RIO — Willem Dafoe tem uma conexão conhecida com o Brasil. Atuou em palcos paulistanos e cariocas em 2014, com o espetáculo surrealista “A velha”, de Robert Wilson, um dos principais nomes do teatro de vanguarda nos EUA. A ocasião levou ao encontro do ator com Hector Babenco, com quem trabalharia no último longa do diretor, “Meu amigo hindu” (2015).
— Minha relação com o Brasil pode parecer casual, mas nasce de uma paixão de mais de 15 anos, quando conheci Seu Jorge nas filmagens de “A vida marinha com Steve Zissou” (2004), de Wes Anderson. A gente até gravou o clipe de “Tive razão” — lembra Dafoe, em entrevista exclusiva ao GLOBO na véspera do réveillon no restaurante de um hotel do Leblon, usando bermuda e chinelos e parando de vez em quando para tirar selfies com fãs.
Parecia à vontade, mas não quis desviar o foco de sua mulher, com quem está casado desde 2005. Mais de uma vez pediu que Giada respondesse por ele. Os dois se conheceram após Dafoe ficar fascinado com o primeiro longa dela, “Aprimi il cuore” (2002). Um amigo os apresentou e “outras coisas acabaram acontecendo”, ri o ator, enquanto toma café da manhã diante de uma vista panorâmica da praia. Desde então, trabalhou em todos os filmes da italiana, a quem atribui até mesmo seu conhecimento de cinema e música brasileiros. Em 2011, estiveram no Festival do Rio para apresentar a sessão de “Amor obsessivo” (2010).
— A verdade é que minha cultura cinematográfica é muito pobre. Eu venho do teatro. Minhas referências estrangeiras eram filmes europeus. Voltava das filmagens de “Meu amigo hindu”, e ela me mostrava filmes brasileiros, não só porque estávamos hospedados aqui, mas também para conhecer os atores com quem poderíamos trabalhar no futuro — diz Dafoe.
No elenco de “Tropico”, que já assegurou distribuição nacional pela Pandora Filmes, estão confirmados nomes como Sonia Braga, João Miguel, Seu Jorge e Morena Baccarin — a brasileira radicada nos EUA que estrelou as séries “Gotham” e “Homeland”, pela qual foi indicada ao Emmy. Ela também está escalada para a terceira temporada de “Sessão de terapia” (Globoplay) .
Descrito como um noir ambientado nos Lençóis Maranhenses, em meio a uma comunidade indígena, o projeto mistura suspense e romance para tratar de identidade e sincretismo religioso. Conta a história do espião Raymond Sanz (Dafoe), contratado para investigar um caso de má gestão em uma empresa do Nordeste brasileiro.
Ele se envolve com as gêmeas Olivia e Lucia (papel duplo de Morena Baccarin), esta casada com um empresário americano e possível alvo de investigação do protagonista. O conflito de interesses se agrava quando o espião descobre que as duas são filhas de seu chefe. Paralelamente, as irmãs mantêm uma relação com um centro espiritual comandado pela sacerdotisa Cora (Sonia Braga).
Com roteiro de Barry Gifford, parceiro de David Lynch em “Coração selvagem” (1990) e “Estrada perdida” (1997), o filme partiu do desejo de Giada de rodar um noir inspirado em clássicos dos anos 1940, como “A dama de Shanghai” (1947), de Orson Welles, “Gilda” (1946), de Charles Vidor, e “A carta” (1940), de William Wyler.
— Queria que a trama se passasse num lugar com histórico colonial e exótico para os padrões americanos e europeus — afirma Giada. — Cogitei o Pelourinho, na Bahia, mas quando vi imagens dos Lençóis Maranhenses fiquei impactada. Eu queria uma terra sagrada que proporcionasse um elemento mágico e espiritual, e o Brasil tem uma mistura enorme de religiões e filosofias europeias e africanas.
Por que a premissa despertou o interesse de Willem Dafoe? Ele apenas quer estar disponível para os projetos da mulher, responde. Atualmente em cartaz em “Aquaman”, o americano é conhecido por atuar tanto em blockbusters (como “Homem-Aranha”, de Sam Raimi), e obras autorais. Já recebeu três indicações ao Oscar e, no domingo, disputa o Globo de Ouro pelo papel de Van Gogh na cinebiografia “No portal da eternidade”, de Julian Schnabel, que estreia em 7 de fevereiro.
Sobre escolhas profissionais, o ator desconversa.
— Não fiz TV, ainda tenho filmes interessantes para fazer e, para ser honesto, não é o momento de falar disso — diz, sobre a possibilidade de fazer séries, como outros colegas de Hollywood. — Estou menos preocupado com a carreira e mais em trabalhar com quem eu gosto.