Vital Brazil Mineiro de Campanha nasceu em 28/4/1865, em Campanha, MG. Médico, cientista, sanitarista, descobridor do soro antiofídico e um dos pioneiros da medicina experimental no Brasil. Seu nome parece título geográfico e é. Foi dado por um costume do pai em denominar os filhos conforme o lugar onde nasceram. Ajudou a criar o Instituto Oswaldo Cruz; criou o Instituto Butantã e o Instituto Vital Brasil: 3 grandes instituições renomadas, necessárias e vitais nesta época subjugada pela pandemia do coronavírus.
Foi parente distante de Tiradentes e, mais próximo, do presidente Venceslau Brás e do mecenas Oscar Americano. No entanto, sua família era humilde e passou a infância no interior de Minas Gerais, trabalhando desde os 9 anos. Aos 15 a família mudou-se para São Paulo onde permanece até os 21. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1886 e formou-se em 1891, com a tese “Funções do baço”. No ano seguinte foi estagiar no Instituto Pasteur, em Paris. Médico no interior de São Paulo, presenciou a morte de vários lavradores, vítimas de picadas de serpentes. Como sanitarista, participou das brigadas de combate a febre amarela e a peste bubônica junto com Oswaldo Cruz.
Deixou registro destas experiências publicado em 2 livros: O ofidismo no Brasil (1906) e A defesa contra o ofidismo (1911), traduzido para o francês em 1914. Viúvo em 1913, casou-se de novo em 1920 e constituiu uma família de 18 filhos, alguns destacados na medicina, farmacologia, veterinária, música, psicanálise, arquitetura, aviação. Convidado pelo governador de São Paulo, foi trabalhar no Instituto Bacteriológico, em 1897, dirigido por Adolfo Lutz. Realizou pesquisas científicas e trabalhou junto com Emílio Ribas, Carlos Chagas e Oswaldo Cruz no combate à peste bubônica, tifo, varíola e febre amarela.
Em 1901 recebeu do presidente Rodrigues Alves a Fazenda Butantã, para instalar uma “fabrica de soro”, tal como o Instituto Soroterápico Federal, instalado no Rio de Janeiro, em 1900. Em apenas 4 meses foram produzidos os primeiros tubos de soro antipestoso e antiofídico. Em 1925, o Instituto Soroterápico foi rebatizado como Instituto Butantã. Seu trabalho não se limitava a área científica, criou caixas de madeira para captura de cobras e manteve convênios com as ferrovias para o transporte até São Paulo. Realizou duas campanhas públicas simultâneas: numa trocava soro por cobras vivas e noutra esclarecia a população sobre as cobras venenosas.
Em 1903 conseguiu enunciar cientificamente o soro antiofídico, a partir de anticorpos produzidos no sangue dos cavalos, usando o veneno da própria cobra. Em seguida foram produzidas vacinas contra tifo, varíola, tétano etc. As picadas de aranhas venenosas, escorpião e lacraias deram origem a novos soros. Em 1913 voltou ao Instituto Pasteur para novos cursos e visitar outros países. Em 1915 participou do Congresso Científico Pan-Americano, nos EUA, adquirindo projeção internacional. No ano seguinte preparou a patente do soro antiofídico e ao recebê-la, fez sua doação ao governo brasileiro, pois considerava a ciência como um bem público.
Deixou a direção do Instituto Butantã, em 1919, e foi para o Rio de Janeiro criar mais um instituto, apesar de convidado por Carlos Chagas para trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz. Dizia que o Brasil necessitava de mais instituições científicas. Assim, fundou em Niterói, com apoio do governador Raul de Moraes Vieira, o instituto que leva seu nome. As atuais instalações, uma joia da arquitetura moderna, foram projetadas por seu filho, o arquiteto Ãlvaro Vital Brasil. Ocupa uma área de 100 mil m² e edificação de 20 mil m², inauguradas em 1943 no bairro Vital Brasil. Por um breve período voltou a dirigir o Instituto Butantã (1924), mas logo reassumiu a direção do Instituto Vital Brasil (1927), onde permaneceu até o fim da vida.
Faleceu em 8/5/1950, vitimado por uma uremia, agravada por uma peste bubônica e febre amarela, as doenças que combateu em toda sua vida. Deixou um legado considerável e instituições solidas no estudo e combate das moléstias urbanas e doenças tropicais. Recebeu homenagens de todo tipo e figura no “Livro dos Heróís da Pátria”, além de denominar diversos logradouros e escolas em todo o País. Dois museus cuidam da preservação de sua memória e divulgação de seus trabalhos: um no Instituto Butantã, expondo seu laboratório, inaugurado em 1981, e outro na casa onde nasceu, inaugurado em 1988. Seu nome foi dado à aranha caranguejeira, Vitalius sorocabae. Em 2014 recebeu uma placa alusiva aos 120 anos da descoberta do soro antiofídico, no Museu Nacional de História Natural, em Paris.
Foi o primeiro cientista brasileiro a ter uma biografia dirigida às crianças, realizada por Nereide Schilaro Santa Rosa e publicada pela Duna Dueto Editora. O cientista foi biografado em vários livros, mas sua vida e obra completa recebeu justamente esse título: Vital Brazil: Obra Científica Completa (2002), organizada por André de Faria Pereira Neto e publicada pela FioCruz. Faleceu na época em que o Brasil passou a ser visto como o “Pais do Futuro”, e assim se mantém até hoje, quando enfrenta uma pandemia mundial e seus institutos são chamados a colaborar no enfretamento dessa moléstia que assola o mundo. Como se vê, temos pedigree para realizar esta proeza.