Oswaldo Gonçalves Cruz nasceu em São Luiz do Paraitinga (SP), em 5/8/1872. Médico, cientista, sanitarista, fundador da medicina experimental no Brasil e pioneiro no estudo e combate das moléstias tropicais. No curso de medicina não demonstrou interesse pela clínica, mas ficou fascinado pelo mundo microscópico que surgia com a “revolução pasteuriana”, conduzida por Louis Pasteur, Robert Koch entre outros, que transformou a medicina.
Foi criado numa família de cariocas, que retornou ao Rio de Janeiro em 1877. Ingressou na Faculdade de Medicina aos 14 anos e formou-se médico, em 1892, com a tese A vehiculação microbiana pelas águas. Ainda estudante, publicou artigos na revista “Brasil Médico”. No ano seguinte casou-se com Emília Fonseca, com quem teve 6 filhos, e foi trabalhar na Policlínica Geral. Em meados de 1896, foi estagiar no Instituto Pasteur, em Paris, tendo como orientador o Dr. Émile Roux, e na Alemanha. De volta ao Brasil, em 1899 enfrentou um surto de peste bubônica em Santos e noutras cidades portuárias. Junto com Vital Brasil, Adolfo Lutz, Emilio Ribas e Carlos Chagas concluiu-se que a epidemia não podia ser controlada sem um soro adequado. Diante da grave situação foi proposto ao Governo a criação de uma “fábrica” de soro. Assim, foi criado o “Instituto Soroterápico Federal”, em 1900, e 6 meses depois o “Instituto Butantan”, em São Paulo, dirigido por Vital Brasil. Oswaldo Cruz assumiu a direção do Soroterápico em 1902.
Neste ano foi empossado o presidente Rodrigues Alves, que encontrou o Rio de Janeiro na condição de uma das cidades mais sujas do mundo e infestada de doenças tropicais, como a varíola, febre amarela e peste bubônica. Naquela época não era a “cidade maravilhosa”. Era conhecida como o “túmulo dos imigrantes”. O Governo federal Implementou uma série de reformas urbanas e sanitárias, que mudaram a geografia da cidade e a vida da população. Para isso designou Pereira Passos, como prefeito do Distrito Federal e Oswaldo Cruz, que assumiu a Diretoria Geral de Saúde Pública, em 1903. Daí em diante deu-se uma “revolução” urbana no Rio de Janeiro, com a derrubada de morros na área central; construção de grandes avenidas e parques; demolição de sobrados antigos e cortiços etc.. No plano do saneamento a mudança também foi radical, com a lei de vacinação obrigatória, isolamento de doentes e as famosas “brigadas de matamosquiros”.
O saneamento urbano empurrou os pobres para os morros, consolidando as favelas, e para longe do centro, criando a baixada fluminense. Tal politica junto com a vacinação obrigatória deu na “Revolta da vacina”, triste capitulo da nossa História. Durante uma semana (10 a 16 de novembro de 1904), o Rio de Janeiro se viu diante de uma guerra, com bondes, virados, postes derrubados e prédios incendiados pela multidão rebelada. A oposição à vacina contava com apoio dos militares, que viram ali uma chance de derrubar o governo; de políticos oportunistas e da imprensa que massacrava Oswaldo Cruz através de artigos e chacotas em charges nos jornais. Ele suportou tudo sem retroceder, graças ao apoio do presidente Rodrigues Alves.
A rebelião foi contida e em 1906 foi registrado apenas 39 casos de febre amarela; 4 casos em 1907 e nenhum caso em 1908. Outras epidemias surgiram, como a varíola em 1907, mas a povo procurou os postos de vacinação e logo foi debelada. O Governo empreendeu uma expedição, sob seu comando, a 30 portos marítimos e fluviais em todo o País, afim de estabelecer um código sanitário. A luta contra as doenças tropicais foi reconhecida em nível mundial e ele recebeu a “Medalha de Ouro” no 14º Congresso Internacional de Higiene e Demografia, realizado em Berlim, em 1907. Além da implantação do “Código Sanitário”, ele reestruturou todos os órgãos de saúde e higiene do País. No ano seguinte já era reconhecido como herói nacional e o Instituto Soroterápico foi reinaugurado com modernas instalações e jovens pesquisadores e rebatizado com seu nome em 1909.
Em 1912 viajou pela região norte no combate de epidemias em Rondônia, Manaus e Belém. Junto com Carlos Chagas, trabalhou no saneamento do vale amazônico, No ano seguinte foi Indicado para a Academia Brasileira de Letras-ABL e foi recebido por Afrânio Peixoto, que discursou na posse: “Vós sois como os grandes poetas que não fazem versos; nem sempre estes têm poesia, e ela sobeja na vossa vida e na vossa obra.” Com a saúde precária, mudou-se para Petrópolis em busca de ares mais amenos, mas sem deixar a atividade científica. Em 1916, junto com os amigos cientistas, se empenhou na criação da Academia Brasileira de Ciências e no mesmo ano foi eleito prefeito. Traçou vasto plano de urbanização da cidade, que não pode ver concluído, pois cada vez mais doente, renunciou em janeiro de 1917.
Abatido por uma crise de insuficiência renal, faleceu em 11/2/1917, Seu legado foi reconhecido com homenagens ainda em vida, como o nome dado ao instituto que dirigiu; ao protozoário causador da “Doença de Chagas”: Trypanosoma cruzi, em 1909; e ao Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da USP, em 1913. Após a morte inúmeros logradouros, uma cidade e diversas instituições receberam seu nome. Sua vida foi retratada em diversas biografias, romances e filmes, como Sonhos tropicais, do medico e escritor Moacyr Scliar, e o documentário “Oswaldo Cruz: o médico do Brasil”, realizado por Silvio Tendler, em 2003. Entre as biografias, temos Oswald Cruz (1940), de Egídio Sales Guerra; Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasileira, (1995), de Nara Britto; e o excelente Oswaldo Cruz – o médico do Brasil (2003), editado pela Fiocruz. Trata-se de amplo painel do “Projeto Memória” em homenagem ao cientista. Um “almanaque” ilustrado, fonte de pesquisa segura, completa e agradável, disponível gratuitamente na Internet clicando aqui, cujo resumo pode ser visto no vídeo abaixo.