Raimundo Floriano
Zé Fidélis
Gino Cortopassi, o Zé Fidélis, o Craque das Paródias, nasceu a 23.09.1910, em São Paulo (SP), onde veio a falecer a 15.03.1985. Foi cantor, radialista, compositor, jornalista, escritor, humorista e um dos pioneiros do humor radiofônico brasileiro.
Zé Fidélis sempre se apresentava como "o inimigo número um da tristeza". De fato, sua forma característica de fazer humor podia dar a ele o direito de conceber essa autoafirmação. Ele fazia humor como poucos, tendo por base as paródias de músicas de sucesso e as imitações irônicas e inocentes, o que despertava certa simpatia dos que eram atingidos por elas. O humor ingênuo e o modo como interpretava as piadas de português fizeram dele um humorista incomparável nesta arte.
Estreou no programa radiofônico Cascatinha do Genaro, de João Batista de Almeida, nos anos 1930. Foi nesse programa que Gino incorporaria o personagem Zé Fidélis, tornando-se muito famoso como "one-man-show" em palcos de projeção, como o Cassino da Urca e o Quitandinha. Os 42 discos gravados, entre 78 RPM e LPs, ajudaram a catapultar sua carreira. Em 1958, foi o pioneiro no Brasil em gravar um LP de 33 rotações somente com humorismo. A maioria de suas gravações era de sua autoria, ou em parcerias. Grande parte desses registros encontra-se ainda à venda em sebos virtuais.
Vinis de Zé Fidélis à venda em sebos virtuais
Fez composições para outros artistas, sem ser paródias, como os boleros Meu Castigo, gravado pelo Duo Guarujá, e Horas Felizes, gravado pela dupla Ouro e Prata. Em 1972, a famosa dupla Alvarenga e Ranchinho gravou, pela RCA, uma paródia de sua autoria intitulada Meu Boi, sobre o sucesso de Ronnie Von em 1966, Meu Bem, uma regravação da música Girl, dos Beatles.
Nos dias de hoje, seu admirável talento humorístico certamente o faria um artista rico. Porém, apesar de ser muito elogiado por vários críticos renomados, terminou seus dias numa clínica de repouso em São Paulo.
Sua extraordinária capacidade em fazer o público rir e, até mesmo, esbagaçar-se na gargalhada, também era transferida com talento para as páginas que deixou escritas. Em 1934, Zé Fidélis passou a assinar a coluna Sarravulho, no maior jornal humorístico do Brasil, O Interventor que, depois da Ditadura Vargas, passou a se chamar O Governador. Como Sarravulho era a última página do jornal, muitos, até hoje, acham que este era seu título principal. Ali, Zé Fidélis manteve-se, ininterruptamente, até 1959 – 25 anos!
Posteriormente, com 1.300 páginas contabilizadas, resolveu transformá-las em livro, lançando História do Mundo; Binho, Mulata e Vacalhau; Teatro Maluco; Meningite Aguda; Lira Arreventada; Sarravulho; Muito Sangue e Pouca Areia; Bersus a Gasugênio e A Ópera Pela Tripa.
Seleção Canalhinha, lançado no ano de 1968, com prefácio de Manezinho Araújo, é seu 10º livro, restando-lhe, segundo declara em sua apresentação, matéria para mais de outros 10, e o título nada tem a ver com a Seleção Brasileira de Futebol, esporte sobre o qual nada entende e se declara o “Zé ruim de bola”. Trata-se, portanto, de uma coletânea acanalhada de textos seus extraídos das velhas páginas de O Sarravulho.
Para que vocês tenham uma ideia de seu estilo escrachado e muito portuga-lusitano, escolhi duas páginas de Seleção Canalhinha. Na primeira, um pedaço do que ele denomina Anúncios Desclassificados e, na segunda, na parte dedicada aos versos, a poesia Voa Rusposta.
Como pequena amostra de seu alentado trabalho no campo das paródias, apresento-lhes a marchinha Casa da Tereza, de Artur Fonseca, Reinaldo Ferreira e V. Matos Siqueira, gravada por Zé Fidélis em 1954, e calcada sobre o fado Uma Casa Portuguesa, imortalizado pela cantora lusitana Amália Rodrigues: