Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Jessier Quirino, o Homem Show segunda, 01 de outubro de 2018

COMÍCIO DE BECO ESTREITO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 28 de setembro de 2018

COISAS PRA SE DIZER BENZÓ DEUS

 

 
COISAS PRA SE DIZER BENZÓ DEUS

 

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 21 de setembro de 2018

PAISAGEM DE INTERIOR

 

 
PAISAGEM DE INTERIOR


 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 07 de setembro de 2018

O MATUTO E O BARBEIRO
 
O MATUTO E O BARBEIRO

 


Jessier Quirino - De Cumpade pra Cumpade terça, 04 de setembro de 2018

*LUTO* - SENTIMENTO COR DE ANUM (JESSIER QUIRINO, O HOMEM-SHOW DO BRASIL, É COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

 
 
*LUTO* - SENTIMENTO COR DE ANUM

PELA MORTE DO MUSEU NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

Querendo apenas tentar
Rezar sem dizer amém:

Foi-se embora a memória
De um Brasil inda rapaz.
Daqui a pouco é futuro
E o tempo não volta mais.

 

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 31 de agosto de 2018

COMÍCIO DE BECO ESTREITO

 

COMÍCIO DE BECO ESTREITO

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 24 de agosto de 2018

PANO DE LEITE, ESQUETE, COM JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 17 de agosto de 2018

PAIXÃO DE ATLÂNTICO NA BEIRA DO MAR


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 10 de agosto de 2018

ESCUTAÇÃO DE MEI DE FEIRA



ESCUTAÇÃO DE ‘MEI’ DE FEIRA

 

 

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 03 de agosto de 2018

MANÉ CABELIM E A INTERNET


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 20 de julho de 2018

CAMINHÃO DE MUDANÇA, COM JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 06 de julho de 2018

BOLERO DE IZABEL, COM JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 29 de junho de 2018

GATO & CACHORRO

 

Nem sequer era pantera
Era a verdadeira gata
Bichanidade gatesca.

Se vinha vindo, gatinha
Se ia indo, gatona
Se dormia, era bichana
Se falava, era Mimi
Se caçava, não miava
Se contente, ronronava
Pra lá pra cá desfilava
No muro de passarela
Com habilidade miau.

Pra ela, telhado de louça
De gelo puro ou cristal
E um tobogã de aventuras
Pra escorregar das alturas
E cair no meu quintal.

Ass. Pluto
puto da existência

 

 

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 22 de junho de 2018

COMO RAPAR UM CALDEIRÃO DE CANJICA NO DESMANCHADO DA TARDE DE UM 23 DE SÃO JOÃO

 

COMO RAPAR UM CALDEIRÃO DE CANJICA NO DESMANCHADO DA TARDE DE UM 23 DE SÃO JOÃO

Primeiro, Dona Maria,
Largar de tanto vexame
E, no arrepio do vento,
Deixar o rico alimento
No caldeirão esfriar.

Cuidar em limpar a casa
Que se deu pra canjicada.
Depois da casa bem limpa,
Varrida e passada um pano,
Encobrir-se em bãe de cuia:

– Água quebrada a frieza…

…E sair de macieza
Só brilhando a sabonete,
Pra não ofuscar o lume
De tanta canjicação.

Reservar para audição
Somente um ruidozinho
De bomba estalo-bebé
De um traque, um busca-pé
E o pipoco festejado
De um foguetão distante.

Sentar num banco afundado
Com toda casa em silêncio
E abraçar, de caçoada,
O caldeirão da canjica
Assim feito um zabumbeiro
Acalentando um baião.

Com a colher de pau na mão,
No oco do caldeirão,
Remar de força junina
E mesmo sem etiqueta
Lamber dedão de chupeta
E começar a função:

Rapar somente a beirada
E um pouquinho do cascão
E convidar a plateia:
Cinco filho em rafameia
Pra seção de pré-estreia
De uma festa de São João.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 15 de junho de 2018

COMO RETRATAR A BONDADE DE UM JUMENTO

 

Primeiro, pintar na tela, agrinaldando a moldura,
Um cerca de arame com saia de xiquexique
Um trecho de pau a pique e uma cancela escancarada.

Pintar um chão nacional ou mesmo desnacional
Mas que seja um chão de paz
E nunca um chão ofendido, pisoteado de guerra.

Depois, tirando defunto,
Retratar fatos e coisas vividas e inanimadas
Desde sempre transportadas nas cacundas dos jumentos:

Cangalha, lastro, carroça, arado de plantação
Tijolo, barro, arame, lenha, água, pedra e cal
Toda nação de safra de produção sertaneja
Traste minguado, vaqueiro
Matuto passarinheiro, noivos, menino, mulher
Vigário, bispo, Jesus…

Depois, recostar o quadro no tronco dum juazeiro
Daqueles bem prazenteiros
Vizinho a qualquer basculho.

Daí a pouco, a um nada
Ou pouco mais que um pouquinho
Chega, a passo de cágado, nosso esperado burrinho.

Quando ele entrar no cercado,
Deixar soprar na cancela um ventinho “arriba a saia”,
E a cancela vai de vela no rumo do batedor: Pááá!
Depois do jumento preso, se o cabra for bom pintor
Tem que mostrar seu valor desconstruindo o cercado:
Despintar, uma por uma, a rigidez das estacas
Todas as pautas de arames
Apagar todos os fardos que lhe pesaram no lombo
E acrescentar ao desenho algo de simples e belo:

Uns rebentos de capim
Mutirões de cacarejos
Voejos de passarim
E uma terra fértil e preta
Feito chão de rezadeira.

Pra cena ficar mais rica
Transparente e verdadeira,
Bem lá no fundo do quadro,
Pintar um pouco de acaso:

Uma manhã de sol morno
Uma aconchegança brejeira
E um balde de leite fresco
Cheirando à vaca por dentro
Mugindo um sopro entoado.

Com o panorama pintado
Dar, em forma de assobio,
Um siu! De chamar “Roxim”
E esperar o resultado.

Se o jumento erguer orelhas
E fitar você de lado
É sinal que o quadro é bom
E pode ser assinado.

Basta arrancar levemente
De ligeiro amaciado
Três cabelinhos de rabo
E rabiscar de renome
Seu nome e seu sobrenome
Bem no cantinho do quadro.

 

 

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 08 de junho de 2018

O MATUTO E O CORONÉ
 

Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 01 de junho de 2018

MARIA BONITA

 

Maria Bonita
Bonita Maria
De laço de fita.

Escrita de embelezar.

Moça de cor azeitonada
Gestos cáqui
Chapéu valente…
Bem dizer fez Virgulino
Levitar em munição.

Sem a mínima ligança
Pras balas ferinas
De boas avenças
Entrou na questão.

De água em moringa
Deu seiva ao cangaço
Que nem sorveteiro
De grito em morango:

– Sorvete!!!!!!!!!!!

E ganhou alvará
Para se arvorar
No bravo Sertão.

E de Royal Briar
Banhou-se de cheiro
De alma em paixão.

E de rifle e punhal
É flor principal
Do amor fortidão.

E de léguas beiçais
Embrenhou-se na história
De toda a nação.

 

 

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 25 de maio de 2018

OBRA INACABADA DE UMA COLHER DE PEDREIRO

 

Na vida sou mão de ferro
Mas também sei alisar
Taliquá um joão-de-barro
Que faz do bico a destreza
De tirar da natureza
O mais puro edificar.
Eu enxergo em minha mão
Os cinco andares de um prédio:
O mínimo, anular e médio
Fura-bolo e polegar.

