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NILO AMARO E SEUS CANTORES DE ÉBANO
Raimundo Floriano
Minha estante de cedês é um baú de preciosidades musicais, tesouro que contém as criações de grandes artistas da MPB, músicos, compositores e intérpretes. Essa riqueza está, aos poucos, caindo no esquecimento das novas gerações brasileiras, e chegará um dia que em nela não mais se falará.
Com exceção da Música Militar, que diariamente é executada nos quartéis, do Frevo, ainda animando o Carnaval Brasileiro, e o Forró, a cada dia revelando novos talentos, há quase 30 anos nada acontece digno de nota em nosso cenário musical.
Dentro de duas gerações futuras, com o desaparecimento dos saudosistas atuais e com a extinção do livro impresso, nada restará para relembrar os grandes artistas que construíram nossa história.
Não estou aqui para elogiar o norte-americano não. Mas, nos Estados Unidos, preserva-se a MPB muito mais do que aqui. A última vez em que estive em Orlando Downtown, isso em 2001, fui levado a uma grande discoteca, a Virgin, onde encontrei vários cedês gravados por brasileiros, itens que aqui no Brasil eu já não conseguia adquirir. A peso de ouro, claro, mas consegui. Não só de meus patrícios, mas de muitos outros latino-americanos de minha curtição.
Trago-lhes como triste exemplo o conjunto Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano que, nos Anos 1960, nos encantou com seus maravilhosos arranjos para as toadas que até hoje cantamos em nossas saudosas serestas. Sim, porque isso ainda existe. Nos 80 anos de meu irmão José, o Carioquinha, contratei dois grandes seresteiros de Brasília e, reunindo imenso grupo de parentes e demais amigos, fomos, na madrugada de seu aniversário, bater à porta de sua casa, na Quadra 714 Sul, quando entoamos as músicas de nosso passado e de seu repertório, sendo ele também um apaixonado trovador. E toda a vizinhança acorreu para também tomar parte naquela bonita festa.
Pois bem, voltando a Nilo Amaro, quase nada encontrei, na Internet, em livros ou em contracapas de disco que me fornecesse informações completas sobre sua vida e sua obra. O pouquinho que aqui lhes estou disponibilizando é o que há!
Nilo Amaro, pseudônimo de Moisés Cardoso Neves, nasceu no ano de 1928, em dia, mês e cidade indeterminados, e faleceu em Goiânia (GO), a 18 de abril de 2004, aos 76 anos de idade.
Nos anos 1950/1960, quando a Velha Guarda Brasileira conhecia seu ocaso, ele teve a brilhante ideia de formar um conjunto vocal a que deu o nome de Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano, reunindo em torno de si um coro de vozes negras femininas e masculinas – um soprano, um meio-soprano, um contralto, dois baixos um tenor e três barítonos, além de Noriel Vilela, o baixo que se destacava no grupo.
O conjunto fez muito sucesso na Década de 1960. Seu repertório era composto de clássicos da música popular brasileira – toadas, sambas e sambas-canções – de peças do folclore, e de versões para o Idioma Português de spirituals dos negros norte-americanos, sendo considerado o precursor da música gospel no Brasil. Seus maiores sucessos foram as toadas Leva Eu, Sodade, de Tito Neiva e Alventino Cavalcanti, e Uirapuru, de Jacobina e Murillo Latini.
Noriel Vilela participou dos Cantores e Ébano e também fez carreira solo. Seu sucesso mais conhecido foi Dezesseis Toneladas, versão para o Português de um clássico norte-americano do pop-country-folk dos anos 1940, Sixteen Tons, de Ernie Ford e Merle Travis. Faleceu em 1974, devido a uma reação alérgica a anestesia aplicada por seu dentista. Com sua morte, os Cantores de Ébano fizeram uma parada temporária até encontrar um substituto à altura. Retomando mais tarde a carreira, já não alcançou o sucesso obtido no passado.
Da discografia de Noriel, resta ainda à venda em sebos virtuais o elepê abaixo:
Voltando ao conjunto Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano, encontra-se ainda nos sites de venda virtual este cedê:
Não é bairrismo deste Cardeal, é mesmo a saudade que me bate no coração todas as vezes em que ouço a toada Uirapuru, porque me traz à lembrança a linda poesia do mesmo nome, sublime inspiração poética de meu conterrâneo Humberto de Campos:
Dizem que o uirapuru, quando desata
A voz, Orfeu do seringal tranquilo.
O passaredo, rápido, a segui-lo,
Em derredor agrupa-se na mata.
Quando o canto, veloz, muda em cascata,
Tudo se queda, comovido a ouvi-lo:
O mais nobre sabiá susta a sonata
O canário menor cessa o pipilo.
Eu próprio sei quanto esse canto é suave
O que, porém, me faz cismar bem fundo
Não é, por si, o alto poder dessa ave.
O que mais no fenômeno me espanta
É ainda existir um pássaro no mundo
Que fique a escutar quando outro canta.
Para que vocês, caladinhos, se deleitem, aqui vai um pouco de seu trabalho:
Uirapuru, toada de Jacobina e Murillo Latini:
Leva Eu, Sodade, toada de Tito Neto e Alventino Cavalcanti:
Azulão, canção lenta de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira:
Down By The Riverside, foxtrote de Dazz Jordan:
Urutau, toada de Murillo Latini e Jacobina:
Nobody Knows The Trouble I’ve Seen, foxe de Nat King Cole e Gordon Jenkins
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AS MINEIRINHAS - SANDRA E VALÉRIA
Raimundo Floriano
As Mineirinhas em três momentos da carreira
No cenário nacional do showbiz, do espetáculo, estou plenamente convencido de que São Paulo é outro país, diferente do resto do Brasil. Abarcando o Sul de Goiás e a Região Triangulina, detém enorme elenco de artistas, em todos os campos de atividade, famosíssimos por lá, mas desconhecidos para os demais brasileiros. No Jornal da Besta Fubana, já tive a oportunidade de traçar o perfil de alguns deles: Zé Fidélis, Germano Mathias, Nilo Amaro, Fred Williams.
As Mineirinhas estão aí para confirmar o que digo. Com mais de 30 anos de estrada, muito anteriores, portanto, a Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano, João Paulo e Daniel, e a consagrada pessoense Roberta Miranda, quase delas não se tem notícia nas áreas fora do círculo sudestino. Com site e blog na Internet, As Mineirinhas são atualíssimas, o que vem a corroborar o que acima afirmei.
Sandra e Valéria, As Mineirinhas, cantoras e compositoras, nasceram em Minas Gerais, – claro! –, provavelmente em Uberlândia, em ano que elas não revelam de jeito e maneira.
Com vários LPs e CDs lançados, apresentam repertório altamente apreciado e respeitado, não só junto ao público, como também entre cantores e compositores que fazem parte da música sertaneja. A dupla chama a atenção pela qualidade das melodias e pela riqueza das harmonias vocais. O trabalho delas traz grandes sucessos da juventude sertaneja desde os Anos 1980. Com vozes poderosíssimas, romantismo, beleza e sensualidade, As Mineirinhas encantam com suas criações e também com músicas de grandes e famosos compositores do gênero.
CD Som Livre Estação CD
Seus shows e discos apresentam grandes sucessos como Abra o Coração, de Fátima Leão e Elias Muniz, Não Me Deixe Faltar Amor, de César Augusto, César Rossini e Lucas Robles, Te Quero, Te Adoro, de César Rossini e Piska, Não Diga Adeus Jamais, de Tivas e Rock, Por Que Fugiu de Mim?, de Fátima Leão e Valéria, Só Quero Te Dizer, de Joel Marques, Gato, Me Ama, de Valdir Luz e Jefferson Farias, Agarra, Agarra, de Maria da Paz e J. Moreno, Não Sei Tirar Você de Mim, de Elias Muniz e Maracaí e Por Uma Aventura, Fantástica Loucura e Abusa de Mim, as três últimas de Elias Muniz.
Dois de seus CDs ainda se encontram à venda em sites de lojas especializadas: Som Livre Estação CD e Raízes Sertanejas. Outros trabalhos seus – LPs e CDs – facilmente são localizados em sebos virtuais.
Estes são dois LPs de seus primeiros trabalhos fonográficos:
O repertório do primeiro encontra-se discriminado na própria capa. O do segundo, Totalmente Apaixonada, lançado no ano de 1985, é assim constituído:
LADO 1
01 - A Dor do Adeus
02 - A Rival
03 - Amor Somente Amor
04 - Cinquenta Graus de Amor
05 - Delírios de Amor
06 - Mata a Menina
LADO 2
01 - Não Sofra Assim
02 - Onde Andará
03 - Pedaço de Mau Caminho
04 - Sou Louca Por Ele
05 - Te Amo Te Amo
06 - Totalmente Apaixonada
Em 1985, ao se lançado, o LP Totalmente Apaixonada provocou grande alvoroço na população masculina de coroas, com a faixa Mata a Menina, composição da dupla, espécie de resposta ao xote Mate o Véio, Mate, de Genival Lacerda e João Gonçalves, gravado por Genival.
Do CD As Mineirinhas, Coleção Raízes Sertanejas, escolhi estas faixas, para mostrar-lhes um pouco de seu trabalho:
Menina Apaixonada, valsa de Miltinho Rodrigues:
Coração Que Dói, guarânia de Compadre Lima:
O Bandido, valsa de Marciano e Darci Rossi:
Coração Inocente, guarânia de Zé Venâncio e Benedito Seviero:
E, para terminar, este youtube com o cateretê Mata a Menina, e Ronaldo Adriano e Walter Mendonça:
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ALVARENGA E RANCHINHO E A MÚSICA SERTANEJA
Raimundo Floriano
Alvarenga e Ranchinho
Dupla sertaneja formada por Murilo Alvarenga, o ALVARENGA (Itaúna (MG), 22.5.1912 – 18.1.1978), e Diésis dos Anjos Gaia, o RANCHINHO (Jacareí (SP), 23.5.1913 – 5.7.1991), elenco original que, apesar dos percalços, encontros e desencontros, acertos e desacertos, dissoluções e retornos, foi o mais conhecido, famoso e duradouro.
Murilo, conhecido desde cedo pelo sobrenome, trabalhava em circos como trapezista, malabarista e cantor de tangos. Diésis atuava como cantor na Rádio Clube de Santos, apresentando repertório romântico do qual o samba-canção No Rancho Fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo, era uma de suas músicas prediletas, daí se originando o apelido RANCHO. Conhecido também como BAIXINHO, em função do seu porte físico, aproveitou o apelido e o colocou no diminutivo – Ranchinho.
