Sempre fui muito aberto a parcerias. Acho que elas revigoram e possibilitam novos caminhos ao compositor. Assim é que tenho vários parceiros em minha caminhada na estrada da música. Alguns, entretanto, ao longo do tempo se revelam mais frequentes, por afinidade ou acaso. Assim é que Maria Dapaz, Leninho e Bráulio Medeiros são meus parceiros mais frequentes. Com este último, paraibano de Patos, nasceu ESTRADA LONGA, lançada inicialmente por Elba Ramalho cantando juntamente com Cezinha e, no mais recente disco nosso, por Alaíde Costa. É esta a versão que acompanha essa nossa história, nesta semana.
ESTRADA LONGA
Xico Bizerra e Bráulio Medeiros
se a estrada é longa eu parto mais cedo
se não tem clarão desacendo o medo
a solidão nunca foi meu brinquedo
eu faço tudo pelo nosso amor
por sobre as pedras eu apresso o passo
bebo da vontade de ter teu abraço
meu peito sorrindo bate sem compasso
fazendo festa para o nosso amor
se o mundo inteiro no meu ouvido vier cochichar
me dizendo que eu não devo ir
eu não ligo e digo, tô indo pra lá
pra te encontrar
coisa mais dengosa, coisa mais bonita
bordo em minha alma dois laços de fita
pra enfeitar o brilho do teu olhar
Contrariando a prática que utilizei nas 153 edições anteriores desta coluna HISTÓRIA DE MINHAS MÚSICAS, hoje publico uma música inédita que será lançada em breve no disco de Leninho de Bodocó, meu parceiro na canção. Em tempos de Lava-Jato (Limpa Fossa não seria mais adequado?), com Políticos, Líderes de Partido, Senadores, Tesoureiros, Empresários, Assessores, Banqueiros, Aspones presos, a música diz bem o que se pensa da classe política no Brasil de hoje. Infelizmente.
O penúltimo verso (DE SACO CHEIO COM TANTO CABRA SAFADO) foi substituído pelo cantor, contra a minha vontade, por DE SACO CHEIO DE TANTO SER ENGANADO.
DE SACO CHEIO
De Xico Bizerra e Leninho de Bodocó
Seu dotô,
Seu lero-lero num deixa barriga cheia
Prometer e num cumprir é coisa feia
Ocê pediu e nos votemo em vosmecê
Depois sumiu
Foi se esconder lá pras bandas do planalto
E eu aflito, te chamei, gritei bem alto
E o que eu queria era apenas lhe dizer:
Que o sol tá quente
E aquela chuva inté hoje num choveu
E o açude que vosmecê prometeu
É lama e pedra, toda a água evaporou
E as panela
Naquele tempo já tava quase vazia
Secou de vez como há tempo num se via
Trabái pra nos, nem notiça, seu dotô
Eu tô sabendo
Daqui uns tempo vosmece vai ta voltando
E o voto desse povo implorando
Que e pra poder ficar mais rico e mais feliz
Vou lhe dizendo
O nosso povo ta sofrendo um bocado
De saco cheio com tanto cabra safado
Que so pensa em roubar nosso país
"
O Poeta Pedro Romulo Nunes, inspirado como sempre, disse aqui pelo Face:
A vida é uma estrada
onde deixamos valores
há alguns plantado espinhos
e outros plantando flores
e nesta diversidade
aquele que faz maldade
com certeza colhe dores
Atrevido como sou, respondi-lhe:
E nessa estrada da vida
Que tem somente uma via
Existe semente boa
Outras sem qualquer valia
Só sei que plantando bondade
Não tem possibilidade
De não se colher alegria
Meu amigo BEBÉ DE NATÉRCIO, com sua sabedoria, disse:
Hoje eu tenho certeza
Que eu nasci sem juízo
Sou um plantador de sonhos
E nunca os realizo
E continuo plantando
Por que não dá prejuízo
Eu me atrevi e respondi:
isso não me aflige
de viver no prejuízo
para plantar os meus sonhos
de dinheiro eu não preciso
basta um tiquim de vontade
quase nada de juízo
Achando pouco, atrevi-me mais ainda e complementei dizendo:
Uma semente da boa
nesse chão que é meu piso
Esperar que chegue a hora
que o tempo dê o aviso
E preparar a colheita
muito canto, muito riso
