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JOSÉ VASCONCELLOS - EU SOU O ESPETÁCUÇO
Raimundo Floriano
Rio Branco (AC), 20.03.1926 – São Paulo (SP), 11.10.2011
Faleceu ontem, 11.10.2011, vítima de uma para cardíaca, o humorista José Vasconcelos, aos 85 anos de idade, e seus funerais acontecerão hoje, 12 de outubro, Dia da Criança, data bem significativa para esse grande artista, que soube fazer os brasileiros rirem com suas inteligentes piadas e imitações cheias de pureza, sem apelação, isentas de termos chulos ou pornográficos.
Conheci-o ao chegar a Belo Horizonte, em fevereiro de 1958, quando ele se apresentava no Teatro Martins Penna, acompanhado por um elenco de vedetes do primeiro escalão, como Virgínia Lane, Eloína, Íris Bruzzi e a portuguesa Rosinda Rosa, que atuavam, cantavam, e dançavam ao som de excelente orquestra.
Eu, que vinha duma experiência circense, maravilhei-me com aquela trupe, pois via nela as rumbeiras do Circo Cometa do Norte, no qual fui “escada”, principalmente com aquele palhaço que, mesmo sem pintar a cara, nos fazia escangalhar de rir.
Eu jamais havia entrado num teatro, fui àquele espetáculo a convite de amigos, e hoje credito a José Vasconcellos meu amor pelas Artes Cênicas, em especial quando apresentadas ao vivo.
José Thomaz da Cunha Vasconcellos Neto começou sua carreira artística no rádio e participou do primeiro programa humorístico televisivo, A Toca do Zé, exibido pela TV Tupi de São Paulo, no ano de 1952.
Gravou, em 1960, pela Odeon o disco Eu Sou o Espetáculo, baseado no show do mesmo nome que apresentou por muitos anos em teatros de todo o Brasil, tornando-se o primeiro humorista a vender mais de 100 mil cópias de um elepê do gênero. Esse disco foi seguido pelo volume 2, também ótimo, mas não alcançando o mesmo sucesso do anterior.
Nos Anos 1960, esteve à frente do projeto denominado Vasconcelândia, um parque de diversões temático, que acabou não se concretizando.
As gerações recentes ficaram conhecendo-o por sua atuação nos programas Escolinha do Professor Raimundo, na TV Globo, onde viveu o personagem Ruy Barbosa Sá Silva, e Escolinha do Barulho, na TV Record.
Afastado da Televisão devido ao Mal de Alzheimer, passou os últimos anos de vida em sua casa, na cidade de Itatiba, interior de São Paulo
Para vocês relembrarem o magnífico comediante que nos deixou, ofereço-lhes pequena amostra de seu trabalho, na imitação do compositor Ary Barroso, que considero o melhor de todos os esquetes de sua genial criação.
ZÉ FIDÉLIS, O LUSITANO DA PAULICEIA
Raimundo Floriano
Zé Fidélis
Gino Cortopassi, o Zé Fidélis, o Craque das Paródias, nasceu a 23.09.1910, em São Paulo (SP), onde veio a falecer a 15.03.1985. Foi cantor, radialista, compositor, jornalista, escritor, humorista e um dos pioneiros do humor radiofônico brasileiro.
Zé Fidélis sempre se apresentava como "o inimigo número um da tristeza". De fato, sua forma característica de fazer humor podia dar a ele o direito de conceber essa autoafirmação. Ele fazia humor como poucos, tendo por base as paródias de músicas de sucesso e as imitações irônicas e inocentes, o que despertava certa simpatia dos que eram atingidos por elas. O humor ingênuo e o modo como interpretava as piadas de português fizeram dele um humorista incomparável nesta arte.
Estreou no programa radiofônico Cascatinha do Genaro, de João Batista de Almeida, nos anos 1930. Foi nesse programa que Gino incorporaria o personagem Zé Fidélis, tornando-se muito famoso como "one-man-show" em palcos de projeção, como o Cassino da Urca e o Quitandinha. Os 42 discos gravados, entre 78 RPM e LPs, ajudaram a catapultar sua carreira. Em 1958, foi o pioneiro no Brasil em gravar um LP de 33 rotações somente com humorismo. A maioria de suas gravações era de sua autoria, ou em parcerias. Grande parte desses registros encontra-se ainda à venda em sebos virtuais.
