ZULMIRA
Gonçalves Dias
Sonhara-te eu na veiga de Granada,
Tapetada de flores e verdura,
Onde o Darro e Xenil no lento giro
Volvem a linfa pura.
Ali te vejo em leda comitiva
Dos gentis cavaleiros do oriente,
Quando, deposta a malha do combate,
Vestem da paz a seda reluzente.
Ali te vejo num balcão sentada,
Grande preço da maura arquitetura,
Pejando as asas das noturnas brisas
Dum canto de ternura.
Ali te vejo, sim; mas mais me agrada
O que se m'afigura noutro instante,
Ver-te em vistosa tenda d'ouro e sedas,
Levantada no dorso do elefante.
E em roda, ao largo, o séquito pomposo
D'eunucos a teu gesto vacilantes
Em cestas frontes negras se destacam
Alvíssimos turbantes.
E pergunto quem és? — Então me dizem
Ciosos de guardar o seu tesouro,
Nome tão doce aos lábios, que parece
Escrever-se em cetim com letras d'ouro.