Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)
Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.
Jessier Quirino, o Homem Show segunda, 01 de outubro de 2018
COMÍCIO DE BECO ESTREITO
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 28 de setembro de 2018
COISAS PRA SE DIZER BENZÓ DEUS
COISAS PRA SE DIZER BENZÓ DEUS
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 21 de setembro de 2018
PAISAGEM DE INTERIOR
PAISAGEM DE INTERIOR
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 07 de setembro de 2018
O MATUTO E O BARBEIRO
O MATUTO E O BARBEIRO
Jessier Quirino - De Cumpade pra Cumpade terça, 04 de setembro de 2018
*LUTO* - SENTIMENTO COR DE ANUM (JESSIER QUIRINO, O HOMEM-SHOW DO BRASIL, É COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)
*LUTO* - SENTIMENTO COR DE ANUM
PELA MORTE DO MUSEU NACIONAL DO RIO DE JANEIRO
Querendo apenas tentar Rezar sem dizer amém:
Foi-se embora a memória De um Brasil inda rapaz. Daqui a pouco é futuro E o tempo não volta mais.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 31 de agosto de 2018
COMÍCIO DE BECO ESTREITO
COMÍCIO DE BECO ESTREITO
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 24 de agosto de 2018
PANO DE LEITE, ESQUETE, COM JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 17 de agosto de 2018
PAIXÃO DE ATLÂNTICO NA BEIRA DO MAR
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 10 de agosto de 2018
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 03 de agosto de 2018
MANÉ CABELIM E A INTERNET
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 20 de julho de 2018
CAMINHÃO DE MUDANÇA, COM JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 06 de julho de 2018
BOLERO DE IZABEL, COM JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 29 de junho de 2018
GATO & CACHORRO
Nem sequer era pantera Era a verdadeira gata Bichanidade gatesca.
Se vinha vindo, gatinha Se ia indo, gatona Se dormia, era bichana Se falava, era Mimi Se caçava, não miava Se contente, ronronava Pra lá pra cá desfilava No muro de passarela Com habilidade miau.
Pra ela, telhado de louça De gelo puro ou cristal E um tobogã de aventuras Pra escorregar das alturas E cair no meu quintal.
Ass. Pluto puto da existência
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 22 de junho de 2018
COMO RAPAR UM CALDEIRÃO DE CANJICA NO DESMANCHADO DA TARDE DE UM 23 DE SÃO JOÃO
Primeiro, Dona Maria, Largar de tanto vexame E, no arrepio do vento, Deixar o rico alimento No caldeirão esfriar.
Cuidar em limpar a casa Que se deu pra canjicada. Depois da casa bem limpa, Varrida e passada um pano, Encobrir-se em bãe de cuia:
– Água quebrada a frieza…
…E sair de macieza Só brilhando a sabonete, Pra não ofuscar o lume De tanta canjicação.
Reservar para audição Somente um ruidozinho De bomba estalo-bebé De um traque, um busca-pé E o pipoco festejado De um foguetão distante.
Sentar num banco afundado Com toda casa em silêncio E abraçar, de caçoada, O caldeirão da canjica Assim feito um zabumbeiro Acalentando um baião.
Com a colher de pau na mão, No oco do caldeirão, Remar de força junina E mesmo sem etiqueta Lamber dedão de chupeta E começar a função:
Rapar somente a beirada E um pouquinho do cascão E convidar a plateia: Cinco filho em rafameia Pra seção de pré-estreia De uma festa de São João.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 15 de junho de 2018
COMO RETRATAR A BONDADE DE UM JUMENTO
Na casca de Jacques Prévert, poeta francês (1900 – 1977)
Primeiro, pintar na tela, agrinaldando a moldura, Um cerca de arame com saia de xiquexique Um trecho de pau a pique e uma cancela escancarada.
Pintar um chão nacional ou mesmo desnacional Mas que seja um chão de paz E nunca um chão ofendido, pisoteado de guerra.
Depois, tirando defunto, Retratar fatos e coisas vividas e inanimadas Desde sempre transportadas nas cacundas dos jumentos:
Cangalha, lastro, carroça, arado de plantação Tijolo, barro, arame, lenha, água, pedra e cal Toda nação de safra de produção sertaneja Traste minguado, vaqueiro Matuto passarinheiro, noivos, menino, mulher Vigário, bispo, Jesus…
Depois, recostar o quadro no tronco dum juazeiro Daqueles bem prazenteiros Vizinho a qualquer basculho.
Daí a pouco, a um nada Ou pouco mais que um pouquinho Chega, a passo de cágado, nosso esperado burrinho.
Quando ele entrar no cercado, Deixar soprar na cancela um ventinho “arriba a saia”, E a cancela vai de vela no rumo do batedor: Pááá! Depois do jumento preso, se o cabra for bom pintor Tem que mostrar seu valor desconstruindo o cercado: Despintar, uma por uma, a rigidez das estacas Todas as pautas de arames Apagar todos os fardos que lhe pesaram no lombo E acrescentar ao desenho algo de simples e belo:
Uns rebentos de capim Mutirões de cacarejos Voejos de passarim E uma terra fértil e preta Feito chão de rezadeira.
Pra cena ficar mais rica Transparente e verdadeira, Bem lá no fundo do quadro, Pintar um pouco de acaso:
Uma manhã de sol morno Uma aconchegança brejeira E um balde de leite fresco Cheirando à vaca por dentro Mugindo um sopro entoado.
Com o panorama pintado Dar, em forma de assobio, Um siu! De chamar “Roxim” E esperar o resultado.
Se o jumento erguer orelhas E fitar você de lado É sinal que o quadro é bom E pode ser assinado.
Basta arrancar levemente De ligeiro amaciado Três cabelinhos de rabo E rabiscar de renome Seu nome e seu sobrenome Bem no cantinho do quadro.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 08 de junho de 2018
O MATUTO E O CORONÉ
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 01 de junho de 2018
MARIA BONITA
Maria Bonita Bonita Maria De laço de fita.
Escrita de embelezar.
Moça de cor azeitonada Gestos cáqui Chapéu valente… Bem dizer fez Virgulino Levitar em munição.
Sem a mínima ligança Pras balas ferinas De boas avenças Entrou na questão.
De água em moringa Deu seiva ao cangaço Que nem sorveteiro De grito em morango:
– Sorvete!!!!!!!!!!!
E ganhou alvará Para se arvorar No bravo Sertão.
E de Royal Briar Banhou-se de cheiro De alma em paixão.
E de rifle e punhal É flor principal Do amor fortidão.
E de léguas beiçais Embrenhou-se na história De toda a nação.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 25 de maio de 2018
OBRA INACABADA DE UMA COLHER DE PEDREIRO
Na vida sou mão de ferro Mas também sei alisar Taliquá um joão-de-barro Que faz do bico a destreza De tirar da natureza O mais puro edificar. Eu enxergo em minha mão Os cinco andares de um prédio: O mínimo, anular e médio Fura-bolo e polegar.
Empurro a mão na areia Faço pirão de cimento Dou caratê em tijolo Faço base, assentamento, Ando no alinhamento, Na busca de endireitar, Reboco de lá pra cá Chapisco em meia colher E acredite se quiser Me divirto em chapiscar.
Me atrepo nos andaime Arriscoso desabar E no fim de cada dia Rezo três alvenarias Pra sorte me acompanhar. E nessa luta de fé, Assumo em voz de colher: No ramo da construção Minha única frustração É não conseguir pintar…
Mas, calma, meus pessuá! Eu vou dizer pra vocês: Se tiver tinta xadrez E um piso pra terminar Eu meto a mão na cumbuca Remexo o tal tingimento E cubro o chão de cimento Com o mais vermelho encarnado, E deixo semiacabado Só carecendo encerar.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 18 de maio de 2018
AGRURAS DA LATA D,ÁGUA, POEMA, COM JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 11 de maio de 2018
VELHO OESTE
Fui pros Estado Zunidos E ali consultei o Texas. Procurava um Rock Lane Ou até mesmo um xerife Que quisesse duelar. E no bóig, em pleno ar Abri a cortina da primeira classe Procurando o fugitivo de segunda. Fitei um velho oeste Bambando em pernas de tamborete No fundo da aeronave.
Um aeromoço xerife Com semblante de xerife, Boca torta de xerife, Roupa preta de xerife, Prevendo grande duelo, Encarou-me em cartucheira E disse: – Renda-se, cabra da peste!!
Eu, com o olhar de roliúde Mirei a decoração: O peito era brilho só. E eu disse: – É nada, estrela!!! Com tragédia no andar Abri asas de caubói E o oeste em fim de nave Palitando os incisivos.
De repente, a fala da difusora:
– Avisamos ao mocinho, ao bandido e ao xerife Que não é permitido atirar a bordo.
Voltei pra primeira classe e tornei a cochilar.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 04 de maio de 2018
MOVIMENTO DOS SEM-PÉ-NEM-CABEÇA
Eu sou do time dos sem mala e sem malemolência Sem aparência aprisionada filha do botox Sem prato inox, sem finesse e sem BMW Sem um alfarrábio num caderno pra tirar xerox.
Sou Movimento dos Sem-Pé do pé 47 Sou canivete sem a lâmina que perdeu o cabo Quase me acabo pra matar o mosquetão dum cano E entrei no cano justamente pra fugir de um cabo.
De cabo a rabo estou no muro dessa honoris causa Com a menopausa menstruada da rapaziada Cravei zoada na memória de um pensamento E o Movimento Sem Cabeça deu com o Pé na estrada.
Puxei a trança avermelhada de um sansão careca Com a terereca da firmeza dessa nossa luta Filhos da puta! Supliquei de voz aveludada Pois sem veludo na cabeça um pé não se disputa.
E a caravana dos Sem-Pés seguiu de espora avante Causa gigante dos anões dos fundos everestes Marrom-celeste é o dolorido de nossa bandeira A verdadeira bananeira que esse Adão me veste.
Se eu for eleito inelegível, serei coroado Com os pés rachados pelas plumas dessa nossa sina E a purpurina gente fina feito um baobá Tibungará na vermelhura desse azul-piscina.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 20 de abril de 2018
JUSTIÇA COM O PRÓPRIO DEDO
Essa Justiça tá uma vergonha.
Réu, em denúncia amundiçada de vizinho brigador, foi obrigado, por lei, a cumprir distância mínima de 2000 metros da vítima, tendo que arrodiar, de casa para o trabalho, o mais esticado arrodeio que um réu já rodeou. Muro da China era pinto e o réu lançou mão dos pula-muros jurídicos etc. e coisa e tá. Conseguiu na Justiça, por meio de liminar, reduzir a distância pra 1000 metros; 500 metros; 100 metros; 10; 3… Finalmente, quando conseguiu 80 centímetros, feriu moralmente a vítima, atingindo-a na região glútea, com o dedo médio em estaca, ladeado, em meia altura, do indicador e anular. Matou a vítima de vergonha.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 13 de abril de 2018
A PRIORI, É ISSO AÍ
Jessier Quirino
É melhor ser meio doido do que ser meio tantã Qualquer dor de madrugada dói bem mais que de manhã Don Juan era o gostoso, mas bem menos que Tarzan.
Irmã Dulce é bem mais alta do que Claudia Cardinale Um bafejo nas urêia esquenta mais que um xale Charles Chaplin é mais artista que 200 Woody Allen.
Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 24 de março de 2018
I LOVE YOU MATUTADO YOUTUBE, COM JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show terça, 13 de março de 2018
MARIA BONITA
Foto da foto: Jessier Quirino Foto da publicação: Benjamim Abrahão (1936)
8 de março, é também, a data de nascimento de Maria Gomes de Oliveira (1911-1938 ), mais conhecida por Maria bonita.
Na passagem dos 100 anos de nascimento de Maria Bonita, recebi uma incumbência, digamos, de certa responsabilidade: fazer um poema pra mulher do Capitão Virgulino Lampião.
O convite veio por parte de familiares (minha amiga Vera Ferreira, que é neta; e Dona Expedita, que é filha única de Lampião e Maria Bonita).
Declamei, de boca própria, para Dona Expedita e grande plateia, em evento solene realizado em Salvador, no dia 8 de Março de 2011.
Poema publicado, em edição de luxo, no livro Bonita Maria do Capitão. Autoria de Vera Ferreira e Germana Gonçalves de Araújo.
Maria Bonita Bonita Maria De laço de fita.
Escrita de embelezar.
Moça de cor azeitonada Gestos cáqui Chapéu valente… Bem dizer fez Virgulino Levitar em munição.
Sem a mínima ligança Pras balas ferinas De boas avenças Entrou na questão.
De água em moringa Deu seiva ao cangaço Que nem sorveteiro De grito em morango:
– Sorvete!!!!!!!!!!!
E ganhou alvará Para se arvorar No bravo Sertão.
E de Royal Briar Banhou-se de cheiro De alma em paixão.
E de rifle e punhal É flor principal Do amor fortidão.
E de léguas beiçais Embrenhou-se na história De toda a nação.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 09 de março de 2018
SOU FÃ DO BILHETISMO DO AMOR
Num papel dobrado em quatro Escrever o nome dela E uma chamadazinha de atenção:
Eu já tou que mais pareço Uma banda duma banda tua.
Fazer uma estrela e uma lua E um verso dizendo assim:
Quero ser o teu espelho Tua cortina de banheiro Teu gancho de provador Teu direito e teu canhoto Pois nós nascemo um pro outro Feito pobre e isopor.
Selar com o leite do avelós E esperar que ela leia À luz de candeeiro segurado.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 23 de fevereiro de 2018
HISTÓRIA PARA DOIS DORMIR
Ela, bem dizer, uma vila faceira com direitos de cidade; eu, recreio de criança a fim da maioridade.
Ela, cabelo frevando Eu, helicóptero de alegria.