Em 1928, numa seresta na cidade de Santos, Murilo e Diésis resolveram cantar juntos. De início, atuaram em circos, apresentando repertório variado, com valsas, modinhas, tangos, chorinhos e calangos, entremeando uma música e outra com causos e piadas, dos quais o público achava muita graça, aplaudindo-os em aprovação.
No ano de 1933, a dupla teve início efetivo, cantando no Circo Pinheiro, em Santos, e, logo depois, em São Paulo, na Companhia Bataclã. No ano seguinte, passou a fazer parte do elenco da Rádio São Paulo. Estava consolidada no cenário artístico nacional.
Em 1935, conheceu o compositor e humorista Silvino Neto, pai do ator global Paulo Silvino, com quem formou um trio, Os Mosqueteiros da Garoa, de curtíssima duração.
Refeita a dupla, passou ela a atuar em filmes, nas mais famosas estações de rádio do país e em casas de espetáculos até do exterior, assim como a gravar seus sucessos, incluindo-se neles vários carnavalescos, como Seu Condutor, de Alvarenga e Ranchinho, em 1938, e A Charanga do Flamengo, de Felisberto Martins e Fernando Martins, em 1947
Durante sua existência, a dupla teve outros componentes, em substituição a Ranchinho, que sempre voltava, pois não havia outro com talento igual para seu lugar.
Em 1936, fazendo parte do elenco do Cassino da Urca, começou a fazer sátiras políticas, que se tornaram um dos seus pontos fortes, o que lhe acarretou sérios problemas com a censura oficial.
Mas em 1939, Alzira Vargas, filha do Presidente Getúlio Vargas, ditador na época, convidou a dupla para tocar no Palácio das Laranjeiras para seu pai. Getúlio, depois de ouvir todas as músicas e sátiras, algumas referentes a ele, deu ordem para que suas composições fossem liberadas em todo o território nacional.
Alvarenga e Ranchinho não alisavam os lombos dos poderosos, descendo-lhes, com suas sátiras, vigorosas cipoadas, com exceção de um, porque apoiavam seu governo: Juscelino Kubitscheck.
Na segunda metade dos Anos 80, Ranchinho fez parte do elenco fixo do programa Som Brasil, nas manhãs de domingo, apresentado inicialmente por Rolando Boldrin e depois por Lima Duarte.
Em outras matérias, apresentei a atuação da dupla no Carnaval e no Humorismo. Aqui vai pequena amostra de seu trabalho na Música Sertaneja.
Adeus, Mariazinha, rancheira de Fausto Vasconcellos:
Aquela Flor, valsa de Alvarenga e Ranchinho:
Carrero Bão, toada de Alvarenga e Ranchinho:
Eh! São Paulo, calango de Alvarenga:
Seresta, valsa de Alvarenga, Ranchinho e Newton Teixeira:
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TRIO PARADA DURA
Raimundo Floriano
Mangabinha (Corinto, MG, 15.3.1942 – Belo Horizonte, 23.4.2015)
Mangabinha encantou-se! Partiu no dia 23 de abril passado! Com ele, desaparece um dos últimos artistas que faziam música brega muito de meu agrado!
Carlos Alberto Mangabinha Ribeiro, o Mangabinha, foi um acordeonista, compositor e Fundador, em 1973, do grupo musical Trio Parada Dura.
Sua trajetória musical começou em sua infância, aprendendo a tocar a sanfona de oito baixos, que pegava escondido de seu pai, seguindo a tradição familiar, daí alcançando sua realização profissional, através do estilo sertanejo, consagrando-se no Trio Parada Dura tanto como instrumentista como compositor.
Sua carreira artística começou já em 1950, quando passou a se apresentar em festas e forrós, usando uma sanfona de 8 baixos. Em 1970, mudou-se para Belo Horizonte. Na capital mineira formou um trio juntamente com Gino e Geno com os quais lançou um LP. Em 1973, mudou-se para São Paulo onde atuou na Rádio 9 de Julho. Nessa ocasião, atuou com Delmir e Delmon na Primeira Formação do Trio Parada Dura.
Em sua carreira solo, Mangabinha gravou 21 elepês instrumentais como acordeonista nas gravadoras Chororó, Copacabana e Chantecler. Seus maiores sucessos como compositor foram Furando o Couro, Nova República, Forró Número 2, Chão Mato-grossense, Balaio de Gato e Com Amor e Com Carinho.
Em 1991, o Trio Parada Dura gravou de sua autoria as composições Trovão Azul, com Rossi e Alcino Alves, Não Aceito Seu Adeus, com Ronaldo Adriano, Por Te Querer, com Rossi e Alcino Alves, Vestido Branco, com Ronaldo Adriano e Benedito Seviero, Bebendo e Chorando, com Ronaldo Adriano, Adeus, Palavra Cruel, com Alcino Alves e Rosa Quadros, Tentei Viver Sem Você, com Alcino Alves e Parrerito, Me Guardando Pra Você, com Alcino Alves, Coração Só Quer Você, com Alcino Alves e Rossi e Filho do Sertão, com Ronaldo Adriano.
Em 1999, a gravadora EMI lançou, na Série Raízes Sertanejas, o CD Mangabinha, com 20 de seus sucessos:
Após a dissolução do Trio Parada dura, Mangabinha passou a gerenciar uma Casa de Festa com seu nome, mas não abandonou o acordeon e continuou tocando, sempre se valendo dos sucessos conquistados pelo conjunto.
