Noel e suas deliciosas cronicas e letras jocosas
Ói eu aqui de novo, me deliciando com as obras de Noel Rosa, que tão bem se encaixam na temática desta última série que resolvemos compilar – “Dose Dupla, com Crônicas, Humor, Sátira e o Jocoso na MPB”.
A permanência em três colunas sucessivas trazendo Noel é mais que justificada. Posso afirmar que ainda vou ficar devendo muita coisa.
No caso de “Gago Apaixonado” tenho a canção e principalmente a sugestiva letra de memória desde que o MPB-4 a gravou em 1970, no disco “Deixa Estar”.
Foi desse jeito que aprendi, mas existe uma dezena de outras versões.
Curiosamente, pesquisando o assunto, deparei-me com trabalho de Aquiles, um dos membros fundadores do MPB-4, que estava envolvido em projeto sobre o “Gago”.
Produziu um áudio-livro-pôster reunindo três experiências em uma plataforma: é ao mesmo tempo um pôster da letra “Gago apaixonado”, que Aquiles aponta como samba genial e inventivo composto por Noel Rosa em 1930, cuja concepção poética, repleta de repetições próprias da gagueira, leva a efeitos sonoros e gráficos que anteciparam em décadas o experimentalismo na poesia brasileira.
Não à toa – continua Aquiles – o escritor Mário de Andrade (1893-1945) autor da contemporânea obra Macunaíma (1928), era fascinado por Noel.
Inclui também dois textos inéditos escritos por Aquiles Rique Reis, desde sua fundação, em 1964: um tem função de apresentação biográfica; o outro vai ao humor para recriar ficcionalmente a rixa entre Noel e o também cantor e compositor Wilson Batista (1913-1968).
A terceira experiência, propiciada por “Gago apaixonado”, é auditiva: por meio do recurso QR Code, disponível em smartphones, é possível ouvir a gravação original de Noel Rosa, de 1931.
O flerte com a tecnologia também pode, quem diria, nos transportar ao passado. A arte do poema “Gago apaixonado” ocupa uma área de 62 x 43 cm e foi pensada como um pôster para, desdobrado – e aí está uma função táctil, que antecede à visual -, poder ser emoldurado. Custa R$ 10,00 e está à disposição na Banca Tatuí, São Paulo, capital.
A outra interpretação que trago para hoje é do excelente e sempre sincopado João Bosco, de humor, ritmo e riqueza de canções também de enorme valor:
Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago
Tem tem pe-pena deste mo-moribundo
Que que já virou va-va-va-va-ga-gabundo
Só só só só por ter so-so-sofri-frido
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu tens um co-coração fi-fi-fingido
Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago
Teu teu co-coração me entregaste
De-de-pois-pois de mim tu to-toma-maste
Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu vais fi-fi-ficar corcunda!
Semana que vem, tem mais.
Feliz Ano Novo para todos os fubânicos, amigos e leitores…