Ela, blusa tomara-que-caia Eu, tomara! Eu só toamara!
Ela se amostradeira de feira Eu, papel de ouro e rapadura.
Ela, champanhota e cervejota Eu, gute-gute misturado.
Ela, sino bom-bom! De melodia. Eu, sino bem-bem! De alegria.
Ela, abra-a-boca-e-feche-os-olhos…
Eu quieto, de boca em uva Esperando outras privanças Que, segundo padre Alfredo, Se assemelhavam com os céus.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 16 de fevereiro de 2018
CURRICULUM VIXE!
Severino Abufelado Meu Curriculum Vixe!
Sempre fui um manteiga derretida (fervilhando) Um cabôco estabanado Cascavélico, parrudo, malino e espalha-brasas.
Já fui: Hércules de feira Afrouxador de porca de Mercedes Fui domador de onça Carregador de piano Trocador de alvo em estande de tiro (45 e bazuca) Flanelinha de estacionamento de crocodilo Degustador oficial da cachaça Lasca-tudo (daquela do rótulo azul) Pretendente de guerra do lado de dentro Lançador de rojão e marcador de quadrilha do São João de Bagdá Nunca aprendi a voar, mas tenho um primo chamado Falcão.
Durante o capim da infância, comi pólvora com maisena Purezinho de tutano com pó de osso e rapadura Raspa de chaminé de navio e prega de cu de búfalo.
Já pintei muito sete em fama de delegado Já acertei três tiros (pé de pinto) em alvo de vinte metros Assisti muito filme de Maciste mastigando quebra-queixo Fui arrancador de mourão e esmagador de quase-tudo.
Atualmente, por força da idade, ando domesticado:
Sou presidente da Academia Amolestada de Letras E reco-requista festivo de zoológico:
Alegro as criancinhas arrastando uma vareta na jaulinha dos leões.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 09 de fevereiro de 2018
AVE MARIA DAS MANGUEIRAS
Participação especial de Marcela, filha deste colunista
O meu olho pidão gastando córnea Meu olfato gastando aspiração Uma sombra que dá pano pras mangas É a mangueira botando em vastidão Bota nódoa na flor do coração Bota doce no azedo da munganga A despencação madura duma manga Faz um ploft! festivo no Sertão.
Sindicato das árvores é uma mangueira Esbanjando seus frutos e resinas Corta-jaca de amores em campinas Macieira de Eva e de Adão Dá seu dorso pra flecha e coração Dá seu palco pra missa e pra charanga A despencação madura duma manga Faz um ploft! festivo no Sertão.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 02 de fevereiro de 2018
COCO DO PÉ DE MANGA, COM JESSIER QUIRINO
Participação de Túlio Borges
As mangueiras tão de luto E as mangas de sentimento Derrubaram um pé de manga Pra fazer um apartamento.
Um pé de manga Um pé de cupuaçu Um pé de jaca, um pé de coco E lindo pé de caju Como é que pode Tamanho descabimento Derrubar um pé de manga Pra fazer um apartamento.
As mangueiras tão de luto E as mangas de sentimento…
Um pé de manga Um pé de jaca e um pé de pinha De pitomba e graviola Daquela bem papudinha Como é que pode Um cabra sem atributo Derrubar um pé de jaca Pra fazer um viaduto.
As jacas de sentimento E as jaqueiras tão de luto…
Um pé de jaca Um pezinho de romã Jambeiro, tamarinheiro Banana prata e maçã Como é que pode Um cabra sem-vergonhento Derrubar um pé de jambo Pra fazer um apartamento.
Os jambeiros tão de luto E os jambos de sentimento
Um pé de jambo Um lindo pé de canela Sapoti, coisa mais bela E um pé de maracujá É de lascar… Um pé de lima carregado Abacateiro florado Q’eu não posso nem lembrar.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 26 de janeiro de 2018
COMO RAPAR UM CALDEIRÃO DE CANJICA NO DESMANCHADO DA TARDE DE UM 23 DE SÃO JOÃO
Primeiro, Dona Maria, Largar de tanto vexame E, no arrepio do vento, Deixar o rico alimento No caldeirão esfriar.
Cuidar em limpar a casa Que se deu pra canjicada. Depois da casa bem limpa, Varrida e passada um pano, Encobrir-se em bãe de cuia:
– Água quebrada a frieza…
…E sair de macieza Só brilhando a sabonete, Pra não ofuscar o lume De tanta canjicação.
Reservar para audição Somente um ruidozinho De bomba estalo-bebé De um traque, um busca-pé E o pipoco festejado De um foguetão distante.
Sentar num banco afundado Com toda casa em silêncio E abraçar, de caçoada, O caldeirão da canjica Assim feito um zabumbeiro Acalentando um baião.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 19 de janeiro de 2018
A PROCISSÃO DA BOIADA, COM JESSIER QUIRINO
Tô matutando o porquê Da força que tem o nada Mode falar do estalo Do espanto e do estouro De dentro do passadouro Da procissão da boiada.
Ao invés de rezas rezes Gadaria arrebanhada Tropel de cascos, mugidos De mansidão ritmada.
Ditongos ois! De um vaqueiro Conduzidor e freteiro Chiqueirador da manada.
Chifre de cabeça acima Pelanca pescoço abaixo Rabos de abana mosca Tilintar de chocalhada…
Revelação de cadência Retrato da paciência É a procissão da boiada.
Eis que, ao revés do sossego, Um trisco de não sei quê Talvez um voo diminuto De um inocente tizio…
…Assusta o passo da rês Que chispa desbandeirada Abala o manso dos bois E arrasta toda boiada.
Daí pra frente é arrasto Tropeço de déu em déu É uma torre de babel Disparando ababelada:
Atropelo, desadoro Carreira desenfreada Desvario, agitação Boi fugido de roldão Boi perdido em bololô Boi avoado em tumulto Vaqueiro bradando ôôôô!!!!!
Mas nada desalvoroça O abalo instigador.
…Eis que o fôlego das ventas, De exaustão redobrada, Acalma o povão dos bois Alenta toda a boiada E a procissão segue lorde Como se fosse uma ordem Da força hercúlea do nada.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 12 de janeiro de 2018
CARROSSEL NA CHUVA
Seria pura alegria: Um domingo de recreio Camisa nova de malha. Viagens, lendas, batalhas Epopéia aventurosa Num cavalo de aluguel.
Mas nem música nem zoada Nem maçã caramelada Nem pipoqueiro ou floreiro Nem bombom no tabuleiro Nem ingresso, nem sucessos Nem pirulitos de mel…
Foi domingo acinzentado Sonolento, anuviado E choveu no carrossel.
Não campeei pelo mundo Não me amostrei pra Maria Não me esbaldei na alegria Não sorri com dente novo Não fanfarrei com o povo Não vi o povo girar.
Não conheci Panamá Nem guerra do Paraguai Não acenei pra mamãe Nem dei adeus a papai Não persegui samurais Não me alistei num quartel.
