Eis que a madrugada chega, apressada, estragando o prazer do homem só. Quantas doses lhe foram servidas? Quantos cinzeiros se encheram com as cinzas de seu cigarro? E agora, quanta conversa terá que ser adiada até o próximo encontro? Quantos abraços deixarão de ser trocados? Conversas outras ficarão de novo guardadas. Palavras continuarão escondidas no fundo do coração, silentes e misteriosas. São segredos apenas conhecidos daquela mulher de coxas muitas, seios fartos e decote generoso, tanto quanto seus ouvidos a escutar histórias, lamentos e confidências indecorosas. As cores da Noite abraçam a luz do Dia. Cadeiras começam a se amontoar nos cantos e as toalhas manchadas se preparam para o iminente enxágue. As mesas serão limpas, já à luz do sol. Os abajures se apagam e a sala se despenumbra lentamente. No palco da lembrança, os mais melosos boleros parecem soar para deleite da alma. O garçom, já sem gravata, lhe serve o derradeiro whisky enquanto a mulher se despede presenteando-o com um beijo, meio-batom, meio-gim. O homem volta a ser só. Ele, ele e sua saudade de não sei o quê.
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