Raimundo Floriano
Foto inédita e histórica, de 1954:
Zé Minhoca, Zé Gonzaga e Passinho
José Januário Gonzaga do Nascimento, sanfoneiro, cantor e compositor, nasceu a 15.01.1921, em Novo Exu (PE), e faleceu a 13.04.2002, aos 81 anos, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Era filho de Ana Batista dos Santos, a Santana, e de Januário dos Santos, o Velho Januário, braço forte na lavoura, que se distinguiu como animador de bailes, músico e consertador de foles de 8 baixos.
Há poucos registros escritos sobre sua vida. Por isso, transcrevo aqui trecho do livro Gonzagão e Gonzaguinha, de Regina Echeverria:
“Ainda em 1940, bateram na porta de Dona Tereza (pensão no Rio Janeiro onde Luiz se alojava) na Rua São Frederico, Morro de São Carlos, procurando por Luiz Gonzaga. Quem chamava era um rapaz de olhos azuis iguais aos da mãe Santana, e Gonzaga não demorou a reconhecer o irmão José Januário que, a exemplo dos mais velhos – Joca e Severino, que já moravam em São Paulo –, estava no Sul para fugir da seca que atingira inclemente até o privilegiado Araripe. Luiz não gostou muito da surpresa: ‘O que você veio fazer aqui, seu moleque safado, que eu não mandei chamar ninguém, que eu estou pior que vocês?’ Não teve jeito. Gonzaga comprou um colchão para acomodar José Januário e o nomeou seu ajudante, responsável por carregar a sanfona e correr o pires no Mangue. Ele adotou o nome de Zé Gonzaga e seria o único irmão a seguir carreira no rastro de Luiz Gonzaga”.
Rastro bem perseguido e assimilado. Anos mais tarde, Gonzagão proclamava, para quem o quisesse escutar, que Zé Gonzaga era o maior sanfoneiro do Brasil!
O que vou escrever daqui pra frente, não consta em qualquer banco de dados. Na maioria, é fruto das informações que me foram repassadas por Maria Auxiliadora, a Dona Sinhá, comadre de Zé Gonzaga, memória viva do forró – a quem devo a foto rara ilustrativa desta matéria –, viúva de Zé Minhoca/Miudinho, e também de minhas observações pessoais, um tanto falhas, desde 1951, quando tomei conhecimento desse grande astro da MPB, especialmente da Música Forrozeira.
No início dos anos 50, Zé Gonzaga arregimentou dois operários nordestinos que davam murro em ponta de faca na cidade de São Paulo. A um, servente de pedreiro, ensinou a tocar zabumba e botou-lhe o apelido de ZÉ MINHOCA; ao outro, capoteiro, ensinou a tocar triângulo e pôs-lhe o apelido de PASSINHO. Formado o conjunto, saíram a fazer sucesso pelo Brasil até o final da década, e pelo exterior, em projeto cultural de Assis Chateaubriand. Falarei, agora, um pouco desses dois exímios coadjuvantes, que também o secundavam na parte coral.
ZÉ MINHOCA - João Batista de Lima Filho nasceu em Fortaleza (CE), a 22.01.1931. Foi rebatizado no Rio de Janeiro com o nome de MIUDINHO, devido à sua baixa estatura, menos de 1,50m. Formou, com Dominguinhos e Zito Borborema, o primeiro Trio Nordestino assim conhecido – denominação dada por Luiz Gonzaga, por sugestão de Helena, sua mulher –, que teve pouca duração. Fez parte do elenco da Rádio Nacional, com o qual veio transferido para Brasília. Posteriormente, foi nomeado para o Senado Federal, onde se aposentou. Faleceu aqui em Brasília, a 24.03.2005.
PASSINHO - Francisco Ribeiro Ferreira nasceu no Recife a 23.06.1925. Fez jus ao apelido porque, devido a sua pequena estatura, caminhava com passadas muito curtas, picadinhas. No início dos anos 60, mudou-se para Brasília, onde se aposentou como Chefe da Capotaria da estatal Transportes Coletivos de Brasília - TCB. Aqui, faleceu a 30.10.1977.
Zé Gonzaga, ao contrário do que se pensa e até se apregoou, jamais se ressentiu da fama do irmão, embora tenham batalhado na mesma época e com estilos iguais. Prova disso é que um dos maiores sucesso do Rei do Baião, O Cheiro da Carolina, é do Zé, em parceria com Amorim Roxo.
Em 1951, Luiz Gonzaga sofreu grave desastre de automóvel, no qual viajava com seu conjunto, escapando todos com vida por milagre. Em agradecimento, subiu a escadaria da igreja de Nossa Senhora da Penha, no Rio, e lá cantou o Baião da Penha, composição de David Nasser e Guio de Morais. Zé Gonzaga, por sua vez, registrou o fato no baião Viva o Rei, dele e de José Amâncio, seu mais constante parceiro, onde conta detalhes do acidente, e que eu considero sua melhor composição.
É oportuno mencionar que Zé Gonzaga dominou no Carnaval, com músicas que ficaram para sempre incorporadas ao repertório momesco. Como o samba Bebida Não Mata Ninguém e as marchinhas Cabelo Couve-flor, Disco Voador, Tô Doido Que Chegue o Divórcio e a capciosa O Cadilac do Papai, constantes deste apanhado que ora lhes apresento.
Aqui, as músicas mais conhecidas de Zé Gonzaga:
A Fuga da Asa Branca - Arrasta-pé (Zé Gonzaga e Nélson Barbalho)
Ai, Ai, São João - Arrasta-pé (Átila Nunes e J. Mendonça)
Ai, Rosinha - Arrasta-pé (Zé Gonzaga e Silveira Lima)
Ai, Sanfona - Calango (Zé Gonzaga e Jeová Rodrigues Portela)
Alencarina Bonita - Baião (Zé Gonzaga e José Amâncio)
Baile da Tartaruga - Forró (Omar Safet, Augusto Mesquita e Jaime Florêncio)
Batendo Sola - Rancheira (Zé Gonzaga e J. Portela)
Bebida Não Mata Ninguém - Samba (Kid Pepe e Arlindo Caldas) 1951
Cabelo Couve-flor - Marcha (Diomedes Tavares, Pereira Matos e Airton Amorim) 1951
Camarão É Peixe Bom- Forró (Zé Gonzaga)
Chegou o Sanfoneiro - Arrasta-pé - sanfonado (Ruthnaldo e Alcebíades Nogueira)
Disco Voador - Marcha (Chacrinha e José Gonçalves) 1951
Encontro com Lampião - Baião (Zé Gonzaga e Zé Praxedes)
Este Ano Eu Vou Casar - Baião (Zé Gonzaga e José Amâncio)
Estrada Velha da Pavuna - Choro - sanfonado (Zé Gonzaga)
Frevo na Roça - Frevo - sanfonado (Zé Gonzaga e Zito Borborema)
Galope à Beira-mar - Galope (Zé Gonzaga e Zé Praxedes)
Januário Criou Fama - Baião (Zé Gonzaga e José Amâncio)
Moreninha do Sertão - Arrasta-pé (Ceci Viana J. Praxedes e Peter Bill)
No Casório de Irineu - Xote (Zé Gonzaga e José Amâncio)
O Cadilac do Papai - Marcha (Zé Dantas e Péricles) 1951
O Cheiro da Carolina - Xote (Zé Gonzaga e Amorim Roxo)
São João Não Gostou - Arrasta-pé (Augusto Mesquita)
Teimosinho - Baião - sanfonado (Claudionor Cruz e Mário Duarte)
Tô Doido Que Chegue o Divórcio - Marcha (Guio de Moraes) 1951
Vai Que É Mole - Arrasta-pé - sanfonado (Zé Gonzaga)
Vem Cá, Bichinha - Baião ligeiro (Zé Gonzaga e Humberto Teixeira)
Vida de Pobre - Arrasta-pé (Zé Gonzaga e J. Portela)
Viva o Rei - Baião (Zé Gonzaga e José Amâncio)
Xote Miudinho - Xote (Luiz Gonzaga e Zé Dantas)
Para o desfrute de nossos leitores, e relembrando minha adolescência, aqui vai o baião Viva o Rei, de Zé Gonzaga e Zé Dantas:
E mais:
Alencarina Bonita, baião de Zé Gonzaga e José Amâncio:
Baile da Tartaruga, rojão de Omar Safet, Augusto Mesquita e Jaime Florêncio:
Camarão É Peixe Bom, rojão de Zé Gonzaga:
O Cheiro da Carolina, xote de Zé Gonzaga e Amorim Roxo:
Nós Era Sete, arrasta-pé de Zé Gonzaga e Antônio Maria:
ATENDENDO A PEDIDO DE DO LEITOR CLAUDIO CANFILD:
Bebida Não Mata Ninguém, samba de Kid Pepe e Arlindo Caldas:
Cabelo de Couve-flor, marchinha de Diomedes Tavares, Pereira Matos e Airton Amorim: