José Abelardo Barbosa de Medeiros nasceu em Surubim, PE, em 30/09/1917. Locutor de radio e apresentador de TV. Na infância gostava de brincar montando “teatrinhos”, habilidade que o levou a trabalhar como vitrinista da loja do pai em Caruaru. Aos 10 anos mudou-se para Campina Grande, onde o pai foi buscar negócios mais promissores. Ao completar 17 anos, foi estudar no Recife e logo entrou na Faculdade de Medicina. Dotado de certa desenvoltura, teve uma breve experiência como locutor na Rádio Clube do Recife aos 18 anos. No ano seguinte foi dar palestras sobre alcoolismo na Radio Clube de Pernambuco, ampliando seus contatos com o mundo da comunicação.
Por essa época tocava bateria no “Bando Acadêmico” junto com seus colegas de faculdade e não demonstrava interesse pela Medicina. Aos 21 anos decidiu dar uma guinada na vida e como músico e embarcou no navio Bagé rumo à Alemanha. Porém, naquele ano (1939) estourou a II Guerra Mundial, impedindo o prosseguimento da viagem. Foi obrigado a ficar no Rio de Janeiro, onde passou a viver e trabalhar como locutor. Passou por diversas Rádios, mas o carregado sotaque nordestino e a voz não combinavam com a função de locutor comercial. Na Rádio Clube de Niterói, deu-se conta que sua “praia” não era aquela e pediu à direção da emissora para fazer um programa de música carnavalesca tarde da noite. A Rádio funcionava numa chácara próxima ao Cassino de Icaraí.
O programa “O Rei Momo na Chacrinha” entrou no ar em 1942 e foi um sucesso. Ganhou fama de “doido” e o programa passou a se chamar “O Cassino da Chacrinha”. Irreverência era o que não faltava no programa, dando origem ao personagem que ficaria famoso. No programa ele simulava entrevistas com gente famosa e recriava a atmosfera de uma chácara com diversos efeitos sonoros, incluindo galos e outros bichos. Ao mesmo tempo em que comandava o programa gravou diversas músicas de carnaval, enquanto a fama se alardeava. O programa foi efetivado como “Cassino do Chacrinha”. Em 1945 passou a trabalhar na grande Rádio Nacional apresentando os programas “Noite dançante” aos sábados, e “Tarde Dançante Melhoral” aos domingos, quando não havia futebol. Mas não deu certo; seu talento encontrava-se mesmo na “chacrinha”. Assim, o programa voltou ao ar em outras rádios até chegar na Rádio Globo, em 1947.
Nos anos seguintes trabalhou em outras rádios e gravou marchinhas de carnaval até 1956, quando estreou na TV Tupi com o programa “Rancho alegre”. Mas como estava predestinado ao papel de “doido”, voltou a apresentar o “A Discoteca do Chacrinha” e a “Hora da buzina” nas TVs Rio, Excelsior, Tupi e Globo. Em 1959 já era considerado o programa mais popular da TV brasileira. Mesmo fazendo sucesso na TV não abandonou o Rádio, o que só veio acontecer em 1967 quando foi contratado pela TV Globo para apresentar dois programas: “Discoteca do Chacrinha” às quartas-feiras, e “A Hora da Buzina”, aos domingos, rebatizado em 1970 como “Buzina do Chacrinha”. Chegou também a trabalhar no cinema na década de 1960, atuando nos filmes: Três Colegas de Batina (1962), Na Onda do Iê Iê Iê (1966), A Opinião pública (1967) e Pobre Príncipe Encantado (1969). Tudo indica que o contrato com a Globo não ia tão bem quanto o sucesso, e ele voltou para a TV Tupi em 1972.
Anos depois passou a atuar na TV Bandeirantes (1978) e só voltou à TV Globo em março de 1982 para apresentar seu maior sucesso, o “Cassino do Chacrinha” nas tardes de sábado. Era uma mistura de programa de auditório, atrações musicais –lançou diversos cantores de grande sucesso- e show de calouros, dirigido pelo filho José Aurélio “Leleco” Barbosa. Apresentando-se sempre com roupas espalhafatosas, rodeado de belas “chacretes” e atirando bacalhau, abacaxis e pepinos na plateia. O programa tornou-se uma poderosa atração da TV atingindo altos índices de audiência. Era reverenciado como um gênio da comunicação pelo Diretor da Rede Globo, José Bonifácio Sobrinho, devido ao sucesso e as frases e bordões que soltava no ar: “Na televisão nada se cria, tudo se copia”; “Eu vim para confundir, não para explicar!”; “Quem não se comunica, se trumbica!” ou “Não sou psicanalista, nem analista. Sou vigarista”.
Ao fim do programa, já cansado, concluía: “Graças a Deus o programa acabou”. Não era um “palhaço” como seu traje poderia sugerir; tinha plena consciência de seu trabalho: “No meu modesto pensamento, levei para a televisão justamente o que eu tinha: a alegria. Queria dar alegria ao povo e oportunidade para quem realmente tinha valor”. Nomes como Raul Seixas, Fábio Júnior e Alcione, entre tantos outros, foram projetados em seu programa de auditório televisivo. Foi bastante importunado pela censura oficial, que não apreciava as câmeras mostrando o corpo escultural das chacretes nem suas frases de duplo sentido. No auge de sua carreira surgiu o “Tropicalismo”, e ele passou a ser adorado pelos seus protagonistas. Gilberto Gil via no apresentador um fenômeno: ”De repente, a gente pôs os olhos e os ouvidos naquele homem com aquele traje e aquela irreverência”. Involuntariamente, tornou-se um dos ícones do “Movimento Tropicalista”. Posteriormente, Gil deu-lhe o apelido de “Velho Guerreiro” em sua música “Aquele abraço”.
Em 1986 recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”, da Faculdade da Cidade, no Rio de Janeiro. Carnavalesco, todos os anos lançava uma marchinha, sucesso garantido no carnaval. Em 1987 foi homenageado pela Escola de Samba Império Serrano, com o enredo “Com a boca no mundo: quem não se comunica se trumbica”. Em 1988 foi descoberto um câncer no pulmão e teve que se ausentar do programa alguns sábados, quando foi substituído pelos humoristas Paulo Silvino e João Kleber. Em 2 de junho voltou a comandar o programa ainda não totalmente restabelecido. Ninguém sabia que aquela seria a última apresentação do programa. Adorava o palco e disse que gostaria de morrer em serviço.
Por pouco isto não chegou a acontecer: faleceu 28 dias depois, em 30/9/1988, aos 70 anos. Cerca de 30 mil pessoas foram dar adeus ao “Velho Guerreiro” no saguão da Câmara dos Vereadores, no Rio de Janeiro. Em 2014 foi lançada uma alentada biografia: “Chacrinha: a biografia” pela Editora Leya. Segundo um dos autores, Denilson Monteiro, seu diferencial é que ele não tinha a vaidade de achar que o público era algo irrelevante no seu programa e, por isso dava-lhe importância. “O Chacrinha sabia o que o povo gostava e, por isso, sabia agradá-lo”. Em 2018 foi homenageado, de novo, no Carnaval, pela Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio, com o enredo “Vai para o trono ou não vai”. No mesmo ano foi lançado o filme “Chacrinha, o velho guerreiro”, dirigido por Waddigton Andrucha, com Stepan Nercessian no papel principal. O filme ganhou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e foi reapresentado em janeiro de 2020, na TV Globo, no formato minissérie.
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