Antônio Carlos Gomes nasceu em Campinas, SP, em 11/7/1836. Músico, maestro, compositor de ópera e o primeiro brasileiro reconhecido internacionalmente nesta área. De origem humilde, filho de Manuel José Gomes (conhecido como “Maneco músico) e Fabiana Jaguari Gomes. O pai com dificuldades em manter 26 filhos, formou uma banda musical. O irmão ajudou na formação do garoto, que naturalmente revelava uma atração pela música. É considerado o maior compositor lírico das américas.
Em 1854, aos 18 anos, fez a apresentação de sua primeira “missa”, com emoção e voz embargada, comovendo a plateia. 5 anos depois já era um concertista e professor de piano e canto, com predileção pelas óperas de Verdi. Em 1859, foi convidado pelos acadêmicos da Faculdade de Direito para fazer um concerto em São Paulo, e recebeu efusivos estímulos para que fosse se aperfeiçoar na Côrte. Era um sonho alimentado pelo rapaz, mas sem condições de realizar, devido a falta de recursos. Alojado numa “república” de estudantes, compôs o “Hino Acadêmico”, com letra de Bittencourt Rodrigues, que logo se tornou a “Marselhesa da Mocidade” substituindo antigos cantos dos estudantes. O hino foi o pontapé inicial em sua prodigiosa carreira artística e, certamente, a insistencia dos estudantes para que fosse ao Rio pesou decisivamente na viagem que realizou nas condições precárias em que foi realizada. No mesmo ano falou com o pai que voltaria à São Paulo para novos concertos, o que não era verdade. Mas confessou ao irmão, José Pedro, que planejava uma fuga. Viajaria de burro até Santos e de lá embarcaria de qualquer modo para o Rio de Janeiro. O irmão não acreditou e disse-lhe que voltaria de Santos mesmo; não teria coragem para tal aventura. O decidido rapaz retrucou: “Só voltarei coroado de glórias ou só voltarão meus ossos”.
Partiu de Santos no navio Piratininga, em 1859, sob aclamação dos estudantes e amigos rumo à Côrte. Levava consigo uma carta de recomendações a D. Pedro II e pedido de alojamento junto a familia de um amigo estudante em São Paulo. Logo que chegou escreveu ao pai, pedindo-lhe perdão pela fuga e revelando seus planos. O pai não só o pedoou como garantiu-lhe uma mesada mensal. Foi apresentado ao Imperador pela Condessa Barral e encaminhado a Francisco Manuel da Silva, diretor do Conservatório de Música e teve como primeiro mestre o famoso músico italiano Joaquim Giannini. Em 1860, na festa de encerramento do curso, foi programada sua apresentação. Não pode comparecer devido a um ataque de febre amarela. Pouco antes do maestro dar inicio à “cantata”, ele surge com a febre estampada no rosto e pede a batuta para dirigir sua peça. O resultado foi uma apoteose, toda a plateia em pé apludindo efusivamente. Ele não resistiu e caiu desmaiado. Ao saber do ocorrido, D.Pedro II condecorou-o com uma medalha de ouro.
Em 4/9/1861 foi executada sua primeira ópera – Noite no Castelo – no Teatro da Ópera Nacional. Dá-se nova apoteose e o Imperador, de novo, condecorou-o com a comenda “Imperial Ordem das Rosas”. Dois anos depois surge outro sucesso com a segunda ópera: Joana de Flandres, encenada em 1863. Em seguida foi agraciado com uma viagem à Europa, concedida pela Empresa de Ópera Lírica e o Governo Imperial. O Imperador queria que ele fosse para a Alemanha para estar com o grande Wagner, mas a Imperatriz D. Teresa Cristina, sugeriu-lhe a Itália. Embarcou em 8/11/1863, levando uma recomendação de D. Pedro II para o rei Fernando, de Portugal, que o apresentasse ao diretor do Conservatório de Milão, Lauro Rossi.