Empurro a mão na areia
Faço pirão de cimento
Dou caratê em tijolo
Faço base, assentamento,
Ando no alinhamento,
Na busca de endireitar,
Reboco de lá pra cá
Chapisco em meia colher
E acredite se quiser
Me divirto em chapiscar.

Me atrepo nos andaime
Arriscoso desabar
E no fim de cada dia
Rezo três alvenarias
Pra sorte me acompanhar.
E nessa luta de fé,
Assumo em voz de colher:
No ramo da construção
Minha única frustração
É não conseguir pintar…

Mas, calma, meus pessuá!
Eu vou dizer pra vocês:
Se tiver tinta xadrez
E um piso pra terminar
Eu meto a mão na cumbuca
Remexo o tal tingimento
E cubro o chão de cimento
Com o mais vermelho encarnado,
E deixo semiacabado
Só carecendo encerar.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 18 de maio de 2018

AGRURAS DA LATA D,ÁGUA, POEMA, COM JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 11 de maio de 2018

VELHO OESTE

 

Um aeromoço xerife
Com semblante de xerife,
Boca torta de xerife,
Roupa preta de xerife,
Prevendo grande duelo,
Encarou-me em cartucheira
E disse: – Renda-se, cabra da peste!!

Eu, com o olhar de roliúde
Mirei a decoração:
O peito era brilho só.
E eu disse:
– É nada, estrela!!!
Com tragédia no andar
Abri asas de caubói
E o oeste em fim de nave
Palitando os incisivos.

De repente, a fala da difusora:

– Avisamos ao mocinho, ao bandido e ao xerife
Que não é permitido atirar a bordo.

Voltei pra primeira classe e tornei a cochilar.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 04 de maio de 2018

MOVIMENTO DOS SEM-PÉ-NEM-CABEÇA
 

Eu sou do time dos sem mala e sem malemolência
Sem aparência aprisionada filha do botox
Sem prato inox, sem finesse e sem BMW
Sem um alfarrábio num caderno pra tirar xerox.

Sou Movimento dos Sem-Pé do pé 47
Sou canivete sem a lâmina que perdeu o cabo
Quase me acabo pra matar o mosquetão dum cano
E entrei no cano justamente pra fugir de um cabo.

De cabo a rabo estou no muro dessa honoris causa
Com a menopausa menstruada da rapaziada
Cravei zoada na memória de um pensamento
E o Movimento Sem Cabeça deu com o Pé na estrada.

Puxei a trança avermelhada de um sansão careca
Com a terereca da firmeza dessa nossa luta
Filhos da puta! Supliquei de voz aveludada
Pois sem veludo na cabeça um pé não se disputa.

E a caravana dos Sem-Pés seguiu de espora avante
Causa gigante dos anões dos fundos everestes
Marrom-celeste é o dolorido de nossa bandeira
A verdadeira bananeira que esse Adão me veste.

Se eu for eleito inelegível, serei coroado
Com os pés rachados pelas plumas dessa nossa sina
E a purpurina gente fina feito um baobá
Tibungará na vermelhura desse azul-piscina.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 20 de abril de 2018

JUSTIÇA COM O PRÓPRIO DEDO

 

 

Essa Justiça tá uma vergonha.

Réu, em denúncia amundiçada de vizinho brigador, foi obrigado, por lei, a cumprir distância mínima de 2000 metros da vítima, tendo que arrodiar, de casa para o trabalho, o mais esticado arrodeio que um réu já rodeou. Muro da China era pinto e o réu lançou mão dos pula-muros jurídicos etc. e coisa e tá. Conseguiu na Justiça, por meio de liminar, reduzir a distância pra 1000 metros; 500 metros; 100 metros; 10; 3… Finalmente, quando conseguiu 80 centímetros, feriu moralmente a vítima, atingindo-a na região glútea, com o dedo médio em estaca, ladeado, em meia altura, do indicador e anular. Matou a vítima de vergonha.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 13 de abril de 2018

A PRIORI, É ISSO AÍ

Jessier Quirino

É melhor ser meio doido do que ser meio tantã
Qualquer dor de madrugada dói bem mais que de manhã
Don Juan era o gostoso, mas bem menos que Tarzan.

Irmã Dulce é bem mais alta do que Claudia Cardinale
Um bafejo nas urêia esquenta mais que um xale
Charles Chaplin é mais artista que 200 Woody Allen.

 

Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 24 de março de 2018

I LOVE YOU MATUTADO YOUTUBE, COM JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show terça, 13 de março de 2018

MARIA BONITA

 

Foto da foto: Jessier Quirino
Foto da publicação: Benjamim Abrahão (1936)

8 de março, é também, a data de nascimento de Maria Gomes de Oliveira (1911-1938 ), mais conhecida por Maria bonita.

Na passagem dos 100 anos de nascimento de Maria Bonita, recebi uma incumbência, digamos, de certa responsabilidade: fazer um poema pra mulher do Capitão Virgulino Lampião.

O convite veio por parte de familiares (minha amiga Vera Ferreira, que é neta; e Dona Expedita, que é filha única de Lampião e Maria Bonita).

Declamei, de boca própria, para Dona Expedita e grande plateia, em evento solene realizado em Salvador, no dia 8 de Março de 2011.

Poema publicado, em edição de luxo, no livro Bonita Maria do Capitão. Autoria de Vera Ferreira e Germana Gonçalves de Araújo.

Maria Bonita
Bonita Maria
De laço de fita.

Escrita de embelezar.

Moça de cor azeitonada
Gestos cáqui
Chapéu valente…
Bem dizer fez Virgulino
Levitar em munição.

Sem a mínima ligança
Pras balas ferinas
De boas avenças
Entrou na questão.

De água em moringa
Deu seiva ao cangaço
Que nem sorveteiro
De grito em morango:

– Sorvete!!!!!!!!!!!

E ganhou alvará
Para se arvorar
No bravo Sertão.

E de Royal Briar
Banhou-se de cheiro
De alma em paixão.

E de rifle e punhal
É flor principal
Do amor fortidão.

E de léguas beiçais
Embrenhou-se na história
De toda a nação.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 09 de março de 2018

SOU FÃ DO BILHETISMO DO AMOR

 

Num papel dobrado em quatro
Escrever o nome dela
E uma chamadazinha de atenção:

Eu já tou que mais pareço
Uma banda duma banda tua.

Fazer uma estrela e uma lua
E um verso dizendo assim:

Quero ser o teu espelho
Tua cortina de banheiro
Teu gancho de provador
Teu direito e teu canhoto
Pois nós nascemo um pro outro
Feito pobre e isopor.

Selar com o leite do avelós
E esperar que ela leia
À luz de candeeiro segurado.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 23 de fevereiro de 2018

HISTÓRIA PARA DOIS DORMIR

 

Ela, bem dizer, uma vila faceira com direitos de cidade; eu, recreio de criança a fim da maioridade.

 

 Ela, cabelo frevando
Eu, helicóptero de alegria.

Ela, blusa tomara-que-caia
Eu, tomara! Eu só toamara!

Ela se amostradeira de feira
Eu, papel de ouro e rapadura.

Ela, champanhota e cervejota
Eu, gute-gute misturado.

Ela, sino bom-bom! De melodia.
Eu, sino bem-bem! De alegria.

Ela, abra-a-boca-e-feche-os-olhos…

Eu quieto, de boca em uva
Esperando outras privanças
Que, segundo padre Alfredo,
Se assemelhavam com os céus.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 16 de fevereiro de 2018

CURRICULUM VIXE!

