Sempre gostei de brincar com as palavras e com seus sentidos. O ‘me ninar’ tanto pode ser interpretada como cantiga de ninar como pode ser entendida como ‘meninar’, de tornar a canção criança, menina. O curioso é que pedi a Maciel Melo que participasse dela junto com Cléo Dantas e Maciel preferiu participar de uma outra canção do disco, SE TU QUISER, que, com o tempo, veio a ser minha canção mais gravada (193 vezes, que eu tenha conhecimento). Ela está no nosso FORROBOXOTE 2:
CANÇÃO DE MENINAR
Xico Bizerra
voltasse o tempo feito uma carrapeta
bailarina borboleta, piruetando prá trás
retiraria, das gavetas da memória
os brinquedos, as histórias, da criança tão fugaz
meu coração, nu da cintura prá cima
pés descalços, com a prima, na vida a cabracegar
minha emoção, calça curta sem destino
nesse meu peito malino, bundacanastra a virar
subir mangueira, atiradeira, pontaria
‘passarim’ que não sabia da mão certa foi ao chão
bucho, mercúrio, quem mandou fazer besteira?
treloso, descer ladeira pinotando, escorregão
portão alto, salto, joelho ralado
e o quintal que está ao lado fica com caju de menos
goiaba verde, tá de vez seriguela, vou levar mangas prá ela
beijos, pecados pequenos
– seis padre-nossos, salve-rainha no altar
quem me mandou desejar tão cedo o que eu não devia?
nesse teatro, do amor fui aprendiz
brincamos de ser feliz, todo tempo era invernia
e na escola, soletrar felicidade
tabuada da verdade, palmatória, noves fora
banhos de açude, jogos de bola e pião
no são joão, soltar balão, brincante ator, sertão afora
perambulo, veredas da meninice
coração, mestre em tolice
emoção, menoridade
e todo dia, vários sonhos a beber
sou criança a renascer
nas varandas da saudade