Vinis de Zé Fidélis à venda em sebos virtuais
Fez composições para outros artistas, sem ser paródias, como os boleros Meu Castigo, gravado pelo Duo Guarujá, e Horas Felizes, gravado pela dupla Ouro e Prata. Em 1972, a famosa dupla Alvarenga e Ranchinho gravou, pela RCA, uma paródia de sua autoria intitulada Meu Boi, sobre o sucesso de Ronnie Von em 1966, Meu Bem, uma regravação da música Girl, dos Beatles.
Nos dias de hoje, seu admirável talento humorístico certamente o faria um artista rico. Porém, apesar de ser muito elogiado por vários críticos renomados, terminou seus dias numa clínica de repouso em São Paulo.
Sua extraordinária capacidade em fazer o público rir e, até mesmo, esbagaçar-se na gargalhada, também era transferida com talento para as páginas que deixou escritas. Em 1934, Zé Fidélis passou a assinar a coluna Sarravulho, no maior jornal humorístico do Brasil, O Interventor que, depois da Ditadura Vargas, passou a se chamar O Governador. Como Sarravulho era a última página do jornal, muitos, até hoje, acham que este era seu título principal. Ali, Zé Fidélis manteve-se, ininterruptamente, até 1959 – 25 anos!
Posteriormente, com 1.300 páginas contabilizadas, resolveu transformá-las em livro, lançando História do Mundo; Binho, Mulata e Vacalhau; Teatro Maluco; Meningite Aguda; Lira Arreventada; Sarravulho; Muito Sangue e Pouca Areia; Bersus a Gasugênio e A Ópera Pela Tripa.
Seleção Canalhinha, lançado no ano de 1968, com prefácio de Manezinho Araújo, é seu 10º livro, restando-lhe, segundo declara em sua apresentação, matéria para mais de outros 10, e o título nada tem a ver com a Seleção Brasileira de Futebol, esporte sobre o qual nada entende e se declara o “Zé ruim de bola”. Trata-se, portanto, de uma coletânea acanalhada de textos seus extraídos das velhas páginas de O Sarravulho.
Para que vocês tenham uma ideia de seu estilo escrachado e muito portuga-lusitano, escolhi duas páginas de Seleção Canalhinha. Na primeira, um pedaço do que ele denomina Anúncios Desclassificados e, na segunda, na parte dedicada aos versos, a poesia Voa Rusposta.
Como pequena amostra de seu alentado trabalho no campo das paródias, apresento-lhes a marchinha Casa da Tereza, de Artur Fonseca, Reinaldo Ferreira e V. Matos Siqueira, gravada por Zé Fidélis em 1954, e calcada sobre o fado Uma Casa Portuguesa, imortalizado pela cantora lusitana Amália Rodrigues:
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FALCÃO, O ARQUITETO DO BOM HUMOR
Raimundo Floriano
Dez de dezembro, é o Dia do Palhaço. Com muita alegria, presto, agora, homenagem a esse homem-show, para mim o ponto alto da Música Popular Brasileira no início da Década de 1990, quando vivíamos a estagnação criativa no cenário artístico nacional, um sangue novo surgido em meio ao marasmo. Para dizer o mínimo, Falcão foi o que tocou aqui em casa no réveillon 1991/1992. Sacana no mais alto grau, ele mesmo se qualifica: cantor, corno, apresentador e compositor brega, notadamente no estilo irreverente e cômico.
Marcondes Falcão Maia nasceu em Pereiro, interior do Ceará, no dia 16 de setembro de 1957, onde morou, até os 12 anos, numa casa simples. Por influência do pai, o farmacêutico da cidade e "o único lá em Pereiro que tinha radiola, com uma grande coleção de discos, de gosto muito eclético", escutava música italiana e cantores como Waldick Soriano, Núbia Lafayete, Nelson Gonçalves, e Orlando Silva, d0nstuindo seu bom gosto musical.
Ocasionalmente, também captava, pelas ondas sonoras das emissoras radiofônicas cariocas, como a Globo, Nacional, e Tupi, as músicas dos Beatles e da Jovem Guarda. Em 1970, mudou-se de vez para Fortaleza, indo estudar no colégio Júlia Jorge, na Parquelândia. Na Capital cearense, aprendeu a tocar violão e conheceu Tarcísio Matos, seu futuro parceiro musical.
Por gostar de desenhar, optou pela área de Arquitetura. Após se formar Técnico em Edificações, na Escola Técnica Federal do Ceará, em 1978, Falcão começou a trabalhar como desenhista, enquanto se preparava para o vestibular da Universidade Federal do Ceará, na qual entrou, em1981, no Curso de Arquitetura, depois de cinco tentativas.