 

Severino Abufelado
Meu Curriculum Vixe!

Sempre fui um manteiga derretida (fervilhando)
Um cabôco estabanado
Cascavélico, parrudo, malino e espalha-brasas.

Já fui:
Hércules de feira
Afrouxador de porca de Mercedes
Fui domador de onça
Carregador de piano
Trocador de alvo em estande de tiro (45 e bazuca)
Flanelinha de estacionamento de crocodilo
Degustador oficial da cachaça Lasca-tudo (daquela do rótulo azul)
Pretendente de guerra do lado de dentro
Lançador de rojão e marcador de quadrilha do São João de Bagdá
Nunca aprendi a voar, mas tenho um primo chamado Falcão.

Durante o capim da infância, comi pólvora com maisena
Purezinho de tutano com pó de osso e rapadura
Raspa de chaminé de navio e prega de cu de búfalo.

Já pintei muito sete em fama de delegado
Já acertei três tiros (pé de pinto) em alvo de vinte metros
Assisti muito filme de Maciste mastigando quebra-queixo
Fui arrancador de mourão e esmagador de quase-tudo.

Atualmente, por força da idade, ando domesticado:

Sou presidente da Academia Amolestada de Letras
E reco-requista festivo de zoológico:

Alegro as criancinhas arrastando uma vareta na jaulinha dos leões.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 09 de fevereiro de 2018

AVE MARIA DAS MANGUEIRAS

 

Participação especial de Marcela, filha deste colunista

O meu olho pidão gastando córnea
Meu olfato gastando aspiração
Uma sombra que dá pano pras mangas
É a mangueira botando em vastidão
Bota nódoa na flor do coração
Bota doce no azedo da munganga
A despencação madura duma manga
Faz um ploft! festivo no Sertão.

Sindicato das árvores é uma mangueira
Esbanjando seus frutos e resinas
Corta-jaca de amores em campinas
Macieira de Eva e de Adão
Dá seu dorso pra flecha e coração
Dá seu palco pra missa e pra charanga
A despencação madura duma manga
Faz um ploft! festivo no Sertão.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 02 de fevereiro de 2018

COCO DO PÉ DE MANGA, COM JESSIER QUIRINO

 

Participação de Túlio Borges

As mangueiras tão de luto
E as mangas de sentimento
Derrubaram um pé de manga
Pra fazer um apartamento.

Um pé de manga
Um pé de cupuaçu
Um pé de jaca, um pé de coco
E lindo pé de caju
Como é que pode
Tamanho descabimento
Derrubar um pé de manga
Pra fazer um apartamento.

As mangueiras tão de luto
E as mangas de sentimento…

Um pé de manga
Um pé de jaca e um pé de pinha
De pitomba e graviola
Daquela bem papudinha
Como é que pode
Um cabra sem atributo
Derrubar um pé de jaca
Pra fazer um viaduto.

As jacas de sentimento
E as jaqueiras tão de luto…

Um pé de jaca
Um pezinho de romã
Jambeiro, tamarinheiro
Banana prata e maçã
Como é que pode
Um cabra sem-vergonhento
Derrubar um pé de jambo
Pra fazer um apartamento.

Os jambeiros tão de luto
E os jambos de sentimento

Um pé de jambo
Um lindo pé de canela
Sapoti, coisa mais bela
E um pé de maracujá
É de lascar…
Um pé de lima carregado
Abacateiro florado
Q’eu não posso nem lembrar.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 26 de janeiro de 2018

COMO RAPAR UM CALDEIRÃO DE CANJICA NO DESMANCHADO DA TARDE DE UM 23 DE SÃO JOÃO

 

Primeiro, Dona Maria,
Largar de tanto vexame
E, no arrepio do vento,
Deixar o rico alimento
No caldeirão esfriar.

Cuidar em limpar a casa
Que se deu pra canjicada.
Depois da casa bem limpa,
Varrida e passada um pano,
Encobrir-se em bãe de cuia:

– Água quebrada a frieza…

…E sair de macieza
Só brilhando a sabonete,
Pra não ofuscar o lume
De tanta canjicação.

Reservar para audição
Somente um ruidozinho
De bomba estalo-bebé
De um traque, um busca-pé
E o pipoco festejado
De um foguetão distante.

Sentar num banco afundado
Com toda casa em silêncio
E abraçar, de caçoada,
O caldeirão da canjica
Assim feito um zabumbeiro
Acalentando um baião.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 19 de janeiro de 2018

A PROCISSÃO DA BOIADA, COM JESSIER QUIRINO

 

Tô matutando o porquê
Da força que tem o nada
Mode falar do estalo
Do espanto e do estouro
De dentro do passadouro
Da procissão da boiada.

Ao invés de rezas rezes
Gadaria arrebanhada
Tropel de cascos, mugidos
De mansidão ritmada.

Ditongos ois! De um vaqueiro
Conduzidor e freteiro
Chiqueirador da manada.

Chifre de cabeça acima
Pelanca pescoço abaixo
Rabos de abana mosca
Tilintar de chocalhada…

Revelação de cadência
Retrato da paciência
É a procissão da boiada.

Eis que, ao revés do sossego,
Um trisco de não sei quê
Talvez um voo diminuto
De um inocente tizio…

…Assusta o passo da rês
Que chispa desbandeirada
Abala o manso dos bois
E arrasta toda boiada.

Daí pra frente é arrasto
Tropeço de déu em déu
É uma torre de babel
Disparando ababelada:

Atropelo, desadoro
Carreira desenfreada
Desvario, agitação
Boi fugido de roldão
Boi perdido em bololô
Boi avoado em tumulto
Vaqueiro bradando ôôôô!!!!!

Mas nada desalvoroça
O abalo instigador.

…Eis que o fôlego das ventas,
De exaustão redobrada,
Acalma o povão dos bois
Alenta toda a boiada
E a procissão segue lorde
Como se fosse uma ordem
Da força hercúlea do nada.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 12 de janeiro de 2018

CARROSSEL NA CHUVA

 

Seria pura alegria:
Um domingo de recreio
Camisa nova de malha.
Viagens, lendas, batalhas
Epopéia aventurosa
Num cavalo de aluguel.

Mas nem música nem zoada
Nem maçã caramelada
Nem pipoqueiro ou floreiro
Nem bombom no tabuleiro
Nem ingresso, nem sucessos
Nem pirulitos de mel…

Foi domingo acinzentado
Sonolento, anuviado
E choveu no carrossel.

Não campeei pelo mundo
Não me amostrei pra Maria
Não me esbaldei na alegria
Não sorri com dente novo
Não fanfarrei com o povo
Não vi o povo girar.

Não conheci Panamá
Nem guerra do Paraguai
Não acenei pra mamãe
Nem dei adeus a papai
Não persegui samurais
Não me alistei num quartel.

Foi domingo acinzentado
Sonolento, anuviado
E choveu no carrossel.

Já fui rei, já fui monarca
Fui campeão de rodeio
Já fui os Três Mosqueteiros
Já fui caubói bom de laço
Já fui lanceiro de aço
Fui São Jorge lá do céu.

Mas domingo foi nublado
Sonolento, anuviado
E choveu no carrossel.