Encantado com o talento do rapaz, Rossi tornou-se seu tutor e passa a recomendá-lo no métier musical da cidade. Em 1866 recebeu o diploma de mestre e compositor. Passou a compor óperas: “Se sa minga”, em dialeto milanês, estreada no Teatro Forssetti e “Nella luna”, no Teatro Carcano, ambas com livreto de Antonio Scalvini, prolongando sua permanência em Milão, onde casou-se com Adelina Péri. O sucesso foi se consolidando e no ano seguinte, flanando pela Praça del Duomo, encontrou um garoto vendendo um folheto e apregoando: “Il Guarani! Il Guarani! Storia interessante dei selvaggi del Brasile!”. Era uma tradução do romance de José de Alencar, que serviu de base para compor a famosa ópera “O Guarani”.
Procurou Scalvini, que ficou fascinado pela história, e pouco depois concluíram a obra. Segundo os críticos não é sua maior ou melhor obra, mas foi a que o tornou conhecido em todo o mundo. A estreia se deu em 19/3/1870, seguida de apresentações na Europa e EUA. Consta que na noite da apresentação, Giuseppe Verdi estava presente e comentou: “Este jovem começa de onde eu termino!”. Em 2/12/1870, aniversário de D. Pedro II, a ópera estreou no Rio de Janeiro. Outras apresentações ocorreram nos dias seguintes, quando conheceu André Rebouças. Tornam-se amigos e viajam para a Europa no ano seguinte. Neste período viveu alguns anos na Itália, quando a saúde começou a dar sinais de alerta. Sofria de um câncer na boca. O desejo de retornar ao seu país ficou mais acentuado e esteve por aqui em algumas ocasiões.
Seu desejo era ser nomeado para o cargo de diretor do Conservatório de Música. Na época foi proclamada a República, em 1889, e seu amigo e protetor D. Pedro II foi exilado, causando-lhe grande mágoa. Nesta época compôs o poema sinfônico Colombo, incompreendido pelo grande público. Após tantos perrengues, foi aliviado com um convite de Lauro Sodré, governador do Pará, para organizar e dirigir o conservatório do Estado. Antes, porém, voltou à Itália para mais uma temporada e despedida dos filhos. Retornou ao Brasil, passando por Lisboa e teve sua primeira intervenção cirúrgica na língua, em abril de 1895, sem resultados animadores. Em maio foi recebido pelo povo paraense em festa, mas com a saúde agravada. Sua condição econômica também sofreu um abalo e o governo de São Paulo providenciou uma pensão mensal de 2 contos de réis (2 mil cruzeiros), que garantiu a manutenção do tratamento até 16/9/1896, quando veio a falecer.
No ano anterior foi criado o Conservatório Carlos Gomes, posteriormente denominado Instituto Estadual Carlos Gomes, mantido pelo Governo Paraense. Em 1986 o Instituto passou a ser mantido pela Fundação Carlos Gomes, cuja missão é difundir a educação musical como instrumento de socialização e inclusão social e promover o estudo da música no Estado do Pará. Logo após o falecimento e exéquias, durante 3 dias, O governo paulista solicitou ao governo paraense o translado de seu corpo, que foi sepultado no monumento-túmulo, na Praça Antônio Pompeu, em Campinas. Em 1936, O centenário de seu nascimento, foi comemorado em grandes solenidades em todo o País e 20 anos depois foi criado o Museu Carlos Gomes, em Campinas, reunindo documentos e seus pertences, afim de manter a memória do grande compositor e maestro. Em 2017 seu nome foi inscrito no “Livros dos Heróis e Heroínas da Pátria”.
Dentre as diversas biografias do músico, consta o romance biográfico, publicado por Rubem Fonseca em 1994, O selvagem da ópera, que veio a se tornar novela dirigida por Maria Adelaide Amaral e produzida pela Rede Globo.