Ao mesmo tempo, investia na carreira artística. Em 1980, fundou, juntamente com Tarcísio Matos, Flávio Paiva, Eugênia Nogueira e outros estudantes de Comunicação Social, a publicação Um Jornal Sem Regras, cujos integrantes também formaram um grupo musical, o Bufo-Bufo.
As composições eram irreverentes e revestidas de consciência política. Enquanto Tarcísio e Flávio queriam fazer uma coisa mais séria, pendendo para MPB, Falcão mudava as letras, para ficassem mais cômicas, o que resultou numa carrada de paródias e gozações inovadoras, as quais dominaram o cenário musical da Década de 1990.
Em 1988, Falcão graduou-se em Arquitetura e abriu um escritório juntamente com colegas, no qual trabalhou durante três anos, resolvendo, então, dedicar-se inteiramente à carreira artística.
Sua primeira incursão musical foi ainda em 1988. Tarcísio Matos trabalhava no Banco do Brasil e, junto com Falcão, se inscreveu no Festival da Canção Bancária, realizado no BNB Clube. Em contraste às canções sérias do festival, apresentaram o bolero brega escrachado Canto Bregoriano II, com letras sobre Igreja, acompanhamento de coral, e Falcão usando a vestimenta colorida que se tornou sua marca registrada.
O público aplaudiu, mas a apresentação recebeu nota zero de todos os jurados. No Natal do mesmo ano, Falcão fez seu primeiro show solo, no bar Pirata, em Fortaleza. Em seguida, passou a apresentar-se aos fins de semana, sendo inclusive tachado como comediante, pelo fato de, na época, surgirem muitos humoristas do Ceará, como Tom Cavalcante.
Em 1990, lançou, de forma independente, o álbum Bonito, Lindo e Joiado, contendo o citado Canto Bregoriano II, que já era sucesso regional; I’m Not Dog No, versão em Inglês de Eu Não Sou Cachorro Não, de Waldick Soriano, “para que as rádios brasileiras dessem atenção a nossa música”, já que a ascensão das rádios FM fez a maior parte das estações tocarem só música estrangeira; Vão-se os Cabaços, Ficam-se os Desgostos; Só É Corno Quem Quer; e outras 7 faixas de igual apelo homorístico.
No ano de 1991, a gravadora Continental relançou Bonito, Lindo e Joiado, dando-lhe visibilidade nacional e levando o artista a ser entrevistado por emissora de TV de São Paulo. Era só o começo.
Por influência de Raimundo Fagner, que conseguiu a gravação em fita cassete de um show de Falcão, chamou a atenção da gravadora BMG. Enquanto I am Not Dog No virava seu primeiro sucesso de abrangência nacional, gravou, pela BMG, o disco O Dinheiro Não É Tudo, Mas É 100%, em 1994. Repetindo a fórmula anterior, o novo disco tinha a música Black People Car, traduzindo a letra de outro sucesso brega, Fuscão Preto, carro-chefe do sertanejo Almir Rogério. Seu álbum seguinte, A Besteira é a Base da Sabedoria, de 1995, tornou-se o mais vendido da carreira de Falcão, com 240 mil cópias, alçado pelo sucesso Hollyday Foi Muito.
Ficou na BMG até 1998, gravando mais dois discos para o selo. Paralelamente, comandou um programa televisivo, Falcão na Contramão, exibido pela na Rede Bandeirantes.
Sua carreira, desde há muito, se consolidou, configurada numa agenda de espetáculos completamente lotada.
Em 2012, Falcão estreou um talk show, Leruaite, na TV Ceará, levando a cada sessão um convidado diferente do meio artístico, político ou empresarial. No programa, também atua o conjunto Num Tô Nem Vendo, formada por músicos com deficiência visual.
Ainda em 2012, Falcão foi considerado um dos 30 cearenses mais influentes do ano, de acordo com enquete realizada pela revista Fale!
Esta é sua discografia conhecida: Bonito, Lindo e Joiado, 1992; O Dinheiro não É Tudo, Mas É 100%, 1994; A Besteira É a Base da Sabedoria, 1995; A Um Passo da MPB, 1996; Quanto Pior, Melhor, 1997; 500 Anos de Chifre, 1999; Do Penico À Bomba Atômica, 2000; Maxximum: Falcão - Coletânea, 2005; e What Porra Is This?, 2006, toda ela facilmente à disposição em sebos virtuais.