Se essa chuva…
Se essa chuva fosse minha!
Eu mandava, eu mandava neblinar
Com neblinas, com neblinas de lembranças
Para o meu carrossel rodopiar.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 29 de dezembro de 2017

QUER VER MATUTO HUMILHADO, É TÁ DOENTE DAS PARTES


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 08 de dezembro de 2017

CONSELHO DE ÉTICA E DE COURO PARLAMENTAR

 

Durante o debate, cada autoridade pode sacudir
1Kg. de má-criação nos peitos do conselheiro opositor.
(Tudo ao respiro da ética e da decência nacioná)

– De honra, decoro e ética
É composto este Conselho.
Não pode ter um grupelho
A fim de tagarelar.

– Êpa! Epíssima! Olhe lá!
Grupelho é Vossa Excelência!
E aviso: minha clemência
É couro em parlamentar.

– Couro bom de pezunhar
Do zóvo até o cangote
Vossa Excelência não bote
Capacho no meu cruzar.

– A mais ilógica… Ou quiçá
A mais “peba” da indecência
É Vossa felaputência
Querer nos moralizar.

– Dou-lhe um pega-pra-capar
E um grito de “teje-preso!”
Seu corno do chifre aceso
Bisturi de vegetá.

– Se for pra esculhambar
Escute Excelência Vossa:
Devolva a moral que é nossa
Que seu traquejo é roubar.

– Meu nível, eu não vou baixar
Ao chorume da carcaça
Sua Excelência não passa
De um ladrão de Bagdá.

– Tou cagando pro azar
Porque meu fundo é de ema
E trago um par de algemas
Pra Vossa Excelência usar.

– É melhor nós se acalmar…
Pouco mais tá dando um causo
Pois nós véve dos aplauso
Do povo desse lugar.

– Não é véve! 
É convéve!
É por isso que eu me arreto!
Vossa Excelência é esperto
Mas não vale um grão de sá.

 

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 17 de novembro de 2017

VERSOS DO LÁ FORA

 

 

 Foto do colunista – Em Riachão do Bacamarte-PB

A casa era tão pequena
Que nem sequer tinha lá dentro
Tudo vinha do lá fora.

As portas eram caducas,
Paus cansados e rachados.
Na janela, um galo esperto
Um emoldurado cantante
Avisando ao viajante:
“– Nessa casa aqui tem gente!”

Vinha gente dos lá fora
Cantarolando, bradando
Sem nenhum palavrear
Uns versos longos sentidos
Sonorizando vogais:
Ôhhh! Ôhhh! Ôhhh!
Êhhh! Êhhh! Êhh! Êaaah!

Depois um solene “boi!”
Êh, boi! Êhhhhh, boi!
No fim assinando:
Ahhhhhhhhh!!!

Poema do livro Berro Novo


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 09 de novembro de 2017

ALTO NÍVEL DO DEBATE POLÍTICO NACIONAL

Cada candidato dirige um desaforo ao adversário com direito a uma réplica de dois segundos:

– …Saiba Vossa Excelência que na minha cabeça ninguém caga.

– Pois fique sabendo que comigo a parada é dobrada, escreveu não leu o pau comeu.

– Comigo não tem pescoço, tudo é gógó.

– Comigo ninguém tira leite com espuma.

– Pois vamos emendar as camisas pra ver a tapa voar?

– Eu emendo sim as camisas, pois quando me abufelo madeira sobe de preço.

– Pois fique sabendo que eu sou uma pessoa que nunca morreu e não tem inveja de quem morre.

– E eu sou uma pessoa que nunca morreu e nem tem inveja de quem Deus já matou.

– Pois pise no meu pé e diga quantos murros quer.

– Pise no meu e veja quem se fodeu.

– Retire essa palavra do debate.

– Minha palavra é feito peido, não tem retorno; pronto.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 03 de novembro de 2017

GRAMÁTICA DO INTERIOR

A professora explica ser a língua portuguesa muito curiosa. Nela havendo expressões que, embora contendo termo negativo, indica afirmação. Exemplo: “Pois não”.

O aluno, beradeiro da roça, bota beiço caído no assunto, discorda e diz o porquê:

– Pfessora!!! Isso é na cidade que só tem apartamento. Lá no sítio a expressão “pois não” é negativa mesmo.

E justifica:

– Se mãe perguntar: “Ohhh Biuzinho!!! A galinha pôs ovo?” Eu respondo “pôs não!!!!!”. Esse “pôs não” é negativo ou não é???


Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 28 de outubro de 2017

SAFRA DE MARACUTAIA

Numa conversa de beiço de rua, dois matutos palestrando:

– Eita meu cumpade! Já tá começando a safra de maracutaia.

– Falar em maracutaia, Chico Mundé sairá pra vereador de novo?

– Acho que sai, mas não ganha. Aquilo é feito mamoeiro macho: quando muito dá, dá duas safras.

– E não é?? Agora, sai tudo feito motorista de lotação: se oferecendo sem ser chamado.

– Olhe, eu vou dizer uma coisa a vosmecê: o eleitorado desses fí duma égua, tem que ser assim feito eco, responde mais não vem.

– E apois!! Deus que me livre dessa raça!

– Olhe, política é feito relâmpago: de longe é bonito, mas de perto da é medo; e eu vou é cuidar do meu roçado, porque falar de política é mesmo que chupar pitomba: cansa os queixos, desbota os dentes, machuca a língua e não enche a barriga.


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 19 de outubro de 2017

RODAI POR NÓS, LAVRADORES

Vargem Tambor

Senhores caminhoneiros,
Rodai por nós
Kombeiros, taxistas, carroceiros,
Rodai por nós
Ônibus e trens estradeiros,
Rodai por nós.

Cocão do carro-de-boi,
Cantai e rodai por nós lavradores
Sem bora e vambora
Amém.

Poema publicado no livro Berro Novo


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 12 de outubro de 2017

PANO DO LEITE

 

Ninho de casaca-de-couro. Estrada de barro – Cariatá, distrito de Itabaiana-PB.

 

Não-sei-o-que-é-que-eu-tenho
Pra gostar tanto de leite
Minto!
Eu sei:
É a cor; é o cheiro; é o sabor.

Minha mãe já me dizia:

“- Sente aí um bocadinho,
Que eu vou esfriar o leite…”

Tudo com leite é deleite.

Desde quando vinha vindo
Da madrugada pro dia
Com seu anúncio leitoso
Na voz do entregador:
Óh o leite!!!

E o branco-branco em cascata
Derramava-se em natura
Do pescoção da botija
Pro caneco medidor.

Do caneco pra panela
E por fim pra caçarola
Decantando a fazendola
No fino pano do leite.

Bem que a gente deveria
Postar em boa moldura
O algodãozinho asseado
Desse pano coador
E preservar nessa tela
Os ciscos da vacaria
Digitais do dia-a-dia
Marquinhas de interior.

Publicado no livro Berro Novo, 2010


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 28 de setembro de 2017

ÔHH DE CASA!

Saletazinha de estar – Casa de Dona Otávia. Mogeiro de Baixo-PB (Foto do colunista)

A porta dura fechada
Com a chave que fecha a dura
A rede pensa armada
Bordada na curvatura
Uma poltrona sentada
Retrato dando risada
Do tempo da formatura.

O guarda-roupa de pé
Cama patente deitada
Uma mesinha de quatro
Com as cadeiras cansadas
Um fogãozim Jacaré
E a geladeira gelada
Uma lixeira nos fundos
Com a pá de lixo enfiada

Um abanador de palha
Um fogareiro sem brasa
E gente batendo palma
Dizendo assim:
Ôhh de casa!!

Do livro Prosa Morena


Jessier Quirino, o Homem Show terça, 26 de setembro de 2017

COCO DO PÉ DE MANGA, COM JESSIER QUIRINO, NO SR. BRASIL

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Jessier Quirino, o Homem Show quarta, 26 de julho de 2017

JESSIER QUIRINO EM BRASÍLIA

JESSIER QUIRINO EM BRASÍLIA

(Publicada em 16.07.2012)

Raimundo Floriano

 

 

                        Dia 29 de junho passado, sexta-feira, Dia da Cerveja em Brasília, era também Dia de São Pedro, data propícia para acender fogueira em homenagem ao Padroeiro dos Pescadores e Chaveiro do Céu, o que foi feito com um fogaréu gigantesco atiçado por dois cobrões nordestinos, o cantor Túlio Borges, e o escritor-poeta-comediante-cordelista-homem show Jessier Quirino, astro principal da festa, à qual compareci com Veroni, minha mulher.

 

                        Chegando ao Teatro dos Bancários, terreiro da festança, fui assediado por inúmeras pessoas, na fila dos ingressos e na plateia, querendo saber duma coisa só: notícias de Luiz Berto, o Papa Berto I, que deixa sua marca em todo lugar por onde passa. Satisfi-las. Tanto as da plateia quanto as da fila. Tentando localizar nossas poltronas numeradas, dei de cara com uma ala inteiramente ocupada por familiares do Papa: Lúcia, mulher do Conceição – macho pracarai – Macedo e irmã de Luiz Berto; dois filhos do casal, Hugo Leonardo e Fillipi Augusto, este agarrado com Elise, sua namorada; Laudenor, o Nau, também irmão do Papa, acompanhado de Maria Helena, sua mulher; Elienai, a Nanai, aparentada dos Berto, e sua filha Maíra. Quer dizer, era a Comunidade Fubânica e Sertaneja que, em peso e qualidade, se fazia ali rente que só tijolo quente.

 

                        De início, já fiquei embasbacado, digo, maravilhado com Túlio Borges, até então desconhecido para mim, que deitou e rolou, cantando músicas de seu aprimorado repertório nordestino, tendo a acompanhá-lo um conjunto pé-de-serra pauleira, carregado de lenha pra queimar, com baixo, violão, sanfona, zabumba, triângulo e efeitos especiais, transformando todo o teatro num grandioso arraial forrozeiro. Aplausos estrondosos ecoaram ao final de cada número e ao término de sua apresentação! Vou procurar melhor conhecer esse cabra, adquirindo seus discos.

 

                        Aí, entrou Jessier Quirino!

 

                        Sozinho no palco, extasiou-nos, por mais de uma hora, com seus fogos de artifício a explodir com piadas, histórias pistorescas, casos fesceninos, versos simi-indecorosos, provocando, no rematar de cada qual, estupendas gargalhadas de toda o público ali presente. Brindou-nos, também, com a vocalização de sucessos por ele compostos e gravados em diversos cedês.

 

                        Quase ao encerrar do espetáculo, Jessier fez uma louvação ao enorme elenco de artistas de todos os gêneros, responsáveis pela preservação da Cultura Popular Nordestina. A certa altura, pareceu-me – pareceu-me, repito – ter ouvido o nome de Maria dos Mares, artesã em cerâmica, com atelier estabelecido em João Pessoa. Para informação de Jessier, Maria dos Mares é maranhense, balsense, há muito tempo radicada na Paraíba, e, modéstia a parte, irmã deste Cardeal. Aí vai o selo comemorativo de seu septuagésimo aniversário, ocorrido dia 24 de junho deste ano:

  

                        Na apoteose do show, Jessier chamou ao placo o cantor Túlio Borges e todos os instrumentistas já mencionados, recebendo calorosos aplausos e tendo que retornar ao proscênio por três vezes. Na última delas, Jessier agraciou os ardorosos fãs com mais alguns de seus leriados, jogando muita lenha para que a fogueira não se apagasse.

 

                        Chegando a vez dos autógrafos, fui o primeiro da fila. Alguns de seus livros, com o respectivo cedê, encontravam-se à venda. Adquiri somente o Prosa Morena, por já possuir os anteriores. A contracapa já diz tudo, nada tenho a acrescentar sem chover no molhado:

 

                         Lançado em 2005, tem, como os demais, o padrão de qualidade Jessier, iluminado este pela orelha a cargo do escritor Luiz Berto, que ainda não era o Papa Berto I, mas já privava da amizade, da consideração e do respeito desse grande artista. Ou vice-versa.

 

                        O cedê é um repeteco do livro. Além de declamar em 13 faixas, Jessier empresta-nos sua afinada e sertaneja voz na Faixa 1, Bolero de Izabel– que, apesar do titulo, pela ternura e andamento, eu classifico como toada, assim como o Bolero, de Ravel não é bolero –, e na Faixa Secas de Março, outra toada, espécie de citação – paródia ou homenagem, sei lá, escolham aí – às Águas de Março de Tom Jobim.

 

 

                        Não pude eximir-me de pedir a Jessier para tirar uma foto comigo e minha mulher, visando a ilustrar matéria que escreveria, esta que ora vocês leem. Na ocasião, o pessoal da imensa fila espantou-se com meu atrevimento, quando tive de explicar, rapidamente e gritando, o que era o Jornal da Besta Fubana e a Igreja Sertaneja, da qual Jessier, assim como eu, é Cardeal. E foi no exato momento em que eu pronunciava a sílaba AL, que bateram a foto. Por isso, ficou assim:

 

A Bela, o Feio e o Gênio 

                        Para a curtição de vocês, a toada Bolero de Izabel, na voz do autor, em dueto com Maciel Melo, outro fubânico da pesada e Bispo da Igreja Sertaneja:

 

 

 

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Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 20 de julho de 2017

PROBLEMA CARDIUCO, ESQUETE COM JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 13 de julho de 2017

LUA DE TAPIOCA

 

Quando a lua se faz de tapioca
Com a goma e o coco a me banhar
Sinto meu coração corcovear
Por estar no abandono abandonado
E sozinho que nem boi de arado
Me avermelho que é ver flor de quipá
E se algum alegreiro me jogar
Tanto assim de alegria, eu arrenego
Porque fico que nem olho de cego
Que só serve somente pra chorar.

É a lua acendendo a lamparina
E meu facho de luz a se apagar
Com as bochecha chorada a se chorar
Taliquá mamão verde catucado
Mas porém, sinto meu peito caiado
Quando vejo de longe o riso teu
Igualmente a um morrido que viveu
Peço que teu socorro não demore
E que só minha fala te sonore
E que dentro de ti só more eu.

Poema publicado no livro Prosa Morena


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 29 de junho de 2017

UM NERVOSO E OUTRO SAI DO MEI

Um japonês entra num ônibus que vai de Campina Grande pra Recife e diz ao motorista:

– Olhe, seu motorista, eu tou indo pra Olinda, mas como eu tou muito cansado, vou dar um cochilo e temo não acordar e passar do ponto. Gostaria que, antes de chegar em Recife, o senhor me acordasse na passagem por Olinda, ta certo? Se eu acordar meio afobado, se, até mesmo eu xingar o senhor, não ligue, eu sou assim mesmo. Pode me botar pra fora na marra. Eu quero é descer em Olinda, ta legal?

– Ta legal! Pode deixar comigo, Seu Japa!

Só que, quando o japonês acorda, pra sua surpresa, dá de cara com o terminal de Recife, lá no Curado, pra lá da Caixa-Prego, e, de venta acesa, parte pra cima do motorista com cachos de fela-da-puta, corno e seu bosta irresponsável.

Um passageiro vendo a cena comenta com o passageiro do lado:

– Mas que japonêzinho nervoso da gota!!!!

E o passageiro retruca:

– Nervoso? Ora bom basta! Cê tinha que ver o outro japonês que o motorista botou pra fora lá em Olinda… Aquele sim…


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 22 de junho de 2017

ORAÇÃO DE SOSSEGAR MOTOCICLETA

Santo ferreiro dos deuses
Santo psiu! do dedinho
Deus pequenino e Deus Pai
Baixai (três vezes) baixai
Com o poderio dos profetas
O som das motocicletas
Que ninguém agüenta mais.

Se o cabra tira uma madorna
Num alpendre ventador
No nheco-nheco de rede
Somente o som do armador
Pouco mais escuta: RÓÓÓZZZ!!!!!
É vaqueiro em motocross
Cuspindo carburador.

Se a gente tá palestrando
Com dois cumpade na feira
No melhor da segredagem
Duma fofoca brejeira
Pouco mais lá vem: bruaá!!!!!!!!
Pi-bit !!! Bruaá!!! Bruaá!!!!
Das motos na zoadeira.

Se tiver na capitá
Degustando uma gelada
Com um roliúde-sem-frilto
Puxando a última tragada
Na segureza do trago:
Pei-bufo! Danou-se! Estrago:
Três motos numa trombada.

Se você tá matutando
De motivo apaixonado
Tirando o peso dos ombros
Fazendo versos rimados
Pouco mais um terremoto
Rá-tá-tá-tá!!!! Passa uma moto
De butico envenenado.

Se você corre pra praia
No mais deserto oceano
Faz cancha mode o retrato
A mulher fotografando
No clik! dessa casquinha
Lá vem uma cinqüentinha
Pra-lá-pra-cá derrapando.

Antigamente, cumpade
Muito apoucadamente
A gente apontava à dedo:
Fulano tem uma lambreta
Sicrano uma monareta
Ou bicicleta-motor.

Um motoqueiro? Doutor?
Só via, com muita sorte
Dentro dum “globo da morte”
Dum circo do exterior.

Agora, daqui pra frente:
O mundo vai ser das moto,
dize-tu-e-direi-eu!
Vai ser zoada e fadiga
Vai findar naquela intriga
Que o Apocalipse escreveu.

Pra quem ainda não leu
Tá lá o escrito o boato:
“Quadriciclo é candidato
Do Partido dos Pneu.”

Por isso eu peço aos senhores
Meu santo Jesus Cristim
Santo ferreiro dos deuses
Meu santinho Querubim
Moto! Conheça-te a ti mesma
E ande feito uma lesma
Calada perto de mim.


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 09 de junho de 2017

PENSAMENTO SERTANEJO

Tou pensando nos pássaros sertanejos
Quero-quero e anum carrapateiro
Tou pensando no canto boiadeiro
Êh êh êh…rê ! Malhada e Ventania !
Tou pensando no sapo, rã e jia
Orquestrando o amem da hora santa
Na insônia do grilo que me encanta
Na leveza dum fole bem tocado
No vergel que se espalha no roçado
No prazer de ver planta que se planta.

Trago no assoalho da garganta
O entalo de lindos pensamentos
Da tristeza amuada dos jumentos
Tais e quais um bruguelo desbriado
Do vexame bem dispranaviado
Do doidim que traz água na ancoreta
Do cachimbo de Dona Mariêta
Numa reza de limpa de quebranto
Do espelhinho, missal, de terço e santo
Na banquinha do lado da maleta.

Tou pensando na sala e na saleta
Com jarrinho de flor bem aguádo
Na fachada triângulo bem pintado
Rodeado de traços em relevo
Vira-lata mijão fazendo frevo
Quando avista seu dono despresente
Lavadeira batendo lentamente
Tricoline, fustão, bramante e linho
E um menino caçando passarinho
Badocando e pisando mansamente.

Tou pensando no homem paciente
Com direito de ali nunca ter nada
Do trabalho arrastado na enxada
Cavucando o terroso continente
E apesar de sofrido este valente
Solta um riso risido e clareado
Faz um verso na hora improvisado
Tão inédito que nunca é repetido
Quem não  presta atenção sai ressentido
De perder o que nunca é reprisado.

Tou pensando no cego ter falado
Que a idade não capa pensamento
Que fumaça não tapa firmamento
Que igreja não capa o vigário
Que cadeia não cura o salafrário
Que senado não pune o deputado
E o ceguinho fazendo o pontiado
E molhando a palavra numa cana
No balcão da bodega de Mãe Nana
Com cerquinha pros copos emborcados.

Tou pensando aqui com meus lembrados
No aconchego da casa praciana
No terraço se tira uma pestana
Depois dum almocim bem palitado
Essa casa tem jeito alpendrado
Tem o dom de não ter uma garagem
Tem um muro baixinho e arvoragem
E o ambulante gritando: Garrafeeiro!!!
Êh  jornal, êh  garrafa, êh litro e meio!
E os moleque juntando a miudagem.


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 25 de maio de 2017

BEIJO DESENLUTO

Quando meu ex-amor enviuvou
Do careca que pô-se em meu lugar
Todo ancho saí pra consolar
E de quebra lhe dar meu coração
Vendo seu prantear ante o caixão
Ao beijar a careca do marido
Me curvei e beijei o falecido
No mesminho lugar do seu beijar
Não queria ali me apiedar
Da sofrença de minha ex-donzela
Na verdade eu beijava o beijo dela
Com meu peito a se desenlutar.

(Do livro Prosa Morena)


Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 14 de maio de 2017

VENTANDO PRO NORDESTE - JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 05 de maio de 2017

NORDESTE DESAJUDADO (POEMA DE JESSIER QUIRINO, O HOMEM-SHOW)
 
 
NORDESTE DESAJUDADO

 

…E é nesse Nordeste tão desajudado
Que eu jangadeio com meu versejar

Vejo um violeiro no seu pontear
Musando uma musa que já deu nos calos
Enxergo um canteiro de crista de galo
Semelhantemente a do dito animá
De folha de sonho a pé sossego
De tudo se encontra por esses quintá
E embora a dureza castigue lá fora
Se encontra um matuto sem muita demora
Que empresta o cachimbo pra se maginar.

Empresta o cachimbo pra se maginar
Nos antigamentes daquele costado
Com a sonolênça dum bucho almoçado
Quebrando o palito da tal digestão
Se alembra da dona do seu coração
Que a lágrima era doce, que a voz era pura
A sua figura muda de figura
Pede licencinha a Nosso Senhor
E vuco-te-vuco, assanha o bigode

Se apruma nas bota, logo se sacode
Se embrenha no mato sofrido de amor.

Poema do livro Agruras da lata d’água/1988

 


Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 29 de abril de 2017

O BARBEIRO - CAUSO CONTADO POR JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 14 de abril de 2017

SEGREDOS DE BORDEL

 

Tem segredos de Estado,
Que, até mesmo em bom estado,
São segredos de bordel.

Quer ver?
Eis os combinemos políticos de agora:

Tá com fome? Coma esse home!
Quer mais? Coma o rapaz!
É pouco? Coma esse cabôco!
Tá fraco? Coma um tabaco!
Não tá bom? Coma o garçom!
Quer de novo? Coma o povo!
É munto? Coma um defunto!
Tá com o cão? Coma um dragão!
Mais além? Come ninguém, pronto!

Ficou brabo? Dê o rabo!
Ficar nu? Taqui pra tu!!!

Isto, no âmbito Federal e Estadual.
No âmbito municipal não há registro
Por falta de âmbito e de decoro.

 


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 06 de abril de 2017

QUATRO AVE-MARIAS BEM CHEIAS DE GRAÇA

 


Rezo quatro Ave Maria
Ao Glorioso São Gerome
Pra que nos livre da dor
Da agonia e da fome
Duma casa com goteira
Cacimba longe de casa
Dente de piranha preta
Dum teco-teco sem asa
Dum sem pensar no juízo
Dum teje-preso! ou cadeia
De sofrer uma cambrainha
Bem cedo de manhãzinha
Por ter pisado sem meia.

Da tercerez desse mundo
De passagem só de ida
Ferroada de lacrau
Coice de besta parida
Nos livre da companhia
Dum cabra chato e pidão
Dum sujeito bexigoso
Sem figo e sem coração
Duma tosse igrejeira
Dum trupicão de ladeira
Duma largada de mão.

Nos livre da punição
Da saúde canigada
Pois a enxada na mão
É melhor que mão inchada
Nos livre duma dentada
Dum vira-lata espritado
Picada de mangangá
Dum soldado má-criado
Dum baque de rede pensa
De briga de má-querença
Dum jogo má-radiado.

Nos livre dum nôro besta
Ou duma genra fregona
Que Zé meu abaixe o facho
Pro lado daquela dona
Nos livre duma visagem
De alma braba e defunto…
Puxando agora de banda
Disgaviando o assunto:
Nos livre daqui pra diante
Do roubo dos governantes
Coisa que duvido muito.

Poema publicado em 1998, no livro Agruras da Lata D`água

 

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Jessier Quirino, o Homem Show terça, 04 de abril de 2017

O MATUTO NO CINEMA


Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 02 de abril de 2017

O MATUTO E O FILHO UNIVERSITÁRIO


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 30 de março de 2017

A QUAL ERA DO BRASIL
 

Cortam coqueiros que dão côco
Alagam fontes murmurantes
Poluem rios e o mar
Fecham as cortinas do passado
Jogam a mãe preta do serrado
Nunca se cansam de roubar
Ah! Era um Brasil lindo e trigueiro
Riqueza, tanta riqueza…
Será que dá pra acabar?
No caminho que caminha,
Escreveria Caminha:
Em se roubando tudo, dá.

(Do livro Prosa Morena, Ed. Bagaço)


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 16 de março de 2017

NINGUÉM CONSEGUE SER MAIS HONESTO. NEM MESMO NO MICROFONE.
 

Era o filho mais correto de Chico Porra-Nenhuma dos Porra-Nenhuma da capital, que até já assistiu o cavalo selado da mamata cruzar bem ali nas suas fuças, mas só arrumou na vida o maldito sobrenome.

Mesmo assim conseguiu uma boquinha vitalícia: ser nomeado presidente da Secretaria do Fenômeno Solitário. Não quis pra não sujar o nome. E ali mesmo, no Salão Banal da secretaria, fazia um discurso fecundo e honestizado dizendo o porquê da não aceitação:

– … E como diria o grande Camilo Cartola amigo meu: E pra quem já não tem nada, tanto se lhe dá como se lhe deu…

De repente, o discurso de ganso virou silêncio de fundo de mar, e, sem mais um tique nem taque de fala, ouve um conselho doméstico de grande profundidade – Sua Senhora Dona Virtuosa Porra Nenhuma, sem dependência de honestidade régia, prescreve a toda garganta de mão direita arribada:

– Porra, meu amor! Vai-te embora, Porra! Larga de tanta asneira e corre pro Ministério do Pau Dento pra salvar teu casamento! Lá, vai ser tua posse, teu destino e teu mandato! Lá, tão ensinando o povo a comer o povo, a mamar e traquejar sem grei nem lei todo tipo de fraude e mamação.

Ele tartarugou a velocidade do discurso e disse sob a capa da probidade:

– Isso é uma coisa malufa. Ninguém consegue mais ser honesto nem mesmo no microfone.

(Do livro Papel de Bodega – 2015)


Jessier Quirino, o Homem Show quarta, 15 de março de 2017

BANDEIRA NORDESTINA


Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 12 de março de 2017

PAPEL DE BODEGA, COM JESSIER QUIRINO, NO SR. BRASIL


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 10 de março de 2017

ORAÇÃO FORTE E MILAGROSA PARA AFUGENTAR O MAU-OLHADO DO CONGRESSO NACIONAL

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Jessier Quirino, o Homem Show segunda, 06 de março de 2017

CAMINHÃO DE MUDANÇA


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 02 de março de 2017

RASPANDO A IMORALIDADE
 

Monsenhor Luiz Ferreira da Cunha Mota (Mossoró 1897/1966), popularmente chamado de Padre Mota, foi prefeito de Mossoró por mais de 8 anos.

Conta-se que em 1937, uma pessoa foi enredar ao Padre Mota que alguém teria escrito um palavrão no muro da barragem, difamando uma adversária. Padre Mota, em formato de prefeito, logo cedo vai a barragem e lê bem devagarzinho: “A TABACA DE FULANINHA É BOA”

– Que horror, que miséria, isso é uma imoralidade!

Chegando a prefeitura dá uma baforada em seu charuto, chama o secretário Bodoca e diz ligeiro feito aumento de imposto:

– Bodoca, vá a barragem e raspe a tabaca de fulana.

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Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 23 de fevereiro de 2017

FILÉ AO MOLHO DE QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ
 

Sabe aquelas roscas-sem-fim de quá-quá-quá que de vez em quando dá na gente? Pois um dia desses, num restaurante, almoçava um casal, a um sopro de vela de mim. Desses casais de conversa puxada na manteiga. Falava baixinho sobre alguma coisa ou sobre alguém e de olho no olho feito galo de briga – sem briga. De repente, no arremate dum detalhe, o rapaz, em sinal de reserva reservadíssima, requisitou o ouvido esquerdo da moça, se reclinou por sobre a mesa e cochichou alguma coisinha… um fiapozinho de cochicho refogado em risadagem. Pronto: foi o puxão do quá-quá-quá do almoço. Aí a mulher começou:

– Quá-quá-quá-quá-quá!

E o rapaz:

– Quáhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhh-quáhhhhhh!

E a moça:

– Quá-quá-quá-quá-quá!

E o rapaz:

– Quáhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhh-quáhhhhhh!

E a moça:

– Quáhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh-quá-quá-quá-quá!

Eu tou dizendo só três porções de quá-quá-quás, mas é pra não gastar papel.

Aí, num respirar profundo, o cabra botou ri-ri na boca e deu um sério militar no assunto. A moça, sem freio e sem embreagem, fez do sério um tobogã e desceu de quá-quá-quá:

– Quá-quá-quá-quá-quá!

Numa fala puxativa de freio-de-mão, o rapaz disse:

– Isso é qué ser besta!

E a moça:

– Quá-quá-quá – e outras expressões quá-quá-quativas.

No moído do ataque e querendo se desculpar. Ele virou-se pra mim e disse:

– Isso é qué ser besta, nenão???

E eu de voz de peixe… Calado.

Daqui a pouco, a mulher começou a dizer “AI!!!”. Mas não era “AI” de dor, não. Era AI de cansaço; cansaço mesmo: estômago-gargalhativo com espasmos de quá-quá-quá. Deu de garra dum guardanapo, e fez dele pano-de-face, secando o córrego lacrimogêneo.

Não tendo mais quá-quá-quá para quá-quá-quar, pediram a conta e saíram quá-quá-quando aos solavancos… Felizes feito um cego brindado à visão perpétua.

