Carolina Josefa Leopoldina nasceu em Viena, Áustria, em 22/1/1797. Esposa de D. Pedro I e Imperatriz do Brasil. Filha do imperador Francisco I da Áustria e Maria Teresa das Duas Sicílias, chegou no Brasil em 1817 para se unir ao marido, em cumprimento ao acordo familiar de seu pai com o rei D. João VI, resultado de uma aliança entre as monarquias de Portugal e Áustria. A Europa foi redesenhada com a queda de Napoleão Bonaparte, em 1814, e no ano seguinte deu-se o Congresso de Viena, criando uma nova ordem mundial, onde o Brasil entra como reino unido de Portugal.
Nesse contexto ela teve atuação destacada no processo de independência do Brasil. Porém, a história contada nos livros escolares desconhece completamente seu papel. Tal omissão foi denunciada pelo historiador Paulo Rezzutti, autor do livro D. Leopoldina – A história não contada: a mulher que arquitetou a Independência do Brasil (2017). Sua tese é que foi em grande parte graças a ela que o Brasil se tornou uma nação. Afirma que ela “abraçou o Brasil como seu país, os brasileiros como o seu povo e a Independência como a sua causa”. Devido ao fato de reger o País diversas vezes, enquanto o marido viajava pelas províncias, é considerada a primeira mulher chefe de estado de um país americano.
Pertencia à Casa de Habsburgo, uma das mais antigas e poderosas dinastias da Europa, que reinou sobre a Áustria de 1282 a 1918. Órfã de mãe aos 10 anos, foi educada pela madrasta Maria Luísa, musa e amiga pessoal do poeta Goethe. Sua infância foi marcada pela rigidez com os estudos, estímulos culturais diversos e aprendizado de línguas (falava 6 idiomas). O casamento se deu por procuração, em 13/5/1817 em Viena e recebeu a bênção nupcial em 6/11/1817, dia seguinte ao seu desembarque no Brasil. A viagem foi dificil e durou 86 dias com uma parada em Florença enquanto esperavam o restabelecimento da ordem monárquica, abalada pela Revolução Pernambucana de 1817. Ao chegar no Rio de Janeiro, o casal foi instalado numa casa de campo na Quinta da Boa Vista.
Ainda adolescente demonstrava interesse pelas ciências naturais, particularmente geologia e botânica. Assim, empenhou-se para que viesse junto com a comitiva uma grande expedição científica integrada por expressivos cientistas e artistas: Carl Friedrich Phillip von Martius, Johann Baptist von Spix, Jean Baptiste Debret, Thomas Ender entre outros. O interesse em conhecer o Brasil já havia despertado com a publicação do livro Viagem às regiões equinociais do novo continente feita de 1799 a 1804, por Alexnder von Humboldt. O processo de independência apresentava-se como fato concreto desde que os pernambucanos se rebelaram com esse intento e conseguiram, mesmo que por apenas 74 dias. Era preciso a independência antes que os brasileiros fizessem. A Revolução Liberal do Porto (1820), em Portugal, e o retorno forçado da Corte, em 1821, à Lisboa vieram acelerar o processo.
D. Pedro, aos 23 anos, ficou no Brasil como príncipe regente com amplos poderes e incapaz de dominar o caos instalado na colonia dominada pelas tropas portuguesas. A oposição entre portugueses e brasileiros tornou-se cada vez mais evidente. A partir daí Leopoldina, culta e escolada na diplomacia e politica, passa a interferir, junto com seu amigo José Bonifácio, decisivamente no processo de independência antes mesmo do marido. Quando foi exigido seu retorno à Lisboa, sua participação no ´Dia do Fico`, em 9/1/1822, foi decisiva. Neste dia ficou sentenciada sua permanência no Brasil e passou a agir nos bastidores, orientando uns e influenciando outros a aconselharem o marido, já que ele não lhe dava ouvidos. Pouco depois D. Pedro, enquanto viajava para São Paulo, é rebaixado a mero auxiliar da Corte Portuguesa. Ela, na condição de Princesa Regente do Imperio e aconselhada por José Bonifácio, reuniu, em 2/9/1822, o Conselho de Ministros e assina o decreto da Independência.
Ato contínuo, escreve uma carta ao marido: “É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína”. E adverte: “O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece”. A carta chegou às maos de D, Pedro nas margens do riacho Ipiranja, em 7 de setembro, e a Independencia foi proclamada. Pouco antes, ela idealizou a bandeira do Brasil, misturando o verde, da família Brajança, e o amarelo ouro da família Habsbsburgo, com a ajuda do pontor Debret. Essa história que o verde representa nossas matas e o amarelo nosso ouro foi inventada depois. Por fim, se empenhou a fundo no reconhecimento do novo País pelas cortes europeias, escrevendo cartas ao pai, imperador da Áustria, e ao sogro, rei de Portugal.
Foi aclamada imperatriz, em 1/12/1822, na coroação e sagração de D. Pedro e apartir daí assistimos seu martírio conjugal junto ao marido e suas amantes. Passou por uns perrengues com a amante oficial –Domitila- tendo que aceitá-la como dama de companhia, promovida a Marqueza de Santos, e o reconhecimento público da filha bastarda, promovida a Duqueza de Goiás. Até viagens junto com o marido e a amante teve que suportar, como a realizada no inicio de 1826 à Bahia. Bem antes disso já se via o abatimento físico e psicológico a que ficou reduzida, devotada apenas a parir um herdeiro para o trono.
Em meados de 1826, com a saúde abalada, enfrentou mais uma gravidez e enviou carta à irmã Maria Luísa, mencionando um terrível atentado que sofrera de seu marido. Em seguida foi definhando rápido, agravado com o aborto da criança, poucos dias antes de falecer em 11/12/1826. Há controvérsia sobre a causa mortis. Para uns sua morte decorreu de uma septicemia puerperal. Mas foi muito difundida a versão que teria sido as agressões físicas que sofreu durante um acesso de raiva do marido, em 20/11/1826. Tal versão foi defendida por historiadores, como Gabriac, Carl Seidler, John Armitage e Isabel Lustosa. Sua morte causou grande comoção popular e paralizou o Rio de Janeiro. Carlos H. Oberacker Jr., seu biógrafo, afirma na obra A Imperatriz Leopoldina: sua vida e sua época (1973), que “raras vezes uma estrangeira foi tão querida e reconhecida por um povo como ela”. Além dessa biografia oficial, muitas outras reconhecem seu papel e importância na História do Brasil, tais como os livros de Glória Kaiser, Dona Leopoldina, uma Habsburg no trono brasileiro (1997) e Johanna Prantner com Imperatriz Leopoldina do Brasil (1998).
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