Dia desses, Xuxa Meneghel foi descer as escadas de casa e sentiu uma dor nas pernas. Não tinha feito exercício ou qualquer outro esforço. Veio o estalo. O incômodo físico tinha a ver com as horas trancadas num estúdio se desdobrando e contorcendo para fotografar a nova campanha da grife carioca The Paradise. Aos 56 anos, a apresentadora está mais na moda do que nunca , literalmente. Além de rosto da marca, ela também retornará às passarelas, relembrando os tempos de manequim. "Não sou mais modelo. Essa não é minha praia e não é o que eu gosto de fazer, mas não consegui recusar o convite", diz.
Sua escolha para representar a coleção não foi aleatória. Xuxa esteve pela primeira vez na passarela aos 18 anos, numa apresentação da mítica Yes, Brazil , fundada em 1979 por Simão Azulay , pai de Thomaz Azulay, que toca a The Paradise com o parceiro Patrick Doering. E a dupla está justamente homenageando o legado de Simão, morto em 1988. "Ele fazia as roupas pensando em mim; me colocava para dividir um ensaio com uma pantera... Eu topava tudo. Cheguei a interromper as gravações do'Xou da Xuxa' para desfilar para a Yes. Era um negócio meio doido, não conseguia recusar seus pedidos. Dávamos força um para o outro. Pegava looks com ele para a TV. Estávamos realmente juntos e sem qualquer tipo de interesse. Era carinho, de verdade, sem obrigações comerciais."
Xuxa ainda guarda as botas brancas de amarrar ("Estão duras e envelhecidas") da década de 1980 no armário e outros modelos de camurça, todos criados por Simão. "E a Sasha (sua filha de 21 anos)acabou de levar para Nova York meu robe da Yes. Estou com medo da minha menina rasgar, ela corta todos os meus panos antigos", diverte-se a apresentadora, reforçando que só aceitou estar na passarela, no dia 12 de setembro, no Rio, porque tem um Azulay envolvido na história. "Estou me achando gorda e velha, mas farei pelo Thomaz."
R$ 50 mil por mês
Quando conheceu Simão, Xuxa já tinha estrelado mais de 50 capas de revistas e namorava com o jogador de futebol Pelé. "Aos 16, comecei a trabalhar com moda. Era chamada para fotografar editorial e publicidade quase todo santo dia. Com um ano de carreira, meu rosto era bastante conhecido, mas meu nome ainda não era popular. Mas eu ganhava muita grana, não era pouca. Para desfiles internos, eu cobrava o equivalente a R$ 1 mil. Se fosse algo maior, R$ 2 mil. Por mês, eu faturava R$ 50 mil."
Toma lá, dá cá
Há 40 anos trabalhando com sua imagem, Xuxa brinca que as pessoas a "redescobriram". "Se raspo os cabelos, viro notícia. Se pinto os fios, comentam. Se digo que não vou fazer plástica é um ti-ti-ti... Aliás, esse negócio de não fazer plástica é a maior sacanagem. Quero fazer, sim! Só não tenho vontade agora. Sei que não estou linda e que vou precisar daqui a algum tempo. Se dependesse de muita gente, eu ainda estaria de chuquinha. Não aceitam o fato do meu envelhecimento em frente às câmeras. Se eu me olhando no espelho não gosto de muita coisa que vejo, imagina eles. Leio coisas sem noção. Escrevem que eu estou feia, velha, gorda, enrugada. Estão exagerando, achando que podem tudo. Não pedi a opinião de ninguém. É uma falta de respeito. Não entro na página dos outros para meter o pau. Então, não gostaria que fizessem isso comigo."
Ela continua: "Antigamente, era necessário enviar uma carta e ser sorteado. Agora, qualquer um entra no meu Instagram e fala comigo bem ou mal. E se eu não respondo, ainda sou xingada. Se rebato, dizem que sou rude. Mas minha mãe me ensinou que é toma lá, dá cá. Se eu ganhasse 50 centavos por cada crítica, eu iria alimentar muita instituição por aí. Já ouvi que eu tenho que aguentar porque estou há muito tempo na mídia, que compraram meus discos e que estou em tal posição por causa deles. Não falo o que quero porque fiquei velha. Sempre foi assim. Apenas não vou escutar coisas desagradáveis e ficar quieta."