Numa época em que não se falava em preservativo, nem em pílula anticoncepcional, Xexéu contribuiu para o aumento da população do Rio Grande do Norte. Casou-se com Luzia, uma jovem de boa família, e muito religiosa.
Muito dedicada ao lar, a moça não queria saber de falatório sobre a vida do seu marido, da porta da sua casa para fora. Chegou a expulsar da sua sala pessoas fofoqueiras, que a visitavam, levando “historinhas” sobre o comportamento de Xexéu fora de casa.
Luzia nunca estragou seu casamento, com ciúme ou desconfiança do marido. Afinal, ele sempre se mostrava apaixonado, e respeitava o lar, como se fosse um templo sagrado. A esposa e filhos eram sua maior ventura.
Quando Xexéu chegava em casa, era sempre muito carinhoso com Luzia, e fazia-lhe um filho atrás do outro. A mulher, literalmente, vivia grávida.
Se cego “é aquele que não quer ver”, Luzia se fazia de cega. Nunca teve uma briga com Xexéu. O casal teve 8 filhos, sendo três meninas e 5 meninos.
Extra-oficialmente, Xexéu teve mais 4 filhos, completando, assim, uma dúzia. Paralelamente, pelos caminhos percorridos como caixeiro-viajante, em cidades distantes, Xexéu deve ter deixado outra porção de filhos, frutos de relações casuais e paixões sem amanhã.
A fama de mulherengo acompanhou Xexéu por toda a sua vida. E, por brincadeira dos amigos, foi rotulado com um jargão:
“Por onde Xexéu passa, nasce um menino”.
Luzia, esposa de Xexéu, pertencia a uma irmandade de 9 irmãos, que, ainda crianças, perderam o pai e alguns anos depois, a mãe. Depois de adultos, apenas uma das irmãs, Ivanilda, ficou no “caritó”. E foi quem mais ajudou a Luzia na criação dos filhos.
Já idosa, Ivanilda ainda era revoltada com um caso, ocorrido em Natal, há muitos anos, envolvendo pessoas conhecidas. Aproveitando a oportunidade para destacar seus valores morais, gostava de contar:
“Décadas atrás, Dorinha, 25 anos, tinha vindo do interior para morar com sua irmã mais velha, Silvina, casada com Zé Vitor, e ajudá-la com as crianças e serviços domésticos. Dois anos depois, Dorinha apareceu grávida, sem sequer ter namorado.
Voltou para o interior, e pariu um menino, que parecia um clone de Zé Vitor, o marido da irmã, no caso, o cunhado que lhe dera guarida em Natal. Foi um escândalo!
Nesse tempo, não se fazia exame para provar a paternidade. Mas, ainda que houvesse, nesse caso, o exame seria plenamente dispensável. O menino era Zé Vítor, “em carrara esculpido”, ou, para ficar mais claro, “cagado e cuspido”, como diz o ditado popular.
Abafaram a história, e Zé Vitor não admitia que se falasse nessa “infâmia”. Jurava que não era o pai da criança. Dorinha também nunca disse que era ele.
E a “Santa” Silvina engoliu com água, como se fosse um comprimido, essa traição do marido e da irmã, até morrer.”
E a idosa continuava o discurso:
“Pois bem. Eu, na minha mocidade, como era solteira, passei muitas temporadas com as minhas irmãs casadas. Ajudei a criar meus sobrinhos e passei muitas noites em claro, balançando rede de menino doente, que chorava inquieto, sem poder dormir. Minhas irmãs, exaustas do trabalho doméstico, deixavam que eu tomasse conta dos seus filhos, durante a noite, enquanto elas dormiam. Convivi com vários cunhados, e nenhum deles nunca me faltou com o respeito, nem tentou me seduzir.
Fui cunhada de Xexéu, o homem mais mulherengo que Natal já teve. Por onde Xexéu passava, ficava um menino. Parecia que tinha nascido para ajudar a povoar o mundo.
Digo e repito: Xexéu sempre me respeitou. Da mesma forma, eu sempre o respeitei, como marido da minha irmã e, por conseguinte, também meu irmão. “
E Ivanilda se orgulhava dessa convivência respeitosa com Xexéu, jogando farpas em Dorinha, a moça que engravidou do cunhado, “nas barbas da irmã”. Para ela, isso foi o cúmulo da traição!
E a idosa continuou soltando seu veneno:
– Essa Dorinha engravidou porque quis. Deve ter se botado para o cunhado. Homem é igual a cachorro. Se alguém lhe oferece um osso, ele não enjeita. A culpa foi exclusivamente dela. Ela devia ter espírito de “Messalina”,- “a mulher que tinha o reino entre as pernas”.