Filho de dos grandes nomes da MPB, Pery procurou seguir a mesma trilha
Quando o artista tem muito a oferecer acaba nos dando margens para escrever laudas e laudas a seu respeito como é o caso do saudoso Pery Ribeiro, que já é protagonista pela terceira vez aqui desta coluna. Na primeira oportunidade trouxe um pouco de sua biografia antes de estrear como cantor e os seus primeiros passos na carreira; na segunda, tive a oportunidade de trazer alguns feitos em sua biografia, a exemplo, de sua incursão pelo cinema tanto no Brasil como também no Exterior. Hoje retomo as suas histórias para, de certo modo, prestar uma homenagem a este artista que buscou na música o amparo que precisava para superar as adversidades que lhe foram impostas ainda quando criança.
Escolas existentes na então Capital Federal não aceitavam sua matrícula nem a do irmão por serem filhos de artistas, houve dado momento de sua infância/adolescência que Pery e o irmão viram-se morando em regime de internato, foram vítimas constantes do assédio da imprensa após a separação dos pais e, eram obrigado, a ouvir ouvir da boca do próprio pais mais distintos impropérios em relação à mãe. Por falar neste difícil contexto, Pery sempre procurou manter-se imparcial em relação a esta separação (tanto que para nome artístico evitou utilizar o sobrenome de ambos), mas isso não impediu de ter que lhe dar com a difícil personalidade do pai a exemplo do dia em que chegou a participar do programa do polêmico apresentador Flávio Cavalcanti por volta de 1963.
O apresentador convidou Pery para receber um troféu em um dos seus programas diante de um grande júri. Neste júri estava presente Herivelto. Ao final do programa, chegou o momento da entrega do troféu, e para isso nada mais conveniente do que Flavio chamar ao palco o pai de Pery, Herivelto, para a entregar o prêmio e falar quem sabe algumas palavras de carinho para o seu jovem e promissor filho. Ao entregar o troféu, Cavalcanti questiona Herivelto para saber quais eram as palavras a dizer ao filho naquele momento. Ríspido, o famoso compositor responde: “Só espero que você nunca precise vender este troféu para poder comer no futuro“. Constrangimento total para todos presentes, e uma tristeza desoladora para Pery.
A relação de Pery com os pais tinha dois pesos, duas medidas e um amor inabalável. Para contrabalançar toda a rispidez, autoritarismo (e porque não grosseria) que muitas vezes evidenciava-se nas atitudes de Herivelto, havia o contraste da suavidade, da doçura e da dedicação aos filhos de Dalva. Dalva foi a maior incentivadora para que Pery seguisse a carreira de cantor (enquanto o pai nunca expressou nenhum tipo de estímulo). No meio dessa guerra de nervos, só mesmo o talento e o amor a música para superar tanta instabilidade emocional. Coisa que só foi sendo superada ao longo dos anos apresentando-se nos palcos ao redor do mundo tanto ao lado da mãe quanto ao lado do pai, após a morte de Dalva. Nascido no Rio de Janeiro no dia 27 de outubro de 1937, Perry Ribeiro veio a falecer aos 74 anos depois na mesma cidade em que nasceu, para ser mais preciso ele veio a óbito no dia 24 de fevereiro de 2012, vítima de um infarto após 30 dias de hospitalizado.
Seu último registro fonográfico foi o disco duplo Pery Ribeiro Dueto Com Amigos – Abraça Simonal, um tributo ao saudoso amigo Wilson Simonal falecido no ano de 2000. Este disco trata-se de uma verdadeira celebração que conta com nomes como Caetano Veloso, Raimundo Fagner, Tony Garrido, Simoninha, Angela Maria, Alcione, Elza Soares, Carlos Dafé, Chico César, Wanderléa, Luiz Américo , e muito mais gente de peso da MPB. Sua contribuição para a boa música popular brasileira rendeu 32 álbuns, sendo 12 discos dedicados à Bossa Nova. Sim! Quase esquecia… Pery gravou a primeira versão comercial da canção “Garota de Ipanema”, sucesso em todo o mundo, em 1961.
Deixo para deleite dos amigos a canção “Laura”, composição da Antonio Carlos e Jocafi: