Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlito Lima - Histórias do Velho Capita segunda, 28 de outubro de 2024

VULCÃO DA PAJUÇARA (CRÔNICA DO COLUNISTA CARLITO LIMA)

VULCÃO DA PAJUÇARA

Carlito Lima

Mércia estudou em colégio de freira, foi carola de igreja na juventude, quase santa em sua maturidade. Usava vestidos de mangas cumpridas, xales nos ombros, encobria o jovem corpo, ninguém sabia o que havia por baixo daqueles panos. Sua mãe, viúva, lhe alertava, mulher depois dos 25 anos fica difícil arranjar marido, está na hora de namorar para casar, tente conseguir alguém que possa lhe sustentar.

 

 

 

Por meio de um deputado amigo, e amante, a mãe arranjou um emprego para Mércia na Assembleia. Mércia conheceu, namorou, Quincas, baixo, falante, advogado de uma empresa, mais velho 20 anos. Sem muito amor, depois de namoro e noivado casaram-se na Igreja do Livramento, muitos parentes, amigos, lua-de-mel em Cartagena das Índias. Mércia casou-se virgem, assim conservou-se durante o noivado graças ao respeito do noivo, se fosse da laia de certos indivíduos que conheço, aquele cabaço havia voado há muito tempo.

Quincas ficou surpreso com o desempenho de Mércia na cama, fogosa que nem uma égua no cio, um vulcão desativado, explodiu. Quincas voltou da lua-de-mel exausto. Ao retornar à vida normal ficou preocupado com sua ardente mulher. Daria conta? Entretanto, Mércia continuou em vestidos longos, cinzentos, assexuados. Somente Quincas no mundo conhecia verdadeiramente aquela loba cheia de furor na cama; na rua uma dama. Mas, Quincas não dava no coro, Mércia despertou o vulcão e Quincas não tinha vigor para apagá-lo. Mércia continuou do trabalho para missa, para casa. Tinha um tratamento respeitoso ao marido, excelente dona de casa. Só não abria mão de seu banho de mar aos domingos na praia da Pajuçara, defronte ao apartamento. Quincas não gostava de praia, ela sozinha, com um maiô discreto. Não perdia o mergulho de domingo. Quincas alertava para tomar cuidado, ela não sabia nadar.

Em certo momento as coisas foram mudando, Mércia tornou-se mais alegre, havia felicidade explícita em seu sorriso, chamava Quincas de meu amor, frase nunca ouvida. Seus vestidos encurtaram, colaram nas curvas do corpo, na praia passou a usar um biquíni, Mércia tornou-se outra mulher. O marido ficou com uma pulga atrás da orelha, nunca vira uma transformação tão radical em uma pessoa. Ele passava o dia a matutar. O que estaria acontecendo? Será influência de alguma colega de repartição? Será que pirou? Deixou de acreditar nos santos? Está me botando chifres? Ao pensar nessa última hipótese, deu-lhe uma tristeza profunda, aquela depressão típica, exclusiva de corno. Não teve coragem de esclarecer tão delicado assunto com a esposa. Ficou sofrendo calado, sozinho, o pior dos sofrimentos.

Certa manhã tomou decisão, foi ao centro da cidade, subiu no Edifício Breda, conversou com um detetive particular. Contou toda história ao Detetive Audálio. Ele pediu-lhe uma foto da mulher e seu itinerário normal. Quincas, contrariado, sentindo-se um traidor, deu-lhe as informações dos locais mais frequentados, inclusive o banho de mar aos domingos, um mergulho na praia da Pajuçara em frente ao seu edifício.

Audálio fez o trabalho, primeira semana sem algum fato concreto, nenhuma pista de traição. Continuou. Seguiu a mulher por toda cidade, nada de anormal, um mês, dois meses de investigação. Quincas desistiu, era só uma transformação de mulher madura, medo de velhice prematura, como disse o psicólogo. Pagou a Audálio. O detetive ficou frustrado, uma desmoralização, nunca havia desistido, nunca havia perdido um caso. Audálio, sem cliente, por distração, por falta do que fazer continuou seguindo a mulher de Quincas em todos os lugares, até que num belo domingo, percebeu Mércia entrar no mar e alugar uma boia de um rapaz alto, espadaúdo, que a ajudava segurando a boia, parecia ensinar a nadar, chegaram ao fundo do mar. O detetive tirou várias fotos de Mércia apegada ao moreno. Por baixo da boia, ninguém percebia, discretamente tirava o biquíni, o vulcão entrava em erupção na água tépida da Pajuçara. Em casa, Audálio revelou as fotos, eram contundentes, amor no fundo do mar, sentiu-se triunfante. Pensou no marido, era apenas mais um corno no mundo, estava feliz, não valia a pena, deu-se por vitorioso, rasgou as fotografias.


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