ZEZÉ GONZAGA, A MORENINHA
Raimundo Floriano
Zezé Gonzaga
Maria José Gonzaga, a Zezé Gonzaga, cantora e compositora, nasceu em Manhuaçu (MG), no dia 3.9.1926, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 22.7.2008, aos 81 anos de idade.
Filha e neta de músicos, sua mãe chamava-se Oraide e era flautista. O pai, Rodolpho, era luthier, tendo, inclusive, fabricado um bandolim para Luperce Miranda.
Começou a cantar aos 13 anos, quando se mudou para a cidade vizinha de Além Paraíba e passou a apresentar-se no Rex Clube. Recebeu incentivo da família, que a apoiava no ideal de seguir a carreira de cantora lírica.
Iniciou os estudos de Canto com a professora Graziela de Salerno, que gostava muito de seu registro de soprano ligeiro. Além de canto, estudou piano e leitura musical. Fez seus estudos escolares na cidade vizinha de Porto Novo, com bolsa de estudos, compensada por pequenos serviços realizados por seu pai, já que sua família vivia com dificuldade.
Foi em Porto Novo que fez sua primeira apresentação, cantando a valsa Neusa, de Antônio Caldas, pai do cantor Sílvio Caldas, grande sucesso de Orlando Silva. Iniciou sua carreira como caloura no programa de Ary Barroso, em 1942. Na ocasião, recebeu a nota máxima, ao interpretar Sempre No Meu Coração, bolero de Ernesto Lecuona e versão de Mário Mendes.
Logo em seguida, recebeu convite para se apresentar no Programa radiofônico Escada do Jacó, do popular radialista Zé Bacurau. Depois de curta temporada no Rio de Janeiro, retornou a Porto Novo para continuar seus estudos. Nessa época, costumava fazer pequenas apresentações num clube de jazz, o que lhe causou problemas na escola pois, além da discriminação racial, enfrentava a discriminação por ser artista.
Mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro em 1945. Nesse ano, conquistou o primeiro lugar no Programa Pescando Estrelas, da Rádio Clube do Brasil, apresentado por Arnaldo Amaral. Isso lhe valeu um contrato de 800 mil-réis com a emissora, que duraria até 1948. Nessa época, formou, com a cantora Odaléa Sodré, filha do compositor Heitor Catumbi uma dupla chamada As Moreninhas do Ritmo. Com a parceira, cantou no Conjunto do pianista Laerte, na Rádio Jornal do Brasil.
Em 1948, assinou contrato com a Rádio Nacional. Foi levada para lá a partir de um contato do cantor Nuno Roland, que marcou uma reunião com ela, a pedido do Diretor-Geral da rádio, Victor Costa. Na ocasião, Victor lhe ofereceu um salário bem mais alto, e a cantora, dias depois, já integrava o cast da Nacional, tendo como "padrinhos musicais" o próprio Victor Costa, ao lado do cantor Paulo Tapajós.
No ano seguinte, gravou seu primeiro disco, pela Star, com os sambas-canções Inverno, de Clímaco César e Desci, de Alcyr Pires Vermelho e Cláudio Luiz. Foi por essa época que Paulo Gracindo começou a chamá-la de "minha namorada musical", em seu programa na Rádio Nacional, nos anos 1940, devido a sua técnica e afinação impecável.
Depois, integrou vários conjuntos vocais (de diversas formações), alguns dos quais são: As Moreninhas, Cantores do Céu e Vocalistas Modernos. Além disso, participou do Coro de inúmeras gravações na Rádio Nacional. Em 1951, gravou, pela Sinter, o samba-canção Foi Você, de Paulo César e Ênio Santos, e o bolero Canção de Dalila, de Victor Young, versão de Clímaco César, com o qual fez bastante sucesso. Nessa etiqueta gravou outros discos solo e também com o grupo As Moreninhas.
Em 1952, gravou os sambas Não Quero Lembrar, de Sávio Barcelos, Ailce Chaves e Paulo Marques, e Quero Esquecer, de Brasinha, Salvador Miceli e Mário Blanco, a valsa Festa de Aniversário, de Joubert de Carvalho e a marchinha Um Sonho Que Eu Sonhei, de Alcyr Pires Vermelho e Sá Róris.
Em 1953, gravou o baião É Sempre o Papai, de Miguel Gustavo e a valsa, alusão ao Dia dos Pais, criado naquele ano. Em 1954, gravou o bolero Meu Sonho, de Pedroca e Alberto Ribeiro, e Baião Manhoso, de Manoel Macedo e Marcos Valentim.
Ainda em 1954, foi contratada pela Columbia e gravou o foxe Canário Triste, de V. Floriano, versão de Juvenal Fernandes, e o samba-canção Razão de Tudo, de Umberto Silva e Nilton Neves.
Em 1955, gravou os sambas-canções Sedução, de Carlito e Nazareno de Brito, e Óculos Escuros, de Valzinho e Orestes Barbosa, e a rumba Cerejeira Rosa, de Louiguy e Jacques Larue, versão de Julio Nagib.
Em 1956, gravou a toada Moreno Que Desejo, de Bruno Marnet, e a valsa Natal das Crianças, de Blecaute. No mesmo ano, gravou seu primeiro LP, Zezé Gonzaga, considerado o melhor disco do ano, trazendo, dentre suas faixas, Ai Ioiô (Linda Flor), samba-canção de Henrique Vogeler e Luiz Peixoto, considerado uma de suas grandes interpretações, além de Nunca Jamais, bolero de Lalo Ferreira, versão de Marques Porto.
Em 1957, gravou os boleros Não Sonhe Comigo, de Fernando César, Tédio, de Fernando César e Nazareno de Brito, e Vivo a Cantar, de Cícero Nunes e Bruno Marnet. Em 1958, gravou o samba-jongo Cafuné, de Dênis Brean e Gilberto Martins, e o samba-canção Saia do Caminho, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui.
Em 1959, gravou duas músicas da parceria Tom Jobim e Vinícius de Moraes: o samba A Felicidade e o foxe Eu Sei Que Vou Te Amar. Em 1961, passou a gravar na Continental e registrou A Montanha, de Agueró e Moreu, versão de Fernando César, e o samba Que Culpa Tenho Eu?, de Armando Nunes e Othon Russo. No mesmo ano, gravou o bolero Há Sempre Alguém, de Luiz Mergulhão e Umberto Silva, e o samba Um Beijo, Nada Mais, de Almeida Rego e Índio.
Em 1962, gravou o foxe Rosa de Maio, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, o rasqueado Decisão Cruel, de Palmeira, e o samba Neném, de Tito Madi.
Considerada uma das mais belas vozes do cast da Rádio Nacional, era com frequência escalada para participar dos grandes musicais noturnos da emissora, dos quais eram responsáveis grandes Maestros como Radamés Gnattali, Léo Peracchi e outros. Gravou vários discos infantis pela fábrica Carrossel, com produção de Paulo Tapajós, e, na Continental, quando se juntou aos Trios Madrigal e Melodia, para cantar e contar historinhas para crianças.
Na Década de 1960, associou-se com o Maestro Cipó e Jorge Abicalil em uma agência de jingles, vinhetas e trilhas para rádio, TV e cinema, a Tape Produções Musicais Ltda., onde trabalhava como cantora e compositora. Em parceria com o escritor, produtor e apresentador de rádio Luiz Carlos Saroldi, compôs o tema de abertura do Projeto Minerva, apresentado pela Rádio MEC.
Em 1964, gravou, pela Continental, o LP Nossa Namorada Musical, com destaque para Dengosa, samba de Castro Perret, Poema dos Teus Olhos, bolero de Erasmo Silva e P. Aguiar, e Neném, samba de Tito Madi.
Em 1967, gravou o LP Canção do Amor Distante, pela Fontana, com destaque para os sambas Sorri, de Elton Medeiros e Zé Kéti, Faça-me o Favor, de Fernando César e Britinho, Não Fique Triste Não, de Jorge Bem, e Veja Lá, de Luiz Fernando Freire e Baden Powell.
Em 1979, gravou, com o Quinteto de Radamés Gnattali, um LP em homenagem a Valzinho, que também participou do disco só de composições suas, com produção de Hermínio Bello de Carvalho. O disco, Valzinho - Um Doce Veneno, teve, além da edição brasileira, uma tiragem destinada ao mercado estrangeiro.
Zezé fez algumas apresentações nos anos 1980 com o grupo Cantoras do Rádio, ao lado de Nora Ney, Rosita Gonzales, Violeta Cavalcanti e Ellen de Lima, que lhe renderam dois CDs.
Em 1999, gravou o CD Clássicas, ao lado da cantora Jane Duboc, que também rendeu show encenado no Rio, São Paulo e outras praças brasileiras. O disco trazia, dentre outras, Linda Flor, samba-canção de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luiz Peixoto, Olha, foxe de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e Cidade do Interior, samba de Mário Rossi e Marino Pinto. No mesmo período, também participou do Espetáculo Lupicínio Rodrigues, ao lado de Áurea Martins, montado em várias casas noturnas do Rio e de São Paulo.
Em 2000, participou do Projeto MPB: A História de Um Século, estrelando o primeiro da série de quatro shows no CCBB, Do Choro ao Samba, ao lado de Paulo Sérgio Santos e Maria Tereza Madeira, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin. Em 2001, apresentou show no Paço Imperial no Rio de Janeiro.
Em 2002, gravou, pela Biscoito Fino, o CD Sou Apenas Uma Senhora Que Canta, dedicado Elizeth Cardoso, no qual interpretou, dentre outras, Meu Consolo É Você, samba de Roberto Martins e Nássara, Vida de Artista, canção de Sueli Costa e Abel Silva, Pra Machucar Meu Coração, samba de Ary Barroso, Chão de Estrelas, samba-canção de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, e Por Que Te Escondes?, letra inédita do poeta Thiago de Mello para um choro de Pixinguinha.
Em 2008, saiu, pela gravadora Biscoito Fino o CD Zezé Gonzaga Entre Cordas, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, com gravações nunca editadas em disco, retiradas de programas de TV e de áudios inéditos de shows, acompanhada de nomes importantes como Baden Powell e Raphael Rabello.
Todos os discos aqui mencionados, bem como 111 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM são facilmente encontráveis no mercado virtual especializado.
Muito antes, em 1985, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com três elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Violeta Cavalcanti, Roberto Silva, Gilberto Milfont, Ademilde Fonseca, Roberto Paiva, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Zezé Gonzaga
E é com essa nova roupagem que escolhi cinco números para mostrar um pouco do talento e desse grande ídolo da Velha Guarda:
Saia do Caminho, samba-canção de Custódio Mesquita e Evaldo Rui:
Meu Barracão, samba de canção de Noel Rosa:
Segredo, samba-canção de Herivelto Martins e Marino Pinto:
Pela Décima Vez, samba-canção de Noel Rosa:
Cerejeira Rosa, rumba de Louiguy e Jacques Larue, versão de Júlio Nagib, seu maior sucesso, em gravação original de 1955:
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