Morreu na manhã 23 de abril, uma de quinta-feira, Mangabinha faleceu em Belo Horizonte, vítima de infarto em decorrência da diabetes.
O Trio Parada Dura teve quatro formações. A Primeira já vimos acima. A Segunda contou com Segunda Formação (Creone, Barrerito e Mangabinha):
A terceira formação veio com Creone, Parrerito e Mangabinha:
A Quarta formação, que gravou até 2013, compunha-se de Leone, Leonito e Mangabinha:
A seguir, uma pequena amostra do trabalho desse inesquecível conjunto brega. Pode não ser da curtição de todos, mas representam o que mais gosto de ouvir, quando quero relembrá-lo:
Telefone Mudo, guarânia de Franco e Peão Carrero;
Bicho Bom É Mulher, batidão de Vicente Dias, Luiz de Lara e Barrerito;
As Andorinhas, toada de Alcino Alves, Rossi e Rosa Quadros;
Arapuca, batidão de Solevante e Itamaracá; e
Folia de Reis, toada tradicional, adaptação de Mangabinha.
ADELAIDE CHIOZZO
Raimundo Floriano
Adelaide Chiozzo
Adelaide Chiozzo, acordeonista, cantora, compositora e atriz, nasceu em São Paulo (SP), no dia 8.5.1931, filha de Afonso Chiozzo e Silvinha Chiozzo.
Aos oito anos de idade, começou a aprender acordeon, e, aos 15, por sugestão da compositora Irani de Oliveira, participou do Programa Papel Carbono, de Remato Murce, na Rádio Clube do Brasil – depois, Mundial –, imitando o sanfoneiro catarinense Pedro Raimundo.
Adelaide Chiozzo em duas fases de sua carreira
Estreou no cinema em 1946, atuando em dupla com o pai, Afonso Chiozzo, na comédia Segura Esta Mulher, de Watson Macedo, no qual apareciam acompanhando o cantor Bob Nelson na marchinha country Boi Barnabé, de Bob e Afonso Simão. Ainda em dupla com o pai, trabalhou nas comédias cinematográficas carnavalescas Este Mundo É Um Pandeiro, de Watson Macedo, em 1947, e É com Este Que Eu Vou, de José Carlos Burle, em 1948.
Contratada pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro e artista exclusiva do selo Copacabana, teve seu apogeu no rádio, disco e cinema na Década de 1950, fazendo sucesso como intérprete de músicas juninas e canções brejeiras.
Estreou no disco em 1950, na etiqueta Star – depois, Copacabana –, com a rancheira Tempo de Criança, de João Sousa e Eli Turquine, e a polca Pedalando, de Anselmo Duarte e Bené Nunes.
No rádio e em disco, chegou a fazer dupla com a atriz Eliana Macedo, ao lado de quem apareceu, cantando e atando, em diversos filmes, em sua carreira cinematográfica de 23 títulos.
Adelaide Chiozzo e Eliana Macedo
Entre seus maiores sucessos, estão Beijinho Doce, valsa de Nhô Pai, Cabeça Inchada, baião de Hervê Cordovil, Sabiá na Gaiola, baião de Hervê Cordovil Mário Vieira, Orgulhoso, rasqueado de Nhô Pai e Mário Zan, e Lá Vem Seu Tenório, marchinha de Manoel Pinto e Aldari de Almeida Airão, Cabecinha no Ombro, rasqueado de Paulo Borges, Meu Sabiá, toada de Carlos Matos e A. Amaral, e Queria Ser Patroa, marchinha de Manoel Pinto e Aldari de Almeida Airão.
De 1948 a 1957, atuou em chanchadas como Carnaval no Fogo, Aviso aos Navegantes, É Fogo na Roupa, O Petróleo É Nosso, Barnabé, Tu És Meu e Sai e Baixo.
Também em 1957, participou de dois LPs da gravadora Copacabana: Carnaval de 57 - Nº 1, com a marchinha A Sempre Viva, de Paulo Gracindo e Mirabeau, e do LP Festas Juninas, com o baião Papel Fino, de Mirabeau, Cid Ney e Don Madrid. Em 1958, gravou, com Silvinha Chiozzo, sua mãe, o rasqueado Cabecinha no Ombro, de Paulo Borges, que se tornou um grande sucesso e um clássico da Música Popular Brasileira.
Ainda em 1958, lançou o LP Lar... Doce Melodia pela gravadora Copacabana no qual cantou três faixas: Vá Embora, de Geraldo Cunha e Carlos Matos; Pagode em Xerém, de Alcebíades Barcelos, o Bide, e Sebastião Gomes; e Meu Veleiro, de Lina Pesce. As demais nove músicas ela interpretou ao acordeom: Viagem a Cuba, de I. Fields e H. Ithier; Night and Day, de Cole Porter; É Samba, de Vicente Paiva, Luis Iglesias e Walter Pinto; Inspiração, de Paulus e Rubinstein; Deixa Comigo, de Índio; Icaraí, de Silvio Viana; Padan-padan, de Glanzberg e Contel; Dance Avec Moi, de Hornez e Lopez; e Granada, de Agustin Lara.
Em 1966, sua gravação da toada Meu Veleiro foi incluída no LP Lina Pesce - Seus Grandes Sucessos, lançado pela Copacabana. Em 1972, Adelaide participou do LP Alma do Sertão, produzido a partir do programa de Renato Murce na Rádio Nacional que levava o mesmo nome. Nesse disco, interpretou, com Eliana, a toada Pingo D'água, de Raul Torres e João Pacífico, e o rasqueado Campo Grande, de Raul Torres.
Em 1975, apresentou-se ao lado do marido e violonista Carlos Mattos no show Cada Um Tem o Acordeom Que Merece, no Rio de Janeiro e em Niterói.
Em 1976, a gravadora Philips lançou dois LPs, um relembrando a Era de Ouro dos filmes musicais brasileiros e outro sobre os 40 Anos da Rádio Nacional. No primeiro, intitulado Assim Era a Atlântida, foram remasterizados vários fonogramas apresentados durantes os filmes, incluindo três de suas interpretações: Pedalando, do filme Carnaval no Fogo, que ela cantou sozinha, e Recruta Biruta, de Antônio Almeida, Antônio Nássara e Alberto Ribeiro, e Beijinho Doce, ambas do filme Aviso aos Navegantes, interpretadas juntamente com Eliana.
No segundo LP, gravado a partir de acetatos obtidos durante programas da Rádio Nacional, foi incluída sua interpretação para o baião Nós Três, de Garoto, Chiquinho do Acordeom, Fafá Lemos e Badaró, cantado juntamente com Carlos Matos.
Em 1978, atuou na novela Feijão Maravilha, na TV Globo, em 1992, na novela Deus Nos Acuda, na mesma emissora.
A partir de então, realizou shows pelo Brasil, acompanhada pelo marido e, eventualmente, pelos três netos. Em 1996, participou do Projeto Seis e Meia, no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, juntamente com o cantor Francisco Carlos, no show Ídolos da Atlântida. Em 2001, teve lançado pelo selo Revivendo o CD Tempinho Bom, com 21 de seus maiores sucessos.
Em 2012, Adelaide passou a integrar o Grupo As Cantoras do Rádio, em sua nova formação, que estreou no show A Volta das Cantoras do Rádio, récita única, no Auditório Raimundo Magalhães Jr., com criação, roteiro e apresentação de Ricardo Cravo Albin. Em 2014, participou, juntamente com as cantoras Lana Bittencourt e Ellen de Lima, do espetáculo A Noite - Nas Ondas da Rádio Nacional, apresentado no Teatro Rival BR.
Os LPs de Adelaide Chiozzo, 34 faixas remasterizadas de bolachões 78 RMP e coletâneas em CDs são facilmente encontráveis nos sites de busca especializados.
Aqui vai uma pequena amostra de seu trabalho, por ordem alfabética:
Beijinho Doce, valsa de Paulo Gracindo e Mirabeau Pinheiro, com participação de Eliana Macedo, gravada em 1951:
Cabecinha no Ombro, rasqueado de Paulo Borges, com participação de sua mãe, Silvinha Chiozzo, gravado em 1958:
Meu Sabiá, toada de Carlos Matos e A. Amaral, gravada em 1954:
Pedalando, polca de Anselmo Duarte e Bené Nunes, com participação de Alencar Terra no acordeom, gravada em 1949:
Sabiá na Gaiola, baião de Hervê Cordovil, com a participação de Eliana Macedo, gravado em 1951:
BELMONTE E AMARAÍ, UM MARCO NA MÚSICA SERTANEJA
Raimundo Floriano
Belmonte e Amaraí
No dia 2 de agosto passado, um domingo, fui régia e duplamente premiado por minha devoção à genuína Música Popular Brasileira.
Começou às 10 horas da manhã, na TV Cultura, Canal 510, no Programa Sr. Brasil, comandado pelo veterano Rolando Boldrin. Durante uma hora, exibiram-se ali dois magníficos cantores completamente desconhecidos para mim: Júlio Carvalho e Cláudia Cunha, acompanhados por excelente regional, contando com clarineta, baixo acústico, violão de 6 cordas, violão de 7 cordas, bandolim, cavaquinho e outros de percussão. Além da arte de cada astro, casos e mais casos, como é do feitio de Boldrin, enriqueceram o espetáculo.
Durante os comerciais, era anunciada, para as 8 da noite, uma homenagem à recém-falecida estrela Inezita Barroso, apresentadora do Viola, Minha Viola.
Inezita Barroso em duas fases de sua carreira
À noite, a hora marcada, enquanto a maioria dos telespectadores se plugavam, suponho, no Faustão ou no Silvio Santos, eu voltava à TV Cultura para conferir. O título da homenagem era Tributo a Inezita – Quanta Saudade Você Me Traz.
Durante 2 horas e meia de programa, ali compareceram nomes do primeiro time da Música Sertaneja, alguns representando falecidos ícones do gênero, contando, no total, mais de 50 artistas, dentre eles Renato Teixeira, Ivan Lins, Lourenço e Lourival, Renato Borghetti, Rick Solo, Mococa e Paraíso, Paulo Freire, João Mulato e Douradinho, Pereira da Viola, Roberto Correa, Irmãs Barbosa, Toninho Ferragutti, Daniel e o Coral da USP.
A maioria atuou acompanhada pelo Regional Viola, Minha Viola, com Joãozinho, violão, Arnaldo Freitas, viola caipira, Leandro Madeira, baixo, Escurinho, percussão, e os convidados, Maestro Marinho, sanfona, e Márcio, percussão. Eles formaram o grupo que esteve ao lado de Inezita nos últimos nos da emissora.
