Raimundo Floriano
The Platters - Formação original
Nesta minha vida de colecionador de discos, tenho conservado imensa afeição, atávica, umbilical mesmo, pelos intérpretes das primeiras gravações que adquiri, a partir de fevereiro de 1958, quando comecei a ganhar meu dinheirinho fixo. Era no tempo do vinil.
Por isso, The Platters continuam em minhas prateleiras ombreando-se com os grandes nomes internacionais e da MPB daquele tempo. Ainda em Três Corações, cursando a Escola de Sargentos das Armas - EsSA, em 1957, eu já ouvia suas lindas canções, como The Great Pretender e Only You, não somente pelas ondas do rádio, como também entoadas por vários colegas de farda metidos a cantor.
Para um estudante mediano de Inglês como eu, foi satisfação imensa ouvir um conjunto americano cujas palavras eram entendidas sem dificuldade. A califonia – maneira de bem entoar –, a califasia – perfeita dicção, aliadas ao ritmo lento faziam com que seus foxes nos extasiassem e nos incitavam a imitá-los, cantando naquele Inglês-moleza.
(Pequena aula de Cultura Musical. Fox, em Inglês, significa raposa. Daí o nome do ritmo. A raposa, quando se aproxima do galinheiro, vai silenciosa, matreira, pé ante pé. Assim o foxe é dançado. Como em Only You. Mas se o dono do galinheiro chega e dá-lhe um grito, a raposa sai em desabalada carreira, gingando os quartos prum lado e pro outro. É o foxtrot, ou trote da raposa. Como em Rock Around the Clock. Esta música, ao surgir, foi classificada pela gravadora Decca Records como foxtrot, pois o nome rock, como ritmo, ainda não se consagrara. Rock Around the Clock, por conseguinte, foi o foxtrot que mais vendeu em todos os tempos.)
E havia algo mais de precioso no conjunto americano: a presença da exuberante Zola Taylor, lindo exemplar creole a enfeitar o magnífico quinteto colored.
Zoletta Lynn Taylor nasceu a 17.03.1938, em Los Angeles (EUA), onde faleceu a 30.04.2007. Integrou o conjunto de 1954 a 1961, tendo sido seu membro feminino original.
Minha experiência como Ajudante de Palhaço no Circo Cometa do Norte, em Teresina (PI), fazia-me avaliá-la como uma daquelas componentes de trupes de malabaristas, mágicos e domadores, que só apareciam no picadeiro seminuas e funcionavam apenas como partners, enfeitando os números, fazendo reverências para o público e, à noite, dormindo com os artistas.
Aliás, minha opinião mudou pouco desde então. Até hoje assistimos a programas televisivos cheios de mulheres sumariamente vestidas, cujo papel é rebolar e, vez em quando, ficar de costas para as câmeras, exibindo seus talentos de retaguarda. Há apresentadoras e cantoras que trabalham quase de lado, chamando mais a atenção pela anatomia calipígia, muitas delas fabricadas a troco de silicone ou bisturi. A essas, o falecido Deputado Clodovil Hernandes, em sua irreverência, assim deu antológica classificação: dançam e cantam com a bunda!
Pois igualmente desse modo eu avaliava de Zola Taylor. Tony Williams era o tenor e a voz principal do conjunto. Os outros estavam ali apenas para lhe fazerem o contracanto e lhe enfeitarem o solo. Algumas vezes, era dada pequena chance de Herb Reed aparecer, com seus graves, como em You”ll Never Know.
E assim continuei pensando até adquirir o LP The Flying Platters - Ao Redor do Mundo, quando minha opinião sofreu um retorno de 180 graus. Nele, Herb Reed exibe todo seu potencial de baixo em Sleepy Time Gal, e Zola Taylor, como solista, mostra a que veio, na maravilhosa interpretação de My Old Flame, de Arthur Johnston e Sam Coslow, que ora disponibilizo para meus queridos leitores.
Ouçamos, portanto, My Old Flame, na linda voz de Zola Taylor