Foi domingo acinzentado Sonolento, anuviado E choveu no carrossel.
Já fui rei, já fui monarca Fui campeão de rodeio Já fui os Três Mosqueteiros Já fui caubói bom de laço Já fui lanceiro de aço Fui São Jorge lá do céu.
Mas domingo foi nublado Sonolento, anuviado E choveu no carrossel.
Se essa chuva… Se essa chuva fosse minha! Eu mandava, eu mandava neblinar Com neblinas, com neblinas de lembranças Para o meu carrossel rodopiar.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 29 de dezembro de 2017
QUER VER MATUTO HUMILHADO, É TÁ DOENTE DAS PARTES
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 08 de dezembro de 2017
CONSELHO DE ÉTICA E DE COURO PARLAMENTAR
Durante o debate, cada autoridade pode sacudir 1Kg. de má-criação nos peitos do conselheiro opositor. (Tudo ao respiro da ética e da decência nacioná)
– De honra, decoro e ética É composto este Conselho. Não pode ter um grupelho A fim de tagarelar.
– Êpa! Epíssima! Olhe lá! Grupelho é Vossa Excelência! E aviso: minha clemência É couro em parlamentar.
– Couro bom de pezunhar Do zóvo até o cangote Vossa Excelência não bote Capacho no meu cruzar.
– A mais ilógica… Ou quiçá A mais “peba” da indecência É Vossa felaputência Querer nos moralizar.
– Dou-lhe um pega-pra-capar E um grito de “teje-preso!” Seu corno do chifre aceso Bisturi de vegetá.
– Se for pra esculhambar Escute Excelência Vossa: Devolva a moral que é nossa Que seu traquejo é roubar.
– Meu nível, eu não vou baixar Ao chorume da carcaça Sua Excelência não passa De um ladrão de Bagdá.
– Tou cagando pro azar Porque meu fundo é de ema E trago um par de algemas Pra Vossa Excelência usar.
– É melhor nós se acalmar… Pouco mais tá dando um causo Pois nós véve dos aplauso Do povo desse lugar.
– Não é véve! É convéve! É por isso que eu me arreto! Vossa Excelência é esperto Mas não vale um grão de sá.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 17 de novembro de 2017
VERSOS DO LÁ FORA
Foto do colunista – Em Riachão do Bacamarte-PB
A casa era tão pequena Que nem sequer tinha lá dentro Tudo vinha do lá fora.
As portas eram caducas, Paus cansados e rachados. Na janela, um galo esperto Um emoldurado cantante Avisando ao viajante: “– Nessa casa aqui tem gente!”
Vinha gente dos lá fora Cantarolando, bradando Sem nenhum palavrear Uns versos longos sentidos Sonorizando vogais: Ôhhh! Ôhhh! Ôhhh! Êhhh! Êhhh! Êhh! Êaaah!
Depois um solene “boi!” Êh, boi! Êhhhhh, boi! No fim assinando: Ahhhhhhhhh!!!
Poema do livro Berro Novo
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 09 de novembro de 2017
ALTO NÍVEL DO DEBATE POLÍTICO NACIONAL
Cada candidato dirige um desaforo ao adversário com direito a uma réplica de dois segundos:
– …Saiba Vossa Excelência que na minha cabeça ninguém caga.
– Pois fique sabendo que comigo a parada é dobrada, escreveu não leu o pau comeu.
– Comigo não tem pescoço, tudo é gógó.
– Comigo ninguém tira leite com espuma.
– Pois vamos emendar as camisas pra ver a tapa voar?
– Eu emendo sim as camisas, pois quando me abufelo madeira sobe de preço.
– Pois fique sabendo que eu sou uma pessoa que nunca morreu e não tem inveja de quem morre.
– E eu sou uma pessoa que nunca morreu e nem tem inveja de quem Deus já matou.
– Pois pise no meu pé e diga quantos murros quer.
– Pise no meu e veja quem se fodeu.
– Retire essa palavra do debate.
– Minha palavra é feito peido, não tem retorno; pronto.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 03 de novembro de 2017
GRAMÁTICA DO INTERIOR
A professora explica ser a língua portuguesa muito curiosa. Nela havendo expressões que, embora contendo termo negativo, indica afirmação. Exemplo: “Pois não”.
O aluno, beradeiro da roça, bota beiço caído no assunto, discorda e diz o porquê:
– Pfessora!!! Isso é na cidade que só tem apartamento. Lá no sítio a expressão “pois não” é negativa mesmo.
E justifica:
– Se mãe perguntar: “Ohhh Biuzinho!!! A galinha pôs ovo?” Eu respondo “pôs não!!!!!”. Esse “pôs não” é negativo ou não é???
Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 28 de outubro de 2017
SAFRA DE MARACUTAIA
Numa conversa de beiço de rua, dois matutos palestrando:
– Eita meu cumpade! Já tá começando a safra de maracutaia.
– Falar em maracutaia, Chico Mundé sairá pra vereador de novo?
– Acho que sai, mas não ganha. Aquilo é feito mamoeiro macho: quando muito dá, dá duas safras.
– E não é?? Agora, sai tudo feito motorista de lotação: se oferecendo sem ser chamado.
– Olhe, eu vou dizer uma coisa a vosmecê: o eleitorado desses fí duma égua, tem que ser assim feito eco, responde mais não vem.
– E apois!! Deus que me livre dessa raça!
– Olhe, política é feito relâmpago: de longe é bonito, mas de perto da é medo; e eu vou é cuidar do meu roçado, porque falar de política é mesmo que chupar pitomba: cansa os queixos, desbota os dentes, machuca a língua e não enche a barriga.
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 19 de outubro de 2017
RODAI POR NÓS, LAVRADORES
Vargem Tambor
Senhores caminhoneiros, Rodai por nós Kombeiros, taxistas, carroceiros, Rodai por nós Ônibus e trens estradeiros, Rodai por nós.
Cocão do carro-de-boi, Cantai e rodai por nós lavradores Sem bora e vambora Amém.
Poema publicado no livro Berro Novo
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 12 de outubro de 2017
PANO DO LEITE
Ninho de casaca-de-couro. Estrada de barro – Cariatá, distrito de Itabaiana-PB.
Não-sei-o-que-é-que-eu-tenho Pra gostar tanto de leite Minto! Eu sei: É a cor; é o cheiro; é o sabor.
Minha mãe já me dizia:
“- Sente aí um bocadinho, Que eu vou esfriar o leite…”
Tudo com leite é deleite.
Desde quando vinha vindo Da madrugada pro dia Com seu anúncio leitoso Na voz do entregador: Óh o leite!!!
E o branco-branco em cascata Derramava-se em natura Do pescoção da botija Pro caneco medidor.
Do caneco pra panela E por fim pra caçarola Decantando a fazendola No fino pano do leite.
Bem que a gente deveria Postar em boa moldura O algodãozinho asseado Desse pano coador E preservar nessa tela Os ciscos da vacaria Digitais do dia-a-dia Marquinhas de interior.
Publicado no livro Berro Novo, 2010
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 28 de setembro de 2017
ÔHH DE CASA!
Saletazinha de estar – Casa de Dona Otávia. Mogeiro de Baixo-PB (Foto do colunista)
A porta dura fechada Com a chave que fecha a dura A rede pensa armada Bordada na curvatura Uma poltrona sentada Retrato dando risada Do tempo da formatura.
O guarda-roupa de pé Cama patente deitada Uma mesinha de quatro Com as cadeiras cansadas Um fogãozim Jacaré E a geladeira gelada Uma lixeira nos fundos Com a pá de lixo enfiada
Um abanador de palha Um fogareiro sem brasa E gente batendo palma Dizendo assim: Ôhh de casa!!
Do livro Prosa Morena
Jessier Quirino, o Homem Show terça, 26 de setembro de 2017
COCO DO PÉ DE MANGA, COM JESSIER QUIRINO, NO SR. BRASIL
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Jessier Quirino, o Homem Show quarta, 26 de julho de 2017
JESSIER QUIRINO EM BRASÍLIA
JESSIER QUIRINO EM BRASÍLIA
(Publicada em 16.07.2012)
Raimundo Floriano
Dia 29 de junho passado, sexta-feira, Dia da Cerveja em Brasília, era também Dia de São Pedro, data propícia para acender fogueira em homenagem ao Padroeiro dos Pescadores e Chaveiro do Céu, o que foi feito com um fogaréu gigantesco atiçado por dois cobrões nordestinos, o cantor Túlio Borges, e o escritor-poeta-comediante-cordelista-homem show Jessier Quirino, astro principal da festa, à qual compareci com Veroni, minha mulher.
Chegando ao Teatro dos Bancários, terreiro da festança, fui assediado por inúmeras pessoas, na fila dos ingressos e na plateia, querendo saber duma coisa só: notícias de Luiz Berto, o Papa Berto I, que deixa sua marca em todo lugar por onde passa. Satisfi-las. Tanto as da plateia quanto as da fila. Tentando localizar nossas poltronas numeradas, dei de cara com uma ala inteiramente ocupada por familiares do Papa: Lúcia, mulher do Conceição – macho pracarai – Macedo e irmã de Luiz Berto; dois filhos do casal, Hugo Leonardo e Fillipi Augusto, este agarrado com Elise, sua namorada; Laudenor, o Nau, também irmão do Papa, acompanhado de Maria Helena, sua mulher; Elienai, a Nanai, aparentada dos Berto, e sua filha Maíra. Quer dizer, era a Comunidade Fubânica e Sertaneja que, em peso e qualidade, se fazia ali rente que só tijolo quente.
De início, já fiquei embasbacado, digo, maravilhado com Túlio Borges, até então desconhecido para mim, que deitou e rolou, cantando músicas de seu aprimorado repertório nordestino, tendo a acompanhá-lo um conjunto pé-de-serra pauleira, carregado de lenha pra queimar, com baixo, violão, sanfona, zabumba, triângulo e efeitos especiais, transformando todo o teatro num grandioso arraial forrozeiro. Aplausos estrondosos ecoaram ao final de cada número e ao término de sua apresentação! Vou procurar melhor conhecer esse cabra, adquirindo seus discos.
Aí, entrou Jessier Quirino!
Sozinho no palco, extasiou-nos, por mais de uma hora, com seus fogos de artifício a explodir com piadas, histórias pistorescas, casos fesceninos, versos simi-indecorosos, provocando, no rematar de cada qual, estupendas gargalhadas de toda o público ali presente. Brindou-nos, também, com a vocalização de sucessos por ele compostos e gravados em diversos cedês.
Quase ao encerrar do espetáculo, Jessier fez uma louvação ao enorme elenco de artistas de todos os gêneros, responsáveis pela preservação da Cultura Popular Nordestina. A certa altura, pareceu-me – pareceu-me, repito – ter ouvido o nome de Maria dos Mares, artesã em cerâmica, com atelier estabelecido em João Pessoa. Para informação de Jessier, Maria dos Mares é maranhense, balsense, há muito tempo radicada na Paraíba, e, modéstia a parte, irmã deste Cardeal. Aí vai o selo comemorativo de seu septuagésimo aniversário, ocorrido dia 24 de junho deste ano:
Na apoteose do show, Jessier chamou ao placo o cantor Túlio Borges e todos os instrumentistas já mencionados, recebendo calorosos aplausos e tendo que retornar ao proscênio por três vezes. Na última delas, Jessier agraciou os ardorosos fãs com mais alguns de seus leriados, jogando muita lenha para que a fogueira não se apagasse.
Chegando a vez dos autógrafos, fui o primeiro da fila. Alguns de seus livros, com o respectivo cedê, encontravam-se à venda. Adquiri somente o Prosa Morena, por já possuir os anteriores. A contracapa já diz tudo, nada tenho a acrescentar sem chover no molhado:
Lançado em 2005, tem, como os demais, o padrão de qualidade Jessier, iluminado este pela orelha a cargo do escritor Luiz Berto, que ainda não era o Papa Berto I, mas já privava da amizade, da consideração e do respeito desse grande artista. Ou vice-versa.
O cedê é um repeteco do livro. Além de declamar em 13 faixas, Jessier empresta-nos sua afinada e sertaneja voz na Faixa 1, Bolero de Izabel– que, apesar do titulo, pela ternura e andamento, eu classifico como toada, assim como o Bolero, de Ravel não é bolero –, e na Faixa Secas de Março, outra toada, espécie de citação – paródia ou homenagem, sei lá, escolham aí – às Águas de Março de Tom Jobim.
Não pude eximir-me de pedir a Jessier para tirar uma foto comigo e minha mulher, visando a ilustrar matéria que escreveria, esta que ora vocês leem. Na ocasião, o pessoal da imensa fila espantou-se com meu atrevimento, quando tive de explicar, rapidamente e gritando, o que era o Jornal da Besta Fubana e a Igreja Sertaneja, da qual Jessier, assim como eu, é Cardeal. E foi no exato momento em que eu pronunciava a sílaba AL, que bateram a foto. Por isso, ficou assim:
A Bela, o Feio e o Gênio
Para a curtição de vocês, a toada Bolero de Izabel, na voz do autor, em dueto com Maciel Melo, outro fubânico da pesada e Bispo da Igreja Sertaneja:
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Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 20 de julho de 2017
PROBLEMA CARDIUCO, ESQUETE COM JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 13 de julho de 2017
LUA DE TAPIOCA
Quando a lua se faz de tapioca Com a goma e o coco a me banhar Sinto meu coração corcovear Por estar no abandono abandonado E sozinho que nem boi de arado Me avermelho que é ver flor de quipá E se algum alegreiro me jogar Tanto assim de alegria, eu arrenego Porque fico que nem olho de cego Que só serve somente pra chorar.
É a lua acendendo a lamparina E meu facho de luz a se apagar Com as bochecha chorada a se chorar Taliquá mamão verde catucado Mas porém, sinto meu peito caiado Quando vejo de longe o riso teu Igualmente a um morrido que viveu Peço que teu socorro não demore E que só minha fala te sonore E que dentro de ti só more eu.
Poema publicado no livro Prosa Morena
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 29 de junho de 2017
UM NERVOSO E OUTRO SAI DO MEI
Um japonês entra num ônibus que vai de Campina Grande pra Recife e diz ao motorista:
– Olhe, seu motorista, eu tou indo pra Olinda, mas como eu tou muito cansado, vou dar um cochilo e temo não acordar e passar do ponto. Gostaria que, antes de chegar em Recife, o senhor me acordasse na passagem por Olinda, ta certo? Se eu acordar meio afobado, se, até mesmo eu xingar o senhor, não ligue, eu sou assim mesmo. Pode me botar pra fora na marra. Eu quero é descer em Olinda, ta legal?
– Ta legal! Pode deixar comigo, Seu Japa!
Só que, quando o japonês acorda, pra sua surpresa, dá de cara com o terminal de Recife, lá no Curado, pra lá da Caixa-Prego, e, de venta acesa, parte pra cima do motorista com cachos de fela-da-puta, corno e seu bosta irresponsável.
Um passageiro vendo a cena comenta com o passageiro do lado:
– Mas que japonêzinho nervoso da gota!!!!
E o passageiro retruca:
– Nervoso? Ora bom basta! Cê tinha que ver o outro japonês que o motorista botou pra fora lá em Olinda… Aquele sim…
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 22 de junho de 2017
ORAÇÃO DE SOSSEGAR MOTOCICLETA
Santo ferreiro dos deuses Santo psiu! do dedinho Deus pequenino e Deus Pai Baixai (três vezes) baixai Com o poderio dos profetas O som das motocicletas Que ninguém agüenta mais.
Se o cabra tira uma madorna Num alpendre ventador No nheco-nheco de rede Somente o som do armador Pouco mais escuta: RÓÓÓZZZ!!!!! É vaqueiro em motocross Cuspindo carburador.
Se a gente tá palestrando Com dois cumpade na feira No melhor da segredagem Duma fofoca brejeira Pouco mais lá vem: bruaá!!!!!!!! Pi-bit !!! Bruaá!!! Bruaá!!!! Das motos na zoadeira.
Se tiver na capitá Degustando uma gelada Com um roliúde-sem-frilto Puxando a última tragada Na segureza do trago: Pei-bufo! Danou-se! Estrago: Três motos numa trombada.
Se você tá matutando De motivo apaixonado Tirando o peso dos ombros Fazendo versos rimados Pouco mais um terremoto Rá-tá-tá-tá!!!! Passa uma moto De butico envenenado.
Se você corre pra praia No mais deserto oceano Faz cancha mode o retrato A mulher fotografando No clik! dessa casquinha Lá vem uma cinqüentinha Pra-lá-pra-cá derrapando.
Antigamente, cumpade Muito apoucadamente A gente apontava à dedo: Fulano tem uma lambreta Sicrano uma monareta Ou bicicleta-motor.
Um motoqueiro? Doutor? Só via, com muita sorte Dentro dum “globo da morte” Dum circo do exterior.
Agora, daqui pra frente: O mundo vai ser das moto, dize-tu-e-direi-eu! Vai ser zoada e fadiga Vai findar naquela intriga Que o Apocalipse escreveu.
Pra quem ainda não leu Tá lá o escrito o boato: “Quadriciclo é candidato Do Partido dos Pneu.”
Por isso eu peço aos senhores Meu santo Jesus Cristim Santo ferreiro dos deuses Meu santinho Querubim Moto! Conheça-te a ti mesma E ande feito uma lesma Calada perto de mim.
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 09 de junho de 2017
PENSAMENTO SERTANEJO
Tou pensando nos pássaros sertanejos Quero-quero e anum carrapateiro Tou pensando no canto boiadeiro Êh êh êh…rê ! Malhada e Ventania ! Tou pensando no sapo, rã e jia Orquestrando o amem da hora santa Na insônia do grilo que me encanta Na leveza dum fole bem tocado No vergel que se espalha no roçado No prazer de ver planta que se planta.
Trago no assoalho da garganta O entalo de lindos pensamentos Da tristeza amuada dos jumentos Tais e quais um bruguelo desbriado Do vexame bem dispranaviado Do doidim que traz água na ancoreta Do cachimbo de Dona Mariêta Numa reza de limpa de quebranto Do espelhinho, missal, de terço e santo Na banquinha do lado da maleta.
Tou pensando na sala e na saleta Com jarrinho de flor bem aguádo Na fachada triângulo bem pintado Rodeado de traços em relevo Vira-lata mijão fazendo frevo Quando avista seu dono despresente Lavadeira batendo lentamente Tricoline, fustão, bramante e linho E um menino caçando passarinho Badocando e pisando mansamente.
Tou pensando no homem paciente Com direito de ali nunca ter nada Do trabalho arrastado na enxada Cavucando o terroso continente E apesar de sofrido este valente Solta um riso risido e clareado Faz um verso na hora improvisado Tão inédito que nunca é repetido Quem não presta atenção sai ressentido De perder o que nunca é reprisado.
Tou pensando no cego ter falado Que a idade não capa pensamento Que fumaça não tapa firmamento Que igreja não capa o vigário Que cadeia não cura o salafrário Que senado não pune o deputado E o ceguinho fazendo o pontiado E molhando a palavra numa cana No balcão da bodega de Mãe Nana Com cerquinha pros copos emborcados.
Tou pensando aqui com meus lembrados No aconchego da casa praciana No terraço se tira uma pestana Depois dum almocim bem palitado Essa casa tem jeito alpendrado Tem o dom de não ter uma garagem Tem um muro baixinho e arvoragem E o ambulante gritando: Garrafeeiro!!! Êh jornal, êh garrafa, êh litro e meio! E os moleque juntando a miudagem.
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 25 de maio de 2017
BEIJO DESENLUTO
Quando meu ex-amor enviuvou Do careca que pô-se em meu lugar Todo ancho saí pra consolar E de quebra lhe dar meu coração Vendo seu prantear ante o caixão Ao beijar a careca do marido Me curvei e beijei o falecido No mesminho lugar do seu beijar Não queria ali me apiedar Da sofrença de minha ex-donzela Na verdade eu beijava o beijo dela Com meu peito a se desenlutar.
(Do livro Prosa Morena)
Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 14 de maio de 2017
VENTANDO PRO NORDESTE - JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 05 de maio de 2017
NORDESTE DESAJUDADO (POEMA DE JESSIER QUIRINO, O HOMEM-SHOW)
NORDESTE DESAJUDADO
…E é nesse Nordeste tão desajudado Que eu jangadeio com meu versejar Vejo um violeiro no seu pontear Musando uma musa que já deu nos calos Enxergo um canteiro de crista de galo Semelhantemente a do dito animá De folha de sonho a pé sossego De tudo se encontra por esses quintá E embora a dureza castigue lá fora Se encontra um matuto sem muita demora Que empresta o cachimbo pra se maginar.
Empresta o cachimbo pra se maginar Nos antigamentes daquele costado Com a sonolênça dum bucho almoçado Quebrando o palito da tal digestão Se alembra da dona do seu coração Que a lágrima era doce, que a voz era pura A sua figura muda de figura Pede licencinha a Nosso Senhor E vuco-te-vuco, assanha o bigode Se apruma nas bota, logo se sacode Se embrenha no mato sofrido de amor.
Poema do livro Agruras da lata d’água/1988
Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 29 de abril de 2017
O BARBEIRO - CAUSO CONTADO POR JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 14 de abril de 2017
SEGREDOS DE BORDEL
Tem segredos de Estado, Que, até mesmo em bom estado, São segredos de bordel.
Quer ver? Eis os combinemos políticos de agora:
Tá com fome? Coma esse home! Quer mais? Coma o rapaz! É pouco? Coma esse cabôco! Tá fraco? Coma um tabaco! Não tá bom? Coma o garçom! Quer de novo? Coma o povo! É munto? Coma um defunto! Tá com o cão? Coma um dragão! Mais além? Come ninguém, pronto!
Ficou brabo? Dê o rabo! Ficar nu? Taqui pra tu!!!
Isto, no âmbito Federal e Estadual. No âmbito municipal não há registro Por falta de âmbito e de decoro.
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 06 de abril de 2017
QUATRO AVE-MARIAS BEM CHEIAS DE GRAÇA
Rezo quatro Ave Maria Ao Glorioso São Gerome Pra que nos livre da dor Da agonia e da fome Duma casa com goteira Cacimba longe de casa Dente de piranha preta Dum teco-teco sem asa Dum sem pensar no juízo Dum teje-preso! ou cadeia De sofrer uma cambrainha Bem cedo de manhãzinha Por ter pisado sem meia.
Da tercerez desse mundo De passagem só de ida Ferroada de lacrau Coice de besta parida Nos livre da companhia Dum cabra chato e pidão Dum sujeito bexigoso Sem figo e sem coração Duma tosse igrejeira Dum trupicão de ladeira Duma largada de mão.
Nos livre da punição Da saúde canigada Pois a enxada na mão É melhor que mão inchada Nos livre duma dentada Dum vira-lata espritado Picada de mangangá Dum soldado má-criado Dum baque de rede pensa De briga de má-querença Dum jogo má-radiado.
Nos livre dum nôro besta Ou duma genra fregona Que Zé meu abaixe o facho Pro lado daquela dona Nos livre duma visagem De alma braba e defunto… Puxando agora de banda Disgaviando o assunto: Nos livre daqui pra diante Do roubo dos governantes Coisa que duvido muito.
Poema publicado em 1998, no livro Agruras da Lata D`água
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Jessier Quirino, o Homem Show terça, 04 de abril de 2017
O MATUTO NO CINEMA
Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 02 de abril de 2017
O MATUTO E O FILHO UNIVERSITÁRIO
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 30 de março de 2017
A QUAL ERA DO BRASIL
Cortam coqueiros que dão côco Alagam fontes murmurantes Poluem rios e o mar Fecham as cortinas do passado Jogam a mãe preta do serrado Nunca se cansam de roubar Ah! Era um Brasil lindo e trigueiro Riqueza, tanta riqueza… Será que dá pra acabar? No caminho que caminha, Escreveria Caminha: Em se roubando tudo, dá.
(Do livro Prosa Morena, Ed. Bagaço)
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 16 de março de 2017
NINGUÉM CONSEGUE SER MAIS HONESTO. NEM MESMO NO MICROFONE.
Era o filho mais correto de Chico Porra-Nenhuma dos Porra-Nenhuma da capital, que até já assistiu o cavalo selado da mamata cruzar bem ali nas suas fuças, mas só arrumou na vida o maldito sobrenome.
Mesmo assim conseguiu uma boquinha vitalícia: ser nomeado presidente da Secretaria do Fenômeno Solitário. Não quis pra não sujar o nome. E ali mesmo, no Salão Banal da secretaria, fazia um discurso fecundo e honestizado dizendo o porquê da não aceitação:
– … E como diria o grande Camilo Cartola amigo meu: E pra quem já não tem nada, tanto se lhe dá como se lhe deu…
De repente, o discurso de ganso virou silêncio de fundo de mar, e, sem mais um tique nem taque de fala, ouve um conselho doméstico de grande profundidade – Sua Senhora Dona Virtuosa Porra Nenhuma, sem dependência de honestidade régia, prescreve a toda garganta de mão direita arribada:
– Porra, meu amor! Vai-te embora, Porra! Larga de tanta asneira e corre pro Ministério do Pau Dento pra salvar teu casamento! Lá, vai ser tua posse, teu destino e teu mandato! Lá, tão ensinando o povo a comer o povo, a mamar e traquejar sem grei nem lei todo tipo de fraude e mamação.
Ele tartarugou a velocidade do discurso e disse sob a capa da probidade:
– Isso é uma coisa malufa. Ninguém consegue mais ser honesto nem mesmo no microfone.
(Do livro Papel de Bodega – 2015)
Jessier Quirino, o Homem Show quarta, 15 de março de 2017
BANDEIRA NORDESTINA
Jessier Quirino, o Homem Show domingo, 12 de março de 2017
PAPEL DE BODEGA, COM JESSIER QUIRINO, NO SR. BRASIL
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 10 de março de 2017
ORAÇÃO FORTE E MILAGROSA PARA AFUGENTAR O MAU-OLHADO DO CONGRESSO NACIONAL
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Jessier Quirino, o Homem Show segunda, 06 de março de 2017
CAMINHÃO DE MUDANÇA
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 02 de março de 2017
RASPANDO A IMORALIDADE
Monsenhor Luiz Ferreira da Cunha Mota (Mossoró 1897/1966), popularmente chamado de Padre Mota, foi prefeito de Mossoró por mais de 8 anos.
Conta-se que em 1937, uma pessoa foi enredar ao Padre Mota que alguém teria escrito um palavrão no muro da barragem, difamando uma adversária. Padre Mota, em formato de prefeito, logo cedo vai a barragem e lê bem devagarzinho: “A TABACA DE FULANINHA É BOA”
– Que horror, que miséria, isso é uma imoralidade!
Chegando a prefeitura dá uma baforada em seu charuto, chama o secretário Bodoca e diz ligeiro feito aumento de imposto:
– Bodoca, vá a barragem e raspe a tabaca de fulana.
