Tô matutando o porquê
Da força que tem o nada
Mode falar do estalo
Do espanto e do estouro
De dentro do passadouro
Da procissão da boiada.
Ao invés de rezas rezes
Gadaria arrebanhada
Tropel de cascos, mugidos
De mansidão ritmada.
Ditongos ois! De um vaqueiro
Conduzidor e freteiro
Chiqueirador da manada.
Chifre de cabeça acima
Pelanca pescoço abaixo
Rabos de abana mosca
Tilintar de chocalhada…
Revelação de cadência
Retrato da paciência
É a procissão da boiada.
Eis que, ao revés do sossego,
Um trisco de não sei quê
Talvez um voo diminuto
De um inocente tizio…
…Assusta o passo da rês
Que chispa desbandeirada
Abala o manso dos bois
E arrasta toda boiada.
Daí pra frente é arrasto
Tropeço de déu em déu
É uma torre de babel
Disparando ababelada:
Atropelo, desadoro
Carreira desenfreada
Desvario, agitação
Boi fugido de roldão
Boi perdido em bololô
Boi avoado em tumulto
Vaqueiro bradando ôôôô!!!!!
Mas nada desalvoroça
O abalo instigador.
…Eis que o fôlego das ventas,
De exaustão redobrada,
Acalma o povão dos bois
Alenta toda a boiada
E a procissão segue lorde
Como se fosse uma ordem
Da força hercúlea do nada.