Era o filho mais correto de Chico Porra-Nenhuma dos Porra-Nenhuma da capital, que até já assistiu o cavalo selado da mamata cruzar bem ali nas suas fuças, mas só arrumou na vida o maldito sobrenome.
Mesmo assim conseguiu uma boquinha vitalícia: ser nomeado presidente da Secretaria do Fenômeno Solitário. Não quis pra não sujar o nome. E ali mesmo, no Salão Banal da secretaria, fazia um discurso fecundo e honestizado dizendo o porquê da não aceitação:
– … E como diria o grande Camilo Cartola amigo meu: E pra quem já não tem nada, tanto se lhe dá como se lhe deu…
De repente, o discurso de ganso virou silêncio de fundo de mar, e, sem mais um tique nem taque de fala, ouve um conselho doméstico de grande profundidade – Sua Senhora Dona Virtuosa Porra Nenhuma, sem dependência de honestidade régia, prescreve a toda garganta de mão direita arribada:
– Porra, meu amor! Vai-te embora, Porra! Larga de tanta asneira e corre pro Ministério do Pau Dento pra salvar teu casamento! Lá, vai ser tua posse, teu destino e teu mandato! Lá, tão ensinando o povo a comer o povo, a mamar e traquejar sem grei nem lei todo tipo de fraude e mamação.
Ele tartarugou a velocidade do discurso e disse sob a capa da probidade:
– Isso é uma coisa malufa. Ninguém consegue mais ser honesto nem mesmo no microfone.
(Do livro Papel de Bodega – 2015)