O Carnaval de Olinda tem o seu início oficial nos primeiros minutos do domingo quando, no Bonsucesso, o Homem da Meia Noite “bota a cabeça de fora / Aquece a folia / A rua toda estremece / No céu a lua aparece / Explode a alegria” ….
No rastro deste tradicional boneco surgem, como que saídos de um conto de fadas, a Mulher do Dia, o Menino da Tarde, o Tarado da Sé, o Capibão, dentre outras dezenas de bonecos gigantes que vão, pouco a pouco, tomando conta da paisagem.
Caboclinhos, maracatus-nação de baque virado, troças e clubes de frevo, maracatus rurais com seus caboclos de lança, blocos carnavalescos com suas orquestras de pau e cordas, tribos de índios, bois, reisados, a presença cigana nas La Ursas, turmas de palhaços colorido, multidões de alegres mascarados, estão a encher de cores ladeiras, becos, ruas e avenidas, nos dias dedicados ao Carnaval, transformando Olinda no Reino Azul da fantasia.
Batidas sincopadas de bombos dos maracatus-nação, estalidos das preacas dos caboclinhos, notas agudas e dissonantes das fanfarras de frevo, sons rurais de acordeões de La Ursas, batuques de escolas de samba, cômicas toadas de um Mateus do bumba-meu-boi, o lirismo do bloco Flor da Lira cantando, se juntam aos caboclos de lança do maracatu Piaba de Ouro de modo a se misturar com a onda de passistas seguidores dos cortejos da Pitombeiras, do Elefante, da Ceroula, do Vassourinhas, de Marim dos Caetés, ou mesmo do Eu acho é pouco, que mais parecem, na imagem de Alceu Valença, com uma enorme “cobra que desce a ladeira com gosto de gás”.
O carnaval de Olinda em nada se assemelha ao do resto do Brasil. Para o escritor Luís da Câmara Cascudo, “o carnaval dos grupos e dos ranchos, das escolas de samba do Rio de Janeiro” em nada se parece ao carnaval de Olinda, “o carnaval da participação coletiva na onda humana que se desloca, contorce e vibra na coreografia, a um tempo pessoal e geral do frevo, com a sugestão de suas marchas-frevos pernambucanas, insubstituíveis e únicas”.
Nesta paisagem carnavalesca, um ritmo é o grande responsável pela aglutinação das multidões que tomam conta das ruas, becos e avenidas da Cidade Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade durante o carnaval ou em seus momentos de alegria.
Surgido do repertório das bandas militares, o frevo pernambucano como música é o resultado da fusão da marcha, do tango brasileiro, do maxixe, da quadrilha, do galope e, mais particularmente da polca e do dobrado, que num mesmo cadinho deram origem a esta música singular de andamento alegro, ainda hoje em franca evolução rítmica e coreográfica. A partir dos anos trinta, do século passado, convencionou-se dividir o frevo em frevo-de-rua, frevo-canção e frevo-de-bloco.
Como no frevo de Severino Luiz Araújo e Nelson Luiz Gusmão, “… é lindo o carnaval de Olinda / E quem não viu ainda / Não sabe o que é paixão / A vida esquece a saudade / Tudo é felicidade / E amor no coração.”
• Do livro “O’ linda, o teu nome bem diz!”, 480 p. ilustrado, a espera de patrocínio para sua edição.
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