furioso, a resmungar as maiores pragas, consumiu longas horas em inúteis investigações. Cansado já, lembrou-se de pedir socorro aos céus.

- Valei-me, Santo Antônio! Prometo-vos vinte reses se me fizerdes dar de cara com o infame salteador.

Por estranha coincidência, assim que o pastorzinho disse aquilo apareceu diante dele um enorme leão, de dentes arreganhados.

O pastorzinho tremeu dos pés à cabeça; a espingarda caiu-lhe das mãos; e tudo quanto pôde fazer foi invocar de novo o santo.

- Valei-me, Santo Antônio! Prometi vinte reses se me fizésseis aparecer o ladrão; prometo agora o rebanho inteiro para que o façais desaparecer.

Monteiro Lobato

Moral da história

No momento do perigo é que se conhecem os heróis.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 09 de dezembro de 2022

A CORUJA E A ÁGUIA (FÁBULA INFANTIL DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

A CORUJA E A ÁGUIA

Monteiro Lobato

 

 

Coruja e águia, depois de muita briga resolveram fazer as pazes.

— Basta de guerra — disse a coruja.

— O mundo é grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.

— Perfeitamente — respondeu a águia.

— Também eu não quero outra coisa.

— Nesse caso combinemos isso: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.

— Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?

— Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.

— Está feito! — concluiu a águia.

Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.

— Horríveis bichos! — disse ela. — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.

E comeu-os.

Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar contas com a rainha das aves.

— Quê? — disse esta admirada. — Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…

Moral da história: Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai. Já diz o ditado: quem ama o feio, bonito lhe parece.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 02 de dezembro de 2022

O RABO DO MACACO (FÁBULA INFANTIL DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

O RABO DO MACACO

Monteiro Lobato

 

 

Era um macaco que resolveu sair pelo mundo a fazer negócios. Pensou, pensou e foi colocar-se numa estrada, por onde vinha vindo, lá longe, um carro de boi. Atravessou a cauda na estrada e ficou esperando. Quando o carro chegou e o carreiro viu aquele rabo atravessado, deteve-se e disse:

– Macaco, tire o rabo da estrada, senão passo por cima!

– Não tiro! – respondeu o macaco – e o carreiro passou e a roda cortou o rabo do macaco.

O bichinho fez um barulho medonho.

– Eu quero o meu rabo, eu quero o meu rabo ou então uma faca!

Tanto atormentou o carreiro que este sacou da cintura a faca e disse:

– Tome lá, seu macaco dos quintos, mas pare com esse berreiro, que está me deixando zonzo.

O macaco lá se foi, muito contente da vida, com a sua faca de ponta na mão.

– Perdi meu rabo, ganhei uma faca! Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

Seguiu caminho.

Logo adiante deu com um tio velho que estava fazendo balaios e cortava o cipó com os dentes.

– Olá amigo! – berrou o macaco – estou com dó de você, palavra! Tome esta faca de ponta.

O negro pegou a faca mas quando foi cortar o primeiro cipó a faca se partiu pelo meio.

O macaco botou a boca no mundo – eu quero, eu quero minha faca ou então um balaio!

O negro, tonto com aquela gritaria, acabou dando um balaio velho para aquela peste de macaco que, muito contente da vida, lá se foi cantarolando:

– Perdi meu rabo, ganhei uma faca; perdi minha faca, pilhei um balaio! Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

Seguiu caminho.

Mais adiante encontrou uma mulher tirando pães do forno, que recolhia na saia.

– Ora, minha sinhá – disse o macaco, onde já se viu recolher pão no colo? Ponha-os neste balaio.

A mulher aceitou o balaio, mas quando começou a botar os pães dentro, o balaio furou.

O macaco pôs a boca no mundo.

– Eu quero, eu quero o meu balaio ou então me dê um pão.

Tanto gritou que a mulher, atordoada, deu-lhe um pão. E o macaco saiu a pular, cantarolando:

– Perdi meu rabo, ganhei uma faca; perdi minha faca, pilhei um balaio; perdi meu balaio, ganhei um pão. Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!

E lá se foi muito contente da vida, comendo o pão.

 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 18 de novembro de 2022

MAL MAIOR (HISTÓRIA INFANTIL DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

MAL MAIOR

Monteiro Lobato

 

 

 

– O Sol vai casar-se! – anunciou um bem-te-vi boateiro – viva o Sol!

– Viva? – exclamaram as rãs, assustadas – não diga isso, pelo amor de Deus… Um Sol apenas já nos dá o que fazer. Seca os brejos e nos deixa às vezes a ponto de morrermos de sede. E é um só… imaginem agora que se casa e além do senhor Sol também teremos que aturar dona Sol e os sóis filhinhos… Será a maior das calamidades, porque então unicamente as pedras poderão resistir à fúria da família de fogo.

Moral da Estória:

1. Assim é. O mundo está bem equilibrado e qualquer coisa que rompa a sua ordem resulta em males para os viventes. Fique solteiro o Sol e não enviúve quem é casado.

2. Qualquer mudança pode prejudicar alguém.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 11 de novembro de 2022

O MACACO E O COELHO (FÁBULA DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

O MACACO E O COELHO

Monteiro Lobato

 

 

 

Um macaco e um coelho fizeram a combinação de um matar as borboletas e outro matar as cobras. Logo depois o coelho dormiu. O macaco veio e puxou-lhe as orelhas.

– O que é isso? – gritou o coelho, acordando num pulo.

O macaco deu uma risada.

– Ah, ah! Pensei que fossem duas borboletas…

O coelho danou com a brincadeira e disse lá consigo: “Espere que te curo.”

Logo depois o macaco se sentou numa pedra para comer uma banana. O coelho veio por trás, com um pau e lept! – pregou-lhe uma grande paulada no rabo.

O macaco deu um berro, pulando para cima duma árvore, a gemer.

– Desculpe, amigo – disse lá embaixo o coelho – vi aquele rabo torcidinho em cima da pedra e pensei que fosse cobra.

Foi desde aí que o coelho, de medo do macaco vingar-se, passou a morar em buracos.

 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 04 de novembro de 2022

JECA TATU - A RESSURREIÇÃO (CONTO DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

JECA TATU - A RESSUERREIÇÃO

Monteiro Lobato

 

 

Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia e de vários fichinhas pálidos e tristes.

Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de brejaúva, mas não tinha idéia de plantar um pé de couve atras da casa. Perto um ribeirão, onde ele pescava de vez em quando uns lambaris e um ou outro bagre. E assim ia vivendo.

Dava pena ver a miséria do casebre. Nem móveis nem roupas, nem nada que significasse comodidade. Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas, a espingardinha de carregar pela boca, muito ordinária, e só.

Todos que passavam por ali murmuravam:

– Que grandíssimo preguiçoso!

II

Jeca Tatu era tão fraco que quando ia lenhar vinha com um feixinho que parecia brincadeira. E vinha arcado, como se estivesse carregando um enorme peso.

– Por que não traz de uma vez um feixe grande? Perguntaram-lhe um dia.

Jeca Tatu coçou a barbicha rala e respondeu:

– Não paga a pena.

Tudo para ele não pagava a pena. Não pagava a pena consertar a casa, nem fazer uma horta, nem plantar arvores de fruta, nem remendar a roupa.

Só pagava a pena beber pinga.

– Por que você bebe, Jeca? Diziam-lhe.

– Bebo para esquecer.

– Esquecer o quê?

– Esquecer as desgraças da vida.

E os passantes murmuravam:

– Além de vadio, bêbado…

III

Jeca possuía muitos alqueires de terra, mas não sabia aproveitá-la. Plantava todos os anos uma rocinha de milho, outra de feijão, uns pés de abóbora e mais nada. Criava em redor da casa um ou outro porquinho e meia dúzia de galinhas. Mas o porco e as aves que cavassem a vida, porque Jeca não lhes dava o que comer. Por esse motivo o porquinho nunca engordava, e as galinhas punham poucos ovos.

Jeca possuía ainda um cachorro, o Brinquinho, magro e sarnento, mas bom companheiro e leal amigo.

Brinquinho vivia cheio de bernes no lombo e muito sofria com isso. Pois apesar dos ganidos do cachorro, Jeca não se lembrava de lhe tirar os bernes. Por que? Desânimo, preguiça…

As pessoas que viam aquilo franziam o nariz.

– Que criatura imprestável! Não serve nem para tirar berne de cachorro…

IV

Jeca só queria beber pinga e espichar-se ao sol no terreiro. Ali ficava horas, com o cachorrinho rente; cochilando. A vida que rodasse, o mato que crescesse na roça, a casa que caísse. Jeca não queria saber de nada. Trabalhar não era com ele.

Perto morava um italiano já bastante arranjado, mas que ainda assim trabalhava o dia inteiro. Por que Jeca não fazia o mesmo?

Quando lhe perguntavam isso, ele dizia:

– Não paga a pena plantar. A formiga come tudo.

– Mas como é que o seu vizinho italiano não tem formiga no sítio?

– É que ele mata.

– E porque você não faz o mesmo?

Jeca coçava a cabeça, cuspia por entre os dentes e vinha sempre com a mesma história:

– Quá! Não paga a pena…

– Além de preguiçoso, bêbado; e além de bebado, idiota, era o que todos diziam.

V

Um dia um doutor portou lá por causa da chuva e espantou-se de tanta miséria. Vendo o caboclo tão amarelo e chucro, resolveu examiná-lo.

– Amigo Jeca, o que você tem é doença.

– Pode ser. Sinto uma canseira sem fim, e dor de cabeça, e uma pontada aqui no peito que responde na cacunda.

– Isso mesmo. Você sofre de anquilostomiase.

– Anqui… o quê?

– Sofre de amarelão, entende? Uma doença que muitos confundem com a maleita.

– Essa tal maleita não é a sezão?

– Isso mesmo. Maleita, sezão, febre palustre ou febre intermitente: tudo é a mesma coisa, está entendendo? A sezão também produz anemia, moleza e esse desânimo do amarelão; mas é diferente. Conhece-se a maleita pelo arrepio, ou calafrio que dá, pois é uma febre que vem sempre em horas certas e com muito suor. O que você tem é outra coisa. É amarelão.

VI

O doutor receitou-se o remédio adequado; depois disse: “E trate de comprar um par de botinas e nunca mais me ande descalço nem beba pinga, ouviu?”

– Ouvi, sim, senhor!

– Pois é isso, rematou o doutor, tomando o chapéu. A chuva passou e vou-me embora. Faça o que mandei, que ficará forte, rijo e rico como o italiano. Na semana que vem estarei de volta.

– Até por lá, sêo doutor!

Jeca ficou cismando. Não acreditava muito nas palavras da ciência, mas por fim resolveu comprar os remédios, e também um par de botinas ringideiras.

Nos primeiros dias foi um horror. Ele andava pisando em ovos. Mas acostumou-se, afinal…

VII

Quando o doutor reapareceu, Jeca estava bem melhor, graças ao remédio tomado. O doutor mostrou-lhe com uma lente o que tinha saído das suas tripas.

– Veja, sêo Jeca, que bicharia tremenda estava se criando na sua barriga! São os tais anquilostomos, uns bichinhos dos lugares úmidos, que entram pelos pés, vão varando pela carne adentro até alcançarem os intestinos. Chegando lá, grudam-se nas tripas e escangalham com o freguês. Tomando este remédio você bota p’ra fora todos os anquilostomos que tem no corpo. E andando sempre calçado, não deixa que entrem os que estão na terra. Assim fica livre da doença pelo resto da vida.

Jeca abriu a boca, maravilhado.

– Os anjos digam amém, sêo doutor!

VIII

Mas Jeca não podia acreditar numa coisa: que os bichinhos entrassem pelo pé. Ele era “positivo” e dos tais que “só vendo”. O doutor resolveu abrir-lhe os olhos. Levou-o a um lugar úmido, atrás da casa, e disse:

– Tire a botina e ande um pouco por aí.

Jeca obedeceu.

– Agora venha cá. Sente-se. Bote o pé em cima do joelho. Assim. Agora examine a pela com esta lente.

Jeca tomou a lente, olhou e percebeu vários vermes pequeninos que já estavam penetrando na sua pele, através dos poros. O pobre homem arregalou os olhos assombrado.

– E não é que é mesmo? Quem “havera” de dizer!…

– Pois é isso, sêo Jeca, e daqui por diante não duvide mais do que a ciência disser.

– Nunca mais! Daqui por diante nha ciência está dizendo e Jeca está jurando em cima! T’esconjuro! E pinga, então, nem p’ra remédio…

IX

Tudo o que o doutor disse aconteceu direitinho! Três meses depois ninguém mais conhecia o Jeca.

A preguiça desapareceu. Quando ele agarrava no machado, as arvores tremiam de pavor. Era pan, pan, pan… horas seguidas, e os maiores paus não tinham remédio senão cair.

Jeca, cheio de coragem, botou abaixo um capoeirão para fazer uma roça de três alqueires. E plantou eucaliptos nas terras que não se prestavam para cultura. E consertou todos os buracos da casa. E fez um chiqueiro para os porcos. E um galinheiro para as aves. O homem não parava, vivia a trabalhar com fúria que espantou até o seu vizinho italiano.

– Descanse um pouco, homem! Assim você arrebenta… diziam os passantes.

– Quero ganhar o tempo perdido, respondia ele sem largar do machado. Quero tirar a prosa do “intaliano”.

X

Jeca, que era um medroso, virou valente. Não tinha mais medo de nada, nem de onça! Uma vez, ao entrar no mato, ouviu um miado estranho.

– Onça! Exclamou ele. É onça e eu aqui sem nem uma faca!…

Mas não perdeu a coragem. Esperou a onça, de pé firme. Quando a fera o atacou, ele ferrou-lhe tamanho murro na cara, que a bicha rolou no chão, tonta. Jeca avançou de novo, agarrou-a pelo pescoço e estrangulou-a

– Conheceu, papuda? Você pensa então que está lidando com algum pinguço opilado? Fique sabendo que tomei remédio do bom e uso botina ringideira…

A companheira da onça, ao ouvir tais palavras, não quis saber de histórias – azulou! Dizem que até hoje está correndo…

XI

Ele, que antigamente só trazia três pausinhos, carregava agora cada feixe de lenha que metia medo. E carregava-os sorrindo, como se o enorme peso não passasse de brincadeira.

– Amigo Jeca, você arrebenta! Diziam-lhe. Onde se viu carregar tanto pau de uma vez?

– Já não sou aquele de dantes! Isto para mim agora é canja, respondia o caboclo sorrindo.

– Quando teve de aumentar a casa, foi a mesma coisa. Derrubou no mato grossas perobas, atorou-as, lavrou-as e trouxe no muque para o terreiro as toras todas. Sozinho!

– Quero mostrar a esta paulama quanto vale um homem que tomou remédio de Nha Ciência, que usa botina cantadeira e não bebe nem um só martelinho de cachaça.

O italiano via aquilo e coçava a cabeça.

– Se eu não tropicar direito, este diabo me passa na frente, Per Bacco!

XII

Dava gosto ver as roças do Jeca. Comprou arados e bois, e não plantava nada sem primeiro afofar a terra. O resultado foi que os milhos vinham lindos e o feijão era uma beleza.

O italiano abria a boca, admirado, e confessava nunca Ter visto roças assim.

E Jeca já não plantava rocinhas como antigamente. Só queria saber de roças grandes, cada vez maiores, que fizessem inveja no bairro.

E se alguém lhe perguntava:

– Mas para que tanta roça, homem? Ele respondia:

– É que agora quero ficar rico. Não me contento com trabalhar para viver. Quero cultivar todas as minhas terras, e depois formar aqui uma enorme fazenda. E hei de ser até coronel…

E ninguém duvidava mais. O italiano dizia:

– E forma mesmo! E vira mesmo coronel! Per la Madonna!…

XIII

Por esse tempo o doutor passou por lá e ficou admiradíssimo da transformação do seu doente.

Esperara que ele sarasse, mas não contara com tal mudança.

Jeca o recebeu de braços abertos e apresentou-o à mulher e aos filhos.

Os meninos cresciam viçosos, e viviam brincando contentes como passarinhos.

E toda gente ali andava calçada. O caboclo ficara com tanta fé no calçado, que metera botinas até nos pés dos animais caseiros!

Galinhas, patos, porcos, tudo de sapatinho nos pés! O galo, esse andava de bota e espora!

– Isso também é demais, sêo Jeca, disse o doutor. Isso é contra a natureza!

– Bem sei. Mas quero dar um exemplo a esta caipirada bronca. Eles aparecem por aqui, vêem isso e não se esquecem mais da história.

XIV

Em pouco tempo os resultados foram maravilhosos. A porcada aumentou de tal modo, que vinha gente de longe admirar aquilo. Jeca adquiriu um caminhão Ford, e em vez de conduzir os porcos ao mercado pelo sistema antigo, levava-os de auto, num instantinho, buzinando pela estrada afora, fon-fon! fon-fon!…

As estradas eram péssimas; mas ele consertou-as à sua custa. Jeca parecia um doido. Só pensava em melhoramentos, progressos, coisas americanas. Aprendeu logo a ler, encheu a casa de livros e por fim tomou um professor de inglês.

– Quero falar a língua dos bifes para ir aos Estados Unidos ver como é lá a coisa.

O seu professor dizia:

– O Jeca só fala inglês agora. Não diz porco; é pig. Não diz galinha! É hen… Mas de álcool, nada. Antes quer ver o demônio do que um copinho da “branca”…

XV

Jeca só fumava charutos fabricados especialmente para ele, e só corria as roças montado em cavalos árabes de puro sangue.

– Quem o viu e quem o vê! Nem parece o mesmo. Está um “estranja” legítimo, até na fala.

Na sua fazenda havia de tudo. Campos de alfafa. Pomares belíssimos com quanta fruta há no mundo. Até criação de bicho da seda; Jeca formou um amoreiral que não tinha fim.

– Quero que tudo aqui ande na seda, mas seda fabricada em casa. Até os sacos aqui da fazenda têm que ser de seda, para moer os invejosos…

E ninguém duvidava de nada.

– O homem é mágico, diziam os vizinhos. Quando assenta de fazer uma coisa, faz mesmo, nem que seja um despropósito…

XVI

A fazenda do Jeca tornou-se famosa no país inteiro. Tudo ali era por meio do rádio e da eletricidade. Jeca, de dentro do seu escritório, tocava num botão e o cocho do chiqueiro se enchia automaticamente de rações muito bem dosadas. Tocava outro botão, e um repuxo de milho atraia todo o galinhame…

Suas roças eram ligadas por telefones. Da cadeira de balanço, na varanda, ele dava ordens aos feitores lá longe.

Chegou a mandar buscar no Estados Unidos um telescópio.

– Quero aqui desta varanda ver tudo que se passa em minha fazenda.

E tanto fez, que viu. Jeca instalou os aparelhos e assim pode, da sua varanda, com o charutão na boca, não só falar por meio do rádio para qualquer ponto da fazenda, como ainda ver, por meio do telescópio, o que os camaradas estavam fazendo.

XVII

Ficou rico e estimado, como era natural; mas não parou aí. Resolveu ensinar o caminho da saúde aos caipiras das redondezas. Para isso montou na fazenda e vilas próximas vários Postos de Maleita, onde tratava os enfermos de sezões; e também Postos de Anquilostomose, onde curava os doentes de amarelão e outras doenças causadas por bichinhos nas tripas.

O seu entusiasmo era enorme. “Hei de empregar toda a minha fortuna nesta obra de saúde geral, dizia ele. O meu patriotismo é este. Minha divisa: Curar gente. Abaixo a bicharia que devora o brasileiro…”

E a curar gente da roça passou Jeca toda a sua vida. Quando morreu, aos 89 anos, não teve estátua, nem grandes elogios nos jornais. Mas ninguém ainda morreu de consciência tranqüila. Havia cumprido o seu dever até o fim.

XVIII

Meninos: nunca se esqueçam desta história; e, quando crescerem, tratem de imitar o Jeca. Se forem fazendeiros, procurem curar os camaradas da fazenda. Além de ser para eles um grande benefício, é para você um alto negócio. Você verá o trabalho dessa gente produzir três vezes mais.

Um país não vale pelo tamanho, nem pela quantidade de habitantes. Vale pelo trabalho que realiza e pela qualidade da sua gente. Ter saúde é a grande qualidade de um povo. Tudo mais vem daí.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 28 de outubro de 2022

O JABUTI E PEÚVA (FÁBULA INFANTIL DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

O JABUTI E A PEÚVA

Monteiro Lobato

 


 

 

Brigaram certa vez o jabuti e a peúva. 

– Deixa estar! – disse esta furiosa – deixa estar que te curo, meu malandro! Prego-te uma peça das boas, verás… 

E ficou de sobreaviso, com os olhos no astucioso bichinho que lá se ria dela sacudindo os ombros. O tempo foi correndo… o jabuti esqueceu-se do caso; e um belo dia, distraidamente, passou ao alcance da peúva. A árvore incontinenti torceu-se, estalou e caiu em cima dele. 

– Toma! Quero ver agora como te arrumas. Estás entalado e, como sabes, sou pau que dura para cem anos… 

O jabuti não se deu por vencido.

Encorujou-se dentro da casca, cerrou os olhos como para dormir e disse filosoficamente: 

– Pois como eu durmo mais de cem, esperarei que apodreças… 

Moral da História 

A paciência dá conta dos maiores obstáculos.

Literatura - Contos e Crônicas sexta, 21 de outubro de 2022

O GATO VAIDOSO (FÁBULA INFANTIL DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

O GATO VAIDOSO

Monteiro Lobato

 

 

 

Moravam na mesma casa dois gatos iguaizinhos no pêlo mas desiguais na sorte. Um, amimado pela dona, dormia em almofadões. Outro, no borralho. Um passava a leite e comia em colo. O outro, por feliz, se dava com as espinhas de peixe do lixo.

Certa vez, cruzaram-se no telhado e o bichano de luxo arrepiou-se todo, dizendo: 

– Passa ao largo, vagabundo! Não vês que és pobre e eu sou rico? Que és gato de cozinha e eu sou gato de salão? Respeita-me, pois, e passa ao largo… 

– Alto lá, senhor orgulhoso! Lembra-te de que somos irmãos, criados no mesmo ninho. 

– Sou nobre. Sou mais que tu! 

– Em quê? Não mias como eu? 

– Mio. 

– Não tens rabo como eu? 

– Tenho. 

– Não caças ratos como eu? 

– Caço. 

– Não comes rato como eu? 

– Como.

– Logo, não passas dum simples gato igual a mim. Abaixa, pois a crista desse orgulho e lembra-te que mais nobreza do que eu não tens – o que tens é apenas um bocado mais de sorte…


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 14 de outubro de 2022

A GARÇA VELHA (FÁBULA DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

A GARÇA VELHA

Monteiro Lobato

 

 

Certa garça nascera, crescera e sempre vivera à margem duma lagoa de águas turvas, muito rica em peixes. Mas o tempo corria e ela envelhecia. Seus músculos cada vez mais emperrados, os olhos cansados – com que dificuldade ela pescava!

– Estou mal de sorte, e se não topo com um viveiro de peixes em águas bem límpidas, certamente que morrerei de fome. Já se foi o tempo feliz em que meus olhos penetrantes zombavam do turvo desta lagoa…

E de pé num pé só, o longo bico pendurado, pôs-se a matutar naquilo até que lhe ocorreu uma idéia.

– Caranguejo, venha cá! – disse ela a um caranguejo que tomava sol à porta do seu buraco.

– Às ordens. Que deseja?

– Avisar a você duma coisa muito séria. A nossa lagoa está condenada. O dono das terras anda a convidar os vizinhos para assistirem ao seu esvaziamento e o ajudarem a apanhar a peixaria toda. Veja que desgraça! Não vai escapar nem um miserável guaru.

O caranguejo arrepiou-se com a má notícia. Entrou na água e foi contá-la aos peixes.

Grande rebuliço. Graúdos e pequeninos, todos começaram a pererecar às tontas, sem saberem como agir. E vieram para a beira d’água.

– Senhora dona do bico longo, dê-nos um conselho, por favor, que nos livre da grande calamidade.

– Um conselho?

E a matreira fingiu refletir. Depois respondeu.

– Só vejo um caminho. É mudarem-se todos para o poço da Pedra Branca.

– Mudar-se como, se não há ligação entre a lagoa e o poço?

– Isso é o de menos. Cá estou eu para resolver a dificuldade. Transporto a peixaria inteira no meu bico.

Não havendo outro remédio, aceitaram os peixes aquele alvitre – e a garça os mudou a todos para o tal poço, que era um tanque de pedra, pequenininho, de águas sempre límpidas e onde ela sossegadamente poderia pescá-los até o fim da vida.

Ninguém acredite em conselho de inimigo.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 07 de outubro de 2022

A FACADA MORTAL (CONTO DO PAULISTA MONTEIRO LOBATOo

A FACADA MORTAL

Monteiro Lobato

 

 

 

Todos os tratados de xadrez descrevem a celebre partido jogada por Philidor no século XVIII, a mais romântica que os anais enxadrísticos mencionam. Tão sábia foi, tão imprevista e audaciosa, que recebeu o nome de Partida Imortal. Embora depois dela se jogassem pelo mundo milhões de partidas de xadrez, nenhuma ofuscou a obra prima do famoso Philidor André Danican.

 

Também a “facada” do Indalício Ararigboia, um saudoso amigo morto, se vem perpetuando nos anais da alta malandragem como a La Gioconda do gênero ou como está admitido nas rodas técnicas — a Facada Imortal. Indalício foi positivamente o Philidor dos faquistas.

 

Lembro-me bem: era um rapaz lindo, de olhos azuis e voz suavíssima; as palavras vinham-lhe como pêssegos embrulhados em paina, e sabiamente camaralentadas, porque, dizia ele, o homem que fala depressa é um perdulário que deita fora o melhor ouro da sua herança. Ninguém dá tento ao que esse homem diz, porque quod abundat nocet. Se não valorizamos nós mesmos as nossas palavras, como pretendermos que os outros as prezem?

 

Meu mestre nesse ponto foi o general Pinheiro Machado, num discurso que lhe ouvi certa vez. Que astuciosa e bem calculada lentidão! Entre uma palavra e outra o Pinheiro punha um intervalo de segundos, como se sua boca estivesse perdigotando pérolas. E a assistência o ouvia com religiosa unção absorvendo como pérolas era emitido. Substantivos, adjetivos, verbos, advérbios e conjunções caiam sobre os ouvintes como seixos lançados à lagoa; e antes que cada um chegasse bem lá no fundo, o general não soltava outro. Cacetíssimo, mas de alta eficiência.

 

— Foi ele então o teu mestre na arte de falar valorizadamente…

 

— Não. Nasci sonolento. O Pinheiro apenas me abriu os olhos quanto ao valor monetário do Dom que a natureza me dera. Depois de ouvir esse seu discurso é que passei a dedicar-me à nobre arte de fazer com os homens o que fazia Moisés nas rochas do deserto.

 

— Fazê-los “sangrar”…

 

— Exatamente. Vi que se somasse minha natural lentidão do falar com alguma psicologia vienense (Freud, Adler), o dinheiro dos homens me atenderia como as galinhas atendem ao quitquit das donas de casa. Para cada bolso há uma chave Yale. Minha técnica se resume hoje em só abordar a vítima depois de descobrir a chave certa.

 

— E como consegue?

 

— Tenho minha álgebra. Considero os homens equações do terceiro grau — equações psicológicas, está claro. Estudo-os, deduzo, concluo — e esfaqueio com precisão praticamente absoluta. O mordedor comum é um ser indecoroso, digno do desprezo que lhe dá a sociedade. Pedincha, implora; apenas desenvolve, sem a menor preocupação estética, o surrado cantochão do mendigo: “Uma esmolinha pela amor de Deus!” Comigo, não! Assumi essa atitude (porque o pedir é uma atitude na vida), primeiro, por esporte; depois, com o fito de reabilitar uma das mais velhas profissões humanas.

 

— Realmente, a intenção é nobilíssima…

 

Indalício racionalizara a “mordedura” ao ponto da sublimação. Citava filósofos gregos. 

Mobilizava músicos de fama.

 

— Liszt, Mozart, Debussy, dizia ele, nobilitaram essa coisa comum chamada “som” à força de harmonizá-lo de certo modo. O escultor nobilitará até um paralelepípedo de rua, se lhe der forma estética. Por que não nobilitaria eu o deprimentíssimo ato de pedir? Quando lanço a minha facada, sempre depois de sérios estudos, a vítima não me dá o seu dinheiro, apenas paga a finíssima demonstração técnica com que o tonteio. Paga-me a facada do mesmo modo que o amador de pintura paga o arranjo de tintas que o pintor faz sobre uma estopa, um quadrado de papelão, uma relíssima tábua.

 

O faquista comum, notem, nada dá em troca do miserável dinheirinho que tira. Eu dou emoções gratíssimas à sensibilidade das criaturas finas. Minha vítima tem que ser fina. O simples fato da minha escolha já é um honroso diploma, porque nunca me desonrei em esfaquear criaturas vulgares, de alma grosseira. Só procuro gente na altura de compreender as sutilezas das paisagens de Corot ou dos versos de Verlaine.

 

Como se requintava a formosura do Indalício nos momentos em que discorria assim! Envolvia-o a aura dos predestinados, dos apóstolos que se sacrificam para aumentar de alguma coisa a beleza do mundo. De sua barba loura, à Cristo, escapavam os suaves reflexos do cendre.

 

As frases fluíam-lhe da boca de fino desenho como o óleo ou o mel escorre duma ânfora grega suavemente inclinada. Suas palavras traziam patins aos pés. Tudo no Indalício eram mancais de esferas. Talvez ajudasse a circunstância de ser surdinho. Isso de não ouvir bem põe veludos em certas pessoas, dá-lhes um macio de violoncelo. Como não se distraem com a vulgaridade dos sons que todos nós normalmente ouvimos, atentam mais em si próprios, “ouvem-se mais”, concentram-se.

 

Nosso costume naquele tempo era reunir-nos todas as noites no velho “Café Guarany” com y grego — a reforma ortográfica ainda dormia no calcanhar do Medeiros e Albuquerque; ficávamos ali horas trabalhando para a Antártica e comentando as proezas de cada um. Rodinha muito interessante e vária, cada um com a sua mania, a sua arte ou a sua tara. Ligava-nos apenas uma coisa: o pendor comum pelas finuras mentais em qualquer campo que fosse, literatura, perfídia, oposição ao governo, arte de viver, amor. Um deles era absolutamente ladrão — desses que a sociedade trancafia. Mas que ladrão engraçado! Estou hoje convencido de que roubava unicamente com um fim: deslumbrar a rodinha com a primorosa estilização das proezas. Outro era bêbedo profissional — e talvez pela mesma razão: informar à roda sobre o que é a vida do clã de adoradores do álcool que passam a vida nos “botecos”. Outro era o Indalício…

 

— E antes, Indalício? Que é que fazia?

 

— Ah, perdia o tempo numa escola do Rio como professor de meninos. Nada mais desinteressante. Fugi, farto e refarto. Odeio qualquer atividade vazia dessa “emoção da caça” que considero a coisa suprema da vida. Fomos caçadores durante milhões e milhões de anos, na nossa longuíssima fase de homens primitivos.

 

A civilização agrícola é coisa de ontem, e por isso ainda espinoteiam com tanta vivacidade, dentro do nosso modernismo, os velhos instintos do caçador. Continuamos os caçadores que éramos, apenas mudados de caça. Como nestas cidades de hoje não existem aquele Ursus speleus que no período das cavernas nós caçávamos (ou nos caçavam), matamos a sede do instinto com as amáveis cacinhas da civilização. Uns caçam meninas bonitas, outros caçam negócios, outros caçam imagens e rimas. O Breno Ferraz caça boatos contra o governo…

 

— E eu que caço? Perguntei.

 

— Antíteses, respondeu de pronto o Indalício. — Fazes contos, e que é o conto senão uma antítese estilizada? Eu caço otários, com a espingarda da psicologia. E como isso me dá para viver folgadamente, não quero outra profissão. Tenho prosperado. Calculo que nestes últimos três anos consegui remover do bolso alheio para o meu cerca de duzentos contos de réis. Aquela revelação fez que o nosso respeito pelo Indalício aumentasse de dez pontos.

 

— E sem abusar, continuou ele, sem forçar a nota, porque meu intento nunca foi acumular dinheiro. Em dando para o passadio à larga, está ótimo. O lucro maior que obtenho, entretanto, está na contenteza de alma, na paz da consciência — coisas que nunca tive nos anos em que, como professor de educação moral, eu transmitia às inocentes crianças noções que hoje considero absolutamente falsas. As nevralgias da minha consciência naquela época, quando provava nas aulas, com infames sofismas, que a linha reta é o caminho mais curto entre dois pontos!

 

Com o perpassar do tempo o Indalício desprezou completamente as facadas simples, ou do “primeiro grau”, como dizia ele, isto é, as que apenas produzem dinheiro. Passou a interessar-se unicamente pelas que representavam “soluções de problemas psicológicos” e lhe davam, além do íntimo prazer da façanha, a mais pura glória ali da rodinha. Uma noite desenvolveu-nos o teorema do máximo…

 

— Sim cada homem, em matéria de facada, tem o seu máximo; e o faquista que arranca 100 mil réis dum freguês cujo máximo é de um conto, lesa-se a si próprio — e ainda perturba a harmonia universal. Lesa-se em 900 mil réis e interfere na ordem preestabelecida do cosmos. Aqueles 900 mil réis estavam predestinados a mudarem-se de bolso naquele dia, naquela hora, por meio daqueles agentes; a inépcia do mau faquista perturba a predestinação, dessa arte criando uma ondulazinha de desarmonia que até ser reabsorvida contribui para o mal-estar do Universo.

 

Essa filosofia ouvimo-la no dia do seu “grande deslize”, quando o Indalício nos apareceu no Guarany seriamente incomodado com a perturbação que essa sua “mancada” podia estar determinando na harmonia das esferas.

 

— Errei, disse ele. Meu assalto foi contra o Macedo, que, vocês sabem, é a maior vítima dos mordedores de S. Paulo. Mas fui precipitado em minhas conclusões quanto ao seu máximo, e dei-lhe um golpe de dois contos apenas. A prontidão com que atendeu, reveladora de que estava ganhando três, demonstrou-me, da maneira mais evidente, que o máximo do Macedo é de cinco contos! Perdi. Pois, três contos…

 

E o pior não está nisso, mas na desconfiança em que fiquei de mim mesmo. Estarei por acaso decaindo? Nada mais grotesco do que ferir em oitenta ao otário cujo máximo é de cem. O bom atirador não gosta de acertar perto Há de enfiar as balas, exatinho, no centro geométrico do alvo. Nesse dia foram necessários dez chopes para abafar a inquietação do Indalício; e ao recolher-nos, lá apela meia noite, saí com ele a pretexto de consolá-lo, mas na realidade para impedi-lo de passar pelo Viaduto. Mas afinal descobri a aspirina adequada ao caso.

 

— Só vejo um meio de te restaurares na confiança perdida, meu caro Indalício: dares uma facada no Raul! Se o consegues, terás realizado a proeza suprema de tua vida. Que tal?

 

Os olhos de Indalício iluminaram-se, como os do caçador que depois de perder um coati dá de frente com um precioso veado — e foi assim que teve início a construção de grande obra prima do nosso saudoso Indalício Ararigboia.

 

O Raul, velho companheiro de roda, tinha-se, e era tido, como absolutamente imune a facadas. Rapaz de modestas posses, vivia duns 400 mil réis mensalmente drenados do governo; mas tratava-se bem, vestia-se com singular apuro, usava lindas gravatas de seda, bons sapatos; para perpetuar semelhante proeza, entretanto, adquirira o hábito de não por fora dinheiro nenhum, e hermeticamente fechara o corpo a facadas, por mínimas que fossem.

 

Recebido o ordenado no começo do mês, pagava as contas, as prestações, retinha os miúdos do bonde e pronto — ficava até o mês seguinte leve como um beija-flor. Em matéria de facadas sua teoria sempre fora de negação absoluta.

 

— “Morre” quem quer, dizia ele. Eu por exemplo não sangrarei nunca porque de há muito deliberei não sangrar! O mordedor pode atacar-me de qualquer lado, norte, sul, leste, oeste, a jusante ou a montante, e com uso de todas as armas inclusive as do arsenal do Indalício: inútil! Não sangro, pelo simples fato de haver deliberado não sangrar — além de que por sistema não ando com dinheiro no bolso.

 

Indalício não ignorava a inexpugnabilidade do Raul, mas como se tratasse dum companheiro de roda nunca pensou em tirar o ponto a limpo. Minha sugestão daquele dia, porém, fê-lo mudar de ideia. A inexpugnabilidade do Raul entrou a irritá-lo como intolerável desafio à sua genialidade.

 

— Sim, disse o Indalício, porque verdadeiramente imune a facadas não creio que haja ninguém no mundo. E se alguém, como o Raul, faz essa ideia de si, é que nunca foi abordado por um verdadeiro mestre — um Balzac como eu. Hei de destruir a inexpugnabilidade do Raul; e se meu golpe vier a falhar, talvez até me suicide com a pistola de Vatel. Viver desonrado aos meus próprios olhos, nunca!

 

E Indalício pôs-se a estudar o Raul a fim de descobrir-lhe o máximo — sim, porque até no caso do Raul aquele gênio insistia em ferir no máximo! Duas semanas depois confessou-me com a habitual suavidade:

 

— O caso está resolvido. O Raul realmente jamais levou facadas e considera-se em absoluto imune — mas lá no fundo d’alma, ou do inconsciente, está inscrito o seu máximo: cinco mil réis! Tenho orgulho em revelar a minha descoberta. Raul considera-se inesfaqueável, e jurou morrer sem a menor cicatriz no bolso; a sua consciência, portanto, não admite máximo nenhum. Mas o máximo do Raul é de cinco! Para chegar a essa conclusão tive de insinuar-me nos desvãos de sua alma com a gazua do Freud.

 

— Só cinco?

 

— Sim. Só cinco — o máximo absoluto! Se o Raul se psicanalisasse, descobriria, com assombro, que apesar das suas juras de imunidade a natureza o colocou na casa dos cinco.

 

— E vai o nosso Balzac sujar-se com uma facada de cinco mil réis! Em que ficou a tua fixação do mínimo em duzentos?

 

— De fato, hoje não dou facadas de menos de duzentos, e me julgaria desonrado se me abaixasse a uma de cento e oitenta. Mas o caso do Raul, especialíssimo, me força a abrir uma exceção. Vou esfaqueá-lo em cinquenta mil réis…

 

— Por que cinquenta?

 

— Porque ontem, inopinadamente, a minha álgebra psicológica demonstrou que há possibilidade de um segundo máximo no Raul, não de cinco, como está inscrito no seu inconsciente, mas de dez vezes isso, como consegui ler na aura desse inconsciente!…

 

— No inconsciente do inconsciente!…

 

— Sim, na verdadeira estratosfera do inconsciente raulino. Mas só serei bem sucedido se não errar na escolha do momento mais favorável, e se conseguir deixá-lo em ponto de bala por meio da aplicação de diversas cocaínas psicológicas. Só quando Raul se sentir levitado, expandido, como a alma bem rarefeita, é que sangrará no máximo astral que eu descobri!…

 

Mais um mês gastou o Indalício em estudos do Raul. Certificou-se do dia em que lhe pagavam no Tesouro, do quanto lhe levavam as contas e prestações, e quanto costumava sobrar-lhe depois de satisfeitos todos os compromissos. E não há por aqui toda a série de preparos psicológicos, físicos, metapsíquicos, mecânicos e até gastronômicos a que o gênio do Indalício submeteu o Raul; encheria páginas e páginas.

 

Resumirei dizendo que o ataque em voo pique só seria realizado depois do completo “condicionamento” da vítima por meio da sábia aplicação de todos os “matadores”. O nosso pobre Indalício faleceu sem saber que estava lançando os fundamentos do moderno totalitarismo…

 

No dia 4 do mês seguinte avisou-se da iminência do golpe.

 

— Vai ser amanhã, às oito da noite, no Bar Baron, quando o Raul cair na leve crise sentimental que lhe provocam certas passagens do Petit Chose de Daudet, recordadas entre a Segunda e a terceira dose do meu vinho…

 

— Que vinho?

 

— Ah, um que descobri em estudos in anima nobile — nele mesmo: a única vinhaça que de mistura com o Daudet do Petit Chose deixa o Raul, durante meio minuto, sangrável no máximo astral! Vocês vão abrir a boca. Estou positivamente criando a minha obra prima! Aparece amanhã no Guarany às nove horas para ouvires o resto…

 

No dia seguinte fui ao Guarany às oito e já lá encontrei a roda. Pu-los ao par dos desenvolvimentos da véspera e ficamos a comentar os prós e contras do que àquela hora estaria se passando no Bar Baron. Quase todos jogavam no Raul.

 

Às nove entrou o Indalício, suavemente. Sentou-se.

 

— Então? Perguntei.

 

Sua resposta foi tirar do bolso e sacudir no ar uma nota nova de cinquenta mil réis.

 

— Fiz um trabalho preparatório perfeito demais para que me falhasse o golpe, disse ele. No momento decisivo bastou-me um quit, quit dos mais simples. Os cinquenta fluíram do bolso do Raul para o meu — contentes, felizes, alegrinhos…

 

O assombro da roda chegou ao auge. Era realmente escachante aquele prodígio!

 

— Maravilhoso, Indalício! Mas põe isso em troca miúdo, pedimos. E ele contou:

 

— Nada mais simples. Depois do preparo do terreno, a técnica foi, entre a Segunda e a terceira dose da vinhaça e o Daudet, ferir fundo nos cinquenta — e o que eu esperava ocorreu. Ultra-surpreso de haver no globo quem o avaliasse em cinquenta mil réis, a ele, que na intimidade trevosa do subconsciente só admitia o miserável máximo de cinco, Raul deslumbrou-se…

 

Raul perdeu o controle de si próprio … sentiu-se levitado, rarefeito por dentro, estratosférico — e com os olhos emparvecidos meteu a mão no bolso, sacou tudo quanto havia lá, exatamente esta nota, e entregou-ma, sonambúlico, num incoercível impulso de gratidão! Instantes depois voltava a si. Corou como a romã, formalizou-se e só não me agrediu porque a minha sábia fuga estratégica não lhe deu tempo…

 

Maravilhamo-nos sinceramente. Aquela Yale psicológica é  talvez a única, dos milhões de chaves existentes no universo, capaz de abrir a carteira do Raul para um faquista; e o tê-la descoberto e manejado com tanta segurança era coisa que indiscutivelmente vinha fechar com chave de ouro a gloriosa carreira do Indalício — como de fato fechou: meses depois a gripe espanhola de 1918 nos levava esse precioso e amável amigo.

 

— Parabéns, Indalício! Exclamei. Só a má fé te negará o Dom da genialidade. A Partida Imortal do grande Philidor já não está sem pendant no mundo. Criaste a Facada Imortal

 

Como ninguém da roda jogasse xadrez, todos me olharam perguntativamente. Mas não houve tempo para explicações. Vinha entrando o Raul. Sentou-se, calado, contido. Pediu uma caninha (sinal de rarefação no bolso). Ninguém disse nada... Esperamos que ele se abrisse. Indalício estava profundamente absorvido nos “Pingos e Respingos” dum “Correio da Manhã” sacado do bolso.

 

Súbito, veio-me uma infinita vontade de rir, e foi rindo que rompi o silêncio:

 

— Então, seu Raul, caiu, hein?…

 

Realmente desapontado, o querido Raul não achou a palavra chistosa, o “espírito” com que em qualquer outra circunstância comentaria um seu desaso qualquer. Limitou-se a sorrir amareladamente e a emitir um “Pois é!…” — o mais desenxabido “Pois é” ainda pronunciado no mundo. Tão desenxabido, que o Indalício engasgou-se de rir… com o “Pingo” que lia.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 30 de setembro de 2022

AS DUAS PANELAS (FÁBULA INFANTIL DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

AS DUAS PANELAS

Monteiro Lobato

 

 

Duas panelas, uma de ferro, orgulhosa, outra de barro, humilde, moravam na mesma cozinha; e como estivessem vazias, a bocejarem de vadiação, disse a graúda:

– Bela tarde para um giro pela horta! A cozinheira não está e até que venha, teremos tempo de dizer adeus à alface e fazer uma visita aos repolhos. Queres ir?

– Com todo o prazer! – respondeu a panela de barro lisonjeadíssima de honrosa companhia.

– Dá-me o braço então, e vamo-nos depressa antes que “ela” venha.

Assim fizeram, e lá se foram as duas desajeitadonas gingando os corpos ventrudos, cheias de amabilidade para com as hortaliças.

– Bom dia, dona Couve! Comendador Repolho, como passas! Coentrinho, adeus!

No melhor da festa, porém, a panela de ferro falseou o pé e esbarrou na amiga.

– Ai que me trincas! exclamou esta.

– Não foi nada, não foi nada…

Uns passos a mais e novo choque.

– Ai que desbeiças, amiga!

– Em casa arruma-se, não é nada…

Minutos depois terceiro esbarrão, esse formidável.

– Ai! Ai! Ai! Ai! Fizeste-me em pedaços, ingrata!

E a mísera panela de barro caiu por terra a gemer, reduzida a cacos.

 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 23 de setembro de 2022

AS DUAS CACHORRAS (FÁBULA DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

AS DUAS CACHORRAS

Monteiro Lobato

 

 

 

Moravam no mesmo bairro. Uma era boa e caridosa; outra, má e ingrata.

A boa, como fosse diligente, tinha a casa bem arranjadinha; a má, como fosse vagabunda, vivia ao léu, sem eira nem beira.

Certa vez… a má, em véspera de dar cria, foi pedir agasalho à boa:

– Fico aqui num cantinho até que meus filhotes possam sair comigo. É por eles que peço…

A boa cedeu-lhe a casa inteira, generosamente.

Nasceu a ninhada, e os cachorrinhos já estavam de olhos abertos quando a dona da casa voltou.

– Podes entregar-me a casa agora?

A má pôs-se a choramingar.

– Ainda não, generosa amiga. Como posso viver na rua com filhinhos tão novos? Conceda-me um novo prazo.

A boa concedeu mais quinze dias, ao termo dos quais voltou.

– Vai sair agora?

– Paciência, minha velha, preciso de mais um mês.

A boa concedeu mais quinze dias; e ao terminar o último prazo voltou.

Mas desta vez a intrusa, rodeada dos filhos já crescidos, robustos e de dentes arreganhados, recebeu-a com insolência:

– Quer a casa? Pois venha tomá-la, se é capaz…

Moral da Estória:
Para os maus, pau!


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 15 de setembro de 2022

A HISTÓRIA DOS DOIS LADRÕES (CONTO DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO) VÍDEO

A HISTÓRIA DOS DOID LADRÕES

Monteiro Lobato

 


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 09 de setembro de 2022

OD DOIS BURRINHOS (CONTO INFANTIL DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

OS DOIS BURRINHOS

Monteiro Lobato

 

 

 

Muito lampeiros, dois burrinhos de tropa seguiam trotando pela estrada além. O da frente conduzia bruacas de ouro em pó; e o de trás, simples sacos de farelo. Embora burros da mesma espécie, não queria o primeiro, que o segundo lhe caminhasse ao seu lado.

- Alto lá! - dizia ele - não se emparelhe comigo, que quem carrega ouro não é do mesmo naipe de quem conduz feno. Guarde cinco passos de distância e caminhe respeitoso como se fosse um pajem.
 
O burrinho do farelo submetia-se e lá trotava, de orelhas murchas, roendo-se de inveja do fidalgo...
 
De repente...
 
Osh! Oah! São ladrões da montanha que surgem de trás de um tronco e agarram os burrinhos pelos cabrestos.
 
Examinam primeiramente a carga do burro humilde e, - Farelo! - exclamaram desapontados - o demo o leve! Vejamos se há coisa de mais valor no da frente.
 
- Ouro, ouro! - gritam, arregalando os olhos. E atiram-se ao saque.
 
Mas o burrinho resiste. Desfere coices e dispara pelo campo afora. Os ladrões correm atrás, cercam-no e lhe dão em cima, de pau e pedra. Afinal saqueiam-no.
  

Terminada a festa, o burrinho do ouro, mais morto que vivo e tão surrado que nem suster-se em pé podia, reclama o auxílio do outro, que muito fresco da vida tosava o capim sossegadamente.

 - Socorro, amigo! Venha acudir-me que estou descadeirado...
 
O burrinho do farelo respondeu zombeteiramente:
 
- Mas poderei por acaso aproximar-me de Vossa Excelência?
 
- Como não? Minha fidalguia estava dentro da bruaca e lá se foi nas mãos daqueles patifes. Sem as bruacas de ouro no lombo, sou uma pobre besta igual a você...
 
- Bem sei. Você é como certos grandes homens do mundo, que só valem pelo cargo que ocupam. No fundo, simples bestas de carga, eu, tu, eles...
 

E ajudou-o a regressar para casa, decorando, para uso próprio, a lição que ardia no lombo do vaidoso.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 02 de setembro de 2022

O COMPRADOR DE FAZENDA (CONTO DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO) VÍDEO

O COMPRADOR DE FAZENDA

Monteiro Lobato

 

 

 


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 29 de agosto de 2022

O COLOCADOR DE PRONOMES (CONTO DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

O COLOCADOR DE PRONOMES

Monteiro Lobato
(Grafis original)

 

Aldrovando Cantagalo veio ao mundo em virtude dum erro de gramática. Durante sessenta anos de vida terrena pererecou como um peru em cima da gramática. E morreu, afinal, vítima dum novo erro de gramática.
Mártir da gramática, fique este documento da sua vida como pedra angular para uma futura e bem merecida canonização.
Havia em Itaoca um pobre moço que definhava de tédio no fundo de um cartório. Escrevente. Vinte e três anos. Magro. Ar um tanto palerma. Ledor de versos lacrimogêneos e pai duns acrósticos dado à luz no Itaoquense, com bastante sucesso.
Vivia em paz com as suas certidões quando o frechou venenosa seta de Cupido. Objeto amado: a filha mais moça do coronel Triburtino, o qual tinha duas, essa Laurinha, do escrevente, então nos dezessete, e a do Carmo, encalhe da família, vesga, madurota, histérica, manca da perna esquerda e um tanto aluada.
Triburtino não era homem de brincadeiras. Esgoelara um vereador oposicionista em plena sessão da Câmara e desde aí, se transformou no tutu da terra. Toda a gente lhe tinha um vago medo; mas o amor, que é mais forte que a morte, não receia sobrecenhos enfarruscados, nem tufos de cabelos no nariz.
Ousou o escrevente namorar-lhe a filha, apesar da distância hierárquica que os separava. Namoro à moda velha, já se vê, que nesse tempo não existia a gostosura dos cinemas. Encontros na igreja, à missa, troca de olhares, diálogos de flores — o que havia de inocente e puro. Depois, roupa nova, ponta de lenço de seda a entremostrar-se no bolsinho de cima e medição de passos na Rua DElba, nos dias de folga. Depois, a serenata fatal à esquina, com o
Acorda, donzela...
sapecado a medo num velho pinho de empréstimo. Depois, bilhetinho perfumado.
Aqui se estrepou...
Escrevera nesse bilhetinho, entretanto, apenas quatro palavras, afora pontos exclamativos e reticências:
Anjo adorado!
Amo-lhe!…
Para abrir o jogo, bastava esse movimento de peão.
Ora, aconteceu que o pai do anjo apanhou o bilhetinho celestial e, depois de três dias de sobrecenho carregado, mandou chamá-lo à sua presença, com disfarce de pretexto —   para umas certidõezinhas, explicou.
Apesar disso o moço veio um tanto ressabiado, com a pulga atrás da orelha. Não lhe erravam os pressentimentos. Mal o pilhou portas aquém, o coronel trancou o escritório, fechou a carranca e disse:
— A família Triburtino de Mendonça é a mais honrada desta terra, e eu, seu chefe natural, não permitirei nunca-nunca, ouviu? que contra ela se cometa o menor deslize. Parou. Abriu uma gaveta. Tirou de dentro o bilhetinho cor de rosa, desdobrou-o.
— É sua esta peça de flagrante delito?
O escrevente, a tremer, balbuciou medrosa confirmação
— Muito bem! continuou o coronel em tom mais sereno. Ama, então, minha filha e tem a audácia de o declarar... Pois agora...
O escrevente, por instinto, ergueu o braço para defender a cabeça e relanceou os olhos para a rua, sondando uma retirada estratégica.
— …é casar! concluiu de improviso o vingativo pai.
O escrevente ressuscitou. Abriu os olhos e a boca, num pasmo. Depois, tornando a si, comoveu-se e, com lágrimas nos olhos, disse, gaguejante:
— Beijo-lhe as mãos, coronel! Nunca imaginei tanta generosidade em peito humano! Agora vejo com que injustiça o julgam aí fora!...
Velhacamente o velho cortou-lhe o fio das expansões.
— Nada de frases moço, vamos ao que serve: declaro-o solenemente noivo de minha filha!
E voltando-se para dentro, gritou:
— Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo!
O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se de coragem, corrigiu o erro.
— Laurinha quer o coronel dizer...
— Sei onde trago o nariz, moço. Vassuncê mandou este bilhete à Laurinha dizendo que ama-lhe. Se amasse a ela deveria dizer amo-te. Dizendo amo-lhe declara que ama a uma terceira pessoa, a qual não pode ser senão a Maria do Carmo. Salvo se declara amor à minha mulher!...
— Oh, coronel...
— ...ou à preta Luzia, cozinheira. Escolha!
O escrevente, vencido, derrubou a cabeça, com uma lágrima a escorrer rumo à asa do nariz. Silenciaram ambos, em pausa de tragédia. Por fim o coronel, batendo-lhe no ombro paternalmente, repetiu a boa lição da sua gramática matrimonial.
— Os pronomes, como sabe, são três: da primeira pessoa — quem fala, e neste caso vassuncê; da segunda pessoa-a quem se fala, e neste caso Laurinha; da terceira pessoa — de quem se fala, e neste caso Maria do Carmo, minha mulher ou a preta. Escolha!
Não havia fuga possível.
O escrevente ergueu os olhos e viu do Carmo que entrava, muito lampeira da vida, torcendo acanhada a ponta do avental novo ao alcance do maquiavélico pai. Submeteu-se e abraçou a urucaca, enquanto o velho, estendendo as mãos, dizia teatralmente:
— Deus vos abençoe, meus filhos!
No mês seguinte, solenemente, o moço casava-se com o encalhe, e onze meses depois vagia nas mãos da parteira o futuro professor Aldrovando, o conspícuo sabedor da língua que durante cinqüenta anos a fio, coçaria na gramática a sua incurável sarna filológica.
Até aos dez anos não revelou Aldrovando pinta nenhuma. Menino vulgar, tossiu a coqueluche em tempo próprio, teve o sarampo da praxe, mais a caxumba e a catapora. Mais tarde, no colégio, enquanto os outros enchiam as horas de estudo com invenções de matar o tempo —  empapelamento de moscas e moidelas das respectivas cabecinhas entre duas folhas de papel, coisa de ver o desenho que sai — Aldrovando apalpava com erótica emoção a gramática de Augusto Freire da Silva. Era o latejar do furúnculo filológico, que o determinaria na vida, para matá-lo, afinal...
Deixemo-lo, porém, evoluir e tomemo-lo quando nos serve, aos 40 anos, já a descer o morro, arcado ao peso da ciência e combalido de rins. Lá está ele em seu gabinete de trabalho, fossando, à luz dum lampião, os pronomes de Filinto Elísio. Corcovado, magro, seco, óculos de latão no nariz, careca, celibatário impenitente, dez horas de aulas por dia, duzentos mil réis por mês e o rim, volta e meia, a fazer-se lembrado.
Já leu tudo. Sua vida foi sempre o mesmo poento idílio com as veneráveis costaneiras onde cabeceiam os clássicos lusitanos. Versou-os um por um com mão diurna e noturna. Sabe-os de cor, conhece-os pela morrinha, distingue pelo faro uma seca de Lucena duma esfalfa de Rodrigues Lobo. Digeriu todas as patranhas de Fernão Mendes Pinto. Obstruiu-se da broa encruada de Fr. Pantaleno do Aveiro. Na idade em que os rapazes correm atrás das raparigas, Aldrovando escabichava belchiores na pista dos mais esquecidos mestres da boa arte de maçar. Nunca dormiu entre braços de mulher. A mulher e o amor-mundo, diabo, carne, eram para ele os alfarrábios freiráticos do quinhentismo, em cuja soporosa verborréia espapaçava os instintos lerdos, como porco em lameiro. Em certa época viveu três anos, acampado em Vieira. Depois vagamundeou, como um Robínson, pelas florestas de Bernardes.
Aldrovando nada sabia do mundo atual. Desprezava a natureza, negava o presente. Passarinho, conhecia um só: o rouxinol de Bernardim Ribeiro. E se acaso o sabiá de Gonçalves Dias vinha bicar pomos de Hespérides na laranjeira do seu quintal, Aldrovando esfogueteava-se com apóstrofes: — Salta fora, regionalismo de má sonância!
A língua lusa era-lhe um tabu sagrado que atingira à perfeição com Fr. Luís de Sousa, e daí para cá, salvo lucilações esporádicas, vinha chafurdando no ingranzéu barbaresco.
— A inglesia de hoje, declamava ele, está para a Língua, como o cadáver em putrefação está para o corpo vivo.
E suspirava, condoído dos nossos destinos:
— Povo sem língua!... Não me sorri o futuro de Vera-Cruz…
E não lhe objetassem que a língua é organismo vivo e que a temos a evoluir na boca do povo.
— Língua? Chama você língua à garabulha bordalenga que estampam periódicos? Cá está um desses galicígrafos. Deletreemo-lo ao acaso.
— Teve lugar ontem!... É língua esta espurcícia negral? Ó meu seráfico Frei Luís, como te conspurcam o divino idioma, estes sarrafaçais da moxinifada!
— ...no Trianon... Por que, Trianon? Por que este perene barbarizar com alienígenos arrevezos! Tão bem ficava-a Benfica, ou, se querem neologismo de bom cunho-o Logratório...Tarelos é que são, tarelos!
E suspirava, deveras compungido.
— Inútil prosseguir. A folha inteira cacografa-se por este teor. Ai! Onde param as boas letras de antanho? Fez-se peru o níveo cisne. Ninguém atende a lei suma: — Horácio! Impera o desprimor, e o mau gosto vige como suprema regra. A gálica intrujice é maré sem vazante. Quando penetro num livreiro o coração se me confrange ante o pélago de óperas barbarescas que nos vertem cá mercadores de má mote. E é de notar, outrossim, que a elas se vão as preferências do vulgacho. Muito não faz que vi com estes olhos um gentil mancebo preferir uma sordícia de Oitavo Mirbelo-Canhenho duma dama de servir, creio, à... adivinhe ao quê, amigo? À Carta de Guia do meu divino Francisco Manoel!...
— Mas a evolução...
— Basta. Conheço às sobejas a escolástica da época, a evolução darwínica, os vocábulos macacos-pitecofonemas que evolveram, perderam o pêlo e se vestem hoje à moda da França, com vidro no olho. Por amor a Frei Luís, que ali daquela costaneira escandalizado nos ouve, não remanche o amigo na esquipática sesquipedalice.
Um biógrafo ao molde clássico separaria a vida de Aldrovando em duas fases distintas: a estática, em que apenas acumulou ciência, e a dinâmica, em que, transferido em apóstolo, veio a campo com todas as armas para contrabater o monstro da corrupção.
Abriu campanha com um memorável ofício ao congresso, pedindo leis repressivas contra os ácaros do idioma.
— Leis, senhores, leis de Drácão, que diques sejam, e fossados, e alcáçares de granito prepostos à defensão do idioma. Mister sendo, a forca se restaure, que mais o baraço merece quem conspurca o sacro patrimônio da sã vernaculidade, que quem ao semelhante a vida tira. Vede, senhores, os pronomes, em que lazeira jazem...
Os pronomes, ai! eram a tortura permanente do professor Aldrovando. Doía-lhe como punhalada, vê-los por aí pré ou pospostos contra regras elementares do dizer castiço. E sua representação, alargou-se nesse pormenor, flagelante, concitando os pais da pátria à criação dum Santo Ofício gramatical.
Os ignaros congressistas, porém, riram-se da memória, e grandemente piaram sobre Aldrovando as mais cruéis chalaças.
— Quer que instituamos patíbulo para os maus colocadores de pronomes! Isto seria autocondenar-nos à morte! Tinha graça!
Também lhe foi à pele a imprensa, com pilhérias soezes. E depois, o público. Ninguém alcançara a nobreza do seu gesto e Aldrovando, com a mortificação na alma, teve que mudar de rumo. Planeou recorrer ao púlpito dos jornais. Para isso mister foi, antes de nada, vencer o seu velho engulho pelos galicífragos de papel e graxa. Transigiu e, breve, desses pulmões da pública opinião, apostrofou o país com o verbo tonante de Ezequiel. Encheu colunas e colunas de objurgatórias ultraviolentas, escritas no mais estreme vernáculo.
Mas não foi entendido. Raro leitor metia os dentes naqueles intermináveis períodos engrenados à moda de Lucena; e, ao cabo da aspérrima campanha, viu que pregara em pleno deserto. Leram-no apenas a meia dúzia de Aldrovandos que vegetam sempre em toda a parte, como notas rezingüentas da sinfonia universal.
A massa dos leitores, entretanto, essa permaneceu alheia aos flamívomos pelouros da sua colubrina sem raia. E por fim os periódicos fecharam-lhe a porta no nariz, alegando falta de espaço e coisas.
— Espaço não há para as sãs idéias, objurgou o enxotado, mas sobeja, e pressuroso, para quanto recomende à podriqueira!...Gomorra! Sodoma! Fogos do céu virão um dia limpar-vos a gafa!... exclamou, profético, sacudindo à soleira da redação o pó das cambaias botinas de elástico.
Tentou em seguida ação mais direta, abrindo consultório gramatical.
— Têm-nos os físicos (queria dizer médicos), os doutores em leis, os charlatães de toda a espécie. Abra-se um para a medicação da grande enferma, a língua. Gratuito, já se vê, que me não move amor de bens terrenos.
Falhou a nova tentativa. Apenas as moscas vagabundas vinham esvoejar em torno da ciência que se oferecia na salinha modesta do apóstolo. Criatura humana, uma só, sequer, ali não veio remendar-se filologicamente.
Ele, todavia, não esmoreceu.
— Experimentemos processo outro, mais suasório.
E anunciou a montagem da Agência de Colocação de Pronomes e Reparos Estilísticos.
Quem tivesse um autógrafo a rever, um memorial a expungir de cincas, um calhamaço a compor-se com os afeites do lídimo vernáculo, fosse lá, que, sem remuneração nenhuma, nele se faria obra limpa e escorreita.
Era boa a idéia, e logo vieram os primeiros originais necessitados de ortopedia, sonetos a consertar pés de versos, ofícios ao governo pedindo concessões, cartas de amor.
Tais, porém, eram as reformas que nos doentes operava Aldrovando, que os autores não mais reconheciam suas próprias obras. Um dos clientes chegou a reclamar:
— Professor, V. Sa. enganou-se. Pedi limpa de enxada nos pronomes, mas não que me traduzisse a memória em latim...
Aldrovando ergueu os óculos para a testa:
— E traduzi em latim o tal ingranzéu?
— Em latim ou grego, pois que o não consigo entender…
Aldrovando impertigou-se.
— Pois, amigo, errou de porta. Seu caso é ali com o alveitar da esquina.
Pouco durou a Agência, morta à míngua de clientes. Teimava o povo em permanecer empapado no chafurdeiro da corrupção...
O rosário de insucessos, entretanto, em vez de desalentar, exasperou o apóstolo.
— Hei de influir na minha época. Aos tarelos hei de vencer. Fogem-me à férula, os maraus de pau e corda? Ir-lhes-ei empós, filá-los-ei pela gorja... Salta rumor!
E foi-lhes empós. Andou pelas ruas examinando dísticos e tabuletas com vícios de língua. Descoberta a asnidade, ia ter com o proprietário, contra ele desfechando os melhores argumentos catequistas.
Foi assim com o ferreiro da esquina, em cujo portão de tenda uma tabuleta — Ferra-se cavalos — escoicinhava a santa gramática.
— Amigo, disse-lhe pachorrentamente Aldrovando, natural a mim que parece que erres, alarve que és. Se erram paredros, nesta época de ouro da corrupção...
O ferreiro pôs de lado o malho e entreabriu a boca.
— Mas da boa sombra do teu focinho espero, continuou o apóstolo, que ouvidos me darás. Naquela tábua um dislate existe que seriamente à língua lusa ofende. Venho pedir-lhe, em nome do asseio gramatical, que o expunjas.
—  ? ? ?
— Que reformes a tabuleta, digo.
— Reformar a tabuleta? Uma tabuleta nova, com a licença paga? Está acaso rachada?
— Fisicamente, não. A racha é na sintaxe. Fogem, ali, os dizeres à sã gramaticalidade.
O honesto ferreiro não entendia nada de nada.
— Macacos me lambam se estou entendendo o que V. Sa. diz...
— Digo que está a forma verbal com eiva grave. O ferra-se tem que cair no plural, pois que a forma é passiva e o sujeito é cavalos.
O ferreiro abriu o resto da boca.
— O sujeito sendo cavalos, continuou o mestre, a forma verbal é ferram-se — ferram-se cavalos!
— Ah! respondeu o ferreiro, começo agora a compreender. Diz V. Sa. que...
— ...que ferra-se cavalos é um solecismo horrendo e o certo é ferram-se cavalos.
— V. Sa. me perdoe, mas o sujeito que ferra os cavalos sou eu, e eu não sou plural. Aquele se da tabuleta refere — se cá a este seu criado. É como quem diz: Serafim ferra cavalos — Ferra Serafim cavalos. Para economizar tinta e tábua abreviaram o meu nome, e ficou como está: Ferra Se(rafim) cavalos. Isto me explicou o pintor, e entendi-o muito bem.
Aldrovando ergueu os olhos para o céu e suspirou.
— Ferras cavalos e bem merecias que te fizessem eles o mesmo!... Mas não discutamos. Ofereço-te dez mil réis pela admissão dum m ali...
— Se V. Sa. paga...
Bem empregado dinheiro! A tabuleta surgiu no dia seguinte dessolecismada, perfeitamente de acordo com as boas regras da gramática. Era a primeira vitória obtida e todas as tardes Aldrovando passava por lá para gozar-se dela.
Por mal, porém, não durou muito o regalo. Coincidindo a entronização do m com maus negócios na oficina, o supersticioso ferreiro atribuiu a macaca à alteração dos dizeres, e lá raspou o m do professor.
A cara que Aldrovando fez quando, no passeio desse dia, deu com a sua vitória borrada! Entrou furioso pela oficina a dentro, e mascava uma apóstrofe de fulminar, quando o ferreiro, às brutas, lhe barrou o passo:
— Chega de caraminholas, ó barata tonta! Quem manda aqui, no serviço e na língua, sou eu. E é ir andando, antes que eu o ferre com um bom par de ferros ingleses!
O mártir da língua meteu a gramática entre as pernas e moscou-se.
— Sancta simplicitas! ouviram-no murmurar na rua, de rumo à casa, em busca das consolações seráficas de Fr. Heitor Pinto. Chegado que foi ao gabinete de trabalho, caiu de borco sobre as costaneiras venerandas e não mais conteve as lágrimas, chorou...
O mundo estava perdido e os homens, sobre maus, eram impenitentes. Não havia desviá-los do ruim caminho, e ele, já velho, com o rim a rezingar, não se sentia com forças para a continuação da guerra.
— Não hei de acabar, porém, antes de dar a prelo um grande livro, onde compendie a muita ciência que hei acumulado.
E Aldrovando empreendeu a realização de um vastíssimo programa de estudos filológicos. Encabeçaria a série um tratado sobre a colocação dos pronomes, ponto onde mais claudicava a gente de Gomorra.
Fê-lo, e foi feliz nesse período de vida em que, alheio ao mundo, todo se entregou, dia e noite, à obra magnífica. Saiu trabuco volumoso, que daria três tomos de 500 páginas cada um, corpo miúdo. Que proventos não adviriam dali para a lusitanidade! Todos os casos resolvidos para sempre, todos os homens de boa vontade salvos da gafaria! O ponto fraco do brasileiro falar resolvido de vez! Maravilhosa coisa...
Pronto o primeiro tomo —  Do pronome Se — anunciou a obra pelos jornais, ficando à espera da chusma de editores que viriam disputá-la à sua porta. E por uns dias o apóstolo sonhou as delícias da estrondosa vitória literária, acrescida de gordos proventos pecuniários.
Calculava em oitenta contos o valor dos direitos autorais, que, generoso que era, cederia por cinqüenta. E cinqüenta contos para um velho celibatário como ele, sem família nem vícios, tinha a significação duma grande fortuna. Empatados em empréstimos hipotecários, sempre eram seus quinhentos mil réis por mês de renda, a pingarem pelo resto da vida, na gavetinha onde, até então, nunca entrara pelega maior de duzentos. Servia, servia!... E Aldrovando, contente, esfregava as mãos, de ouvido alerta, preparando frases para receber o editor que vinha vindo...
Que vinha vindo mas não veio, ai!... As semanas se passaram sem que nenhum representante dessa miserável fauna de judeus surgisse a chatinar o maravilhoso livro.
— Não me vêm a mim? disse ele. Salta rumor! Pois me vou a eles!
E saiu em via sacra, a correr todos os editores da cidade. Má gente! Nenhum lhe quis o livro sob condições nenhumas. Torciam o nariz, dizendo: Não é vendável; ou: Por que não faz antes uma cartilha infantil aprovada pelo governo?
Aldrovando, com a morte nalma e o rim dia a dia mais derrancado, retesou-se nas últimas resistências.
— Fá-la-ei imprimir à minha custa! Ah, amigos! Aceito o cartel. Sei pelejar com todas as armas e irei até ao fim. Bofe!...
Para lutar era mister dinheiro e bem pouco do vilíssimo metal possuía na arca o alquebrado Aldrovando. Não importa! Faria dinheiro, venderia móveis, imitaria Bernardo de Pallissy, e não morreria sem ter o gosto de acaçapar Gomorra sob o peso de sua ciência impressa. Editaria, ele mesmo, um por um, todos os volumes da obra salvadora.
Passou esse período de vida alternando revisão de provas com padecimentos renais. Venceu. O livro compôs-se, magnificamente revisto, primoroso na linguagem como não existia igual.
Dedicou-o a Fr. Luís de Sousa:
À memória daquele que me sabe as dores — O autor.
Mas não quis o destino que o já trêmulo Aldrovando colhesse os frutos de sua obra. Filho dum pronome impróprio, a má colocação de outro pronome lhe cortaria o fio da vida.
Muito corretamente havia escrito na dedicatória :...daquele que me sabe... e nem poderia escrever de outro modo um tão conspícuo colocador de pronomes. Maus fados intervieram, porém — até os fados conspiram contra a língua! —  e, por artimanha do diabo que os rege, empastelou-se na oficina esta frase. Vai o tipógrafo e recompõe-na a seu modo... daquele que sabe-me as dores... E assim saiu nos milheiros de cópias da avultada edição.
Mas não antecipemos.
Pronta a obra e paga, ia Aldrovando recebê-la, enfim. Que glória! Construíra, finalmente, o pedestal da sua própria imortalidade, ao lado direito dos sumos cultores da língua.
A grande idéia do livro, exposta no capítulo IV — Do método automático de bem colocar os pronomes — engenhosa aplicação duma regra mirífica, por meio da qual até os burros de carroça poderiam zurrar com gramática operária como o 914 da sintaxe, limpando-a da avariose produzida pelo espiroqueta dos pronomococus.
A excelência dessa regra estava em possuir equivalentes químicos de uso na farmacopéia alopata, de modo que a um bom laboratório fácil lhe seria reduzi-la a ampolas para injeções hipodérmicas, ou a pílulas, pós ou poções para uso interno.
E quem se injetasse ou engolisse uma pílula do futuro PRONOMINOL CANTAGALO curar-se-ia para sempre do vício, colocando os pronomes instintivamente bem, tanto no falar como no escrever. Para algum caso de pronomorréia aguda, evidentemente incurável, haveria o recurso do PRONOMINOL N.° 2, onde entrava a estriquinina em dose suficiente para libertar o mundo do infame sujeito.
Que glória! Aldrovando prelibava essas delícias todas quando lhe entrou pela escada a dentro a primeira carroçada de livros. Dois brutamontes de mangas arregaçadas empilharam-nos pelos cantos, em rumas que lá se iam; e concluso o serviço um deles pediu:
— Me dá um matabicho, patrão!...
Aldrovando severizou o semblante ao ouvir aquele Me tão fora dos mancais, e tomando um exemplar da obra ofertou-o ao doente:
— Toma lá. O mau bicho que tens no sangue morrerá asinha às mãos deste vermífugo. Recomendo-te a leitura do capítulo sexto.
O carroceiro não se fez rogar; saiu com o livro, dizendo ao companheiro:
— Isto no sebo sempre renderá cinco tostões. Já serve…
Mal se sumiram, Aldrovando abancou-se à velha mesinha de trabalho e deu começo à tarefa de lançar dedicatórias num certo número de exemplares destinados à crítica. Abriu o primeiro, e estava já a escrever o nome de Rui Barbosa, quando seus olhos deram com a horrenda cinca: daquele QUE SABE-ME as dores.
— Deus do céu! Será possível?
Era possível. Era fato. Naquele, como em todos os exemplares da edição, lá estava, no hediondo relevo da dedicatória a Fr. Luís de Sousa, o horripilantíssimo — QUE SABE-ME...
Aldrovando não murmurou palavra. De olhos muito abertos, no rosto uma estranha marca de dor — dor gramatical inda não descrita nos livros de patologia - permaneceu imóvel uns momentos.
Depois, empalideceu. Levou as mãos ao abdômen e estorceu-se nas garras de repentina e violentíssima ânsia.
Ergueu os olhos para Frei Luís de Sousa e murmurou.
— Luís! Luís! Lamma Sabachtani!
E morreu.
De quê, não sabemos — nem importa ao caso. O que importa é proclamarmos aos quatro ventos que com Aldrovando morreu o primeiro santo da gramática, o mártir número um da Colocação dos Pronomes.
Paz à sua alma.

 


Literatura - Contos e Crônicas domingo, 28 de agosto de 2022

O BURRO JUIZ (CONTO DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

O BURRO JUIZ

Monteiro Lobato

 

 

 

Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse: 

— Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista. Topam? 

— Topamos! piaram as aves. Mas quem servirá de juiz? 

Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro.

— Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidê-mo-lo. Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda. 

— Vamos lá, comecem! ordenou ele. 

O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso. 

— Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente. 

E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos. Terminada a justa, o meritíssimo juiz deu a sentença: 

— Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá.

 

Moral da História:

 
Quem burro nasce, togado ou não, burro morre.

Literatura - Contos e Crônicas sábado, 27 de agosto de 2022

OS ANIMAIS E A PESTE (CONTO DO PAULISTA MONTEIRO LOBATO)

OS ANIMAIS E A PESTE

Monteiro Lobato

 

 

 

Em certo ano terrível de peste entre os animais, o leão, mais apreensivo, consultou um macaco de barbas brancas.

– Esta peste é um castigo do céu – respondeu o macaco – e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós.

– Qual? – perguntou o leão.

– O mais carregado de crimes.

O leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois duma pausa, disse aos súditos reunidos em redor:

– Amigos! É fora de dúvida que quem deve sacrificar-se sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço-me, pois, para o sacrifício necessário ao bem comum.

A raposa adiantou-se e disse:

– Acho conveniente ouvir a confissão das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime. São coisas que até que honram o nosso virtuosíssimo rei Leão.

Grandes aplausos abafaram as últimas palavras da bajuladora e o leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício.

Apresentou-se em seguida o tigre e repete-se a cena. Acusa-se de mil crimes, mas a raposa mostra que também ele era um anjo de inocência.

E o mesmo aconteceu com todas as outras feras.

Nisto chega a vez do burro. Adianta-se o pobre animal e diz:

– A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor vigário.

Os animais entreolharam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a palavra:

– Eis amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses não pode ser outra porque não pode haver crime maior do que furtar a sacratíssima couve do senhor vigário.

Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimemente eleito para o sacrifício.

Moral da Estória:

Aos poderosos, tudo se desculpa…

Aos miseráveis, nada se perdoa.


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 11 de agosto de 2022

O BOI VELHO (CRÔNICA DO CAPIXABA RUBEM BRAGA)

O BOI VELHO

Rubem Braga

 

Uma das coisas mais ingênuas e comoventes da vida do Barão do Rio Branco era o seu sonho de fazendeiro. Homem nascido e vivido em cidade, traça de bibliotecas, urbano até a medula, cada vez que uma coisa o aborrecia em meio às batalhas diplomáticas, seu desabafo era o mesmo, em carta a algum amigo: “Penso em largar tudo, ir para São Paulo, comprar uma fazenda de café, me meter lá para o resto da vida…”

Nunca foi, naturalmente; mas viveu muito à custa desse sonho infantil, que era um consolo permanente.

Por que não confessar que agora mesmo, neste último carnaval, visitando a fazenda de um amigo, eu, pela décima vez, também não me deixei sonhar o mesmo sonho? Com fazenda não, isso não sonhei; os pobres têm o sonho curto; sonhei com o mesmo que sonham todos os oficiais administrativos, todos os pilotos de aviação comercial, todos os desenhistas de publicidade, todos os bichos urbanos mais ou menos pobres, mais ou menos remediados: pegar um dinheirinho, comprar um sítio jeitoso, ir melhorando a casa e a lavoura, vai ver que no primeiro ano dava para se pagar, depois quem sabe daria uma renda modesta, mas suficiente para uma pessoa viver sossegada; com o tempo comprar, talvez mais uns alqueires…

Meu pai foi durante algum tempo sitiante, minha mãe era filha de fazendeiro, meus tios eram todos da lavoura… Mas que brasileiro não é mais ou menos assim, não guarda alguma coisa da roça e não tem a melancólica fantasia, de vez em quando, de voltar?

Aqui estou eu, falso fazendeiro, montado no meu cavalo, a olhar minhas terras. Chego até o curral, um camarada está ordenhando as vacas. Suas mãos hábeis fazem cruzar-se dois jatos finos de leite que se perdem na espuma alva do balde. Parece tão fácil, sei que não é. Deixo-me ficar entre os mugidos e o cheiro de estrume, assisto à primeira aula de um boizinho que estão experimentando para ver se é bom para carro. Seu professor não é o carreiro que vai tocando as juntas nem o pretinho candeeiro que vai na frente com a vara: é um outro boi, da guia, que suporta com paciência suas más-criações, obrigando-o a levantar-se quando se deita de pirraça, arrasta-o quando é preciso, não deixa que ele desgarre, ensina-lhe ordem e paciência.

No coice há um boi amarelo que me parece mais bonito que os outros. O carreiro explica que aquele é seu melhor boi de carro, mas tem inimizade àquele zebu branco vindo de Montes Claros, seu companheiro de canga; implica aliás com todos esses bois brancos vindos de Montes Claros. O caboclo sabe o nome, o sestro, as simpatias e os problemas de cada boi, sabe agradar a cada um com uma palavra especial de carinho, sabe ameaçar um teimoso – “Mando te vender para o corte, desgraçado!” – com seriedade e segurança.

Ah, não dou para fazendeiro; sinto-me um boi velho, qualquer dia um novo diretor de revista acha que já vou arrastando devagar demais o carro de boi de minha crônica, imagina se minhas arrobas já não valem mais que meu serviço, manda-me vender para o corte…


Literatura - Contos e Crônicas quarta, 10 de agosto de 2022

GEOMETRIA DOS VENTOS (POEMA DA CEARENSE RACHEL DE QUEIROZ)

GEOMETRIA DOS VENTOS

Rachel de Queiroz

 

Eis que temos aqui a Poesia,
a grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada -
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável
da sua lapidação.
Onde se conta uma história,
onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 08 de agosto de 2022

A GALERIA SUPERIOR (CRÔNICA DO CARIOCA JOÃO DO RIO)

A GALERIA SUPERIOR

João do Rio

(Grafia original)

 

A galeria superior é dividida por um tapume com portas de espaço a espaço para o livre trânsito dos guardas. Os presos não podem ver os cubículos fronteiros. Os olhos abrangem apenas os muros brancos e a divisão de madeira que barra a cal das paredes. Quando a vigilância diminui, falam de cubículo para cubículo, atiram por cima do tapume jornais, cartas, recordações.

Estão atualmente na galeria 238 detentos. A aglomeração torna-os hostis. Há confabulações de ódio, murmúrios de raiva, risos que cortam como navalhas. Com o sentido auditivo educadíssimo, basta que se dirija a palavra baixo a alguém do primeiro cubículo para que o saibam no último. E então surgem todos, agarram-se às grades, com o olhar escarninho dos bandidos e a curiosidade má que lhes decompõe a cara.

Ah! Essa galeria! Tem qualquer coisa de sinistro e de canalha, um ar de hospedaria da infâmia à beira da vida. Nos cubículos há, às vezes, 19 homens, condenados por crimes diversos, desde os defloradores de senhoras de 18 anos até os ladrões assassinos. A promiscuidade enoja. No espaço estreito, uns lavam o chão, outros jogam, outros manipulam, com miolo de pão, santos, flores e pedras de dominó, e há ainda os que escrevem planos de fuga, os professores de roubo, os iniciadores dos vícios, os íntimos passando pelos ombros dos amigos o braço caricioso... Quantos crimes se premeditam ali? Quantas perversidades rebentam na luz suja dos cárceres preventivos? Saciados da premeditação, há os jornais que lhes citam os nomes, há o desejo de possuir uma arma, desejo capaz de os fazer aguçar asas de caneca, o aço que prende a piaçava das vassouras, as colheres de sopa, e há ainda o jogo. Nesses cubículos joga-se mais de 40 espécies de jogos. Eu só contei 37, dos quais os mais originais – o camaleão, a mosca, o periquito, o tigre, a escova, o osso, a sueca, o laço, as três chapas – são prodígios de malandragem. E nenhum deles se recusa ao parceiro. Quando algum desconhecido passa, deixam tudo, precipitam-se, alguns nus, outros em ceroulas, e há como um diorama sinistro e caótico – negros degenerados, mulatos com contrações de símios, caras de velhos solenes, caras torpes de gatunos, cretinos babando um riso alvar, agitados, delirantes, e as mãos, mãos estranhas de delinquentes, finas e tortas umas, grossas alguma, moles e tenras outras, que se grudam nos varões de ferro com o embate furiosos de um vagalhão.

Vive naquela jaula o Crime multiforme. O guarda aponta o Cecílio Urbano Reis, assassino, na Saúde, de uma mulher que lhe resistira; o João Dedone, facínora cínico; matadores ocasionais, como Joaquim Santana Araújo, quase demente; o Mirandinha, mulato, passador de moeda falsa, que se faz passar por advogado, o Barãozinho, gatuno; Bouças Passos, ladrão, assassino; Salvador Machado, o íntimo criado de Tina Tatti; negros capangas com as bocas sujas, que resistem à prisão com fúria; desordeiros temíveis, como o Eduardinho da Saúde, retorcendo os bigodes, cheio de langores; sátiros moços e velhos violadores; o célebre Pitoca, que tem 66 entradas; rapazes estelionatários e até desvairados, com João Manoel Soares, acusado de tentativa de morte na pessoa do senhor Cantuária, que leva, numa agitação perpétua, a dizer:

– Eu sei, foi o bicho... Foi por causa do bicho, hein? Está claro!

Dois baixos-relevos alucinadores, dois frisos da história do crime de uma cidade, ora alegres, ora sinistros, como se fossem nascidos da colaboração macabra de um Forain ou de um Goya, dois grandes painéis a gotejar sangue, treva, pus, onde perpassam, com um aspecto de bichos lendários, os estupradores de duas crianças, de 7 e 10 anos...

Encontro ao lado de respeitáveis assassinos, de gatunos conhecidos, na tropa lamentável dos recidivos, crianças ingênuas, rapazes do comércio, vendedores de jornais, uma enorme quantidade de seres que o desleixo das pretorias torna criminosos. Quase todos estão inclusos, ou no artigo 393 (crime de vadiagem), ou no 313 (ofensas físicas). Os primeiros não podem ficar presos mais de 30 dias, os segundos, sendo menores, mais de sete meses. Os processos, porém, não dão custas, e as pretorias deixam dormir em paz a formação da culpa, enquanto na indolência dos cubículos, no contacto do crime, rapazes, dias antes honestos, fazem o mais completo curso de delitos e infâmias de que há memória. Chega a revoltar a inconsciência com que a sociedade esmaga as criaturas desamparadas.

Nessa enorme galeria, onde uma eterna luz lívida espalha um vago horror, vejo caixeirinhos portugueses com o lápis atrás da orelha, os olhos cheios de angústia; italianos vendedores de jornais, encolhidos; garçons de restaurants; operários, entre as caras cínicas dos pivetes reincidentes, e os porteiros do vício, que são os chefes dos cubículos. Todos invariavelmente têm uma frase dolorosa:

– É a primeira vez que entro aqui!

E apelam para os guardas, sôfregos, interrogam os outros, trazem o testemunho dos chefes.

Por que estão presos? José, por exemplo, deu com uma correia na mão de um filho do cabo de um delegado; Pedro e Joaquim, ao saírem do café onde estão empregados, discutiram um pouco mais alto; Antônio atirou uma tapona na cara de Jorge. Há na nossa sociedade moços valentes, cujo esporte preferido é provocar desordens; diariamente, senhores respeitáveis atracam-se a sopapos; jornalistas velho-gênero ameaçam-se de vez em quando pelas gazetas, falando de chicote e de pau a propósito de problemas sociais ou estéticos, inteiramente opostos a esses aviltantes instrumentos da razão bárbara. Nem os moços valentes, nem os senhores respeitáveis, nem os jornalistas vão sequer à delegacia.

Os desprotegidos da sorte, trabalhadores humildes, entram para a Detenção com razões ainda menos fundadas.

E a Detenção é a escola de todas as perdições e de todas as degenerescências.

O ócio dos cubículos é preenchido pelas lições de roubo, pelas perversões do instinto, pelas histórias exageradas e mentirosas. Um negro, assassino e gatuno, pertencente a qualquer quadrilha de ladrões, perde um cubículo inteiro, inventando crimes para impressionar, imaginando armas de asas de lata, criando jogos, arando rolos. Oito dias depois de dar entrada numa dessas prisões, as pobres vítimas da justiça, quase sempre espíritos incultos, sabem a técnica e o palavreado dos chicanistas de porta de xadrez para iludir o júri, leem com avidez as notícias de crimes romantizados pelos repórteres, e o pavor da pena é o mais sugestionador de reincidência. Não há um ladrão que, interrogado sobre as origens da vocação, não responda:

– Onde aprendi? Foi aqui mesmo, no cubículo.

Recolhida à sombra, nesse venenoso jardim, onde desabrocham todos os delírios, todas as neuroses, é certo que a criança sem apoio lá fora, hostilizada brutalmente pela sorte, acabará voltando. Mais de uma vez, na cerimônia indiferente e glacial da saída dos presos, eu ouvi o chefe dos guardas dizer:

– Vá, e vamos ver se não volta.

Como mais de uma vez ouvi o mesmo guarda, quando chegavam novas levas, dizer para umas caras já sem-vergonha:

– Outra vez, seu patife, hein?

Mas que fazer, Deus misericordioso? Nunca, entre nós, ninguém se ocupou com o grande problema da penitenciária. Há bem pouco tempo, a Detenção, suja e imunda, com cerca de 900 presos à disposição de bacharéis delegados, era horrível. Passear pelas galerias era passear como o Dante pelos círculos do inferno, e antes do senhor Meira Lima, cuja competência não necessita mais de elogios, o cargo de administrador estava destinado a cidadão protegidos, sem a mínima noção do que vem a ser um estabelecimento de detenção.

Qual deve ser o papel da polícia numa cidade civilizada? Em todos os congressos penitenciários, até agora tão úteis como o nosso último latino-americano, ficou claramente determinado. A polícia é uma instituição preventiva, agindo com o seu poder de intimidação, e o doutor Guillaume e o doutor Baker chegaram, em Estocolmo, às conclusões de que uma boa polícia tem mais força que o código penal e mais influência que a prisão.

A nossa polícia é o contrário. Para que a detenção dê resultados, faz-se necessário seja conforme ao fim predominante da pena, com o firme desejo de reformar e erguer a moral do culpado. Que fazemos nós? Agarramos uma criança de 14 anos porque deu um cascudo no vizinho, e calma, indiferente, cinicamente, começamos a levantar a moral desse petiz dando-lhe como companheiros, durante os dias de uma detenção pouco séria, o Velhinho, punguista conhecido, o Bexiga Farta, batedor de carteira, e um punhado de desordeiros da Saúde!

A princípio tomei-lhes os nomes: Manuel Fernandes, Antônio Oliveira, Francisco Queiroz, Martins, Francisco Visconti, Antônio Gomes...

Mas era inútil. Para que, se o crime está na própria organização da polícia? Estão marcados! E eu ia deixar esse canto de jardim sinistro, quando vi uma pobre criancinha, magra, encostada à parede, o olhar já a se encher de sombra.

– Como te chamas?

– José Bento.

Tinha 14 anos, e era acusado de crime de morte. Fora por acaso, o outro dissera-lhe um palavrão... Quem sabe lá? Talvez fosse. E, cheio de piedade, perguntei:

– Vamos lá, diga o que o menino quer. Prometo dar.

– Eu? Ah! Os outros são maus... São valentes, sim, senhor, metem raiva à gente... Até têm armas escondidas! A gente tem de se defender... Eu tinha vontade...de uma faca...

E cobriu o rosto com as mãos trêmulas.


Literatura - Contos e Crônicas domingo, 07 de agosto de 2022

AO ALCE (CONTO DO MARANHENSE HUMBERTO DE CAMPOS)

AO ALCE

Humberto de Campos

 

 

 

Era nas margens do rio Cobar, ainda sem limo e sem nome, que se escancarava, dia e noite, naqueles tempos inocentes do mundo, a boca monstruosa da caverna. Aberta na rocha bruta pela força inconsciente das grandes águas primitivas, a enorme furna constituíra o refúgio seguro dos tímidos veados perseguidos, que ali iam repousar, assustados, contra a voracidade dos leões do Deserto. Um rebanho de cabras silvestres habitava-a, alarmando a ribanceira alta, quando o troglodita chegou, com a sua azagaia e a sua clava, disposto a ocupá-la. Os caprinos partiram em tumulto, pulando de rochedo em rochedo, estalando as unhas ásperas nas pedras escuras da margem, e o homem ficou só com as suas armas e a sua coragem, diante da natureza misteriosa.
 
Quatro luas depois, a caverna das margens do rio era um lar, semente de uma família, esboço indeciso de uma tribo. Viviam nela, em paz e em silêncio, Djeb, o caçador de ursos; Elam, domesticador de abelhas selvagens; e Heva, companheira e escrava de Elam. Vagavam, estes últimos, quase perdidos, pela solidão daquelas florestas ocidentais, quando encontraram o primeiro, e passaram a caminhar juntos, solidários contra os perigos infinitos da selva. A caverna, descoberta por Djeb, serviu-lhes de abrigo. À noite, aceso o fogo na pedra porejante, a goela enorme iluminava-se e os ursos, os tigres, os auroques, os mamutes, os cervos, os leões, os elefantes, os próprios cavalos bravios, paravam inquietos, perguntando-se em silêncio que monstro era aquele, que abria a garganta vermelha, onde dançavam línguas de chama, na encosta solitária da montanha.
 
A vida na caverna era monótona, mas doce. Madrugada alta, quando vinham longe, ainda, os primeiros alvores do dia, Djeb chegava à boca da furna, defendida por grandes pedras amontoadas, consultava as horas pela marcha silenciosa das estrelas, prendia mais ao seu pescoço de urso selvagem a grande pele de tigre, examinava a extremidade da azagaia, cortada nas pontas agudas de um antílope, e partia cauteloso, a surpreender os grandes herbívoros adormecidos. Às vezes, desviavam-no no seu caminho bandos de cerdos, que perseguia na carreira, abalando com o estrondo dos seus passos a enorme floresta repousada. Outras, deixava-se ir sem destino, até sair, dia alto, nas grandes várzeas pontilhadas do sangue dos cardos floridos, de onde rebanhos de cavalos, partiam correndo e relinchando em galope largo, à sua aproximação. Nessas viagens de nômade, passava o troglodita dias e dias comendo, nas mãos de grandes unhas, pedaços de carne de urso mal tostada, e bebendo, de bruços, na correnteza dos rios ou, de pé, no lençol espumante das cachoeiras. De repente, retrocedia sobre os próprios passos, como se o perseguissem, uivando, todas as feras da floresta. Penetrava na caverna, arrastava pelo braço a escrava do companheiro, atirava-a sobre as folhas do leito, e amava, como os lobos, como os tigres, como os cães errantes da selva, como todos os seres da terra bárbara. Em seguida tomava, de novo, as suas armas, e partia sem rumo, — enquanto a mulher se erguia, sem revolta, do monte de folhas, atirando para as costas o tumultuoso caudal dos cabelos desordenados.
 
Uma tarde penetrava Elam na caverna, quando ouviu, entre a queixa dos ramos do leito, os rugidos de amor do companheiro que regressara. Sob a sua cabeça fulva como a dos leões, os cabelos de Heva, mais fartos e mais claros, punham uma grande mancha no verde esmaecido das folhas. Estacou, olhando-os, e retrocedeu. Uma grande angústia enchia-lhe o abismo do coração. Sobre os seus ombros, vergando-o, oprimindo-o, havia o peso de um mundo. À sua inteligência de primitivo parecia que a floresta havia rolado, com toda a brutalidade dos seus troncos e dos seus ramos, sobre a sua cabeça impotente. Um desejo irresistível, teimoso, imperativo, chamava-o de novo para a furna, onde deixara, enlaçados como dois lobos, o amigo e a companheira. Detinha-se, porém, indeciso, olhando o chão, onde grandes formigas carregavam, ajudando-se mutuamente, pedaços de folhas, cortadas de um tinhorão nascido sobre uma pedra. Olhou-as, e pensou:
 
— As mulheres são, talvez, como o tinhorão que nasce na pedra; todas as formigas podem devorá-lo...
 
Repeliu, no entanto, o pensamento, e continuou a andar sem destino. Amanhecia quando o domesticador de abelhas chegou, com a sua azagaia de caça, à orla da floresta, longe do rio. A cautela involuntária com que andava tornou a sua aproximação imperceptível aos habitantes da clareira. Um búfalo, apenas, suspeitou da sua presença, aspirando com força o ar circunstante, desconfiado. Alguns cervos ergueram a cabeça eriçada de galhos entrecruzados, afilando as orelhas para maior percepção dos rumores. Tudo voltou, porém, à quietude, à serenidade, à paz confiante, com a imobilidade de Elam, oculto, como um verme, pelo tronco de uma grande faia de raízes à flor do solo.
 
O nômade examinava, interessado, a vida harmônica das coisas, quando se aproximou da orla da selva um grande alce cujas pontas ultrapassavam a altura de um elefante. Atrás dele, caminhava, tosquiando a relva tenra, uma cerva de pelo ruivo, que parecia tranquila, como se confiasse inteiramente a sua segurança à coragem vigilante do companheiro. De repente, surgiu da floresta, dirigindo-se em sentido contrário, outro alce solitário, que se pôs a marchar no rumo da grande corça primitiva. O alce da várzea ergueu a cabeça semeada de pontas, e berrou alto. O outro respondeu, e defrontaram-se. Um ruído de ramos secos estalou, na fúria do encontro. Com os galhos emaranhados, cruzados, confundidos, os dois quadrúpedes vergavam o dorso, em dois arcos enormes. Um ruído mais forte anunciou que a luta ia terminar.
 
Com a cabeça voltada, o alce agressor tombou por terra, num berro convulsivo, trêmulo, estrangulado, que assustou os ursos distantes. O veado vitorioso desembaraçou-se do vencido, recuou dois passos, investiu contra o corpo palpitante, perfurou-lhe o ventre com duas marradas violentas, remexendo-lhe as vísceras, com as pontas agudas. Em seguida, baliu, alto, chamando a companheira. Esta achegou-se amorosa, lambendo-lhe o pelo, como num agradecimento comovido. E continuaram a pastar, juntos, à claridade cariciosa do sol, a erva tenra da clareira...
 
Elam acompanhara, imóvel, a grande luta dos cervos. Quando o combate acabou, o bárbaro retomou a azagaia, examinando-lhe as pontas, e retrocedeu, na direção da caverna.
 
Na manhã seguinte, as águas do rio lavavam, pela primeira vez, na furna dos trogloditas, o sangue de um homem.

Literatura - Contos e Crônicas sábado, 06 de agosto de 2022

DOIS VELHINHOS (CONTO DO PARANAENSE DALTON TREVISAN)

DOIS VELHINHOS

Dalton Trevisan

 

Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.

Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora.

Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro:

— Um cachorro ergue a perninha no poste.

Mais tarde:

— Uma menina de vestido branco pulando corda.

Ou ainda:

— Agora é um enterro de luxo.

Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.

Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo.

Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 05 de agosto de 2022

DAS VANTAGENS DE SER BOBO (CRÔNICA DA UCRANIANA-BRASILEIRA CLARICE LISPECTOR)

DAS VANTAGENS DE SER BOBO

Clarice Lispector

 

 
 
"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”
 
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
 
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
 
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco.
 
Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo.
 
Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
 
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”
 
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
 
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
 
Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 04 de agosto de 2022

A ANDORINHA DA TORRE (CONTO DO FLUMINENSE RAUL POMPÉIA)

A ANDORINHA DA TORRE

Raul Pompéia

(Grafia original)

 

Cada um tem no seu espírito as suas recordações, classificadas, arranjadas, superpostas, as mais recentes por cima, as mais antigas por baixo, numa ordem admirável, que apenas ligeiramente é perturbada pelo decurso de um grande tempo, suprimindo-se algumas lembranças ou deslocando-se outras. Basta, porém, que uma causa desperte a adormecida reminiscência, para que venha por assim dizer, à tona do espírito a mais antiga imagem do passado. Esta causa pode ser qualquer, uma harmonia que se ouviu outrora e que novamente se ouve, um lugar por onde algum dia, passou-se e que se torna a ver, um painel, uma voz, uma fisionomia, um aspecto... que lembram-nos pela semelhança ou pelo contraste um aspecto, uma fisionomia, um painel que noutro tempo nos impressionaram...

Sempre que ouço a música de bronze que as torres derramam pelo espaço, turbilhões de uma sonoridade grave, solene, religiosa, ou alegres, esfuziadas, frescas e agudas como gritos de criança, caprichosas e várias como vôos de andorinha; sempre que chega-me a voz dos sinos, cantando saudosamente na linha azul do horizonte, como um vago psalmear flutuando ao vento, não é da missa que eu me lembro, nem das suntuosidades católicas de veludo franjado a ensanefarem as arcarias do templo; nem da fita de fumo com que o turíbulo vai escrevendo cousas fantásticas no ar; nem do dorso do padre recamado de florões de ouro sobre cetim branco ou roxo; nem da coroinha feita a navalha, redonda como as hóstias mostrando a pele branca veiada de azul, que sobe e desce, à medida que dobram-se ou levantam-se as reverências do oficiante; o sino de nada disso me faz lembrar, nem mesmo das carinhas pálidas das meninas que cantam ao coro, nem do semblante desenxabido e choramingas das santas de pau mal talhado...

 

Desde muito tempo que o serviço da torre da Igreja de X estava confiado ao velho Emílio...

Era aquele homem de barbas longas e brancas, espécie dessas figuras com que se costuma fazer a imagem mítica dos grandes rios, era aquele velho que via-se de tarde, à janela da torre sob a cúpula enorme do sino grande, olhando vagamente para o espaço, sem dar atenção ao burburinho da cidade, que circulava nas ruas lá embaixo...

Os mais antigos moradores do lugar lembravam-se de que Emílio fora sempre o mesmo homem de barbas longas e brancas, o mesmo, como a ruína consagrada pelo tempo, que nunca fica mais velha. Respeitava-se muito ao velho sineiro. Era o mais honrado dos homens e, além disso, era o avô da mais galante criança que se tem visto.

Por aqueles cinco quarteirões em volta não havia quem não gostasse da andorinha da torre. Festejavam-na muito, davam-lhe doces e beijos que não havia mãos a medir; sentiam só que ela fugisse tanto a meter-se na torre com o avô e esquecesse pelos velhos amigos de bronze que moravam lá no alto as pessoas da cidade que tanto a queriam.

Mas como havia de ser se ela amava perdidamente os seus sinos e o seu avô?... Achava os sinos frios demais e pachorrentos como uns homens de idade, mas, em compensação, admirava-os, quando vovô Emílio despertava-lhes a sanha e os fazia pularem, voltearem como clowns, precipitarem-se no espaço como se fossem desabar e ressurgirem para o alto, com a boca largamente aberta, como um sorriso de gigante satisfeito.

Pareciam mudos, no silêncio do repouso, como pareciam imóveis e inabaláveis; a um gesto, entretanto, do velho Emílio, toda aquela imobilidade movia-se em viravoltas céleres e vertiginosas, toda aquela mudez vociferava, em sonorosos estampidos e envolvia a torre numa trovoada de harmonias gigantescas.

A pequena Rita admirava os sinos. Esta admiração transformava-se em amorosa simpatia. Estranhava no fundo do espírito aqueles monstros boquiabertos que sabiam ser igualmente a imobilidade e o turbilhão, o silêncio e a trovoada; ajudava o avô a tratá-los, limpar-lhes o bojo profundo e escuro, clarear-lhes os dourados de fora, esgravatar-lhes os interstícios dos relevos que os enfeitavam...

Havia amor de família naquele pequeno mundo que vivia na torre.

Uma vez, na Semana Santa de 18..., a pequena Rita, a andorinha da torre (como lhe chamavam, pelo seu costume de passar os dias no alto da igreja em companhia de Emílio) adoeceu gravemente.

Caiu de cama, prostrada por uma violenta febre, na quarta-feira de trevas; exatamente quando emudecem os sinos.

Do quarto onde ela estava, na casinha do avô que ficava a trinta passos da igreja, via-se por cima dos telhados o perfil a prumo da torre. Rita, aos intervalos da febre, olhava com saudade para a janela do sino grande, onde tantas vezes estivera a seguir com os olhos a revoada dos passarinhos, que cortavam o ar de mil modos e enfiavam-se por um lado da torre para sair pelo outro, gorjeando risadas joviais.

Sofria a nostalgia da altura e do horizonte imenso; queria tornar a ver de perto os queridos sinos.

Por maior infelicidade, havia dous dias que os sinos coaservavam-se desesperadamente calados...

Emílio não saía um só instante da cabeceira da doente. Apavorava-o a idéia de perder aquela criança, que era a recordação viva da filha e do genro que a fatalidade lhe roubara. Este pensamento enlouquecia-o.

No Sábado de Aleluia, Rita sentiu-se extraordinariamente bem. Sentou-se no leito, para ver melhor a torre...

Uma alegria sobretudo agitava-a deliciosameate.

O sacristão viera prevenir o avô de que a Aleluia romperia ao meio-dia em ponto e que era necessário que o velho fosse tomar o seu posto.

Rita ia ouvir novamente a voz dos sinos!...

 

Certo de que eram reais as melhoras da netinha, tranqüilizado pela afirmação de um médico que dissera que a menina estava salva, sorrindo à idéia de que a neta se havia regozijar com os repiques da Aleluia, o velho Emílio beijou amorosamente a testa da criança, deixou-a entregue aos cuidados de uma boa mulher que lhe fazia de caseira e foi alojar-se na torre.

Da janela do sino grande, avistava o interior da área da sua casinha e a janela do quarto de Rita.

A vidraça descida e o escuro do aposento não permitiam que ele distinguisse o leito da neta. Emílio estava, entretanto a vê-la com todos os seus sorrisos bons e brandos; parecia-lhe até que ela acenava-lhe para romper a Aleluia antes da hora.

Eram onze horas e meia. Emílio estava impaciente. Os minutos passavam longos, como se em vez de minutos fossem horas...

