Zé Brabo (foto), caboclo sincero, honesto, sertanejo trabalhador e sem papas na língua, cujo apelido escondia a pessoa mansa e cordial que era na verdade, um dia me deu um belo ensinamento.
Eu gostava de conversar com Seu Zé, pois ele tinha expressões engraçadas e as mantinha em uso em seu linguajar simples de sertanejo arretado. Era o sertanejo em seu fiel estilo sertanejo. Não se envergonhava de ser o que era, um sujeito autêntico e de raízes fincadas no solo da, digamos, impaciência com certas coisas, para não dizer ignorância. Afinal, seu Zé fazia o melhor ícone do tipo “pergunta imbecil, tolerância zero!”.
“Eu num fico de prosa com gente que não sabe conversar as sabenças do sertão, ou com sujeito metido a doutor”, me disse certa vez.
Mas com Zeca de Seu Aurino ele se superava. Ia dizendo certos nomes de doenças e seus sintomas e gostava de ouvir do amigo médico os nomes científicos. A cada nova palavra, que ele nem sempre conseguia repetir, Seu Zé perguntava “e é?”. Mas depois falava que era muito mais fácil dizer como ele dizia e pronunciava a forma popular do nome da patologia. “Infecção generalizada, e é? Num é mais fácil dizer macacoa, não?”.
Avaliando hoje em dia aquele seu jeitão, Seu Zé não era nada de nada ignorante, ele era muito sabido e, com sua forma de tratamento, atraía para si a admiração de todos!
Eu gostava de ficar lhe enchendo o saco até ele se chatear e me mandar ir caçar “nin de avião”, uma vez que comigo ele não chamava palavrões. No máximo ele dizia comigo “fela da gaita”, não obstante, em alguma distração chamar logo era de “fela da puta” mesmo. Mas duvido que tenha ocorrido uma vez sem um pedido de desculpas quando já nos despedíamos.
Pois bem, quando nos encontrávamos, e ele me perguntava como eu estava, queria sempre ouvir um “muito bem”. Outra resposta e ele soltava quase uma ladainha perguntando se eu estava com saúde, se ainda tinha mãe, se ainda tinha pai… essas coisas.
E como eu sabia que ele não gostava de receber outra resposta? Uma vez, avistando-o ali pelo coreto da praça, fui ao seu encontro e lhe cumprimentei:
– Como vai, Seu Zé?
– Muito bem – respondeu-me seco com o vozeirão rouco. – E você, esse menino, como está?
Eu inventei de responder, não sei o porquê, que ia tudo mais ou menos. Ora, ele arregalou os olhos, agitou-se e me ensinou:
– Menino! Mais ou menos é medida de cu!
E eu lá ia pedir a fórmula da equação provando a sua tese? Preferi acreditar na sabença do velho sertanejo Zé Brabo. Se ele falou, estava falado.
Aprendi!