Um dos artistas mais populares da música popular brasileira, surgido pós-geração de ouro, aquela do período dos grandes festivais, na segunda metade da década de 1960, Jessé Gomes da Silva Filho, o Zeca Pagodinho, celebra neste ano quatro décadas de carreira. Ele é contemporâneo de outros sambistas de grande relevância para a história do samba, como Dona Ivone Lara, Alcione, Jovelina Pérola Negra, Leci Brandão, Martinho da Vila, João Nogueira, Almir Guineto, Jorge Aragão e Teresa Cristina — todos eles de origem modesta.
Ele já havia lançado 10 discos, mas foi com Deixa a vida me levar (Serginho Meriti e Eri do Cais), em 2002, que, efetivamente, o grande público tomou conhecimento do cantor. A partir dali a carreira ganhou uma dimensão maior. Em 2018, Zeca Pagodinho e Maria Bethânia lotaram teatros e casas espetáculos do país — inclusive, o auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, aqui em Brasília — com o show De Santo Amaro a Xerém.
Para comemorar 40 anos de carreira do cantor, a Universal Music acaba de lançar nas plataformas digitais o DVD Zeca Pagodinho — 40 anos. A data, obviamente, se refere ao período de trajetória artística. A gravação, ao vivo, ocorreu em 14 de fevereiro, no Engenhão, estádio do Botafogo, na Zona Norte do Rio de Janeiro, com a participação de outros renomados artistas.
O repertório do show, que gerou o DVD, reúne músicas marcantes na trajetória de Zeca. Na abertura, ele canta a icônica Camarão que dorme a onda leva. São interpretadas também por ele Pisa como eu pisei (parceria com Aluísio Machado e Beto Sem Braço), Ser humano (Claudemir, Marquinho Índio e Mário), Quando a girou (Claudinho Guimarães) Lama nas ruas (Almir Guineto), Mais feliz (Toninho Geraes e Paulinho Rezende), Vai vadiar (Ratinho e Monarco) e Judia de mim (Zeca e Wilson Moreira).
Amigos e companheiros de ofício do cantor, Jorge Aragão, Diogo Nogueira, Pretinho da Serrinha Xande de Pilares juntam as vozes em Minta meu sonho, Não sou mais disso e Brincadeira tem hora. Alcione comparece com belíssima interpretação de Mutirão de amor (Jorge Aragão). Não faltam no DVD outros grandes hits como Coração em desalinho, Verdade e Samba para moças.
Confira entrevista exclusiva:
Quais são as lembranças que guarda do começo da carreira, ainda bem jovem, em Xerém?
No início da minha carreira, ainda não estava em Xerém, fui para lá um pouco depois. Mas elas são boas, levava uma vida de muito trabalho, e ainda levo, mas também de muita diversão.
Foi com ela que deixei de ser Jessé. Ela foi fundamental, foi com ela que deixei de ser Jessé e passei a ser Zeca Pagodinho.
O ambiente que vivia há quatro décadas atrás contribuiu para que se tornasse um sambista?
Sempre gostei de todo tipo de música, mas minha veia é de sambista.
Tenho com vários, principalmente com aqueles com quem cresci como Fundo De Quintal, Jorge Aragão, Arlindo, entre outros que já se foram, como Almir Guineto e Monarco.
Ao ouvir no rádio Deixa a vida me levar, pela primeira vez, teve que reação?
A melhor possível, fiquei feliz por mim e pelos compositores Serginho Meriti e Eri do Cais.
Foi bacana, sempre admirei a Bethânia, ouvia os discos, gostava de escutar ela declamando os poemas. Ter dividido o palco com Bethânia foi motivo de alegria.
Como conceitua o DVD Zeca Pagodinho 40 Anos Ao Vivo? Um DVD que conta a sua história com a música Rildo Hora, produtor dos seus trabalhos, tem que relevância artística no seu entendimento?
Muita! O Rildo está comigo há muito tempo, foi ele quem colocou cordas e instrumentos que nunca havia pensado em ter no meu samba, e juntou com a batucada que eu já carregava. O resultado é esse aí.
Praticamente.
Vai sair em turnê pelo país para lançar o DVD?
Já saímos. Fizemos São Paulo em junho e agora vamos para outras cidades, inclusive, Brasília, não me pergunta data porque não gravo nenhuma.