Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Literatura - Contos e Crônicas quinta, 23 de maio de 2024

CABO BORÓ (CRÔNICA DO LEITOR BALSENSE CAPITÃO CARLOS PEREIRA COSTA FILHO)

 

CABO BORÓ

Carlos Pereira Costa Filho

 

 

O ano era 1987. Servia eu no 71º Batalhão de Infantaria Motorizado em Garanhuns-PE, sob o comando do famoso coronel Malta, homem bastante temido por todos os subordinados.
 
Coronel Malta assumiu o comando da Unidade naquele ano em substituição ao Coronel Areski. Na primeira formatura, o comandante falou à tropa, em alto e bom som, que ele não era do tipo de comandante que pintava meio-fio para general, pois naquela época já era costume dar um trato nas guias, melhorar a faxina, enfim, deixar a casa nas melhores condições para receber o nosso chefe imediato, o General Coutinho, comandante da 10ª Brigada de Infantaria Motorizada, unidade do Exército sediada em em Recife-PE.
 
A visita de inspeção geralmente acontecia após o término do período básico de formação dos recrutas. Quando foi anunciada a visita do general, o comandante do batalhão determinou que fosse feita a pintura completa da Unidade. Foi um corre-corre adoidado. Depois, entendemos o que o novo comandante quis dizer que não pintaria meio-fio. Realmente, ele não era de pintar só meio-fio. Pintou o batalhão inteiro.
 
Os militares que serviram no 71º BIMtz naquela época e no comando desse nobre coronel sabe muito bem do que estou a dizer. Os comandantes de Subunidade ficaram loucos. Receberam as ordens do comandante da Unidade e teriam que cumpri-las a qualquer custo e em espaço de tempo muito pequeno. A sargentada se desdobrava aos extremos.
 
Na Segunda Companhia de Infantaria, havia uma figura muito conhecida que em matéria de faxina na Subunidade ou nas Guardas não havia outro igual. Era o Cabo J. da Silva, vulgo “Jota Boró”. Cabo Boró auxiliava o encarregado de material da época, o então Sargento Honório.
 
Honório, para cumprir as tarefas de faxina, teria obrigatoriamente de contar com a preciosa ajuda do Cabo Jota Boró. Os encarregados de material das outras subunidades desejavam naquele momento ter um Jota Boró como seu auxiliar. Somente a 2ª Cia tinha esse privilégio.
 
Mas, como nada é perfeito, Jota Boró, descendente de índio pancararu, no auge dos seus vinte e poucos anos de carreira, bebia e fumava cachimbo. Não era muito dado a leitura. Muito provavelmente sabia apenas assinar o nome.
 
Era praxe naquela época a existência nas Unidades desses nobres remanescentes aculturados. Alguns deles até aprendiam alguma coisa nas Escolas Regimentais; outros não demonstravam a menor habilidade na caneta de tinta, mas o Cabo Jota Boró era muito bom na caneta que ele necessitava para a limpeza. Para quem não sabe, caneta de limpeza é o sinônimo castrense de vassoura.
 
Chegado o dia da visita, fomos todos, ou quase todos, para a formatura geral do Batalhão. O comando da Brigada de Infantaria do Recife aproveitou a inspeção do período básico para verificar não somente o aprendizado dos recrutas, mas a todos os integrantes do batalhão que deveriam portar um memento no bolso contendo todas as suas atribuições e o número do seu armamento.
 
O general recebeu o comando da tropa e logo em seguida deixou a tropa em forma para ser inspecionada por alguns militares do seu comando. O general reúne o coronel comandante do 71º BIMtz e outros oficiais do comando da brigada para verificação das instalações do Batalhão.
 
Iniciou a inspeção nas seções que ficam na praça do pavilhão de comando. Após a verificação das instalações do rancho chegaram ao pavilhão das Subunidades. Logo, chegaram na 2ª Companhia. Impecável como sempre. O general deu uma olhada de passagem e já alargava a passada rumo a 1ª Companhia quando alguém da sua equipe sentiu um forte cheiro. O Coronel do Estado-Maior da Brigada, aproximou-se do local de onde vinha o cheiro de fumaça. Encontrou um militar sentado, com as pernas cruzadas, em um tamborete, na porta de entrada dos banheiros dos Cabos e Soldados. Apenas de calção e tênis sem meia o Cabo Jota Boró tirava a maior baforada no seu cachimbo.
 
O Coronel lhe dirige a palavra em tom altivo e pergunta: - O que é que você está fazendo aí, militar? Jota Boró, desconhecendo totalmente aquela autoridade, responde na maior naturalidade possível:
 
– Mandaram eu me esconder aqui por causa do "diabo de um general".
 
Aos nobres militares que tiveram o privilégio de servir naquela época, um grande e fraternal abraço, especialmente ao Cabo J. da Silva, o nosso querido Jota Boró. 
 

 


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