O silêncio das alturas é tão intenso que arranha meus ouvidos. Estou no cume da montanha e, de cima, vejo tudo o que os olhos não deixam ver. Sinto o cheiro da alegria em cada pássaro que se atreve a tão alto voar. Eles farejam risos e beliscam grãos de felicidade que só encontram nos pomares próximos do céu. Aqui, até a chuva que desabita os sertões parece pintada com as cores da paz e cada gota se colore com a cor da paz se mistura numa aquarela de intensas cores outras, também de paz. Aí, o sabor do saber toma conta de minha alma até então ignorante e passo a perceber o quanto pequeno somos, o quanto frágeis estamos na base, sem escadas, sem apoio. Voar. Tivéssemos asas assim o faríamos, todos os dias. Mas temos apenas pernas, fracas, impotentes para que o eventual percurso desejado se repita no dia-a-dia. É sentar, contemplar e dizer obrigado à mãe natura. E ali demorar-se, por quanto tempo der, sem calendários, sem relógios, sem ninguém. Numa conversa íntima com Deus.