O repertório do tributo refletiu a vasta obra de Inezita e as apresentações se dividiram entre os clássicos de seu cancioneiro e também algumas peças que marcaram os artistas presentes ao show. Ao final, todos os participantes cantaram a inesquecível canção Lampião de Gás, marca registrada da estrela.
Alguns astros da apoteose
Espero que a produção desse show disponibilize um DVD com a sua íntegra, para o deleite de todos os aficionados gênero, com é meu caso.
Embora eu tenha curtido adoidado o programa integralmente, lamentei a ausência de representante de uma dupla que, para mim – vocês têm todo o direito de discordarem –, representou um marco na Música Sertaneja: Belmonte e Amaraí.
Belmonte e Amaraí
Pascoal Zanetti Todarelli, o Belmonte, nasceu em Barra Bonita (SP), no dia 2 de novembro de 1937, e faleceu num acidente automobilístico em Santa Cruz das Palmeiras, interior paulista, no dia 9 de setembro de 1972. Domingos Amaraí Sabino da Cunha, o Amaraí, nasceu em Rui Barbosa (BA), no dia 11 de outubro de 1940.
Belmonte, conhecido carinhosamente como Lico em Barra Bonita, formou duplas com Belmiro e também com Miltinho Rodrigues que, mais tarde, por sua vez, formou dupla com Tibagi.
Amaraí, por outro lado, com apenas 16 anos, em Rio Verde (GO), já cantava em dupla com Amoroso. A dupla foi desfeita, e Amaraí seguiu para São Paulo, onde passou a se apresentar sozinho, cantando na noite e chegando a formar dupla com Tibagi, algum tempo depois.
Com apenas 16 anos, Belmonte também já se aventurava pela capital paulista atrás do sonho de cantar, e foi com 18 anos que conheceu Belmiro e formou com ele a dupla Belmiro e Belmonte, gravando o LP Aquela Mulher, pela gravadora Sabiá, que foi o primeiro disco em sua carreira.
O sucesso demorou e só chegou em 1964, quando Belmonte, já com 26 anos de idade, conheceu o Amarai, no Café dos Artistas; formando a dupla Belmonte e Amaraí, a qual se apresentava em casas noturnas e bares, interpretando os mais diversos estilos musicais, em vários idiomas.
No ano seguinte, Nenete, da dupla Nenete e Dorinho, sendo diretor artístico da gravadora RCA, propôs à dupla um contrato de gravação. E, em 1967, Belmonte e Amaraí lançaram o primeiro LP, no qual o sucesso da faixa-título Saudade de Minha Terra, de Belmonte e Goiá, se encarregou de imortalizar a dupla, com mais de 1.650.000 cópias vendidas, número até hoje raramente igualado.
Eu, nordestino e seresteiro, que até hoje faço serenatas pelas superquadras de Brasília, até então só conhecia uma canção obrigatória em nossas cantorias noturnas: Luar do Sertão, do maranhense Catulo da Paixão Cearense. Aí chegou Saudade de Minha Terra! E chegou para ficar! Em qualquer rodada musical de amigos, possa ser em residência ou boteco, ela é cantiga obrigatória.
O impacto de Saudade de Minha Terra foi tamanho, que grandes nomes da MPB a regravaram: Milionário e José Rico, João Paulo e Daniel, Chitãoinho e Chororó, Sérgio Ferraz e Júlia Arantes, Mauro Sérgio, Francisco Petrônio, Sérgio Reis, Marcelo Costa, e muitos outros.
No pouco tempo em que durou, a dupla Belmonte e Amaraí deixou sua história na música caipira de raiz. Belmonte e Amaraí possuíam as vozes mais afinadas e que melhor se casavam na época. Tornaram-se um marco dentro da música sertaneja, considerado por alguns como sendo os precursores do sertanejo moderno. Inovaram na instrumentação, incluindo harpa paraguaia, piano, bongô e pistons, instrumentos musicais praticamente inéditos nas músicas do gênero.
Gosto não se discute! Aqui externei minha sincera opinião, fruto de muita pesquisa, acurada observação!
Os LPs e CDs da dupla são facilmente encontráveis no mercado virtual.
Ah! Ia-me esquecendo, são imperdíveis as manhãs de domingo na TV Cultura: de 9 às 10, Viola, Minha Viola; de 10 às 11, Sr. Brasil; e, de 11 ao meio-dia, Samba na Gamboa. É Música Popular Brasileira da melhor qualidade.
Para vocês, Saudade de Minha Terra, guarânia de Belmonte e Goiá, divisor das águas na Música Sertaneja, com Belmonte e Amaraí, seus criadores:
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INEZITA BARROSO, O FIM DE UM CICLO DOURADO
Raimundo Floriano
Inezita Barroso
Morreu Inezita Barroso! E, com ela, desaparece o que ainda restava da pureza de nossa Música Sertaneja, ou Caipira, na mídia! Ela jamais terá substituto, porque era única!
Inês Madalena Aranha de Lima, a Inezita Barroso, cantora, instrumentista, arranjadora, compositora, folclorista e atriz, nasceu em São Paulo (SP), no dia 4.3.1925, cidade onde veio a falecer, no dia 8.3.2015, aos 90 anos de idade.
Começou a cantar e estudar violão aos sete anos e, aos 11, iniciou seu aprendizado de piano. Fez o curso de Biblioteconomia. Iniciou a carreira nos anos 40, cantando músicas folclóricas recolhidas por Mário de Andrade na Rádio Clube do Recife.
