Brites de Albuquerque nasceu em Portugal, em 1517. Colonizadora, donatária da Capitania de Pernambuco e esposa do primeiro donatário Duarte Coelho, é reconhecida como a primeira governante das Américas. Integrante da família dos Albuquerque, incluídos entre os “barões assinalados”, no poema Os Lusíadas, de Camões. Uma das poucas mulheres que sabiam ler e escrever naquela época. Desembarcou no Brasil em 1535, junto com o marido, o irmão Jerônimo de Albuquerque e extensa comitiva para colonizar o Brasil. “Dama do Paço Real” em Lisboa, passou a viver numa choupana em terras brasileiras.
Foram morar no “Sítio dos Macacos”, próximo de Igarassu, numa fortaleza improvisada para se proteger de alguns índios e dos franceses na espreita para explorar aquelas terras. Pouco depois encontraram um lugar mais seguro, em Olinda, no local onde hoje se encontra a Igreja da Sé. Em 1553 Duarte Coelho retornou à Portugal – junto com os filhos Duarte e Jorge, que foram estudar em Lisboa – para prestar contas junto a Coroa. Dona Brites, junto com a filha Inês de Albuquerque, assumiu interinamente o governo da capitania, tendo como assistente seu irmão, que viria a ser conhecido como o “Adão Pernambucano”, dado a vastíssima descendência que deixou no Nordeste.
Em 1554 Duarte Coelho faleceu em Portugal e ela passou a ocupar o cargo de “capitoa”. Governou a capitania de Pernambuco até 1560, quando Duarte Coelho Filho atingiu a maioridade e retornou ao Brasil para assumir o governo sob sua supervisão. Em 1572, os filhos Duarte e Jorge são chamados pela coroa portuguesa e incorporados a armada do rei Dom Sebastião, que avançava sobre a África. Ambos são feridos e mortos na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Dona Brites voltou a comandar a capitania até 1584, quando veio a falecer em Olinda. Sob seu comando Pernambuco tornou-se a mais próspera capitania, onde o poder politico é exercido em sua plenitude.
A história registra que no seu governo, manteve a ordem e a paz; legislou e controlou os assuntos dos colonos; construiu e urbanizou núcleos; viu surgir o Recife e acompanhou o lento progresso de Igarassu; promoveu a expansão verde dos canaviais e o florescimento dos primeiros coqueiros introduzidos no Brasil pelo marido e que deram nova fisionomia às praias pernambucanas. Foi ela quem mais distribuiu terras no sistema de sesmaria, que normatizava a distribuição de terras destinadas à produção agrícola. Dessa forma, distribuiu o poder e manteve a estabilidade politica e econômica na região. Em resumo, alentou com a sensibilidade de mulher o progresso da capitania que mais prosperou no Brasil. “Dona Brites” ficou conhecida como a “mãe dos pernambucanos”, segundo o historiador Frei Vicente do Salvador.
Consta que foi uma excelente administradora e que nutria uma relação de afeto com os filhos dos principais chefes indígenas. Dona Brites viveu 50 anos de sua vida em Pernambuco. Passou 30 anos governando a capitania desde os primeiros anos atribulados da colonização, mas pouco se ouve falar dela. Seu marido governou a capitania por 18 anos e é o único lembrado quando se fala das origens de Pernambuco. Não obstante todo esse tempo no comando da capitania, ela continua sendo uma ilustre desconhecida, não havendo sequer um retrato ou imagem de sua feição.
O desconhecimento não é apenas de seu rosto. Para ela não restou nem a lembrança de seu nome numa rua, praça ou qualquer logradouro para mitigar o esquecimento. Apenas em Olinda consta seu nome numa pequena escola publica e numa maternidade, mas ninguém sabe de quem se trata. Sua dimensão histórica tem sido negligenciada até hoje e foi inteiramente ofuscada por uma estrutura patriarcal que apaga as mulheres da nossa memória política. Hoje, quando tanto se fala em resgate da memória e “empoderamento” da mulher, os pernambucanos bem poderiam clarear mais a história e pleitear sua presença no panteão dos fundadores da pátria.