Carlos Pereira Costa Filho
Fico observando as notícias sobre violência e cada vez mais me convenço de que lugar tranquilo mesmo era Balsas-MA, até o início dos anos 80.
Calma! Você também pode ter o seu lugar tranquilo. O meu era o balsinha de açúcar.
Quem viveu do início dos anos 80 às décadas mais remotas, há de concordar comigo sobre essa conclusão.
Naquela época, pelo menos a que me lembro, existia em Balsas uma pequena delegacia de polícia, cujo cargo de delegado era exercido por um sargento da gloriosa Polícia Militar do Estado do Maranhão. O Sargento João foi o primeiro de que me lembro e o segundo e muito mais atuante era o Sargento Soares.
Auxiliando o delegado nas tarefas, um pequeno efetivo de Soldados, dentre os quais se destacava o Soldado Ribamar, oriundo da antiga Guarda Municipal, bastante conhecido do povo balsense, principalmente pelo jeito peculiar de agir quando alguém era preso na Cadeia Pública. Era o Soldado "quiquiqui". Não estranhe. Soldado da gloriosa Polícia Militar do Maranhão, Ribamar era mais conhecido mesmo por um pequeno defeito que se tornava grande na hora em que ele falava. Era gago e sempre iniciava uma conversa com o bordão:
- Qui, qui, qui.....
Bom, o povo "du" Balsas não perdoa: mata. Mata de vergonha o camarada quando confere a ele um título por vezes constrangedor. O certo mesmo é que os balsenses conheciam o Soldado Ribamar Quiquiqui.
Quiquiqui era o elemento que cobria a retaguarda do pequeno efetivo da polícia militar quando conduzia alguém preso ao xadrez da cadeia conhecida por São Damião. Cobria a retaguarda afastando as crianças e os curiosos que, em procissão, acompanhavam o evento até chegar à delegacia.
Hoje, quando perco meu tempo ao assistir o Datena, com toda aquela enrolação possível ao narrar um fato interminável, me faz lembrar as vezes que acompanhei aquelas procissões formadas quando algum infrator era levado ao xadrez. Acompanhava com certa dificuldade, exatamente pelo trabalho eficiente do Soldado Quiquiqui, que, andando de costas por todo o trajeto entre o fato e a cadeia, afastava a meninada, estendendo os braços, dizendo:
- "Me-menino, va-vai pra casa. I-i-isso não é coisa pra me-me-menino ver não. Sai, sai daqui".
Ribamar tinha razão! Na realidade, não era ele apenas um policial; era, por excelência, um educador. Desejava mais a tranquilidade do lar à violência das ruas.
Hoje, talvez se o Soldado Quiquiqui ainda estivesse na ativa, com certeza estaria batendo na porta de cada casa falando com seu modo peculiar de dizer:
- "Me-me-menino, desliga e-e-essa televisão aí. Vai.... pra rua brincar com os-os.... amigos, que-que... é bem melhor do que essa po-porcaria".
Neste humilde texto expresso publicamente o meu mais profundo respeito ao nosso Soldado Ribamar que fez da farda um jaleco de professor.
A alegria que sinto neste momento ao ver publicada minha crônica na rede social do grande balsense Raimundo Floriano é enorme e nem mesmo saberia medi-la. Muito obrigado pela distinta consideração.