Túlio tem duas paixões na vida, cavalo e mulher. Parte da infância passou na fazenda do avô em União dos Palmares, bem perto da Serra da Barriga, onde os escravos refugiados se organizaram construíram uma sociedade, a República dos Palmares. Local de difícil acesso, os negros conseguiram por 100 anos se defenderem dos governos escravagistas. Ganga Zumba foi o líder de Palmares que se tornou refúgio de escravos foragidos. À medida que foi crescendo, eles se organizaram em Quilombos. Ganga Zumba tinha um palácio, quatro esposas, guardas, ministros e súditos devotos. A República dos Palmares era formada por cerca de 2.000 casas que abrigavam famílias, guardas e oficiais que faziam parte de nobreza. Ganga Zumba tinha deferências e honrarias de Rei.
Ganga Zumba chegou a acertar um tratado de paz oferecido pelos governantes e fazendeiros, para transferir os negros de Palmares outro local. Zumbi, sobrinho de Ganga Zumba, não aceitou o acordo. Ganga Zumba foi envenenado e a resistência aos portugueses continuou com Zumbi.
Como Túlio gostava de contar essa história desde criança e tem a pele morena, cabelos crespos, lábios carnudos, parecido com seu avô paterno, filho de um português com uma escrava, logo tomou o apelido de Zumba. Todos os amigos na fazenda, na cidade, colegas da faculdade de agronomia chamam o moreno Túlio carinhosamente de Zumba.
Hoje ele mora em Maceió, com seus 65 anos administra a fazenda que lhe coube como herança, de onde tira a para seu viver sem muitos atropelos financeiros. Suas três filhas e a esposa gostam da vida da cidade, apenas um genro o ajuda na administração do campo.
Túlio não perde leilão de cavalos, vive procurando, viajando, comprando e vendendo, conhece o Brasil e é popular no ramo de leilões, todos conhecem Zumba. Ângela, sua esposa, raramente o acompanha, no íntimo ele gosta, fica livre para outra paixão, mulher, não pode ver um rabo de saia, Zumba nunca dorme sozinho nos hotéis. Em leilões de gado sempre tem mulher bonita.
Certa vez, em uma exposição na cidade de Palmas, ele experimentava um cavalo baio, estava gostando do trotar do animal quando avistou uma bela mulher, de jeans e chapéu de cowboy, com os braços por cima da cerca apreciando Zumba e o cavalo. Ela sorriu ao longe.
À noite quando ele saía do hotel para jantar num restaurante da cidade encontrou-se com a linda mulher no elevador, cumprimentaram-se.
– Comprou aquele baio? Perguntou a mulher sorrindo.
– Ainda não decidi.
Esse diálogo foi início de uma conversa animada. Alice, era fazendeira em Goiás, entendia de cavalos e bois. Zumba convidou-a para jantar na cidade, ela não se fez de rogada aceitou o convite. Zumba estava na maior felicidade, a bela fazendeira tinha uma idade indefinida entre 45 a 55 anos, bem arrumada, bem tratada, e com aquela conversa, que mais ele queria? Terminaram dormindo juntos os três dias no hotel. Ele não perguntou, nem ela esclareceu os detalhes de sua vida, apenas que era fazendeira. Foram três dias de amor e cavalo. Zumba retornou à Maceió feliz da vida.
Ano seguinte, ele viajou àquele leilão na mesma época, dezembro, no fundo com uma pequena esperança de encontrar Alice. Foi em vão a procura em todos os lugares. Perdeu a esperança em encontrá-la. Mas o destino compensou, à noite dirigiu-se ao bar em busca de alguma aventura. Teve a sorte de encontrar uma solitária jovem, bonita que nem um cão. Ele sentou-se no banquinho junto à jovem. De repente puxou conversa, ela veterinária, estava adorando a exposição, conversaram, beberam, foram até o piano onde um argentino tocava tangos e outras canções. Cantaram, estavam se divertindo, terminaram no quarto do hotel. Na despedida, Elizabeth, a jovem, confessou-lhe que tinha amado os três dias com aquele coroa, moreno, alto. Zumba sentiu-se mais jovem com a aventura. Dias inesquecíveis. Retornou feliz da vida.
Durante o ano participou de vários leilões e exposições, até que em dezembro retornou ao Leilão de Palmas. Ele achava que dava sorte.
Foi à exposição, montou, discutiu preços, conversou com fazendeiros. À noite tomou um banho e saiu em busca de aventuras, pensou em Alice e na jovem Elizabeth. Quando tomava o segundo uísque no bar do hotel, eis que surge a maior surpresa de sua vida. As duas louras, Alice e Elizabeth, juntas, olharam discretamente para ele, não cumprimentaram Zumba. Ele ainda chocado com aquela dupla aparição, ouviu quando Elizabeth tratou Alice com um “mamãe” bem carinhoso. Pelo olhar de indiferença, percebeu que as duas juntas tornou-se inviável qualquer contato, muito menos uma noite de amor.
O remédio foi ouvir tango argentino. E para dormir se valeu de uma acompanhante anônima