Em 1947, aos 22 anos, ela casou-se com Advogado Adolfo Cabral Barroso, grande incentivador de sua carreira, amor que foi eterno enquanto durou. Depois de casada, voltou ao canto e ao violão, estreando, em 1950, na Rádio Bandeirantes de São Paulo, a convite do compositor e radialista Evaldo Rui.
Participou, em seguida, da transmissão inaugural da TV Tupi, Canal 3, e trabalhou como cantora exclusiva da Rádio Nacional de São Paulo, transferindo-se, mais tarde, para a Rádio Record. Ainda em 1950, estrelou o filme Ângela, de Tom Payne e Abílio Pereira de Almeida, e realizou recitais no T. B. C., no Teatro de Cultura Artística e no Teatro Colombo.
Em 1951, gravou seu primeiro disco, interpretando Funeral de um Rei Nagô, de Hekel Tavares e Murilo Araújo e Curupira, de Waldemar Henrique. Em 1953, gravou O Canto do Mar, e Maria do Mar, de Guerra Peixe e José Mauro de Vasconcelos. No mesmo ano, gravou um de seus discos de maior sucesso, a moda Marvada Pinga, de Cunha Jr., que trazia, no Lado B, o samba-canção Ronda, de Paulo Vanzolini, que só veio a se tornar sucesso muito tempo depois, quando foi gravado pela cantora Márcia, mas que no disco de Inezita ficou totalmente eclipsado pelo êxito da moda Marvada no Lado A.
Ainda em 1953, voltou a atuar no cinema, estrelando os filmes Destino em Apuros, de Ernesto Remani, e Mulher de Verdade, de Alberto Cavalcanti. Em 1954, atuou em É Proibido Beijar, de Ugo Lombardi, e O Craque, de José Carlos Burle, recebendo, ainda, o Prêmio Roquete Pinto, como a melhor cantora de rádio da MPB, e o Prêmio Guarani, como a melhor cantora de disco.
Em 1953, gravou, na RCA Victor, Canto do Mar, canção de Guerra Peixe, Benedito Pretinho, canção, e Dança de Caboclo, coco, ambos de Hekel Tavares e Olegário Mariano, e os sambas Os Estatutos da Gafieira, de Billy Blanco, e Isso É Papel, João?, de Davi Raw e Cícero Galindo Machado.
A partir de 1954, passou a apresentar-se semanalmente em programas folclóricos da TV Record de São Paulo. Em 1955, atuou no filme Carnaval em Lá Maior, de Ademar Gonzaga, e, como atriz e cantora, representou o Brasil no Festival de Cinema de Punta del Este, Uruguai, excursionando, em seguida, pelo Paraguai.
No mesmo ano, foi novamente agraciada como Prêmio Roquete Pinto e com o Prêmio Saci, como melhor atriz do cinema, e realizou gravações de divulgação do folclore brasileiro, ilustrando uma série de conferências de professores na Universidade de São Paulo.
Ainda em 1955, lançou, pela Copacabana, seu primeiro LP, Inezita Barroso, com um repertório folclórico que incluía Banzo, de Hekel Tavares e Murilo Araújo, Funeral dum Rei Nagô, de Hekel e Murilo, Viola Quebrada, de Mário de Andrade, e Mineiro Tá Me Chamano, de Zé do Norte. Em seguida, lançou os LPs Danças Gaúchas, Coisas do Meu Brasil e Lá Vem o Brasil.
Nessa época, os atores Jean Louis Barrault, Marian Anderson, Vittorio Gassman e Roberto Inglês, em visita ao Brasil, levaram seus discos para a Europa, onde foram divulgados nas principais emissoras.
Seus dois LPs seguintes foram Vamos Falar de Brasil e Inezita Apresenta, ainda pela Copacabana, reunindo, nesse último, composições de Babi de Oliveira, Juraci Silveira, Zica Bergami, Leyde Olivé e Advina Andrade, do folclore baiano, mineiro e paulista.
Em 1956, publicou o livro Roteiro de Um Violão. Em 1960, lançou o LP Eu Me Agarro na Viola, título da faixa de abertura. Em 1961, lançou o LP Inezita Barrroso.
Em 1968, lançou o LP O Melhor de Inezita. Em 1969, o LP Clássicos da Música Caipira, Volume 1. Nesse mesmo ano, ganhou o Troféu do I Festival de Folclore Sul-Americano, em Salinas, Uruguai. Em 1970, lançou o LP Modinhas e produziu um documentário que representou o Brasil na Expo-70, no Japão. Em 1972, lançou o LP Clássicos da Música Caipira, Volume 2.
Em 1975, lançou o LP Inezita de Todos Cantos, incluindo números folclóricos recolhidos na Bahia, Mato Grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em 1978, o LP Jóia da Música Sertaneja.
A partir de 1980, começou a apresentar o Programa Viola Minha Viola, aos domingos, pela TV Record de São Paulo, depois na TV Cultura. Gravou, na Copacabana, no mesmo ano, o LP Joia da Música Sertaneja 2. Por essa mesma época, realizou recitais e conferências pelo Brasil, além de apresentar-se com Oswaldinho do Acordeon em shows do Projeto Pixinguinha.
De 1982 a 1996, lecionou Folclore na Universidade de Mogi das Cruzes. A partir de 1983, começou a lecionar na Faculdade Capital de São Paulo. Em 1985, foi homenageada pela Escola de Samba Oba-Oba, de Barueri, que cantou sua vida e obra em enredo de carnaval. No mesmo ano, após cinco sem gravar, lançou, no selo independente Líder, o LP Inezita Barroso: A Incomparável, cujo repertório foi escolhido pelos fãs.
