Luís da Câmara Cascudo nasceu em Natal, RN, em 30/12/1898. Historiador, antropólogo, advogado, tradutor, jornalista, folclorista e um dos mais destacados pesquisadores das raízes étnicas do Brasil. Seus primeiros estudos se deram no Atheneu Norte Rio-Grandense, onde se tornou professor de história e diretor. Cursou medicina até o 4º ano, mas sem vocação para isso e interessado em folclore, formou-se em Etnografia, na Faculdade de Filosofia do Rio Grande do Norte e em Direito, na Faculdade do Recife, em 1928.
No ano seguinte, casou-se com Dhália Freire, com quem teve dois filhos. Começou como jornalista e teve seu primeiro trabalho publicado, em 1918, no jornal “A Imprensa”, de seu pai, o coronel Francisco Cascudo: uma crônica intitulada “O tempo e eu”. Colaborou com diversos jornais de Natal e manteve seções diárias nos jornais “República” e “Diário de Natal”, numa coluna chamada “Bric-a-Brac” (bagunça, geringonça, desmantelo) até 1960. Aos 23 anos teve seu primeiro livro – Alma patrícia – publicado, um estudo crítico e biobibliográfico de 18 escritores. Teve alguma participação na Semana de Arte Moderna de 1922 e foi amigo de Mário e Oswald de Andrade, a quem chamava de “doido-mor”.
Foi professor de Direito Internacional Público, na Faculdade de Direito do Recife e de Etnografia Geral, na Faculdade de Filosofia, em Natal. Mas na época o folclore não era prestigiado como estudo acadêmico e ele quase foi demitido do cargo por estudar figuras como o lobisomem. Na política, foi monarquista no inicio e combateu a crescente influência marxista no Brasil, quando Natal foi palco da Intentona Comunista de 1935. Aderiu ao integralismo e foi chefe regional do movimento da “Ação Integralista Brasileira”, movimento nacionalista liderado por Plínio Salgado. Pouco depois, desencantou-se com essa doutrina política e já durante a II Guerra Mundial ficou com os “Aliados”, demonstrando sua repulsa aos fascistas italianos e nazistas alemães. Manteve-se, porém, aliado ao anticomunismo e não se opôs ao Golpe Militar de 1964. No entanto, ajudou diversos conterrâneos perseguidos pelos militares.
Em 1941 fundou a Sociedade Brasileira de Folclore e 2 anos depois foi convidado por Augusto Meyer, diretor do INL-Instituto Nacional do Livro, para redigir o Dicionário do Folclore Brasileiro, lançado em 1954. Em viagens pela África, em 1963, coletou diversas informações, com as quais publicou duas obras básicas sobre as origens da alimentação no Brasil: A cozinha africana no Brasil (1967) e História da alimentação no Brasil (1968). Para ele “nenhuma ciência possui maior espaço de pesquisa e de aproximação humana que o folclore”. Seu interesse pelo folclore deveu-se ao fato de “querer saber a história de todas as coisas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço.”
Sua produção bibliográfica é extensa, com cerca 170 livros e opúsculos, muitos dos quais reeditados até hoje, incluindo obras básicas, como Antologia do folclore brasileiro (1943) Geografia dos mitos brasileiros (1947), Ensaios de etnografia brasileira (1971), e livros clássicos, como Rede de dormir (1959), Vaqueiros e cantadores (1959), Preludio da cachaça (1967) entre outros. Num de seus últimos livros –Tradição, ciência do povo (1971) -, explora conceitos-chave de seu ofício e método de trabalho. Considera que são 3 as fases do trabalho folclórico e etnográfico: “colheita, confronto e pesquisa de origem”, ou seja, a escuta atenta dos informantes, o registro rigoroso das diferentes versões e a busca das origens entendidas. A Editora Global mantém em seu catálogo 45 títulos de sua autoria.
Passou toda a vida em Natal, onde é mantido o “Ludovicus: Instituto Câmara Cascudo”, na casa onde viveu, na avenida que leva seu nome e faleceu em 30/7/1986. Ludovicus é Luis em latim, idioma que ele dominava com perfeição. Não é o local da brincadeira, como pode parecer, mas não deixa de ser apropriado devido ao caráter de suas pesquisas. Foi agraciado com dezenas de prêmios e horarias, tendo seu nome em diversos logradouros de todo o País. Em 1991, a Casa da Moeda emitiu a cédula de 50 mil cruzeiros com sua efígie, que ficou em circulação por três anos. Sua vida foi esmiuçada em algumas biografias, com destaque para Viagem ao universo de Câmara Cascudo (1969), de Américo de Oliveira Costa e Luis da Câmara Cascudo: 50 anos de vida intelectual, (1970) de Zila Mamede. Faleceu em 30/7/1986