Quem me conhece sabe que gosto de escrever pouco. É quase uma defesa: escrevendo pouco evito alguns riscos, como dizer bobagens além do razoável ou agredir a gramática mais do que o bom senso permite. Por isso escrevo pequenos contos, minúsculas crônicas, comentários breves. Inventei um dia, faz 3 anos, de escrever um romance: BASTIÃO DO JESUS BOM, ambientado num sertão qualquer dos nossos e habitado por loucos, carolas, políticos corruptos e gente comum e boa como toda a gente dos sertões. Não passei do terceiro capítulo. Curioso que já escrevi o capitulo final, criei todos as tramas e os personagens paralelos e as transformações morais e de comportamento por que passaram no decorrer da história e um desfecho da trama à la Garcia Marques. Todo o ‘miolo’ na cabeça, mas cadê coragem para concluir? Antes quero publicar o infantil PEQUENINAS HISTÓRIAS PARA GENTE PEQUENINA, (este pre-aprovado por boa editora pernambucana), e o meu xodó, meu livro que relata encontros meus e conversas com Luiz Gonzaga, Manoel Bandeira, Helder Camara, Lampião, Miguel Arraes, Ariano Suassuna, Paulo Freire, Josué de Castro, Naná Vasconcelos, Sivuca, Capiba, Padre Cícero, Jorge Amado, Vitalino, Patativa do Assaré, Moacyr Santos, Louro do Pajeú, João Cabral de Melo Neto, Pinto do Monteiro, dentre outros, personagens que têm as caracteristicas comuns de serem nordestinos, terem a minha admiração e não mais morarem em nosso plano terrestre. Um dia sai. Falta só um Editor se interessar. Aos desavisados, (avisar nunca faz mal) todos esses projetos estão devidamente registrados nos competentes órgãos e cartórios devidos (é triste que assim seja mas já tive idéias musicais e literárias ‘roubadas’ semvergonhamente). Pra quem gosta de escrever pouco até que eu me alonguei, né?
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No nosso CD Forroboxote 8 – COM A SANFONA AGARRADA NO PEITO a intenção foi de homenagear os grandes sanfoneiros do Brasil, louvando-os em cada faixa. Assim é que reverenciamos seu Luiz (Lua Brasil), Dominguinhos (Canção Adomingada), Sivuca (Fruto Severino), Oswaldinho (Xote Azul), Gennaro (Gennarando), Arlindo dos 8 Baixos (ParArlindo), dentre outros. De forma genérica homenageamos as mulheres sanfoneiras (Maria Forró) e os novos sanfoneiros que estavam surgindo. Para estes fizemos Ponta de Rama, eu e Bráulio Medeiros, música interpretada por Beto Hortis – um dos ‘pontas de rama’, sanfoneiros da nova geração – e Ébano Nunes.
PONTA DE RAMA
Xico Bizerra e Bráulio Medeiros
eu cresci à sombra de umbuzeiros
ladeado por mestres sanfoneiros
‘tô bebendo água limpa da raiz
vim sonhar os sonhos gonzagueanos
safrejar o forró por muitos anos
pra fazer o meu povo mais feliz
no calor de um baião acendo a chama
sou faísca, ‘inda sou ponta-de-rama
a sanfona é o meu bem-querer
aconchego domingos de poesia
sivuqueio mangaios de alegria
sertanejando frutos do prazer
do reinado araripe ao agreste
no sertão além-nordeste,
bem pra lá do moxotó
eu vou tocando, clareando a minha gente
feito estrela reluzente alumiando o forró
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Quando eu for Porto, ancore, desça, venha passear em mim, com calma, devagar, vasculhando-me a alma, tim-tim por tim-tim. Ao ancorar, derrame-me seu amor pra ganhar muito mais amor. Quando eu for perto, esqueça o longe pois o longe é tão distante que pode fazer cessar a hora desse instante e todo tempo é tempo e hora do amor. E quando eu for parto, parto de dar a luz e não parto do partir, seja a luz e o cordão na hora do parir, seja o sol e traga a luz pra pintar de paz todo o amor que há em todo porto perto de nós antes que um de nós parta. Serei feliz. Por ti.
Ser parceiro de Dominguinhos é algo que me emociona, sempre. Lembro que no dia seguinte em que ele me deu as músicas para que eu as ‘letrasse’, liguei pra ele, meio na brincadeira mas um pouco falando sério, e perguntei se era verdade que éramos parceiros ou se eu estava sonhando. Talvez tenha apenas inconscientemente utilizado um pretexto para ouvir aquela risadinha gostosa e sincera que ele tinha, tão característica dele. Assim é que fizemos TEMPO DE NÓS DOIS, um fado, sim, acreditem, um xote que transformei em Fado, e convidei André Rio para interpretar.
TEMPO DE NÓS DOIS
Dominguinhos e Xico Bizerra
Canta ANDRÉ RIO
pra te procurar vou além dos oceanos
flutuando numa brisa se preciso for
até na asa de um vento qualquer
não me importa o tempo, faça sol ou tempestade
cruzo mares e marés pela vontade
que eu tenho de te abraçar
temporais, eu sei, vão se aquietar
quando ouvirem o meu clamor
feixes de luz vão colorir o mar, inundá-lo de cor
e a cada nota desse meu cantar
o céu brindará u’a oração
virão as estrelas com seu clarear
apagar a escuridão
aí, então, ao te encontrar
em cada dia desses do depois
todo o sol irá sempre brilhar
nesse tempo de nós dois
saiba, meu amor, que o meu amor é teu
e é só teu também todo o meu bem-querer
aqueles faróis que iluminam esse mar
ao te encontrar vão se acender
quem me dera o dia em que eu pudesse te ver
me encantando aqui, nesse salão
se espalhando ao som de uma cantiga
de uma quase canção
dançando um fado à moda antiga
ou, quem sabe, um baião
Sivuca (1930-Itabaiana-2006-João Pessoa)
DESCOBRIDOR DE SUSTENIDOS E BEMÓIS
Recém-chegado de Paris, ele tinha marcado encontro com Miriam Makeba para ensaiar umas ‘coisinhas’, no dizer dele. Parecia estar desconfortável com a grandeza de Nova Iorque, tão maior e cruel que o Rio de Janeiro, Recife ou até mesmo a sua Itabaiana. Na porta do hotel onde o encontrei, deixou-me a impressão de que gostaria mesmo é de estar em João Pessoa, junto ao seu povo. Na ponta daquelas ‘streets’ não havia qualquer sanfoneiro fazendo floreios para o povo dançar. O único fole que ali roncava era o seu. Mas disse-me estar feliz. Pedi para levar a sua sanfona, brincando que faria parte do meu curriculum aquele ‘carrego’. Ele riu consentindo que o fizesse. E levei seu instrumento pelas ruas largas daquela cidade cheia de gente e de indiferenças. Na porta do Teatro, perguntei se podia assistir ao ensaio. Ele sorriu novamente e nada disse. Entendi que sim e sentei-me na primeira fila. Deu-me vontade de dizer-lhe que o meu cavalo fala inglês e que já ensaiava um baião para as matinês. É como se ali estivessem o rei, o bedel e o juiz rindo todo o riso que há no mundo, de alegria e emoção por ver dedos mágicos descobrindo sustenidos e bemóis naquela sanfona preta. Ao sair dali, senti-me como tantos Joões e Marias chorando a saudade do ir embora. No outro dia voltei para o Recife, obrigando-me a ser feliz por aquele momento.