Do alto da torre, o sineiro olhava para o oceano de telhados, que ondulava-se lá embaixo em agudas cumeeiras que repetiam-se indefinidamente pela cidade afora. As ruas cobriam-se de multidão vestida de preto que corria aos ofícios religiosos; por entre os telhados que vistos de cima pareciam enormes livros de capa entreaberta e lombo voltado para o céu, devassavam-se os quintais e os terraços, com grandes montes de lixo; coradouros alastrados de roupa branca onde o sol brilhava deslumbrante, o olhar indiscreto via em flagrante os interiores desarranjados e obscuros, as mocinhas em roupas caseiras, correndo daqui para ali, as cozinhas em movimento, muito pretas de fumo; um formigueiro de atividade doméstica, especial, muito distinto do formigueiro das ruas, reproduzindo-se por todos os lados até onde a vista alcançava; cobrindo tudo o tênue nevoeiro alimentado pelas chaminés fumegantes e um vago perfume de assados e fermentos que subiam da cidade como o anúncio evidente de que estava a findar à última hora dos magros dias da quaresma.

O velho Emílio passou distraidamente a vista por todo aquele conjunto indistinto e complicado de minuciosidades que os altos pontos de vista desvendam numa cidade, e voltou a fixar os olhos na vidraça do quartinho de Rita...

Um movimento de espanto fê-lo recuar da janela...

Estava suspensa a vidraça do quarto da netinha. A mulher a cujos cuidados ele confiara a criança estava à janela e agitava desesperadamente um lenço em direção à torre.

Acenava-lhe, sem dúvida.

Mas o que significava o aceno? Talvez ela estivesse gritando; Emílio, porém, era quase surdo em virtude da sua profissão; talvez tivesse no rosto uma expressão qualquer que explicaria tudo; mas, com a idade, a vista de Emílio era fraca demais para reconhecer essa expressão.

O lenço frenético significava alegria? significava terror?... Urgia saber-se!

Emílio ia correr, esquecendo o toque de Aleluia, quando emerge ofegante pela escada da torre o sacristão a gritar:

- Olha o sino!... Olha o sino!... já passa da hora... Já cantaram a Glória!

Emílio, atordoado, desvairado, precipita-se sobre o feixe das cordas que punham em movimento o carrilhão. Toma-as, desvairado, e agita os sinos como um doudo, confundindo o dobre de finados com os repiques alegres, badalando precipitadamente, sem compasso, levantando na torre uma tempestade de detonações incríveis, infernais.

- Não há memória de uma Aleluia tão ruidosa e alegre, dizem as pessoas que ouviram-na.

Depois de um quarto de hora de frenesi, o pobre Emílio inclinou-se na janela do sino grande e observou a vidraça do quarto da netinha. Estava suspensa como antes da Aleluia e ninguém mais se via.

- Quem sabe se o lenço fazia-me sinal para tocar os sinos?... pensou o velho...

E, mais tranqüilo, embora prostrado pela comoção que sofrera e pelo excesso que acabava de fazer, Emílio desceu da torre. Na escada, teve de sentar-se muitas vezes, antes de chegar ao último degrau.

- Vamos ver a Ritinha, dizia consigo, deve estar satisfeita comigo... Nunca toquei tão forte...

 

Em casa, encontrou morta a pequena Rita.

- Morreu sorrindo e atenta ao rumor dos seus queridos sinos, disse a mulher a quem Emílio confiara a guarda da criança.

O velho apertou o peito com ambas as mãos, lançou um olhar seco, terrível pela janela do quarto para a torre e para o espaço profundo, e caiu.

Na rua e no céu, reinava a ruidosa alegria das Aleluias e a tirania deslumbrante do sol.

É esta pequena história que conheci casualmente no quando chega-me aos ouvidos linha azul do horizonte como passado que me vem à mente, a voz dos sinos, cantando na um vago psalmear flutuante...


Literatura - Contos e Crônicas quarta, 03 de agosto de 2022

DUAS CRIATURAS (CONTO DO CARIOCA JOÃO DO RIO )

DUAS CRIATURAS

João do Rio
(Grafia original)

 

O grande hall do hotel estava repleto. Pelas janelas semicerradas, na suave ondulação das cortinas brancas, entrava um vago perfume de violeta e de rosa. Lá fora, entre os tufos de verdura do jardim e o céu muito azul, devia esplender a pálida luz de um sol de inverno. As mesas, todas ocupadas e cintilantes de cristais, prolongavam-se até o fundo numa orquestração de tons brancos, que iam do branco de prata ao branco gris nos lugares mais em sombra.

Os criados passavam apressados, erguendo numa azáfama os pratos de metal. Ao alto, os ventiladores faziam um rumor de colmeias. Senhoras e cavalheiros, perfeitamente felizes, as senhoras quase todas com largos "boas" de plumas brancas, chalravam e sorriam. Estávamos bem na bizarra sociedade de entalhe que é o escol dos hotéis. Alta, longa, comprida, com uma cintura de esmaltes translúcidos e o ar empoado de uma íntima do general Lafayette, a escritora americana, cuja admiração por Gonçalves Dias chegara a fazê-la estudar o Brasil, mastigava gravemente. Logo ao lado, um grupo de engenheiros, também americanos, bebia, com gargalhadas brutais e decerto inconvenientes, champagne Munn. Mais adiante a encantadora viúva do milionário Guedes, com o seu perfil de Luigni, de que tanto mal se dizia, sorria num vago sonho para a senhora Alda, a formosa divorciada do dia; Alda Paes anteontem, Alda Pereira hoje, como há cinco anos, antes de casar... De vez em quando parava à porta um novo hóspede, hesitava, percorria com o olhar a extensa fila de mesas onde o debinage se acalorava. A um canto, Mlles. Péres, filhas de um rico argentino, Yatch-recordeman nas horas vagas e vendedor de gado nas outras, perlavam risadinhas de flirt, para o solitário e divino Alberto Guerra, seguro dos seus biceps, dos seus brilhantes e quiçá dos seus versos.

Bem ao centro, o nosso vasto ministro em Honduras desdobrava a sua simpática adiposidade numa roda de mocitos elegantes, ferozes pretendentes ao secretariado diplomático, e, de vez em quando, cortando o zumbido elegante do grande hall, retinia imperiosamente o som de uma campainha elétrica.

Estávamos a almoçar cinco ou seis, convidados pelo barão Belfort, esse velho dândi sempre impecável, que dizia as coisas mais horrendas com uma perfeita distinção. E fora de certo uma extravagância aquele demorado almoço, a fazer horas para um match de foot-ball, a que seria impossível deixar de assistir O barão, de veia, com a sua voz de navalha, recortava na pele dos presentes as caricaturas perversas. Nós já tínhamos rido muito e entrávamos com apetite num vulgaríssimo salmis de coelho, quando de repente um dos nossos companheiros exclamou:

- Olha, a chilena aqui!

À porta surgiu uma triunfal figura de Céres, com o cabelo cor-de-ouro e o verde olhar coado por umas negras pestanas de azeviche. O seu lindo corpo era como que modelado pelo vestido de Irlanda e rendas verdadeiras. Nos dedos afilados e tênues, como as pétalas esguias dos crisântemos, três ou quatro pérolas rosas; nos lóbulos das orelhas, duas negras pérolas e por sobre a gola leve de rendas brancas um virginal colar de pérolas. Acompanhavam-na um cachorrinho branco de neve, de focinho impertinente, e um cavalheiro, baixo, gordo, cheio de jóias, enfiado num redingote azul.

- A chilena! A chilena aqui! Mas que sociedade é esta? bradou o mais jovem dos convivas.

O barão teve um sorriso cético.

- Meu caro, o Rio tem, como Paris ou Londres ou mesmo Montevidéu, a sua season. season começa regularmente com a chegada do primeiro mambembe estrangeiro, mambembe naturalmente insuportável, e fecha com os calores da primavera, na abertura do salão de pintura. É a época do luxo, da exibição, do sacrifício para aparecer, da tagarelice, em que toda a gente fala mal do próximo e entende de arte, é a época escolhida pelos que pretendem tomar lugar na sociedade. Nós somos uma sociedade em formação - a mais atraente, a que mais tenta por conseqüência, não só pelas suas taras, que há vinte anos não eram julgadas mal, como pelo nosso fundo meio ingênuo de aceitar tudo o que brilha, seja diamantino ou seja montana. Anualmente, de envolta com os políticos, os fazendeiros, os estrangeiros exploradores, aparecem essas figuras com um passado estranho, decididas a dominar, a entrar nos lugares honestos, a serem respeitadas.

São figuras de invernos. Querem dominar. E olhe que aqui, quase todos têm a sua história: as demoiselles Péres, talvez enteadas de um rei morto, o wildeano conde Rossi, lá longe, com o seu excepcional secretário cubano; Alberto Guerra, o sedutor irmão de D. Juan e também de Shylock, porque vive de emprestar a juros; a viscondessa Guilhermina, que chegou de Vichy e só está aqui de passagem; a Alda, a baronesa...

- Barão, cale-se, por favor! Cale-se! Figuras de inverno, não duvido. Mas a chilena é menos que isso.

- Ora, a chilena já não usa esse pseudônimo tão picante e ao mesmo tempo tão significativo para os guerreiros do Rio Grande. Todos vocês sabem a história de vício dessas três que cerca de dez anos amaram e arruinaram várias criaturas. Mas tinham de ter um nome honesto. As duas primeiras casaram. Esta é hoje a esposa do cônsul do Haiti no Pará.

- Então o homenzinho?...

- Um explorador riquíssimo que se presta a ser cônsul, auferindo todos os lucros do cargo. Deve ter uma fortuna superior a cinco mil contos. Tivemos relações em Belém e em Paris. É um caso de embrutecimento passional.

- Mas são realmente casados?

- Não há dúvida. Vocês conhecem a história das chilenas, três lindas criaturas da fronteira que se diziam chilenas por picante e a que os riograndenses chamavam chilenas como lembrança de certos estribos em que os pés ficam à vontade e toda a gente pode usar. Elas tinham topete, beleza, audácia. Para ser o vício arrasador não precisava muito outrora no Rio. Chegaram e logo a fama irradiou. De um dia para o outro, os fazendeiros ricos sentiram a necessidade de dar-lhes palácios, os banqueiros ofereceram-lhes as carteiras, os amorosos sem vintém prometeram vigor e paixão. As gaúchas ardentes, ardentes mesmo demais, faziam grandes loucuras sensuais, mas prestavam atenção ao futuro. Há mulheres que podem se entregar com frenesi a vida inteira sem conseguirem ser prostitutas. Elas tinham o frenesi, não, tinham o sinal de profissão, e depois, haviam nascido sob as estrelas complacentes. A Luíza partiu com um fazendeiro, e se engana é com os cometas, raramente. Natália recolheu com um negociante riquíssimo. Ficou apenas Maria, que diriam um caso anormal de luxúria, malbaratando dinheiro, embriagando-se, tripudiando no torvelinho da vida. Ora, Azevedo apaixonou-se pela Maria, há sete anos, vendo-a guiar uma parelha de cavalos zebrados que foram acabar no Jardim Zoológico como raridade. Maria atravessava uma das suas crises, devendo a casa, as mobílias, os cavalos, os criados, e até mesmo o adolescente robusto que fazia de Angias no fundo do palacete e de Automedonte à tarde, no passeio. Azevedo foi seringueiro ou coisa que o valha. Precisamente voltara do Amazonas, esfomeado de mulher e cheio de dinheiro. Teve o deslumbramento diante da beleza que Maria tornava provocante. Tentou o assalto, deixou-se prender, pôr o freio, montar, esvaziar. A opinião geral - e aliás alegre, era que Maria arruinaria o marchante selvagem. A sorte porém de Azevedo era intensa. Quanto mais dava, quanto mais pagava, mais ganhava. Isso devia ter concorrido poderosamente para a paixão do animal, fetiche como todos os simples, e irritar Maria, inimiga dos pagadores como todas as boêmias. Azevedo empolgou-a inteiramente. Ela, até então a Vênus vingadora, que arruina, arrasa, domina, de gênio voluntarioso, só encontrava uma satisfação: enganá-lo, traí-lo, roubar-lhe o corpo para o banquete dos esfomeados. Era uma performance entre a paixão cega e a raiva de fugir dessa paixão. Ao cabo de quatro meses, Maria proibiu-lhe a entrada, despediu-o. Estava coberta de jóias, com o cofre cheio e enfarada, aborrecida excedida pela convivência do pobre homem apaixonado e pagador. Meteu-se na grande orgia, para se convencer de que estava livre, livre por completo. Mas Azevedo, aguilhoado por aquela despedida, sentira de repente que perdia a sua carne e a sua sorte e recorria a todos os meios imagináveis para de novo apanhá-la, peitando consciências, interessando na sua desgraça à custa de bilhetes de banco as amigas da Maria, convencendo os camaradas de que era preciso fazer mudar de opinião Maria, aquela louquinha incapaz de pensar no futuro. Logo a chilena sentiu em tomo, cada vez mais presente, o fantasma do Azevedo. Falavam nas pândegas as amigas, por acaso: Ah! se aqui estivesse o Azevedo! Falava a cartomante que de oito em oito dias lhe deitava as cartas: vejo aqui um homem sério que muito a ama e agora afastado voltará a fazê-la feliz! Falavam os criados: Coitado do patrão; passou hoje por aqui, olhando muito... Falavam até os camaradas de cama e mesa: Afinal o Azevedo é um bom homem. E Maria viu que tendo despedido o Azevedo agora é que o tinha a todo o instante na lembrança, sem poder fazer-lhe mal, sem poder vingar-se, quase a convencer-se de que o idiota era bom. Certa vez disseram-lhe: o Azevedo parece resignado: vai montar casa para a Benevente. Maria teve um grande ódio e no outro dia Azevedo estava de dentro outra vez, louco de amor e ainda mais perdulário.

- Maria resignara-se?

- Para a obra da vingança, tornando-o epicamente ridículo. Não importava a pessoa, a questão era do ato. Ah! Eu imagino sempre, quando o meu egoísmo quer eternizar o amor, o desespero de um pobre ente sem poder livrar-se de outro que se molda e curva e dá tudo, e é passivo e é humilde. Há torturas, imperceptíveis à maioria dos mortais, que são dantescas. E nenhuma como essa em que o ambiente, a fatalidade, o destino forçam a vitória do mais fraco dando-lhe o que deseja; fazendo-o realizar o seu fim, impondo-o a outro corpo, a gozá-lo, a senti-lo, apalpá-lo. A grande desgraça do amor, a maior desgraça é essa, porque laça ao mesmo horror duas almas. Maria devia ter crises de desespero e de lágrimas, e quanto Azevedo devia sofrer na sua muda humildade de cão sedento de carícias! E quando levou-a para o Pará, a chilena tinha a nevrose de enganá-lo. Ora, imaginem vocês, em Belém, terra pequena, onde Azevedo tinha posição evidente! As denúncias anônimas choveram exigindo vergonha, mais pudor, mais brio. O grosso Azevedo lia e calava, porque, se revelasse uma palavra das cartas, Maria fechava-lhe a porta semanas e semanas. Uma vez, entretanto, como recebesse uma denúncia violenta, Azevedo teve tensões de ciúmes e foi encontrá-la como a princesa Falconière da Dalila, cantando num barco com certo tenor de zarzuela. Não havia dúvida! O cônsul do Haiti berrou de cólera, o tenor deu às gâmbias, a polícia apareceu. O escândalo, porém, permitiu a Maria um desses cinismos épicos. Agarrou o Azevedo pelo casaco, meteu-o dentro do carro sem dizer palavra, ofegante, e ao chegar a casa mediu-o de alto a baixo e teve esta frase, célebre há cinco anos: - O senhor é um indigno! Desconfia de mim!

É preciso pensar o alcance, a extensão moral de uma dessas frases num cérebro, obsedado pela idéia de não perder uma carne cada vez mais desejada. Maria dissera por cinismo profissional. Ele sentiu-se comovido a princípio. Afinal se enganava, procurava não o afrontar. Já era uma consideração. E depois enganá-lo-ia ela? Há tantos inocentes condenados mesmo com provas visíveis comprometedoras! E o tenor sem querer, foi a pedra angular do casamento.

- Oh! não...

- Quinze dias depois da cena Azevedo sentiu que nem de negócio e de borracha poderia entender mais. Maria, muda, grave, solene, vivia com o quarto fechado sem responder primeiro aos seus insultos, depois às suas ironias, depois aos desesperos e já agora aos rogos, porque Azevedo vivia como à espera da notícia de ter um mal irremediável, sem dormir, sem descansar, só pensando que de novo ela o deixaria. E dessa vez para sempre. Então caiu de joelhos, suplicou, pedindo perdão, jurando que não vira nada, que jamais acreditaria na calúnia... Há entre os sexos um ódio latente. Quando um se humilha a outro, esse outro toma crueldades de tirano, refocila em perversidades e em excessos. A chilena percebeu a excelência do momento, teve um assomo de dignidade, borrifada de lágrimas: Cale-se, Azevedo! O senhor é um ingrato! Nunca mais serei sua! Desconfiar de mim. Só se me der uma grande prova de confiança, o seu nome, a sua mão...

Na roda correu um desabalado riso, que fez voltar-se o grupo aspirante ao secretariado diplomático. O barão limpou o seu monóculo de cristal e continuou tranqüilamente:

- Ela nesse tempo era mais magra e tinha os cabelos castanhos, mas de um castanho que às vezes era quase negro e de outras vezes se tornava quase louro. Esse cabelo era sua alma. Azevedo, coitado! refletiu vinte dias, torturou-se vinte dias. E nesses vinte dias, a Maria lutou, em arte e manha, mais que um diplomata, graduando sabiamente as concessões que dessem ao velho apaixonado uma vaga idéia do que poderia ser o lar com uma doce criatura meiga, boa, fiel, sem azedumes, sem neurastenias. Os amigos, sabedores do desastre, reuniram-se para salvar Azevedo. Todos os meios falhavam; ou antes redundavam a favor da Maria. Um rapaz, Teofano de Abreu, se bem me recordo, latagão inteligente e bem colocado da colônia portuguesa, com certo desejo na Maria, prestou-se a um sacrifício colossal: fazer-lhe a corte, conseguir possui-la e vir contar depois para o Azevedo o fato. A Maria não resistiu, e Teofano, apesar de ter gostado, sacrificou-se:

"Azevedo, disse em presença de várias testemunhas, não podes casar com a Maria." - "Por quê?" - "Porque te engana." - "Não admito que insultem uma mulher que vive comigo." - "Mas foi comigo, venho agora de lá. Ela será incapaz de negar na minha cara. E se faço este ato indigno é para te salvar de uma horrível e irremediável indignidade." Azevedo fez-se pálido, correu casa e no outro dia não cumprimentou mais nenhum dos seus amigos. Era fatal. E afinal, para de novo possuir Maria, casou...

Fui encontrá-los em Paris, elegantemente instalados numa das avenidas da Etoile, um palácio discreto. Maria tinha carruagens, coupé elétrico, arrastava à noite pelos pequenos teatros maravilhosas capas de peles de muitos bilhetes de mil e freqüentava vários lugares maus porque vendo-a um dia a pé a rodar um bistrô, lembrei-me que bem podia estar de paixão por algum jovem apache, que os apaches são os homens belos de Paris. E mesmo provável que tivessem deixado Paris, quando já Maria dava uns chás a alguns vagos titulares internacionais, por alguma chantagem de escândalo, que o Azevedo teve de saber e pagar.

Mas isso não era nada! As exigências e o descaro de Maria cresceram na proporção do embrutecimento do marido. Quando voltaram de Paris, ela exigiu no seu palacete toda a ala direita mobiliada à indiana, com autênticos bambus de Calcutá, ponches de cobre de Benarés, deuses bramânicos de porcelana e de metal. O seu quarto tinha guarnições de seda verde pregadas a grampos de coral; os cortinados eram de gaze de Dekan, a mais leve gaze do mundo. Aos pés da cama, um Vichnou de marfim, o deus dos ricos, olhava-a a dormir. Freqüentava-os por essa ocasião uma turba-multa de homens sem preconceitos e rapazes bem-dispostos, que forneciam as traições ao Azevedo. Maria era uma pilha de nervos. Não se resignara ao pobre cônsul; e a sua neurastenia explodia em desejos de humilhações e um desenfreado apetite de sedução. À mesa, fazia o cônsul levantar-se, ir buscar o seu leque ao segundo andar, para beijar o conviva, principalmente quando o jantar era a três. De outras vezes, marcava-lhe a hora da entrada: - Preciso estar só. Apareça depois da meia-noite. E nesses dias sempre alguém conhecia a pele de tigre real com forro de brocado rubro que havia na terceira sala da ala esquerda, onde se amontoava a coleção de armas usadas por todos os soldados dos rajás imagináveis. Vocês riem! Eu afinal tenho pena. Esse homem ganhava rios de dinheiro, gozava de boas relações... Julguei-o um indigno. Não era. Era e é um ser que ama. Qual de nós não tem o seu segredo inconfessável e um desejo irreprimível? O amor é o desejo, mas o desejo da completa satisfação, dessa ilusão dos sentidos. Quando se quer assim, somos arrastados como por uma corrente. Há casos piores a que apertamos a mão...

- Mas, agora, que fazem eles?

- Não os vejo há dois anos. Naturalmente ela quer ser família. É uma aspiração natural. Vi-a com ele, na abertura da Câmara, numa pose de duquesa pintada pelo La Gandara. Decerto já se resignou ao Azevedo e estão ambos aqui, a gozar o inverno, a dar a impressão de que são felizes. E entretanto a Maria é a alma envenenada, agrilhoada a um corpo que detesta, desejando, no desequilíbrio de carne, a tropa dos homens, desejando, no desequilíbrio de moral, a posição e o respeito; o Azevedo é o pobre bruto sacrificando tudo, a honra, o dinheiro, a vergonha, rastejando o ignóbil só para que lho consintam um pouco de amor pela criatura que lhe agradou aos sentidos. E ambos desgraçados, desvairados, seguem a vida, com o sorriso no lábio e a vaga inquietação no olhar febril.

Nesse momento, a bela chilena, Maria de Azevedo, ergueu-se. O impertinente fraldiqueiro saltou da cadeira. O homenzinho baixo também, de outra. Ela viu o barão, que se levantou, curvou-se. Azevedo abriu os braços.

- Oh! você! Há dois anos!

- Donde vem?

E os dois homens abraçaram-se. Ele parecia velho, meio desconfiado. Ela, sob a luz opalizada das cortinas brancas, sorria, um sorriso misto de inexprimível ironia e de vaga satisfação, enquanto os seus olhos pousavam, como uma perturbadora carícia, na mesa em que Alberto Guerra continuava. a almoçar, seguro dos seus biceps, dos seus brilhantes e talvez dos seus versos, no brouhaha entontecedor do vasto hall.


Literatura - Contos e Crônicas terça, 02 de agosto de 2022

MISS EDITH E SEU TIO (CONTO DO CARIOCA LIMA BARRETO)
 

MISS EDITH E SEU TIO

Lima Barreto

 

A pensão familiar "Boa Vista" ocupava uma grande casa da praia do Flamengo, muito feia de fachada, com dois pavimentos, possuindo bons quartos, uns nascidos com o prédio e outros que a adaptação ao seu novo destino fizera surgir com a divisão de antigas salas e a amputação de outros aposentos.

Tinha boas paredes de sólida alvenaria de tijolos e pequenas janelas de portadas de granito e linha reta, que olhavam para o mar e para uma rua lateral, à esquerda.

A construção devia datar de cerca de sessenta anos atrás e, nos seus bons tempos, certamente possuiria, como complemento, uma chácara que se estendia para o lado direito e para os fundos, chácara desaparecida, em cujo chão se erguem atualmente prédios modernos, muito pelintras e enfezados, ao lado da velha, forte e pesadona edificação dos outros tempos.

Os aposentos e corredores da obsoleta moradia tinham uma luz especial, uma quase penumbra, esse toque de sombra do interior das velhas casas, no seio da qual flutuam sugestões e lembranças.

O prédio sofrera acréscimos e mutilações. Da antiga chácara, das mangueiras que a "viração" todas as tardes penteava a alta cabeleira verde, das jaqueiras, de ramos desorientados, das jabuticabeiras, dos sapotizeiros tristes, só restava um tamarineiro no fundo do exíguo quintal, para abrigar nos posmerídios de canícula, sob os ramos que caíam lentamente como lágrimas, algum hóspede sedentário e amoroso da sombra maternal das grandes árvores.

O grande salão da frente - a sala de honra das recepções e bailes - estava dividido em fatias de quartos e dele só ficara, para lembrar o seu antigo e nobre mister, um corredor acanhado, onde os hóspedes se reuniam, após o jantar, conversando sentados em cadeiras de vime, ignobilmente mercenárias.

Dirigia a pensão Mme. Barbosa, uma respeitável viúva de seus cinqüenta anos, um tanto gorda e atochada, amável como todas as donas de casas de hóspedes e ainda bem conservada, se bem que houvesse sido mãe muitas vezes, tendo até em sua companhia uma filha solteira, de vinte e poucos anos por aí, Mlle. Irene, que teimava em ficar noiva, de onde em onde, de um dos hóspedes de sua progenitora.

Mlle. Irene, ou melhor: Dona Irene escolhia com muito cuidado os noivos. Procurava-os sempre entre os estudantes que residiam na pensão, e, entre estes, aqueles que estivessem nos últimos anos do curso, para que o noivado não se prolongasse e o noivo não deixasse de pagar a mensalidade à sua mãe.

Isto não impedia, entretanto, que o insucesso viesse coroar os seus esforços. Já fora noiva de um estudante de direito, de um outro de medicina, de um de engenharia e descera até um de dentista sem, contudo, ser levada à presença do pretor por qualquer deles.

Voltara-se agora para os empregados públicos e toda a gente na pensão esperava o seu próximo enlace com o Senhor Magalhães, escriturário da alfândega, hóspede também da "Boa Vista", moço muito estimado pelos chefes, não só pela assiduidade ao emprego como pela competência em cousas de sua burocracia aduaneira e outras mais distantes.

Irene caíra do seu ideal de doutor até aceitar um burocrata, sem saltos, suavemente; e consolava-se interiormente com essa degradação do seu sonho matrimonial, sentindo que o seu namorado era tão ilustrado como muitos doutores e tinha razoáveis vencimentos.

Na mesa, quando a conversa se generalizava, ela via com orgulho Magalhães discutir Gramática com o doutor Benevente, um moço formado que escrevia nos jornais, levá-lo à parede e explicar-lhe tropos de Camões.

E não era só nesse ponto que o seu próximo noivo demonstrava ser forte; ele o era também em Matemática, como provara questionando com um estudante da Politécnica sobre Geometria e com o doutorando Alves altercava sobre a eficácia da vacina, dando a entender que conhecia alguma cousa de Medicina.

Não era, pois, por esse lado do saber que lhe vinha a ponta de descontentamento. De resto, em que pode interessar a uma noiva o saber do noivo?

Aborrecia-lhe um pouco a pequenez do Magalhães, verdadeiramente ridícula e, ainda por cima, o seu canhestrismo de maneiras e vestuário.

Não que ela fosse muito alta, como se pode supor; porém, algo mais do que ele, era Irene fina de talhe, longa de pescoço, ao contrário do futuro noivo que, grosso de corpo e curto de pescoço, ainda parecia mais baixo.

Naquela manhã, quando já se ia em meio dos preparativos do almoço, o tímpano elétrico anunciou estrepitosamente um visitante.

Mme. Barbosa, que superintendia na cozinha o preparo da primeira refeição dos seus hóspedes, àquele apelo da campainha elétrica, de lá mesmo gritou à Angélica:

— Vá ver quem está, Angélica!

Essa Angélica era o braço direito da patroa. Cozinheira, copeira, arrumadeira e lavadeira, exercia alternativamente cada um dos ofícios, quando não dois e mais a um só tempo.

Muito nova, viera para a casa de Mme. Barbosa ao tempo em que esta não era ainda dona de pensão; e, em companhia dela, ia envelhecendo sem revoltas, nem desgostos ou maiores desejos.

Confidente da patroa e, tendo visto crianças todos os seus filhos, partilhando as alegrias e agruras da casa, recebendo por isso festas e palavras doces de todos, não se julgava bem uma criada, mas uma parenta pobre, a quem as mais ricas haviam recolhido e posto a coberto dos azares da vida inexorável.

Cultivava por Mme. Barbosa uma gratidão ilimitada e procurava com o seu auxílio humilde minorar as dificuldades da protetora.

Tinha guardado uma ingenuidade e uma simplicidade de criança que, de modo algum, diminuíam a atividade pouco metódica e interesseira dos seus quarenta e tantos anos.

Se faltava a cozinheira, lá estava ela na cozinha; se bruscamente se despedia a lavadeira, lá ia para o tanque; se não havia cozinheira e copeiro, Angélica fazia o serviço de uma e de outro; e sempre alegre, sempre agradecida à Mme. Barbosa, Dona Sinhá, como ela chamava e gostava de chamar, não sei por que irreprimível manifestação de ternura e intimidade.

A preta andava lá pelo primeiro andar na faina de arrumar os quartos dos hóspedes mais madrugadores e não ouviu nem o tinir do tímpano, nem a ordem da patroa. Não tardou que a campainha soasse outra vez e desta, imperiosa e autoritária, forte e rude, dando a entender que falava por ela a própria alma impaciente e voluntariosa da pessoa que a tocava.

Sentiu a dona da pensão que o estúpido aparelho lhe queria dizer qualquer cousa importante e não mais esperou a mansa Angélica. Foi em pessoa ver quem batia. Quando atravessou o "salão", reparou um instante na arrumação e ainda ajeitou a palmeirita que, no seu pote de faiança, se esforçava por embelezar a mesa do centro e fazer gracioso todo o aposento.

Prontificou-se em abrir a porta envidraçada e logo encontrou um casal de aparência estrangeira. Sem mais preâmbulos, o cavalheiro foi dizendo com voz breve e de comando:

— Mim quer quarto.

Percebeu Mme. Barbosa que lidava com ingleses e, com essa descoberta, muito se alegrou porque, como todos nós, ela tinha também a imprecisa e parva admiração que os ingleses, com a sua arrogância e língua pouco compreendida, souberam nos inspirar. De resto, os ingleses têm fama de dispor de muito dinheiro e ganhem duzentos, trezentos, quinhentos mil-réis por mês, todos nós logo os supomos dispondo dos milhões dos Rothschilds.

Mme. Barbosa alegrou-se, portanto, com a distinção social de tais hóspedes e com a perspectiva dos extraordinários lucros, que certamente lhe daria a riqueza deles. Apressou-se em ir pessoalmente mostrar a tão nobres personagens os cômodos que havia vagos.

Subiram ao primeiro andar e a dona da pensão apresentou com os maiores gabos um amplo quarto com vista para a entrada da baía - um rasgão na tela mutável do oceano infinito.

— Creio que servirá este. Aqui morou o doutor Elesbão, deputado por Sergipe. Conhecem?

— Oh, não, fez o inglês, secamente.

— Mando pôr uma cama de casal...

Ia continuando Mme. Barbosa, quando o cidadão britânico interrompeu-a, como se estivesse zangado:

— Oh! Mim não é casada. Miss aqui, meu sobrinha.

miss por aí baixou os olhos cheios de candura e inocência; Mme. Barbosa arrependeu-se da culpa que não tinha, e desculpou-se:

— Perdoe-me... Não sabia...

E ajuntou logo:

— Então querem dois quartos?

A companheira do inglês, até aí muda, respondeu com calor pouco britânico:

— Oh! sim, senhora!

Mme. Barbosa prontificou-se:

— Tenho, além deste quarto, um outro.

— Where? perguntou o inglês.

— Como? fez a proprietária.

— Onde? traduziu miss.

— Ali.

E Mme. Barbosa indicou uma porta quase fronteira à do aposento que mostrara em primeiro lugar. Os olhos do inglês fuzilaram bruscamente de alegria e, nos de miss, houve um relâmpago de satisfação. A um tempo, exclamaram:

— Muito bom!

— All right!

Examinaram com pressa os aposentos e já se dispunham a descer quando, no patamar da escada, se encontraram com a Angélica. A preta olhou-os demorada e fixamente, com espanto e respeito; parou extática, como em face de uma visão radiante. A luz mortiça da clarabóia empoeirada, ela viu, naqueles rostos muito alvos, naqueles cabelos louros, naqueles olhos azuis, de um azul tão doce e imaterial, santos, gênios, alguma cousa de oratório, de igreja, da mitologia de suas crenças híbridas e ainda selvagens.

Ao fim de instantes de muda contemplação, continuou o seu caminho, carregando baldes, jarros, moringues, inebriada na visão, enquanto a sua patroa e os ingleses iniciaram a descida, durante a qual não se cansou Mme. Barbosa de elogiar o sossego e o respeito que havia na sua casa. Mister dizia - yes; e miss também- yes.

Prometeram mandar as malas no dia seguinte e a dona da pensão, tão comovida e honrada com a futura presença de tão soberbos hóspedes, que nem lhes falou no pagamento adiantado ou fiança.

Na porta da rua, ainda madame se deixou ficar embevecida, contemplando os ingleses. Viu-os entrar no bonde; admirou-lhes o império verdadeiramente britânico com que ordenaram a parada do veículo e a segurança com que se colocaram nele; e só depois de perdê-los de vista foi que leu o cartão que o cavalheiro lhe dera:

— George T. Mac. Nabs—C. E.

Radiante, certa da prosperidade de sua pensão, antevendo a sua futura riqueza e descanso dos seus velhos dias, Dona Sinhá, no carinhoso tratamento da Angélica, penetrou pelo interior do casarão adentro com um demorado sorriso nos lábios e uma grande satisfação no olhar.

Quando chegou a hora do almoço, logo que os hóspedes se reuniram na sala de jantar, Mme. Barbosa procurou um pretexto para anunciar aos seus comensais a boa nova, a notícia maravilhosamente feliz da vinda de dois ingleses para a sua casa de pensão.

Olhando a sala, escolhera a mesa que destinaria ao tio e sobrinha. Ficaria a um canto, bem junto à última janela, que dava para a rua, ao lado, e à primeira que se voltava para o quintal. Era o lugar mais fresco da sala e também o mais cômodo, por ficar bem distante das outras mesas. E, pensando nessa homenagem aos seus novos fregueses, de pé na sala, encostada ao imenso étagère, foi que Mme. Barbosa recomendou ao copeiro em voz alta:

— Pedro, amanhã reserve a "mesa das janelas" para os novos hóspedes.

A sala de jantar da Pensão "Boa Vista" tinha a clássica mesa de centro e outras pequenas ao redor. Forrada de papel cor-de-rosa com ramagens, era decorada com umas velhas e empoeiradas oleogravuras, representando peças de caça, mortas, entre as quais um coelho que teimava em voltar o ventre encardido para fora do quadro, dando aos fregueses de Mme. Barbosa sugestões de festins luculescos. Havia também algumas de frutas e um espelho oval. Era dos poucos compartimentos da casa que não sofrera alteração o mais bem iluminado. Tinha três janelas que davam para a rua, à esquerda, e duas outras, com uma porta ao centro, que miravam o quintal, além das comunicações interiores.

Ouvindo tão imprevista recomendação, os hóspedes todos dirigiram o olhar para ela, cheios de estranheza, como querendo perguntar quem eram os hóspedes merecedores de tão excessiva homenagem; mas a pergunta que estava em todos os olhos só foi feita por Dona Sofia. Sendo a mais antiga hóspede e possuindo uma razoável renda em prédios e apólices, gozava esta última senhora de uma tal ou qual intimidade com a proprietária. Dessa forma, sem rodeios, suspendendo um instante a refeição já começada, perguntou:

— Quem são esses príncipes, madame?

Mme. Barbosa retrucou bem alto e com certo orgulho:

— Uns ingleses ricos—tio e sobrinha.

Dona Sofia, que farejava desconfiada o contentamento da viúva Barbosa com os novos inquilinos, não pôde evitar um movimento de mau humor: arrebitou mais o nariz, já de si arrebitado, deu um muxoxo e observou:

— Não gosto desses estrangeiros.

Dona Sofia havia sido casada com um negociante português que a deixara viúva rica; por isso, e muito naturalmente, não gostava desses estrangeiros; mas teve logo, para contrariá-la, a opinião do doutor Benevente.

— Não diga tal, Dona Sofia. O que nós precisamos é de estrangeiros... Que venham... Demais, os ingleses são, por todos os títulos, credores da nossa admiração.

De há muito, o doutor procurava captar a simpatia da rica viúva, cuja abastança, famosa na pensão, atraía-o, embora a vulgaridade dela devesse repeli-lo.

Dona Sofia não respondeu à contestação do bacharel e continuou a almoçar, cheia do mais absoluto desdém.

Magalhães, no entanto, julgou-se obrigado a dizer qualquer cousa, e o fez nestes termos:

— O doutor gosta dos ingleses; pois olhe: não simpatizo com eles... Um povo frio, egoísta. `

— E um engano, veio com pressa Benevente. A Inglaterra está cheia de grandes estabelecimentos de caridade, de instrução, criados e mantidos pela iniciativa particular... Os ingleses não são esses egoístas que dizem. O que eles não são é esses sentimentais piegas que nós somos, choramingas e incapazes. São fortes e...

— Fortes! Uns ladrões! Uns usurpadores! exclamou o Major Meto.

Meto era um empregado público, promovido, guindado pela República, que impressionava à primeira vista pelo seu aspecto de candidato à apoplexia. Quem lhe visse o rosto sangüíneo, o pescoço taurino, não lhe podia vaticinar outro fim. Morava com a mulher na pensão, desde que casara as filhas; e, tendo sido auxiliar, ou cousa que valha do Marechal Floriano, guardava no espírito aquele jacobinismo do 93, jacobinismo de exclamações e objurgatórias, que era o seu modo habitual de falar.

Benevente, muito calmo, sorrindo com ironia superior, como se estivesse a discutir numa academia, com outro confrade, foi ao encontro do adversário furioso:

— Meu caro senhor; é do mundo: os fortes devem vencer os fracos. Estamos condenados...

O bacharel usava e abusava desse fácil darwinismo de segunda mão; era o seu sistema favorito, com o qual se dava ares de erudição superior. A bem dizer, nunca lera Darwin e confundia o que o próprio sábio inglês chama de metáforas, com realidades, existências, verdades inconcussas. Do que a crítica tem oposto aos exageros dos discípulos de Darwin, dos seus amplificadores literários ou sociais, do que, enfim, se vem chamando as limitações do darwinismo, ele nada sabia, mas falava com a segurança de inovador de há quarenta anos passados e ênfase de bacharel recente, sem as hesitações e dúvidas do verdadeiro estudioso, como se tivesse entre as mãos a explicação cabal do mistério da vida e das sociedades. Essa segurança, certamente inferior, dava-lhe força e o impunha aos tolos e néscios; e, só uma inteligência mais fina, mais apta a desmontar máquinas de embuste, seria capaz de fazer reservas discretas aos méritos de Benevente. Na pensão, porém, onde as não havia, todos recebiam aquelas afirmações como ousadias inteligentes, sábias e ultramodernas.

Melo, ouvindo a afirmação do doutor, não se conteve, exaltou-se e exclamou:

— E por isso que não progredimos... Homens há, como o senhor, que dizem tais cousas... Nós precisávamos de Floriano... Aquele sim...

O nome de Floriano era para Melo uma espécie de amuleto patriótico, de égide da nacionalidade. O seu gênio político seria capaz de fazer todos os milagres, de realizar todos os progressos e modificações na índole do país.

Benevente não lhe deixou muito tempo e objetou, pondo de lado a parte de Floriano:

— E um fato, meu caro senhor. O nosso amor à verdade leva-nos a tal convicção. Que se há de fazer? A ciência prova.

A palavra altissonante de ciência, pronunciada naquela sala mediocremente espiritual, ressoou com estridências de clarim a anunciar vitória. Dona Sofia virou-se e olhou com espanto o bacharel; Magalhães abaixou afirmativamente a cabeça; Irene arregalou os olhos; e Mme. Barbosa deixou de arrumar as xícaras de chá no étugère.

Melo não discutiu mais e Benevente continuou a exaltar as virtudes dos ingleses. Todos concordaram com ele sobre os grandes méritos do povo britânico: a sua capacidade de iniciativa, a sua audácia comercial, industrial e financeira, a sua honestidade, a sua lealdade e, sobretudo, rematou Florentino: a sua moralidade.

— Na Inglaterra, afirmou este último, os rapazes se casam tão puros como as raparigas.

Irene enrubesceu ligeiramente e Dona Sofia levantou-se estrepitosamente, arrastando a cadeira em que estava sentada.

Florentino, hóspede quase sempre mudo, era um velho juiz de direito aposentado, espiritista convencido, que vagava no mundo o olhar perdido de quem perscruta o invisível.

Não percebeu que a sua afirmação havia escandalizado as senhoras e continuou serenamente:

— Lá não há esse nosso desregramento, essa falta de respeito, essa impudicícia de costumes... Há moral... O senhor quer ver uma cousa: outro dia fui ao teatro. Quer saber o que me aconteceu? Não pude ficar lá... Era tal a imoralidade que...

— Que peça era, doutor?—indagou Mme. Barbosa.

— Não sei bem... Era Iaiá me deixe.

— Ainda não vi, disse candidamente Irene.

— Pois não vá, menina! fez com indignação o doutor Florentino. Não se esqueça do que Marcos diz: "Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe, isto é, de Jesus."

Florentino gostava dos Evangelhos e os citava a cada passo, com ou sem propósito.

Alguns hóspedes levantaram-se, muitos já se tinham retirado. A sala esvaziava-se e não tardou que o jovem Benevente se erguesse também e saísse. Antes passeou pela sala o seu olhar de pequeno símio, cheio de pequeninas espertezas, rematou sentenciosamente:

— Todos os povos fortes, como os homens, são morais, isto é, são castos, doutor Florentino. Concordo com o senhor.

Conforme tinham prometido, no dia seguinte, vieram as malas dos ingleses; mas não apareceram nesse dia na sala de jantar, nem em outras partes da pensão se mostraram aos hóspedes. Só no outro dia imediato, pela manhã, à hora do almoço, foram vistos. Entraram sem descansar o olhar sobre ninguém; cumprimentaram entre os dentes e foram sentar-se no lugar que Mme. Barbosa lhes indicou.

Como parecessem não gostar dos pratos que lhes foram apresentados, Dona Sinhá apressou-se em ir receber as suas ordens e logo se pôs a par de suas exigências e correu à cozinha para as providências necessárias.

Miss Edith, como se sonhe mais tarde chamar-se a moça inglesa, e o tio comiam calados, lendo cada um para o seu lado, desinteressados de toda a sala.

Vendo Dona Sofia os rapapés que a dona da pensão fazia ao par albiônico, não pôde deixar de dar um muxoxo, que era o seu modo costumeiro de criticar e desprezar.

Todos, porém, olhavam de soslaio para os dois, sem animo de dirigir-lhes a palavra ou fixá-los mais demoradamente. Assim foi o primeiro e nos dias que se seguiram. A sala fez-se silenciosa; as conversas bulhentos cessaram; e, se alguém queria pedir qualquer cousa ao copeiro, falava baixo. Era como se de todos se tivesse apossado a emoção que a presença dos ingleses trouxera ao débil e infantil espírito da preta Angélica.

Os hóspedes acharam neles não sei o que de superior, de superterrestre; deslumbraram-se e acharam-se de um respeito religioso diante daquelas banalíssimas criaturas nascidas numa ilha da Europa ocidental.

A moça, mais que o homem, inspirava esse respeito. Ela não tinha a fealdade habitual das inglesas de exportação. Era até bem gentil de rosto, com uma boca leve e uns lindos cabelos louros, a puxar para o veneziano de fogo. As suas atitudes eram graves e os seus movimentos lentos, sem preguiça ou indolência. Vestia-se com simplicidade e discreta elegância.

O inglês era outra coisa: brutal de modos e fisionomia. Posava sempre de Lord Nelson ou Duque de Wellington; olhava todos com desdém e superioridade esmagadora e realçava essa sua superioridade não usando ceroulas, ou vestindo blusas de jogadores de golf ou bebendo cerveja com rum.

Não se ligaram a ninguém na pensão e todos suportavam aquele desprezo como justo e digno de entes tão superiores.

Nem mesmo à tarde, quando, após o jantar, vinham todos, ou quase, para a sala da frente, eles se dignavam trocar palavras com os companheiros de casa. Afastavam-se e iam para a porta da rua, onde se mantinham geralmente calados: o inglês fumando, com os olhos semicerrados, como se incubasse pensamentos transcendentes; e Miss Edith, com o cotovelo direito apoiado no braço da cadeira e a mão na face, olhando as nuvens, o céu, as montanhas, o mar, todos esses mistérios fundidos na hora misteriosa do crepúsculo, como se o quisesse absorver, decifrá-lo e tirar dele o segredo das cousas futuras. Os poetas que passassem no bonde, certamente, veriam nela uma casta druidesa, uma Veleda, descobrindo naquele instante imperecível o que havia de ser pelos dias vindouros em fora.

Eram assim na pensão, onde faziam trabalhar as imaginações no imenso campo do sonho. Benevente julgava-os nobres, um duque e sobrinha; tinham o ar de raça, maneiras de comando, depósito da hereditariedade secular dos seus ancestrais, começando por algum vagabundo companheiro de Guilherme da Normandia; Magalhães pensava-os parentes dos Rothschilds; Mme. Barbosa supunha Mr. Mac. Nabs gerente de um banco, metendo todos os dias as mãos em tesouros da gruta de Ali-Babá; Irene admitia que ele fosse um almirante, viajando por todos os mares da terra, a bordo de poderoso couraçado; Florentino, que consultara os espaços, sabia-os protegidos por um espírito superior; e o próprio Meio calara a sua indignação jacobina para admirar as fortes botas do inglês, que pareciam durar a eternidade.

Todo o tempo em que estiveram na pensão, o sentimento, que a respeito deles dominava os seus companheiros de casa, não se modificou. Até em alguns cresceu, solidificou-se, cristalizou-se em uma admiração beata e a própria Dona Sofia, vendo que a sua consideração na casa não diminuía, partilhou a admiração geral.

Em Angélica, a cousa tomara feição intensamente religiosa. Pela manhã, quando levava chocolate ao quarto da miss, a pobre preta entrava medrosa, tímida, sem saber como tratar a moça, se de dona, se de moça, se de patroa, se de minha Nossa Senhora.

Muitas vezes temia interromper-lhe o sono, quebrar-lhe o sereno encanto do rosto adormecido na moldura dos cabelos louros. Deixava o chocolate sobre a mesa de cabeceira; a infusão esfriava e a pobre negra era mais tarde repreendida, em uma algaravia ininteligível, pela deusa que ela adorava. Não se emendava, porém; e, se encontrava a inglesa dormindo, a emoção do momento apagava a lembrança da repreensão. Angélica deixava o chocolate a esfriar, não despertava a moça e era de novo repreendida.

Em uma dessas manhãs, em que a preta foi levar o chocolate à sobrinha de Mr. George, com grande surpresa sua, não a encontrou no quarto. Em começo pensou que estivesse no banheiro; mas havia passado por ele e o vira aberto. Onde estaria? Farejou um milagre, uma ascensão aos céus, por entre nuvens douradas; e a miss bem o merecia, com o seu rosto tão puramente oval e aqueles olhos de céu sem nuvens...

Premida pelo serviço, Angélica saiu do aposento da inglesa; e foi nesse instante que viu a santa sair do quarto do tio, em trajes de dormir. O espanto foi imenso, a sua ingenuidade dissipou-se e a verdade queimou-lhe os olhos. Deixou-a entrar no quarto e, cá no corredor, mal equilibrando a bandeja nas mãos, a deslumbrada criada murmurou entre os dentes:

— Que pouca vergonha! Vá a gente fiar-se nesses estrangeiros... Eles são como nós...

E continuou pelos quartos, no seu humilde e desprezado mister.


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 01 de agosto de 2022

O TROCO (CONTO DO MARANHENSE HUMBERTO DE CAMPOS)

O TROCO

Humberto de Campos

(Grafia original)

 

12 de janeiro.

O Joaquim P'reira acabava de chegar da "terra" com o seu chapelão de abas largas e seu sólido jaquetão de veludo, quando "sô" Manoel Guimarães, proprietário da Padaria "Flor de Braga", o convidou para caixeiro.

- O essencial - avisou, entretanto, "sô" Manoel, - é que sejas honesto. O outro rapaz que eu cá tinha, pu-lo eu ontem na rua por m'haver deitado fora dois mil réis que dele não eram. Toma tu juízo, que, cá, comigo, prosp'rarás.

O Joaquim prometeu não bulir, jamais, em dinheiro da casa, e, dois dias depois, era admitido, com todos os sacramentos da rosca e da farinha de trigo, como caixeiro da "Flor de Braga". E estava já há uma semana no emprego, quando "sô" Manoel o chamou:

- "Sô" P'reira?

- Cá 'stou! - acudiu o Joaquim.

- Vá à casa do Almeida, no principio da rua, e receba esta conta de vinte mil réis.

E recomendou, prudente:

- Cuidado com o dinheiro!

O Joaquim pegou na conta, foi à casa indicada, recebeu uma cédula de vinte mil réis, e vinha, reto, no rumo da padaria, quando se encontrou com um conterrâneo, o Zé Moreira, a quem não tinha visto desde a chegada. Trocados os primeiros abraços, o Moreira convidou:

- Vamos solenizar o encontro! Arre, lá! Vamos cá à cervejaria!

Aceito o convite, foram os dois, beberam duas garrafas, trocaram notícias e saudades, e ia o Joaquim despedir-se, quando o Zé reclamou:

- E quem paga isso?

- Tu; ora essa!

- Mas eu cá não tenho um vintém; e se não pagares tu, iremos os dois bater à cadeia, o que é pior!

Amedrontado e arrependido, o Joaquim arrancou do bolso a cédula de vinte, pagou os mil e seiscentos da cerveja, recebeu dezoito mil e quatrocentos de troco, e ia pensando no meio de justificar-se perante "sô" Manoel, quando teve uma idéia, que pôs em pratica. Entrou na padaria pela porta lateral e, chamando o "Leão", um canzarrão que tomava conta da casa, pôs-se a brincar com ele, aos pulos, até que, de repente, soltou um grito.

- Que é isso lá? - trovejou "sô" Manoel, acorrendo.

Com os olhos em lágrimas, o P'reira contou o desastre:

- Foi uma desgraça, patrão! Imagine o senhôre, que eu vinha cá com o dinheiro na mão, uma cédula de vinte mil réis, e o cachorro avançou-me neles, e engoliu-os!

"Sô" Manoel franziu a testa, calculou o prejuízo, e, de um salto, estava diante do "Leão", empunhando uma garrafa de óleo de rícino. Auxiliado pelo Joaquim, abriu a boca ao animal, e, depois de purgá-lo, recomendou ao rapaz:

- Agora, fica-te cá, junto do bicho, à espera do dinheiro. Logo que ele o deite, segura-o. Meia hora depois estava "sô" Manoel de volta, a saber noticias do purgante:

- Já deitou o dinheiro? indagou do empregado.

O Joaquim, que esperava, ansioso, por esse momento, abriu a mão, e mostrou, desafogado:

- Todo, todo, não senhôre; até agora só deitou 18$400!

E entregou o troco da cerveja.


Literatura - Contos e Crônicas sábado, 30 de julho de 2022

HENRIQUE VENCESLAU (CONTO DO MARANHENSE ALUÍSIO AZEVEDO)

HENRIQUE VENCESLAU 

Aluísio Azevedo

 

Acabamos neste instante de ler a notável tese do Dr. Henrique Venceslau, e é ainda sob a mais bela impressão que vamos falar desse trabalho.

Afastando-se dos processos comuns em geral empregado na elaboração desse gênero de estudo, quase sempre feitos a contragosto, para cumprir uma formalidade de curso, e quase sempre mal escritos e insuportavelmente impregnados do cheiro de banco de academia, este novo médico imprimiu à sua tese inaugural um franco desenvolvimento de obra espontânea e até certo cunho de individualidade crítica, que lhe dão especial valor.

Quis fazer uma simples tese e fez afinal um livro, que se lê com interesse de princípio a fim, graças à fina observação, e à sinceridade com que o autor acompanha todas as fases do desenvolvimento orgânico da mulher, não com a pose fria de um médico que se compraz em acachapar o leitor sob uma chuva de termos técnicos e complicados, mas com a clareza elegante de um analista literário, que se enamora do seu assunto e toma pela mão e faz carinhosamente assentar-se a seu lado a débil e feminil criatura que observa.