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Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 23 de fevereiro de 2017
FILÉ AO MOLHO DE QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ
Sabe aquelas roscas-sem-fim de quá-quá-quá que de vez em quando dá na gente? Pois um dia desses, num restaurante, almoçava um casal, a um sopro de vela de mim. Desses casais de conversa puxada na manteiga. Falava baixinho sobre alguma coisa ou sobre alguém e de olho no olho feito galo de briga – sem briga. De repente, no arremate dum detalhe, o rapaz, em sinal de reserva reservadíssima, requisitou o ouvido esquerdo da moça, se reclinou por sobre a mesa e cochichou alguma coisinha… um fiapozinho de cochicho refogado em risadagem. Pronto: foi o puxão do quá-quá-quá do almoço. Aí a mulher começou:
– Quá-quá-quá-quá-quá!
E o rapaz:
– Quáhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhh-quáhhhhhh!
E a moça:
– Quá-quá-quá-quá-quá!
E o rapaz:
– Quáhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhh-quáhhhhhh!
E a moça:
– Quáhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh-quá-quá-quá-quá!
Eu tou dizendo só três porções de quá-quá-quás, mas é pra não gastar papel.
Aí, num respirar profundo, o cabra botou ri-ri na boca e deu um sério militar no assunto. A moça, sem freio e sem embreagem, fez do sério um tobogã e desceu de quá-quá-quá:
– Quá-quá-quá-quá-quá!
Numa fala puxativa de freio-de-mão, o rapaz disse:
– Isso é qué ser besta!
E a moça:
– Quá-quá-quá – e outras expressões quá-quá-quativas.
No moído do ataque e querendo se desculpar. Ele virou-se pra mim e disse:
– Isso é qué ser besta, nenão???
E eu de voz de peixe… Calado.
Daqui a pouco, a mulher começou a dizer “AI!!!”. Mas não era “AI” de dor, não. Era AI de cansaço; cansaço mesmo: estômago-gargalhativo com espasmos de quá-quá-quá. Deu de garra dum guardanapo, e fez dele pano-de-face, secando o córrego lacrimogêneo.
Não tendo mais quá-quá-quá para quá-quá-quar, pediram a conta e saíram quá-quá-quando aos solavancos… Felizes feito um cego brindado à visão perpétua.
(Crônica do livro Berro Novo. Se foi mentira eu estopore!)
Jessier Quirino, o Homem Show terça, 21 de fevereiro de 2017
PROBLEMA CARDIUCO
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 09 de fevereiro de 2017
ASSUNTO DE NOVELA NO SERTÃO
Taliquá assunto de novela, vez por outra uma matuta virgem “facilita” prum cabra esperto e azeiteiro, e, na hora agá, joga a culpa no coitado do namorado em busca de casamento.
Isso aconteceu com uma moça do alto sertão da Paraíba, ou melhor, ia acontecendo, se não fosse a interferência do matuto Zé Pedro, pai do rapazote namorado, já denunciado de autor da “desgraça”.
No momento da denúncia, o delegado perguntou à moça:
– Como foi que aconteceu esse defloramento, menina?
– Eu não me alembro não seu delegado! Na hora eu tava dormindo!
Zé Pedro, com venta de bezerro, despejou um caminhão de batata de protesto:
– ÊPA!! Não pode, seu delegado! Tá camulesta! Não pode não!!!!
O delegado surpreendido questiona:
– E não pode por quê? Então o senhor acha que uma moça não pode ser deflorada durante o sono?
– Pode não sinhô! Porque se eu tiver dormindo nu abestalhado e alguém passar um fiapo de capim-mimoso no meu fundo, eu meto os pés, quanto mais um cepo de aroeira!!!
Jessier Quirino, o Homem Show sábado, 04 de fevereiro de 2017
TREM DA "GREAT WEST" - JESSIER QUIRINO
Jessier Quirino, o Homem Show quinta, 02 de fevereiro de 2017
DOIS BRINCOS RECÉM-TIRADOS
Na cabeceira da cama Dois brincos recém-tirados Dois brilhos fundos nos olhos E um xodó bem começado.
Duas pessoas sozinhas Qual duas casas vizinhas Com biqueiras encostadas. São vidas parede-meia E a bica correndo cheia Nessa hora de invernada.
Artilharia pesada Tum-tum-tum de coração Emoção ali campeia Abrem-se regos nas veias Só pra sangue de paixão.
Ali não há pára-choque Nem outro tipo de pára. De forma quero-maisista É tudo mar de conquista Bonito e cor de arara.
Sem meias e a meia-luz Meia tiragem de roupa É gesto suficiente Prum casal enrabichado.
Rendidos, de mãos ao alto E pernas pra que me queres É aquele cabritismo: Eu quero o que tu quiseres Aquele chamar na chincha Aquele corruchiado.
Nu com nu e sós com sós E o quarto tando fechado Exploram terreno livre E também campo minado.
Publicado no livro Bandeira Nordestina Ed. Bagaço – 2006
Jessier Quirino, o Homem Show sexta, 27 de janeiro de 2017
DOMINGO NA PRAIA
Saí de Campina montado num jegue Rumando pra Ilha de Itamaracá Dezoito semanas sem nem descansar Cheguei numa praia cheinha de fême Vestida somente de óleo e de creme Na parte de baixo um fio-dentá Olhei pra direita achei um casá Roçando um no outro deitado na areia Valei-me São Jorge que a coisa tá feia Tou vendo um galope na beira do mar.
Galope era tanto que o mar se calava O vento soprava pro lado de lá A onda quebrava, mas bem devagar O povo passava e não dava fé Porque em carícia de homem e mulher De tudo se faz pra não estragar O sol se escondia pra não esquentar Não vinha ninguém dizer que não pode E o noivo e a noiva – a cabra e o bode Fazendo galope na beira do mar.
Tem água de coco, laranja, sorvete Cerveja gelada pra gente tomar Cachaça da boa, din-din, guaraná Esteira, toalha, sombrinha e chapéu Pro raio de sol caindo do céu Tem óleo de bronze pra pele queimar Tem moça passando pra lá e pra cá Tem nego morrendo de sol e de porre Olhando pra moça levanta e não morre Cantando galope na beira do mar.
Tem gente buchuda correndo na areia Fazendo de tudo pro bucho baixar Cachorro maluco querendo brincar Matuto molhado tirando retrato Tem véio caduco que vem de sapato Se banha no raso pra não se afogar A véia enxerida querendo nadar Mergulha no fundo, levanta engasgada O véio caduco solta uma risada Cantando galope na beira do mar.
Tem barco de vela, tem lancha, jangada Moleque brincando na câmara de ar Menina na pedra querendo pescar A mãe acenando pra hora do rango Sacode, no prato, farofa de frango Doce de goiaba, suco de cajá O pai pega o rango e vai se deitar Na sombra gostosa que vem do coqueiro Reclama a falta de um paliteiro Cantando galope na beira do mar.
Tem jogo de bola, de chute e raquete Tem homem e mulher querendo jogar Tem rede de arrasto pra gente puxar Menino correndo pra cima e pra baixo Perdi o meu óculo na areia e não acho Dou cinco mil contos pra quem encontrar Tou vendo embaçado não posso enxergar A moça bonita de bunda de fora Assim desse jeito prefiro ir-me embora Cantando galope na beira do mar.