Sabe aquelas roscas-sem-fim de quá-quá-quá que de vez em quando dá na gente? Pois um dia desses, num restaurante, almoçava um casal, a um sopro de vela de mim. Desses casais de conversa puxada na manteiga. Falava baixinho sobre alguma coisa ou sobre alguém e de olho no olho feito galo de briga – sem briga. De repente, no arremate dum detalhe, o rapaz, em sinal de reserva reservadíssima, requisitou o ouvido esquerdo da moça, se reclinou por sobre a mesa e cochichou alguma coisinha… um fiapozinho de cochicho refogado em risadagem. Pronto: foi o puxão do quá-quá-quá do almoço. Aí a mulher começou:
– Quá-quá-quá-quá-quá!
E o rapaz:
– Quáhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhh-quáhhhhhh!
E a moça:
– Quá-quá-quá-quá-quá!
E o rapaz:
– Quáhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhhh-quáhhhhh-quáhhhhhh!
E a moça:
– Quáhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh-quá-quá-quá-quá!
Eu tou dizendo só três porções de quá-quá-quás, mas é pra não gastar papel.
Aí, num respirar profundo, o cabra botou ri-ri na boca e deu um sério militar no assunto. A moça, sem freio e sem embreagem, fez do sério um tobogã e desceu de quá-quá-quá:
– Quá-quá-quá-quá-quá!
Numa fala puxativa de freio-de-mão, o rapaz disse:
– Isso é qué ser besta!
E a moça:
– Quá-quá-quá – e outras expressões quá-quá-quativas.
No moído do ataque e querendo se desculpar. Ele virou-se pra mim e disse:
– Isso é qué ser besta, nenão???
E eu de voz de peixe… Calado.
Daqui a pouco, a mulher começou a dizer “AI!!!”. Mas não era “AI” de dor, não. Era AI de cansaço; cansaço mesmo: estômago-gargalhativo com espasmos de quá-quá-quá. Deu de garra dum guardanapo, e fez dele pano-de-face, secando o córrego lacrimogêneo.
Não tendo mais quá-quá-quá para quá-quá-quar, pediram a conta e saíram quá-quá-quando aos solavancos… Felizes feito um cego brindado à visão perpétua.
(Crônica do livro Berro Novo. Se foi mentira eu estopore!)