Não se limita porém ao drama fisiológico que tem por teatro o delicado corpo de uma mulher; drama encantador que começa com a alvorada cor-de-rosa da puberdade e vai crescendo e atravessando todo o vermelho e fecundo período catamenial, e que acaba no frio e pálido crepúsculo da menopausa; drama singelo, como a vida de urna flor, que desabotoa, e acorda e abre sorrindo para o céu as suas pétalas mimosas, e atrai com o perfume e com o brilho das suas cores o namorado inseto, portador do pólen fecundante; e que afinal, ao cair da noite, pende da haste, emurchecida e inútil, sem nunca mais erguer o colo para o sol e para o amor.

Não se limita o autor a estudar esse drama simples que é a vida das mulheres e das rosas, entra vitoriosamente pelo mundo moral, e acompanha o outro drama da constituição íntima, o drama complicado e infernal dos fenômenos psíquicos, que são a antítese daquele.

Ou muito nos enganamos, ou nesse moço observador e nesse médico comovido e talentoso que acaba de sair da academia, atirando ao público um livro que impressiona, há estofo para fazer um escritor de primeira ordem.

Esperamos que Henrique Venceslau não seja para o futuro inteiramente absorvido pela clínica e venha ainda a enriquecer a nossa ciência e a nossa literatura, dando-nos livros que instruam e deleitem ao mesmo tempo.

A sua bela tese, se é o fecho de um curso, é também o início de uma nova carreira.

Parabéns à medicina e às letras.


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 29 de julho de 2022

AMOR E SANGUE (CONTO DO PAULISTA ALCÂNTARA MACHADO)

AMOR E SANGUE

Alcântara Machado

 

Sua impressão: a rua é que andava, não ele. Passou entre o verdureiro de grandes bigodes e a mulher de cabelo despenteado.

- Vá roubar no inferno, Seu Corrado!

Vá sofrer no inferno, Seu Nicolino! Foi o que ele ouviu de si mesmo.

- Pronto! Fica por quatrocentão.

- Mas é tomate podre, Seu Corrado!

Ia indo na manhã. A professora pública estranhou aquele ar tão triste. As bananas na porta da QUITANDA TRIPOLI ITALIANA eram de ouro por causa do sol. O Ford derrapou, maxixou, continuou bamboleando. E as chaminés das fábricas apitavam na Rua Brigadeiro Machado.

Não adiantava nada que o céu estivesse azul porque a alma de Nicolino estava negra.


- Ei, Nicolino! NICOLINO!

- Que é?

- Você está ficando surdo, rapaz! A Grazia passou agorinha mesmo.

- Des-gra-ça-da!

- Deixa de fita. Você joga amanhã contra o Esmeralda?

- Não sei ainda.

- Não sabe? Deixa de fita, rapaz! Você...

- Ciao.

- Veja lá, hein! Não vá tirar o corpo na hora. Você é a garantia da defesa.

A desgraçada já havia passado.


Ao Barbeiro Submarino. Barba: 300 réis. Cabelo: 600 Réis. Serviço Garantido.


- Bom dia!

Nicolino Fior d'Amore nem deu resposta. Foi entrando, tirando o paletó, enfiando outro branco, se sentando no fundo a espera dos fregueses. Sem dar confiança. Também Seu Salvador nem ligou.

A navalha ia e vinha no couro esticado.

- São Paulo corre hoje! É o cem contos!

O Temístocles da Prefeitura entrou sem colarinho.

- Vamos ver essa barba muito bem feita! Ai, ai! Calor pra burro. Você leu no Estado o crime de Ontem, Salvador? Banditismo indecente.

- Mas parece que o moço tinha razão de matar a moça.

- Qual tinha razão nada, seu! Bandido! Drama de amor cousa nenhuma. E amanhã está solto. Privações de sentidos. Júri indecente, meu Deus do Céu! Salvador, Salvador... - cuidado aí que tem uma espinha - ... este país está perdido!

- Todos dizem.

Nicolino fingia que não estava escutando. E assobiava a Scugnizza.


As fábricas apitavam.

Quando Grazia deu com ele na calçada abaixou a cabeça e atravessou a rua.

- Espera aí, sua fingida.

- Não quero mais falar com você.

- Não faça mais assim pra mim, Grazia. Deixa que eu vá com você. Estou ficando louco, Grazia. Escuta. Olha, Grazia! Grazia! Se você não falar mais comigo eu me mato mesmo. Escuta. Fala alguma cousa por favor.

- Me deixa! Pensa que eu sou aquela fedida da Rua Cruz Branca?

- O quê?

- É isso mesmo.

E foi almoçar correndo.

Nicolino apertou o fura-bolos entre os dentes.


As fábricas apitavam.

Grazia ria com a Rosa.

- Meu irmão foi e deu uma bruta surra na cara dele.

- Bem feito! Você é uma danada, Rosa. Xi!...

Nicolino deu um pulo monstro.

- Você não quer mesmo mais falar comigo, sua desgraçada?

- Desista!

- Mas você me paga, sua desgraçada!

- Nã-ã-o!

A punhalada derrubou-a.

- Pega! Pega! Pega!


- Eu matei ela porque estava louco, Seu Delegado!

Todos os jornais registraram essa frase que foi dita chorando.

Eu estava louco ---------------
Seu Delegado! ----------------
Matei por isso! ---------------- Bis
Sou um desgraçado! --------

O estribilho do Assassino por amor (Canção da atualidade para ser cantada coma música do "FUBÁ", letra de Spartaco Novais Panini) causou furor na zona.


Literatura - Contos e Crônicas quinta, 28 de julho de 2022

O ALIENISTA - RESUMO (CONTO DO CARIOCA MACHADO DE ASSIS)

O ALIENISTA

Machado de Assis

(Resumo)

 

O alienista é um tipo de relato em que os acontecimentos não são estritamente realistas, no sentido da verossimilhança, mas que, a exemplo de uma fábula, ilustram, simbolizam e criticam os valores da sua época.


Argumento:


Simão Bacamarte, médico formado em Portugal, instala-se em Itaguaí, no interior do Rio de Janeiro com o objetivo de estudar a loucura e sua classificação. Ou como ele próprio dizia: “A ciência, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.” Vem daí a sua idéia de confinar os loucos no mesmo local. Com apoio da Câmara Municipal, constrói um hospício, designado pelo nome de Casa Verde. Num primeiro momento, Bacamarte confina os loucos mansos, os furiosos e os monomaníacos, isto é, aqueles que a própria comunidade julgava perturbados. Num segundo momento, após muitas leituras e meditações científicas, o Dr. Bacamarte comunica a seu melhor amigo, o boticário Crispim Soares, a idéia de que “a loucura era até agora uma ilha perdida no oceano da razão;” e que ele começava a suspeitar que ela fosse um continente…


A partir de então o alienista (médico de alienados mentais) põe-se a levar para a Casa Verde cidadãos estimados e respeitados em Itaguaí. Pessoas aparentemente ajuizadas, mas que, segundo as teorias do cientista, revelavam distúrbios mentais. O terror se dissemina na pequena cidade. Ninguém mais sabe quem está são ou quem está doido. Atemorizados, os que ainda não tinham sido conduzidos para o hospício tramam uma rebelião.


O barbeiro Porfírio, cuja alcunha era Canjica, passa por cima da Câmara de Vereadores, que não ousa indispor-se com o alienista, e marcha à frente de uma multidão, rumo à Casa Verde. O levante popular – que mais tarde ficaria conhecido como a revolta dos Canjicas – termina em frente ao hospício. O Dr. Bacamarte recebe a massa rebelada com a autoridade e a coragem do grande cientista que julga ser, deixando o povo perplexo com sua serena superioridade intelectual. Nesse momento, chegam a Itaguaí os dragões (soldados) do Rei, para restaurar a ordem. No meio da confusão, os dragões acabam aderindo aos revoltosos e a revolução triunfa, tendo o barbeiro Porfírio como chefe.


Em seguida, Porfírio procura o Dr. Simão Bacamarte e diz que não pretende mais destruir o hospício. Que bastava uma revisão nos conceitos de loucura do médico, liberando os enfermos que estavam quase curados e os maníacos de pouca monta. Que isso bastaria ao povo. O alienista ouve o barbeiro, fazendo-lhe algumas perguntas sobre o que tinha acontecido nas ruas e conclui que também o líder dos Canjicas estava louco, assim como aqueles que o aclamavam. Em cinco dias, o Dr. Bacamarte mete na Casa Verde cerca de cinqüenta adeptos do novo governo, gerando outra grande indignação popular, que só termina quando entra na vila uma força militar, enviada pelo vice-rei.


A partir daí há uma “coleta desenfreada” para o hospício. Quase ninguém escapa. Tudo é loucura para o Dr. Bacamarte. O barbeiro, o boticário Crispim, o presidente da Câmara e a própria esposa do alienista, D. Evarista, são recolhidos para tratamento. Quatro quintos da população de Itaguaí já estavam “agasalhados” no seu estabelecimento, quando o médico volta a surpreender a vila, anunciando ter concluído que a verdadeira doutrina sobre a loucura não podia ser aquela e sim a oposta. Ou seja, todos os que até ali tinham sido considerados loucos eram sãos; e os sãos, loucos.


Loucos agora são aqueles que gozam de perfeito e ininterrupto equilíbrio mental. Os que têm retidão de sentimentos, generosidade, boa-fé, inclusive o padre Lopes, que sempre defendera o médico, ou um advogado que “possuía um tal conjunto de qualidades morais que era perigoso deixá-lo na rua.” Os novos alienados mentais são divididos por classes. A dos modestos, a dos tolerantes, a dos sinceros, a dos bondosos, etc.


Assim, em seu processo de cura, o Dr. Bacamarte pode “atacar de frente a qualidade predominante de cada um”. O modesto aprende o valor da vaidade; o generoso, o valor do egoísmo; o honesto, o valor da corrupção. Nunca doenças mentais tinham sido curadas tão rapidamente. Antes de um ano, todos os pacientes recebem alta. Itaguaí está livre da loucura.


Porém, no final de tudo, o alienista dá-se conta de um fato terrível: ele, Simão Bacamarte, não possuía vigor moral, amor à ciência, sagacidade e lealdade? E estas não eram as características de um verdadeiro mentecapto? Portanto o último louco da vila é ele mesmo. Então, o alienista tranca-se na Casa Verde, em busca da cura de si próprio, morrendo dezessete meses depois, “no mesmo estado em que entrou”.


Literatura - Contos e Crônicas quarta, 27 de julho de 2022

O PADEIRO (CRÔNICA DO CAPIXABA RUBEM BRAGA) VÍDEO
 

 


Literatura - Contos e Crônicas terça, 26 de julho de 2022

AMOR ACIDENTADO (CRÔNICA DA CEARENSE RACHEL DE QUEIROZ)

AMOR ACIDENTADO

Rachel de Queiroz

 

ACONTECEU ultimamente um caso que tem chamado atenção. Estava um moço noivo, de casamento marcado para daí a poucos dias, quando de repente, ao atravessar aquela avenida de mau agouro a que por isso mesmo teimam em chamar Getúlio Vargas, caiu-lhe em cima um automóvel desabrido, desses que não procuram saber se o cristão à sua frente é noivo ou é nada – querem é passante jeitoso para derrubar, como de fato este o derrubou. O mundo não é assim mesmo, incerto e enganoso? De nada vale um homem alimentar no seu coração qualquer espécie de sonhos preciosos ou de esperanças; nem vale o alto juízo que ele faça de si ou sequer o juízo que dele façam os outros; o destino está aí na sua frente, de boca aberta e dentes afiados, na figura de um automóvel, de um micróbio, de uma onda de mar, e tanto vai para o buraco o sonhador rico de promessas como o pobre desesperado para o qual a morte já chegou tarde.

Felizmente o nosso moço não chegou a ir para o buraco. Andou perto nas primeiras horas, rebentou muito osso e deitou muito sangue – mas foi socorrido a tempo, e parece que com bastante gaze, gesso e paciência acaba ficando tão perfeito ou quase tão perfeito quanto antes do desastre.

E agora chegando à parte que chama atenção e que todo mundo acha bonito: segundo foi dito antes, estava a vítima de casamento justo, juiz apalavrado, padre tratado. A noiva de vestido feito, os doces no forno e o champanha na geladeira. Em vista disso, achou o noivo que, acidentado ou não acidentado, não seria um simples capricho do chofer que iria inutilizar tantos preparativos. E pois não desdisse nada, não adiou os convites: apenas transferiu a cerimônia para a enfermaria do hospital, e em torno do seu leito de dores se procedeu ao enlace, completo e sem atraso de um minuto.

Bem fazem os que se admiram e acham bonito, porque nestes tempos cínicos e desesperados um caso assim é um sinal tangível de que o amor ainda existe no mundo na sua forma mais pura; e passados nove séculos sobre os túmulos de Abelardo e Heloísa, ainda os encontramos reencarnados na mesma fortaleza de paixão e na mesma integridade de sentimento.

Porque diante daquele homem incógnito, enfaixado, todo revestido de gesso, a moça não hesitou em encontrar o seu amado, o seu escolhido, o único que lhe serve e lhe apela à alma no meio dos bilhões de seres do planeta. Afinal, com isso se prova que o que ela amava não era o simples corpo que o automóvel massacrou – não eram aquelas pernas agora entaladas, aquelas costelas em colete de gesso, o rosto, os lábios, os olhos que a gaze está encobrindo, e que ela não pode jurar que sairão os mesmos da aventura. De tudo que havia dentro ou fora daquele corpo e desse corpo fazendo parte, é evidente que ela amava especialmente o escondido coração dentro do peito, ou a flama imortal e imponderável que sob o nome de alma costumamos dizer que mora dentro do coração.

Ele, por seu lado, ninguém pode dizer que amasse menos. Porque um indivíduo que sofreu tal subversão corpórea, mesmo que retorne à vida sem aparente alteração no seu aspecto físico, não é possível que ressurja para a vida com as mesmas disposições de espírito que costumava usar antes. O lógico é que o rapaz atrevido que caiu debaixo das quatro rodas assassinas saia do hospital um senhor morigerado, que olha duas vezes para cada esquina antes de a atravessar. E no entanto esse homem novo está pronto a endossar os compromissos do homem antigo, e não hesita e corre para o que deseja, sem faixa ou tala que o prenda – por quê? Só porque ama, porque acima da dor, e do receio físico e da preocupação com o conserto que lhe estão fazendo os doutores no triste corpo, estão as necessidades, as exigências da alma.

Vivemos em terra de muitos acidentes, e pois o problema do amor com acidentado deve estar entre nós constantemente se propondo; por isso damos publicidade ao caso do casamento no hospital e o apresentamos à meditação dos interessados. Todos nós poderemos, mais cedo ou mais tarde, estar na situação do moço ou da moça da história: e se a meditação não nos ajudar a fugir da sanha matadora do automóvel desconhecido, pelo menos nos ensinará a não perder as esperanças, e até – quem sabe – no meio da desilusão e da tristeza, de repente ver brotar um milagre.

 


Literatura - Contos e Crônicas segunda, 25 de julho de 2022

A ENGUIA (CONTO DO CARIOCA OLAVO BILAC)

A ENGUIA

Olavo Bilac

 

Ao alvorecer, na pequenina aldeia, à beira-mar, padre João, ainda estremunhado de sono, vai seguindo a praia branca, a caminho da igrejinha, que parece ao longe, clara e alegre, levantando no nevoeiro a sua torre esbelta. Lá vai o bom pároco dizer a sua missa e pregar o seu sermão de quaresma... Velho e gordo, muito velho e muito gordo, padre João é muito amado de toda a gente do lugar. E os pescadores que o vêm, vão deixando as redes e vão também seguindo para a igreja. E o bom pároco abençoa as suas ovelhas, e vai sorrindo, sorrindo, com aquele sorriso todo bondade e todo indulgência... À porta da igreja, a Sra. Tomásia, velha devota que o adora, vem ao encontro dele: 
— Padre João! Aqui está um regalo que lhe quero oferecer para o seu almocinho de hoje... 
E tira do cabaz uma enguia, uma soberba enguia, grossa e apetitosa, viva, remexendo-se. 
— Deus te pague, filha! — diz o bom padre, — e os seus olhos fulguram, cheios de júbilo e gula. E segura a enguia, e vai entrando com ela na mão, seguido da velha devota. Que bela enguia! e padre João apalpa voluptuosamente o peixe... 
Mas já aí vem o sacristão. A igreja está cheia... A missa vai começar... Que há de fazer o padre João da sua formosa enguia? Deixá-la ali, expô-la ao apetite do padre Antônio, que também é guloso? Padre João não hesita: levanta a batina e com um barbante amarra a enguia em roda da cintura. 
A missa acaba. Padre João, comovido e grave, sobe ao púlpito rústico da igreja. E a sua voz pausada começa a narrar a delícia da abstinência e das privações: é preciso amar a Deus... é preciso evitar as torpezas do mundo... é preciso fugir das tentações da carne... E o auditório ouve com recolhimento a palavra suave do seu bom pároco. 
Mas, de repente, que é aquilo? Os homens abrem os olhos espantados; remexem-se as mulheres, levantando curiosamente os olhares para o púlpito... É que, na barriga do padre João, debaixo da batina, alguma coisa grossa está bolindo... E já na multidão de fiéis correm uns risinhos abafados... 
Padre João compreende. Pobre pároco! pobre pároco atrapalhado! cora até a raiz dos cabelos, balbucia, fica tonto e confuso. Depois, cria coragem e, vencendo a vergonha, exclama: 
— Não é nada do que pensais, filhas! Não é carne! É peixe! É peixe! Não é carne!... 
E sacode no ar, com a mão tremula, a enguia da senhora Tomásia...

Literatura - Contos e Crônicas domingo, 24 de julho de 2022

AS CRIANÇAS QUE MATAM (CONTO DO CARIOCA JOÃO DO RIO)

AS CRIANÇAS QUE MATAM

João do Rio

(Grafia original)

 

É assombrosa a proporção do crime nesta cidade, e principalmente do crime praticado por crianças! Estamos a precisar de uma liga para a proteção das crianças, como a imaginava o velho Júlio Vallés…

– Que houve de mais? – indagou Sertório de Azambuja, estirando-se no largo divã forrado de brocado cor de ouro velho.

– Vê o jornal. Na Saúde, um bandido de treze anos acaba de assassinar um garotinho de nove. É horrível!

O meu amigo teve um gesto displicente.

– Crime sem interesse… A menos que não se dê um caso de genialidade, um homem só pode cometer um belo crime, um assassinato digno, depois dos dezesseis anos. Uma criança está sempre sujeita aos desatinos da idade. Ora, o assassinato só se torna admirável quando o assassino fica impune e realiza integralmente a sua obra. Desde Caim nós temos na pele o gosto apavorador do assassinato. Não estejas a olhar para mim assim assustado. As mais frágeis criaturas procuram nos jornais a notícia das cenas de sangue. Não há homem que, durante um segundo ao menos, não pense em matar sem ser preso. E o assassínio é de tal forma a inutilidade necessária ao prazer imaginativo da humanidade, que ninguém se abala para ver um homem morto de morte natural, mas toda gente corre ao necrotério ou ao local do crime para admirar a cabeça degolada ou a prova inicial do crime. Dado o grau de civilização atual, civilização que tem em germe todas as decadências, o crime tende a aumentar, como aumentam os orçamentos das grandes potências, e com uma percentagem cada vez maior de impunidade. Lembra-te das reflexões de Thomas de Quincey na sua pedagogia do crime. É dele esta frase profunda: “O público que lê jornais contenta-se com qualquer coisa sangrenta; os espíritos superiores exigem alguma coisa mais…”

Humilhadamente, dobrei o jornal:

– Então só os espíritos superiores?…

– Podem realizar um crime brilhante. Esse caso da Saúde não tem importância alguma. É antes um exemplo comum da influência do bairro, desse bairro rubro, cuja história sombria passa através dos anos encharcada de sangue. Nunca foste ao bairro rubro? Queres lá ir agora? São oito horas. Vamos? Vem daí…

Descemos. Estava uma noite ameaçadora. No céu escuro, carregado de nuvens, relâmpagos acendiam clarões fugazes. A atmosfera abafava. Uma agonia vaga pairava na luz dos combustores.

Sertário de Azambuja ia de chapéu mole, com um lenço de seda à guisa de gravata. Ao chegar ao Largo do Machado, chamou um carro, mandou tocar para o começo da Rua da Imperatriz.

– Que te parece o nosso passeio? Estamos como Dorian Gray, partindo para o vício inconfessável. Lord Henry dizia: “Curar os sentidos por meio da alma e a alma por meio dos sentidos”. Vamos entrar no outro mundo..

Eu atirara-me para o fundo da vitória de praça e via vaga-mente a iluminação das casas, os grandes panos de sombra das ruas pouco iluminadas, a multidão, na escuridão às vezes, às vezes queimada na fulguração de uma luz intensa, os risos, os gritos, o barulho de uma cidade que se atravessa. Na Rua Marechal Floriano, Sertório pagou ao cocheiro, dizendo:

– Saltaremos em movimento.

E para mim:

– Não vale dar na vista…

Um instante depois saltou. Acompanhei-o. O carro continuou a rodar. O bairro rubro não é um distrito, uma freguesia: é uma reunião de ruas pertencentes a diversos distritos, mas que misteriosamente, para além das forças humanas, conseguiu criar a rede tenebrosa, o encadeamento lúgubre da miséria e do crime, insaciáveis. A Rua da Imperatriz é um dos corredores de entrada.

O bairro onde o assassinato é natural abraça a Rua da Saúde, com todos os becos, vielas e pequenos cais que dela partem, a Rua da Harmonia, a do Propósito, a do Conselheiro Zacarias, que são paralelas à da Gamboa, a do Santo Cristo, a do Livramento e a atual Rua do Acre. Naturalmente as ruas que as limitam ou que nelas terminam – São Jorge, Conceição, Costa, Senador Pompeu, América, Vidal de Negreiros e a Praia do Saco – participam do estado de alma dominante.

Toda essa parte da cidade, uma das mais antigas, ainda cheia de recordações coloniais, tem, a cada passo, um traço de história lúgubre. A Rua da Gamboa é escura, cheia de pó, com um cemitério entre a casaria; a da Harmonia já se chamou do Cemitério, por ter aí existido a necrópole dos escravos vindos da costa da África; a da Saúde, cheia de trapiches, irradiando ruelas e becos, trepando morro acima os seus tentáculos, é o caminho do desespero; a da Prainha, mesmo hoje aberta, com prédios novos, causa, à noite, uma impressão de susto.

Como dizia o meu guia, estávamos num novo mundo…

A Rua da Imperatriz, às oito e meia, com uma porção de casas comerciais velhas e tão juntas, tão trepadas na calçada, que parecem despejadas na rua, estava em plena febre. Os botequins reles, as barbearias sujas, as tascas imundas gargulejavam gente, e essa gente era curiosa – trabalhadores em mangas de camisa, carroceiros, carregadores, fumando mata-ratos infectos, cuspinhando cachaça em altos berros, num calão de imprevisto, e rapazes mulatos, brancos, de grandes calças a balão, chapéu ao alto, a se arrastarem bamboleando o passo, ou em tabernas barulhentas. A nossa passagem era acompanhada com um olhar de ironia, e bastava parar dois segundos defronte de uma taberna, para que dentro todos os olhos se cravassem em nós.

Eu sentia acentuar-se um mal-estar bizarro. Sertório ria.

– A vulgaridade da populaça! Há por aqui, entre esses marçanos fortes, gente boa. Há também ruim. Estão fatalmente destinados ou a apanhar ou a dar, desde crianças. É a vida. Alguns são perversos: provocam, matam. Vais ver. Nasceram aqui, de pais trabalhadores…

Tínhamos chegado à Rua Camerino, esquina da da Saúde. Há aí uma venda com um pequeno terraço de entrada. O prédio desfaz-se, mas dentro redemoinha uma turba estranha: negralhões às guinadas, inteiramente bêbedos, adolescentes ricos de músculos, embarcadiços, foguistas.

Fala-se uma língua babélica, com termos da África, expressões portuguesas, frases inglesas. Uns cantam, outros rouquejam insultos. Sertório aproxima-se de um grupo. Há um mulato de tamancos, que parece um arenque ensalmonado, no meio da roda. O mulato cuspinha:

– Go on, go on… yeah. farewell! yeah!

É brasileiro. Está aprendendo todas essas línguas estrangeiras com os práticos ingleses.

Há um venerável ancião, da Colônia do Cabo, tão alcoolizado que não consegue senão fazer um gesto de enjôo; há um copta, apanhado por um navio de carga no Mar Vermelho; há dois negrinhos retintos, com os dentes de uma alvura estranha, que bradam:

– Eh oui, petit monsieur, nous sommes du Congo. Étudiés avec pères blancs…

Todos incondicionalmente abominam o Rio: querem partir.

Sertório paga maduros; eles fazem roda. O mulato brasileiro está delicado.

– Hip! Hip! Cambada! Para mostrar a vocês que cá na terra há gente para embrulhar língua direito! Agüente, negrada!
– Sai burrique! – grunhe o ancião.

Dando guinadas com os copos a escorrer o líquido sujo do maduro, essa tropa parecia toda vacilar com a casa, com as luzes, com os caixeiros. Saí antes, meio tonto. Sertório livrava-se da matilha distribuindo níqueis.

Quando conseguiu não ser acompanhado, meteu-se pelo beco. Segui-o e, de repente, nós demos nos trechos silenciosos e lúgubres. Nas ruas, a escuridão era quase completa. Um transeunte ao longe anunciava-se pelo ruído dos passos.

De vez em quando uma rótula aberta e dentro uma sombra. Que lugares eram aqueles? O outro mundo! A outra cidade! A atmosfera era aquecida pelo cheiro penetrante e pesado dos grandes trapiches. Em alguns trechos, a treva era total. Na passagem da estrada de ferro, a luz elétrica, muito fraca, espalhava-se como um sudário de angústias.

Foi então que começamos a encontrar em cada esquina, ou sentados nas soleiras das portas, ou em plena calçada, uns rapazes, alguns crescidos, outros pequenos. À nossa passagem calavam-se, riam. Mas nós íamos seguindo, cada vez mais curiosos.

Afinal, demos no Largo da Harmonia, deserto e lamentável. À porta da igreja uma outra roda, maior que as outras, confabulava. Aproximamo-nos.

– Boa noite!

– Boa noite! – respondeu um pretalhão, erguendo-se com os tamancos na mão.

Os outros ficaram hesitantes, desconfiando da amabilidade.

– Que fazem vocês aí?

– Nós? – indagou um rapazola já de buço, gingando o corpo – Contamos histórias: ora aí tem! Interessa-lhe muito?

– Histórias! Mas eu gosto de histórias. Quem as conta?

– Isso é costume cá no bairro. Há rapazes que sabem contar que até dá gosto. Aqui quem estava contando era o José, este caturrita…

Era um pequeno franzino, magro, com uma estranha luz nos olhos.

Talvez matasse amanha, talvez roubasse! Estava ingenuamente contando histórias…

Sertório insistia, entretanto, para ouvi-lo. Ele não se fez de rogado. Tossiu, pôs as mãos nos joelhos…

– Era uma vez uma princesa, que tinha uma estrela de briIhantes na testa.

A roda caíra de novo num silêncio atento. A escuridão parecia aumentar, e, involuntariamente, ou e o meu amigo sentimos na alma a emoção inenarrável que a bondade do que julgamos mau sempre nos causa…


Literatura - Contos e Crônicas sábado, 23 de julho de 2022

A NOIVA (CONTO DO MARANHENSE HUMBERTO DE CAMPOS)

A NOIVA

Humberto de Campos

(Grafia original)

 

Após um dia de trabalho intenso, consumido no manuseio de velhos volumes adquiridos nos alfarrabistas para uma obra erudição, o poeta Silvestre de Morais vira desabrochar nas alturas, através da janela aberta, as primeiras estrelas daquela da noite de verão. Fora, no jardim, as árvores repousavam, imóveis, como se rezassem, mudas, preparando-se para adormecer. De espaço a espaço, um morcego cortava com a lâmina da asa o manto espesso da noite, como um pequenino aeroplano sinistro que se exercitasse, rápido, em funambulescos vôos de fantasia.

Com os dedos da mão esquerda mergulhados nos cabelos revoltos, o poeta lia, debruçado sobre o volume, à luz da lâmpada suavemente velada, aquelas histórias de fogo e de sangue, quando, de repente, os seus olhos se contraíram diante de uma surpresa. Abaixou mais a cabeça, escancarou mais o livro, e viu: entre as duas páginas abertas, fulgia, como um risco de ouro, um fio de cabelo, brilhante, fino, quase imperceptível. Encantado com a descoberta, o sonhador arrancou-o, com a ponta de um alfinete, do esconderijo em que o tempo o sepultara, estendeu-o, cuidadoso, ao comprido da página lida, e quedou-se a olhar aquela réstia de luz cristalizada, admirando-lhe a maciez, o brilho, a delicadeza.

- De onde teria vindo aquele misterioso raio de sol? Como teria caído ali, entre as páginas daquele volume de tragédias? Que cabeça feminina se teria curvado sobre aquelas folhas tenebrosas que reviviam, passados tantos séculos, os mais terríveis dramas de amor?

Meditava assim o poeta, com os olhos fitos no faiscante fio de ouro, quando as suas pálpebras se cerraram, tocadas pelas mãos invisíveis do sono. E, como sempre acontece aos que sonham sem dormir, o sonho, continuou, no sono, o encanto da realidade.

De olhos fechados, Silvestre de Morais continuava, por isso, a ver, como se os tivesse abertos, o dourado fio de seda. Olhava-o e, não sabe como, via-o, aos poucos, crescer, desdobrar-se, multiplicar-se. Intrigado, fitou melhor o raiozinho fulgurante, e recuou, com espanto. Agora não era mais o livro, o que via: em lugar da página amarelecida, o que lhe aparecia, cortado pelo cabelo de ouro, era um rosto feminino muito pálido, muito triste, macerado, como o das monjas. Atentou melhor, e viu, mais detidamente: diante dele, olhos em lágrimas, cabelos de ouro esparsos pela fronte úmida, havia uma mulher, jovem e linda, que lhe pedia, as mãos estendidas:

- Meu senhor, eu venho buscar, convosco, a salvação da minh'alma. Há dois séculos espero, ansiosa, esta hora, este momento, o volver desta página, de que dependeu, até hoje, a minha felicidade. O meu destino está, neste instante, nas vossas mãos. E, por Deus, sede generoso!

Atônito, maravilhado, sem compreender aquela aparição subitânea, Silvestre olhava, com a interrogação nas pupilas, a visão dolorosa, como a pedir-lhe, em silêncio, a explicação do mistério. Faces em lágrimas, olhos súplices, a moça adivinhou a inquietação, porque, de pronto, lhe explicou, estendendo para ele, como dois lírios de oratório, as mãos pequeninas e pálidas;

- Tende piedade do meu infortúnio, meu senhor! Para que servirá, tão humilde, entre vossos dedos, esse fio de cabelo? Dai-mo, pois que me dareis, com ele, a minha salvação!

Insensibilizado pela surpresa, e, não menos, pela graça triste daquela aflição infantil, o poeta quedou-se, imóvel, sem uma palavra de recusa ou de assentimento. E foi diante da sua insensibilidade que a visão maravilhosa lhe contou, sem conter as lágrimas nem recolher as mãos de pétala murcha, a história da sua infelicidade e o segredo da sua angústia.

- Eu sou uma noiva que paga, meu senhor, num castigo que se eterniza, o tributo da sua ventura passageira. Meu noivo era um poeta, como vós. Um dia, líamos, os dois, como Paolo e Francesca, o livro que tendes em mão, quando um fio do meu cabelo voou, indiscreto, e pousou nos seus dedos. Galanteador e apaixonado, ele o levou aos lábios, beijou-o, e como nos chamassem do jardim onde líamos à claridade do crepúsculo, ele marcou, com o fio imprudente, a página do livro que nos encantava. No dia seguinte, porém, meu noivo adoeceu, e morreu, sem que eu o visse. Amedrontados com a sua morte repentina, os seus parentes dispersaram os seus móveis, as suas roupas, os seus livros, distribuindo-os pelos pobres. E, entre os volumes atirados ao oceano do mundo, foi esse que se acha, hoje, em vosso poder.

- Continua... Continua... - pediu o poeta, pálido, com tremores nas mãos tateantes.

- Anos depois, - prosseguiu a visão, nervosa, aflita, precipitando as palavras, - anos depois, eu, por minha vez, morri e fui, pelos anjos, levada à presença de Deus misericordioso. Era pura e havia, na terra, espalhado pelos humildes, pelos simples, pelos pobres, as flores do meu coração. O Senhor fitou-me, porém, severo, e perguntou onde estava um dos fios do meu cabelo. E como lhe contasse como o perdera, ele me fulminou com a sentença terrível: eu só entraria na mansão do eterno repouso, da perfeita bem-aventurança, no dia em que voltasse com o fio desaparecido; porque, nenhuma virgem é digna de viver entre os anjos, gozando as doçuras do paraíso, tendo deixado nas mãos de um homem um fio, que seja, do seu cabelo!

- E por que não te apoderaste dele há mais tempo? - indagou, mais tranqüilo, o poeta.

- Não foi possível, meu senhor. Há duzentos anos, quase, eu acompanho a marcha deste livro. Durante oitenta anos fiquei a seu lado, em uma biblioteca, esperando que alguém o pedisse, o abrisse, libertando o fio do meu cabelo. Ninguém o pediu, ninguém o abriu, ninguém o leu. Atravessei com ele o mar. Vi-o em várias mãos, sem que alguém, entretanto, folheasse a página de que dependia o meu destino. Sois vós o primeiro. Se, depois, recusardes o que vos suplico, morrerá, para mim, a última esperança de paz e libertação!

E torcendo as mãozinhas murchas, pálidas, como duas flores de cera:

- Tende piedade, meu senhor! Dai-me o fio do meu cabelo!

Comovido, abalado pelo espetáculo daquela angústia, Silvestre estendeu-lhe, na ponta dos dedos, o raiozito de sol pedido com tanta sofreguidão, com tanta doçura, com tanta insistência, pela visão dolorida.

- Toma. Leva-o... - disse, entregando-lho.

Com o vento fresco da madrugada, o poeta acordou. Olhou o livro aberto, sobre o qual pousava, ainda, espalmada, a sua mão emagrecida. Procurou o fio de ouro, que vira marcando a página, antes de adormecer. Não o encontrou.

O vento, com certeza, o havia levado...


Literatura - Contos e Crônicas sexta, 22 de julho de 2022

CHOVE CHUVA (CONTO DO PARANAENSE DALTON TREVISAN)

CHOVE CHUVA

Dalton Trevisan

 

 


A fumaça da chuva sobe pela chaminé das casas e se espalha sobre a cidade. Um fio de silêncio cai de cada gota. As gatas dengosas se viram de costas para dormir. Chove chuvinha, um lado da palmeira nunca se molha.


A casa das formigas não tem porta, e quando chove, não se afogam? Piam milhares de pardais entre as folhas do chorão. Não existe melhor conchego que um barzinho. Nada como a meia grossa de lã. Apaixonadas ou não, mocinhas espirram na fila do ônibus.

Neste instante há no mínimo três mil pessoas infelizes com o sapato furado. Basta que não chova eu me chamo Felipe, o Belo. Como pisar na lama, garotas da várzea, sem sujar as sapatilhas? Orelhas de piás são puxadas por brincarem na chuva. Os mascates que vendem maçã na rua, em desespero comem as maçãs?

Não estivesse chovendo eu teria sete filhos.

Guardas de trânsito abrem os braços na esquina e apitam: por que choves, Senhor? Chove que chuva, apaga o meu recado de amor no muro.

Mães pensam nos filhos tão longe, uns dedos trêmulos na vidraça: dona mãe, me deixa entrar. Em cada lata vazia repicam os sinos da chuva.

As mãos no bolso não esquentam. Alguns viúvos choram na fila, esse ônibus nunca vem. Ora, gotas de chuva, pensam os vizinhos. Todos querem esse guarda- -chuva esquecido num dia de sol, quando havia sol.

Os rabanetes no canteiro pulam as cabecinhas de fora.

Os armários das velhas casas estalam. Antigos baús são abertos, dia ruim para as traças. Há medo de vampiro na cidade.

Asinhas encharcadas, filhotes de pardais caem das árvores e se afogam nas poças.

As vovozinhas choram de frio na beira do fogão de lenha. Cães arranham a porta, licença para entrar. A sopa de caldo de feijão, epa! te queimou a língua.

Mesmo com chuva, há pares de namorados à sombra das árvores. Nem a chuva tira uma solteirona da janela.

Chapinhando as poças investe uma trinca de gordalhufas – pra cá pra lá, bundalhões hotentotes tremelicantes!

Senhor, tão bom se não chovesse. Ah, não chovesse, eu usaria barbicha. Não tivesse chovido eu casava com a Lia e não a Raquel.

Pra onde fogem os sorveteiros quando chove? Se chove, mais difícil enfrentar o vento sul sem perder o chapéu. Homens chegam em casa esfregam o pé no capacho e sentam para comer, dizendo: chuva desgracida.

Uma rosa no teu jardim abre as mil pálpebras do único olho.

O vento despenteia a cabeleira da chuva sobre os telhados.

Mesmo quando para a chuva, as árvores continuam chovendo.

A chuva lava o rosto dos teus mortos queridos.

Literatura - Contos e Crônicas quinta, 21 de julho de 2022

O AMBICIOSO (CONTO DO MARANHENSE COELHO NETO)

O AMBICIOSO

Coelho Neto

(Grafia original)

 

De volta ao cemitério, onde, sem uma lágrima, deixara o corpo do pai, Felício recolheu-se à casa deserta, e como havia luar, nem acendeu a candeia, para poupar o azeite.

 

 
Sentando sob o alpendre, pôs-se a olhar o arvoredo frondoso, cuja folhagem reluzia à claridade, e, mais longe, ondulando, o canavial e o milho.
 
O velho aproveitara toda a terra lavradia, respeitando apenas o pequeno bosque, em que se abrigava a fonte, e onde, ele e os camaradas iam recolher os galhos secos com que alimentavam o lume.
 
Seis homens robustos trabalhavam como jornaleiros, ajudando-os no áspero labor agrícola — uns ao arado, outros na carpa, ou colhendo, ou plantando.
 
As mulheres cuidavam do serviço doméstico, e ainda raspavam a mandioca, debulhavam o milho, batiam o feijão, retiravam o mel dos favos, e reuniam, à tarde, as aves.
 
As próprias crianças eram aproveitadas, — umas guiando o gado aos pastos, outras levando a comida aos trabalhadores, à roça; e como havia fartura, era um encanto a vida no sítio que prosperava a olhos vistos.
 
Sabia-se que o velho tinha haveres; nem ele fazia mistério disso; antes afirmava com garbo, para estimular os homens ao trabalho: “O pouco que tenho, deu-me a terra, assim o ganhareis, se trabalhardes com perseverança. Eu não vos engano — tendes de mim o que mereceis. O bem que fizerdes vos será contado e pago.”
 
E assim era.
 
Felício, porém, não se continha aos sábados; mal sopitava a raiva quando o pai pagava as férias aos camaradas.
 
Aquele dinheiro, passando a mãos alheias, doía-lhe, como se fosse a suas próprias carne tirada aos tassalhos; e, sempre que se recolhia ao leito, murmurava com avareza:
 
— Hei de acabar com isto! Para que tanta gente? Um só homem basta, e esse serei eu!
 
Assim pensou, e assim fez.
 
No dia seguinte ao enterro do velho, Felício chamou os camaradas, fez-lhes as contas, e despediu-os.
 
*** 
 
Quando se viu só, Felício esfregou as mãos contente, dizendo:
 
— Agora sim! Tudo quanto fizer será meu. Não tenho mais quem coma o que eu planto, nem quem leve os meus lucros!
 
Os mesmos cães, que guardavam a roça, dando caça aos animais daninhos, foram enxotados à pedrada; e o ambicioso ficou solitário, olhando a lavoura exuberante que se desenvolvia ao sol.
 
Vieram, porém, as chuvas, e a terra entrou a produzir doidamente. O mato apontou, cresceu, invadindo as culturas, cobrindo os caminhos que desapareciam; e Felício, levantando-se muito cedo, ainda com as estrelas a luzirem no céu, saía, e lá se punha a capinar com ânsia.
 
Por não ouvir as vozes dos animais que alegravam o sítio, — um boi a mugir, uma ovelha a balar, aqui uma galinha cacarejando aos pintos, adiante a pata, com a pequenina frota penugenta dos patinhos, — ficou preocupado.
 
Por onde andariam? Talvez no pasto. Era melhor assim: não só lhe poupavam o trabalho de os tratar, como ainda, alimentando-se com o que buscavam — e avia tanta erva e eram tantos os bichinhos! — livravam-no de despesas.
 
E voltava à terra com desespero.
 
Para não perder tempo em fazer lume, almoçava uma fruta, e continuava a trabalhar, casmurro.
 
Todo seu esforço, porém, não conseguia conter a invasão. As ervas más apareciam em toda a parte; e, apenas a enxada deixava um talhão, logo os rebentos abrolhavam.
 
Às vezes, ele sentava-se à borda das rampas alagado de suor, os braços doloridos, e ficava ali inerte, com a alma cheia de desânimo, revoltado contra aquela vegetação perniciosa que lhe comprometia a lavoura. Logo, porém, excitado pela ambição, retomava a enxada e prosseguia o trabalho.
 
Em pouco tempo, a linda, viçosa lavoura de outrora desapareceu, suplantada pelo ervaçal bravio; e, onde o milho lourejava com a sua espiga de ouro desnastrada ao sol, cresceram arbustos agrestes e palhegal farfalhante, por entre os quais as cobras venenosas rastejavam chocalhando.
 
Os animais, mal a noite baixava, saíam das tocas, devorando e destruindo a plantação. Todas as manhãs, Felício parava, pesaroso, diante das covas que eles abriram à noite, e ainda achava restos de mandioca, batatas, raízes de aipim abandonadas à flor da terra.
 
Já começava a desesperar; mas sempre ambicioso, não se resolvia a recorrer aos jornaleiros.
 
Se chamasse alguns homens, tudo voltaria ao antigo viço; mas teria de lhes pagar. Não quis, insistiu no labor inútil que só o alquebrava, e, quando caía prostrado, arquejando, logo ouvia os bem-te-vis, que, das árvores, pareciam vaiá-lo e rir da sua pretensão ridícula.
 
Levantava-se, enfurecido, indignado, blasfemando, atribuindo a sua desgraça aos invejosos que haviam lançado maus olhos ao sítio.
 
Um dia, sentiu na água um sabor estranho e logo suspeitou que o andavam envenenando.
 
Subiu ao bosque para examinar a fonte. Dificilmente deu com ela, tão cheia estava de folhas e ramos podres; até cadáveres de animais boiavam em suas águas antes tão límpidas, porque o velho, de quando em quando, mandava um dos camaradas limpar a fonte para evitar que se formassem balseiros.
 
Então, lá em cima, lançando os olhos à planície, viu toda a grandeza de sua desgraça: — a roça era um mato intenso, e já em torno da casa os espinheiros cresciam e os juás davam os seus venenosos frutos de ouro.
 
As lágrimas saltaram-lhe dos olhos; e, compreendendo a sua impotência, deixou-se cair em terra Humilhado, certo que, sozinho, jamais conseguiria por cobro àquele mal que era uma vingança da terra.
 
Lembrou-se, então, dos homens, os leais trabalhadores que haviam ajudado o velho a ganhar o dinheiro que lá estava, em boas moedas, no fundo da arca.
 
Ah! Se todos ali estivessem... as árvores estariam cobertas de flores, as canas estariam crescidas em touceiras, os milhos ostentariam as gordas espigas, e o gado reluziria nédio.
 
O gado... onde andariam os seus bois, as suas ovelhas, as suas cabras, os seus cevados e bacorinhos e as aves? Fosse ele procurá-los!
 
Com um arrancado suspiro desceu vagarosamente à planície.
 
À Noite, preocupado e sem sono, pôs-se a andar pela casa deserta.
 
Saindo no alpendre, pareceu-lhe ver o velho pai sentado no banco, em que costumava ficar à noite, fumando o seu cachimbo, a olhar distraidamente as estrelas luminosas.
 
Atentou a visão, e reconheceu o defunto. Felício pôs-se a tremer, agarrado a um dos esteios, e ouviu o pai que, em voz triste, lhe disse:
 
É a ambição que te vai levando à miséria, meu filho! Quiseste, por avareza, fazer o impossível e com ânsia de tudo aproveitar, tudo perdeste. Se não houvesses despedido os auxiliares que aqui deixei, não estarias agora a lamentar o prejuízo: onde há mato haveria flor, a água correria livremente e pura, as roças estariam viçosas, e sentirias a companhia do teu semelhante, e ouvirias, no teu repouso, as vozes dos animais. Fazendo felizes serias venturoso. O muito querer é sempre prejudicial. Quem dá trabalho enriquece sorrindo; quem, do seu pão, dá uma migalha ao pobre, farta-se e faz ventura. Que conseguiste com a ambição?
 
Antes de lavrar, terão os homens que desbastar; e assim vais a pagar o teu pecado com as moedas do cofre e ainda com a humilhação. Ficaste isolado, e a urze da terra saiu a acompanhar-te. Se não quiseres que o mal entre no teu coração, enche-o de bondade: a alma virtuosa não aceita o pecado, é como a leira bem plantada e cuidada, onde não cresce o espinhal. Nos espíritos vazios, como nas terras sem cultura, nascem os maus pensamentos como rebentam os cardos. Quiseste, só com teus braços, fazer a tarefa de seis homens, e nem a tua levaste a termo: porque, mal acabavas a carpa, logo as ervas renasciam. Chama os que despediste, dá-lhes trabalho, e não penses que eles te furtam o pão, acrescentam-no e abençoam-no. O egoísta é como o areal solitário, que, por não dar vida à planta, sofre todos os rigores do sol sem o fresco dos arroios e o gozo da mais pequenina sombra. O mundo é de todos, e só é verdadeiramente feliz quando se é bom. Chama os que partiram, recebe-os na tua casa, paga-lhes o trabalho que fizerem, e eles o renovarão o que a avareza destruiu e tornarás a ver os frutos, a ouvir os gados, e outras moedas se irão juntar às que deixei na arca!
 
Felício ficou um momento amparado ao esteio, mas o silêncio não foi mais interrompido: o velho desaparecera.
 
O velho!... Teria sido ele, ou a própria consciência do avarento que assim se manifestara?... Mistério!...
 
*** 
 
Na manhã seguinte, começavam a cantar os passarinhos quando Felício desceu à vila para contratar jornaleiros.
 
Hoje, o sítio é o mais belo do lugar. A casa é nova, e, em torno dela, outras avultam; e, entre as árvores frondosas, é, da manhã à tarde, um alegre cantar de lavradores.
 
E os milhos crescem, cresce o canavial, o pomar é todo fruto, e Felício prospera, contente, vendo à volta da sua felicidade tanta gente feliz bendizê-lo.

Literatura - Contos e Crônicas quarta, 20 de julho de 2022

ATENÇÃO AO SÁBADO (CRÔNICA DA UCRANIANA-BRASILEIRA CLARICE LISPECTOR)

ATENÇÃO AO SÁBADO

Clarice Lispector

 

Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.

No sábado é que as formigas subiam pela pedra. Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho. De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana. Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?

No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde. Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais. Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.  Domingo de manhã também é a rosa da semana. Não é propriamente rosa que eu quero dizer.


Literatura - Contos e Crônicas terça, 19 de julho de 2022

50$000 DE GRATIFICAÇÃO (CONTO DO FLUMINENSE RAUL POMPÉIA)

50$000 DE GRATIFICAÇÃO

Raul Pompeia

(Grafia original)

 

Fugiu no dia 11 do corrente o escravo Lino, pardo claro, de 27 anos de idade pouco mais ou menos, estatura regular, bons dentes, porém maltratados, pequenos bigodes e alguns cabelos no queixo, tem o olhar vivo, unhas roídas e é atrevido. É muito conhecido por ser cocheiro há muitos anos do Dr. Peçanha. Levou calça branca, paletó de brim pardo, chapéu preto pequeno e anda às vezes calçado.

Protesta-se com o vigor da Lei contra quem o açoitar e gratifica-se com a quantia acima a quem prendê-lo e levá-lo à alguma estação policial ou à casa de seu Senhor, Rua do... N...

Senhor Anunciante.

Mirando-me ao espelho, reconheci, no frontispício da minha obscura cabeça, os vigorosos traços descritivos, com que encheu este anúncio a pena abalizada do seu anônimo e simpático escritor. Linha por linha, incidente por incidente, lá vem a minha fotografia. Isso não é um anúncio, é um retrato! Mirando-me ao espelho e no anúncio, entrei a hesitar, até, sem saber qual dos dois era o anúncio e qual era o espelho...

"Pardo claro..." Sou pardo claro.

Quando Deus pintou-me, por sinal estavam no atelier, à espera da sua brochadela, alguns companheiros, que, mais tarde, no mundo foram exaltados pelo destino, aos quais, à medida que subiram na escala da grandeza, foi-se-lhe o colorido gastando, de sorte que não são mais, agora, os pardos claros que nasceram... Eu, infelizmente, fiquei tal qual.

"27 anos..." É a minha idade.

"Estatura regular..." Bem regular... gabo-me disso.

"Bons dentes..." Oh! obrigado! Isso me lisonjeia em extremo...

"Porém maltratados..." Lá isso, protesto!... Eu não sou porco!... Aqui há engano com certeza... Sempre tratei carinhosamente a minha dentadura!

"Pequeno bigode..." Sim senhor, não é muito grande.

"Alguns cabelos no queixo... Justinho! Rari nantes...

"O olhar vivo..." Apoiado! Vivíssimo!... Olho vivo é a melhor regra de bem viver.

"Unhas roídas!..." Roídas! que horror! Trago-as simplesmente aparadas rente. Há sempre um meio de se obscurecer, na linguagem, os predicados alheios. Aparada rente é a nossa unha roída, roída a unha aparada dos outros.

"Atrevido..." Com licença: atrevido é mais quem chama.

Verificada a identidade dos tipos, vamos ao resto do anúncio.

"É muito conhecido por ser cocheiro há muitos anos...” Oh, qualidade rara!... "do Dr. Peçanha..."

Exatamente! Sou muito conhecido. O Larousse cita-me o glorioso nome, no volume da letra L. E com razão! eu guiava certo as minhas parelhas, em direção à Posteridade, quando a conveniência urgente de tomar ares obrigou-me a cortar a bela carreira. Apesar disso, o anúncio não mente. Sou na verdade conhecido, sou um homem universalmente popular! Dou-me muito com o Pão de Açúcar; o Corcovado fala comigo; já tive estreitas relações com o Himalaia; a coluna Vendome, quando me vê, cumprimenta-me; as pirâmides tiram-me o chapéu; as esfinges já me ofereceram cigarros uma vez; os crocodilos da Índia têm sorrisos amáveis para mim, pedem-me fogo com intimidade... Quanto aos homens, não falemos. O meu nome monopoliza perpetuamente a atenção do público, no Cairo, em Malta, em Nazaré, no Egito...

Este precioso anúncio, que me chegou às mãos inesperadamente, veio despertar-me saudades do Rio de Janeiro. Neste remoto asilo da paz onde habito, só muito raro chegam notícias do bulício do mundo. Planto café e gozo a existência bucólica e sossegada de quem tem certeza de que não faltam céus nem serras para a vida. A sede do ouro não me exaspera a garganta.

Este anúncio, todavia, que me veio lembrar a grande corte, abriu-me um pouco o apetite do ganho.

Pensei num negócio e o proponho.

Se os 50$ são oferecidos em letras gordas a quem me pagar, metade, pelo menos, o amável anunciante cederá, sem dúvida, àquele que disser ao certo o lugar onde me acho.

Vou informar eu mesmo. Tenho direito à gorjeta. Mande-a pelo correio.

Estou no Ceará, vulgo Terra da luz!

Acoutou-me a hospitaleira serra de Baturité. Proteste-se contra ela com todo o rigor da chapa.

E olha esse cobre que saia!

Serra de Baturité... de... de 1885.

Lino, agricultor.

Chegou do Norte a esta folha essa curiosa carta acompanhada do anúncio transcrito. Vinha no envelope um pedido de publicação; publico a cópia fiel.

O referido anúncio é um avulso que se distribuiu há tempos, nesta cidade, sem responsabilidade do autor, sem declaração de tipografia, à maneira desses pobres papéis pornográficos impressos que conhecem o seu estado e não o lamentam como Nise.

 


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