Emílio Marcondes Ribas nasceu em Pindamonhangaba, SP, em 11/4/1862. Médico sanitarista, pioneiro no combate da febre amarela entre outras epidemias e na criação de instituições de pesquisas na área da saúde pública, junto Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Vital Brasil e Carlos chagas. Após os primeiros estudos em escola pública, foi estudar na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e graduou-se em 1887, com a tese “Morte aparente de recém-nascidos”, ressaltando os cuidados com o cordão umbilical.
Em seguida casou com Maria Carolina Bulcão e passou a clinicar em Santa Rita do Passa Quatro, SP. Pouco depois mudou-se para Tatuí, onde foi nomeado inspetor sanitário, em 1895. No ano seguinte, como auxiliar do Dr. Diogo Teixeira de Faria, no “Desinfetório Central”, combateu várias epidemias guiado sobretudo pela intuição. Exterminou o mosquito transmissor (Aedes aegyptii) em São Caetano, Jaú, Pirassununga, Pilar, Rio Claro, Araraquara e Campinas, onde foi promovido a chefe da comissão sanitária e permaneceu até 1898. Ajudou Vital Brasil na criação do Instituto Soroterápico, os primórdios do Instituto Butantan, e foi nomeado diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, cargo ocupado até se aposentar em 1917.
Publicou, em 1901, o artigo “O mosquito considerado como o agente de propagação da Febre amarela” e sofreu forte oposição dos colegas, que não acreditavam na transmissão da doença pelo mosquito. Afim de aprofundar o assunto, foi para Cuba acompanhar o trabalho dos médicos Carlos Juan Finlay e Walter Reed, que estavam mais adiantados na pesquisa. Em princípios do século passado Cuba era um celeiro do mosquito e os surtos febre amarela eram recorrentes. No ano seguinte foi para São Simão, afim de deter a 3ª epidemia de febre amarela e só saiu de lá quando conseguiu, com ajuda de outros médicos e voluntários, acabar com a epidemia, limpando o rio que corta a cidade e instalando serviços de saneamento básico.
Retornando â São Paulo, decidiu fazer uma experiência semelhante a realizada pelos colegas cubanos, junto com Adolfo Lutz e mais dois voluntários: deixaram-se picar por mosquitos que estiveram em contatos com doentes de febre amarela, no Hospital de Isolamento de São Paulo (atual Instituto de Infectologia Emílio Ribas), em 1903. Foi a partir da contaminação de Ribas que Oswaldo Cruz empreendeu a eliminação dos focos de mosquito no Rio de Janeiro. A experiência foi repetida mais duas vezes, sendo a última com 3 imigrantes italianos pagos para ficarem junto a secreções e lençóis usados por doentes de febre amarela. Os resultados provaram que a transmissão não se dava pelo contágio e sim pela picada de mosquitos infectados por pessoas portadoras dessa moléstia.
Ainda em 1903 a experiência foi apresentada no 5º Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, onde ele defendeu o combate com a eliminação do mosquito e não dos meios defendidos pelos “contagionistas”. No mesmo ano a febre amarela foi declarada extinta no estado de São Paulo. Pouco depois uma nova epidemia começa a preocupar os paulistas: a tuberculose. O Governo encarrega-o com a missão de viajar aos EUA e Europa para estudar a profilaxia dessa doença. Trouxe na bagagem algumas ideias que alavancaram a cidade que ficou conhecida como a “Suiça Brasileira”. Campos de Jordão já era famosa pelo seu clima, como um lugar propício ao tratamento da tuberculose. Mas, para chegar lá os enfermos tinha que subir a serram da Mantiqueira em lombo de burros e cavalos. Uma de suas primeiras providências, junto com Victor Godinho, foi a construção da Estrada de Ferro Campos de Jordão, inaugurada em 1914.
O projeto era indispensável não só para o transporte das pessoas, mas para o envio de materiais para a urbanização e construção de hospitais, como o primeiro Dispensário de Tuberculose. A dedicação à este trabalho lhe rendeu honrosa homenagem ainda em vida: seu nome foi dado à praça central de sua cidade. Rendeu também 200 contos de réis, dado pela Câmara Municipal, em 1917, quando se aposentou. Mas, esta “comenda” ele recusou. Como se vê, foi um exímio administrador, além médico dedicado a várias doenças. De seus cuidados no tratamento da lepra, surgiu o “Sanatório de Santo Ângelo”, em Mogi das Cruzes. O primeiro centro de tratamento mais humano de assistência aos hansenianos no Brasil, iniciado em 1917 e inaugurado em 1928.
Seu envolvimento no projeto, junto com o colega Joaquim Riberio de Almeida resultou na construção de uma cidade em miniatura, com igreja, teatro, campo de futebol, praça etc. No conceito da época, o isolamento era um benefício para os doentes e para a sociedade. O sanatório deu origem ao grande “Hospital Dr. Arnaldo Pezzuti Cavalcanti”, que ainda mantém uma ala dedicada aos hansenianos. Em 1922 deu sua última conferência sobre febre amarela no Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina de São Paulo, que leva o nome de seu amigo Oswaldo Cruz, e veio a falecer em 19/12/1925. Na celebração dos 150 anos de seu nascimento, realizada em 2012 no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, foi apresentada uma exposição audiovisual sobre a vida e legado do médico e administrador.
Na ocasião, o governador Geraldo Alckmin concedeu-lhe o título póstumo de “Patrono da Saúde do Estado de São Paulo”. Foi também lançada sua biografia: “Emílio Ribas, o guerreiro da saúde”, escrita pelo seu colega José Lélis Nogueira. Trata-se de um vasto levantamento das batalhas travadas por este guerreiro em combate com diversas epidemias. Seu caráter batalhador foi realçado no artigo “Combates sanitários e embates científicos: Emílio Ribas e a febre amarela em São Paulo,” publicado por Marta de Almeida na revista “História, Ciências, Saúde – Manginhos”, vol. VI(3): 577-607, fev. 2000. Clique aqui para acessar.