Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial segunda, 11 de maio de 2020

AS BRASILEIRAS: MARIA QUEIROZ DA SILVA

 

AS BRASILEIRAS: Maria Queiroz da Silva

Maria Queiroz da Silva nasceu em Grossos, RN, em 30/3/1929. Professora, economista, pedagoga, oradora e política na condição de deficiente física de nascença, desprovida das pernas e do braço direito. Pode parecer inacreditável que uma pessoa nestas condições pudesse realizar empreendimentos tais como ministrar aulas, fundar uma escola, construir uma igreja, viajar pelo mundo e assumir o cargo de vereadora na capital de seu Estado. No entanto, é tudo verdade e se constitui num dos casos de superação mais fabulosos em todo o mundo.

De origem humilde numa família de 9 irmãos, era uma criança alegre, comunicativa e dotada de uma inteligência privilegiada. Mas isto não impediu que sofresse preconceito em sua comunidade. Aprendeu a andar sozinha, utilizando joelheiras e queria estudar como fazia os irmãos e colegas, mas sua mãe não estimulava, temendo a discriminação que sofreria na escola. Passou a frequentar uma escola particular em Areia Branca e logo aprendeu a ler e escrever. Uma de suas brincadeiras era ler para as amigas e contar o que aprendeu na escola. Assim foi moldada sua vocação para o magistério. Era dotada de uma vivacidade incomum e rejeitava os sentimentos de preconceito ou compaixão diante de sua deficiência. Ao seu modo conseguiu relativa independência de mobilidade.

Aos 12 anos concluiu o Curso Primário no Educandário Padre Anchieta e decidiu ser professora quando crescesse. Como em Areia Branca não havia ginásio, a família mudou-se para Mossoró onde os filhos poderiam cursar o ginasial. Mas ela não foi aceita em nenhum ginásio, devido a deficiência e tiveram que se mudar para Natal na esperança de continuar os estudos. Passou no “Exame de admissão” ao ginásio, no Colégio Atheneu, mas foi impedida de se matricular. Não acatou a decisão da Diretoria e foi reclamar junto ao Secretário da Educação. Comovido com seu problema, o secretário determinou que sua matrícula fosse aceita.

Concluído o curso ginasial, entrou na Escola Normal do Estado para cursar pedagogia e se formar professora do curso primário. No 2º ano do curso, foi editada a Lei nº 2.889, de 11/1/1961, cujo artigo 21 dispunha: “Os candidatos a exame de seleção deverão apresentar diploma de conclusão de Curso Ginasial… bem como satisfazer os seguintes requisitos: a) Sanidade física e mental; b) Ausência de defeito físico ou distúrbio funcional que contraindique o exercício da função docente. Ou seja, a Lei exigia a sanidade física e reforçava, reiterava a necessidade de “ausência de defeito físico” para que não restassem dúvidas. Como se vê os legisladores da época eram muito “precisos” na sua função “social”.

Mas, como já estava no 2º ano, concluiu o curso em 1962 e foi escolhida como oradora da turma. Pouco antes da formatura, a diretora da escola entrou na classe e perguntou quem gostaria de receber o diploma com o nome escrito em letras góticas. Maria foi a primeira a aceitar. Mas para espanto das colegas, a diretora disse-lhe: “Você não, Maria! Você não receberá o diploma! A sua condição física não permite!” Ela retirou-se da sala em lágrimas e dirigiu-se ao Palácio do Governo. O governador, comovido com sua “via crucis”, revogou a decisão da diretora. O problema agora está em encontrar uma escola onde possa dar aulas. Não encontrou e para realizar sua vocação teve que fundar uma escola, o “Externato Santa Terezinha”, assumindo o cargo de professora e diretora.

Na administração de sua escola, passou a se interessar por economia e ingressou na UFRN-universidade Federal do Rio Grande do Norte. Diplomada em Ciências Econômicas, em 1967, passou a ficar conhecida em Natal como “Baía”. Era seu nome caseiro pronunciado pelos irmãos pequenos, que não sabiam falar Maria. Assim adquiriu popularidade, admiração e respeito na cidade. Em 1976 foi estimulada a candidatar-se a vereadora de Natal, pelo MDB, partido de oposição ao governo militar, e obteve 1636 votos, ficando na 1ª suplência e assumiu o mandato em 1978. Além destes trabalhos, manteve intenso trabalho social na Igreja ao lado do Padre Lucas Batista Neto em viagens internacionais. Comandou, na Praia de Areia Preta, uma campanha de arrecadação de fundos para a construção da Igreja de São Francisco.

Em 19/10/1981, após submeter-se a uma cirurgia cardíaca, veio a falecer. Como é nosso (mal) costume de se reconhecer os valores das pessoas somente após a morte, os políticos de Natal deram seu nome à uma escola pública, em maio de 1982, transformada num estabelecimento de ensino fundamental e ensino médio, em 2002. Mais uma homenagem póstuma lhe foi prestada pela Prefeitura com a inauguração da Rua Vereadora Maria Queiroz, no bairro de Lagoa Nova, bairro nobre de Natal. Em 2019 sua vida e legado foi registrado na biografia “Maria Queiroz BAÍA – Exemplo de superação e luta contra o preconceito”, escrita por Lúcia Eneida Ferreira Moreira, publicada pela Offset Editorial.

Obs.: Este relato biográfico foi realizado a partir da crônica de Violante Pimentel – “A superação” -, publicada neste jornal em 21/2/2020, e alguns dados e informações enviados posteriormente.

 


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros