As mãos que escavam covas e aram a terra são as mesmas que se postam na oração pela ventura da vida. São mãos de unhas cravejadas de dor. São mãos, são nãos conflitando com todos os sins. Nos sertões desabrigados de inverno, elas se unem, umas às outras, para pedir chuva e agradecer chuviscos, quando caem. Não caindo, novamente se postam à espera de trovões e relâmpagos, que quase nunca vêm. Mãos que se encontram em procissões e filas de fome, de busca de pão. Mãos adultas que ensinam a maõzinhas menores os caminhos que nem mesmos os maiores de mãos sabem se certos. Mãos que assinam leis e assassinam gente e bichos, que batem e disparam armas mas que também regem orquestras, que tocam canções e vão aos parques. Mãos de lutas, mãos que afagam e acariciam, que rezam terço e novenas, batem palmas nas novenas e tocam tambor em todos os terreiros. Mãos que catam feijão e preparam peixes, que lavam pratos e passam roupa. Mãos de mães. Ternas.São mãos que votam e escolhem seus algozes. Mãos que se cruzam, no leito final, quando a vida se descruza. As mesmas mãos.