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Thais Severo, mãe de Heitor, confia nas medidas de segurança adotadas pela escola e conta que conseguiu reaproveitar material do ano passado
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A volta às aulas de 2021 marcará, para algumas famílias, a volta também às escolas. Em meio às incertezas geradas pela pandemia de covid-19, surgem questionamentos a respeito da modalidade das aulas, dos preços das mensalidades e do uso de materiais, que se somam à preocupação com as questões de segurança e prevenção contra o novo coronavírus. As instituições particulares oferecem aos pais a escolha pelo ensino presencial, remoto ou híbrido, enquanto a rede pública, com retorno do ano letivo marcado para 8 de março, ainda avaliará o cenário na pandemia antes de uma definição.
Em 2020, cerca de 30% dos alunos atenderam às atividades presenciais e os demais optaram pelo ensino remoto. A expectativa para este ano, segundo Alexandre Veloso, presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), é de que esse percentual se inverta. “Os colégios passaram o ano de 2020 se preparando e fizeram o dever de casa. Hoje, é possível falar que a escola é um dos lugares mais seguros”, observa. “Estamos vendo que há planejamento adequado e que os protocolos estão sendo seguidos. Os alunos serão acompanhados de perto para saber se estão com sintomas ou não”, completa.
Thais Severo, servidora pública, é mãe de dois meninos. Desde que as escolas reabriram, as crianças têm ido às aulas presenciais. “Eles voltaram no fim do ano passado e deu tudo certo. Os colégios estão tomando todas as medidas”, afirma a moradora do Lago Norte, cujos filhos estudam em instituições particulares da Asa Norte. Ela relata que o filho mais velho, Heitor, 9, soube se adaptar ao ensino remoto quando as escolas foram fechadas, mas que o pequeno, de 4 anos, não se interessava pelas aulas, o que a motivou a optar pela modalidade presencial.
“Eu e o pai deles trabalhamos fora, então, em casa, o mais novo ficava muito solto, sem atividades. Já fiz a opção nas escolas, mas até o fim do mês, se houver piora no quadro da pandemia, voltamos para o on-line”, ressalta Thais. Não foram só as crianças que incluíram o meio digital na vida escolar. A servidora comprou os materiais de Heitor pela internet, apenas complementando-os em papelarias. “O colégio aproveitou muita coisa. Materiais de artes e robótica, por exemplo, não precisei comprar”, conta.
Outros pais preferem manter as crianças estudando em casa, com aulas remotas. Vanessa Bernardes, 43 anos, tem dois filhos matriculados em uma escola particular de Vicente Pires, região onde mora, e prefere, por ora, essa modalidade. “Enquanto não houver vacina, eles não voltam para a escola”, afirma a professora, que contraiu a covid-19 e ainda precisa fazer fisioterapia para lidar com as sequelas.
Mesmo com as perdas de aprendizagem observadas nas crianças, Vanessa crê que o momento ainda não é adequado para o retorno presencial. “A mais nova, de 11 anos, teve uma queda muito grande. Ela era considerada a melhor da turma e quase reprovou. Ficou muito desmotivada. O mais velho, de 15 anos, que foi para o ensino médio, disse que as aulas eram uma bagunça e os alunos acabavam não aprendendo. Alguns livros sequer foram usados. Foi um ano perdido”, avalia.
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Gerente de papelaria no Cruzeiro, Erivonaldo Rufino da Silva está otimista com relação às vendas, que devem aumentar na segunda quinzena do mês
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Material escolar
Nas papelarias, o clima é de otimismo com esta época do ano. Erivonaldo Rufino da Silva é gerente em um comércio do Cruzeiro e acredita que o movimento vai começar a aumentar na segunda quinzena de janeiro. “Os pais costumam deixar para a última hora. Até achamos que poderiam antecipar, por conta do isolamento social e para evitar aglomerações, mas ainda não tem muita gente vindo. Porém a expectativa é otimista”, destaca.
O gerente afirma que tem percebido os impactos da crise econômica gerada pela emergência sanitária do novo coronavírus, não só pela procura por materiais mais baratos. “Atendemos alguns pais que mudaram os filhos para escola pública por conta da crise”, observa o gerente. “Aqui, vamos aderir ao Cartão Material Escolar, então, esperamos que o uso dele seja maior este ano”, afirma, referindo-se ao programa do GDF que está com o período de inscrição das lojas aberto até 27 de janeiro, mas ainda sem datas para as famílias receberem o benefício.
“Os pais vão conseguir aproveitar muitos materiais duráveis, como mochilas e uniformes, mas canetinhas e giz de cera, por exemplo, que são consumíveis, foram usados durante o período em casa, até para as crianças terem como passar o tempo”, acrescenta Eriovaldo.
José Aparecido, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Escritório, Papelaria e Livraria do DF (Sindipel), reforça que as papelarias já estão providenciando a habilitação para a venda do Cartão Material Escolar, que deve ser liberado no início de março. A expectativa do setor, segundo ele, é de manutenção ou pequeno crescimento nas vendas. “Durante o ano, se as aulas não voltarem presenciais, de fato, terá mais impacto”, avalia. Segundo ele, as empresas do Plano Piloto foram as que mais sentiram o baque da crise econômica causada pela pandemia.
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José Aparecido, presidente do Sindipel: crise impactou lojas do Plano
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Regras
Marcelo Nascimento, diretor-geral do Instituto de Defesa do Consumidor do Distrito Federal (Procon DF), destaca a importância de os pais prestarem atenção nas listas de materiais escolares. “Eles não precisam comprar, de uma vez, todos os itens da lista, sem saber como será o ano escolar com a pandemia. O material pode ser entregue de forma parcelada, no decorrer do ano, até oito dias antes de cada atividade em sala de aula”, explica Nascimento, citando a Lei Distrital nº 4.311, de 2009.
A legislação do DF determina que as escolas entreguem, junto à lista de material, o planejamento pedagógico e o plano de execução do curso, com o cronograma das atividades. O órgão publicou uma cartilha com orientações aos pais no retorno das aulas, disponível no link https://bit.ly/3niedae. É o plano que executa como a entrega parcelada poderá ser feita ao longo do ano.
“O Procon recomenda que os pais procurem a escola e questionem pedidos repetidos de materiais que não foram utilizados no ano passado e que podem ser reaproveitados agora. É esperado que a lista venha menor em 2021, mais barata, depois de termos um ano praticamente sem aulas, com escolas fechadas”, acrescenta o diretor. O instituto ressalta que a escola precisa assumir os itens de higiene e não pode cobrá-los à parte, nem por meio de taxas extras, já que as mensalidades subiram por conta, também, do preparo com a desinfecção por conta da covid-19.
Rede pública
A Secretaria de Educação aprovou os calendários escolares para o ano letivo de 2021 em 31 de dezembro do ano passado, após consulta pública à comunidade escolar. Com início em 8 de março e término em 22 de dezembro, os alunos terão aulas remotas aos sábados. Ao todo, serão 200 dias letivos. No caso dos CILs, serão 11 sábados letivos remotos, não presenciais, dos quais oito poderão ser flexibilizados. Os demais foram chamados de Sábados Letivos Temáticos Remotos, quando a comunidade escolar deverá se reunir para discutir práticas pedagógicas e avaliativas desenvolvidas nas unidades. Cada escola terá autonomia para escolher como fará as reposições de aulas aos sábados.
Alexandre Veloso, da Aspa-DF, espera que o governo consiga fechar em breve uma posição a respeito do retorno nas escolas públicas, mantendo a possibilidade de ensino remoto, mas também com a opção de retorno presencial e com medidas de distanciamento garantidas. “Claro que temos consciência de que, se a pandemia voltar a piorar, as escolas podem ser fechadas novamente. Porém, nossa aposta é que o DF inclua os professores na primeira leva da vacinação”, torce.