Nesse período, apresentou, por cinco anos, na Rádio Universidade de São Paulo, o Programa Mutirão. A partir de 1990, e durante nove anos, levou ao ar, na Rádio Cultura AM, o Programa Estrela da Manhã, das cinco às sete horas. Em 1992, apresentou-se no Teatro do SESC, em São Paulo, ao lado da violeira Helena Meirelles e da dupla Pena Branca e Xavantinho.
Em 1996, gravou, com o violeiro Roberto Corrêa, o CD Voz e Viola. Em 1997, com o mesmo Roberto Corrêa, gravou o CD Caipira de Fato No mesmo ano, recebeu o Prêmio Sharp de Melhor Cantora Regional. Em 1998, participou, juntamente com Zé Mulato e Cassiano, Paulo Freire e Pereira da Viola, do CD Feito na Roça, de Braz da Viola e Sua Orquestra de Violeiros, de São José dos Campos.
Fez apresentações na França, União Soviética, Itália, Estados Unidos, Israel, Paraguai e Uruguai, entre outros países. Seu disco Danças Gaúchas, era considerado por ela como um dos mais importantes de sua carreira, por sua inclusão como material básico de estudo no currículo de muitas escolas brasileiras.
Ficou conhecida como A Rainha do Folclore. Em 2000 lançou, pela CPC/UMES o CD Sou Mais Brasil. Em 2011, o produtor musical Rodrigo Faour lançou a caixa de CDs O Brasil de Inezita Barroso, com parte significativa de sua discografia.
Em dezembro de 2014, Inezita levou uma queda na casa de sua filha, em Campos do Jordão. Internada no Hospital Sírio-Libanês, em 19 de fevereiro de 2015, vítima de insuficiência respiratória, em 8 de março do mesmo ano, quatro dias depois de completar 90 anos de vida.
Considerada uma das cantoras veteranas brasileiras que melhor conservou a qualidade da sua voz com o passar dos anos, Inezita se notabilizou por sua defesa das raízes da música regional brasileira e por também comandar o programa Viola, Minha Viola, ultimamente na TV Cultura, nos últimos 35 anos de vida.
Esta longa matéria é apenas um pequeno resumo do que foi a carreira dessa grande artista de suma importância para a Música Brasileira, e, em meu entender, a mulher mais linda e talentosa da TV nacional. Dia 30 da agosto, a TV Cultura apresentou o filme Mulher de Verdade, estrelado por Inezita e Colé, no qual pude constatar a esfuziante e natural beleza dessa Grande Dama da Música Caipira.
A prolífera discografia e filmografia de Inezita encontra-se facilmente à disposição nos sites especializados, além de 46 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM.
Viola, Minha Viola continua no ar, todos as manhãs de domingo, das 9 às 10, com reprises, pois até agora, penso eu, a emissora não encontrou um substituto para Inezita. E jamais o encontrará. Se Nashville, nos Estados Unidos, é o ponto de partida de qualquer novato que deseja conquistar seu lugar ao sol na country music, Viola, Minha Viola foi, nesses últimos 35 anos, sob a proteção de Inezita, o berço de onde saíram grandes astros de nossa atual Música Caipira de raiz. Isso ninguém mais o fará!
E verdade que ainda sobrevive o Programa Sr. Brasil, com Rolando Boldrin na batuta, apresentando o que resta de nossa pureza, embora não tenha a características eminentemente caipira do Viola, Minha Viola.
No dia 2 de agosto, a mesma TV Cultura levou ao ar, maravilhosa homenagem a Inezita, com o título Tributo a Inezita – Quanta Saudade Você Me Traz.
Durante 2 horas e meia de programa, ali compareceram nomes do primeiro time da Música Caipira, alguns representando falecidos ícones do gênero, contando, no total, mais de 50 artistas, dentre eles Renato Teixeira, Ivan Lins, Lourenço e Lourival, Renato Borghetti, Rick Solo, Mococa e Paraíso, Paulo Freire, João Mulato e Douradinho, Pereira da Viola, Roberto Correa, Irmãs Barbosa, Toninho Ferragutti, Daniel e o Coral da USP.
A maioria atuou acompanhada pelo Regional Viola, Minha Viola, com Joãozinho, violão, Arnaldo Freitas, viola caipira, Leandro Madeira, baixo, Escurinho, percussão, e os convidados, Maestro Marinho, sanfona, e Márcio, percussão. Eles formaram o grupo que esteve ao lado de Inezita nos últimos nos da emissora.
O repertório do tributo refletiu a vasta obra de Inezita e as apresentações se dividiram entre os clássicos de seu cancioneiro e também algumas peças que marcaram os artistas presentes ao show. Ao final, todos os participantes cantaram a inesquecível Lampião de Gás, valsinha marca registrada da estrela.
O grande elenco do espetáculo
Como pequena amostra do trabalho de Inezita Barroso, escolhi estas cinco faixas de seu repertório:
Tristeza do Jeca, toada de Angelino de Oliveira:
De Papo Pro Á, toada de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano:
Ronda, samba-canção de Paulo Vanzolini:
Moda da Pinga, moda de Laureano e Raul Torres
Lampião de Gás, valsa de Zica Bergami e Hervé Cordovil:
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