Selecionei o Falcão para homenagear no Dia do Palhaço deste ano porque o considero a mistura de tudo que conheço no setor histriônico: comediante, humorista, palhaço, velho do pastoril.
Para botar música nesta minha conversa, escolhi estas faixas de seu irreverente repertório:
Black People Car, balanço de Atílio Versutti e Jeca Mineiro e versão de Falcão e Tarcísio Matos:
I’m Not Dog No, toada-paródia da composição de Waldick Soriano:
Isaltina, xote de sua autoria:
Canto Bregoriano II, bolero de sua autoria:
As Bonitas Que Me Perdoem, Mas a Feiura É de Lascar, balanço de sua autoria:
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ALVARENGA E RANCHINHO E O HUMORISMO
Raimundo Floriano
Alvarenga e Ranchinho
Dupla sertaneja formada por Murilo Alvarenga, o ALVARENGA (Itaúna (MG), 22.05.1912 – 18.01.1978), e Diésis dos Anjos Gaia, o RANCHINHO (Jacareí (SP), 23.05.1913 – 05.07.1991), elenco original que, apesar dos percalços, encontros e desencontros, acertos e desacertos, dissoluções e retornos, foi o mais conhecido, famoso e duradouro.
Murilo, conhecido desde cedo pelo sobrenome, trabalhava em circos como trapezista, malabarista e cantor de tangos. Diésis atuava como cantor na Rádio Clube de Santos, apresentando repertório romântico do qual o samba-canção No Rancho Fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo, era uma de suas músicas prediletas, daí se originando o apelido RANCHO. Conhecido também como BAIXINHO, em função do seu porte físico, aproveitou o apelido e o colocou no diminutivo – Ranchinho.
Em 1928, numa seresta na cidade de Santos, Murilo e Diésis resolveram cantar juntos. De início, atuaram em circos, apresentando repertório variado, com valsas, modinhas, tangos, chorinhos e calangos, entremeando uma música e outra com causos e piadas, dos quais o público achava muita graça, aplaudindo-os em aprovação.
No ano de 1933, a dupla teve início efetivo, cantando no Circo Pinheiro, em Santos, e, logo depois, em São Paulo, na Companhia Bataclã. No ano seguinte, passou a fazer parte do elenco da Rádio São Paulo. Estava consolidada no cenário artístico nacional.
Em 1935, conheceu o compositor e humorista Silvino Neto, pai do ator global Paulo Silvino, com quem formou um trio, Os Mosqueteiros da Garoa, de curtíssima duração.
Refeita a dupla, passou ela a atuar em filmes, nas mais famosas estações de rádio do país e em casas de espetáculos até do exterior, assim como a gravar seus sucessos, incluindo-se neles vários carnavalescos, como Seu Condutor, de Alvarenga e Ranchinho, em 1938, e A Charanga do Flamengo, de Felisberto Martins e Fernando Martins, em 1947
Durante sua existência, a dupla teve outros componentes, em substituição a Ranchinho, que sempre voltava, pois não havia outro com talento igual para seu lugar.
Em 1936, fazendo parte do elenco do Cassino da Urca, começou a fazer sátiras políticas, que se tornaram um dos seus pontos fortes, o que lhe acarretou sérios problemas com a censura oficial.
Mas em 1939, Alzira Vargas, filha do Presidente Getúlio Vargas, ditador na época, convidou a dupla para tocar no Palácio das Laranjeiras para seu pai. Getúlio, depois de ouvir todas as músicas e sátiras, algumas referentes a ele, deu ordem para que suas composições fossem liberadas em todo o território nacional.
Alvarenga e Ranchinho não alisavam os lombos dos poderosos, descendo-lhes, com suas sátiras, vigorosas cipoadas, com exceção de um, porque apoiavam seu governo: Juscelino Kubitscheck.
Na segunda metade dos Anos 80, Ranchinho fez parte do elenco fixo do programa Som Brasil, nas manhãs de domingo, apresentado inicialmente por Rolando Boldrin e depois por Lima Duarte.
Em outras matérias, apresentei a atuação da dupla no Carnaval e na Música Sertaneja. Aqui vai pequena amostra de seu trabalho no humorismo.
Desafio de Perguntas, baião de Alvarenga e Ranchinho:
Drama de Angélica, valsa de M. G. Barreto:
Horóscopo, baião de Alvarenga e Ranchinho:
Mister Eco, toada de Bill, Belinda Putman, e Murilo Alvarenga
Romance de Uma Caveira, valsa de Alvarenga, Ranchinho e Flávio Salles:
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