OS BRASILEIROS: Victor Brecheret
José Domingos Brito
Vittorio Brecheret nasceu em Farnese, Itália, em 15/12/1894. Escultor expoente do Modernismo no Brasil, tem diversas obras instaladas em logradouros de São Paulo, dentre as quais o “Monumento às Bandeiras”, no Ibirapuera. Considerado um dos principais artistas de vanguarda, nunca abandonou a formação clássica, ligada à arte greco-romana e renascentista e fez uso de diferentes técnicas de escultura, do mármore à terracota.
Ao perder a mãe aos 6 anos, foi criado pelo tio materno Enrico Nanni, cuja família emigrou para o Brasil quando o garoto tinha 9 anos. Só aos 30 e poucos anos é que recorreu à Justiça para inscrever seu registro de nascimento. Assim, consolidou sua nacionalidade brasileira. Quando criança, trabalhava e estudava, mas não se interessava pelos estudos. Era tímido, retraído e passava horas brincando com barro modelando figuras. Vendo seu interesse na modelação com barro, a Tia estimulou-o a se matricular no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, em 1912. Observando seu talento, os professores do Liceu incentivam-no e estudar em Roma, polo da escultura europeia.
Em 1914, através da Maçonaria, tornou-se auxiliar do escultor Arturo Dazzi, prestigiado artista que trabalhava para o rei Vittorio Emanuelle III. Ali aprendeu técnicas da tradição mesclando o clássico (Michelangelo) e o naturalismo com Auguste Rodin. Também conheceu o escultor Ivan Mestrovic, de quem sofreu influência com sua linguagem dramática e heroica. Em Roma participou de algumas mostras coletivas e foi elogiado pela crítica. Junto ao mestre Dazzi, não gostou das lições de anatomia com a dissecação de humanos e animais e abriu seu próprio ateliê, aos 22 anos, e passou a viver dizendo-se sul-americano para não ser convocado para a I Guerra Mundial. De volta ao Brasil, em 1919, reencontrou os amigos no Liceu e o novo diretor Ramos de Azevedo, que conseguiu-lhe um ateliê no Palácio das Indústrias.
Após um ano de enorme produção, foi descoberto pelos críticos e artistas modernistas, que viram em sua obra algo de novo, totalmente diferente do que existia na cena paulista. Aos poucos e em contatos com Di Cavalcanti, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, foi se integrando ao métier artístico até tornar-se o mestre da escultura do movimento modernista brasileiro, em 1922. Antes disso e já conceituado como escultor, recebeu a incumbência de realizar a maquete para o Monumento às Bandeira, evocando a saga dos bandeirantes, sua maior obra. Por motivos politicos, a obra só foi inaugurada 33 anos depois, na comemoração do IV Centenário da Cidade, em 1954, um ano antes de seu falecimento em 17/12/1955.
Em 1921 ganhou uma bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo e viaja para Paris, onde viveu por 5 anos. Mesmo ausente da Semana de Arte Moderna, participou do evento com 12 esculturas, dentre as quais a famosa “Cabeça de Cristo”, mais conhecida como “Cristo de trancinhas”, que foi adquirida por Mario de Andrade. Em Paris aprofundou sua arte ao fundir 3 fontes: ênfase no volume geométrico, tratamento sintético da forma, dado pelo escultor Constantin Brancusi e estilização elegante do “art-déco”. A partir daí passou a se utilizar de formas lineares e simplificadas de cunho ornamental evocando um clima de grande serenidade. Sua vivência em Paris, foi ntensificada a partir de 1923, com chegada de Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Anita Malfati, que introduziu-o no circuito das artes, conhecendo Blaise Cendrars e os cubistas André Lhote e Léger. A partir dessa época manteve a carreira vivendo entre Paris e São Paulo, em diversas exposições.
Após 15 anos em Paris, se estabeleceu em São Paulo, realizando encomendas de esculturas públicas e trabalhos religiosos. Em 1932 fundou, junto com outros artistas, a SPAM-Sociedade Pró-Arte Moderna e passa a cultivar temas ligados à cultura indigena em esculturas de bronze ou terracota. Na ocasião, retoma sua maior obra, o Monumento às Bandeiras. Pouco depois, retornou à Paris para destativar seu ateliê e se despedir de sua namorada, que foi contra o retorno ao Brasil, pois já era famoso por lá. Em 1938 casou-se com Jurandy Helena, retratada em diversas esculturas, e teve 3 filhos. Em 1941 deu-se o concurso internacional de maquetes para homenagear Duque de Caxias. Ele venceu o concurso, entre 30 concorrentes, e a estátua de 48 metros de altura –o duque em bronze montado num cavalo sob um um pedestal de granito- foi instalada na praça Princesa Isabel, centro da cidade. Dizem que é o maior monumento equestre do mundo. Ou seja, suas duas maiores obras estão expostas em São Paulo.
Além destas grandes obras, existem outras de tamanho médio expostas noutros logradouros da cidade: Carregadora de perfumes, no Parque da Luz; Musa Impassível, na Pinacoteca do Estado; Fauno, no Parque Trianon; Graças, na Galeria Prestes Maia; Eva, no Centro Cultural São Paulo; Depois do banho, no Largo do Arouche, entre outras. Em sua fase final ampliou o interesse em representar temas indígenas na busca de uma identidade nacional. A obra O Índio e a Suaçuapara recebeu o primeiro Prêmio de Escultura Nacionnal da I Bienal de São Paulo, em 1951. Outra vertente enfocada nesta fase foi a escultura de santos, particularmente São Francisco (São Francisco e as Pombas, São Francisco com Boizinho, São Francisco com Jumento), incluindo a Cabeça de São Francisco, sua última obra.
Boa parte destas obras encontram-se hoje em coleções particulares e algumas em túmulos de cemitérios e igrejas centrais de São Paulo. Assim, tornou-se também mestre na “arte funerária”. Em 2007 foi realizada uma grande exposição de suas obras no Centro Cultural da Caixa Econõmica, em São Paulo. Uma visão completa de seu legado e obras podem ser vistas na Fundação Victor Brecheret, criado por sua filha Sandra Brecheret, através do site www.victor.brecheret.nom.br, onde consta uma entrevista com o escultor, realizada em 1953.