(Crônica do livro Berro Novo. Se foi mentira eu estopore!)


Jessier Quirino, o Homem Show terça, 21 de fevereiro de 2017

PROBLEMA CARDIUCO


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 09 de fevereiro de 2017

ASSUNTO DE NOVELA NO SERTÃO



Taliquá assunto de novela, vez por outra uma matuta virgem “facilita” prum cabra esperto e azeiteiro, e, na hora agá, joga a culpa no coitado do namorado em busca de casamento.

Isso aconteceu com uma moça do alto sertão da Paraíba, ou melhor, ia acontecendo, se não fosse a interferência do matuto Zé Pedro, pai do rapazote namorado, já denunciado de autor da “desgraça”.

No momento da denúncia, o delegado perguntou à moça:

– Como foi que aconteceu esse defloramento, menina?

– Eu não me alembro não seu delegado! Na hora eu tava dormindo!

Zé Pedro, com venta de bezerro, despejou um caminhão de batata de protesto:

– ÊPA!! Não pode, seu delegado! Tá camulesta! Não pode não!!!!

O delegado surpreendido questiona:

– E não pode por quê? Então o senhor acha que uma moça não pode ser deflorada durante o sono?

– Pode não sinhô! Porque se eu tiver dormindo nu abestalhado e alguém passar um fiapo de capim-mimoso no meu fundo, eu meto os pés, quanto mais um cepo de aroeira!!!


Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 04 de fevereiro de 2017

TREM DA "GREAT WEST" - JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 02 de fevereiro de 2017

DOIS BRINCOS RECÉM-TIRADOS

Na cabeceira da cama
Dois brincos recém-tirados
Dois brilhos fundos nos olhos
E um xodó bem começado.

Duas pessoas sozinhas
Qual duas casas vizinhas
Com biqueiras encostadas.
São vidas parede-meia
E a bica correndo cheia
Nessa hora de invernada.

Artilharia pesada
Tum-tum-tum de coração
Emoção ali campeia
Abrem-se regos nas veias
Só pra sangue de paixão.

Ali não há pára-choque
Nem outro tipo de pára.
De forma quero-maisista
É tudo mar de conquista
Bonito e cor de arara.

Sem meias e a meia-luz
Meia tiragem de roupa
É gesto suficiente
Prum casal enrabichado.

Rendidos, de mãos ao alto
E pernas pra que me queres
É aquele cabritismo:
Eu quero o que tu quiseres
Aquele chamar na chincha
Aquele corruchiado.

Nu com nu e sós com sós
E o quarto tando fechado
Exploram terreno livre
E também campo minado.

Publicado no livro Bandeira Nordestina Ed. Bagaço – 2006


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 27 de janeiro de 2017

DOMINGO NA PRAIA

Saí de Campina montado num jegue
Rumando pra Ilha de Itamaracá
Dezoito semanas sem nem descansar
Cheguei numa praia cheinha de fême
Vestida somente de óleo e de creme
Na parte de baixo um fio-dentá
Olhei pra direita achei um casá
Roçando um no outro deitado na areia
Valei-me São Jorge que a coisa tá feia
Tou vendo um galope na beira do mar.

Galope era tanto que o mar se calava
O vento soprava pro lado de lá
A onda quebrava, mas bem devagar
O povo passava e não dava fé
Porque em carícia de homem e mulher
De tudo se faz pra não estragar
O sol se escondia pra não esquentar
Não vinha ninguém dizer que não pode
E o noivo e a noiva – a cabra e o bode
Fazendo galope na beira do mar.

Tem água de coco, laranja, sorvete
Cerveja gelada pra gente tomar
Cachaça da boa, din-din, guaraná
Esteira, toalha, sombrinha e chapéu
Pro raio de sol caindo do céu
Tem óleo de bronze pra pele queimar
Tem moça passando pra lá e pra cá
Tem nego morrendo de sol e de porre
Olhando pra moça levanta e não morre
Cantando galope na beira do mar.

Tem gente buchuda correndo na areia
Fazendo de tudo pro bucho baixar
Cachorro maluco querendo brincar
Matuto molhado tirando retrato
Tem véio caduco que vem de sapato
Se banha no raso pra não se afogar
A véia enxerida querendo nadar
Mergulha no fundo, levanta engasgada
O véio caduco solta uma risada
Cantando galope na beira do mar.

Tem barco de vela, tem lancha, jangada
Moleque brincando na câmara de ar
Menina na pedra querendo pescar
A mãe acenando pra hora do rango
Sacode, no prato, farofa de frango
Doce de goiaba, suco de cajá
O pai pega o rango e vai se deitar
Na sombra gostosa que vem do coqueiro
Reclama a falta de um paliteiro
Cantando galope na beira do mar.

Tem jogo de bola, de chute e raquete
Tem homem e mulher querendo jogar
Tem rede de arrasto pra gente puxar
Menino correndo pra cima e pra baixo
Perdi o meu óculo na areia e não acho
Dou cinco mil contos pra quem encontrar
Tou vendo embaçado não posso enxergar
A moça bonita de bunda de fora
Assim desse jeito prefiro ir-me embora
Cantando galope na beira do mar.

Do livro Paisagem de Interior – Ed. Bagaço 1996


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 26 de janeiro de 2017

O MATUTO E O BARBEIRO - JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 21 de janeiro de 2017

CIRURGIA DE HEMORROIDA


Jessier Quirino, o Homem Show quarta, 11 de janeiro de 2017

O MATUTO NO CINEMA


Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 07 de janeiro de 2017

O BARBEIRO


Jessier Quirino, o Homem Show terça, 27 de dezembro de 2016

LINDA NÃO, AQUELAS TUIAS

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Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 24 de dezembro de 2016

PEDRO CORNINHO, COM JESSIER QUIRINO


Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 18 de dezembro de 2016

DE VOLTA AO PASSADO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 16 de dezembro de 2016

O DIZIDO DAS HORAS NO SERTÃO


Jessier Quirino, o Homem Show quarta, 14 de dezembro de 2016

A CUMEEIRA DE AROEIRA LÁ DA CASA GRANDE


Jessier Quirino, o Homem Show segunda, 12 de dezembro de 2016

O MATUTO E O CORONÉ - ELEIÇÃO, COM JESSIER QUIRINO

O

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Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 10 de dezembro de 2016

UMA PAIXÃO PRA SANTINHA

Jessier Quirino

 


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 09 de dezembro de 2016

CONVERSA DE MANICURE

 

 


Jessier Quirino, o Homem Show terça, 06 de dezembro de 2016

BOLERO DE ISABEL - JESSIER QUIRINO E TÚLIO BORGES


Jessier Quirino, o Homem Show segunda, 05 de dezembro de 2016

JESSIER QUIRINO - O MATUTO E A MACONHA

 


Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 04 de dezembro de 2016

MANÉ CABELIM E A INTERNET


Jessier Quirino - De Cumpade pra Cumpade quinta, 01 de dezembro de 2016

ZÉ QUALQUER E CHICA BOA - POEMA DE JESSIER QUIRINO, COM O AUTOR

(Do livro Prosa Moderna)


Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 27 de novembro de 2016

RASGA-RABO BAGUNÇADOR DE BAGUNÇA

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Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 26 de novembro de 2016

O MATUTO E O ENGENHEIRO


Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 25 de novembro de 2016

AGRURAS DA LATA DÁGUA

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Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 25 de novembro de 2016

MISS FEIURA NENHUMA


Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 24 de novembro de 2016

PAISAGEM DE INTERIOR

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