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Sempre gostei de brincar com as palavras e com seus sentidos. O ‘me ninar’ tanto pode ser interpretada como cantiga de ninar como pode ser entendida como ‘meninar’, de tornar a canção criança, menina. O curioso é que pedi a Maciel Melo que participasse dela junto com Cléo Dantas e Maciel preferiu participar de uma outra canção do disco, SE TU QUISER, que, com o tempo, veio a ser minha canção mais gravada (193 vezes, que eu tenha conhecimento). Ela está no nosso FORROBOXOTE 2:
CANÇÃO DE MENINAR
Xico Bizerra
voltasse o tempo feito uma carrapeta
bailarina borboleta, piruetando prá trás
retiraria, das gavetas da memória
os brinquedos, as histórias, da criança tão fugaz
meu coração, nu da cintura prá cima
pés descalços, com a prima, na vida a cabracegar
minha emoção, calça curta sem destino
nesse meu peito malino, bundacanastra a virar
subir mangueira, atiradeira, pontaria
‘passarim’ que não sabia da mão certa foi ao chão
bucho, mercúrio, quem mandou fazer besteira?
treloso, descer ladeira pinotando, escorregão
portão alto, salto, joelho ralado
e o quintal que está ao lado fica com caju de menos
goiaba verde, tá de vez seriguela, vou levar mangas prá ela
beijos, pecados pequenos
– seis padre-nossos, salve-rainha no altar
quem me mandou desejar tão cedo o que eu não devia?
nesse teatro, do amor fui aprendiz
brincamos de ser feliz, todo tempo era invernia
e na escola, soletrar felicidade
tabuada da verdade, palmatória, noves fora
banhos de açude, jogos de bola e pião
no são joão, soltar balão, brincante ator, sertão afora
perambulo, veredas da meninice
coração, mestre em tolice
emoção, menoridade
e todo dia, vários sonhos a beber
sou criança a renascer
nas varandas da saudade
Sempre estou a reportar-me às parcerias que tive com o Mestre Dominguinhos. Não à toa. É uma marca que permanecerá até o fim essa sorte que tive de tê-lo como parceiro. A música de hoje é uma delas, das que fazem parte de meu Forroboxote 10 – LUAR AGRESTE NO CÉU CARIRI. Interpretada por Tonfil, sobrinho de Bia Marinho e filho de São José do Egito, região em que todos são Poetas. Tonfil, além de Poeta, é um grande cantador.
TODO TUDO E POUCO NADA
Xico Bizerra e Dominguinhos
quando o teu olhar chega junto do meu
é chuva derramada no sertão
a nota que faltava na minha canção
lua que enluara o estradar
o brilho que há no riso dos teus olhos
faz festa no raso do meu olhar
celebrando a tua chegada
recitando o verbo amar
meia hora antes de te ver
eu já começo a ser feliz
com um minuto do teu bem-querer
tenho o céu que eu sempre quis
tantos poema tentei compor
mil versos fazer pra ti
esse teu amor
é a poesia mais bonita que já vi
todo tudo e pouco nada
vou deixando para trás
teu olhar é a pousada
em que dorme a minha paz
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Na nossa história musical temos parceiros frequentes – Maria Dapaz é o mehor exemplo disso, com mais de 30 canções compostas em dupla e alguns eventuais, por falta de oportunidade, pela distância ou por outros fatores. Esta música é uma parceria minha com Biguá, músico talentoso, mas que mora em São Paulo, o que dificulta maior número de canções e parcerias. Esta é nossa única música e quem canta é próprio Biguá.
AMOR DE PASSARINHO
Xico Bizerra e Biguá
xô! amor de passarinho,
bateu asas mundo afora pra bem longe voou
pegou o meu amor e foi embora
sem rumo, sem destino, vazia e deserta
deixou a minha vida e meu coração
quando você foi fiquei atrás da porta
lágrima no rosto, saudade que corta
esperando aqui pra ter você de volta
sem rumo, sem destino, ave incerta
deixou vazia a vida e muda a canção
e eu que não tranquei a porta da gaiola
tive que voltar de novo pra escola
pra aprender prender um coração
Em parceria com meu amigo Bebé de Natércio, de Itaporanga, na Paraíba, construímos a trilha sonora do Auto de Natal do Colégio Marista de João Pessoa. Um dos trabalhos mais prazerosos eu fiz na área artística. Um grande musical, com vários e bons intérpretes, dentre eles Irah Cadeira que cantou, dentre outras, esta canção em louvor à Maria. Não lembro exatamente o ano, mas algo em torno de 2004.
A BOA MÃE
Xico Bizerra e Bebé de Natércio
a luz lá do alto sobre ti desceu
oh santa maria que deus escolheu
minh’alma se encanta na tua canção
cantar de maria – mãe da salvação
concebeste o filho sem pecado
o bendito fruto do amor
do teu ventre veio o mais amado
rogai por teu povo pecador
maria das graças, maria das dores
traz a nós a benção dos amores
Esta é inédita e é mais uma parceria minha com Maria Dapaz, minha parceira mais frequente. É um blues, que recebeu arranjo de Luciano Magno. Gravaram, além do próprio Luciano nos violões, Guto Santana, na gaita. As vozes são de Edilza e Bárbara Aires, talento que se transferiu de mãe para filha. O detalhe maior é que esta música é inédita e consta de nosso disco VALSAS, CANÇÕES E TUDO O MAIS QUE HÁ, a ser lançado em Julho vindouro. No JBF em primeiríssima mão.
A CANÇÃO QUE ELIS NÃO CANTOU
Xico Bizerra e Maria Dapaz
E o amor com seu passo trôpego
Foi dar milho aos passarinhos
Colher pitanga nos quintais vizinhos
E o amor com cheiro de pétalas
Foi andar pela cidade
Depois dançar um tango com a saudade
E o amor entornou o cálice
Foi com a lua namorar
E tirar onda com as ondas do mar
De tão ocupado não sobrou tempo ao amor
Pra se chegar a mim, pra me dizer que sim
De tão desprezado nenhum tempo houve em mim
Pra esquecer a dor, para brincar de amor
Nem houve tempo pra escutar a canção que Elis não cantou
E o amor beijou o sol flácido
Repartiu sua luz com as rãs
Na casa das mais distantes manhãs
De tão ocupado não sobrou tempo ao amor
Pra se chegar a mim, pra me dizer que sim
De tão desprezado nenhum tempo houve em mim
Pra esquecer a dor, para brincar de amor
Nem houve tempo pra escutar a canção que Elis não cantou
A FELICIDADE VEM
Quando Joana foi gravar seu mais recente disco, ISSO É QUE É FORRÓ, pediu-me algumas músicas para nele incluir. Cedi-lhe, dente outras, A FELICIDADE VEM, uma parceria minha com Junior Vieira. Sempre gostei muito de Joana Angélica, remanescente do forró das antigas, ex-cronner da Bandinha de Camarão, grande músico recentemente ‘viajado’ para o céu. Resultado é o que se contém nesta postagem. Espero que gostem.
prá que brincar de solidão? meu coração não é caixa de segredo
não aguenta essa maldade e quando bate a saudade fica morrendo de medo
e aí vem desassossego, o juízo pede arrego quase em tempo de endoidar
e o sujeito vai deitar pensando nela
‘tá na cama e o cheiro dela não lhe deixa cochilar
a solidão mata a força e tira a fé
e o caboco só quer encontrar quem lhe quer bem
e quando o amor bate a porta do seu peito
meu amigo, não tem jeito, a felicidade vem
ê ô a felicidade vem, ê ô a felicidade vem
ê ô a felicidade vem, a tristeza vai embora e a felicidade vem
A FELI CIDADE VEM
Xico Bizerra e Junior Vieira
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A ROUPA DA NATUREZA
HISTÓRIA DE MINHAS MÚSICAS 03.10
Sobre poema que escrevi para uma instituição ligada à terra e à natureza (gravada como poesia por Ronaldo Aboiador), o mestre Gennaro, conceituado músico acordeonista brasileiro, colocou melodia. A música foi gravada recentemente por Verônica e diz assim, em sua letra:
nunca vi nada mais lindo do que um céu se nublando
é são pedro anunciando a chuva que já tá vindo
o sertão fica sorrindo tudo vira uma beleza
é são josé, com certeza, mandando que o céu chore
de verde a chuva colore as vestes da natureza
quando pinga um gotejo ainda que seja neblina
mesmo sendo chuva fina é festa pro sertanejo
ele vê e eu também vejo a comida em sua mesa
esperança fica acesa alegria se avizinha
a chuva deixa verdinha a roupa da natureza
e se tudo ‘tá florado o inverno garantido
o feijão pra ser colhido e o milho penduado
na igreja, ajoelhado se agradece a formosura
de uma casa com fartura faz-se prece em louvor
da chuva que esverdeou a roupa da mãe natura
e o pinga-pinga pingando cada gota é um tesouro
são vários quilos de ouro o terreiro aguando
vendo a lavoura florando o caboco, satisfeito
se ajoelha, mão no peito agradece, bem contrito
pela trajar, tão bonito verdinho, daquele jeito
Verônica
A ROUPA DA NATUREZA
Xico Bizerra e Genarro
No AUTO DE NATAL que fizemos para o Estado da Paraíba, anjo de 2007, tínhamos, eu e meu parceiro Bebé de Natércio, que fazer uma música alusiva ao batismo de Jesus. Foi quando surgiu a ideia do ACALANTO PARA JOÃO BATISTA, que foi incluída no disco referente ao evento , na belíssima interpretação de Mayra Montenegro, artista paraibana de grande valor, como pode ser comprovado na audição que possibilitamos nesta semana.
Mayra Montenegro
ACALANTO PARA JOÃO BATISTA
Xico Bizerra e Bebé de Natércio
Dorme, meu filho, que deus que veio testificar
és o milagre em mim, sonho pra realizar
que a sombra do amor maior viestes profetizar
dorme meu mel que o céu só te trará sonhos bons
as harpas celestiais enviaram os seus sons
para que te fortaleça em deus com todos os seus dons
dorme meu filho querido que é grande a tua missão
comunicar a chegada de quem traz a salvação
na tua fala começa a paz do amor cristão
"
Na construção do disco de Leninho, em 2012, faltava uma música para fechar o reepertório e combinamos, eu e Leninho, parceiro nesta canção, que enviaria rapidamente uma letra para ele musicar. Foi assim que nasceu Água Benta. Logo depois, Jesuino ouviu a música, gostou e a colocou em seu disco, também.
Leninho
ÁGUA BENTA
Xico Bizerra e Leninho
Na soleira do meu peito escanchou-se uma saudade
na lembrança eu sentia um gostinho de bombom
quando eu tinha o seu batom todo dia em minha boca
e o teu cheiro de cabocla, meu deus como era bom
me bateu uma tristeza, meus ‘oio’ virou açude
fez do meu coração rude sangradouro
por te amar vou colhendo esse penar
da alegria que plantei até quando eu não sei
até quando tu voltar
meu coração escancarado, acelerado, quase implora
pra te ver, não se demora, vem correndo, vem agora
não piora esse sofrer
há muito tempo ta vazio o meu abraço
e o meu braço ta que ta que não se agüenta
não se demora, vem correndo pro meu lado
vem ser minha água benta
Manuel Bandeira (1886-Recife-1968-Rio de Janeiro)
DE PASSAGEM POR PASÁRGADA
Quando a andorinha pousou e disse que passou o dia todo à toa, à toa, a estrela da manhã brilhou no céu anunciando que Bandeira estava ali, poetando. Avistei-o em Pasárgada e me aproximei. Pensei encontrá-lo arrodeado de belas prostitutas, mas não. Estava só, deitado à beira do rio, cansado: acabara de fazer ginástica, andar de bicicleta e montar em burro brabo. Esperava a mãe-d’água contar-lhe história e fazer-lhe lembrar Rosa, de seus tempos de menino. Perguntei-lhe se estava triste e se já tinha escolhido a cama para aquela noite. Ele riu. Não me respondeu. Mas deixou transparecer no olhar e num sorrisinho sob os óculos, que teria, àquela noite, a mulher que queria, a mulher que amava. Afinal, em Pasárgada ele era feliz, pelos alcaloides, pelos telefones automáticos, pelos processos contraceptivos e pela aventura que era viver ali. E eu me contentava apenas em conversar com Bandeira. Naquele dia em Pasárgada, com a estrela da manhã acesa no firmamento e as andorinhas soltas no céu, eu também era amigo do rei.
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