Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial segunda, 25 de maio de 2020

AS BRASILEIRAS: BÁRBARA HELIODORA

 

AS BRASILEIRAS: Bárbara Heliodora

Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira nasceu em São João del Rey (MG), em 3/12/1759. Poeta, mineradora e Inconfidente Mineira. Seu nome às vezes é confundido com a crítica teatral Heliodora Carneiro de Mendonça, também conhecida como Bárbara Heliodora, certamente em homenagem à poeta e “Heroína da Inconfidência Mineira”. Coincidentemente foi contemporânea de Bárbara de Alencar (1760-1832), revolucionária pernambucana de 1817 e avó do romancista José de Alencar.

Criada numa tradicional família de mineradores, sua mãe Maria Josefa Bueno da Cunha era descendente do paulista Amador Bueno, aclamado rei de São Paulo, em 1641. Casada com o Inconfidente e poeta Alvarenga Peixoto, fez questão de manter o nome de solteira. Em 1860, seu biógrafo Aureliano Leite, deixou registrado: “ela foi a estrela do norte que soube guiar a vida do marido, foi ela que lhe acalentou o seu sonho da inconfidência do Brasil… quando ele, em certo instante, quis fraquejar, foi Bárbara que o fez reaprumar-se na aventura patriótica. Disso e do mais que ela sofreu com alta dignidade, fez com que a posteridade lhe desse o tratamento de Heroína da Inconfidência”.

Na condição de esposa de um dos líderes da Inconfidência Mineira, manteve algumas reuniões dos revoltosos em sua casa. E se não há provas de seu envolvimento na conjuração, é porque o marido resguardou a esposa nos interrogatórios dos “Autos da Devassa”. Assim, ela e sua xará pernambucana, foram as primeiras mulheres brasileiras a participar de uma revolta política. Após o fracasso do movimento, o marido foi preso, teve os bens confiscados e foi deportado para Angola, onde veio a falecer. No entanto, ela reclamou junto a Coroa ser casada em regime de comunhão de bens e, assim, conseguiu ficar com metade dos bens. Parou de escrever, dedicou-se a criação dos 4 filhos e a cuidar de sua propriedade. Infelizmente seus poemas não foram publicados na época e muitos deles foram destruídos durante as devassas na sua casa. Só restaram As Sextilhas ou Conselhos a meus filhos. Veja alguns versos deste poema:

Meninos, eu vou ditar
As regras do bem viver;
Não basta somente ler,
É preciso ponderar,
Que a lição não faz saber,
Quem faz saber é o pensar.

Neste tormentoso mar
De ondas de contradições,
Ninguém soletre feições
Que soletre feições,
Que sempre se há de enganar,
De caras e corações
Há muitas léguas que andar.

Sempre vos deveis guiar
Pelos antigos conselhos,
Que dizem que ratos velhos
Não há modos de os caçar;
Não batais ferros vermelhos,
Deixai um pouco esfriar.

O poema foi publicado equivocadamente em 1830 pelo Cônego Januário da Cunha Barbosa, com o título Conselhos de Alvarenga Peixoto a seus filhos, na Coleção das melhores poesias do Brasil. A correção só ocorreu em 1862, com a publicação do livro Brasileiras célebres, de Joaquim Norberto dos Santos e Silva, onde foram publicadas 9 das 12 sextilhas, cuja autoria é atribuída a ela. Em 1795 sua primeira filha, aos 15 anos, faleceu em decorrência de uma queda de cavalo. Pouco depois e, talvez, devido a estes perrengues, foi criada uma lenda sobre seu enlouquecimento; que vagava pelas ruas de São João del Rey falando coisas sem nexo. Tal lenda chegou a alguns livros publicados mais tarde. Mas a verdade foi restabelecida pelo seu biógrafo Aureliano Leite, em 1860, com a publicação do livro A vida heroica de Bárbara Heliodora.

Na biografia, o autor certifica que ela viveu seus últimos anos em perfeito juízo; cuidou dos negócios da família; foi admitida na Ordem 3ª do Carmo e faleceu aos 60 anos, vitimada por uma tuberculose, em 24/5/1819. Foi sepultada na Igreja Matriz, ”envolta no hábito de Nossa Senhora do Carmo e acompanhada até a sepultura por 9 sacerdotes que lhe fizeram ofício de 9 lições e missa de corpo presente”. O biógrafo conclui que “a uma louca e indigente não se dedicaram exéquias dessa pompa”. Tempos depois, em 11/10/1931, o capitão Alberto Carlos da Rocha explicou a origem da lenda de sua loucura, num artigo publicado no periódico “A Opinião de São Gonçalo de Sapucaí”. Em 27/7/1809, ela “vendeu”, por escritura todos os bens ao filho mais velho, temendo uma expropriação. Como a transação prejudicava a Fazenda Real e diante da necessidade de anular a escritura, ela foi declarada demente.

Seu nome tem sido lembrado em diversas homenagens ao longo da história, como no poema intitulado Romance LXXV ou De Dona Bárbara Eliodora, integrante do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Na música, Almeida Prado compôs a “Lira de Dona Bárbara Heliodora”, cantata colonial para soprano, barítono (ou tenor) coro misto & orquestra. No cinema, teatro e TV, também foi retratada em diversas ocasiões. Em 1909, quando foi criada a Academia Paulista de Letras, sua bisneta Presciliana Duarte de Almeida, escritora, jornalista e poeta, escolheu-a como patrona da cadeira nº 8. Assim, Bárbara Heliodora foi a primeira mulher a ocupar esta posição acadêmica no Brasil. Em 1952, Henriqueta Lisboa escreveu o belo poema “Drama de Bárbara Heliodora”, publicado em seu livro Madrinha Lua, que pode ser lido clicando aqui.

 


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